A SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA NO NOVO CÓDIGO CIVIL:
DOS SÓCIOS E DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA SOCIEDADE LIMITADA*
Manoel de Queiroz Pereira Calças**
1. INTRODUÇÃO
O Código Civil de 2002 que unificou pela base o direito obrigacional e, entre outras novidades de relevo instituiu um livro denominado “Do direito de empresa”, regulamenta por inteiro as sociedades por quotas de responsabilidade limitada, que passam a ser chamadas de sociedades limitadas, revogando o antigo Decreto nº 3.708/19, promove importantes modificações no regime legal de tal tipo societário.
Neste ensaio nos limitaremos a analisar a figura dos sócios na sociedade limitada:
seus deveres e responsabilidades no novo regime legal, comparando-o com o anterior, sob o enfoque da doutrina nacional e estrangeira, bem como sob a óptica da jurisprudência de nossos tribunais construída no exercício da função interpretativa da legislação anterior, com o escopo de contribuir na sistematização das inovações formuladas pelo Código Reale.
A sociedade limitada é constituída por um contrato de natureza plurilateral que exige a participação mínima de dois sócios, pessoas físicas ou jurídicas, não havendo em nosso país, ao contrário do que ocorre em outras legislações, previsão de número máximo de sócios. Tais sócios, ao firmarem o contrato societário, assumem obrigações e adquirem direitos decorrentes das relações jurídicas que estabelecem entre si e entre cada um deles e entre eles e a sociedade empresária que eles mesmos instituíram.
Examinaremos, neste trabalho, apenas os direitos e as responsabilidades dos sócios, bem como a teoria da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada.
2. DEVERES DOS SÓCIOS
A primeira e principal obrigação que os sócios assumem, ao celebrarem o contrato social, é a de integralizar, com numerário, bens ou créditos, o valor das quotas que subscreveram. Ao firmar o contrato de sociedade, cada sócio assume a obrigação de contribuir com determinado valor em dinheiro, bens ou crédito para a constituição do capital social, que é a importância estabelecida como necessária para que a sociedade exerça sua atividade empresarial. Por isso, considera-se a subscrição um ato irretratável (Valverde, 1941, v. 1:223).
* Texto extraído do livro: “Sociedade Limitada no Novo Código Civil”, Ed. Atlas, 2003, São Paulo, autor: Manoel de Queiroz Pereira Calças.
** Mestre e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Juiz do Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo; Professor do Curso de Pós-Graduação
“Lato sensu” em Direito Empresarial da PUCSP; Professor de Direito Comercial no Curso Preparatório Para Concursos-CPC.