Universidade de São Paulo
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Administração
EAD-335 – Estrutura de Capital e Fontes de Financiamento Parte 2 Estrutura de capital
Prof. Dr. Eduardo Kazuo Kayo 1º semestre/2010
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Sumário
• Introdução: estrutura de capital e criação de valor
• A proposição de irrelevância de Modigliani e Miller
• Imperfeições do mercado e relevância da estrutura de capital – Teoria do trade-off
– Teoria de agência (ou agenciamento) – Teoria do pecking order
– Folga financeira
2
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Bibliografia básica
1. ROSS, WESTERFIELD e JAFFE. Administração financeira:
corporate finance. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2002 (capítulos 15 e 16) 2. Outros textos selecionados e disponíveis no Erudito
3
ESTRUTURA DE CAPITAL
Introdução
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Reflexão inicial
• Estrutura de capital = decisões de financiamento – Foco: escolha entre capital próprio x capital de terceiros
• Polêmica: existe uma estrutura ótima de capital? É possível criar valor com decisões de financiamento?
• Casos para reflexão – Vale (12/06/08)
• anuncia nova emissão de ações +/- US$ 14 bi – Goodyear (Dez 1986)
• recompra de ações com ágio de 50%
• Por que a Vale aumentou capital próprio e a Goodyear o capital de terceiros???
5
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Exemplo 1: Aumento de capital próprio da Vale
• 12/06/08: Vale anuncia nova emissão de ações - US$ 14 bi
• Destino:
– programa de crescimento orgânico (US$ 59 bi no total) – aquisições estratégicas
– ampliação da flexibilidade financeira
• Discussão
– Empresas em alto crescimento: predominância de capital próprio para evitar problemas de sub-investimento (Teoria da Agência)
6
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Exemplo 2: Aumento do capital de terceiros da Goodyear
• 1986: maior fabricante de pneus
• Dez 1986: recompra de ações com ágio de 50%
• Efeito: aumento no preço das ações
• Motivo: proteção contra aquisição hostil
• Discussão
– Proteção contra aquisições hostis
– Inversão da ameaça: uso da LBO (leveraged buyout)
– Proteção contra gestão discricionária : redução de fluxo de caixa livre para evitar problemas de sobre-investimento (Teoria da Agência)
7
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio e capital de terceiros
8
Ativo circulante
Ativo não circulante
Passivo circulante
Capital de terceiros
Capital próprio Liquidez
(+)
(-)
Rentab.
(-)
(+)
Exigibil.
(+)
(-)
Custo (-)
(+)
Falácia nas palavras de um gestor: “Preferimos utilizar recursos próprios porque é mais barato”
Cuidado! O fato da remuneração do acionista não estar explicitada (como nos contratos de dívida) não significa que ele não tenha custo!
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio e capital de terceiros (cont.)
9
Passivo Circulante Passivo Não Circulante
Patrimônio Líquido (Capital próprio)
Decisões Financeiras de curto prazo
Decisões Financeiras de longo prazo Passivos operacionais:
Duplicatas a pagar Impostos a pagar Salários a pagar Empréstimos de curto prazo
Capital de terceiros (longo prazo):
Debêntures Empréstimos internos Empréstimos externos Financiamentos Leasing
Capital Próprio:
Ações ordinárias Ações preferenciais
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio ou de terceiros? Algumas vantagens e desvantagens
10
Passivo Circulante Passivo Não Circulante
Patrimônio Líquido (Capital próprio)
Decisões Financeiras de curto prazo
Decisões Financeiras de longo prazo
Capital de terceiros (longo prazo):
Vantagens:
-Menor custo
-Facilidade e rapidez de contratação
-Benefício fiscal da dívida (juros são dedutíveis do I.R.)
Desvantagens:
- Prazo para pagamento dos juros e principal
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio ou de terceiros? Algumas vantagens e desvantagens (cont.)
11
Passivo Circulante Passivo Não Circulante
Patrimônio Líquido (Capital próprio)
Decisões Financeiras de curto prazo
Decisões Financeiras de longo prazo
Capital Próprio:
Vantagens:
- Maior flexibilidade (não tem prazo)
Desvantagens:
- Maior custo
- Maior complexidade e tempo na emissão de ações
ESTRUTURA DE CAPITAL
O valor como parâmetro de gestão
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que é valor? Os diferentes pontos de vistas
13
O valor de uma empresa pode ser visto como...
... a soma dos seus ativos:
Capital de giro líquido + Ativos fixos
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que é valor? Os diferentes pontos de vistas
14
O valor de uma empresa pode ser visto como...
... a soma dos seus ativos:
Capital de giro líquido + Ativos fixos
a soma dos seus passivos:
Capital de terceiros + Capital próprio
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Por um lado: decisões de investimento
• Assumindo que o objetivo central da firma é crescer (criando valor, evidentemente), que projetos a empresa deve buscar:
– Crescimento interno (vegetativo) abrindo novas fábricas?
– Crescimento externo por meio de aquisições?
– Investimentos em pesquisa & desenvolvimento?
– ...
15
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Por outro lado: decisões de financiamento
• Aqueles investimentos exigem recursos
• Mas qual a melhorfonte de recurso ou, de forma mais precisa, qual a fonte mais apropriada???
– Importante: nenhuma fonte é melhor que outra – uma fonte pode ser mais apropriada que outra dependendo de uma série de circunstâncias:
porte da empresa, nível de crescimento, nível de intangibilidade, lucratividade, etc...
• Então, qual a fonte mais apropriada? Além disso, que modalidade de cada tipo de fonte é mais apropriada?
– Recursos internos (caixa, redução de dividendos...) – Endividamento (debêntures, empréstimos bancários...) – Ações (ordinárias ou preferenciais)
16
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Valor contábil, de mercado e intrínseco
17
Valor de mercado: preço das ações na Bolsa (expectativa dos investidores em relação à capacidade de geração de caixa no futuro)
Valor intrínseco: expectativa de geração de fluxo de caixa futuro (fluxo de caixa descontado)
Valor contábil: Balanço patrimonial
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Exemplo: VALE em dezembro/2006 (em R$ bilhões)
123
57,4 180,4
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Valor contábil (ativo total)
Valor
"Intangível"
Valor de mercado total (equity + dívidas)
18
Por exemplo: em 2006, a VALE tinha um valor de mercado total superior ao valor contábil
Market-to-book ratio 47 , 0 1 , 123 4 , /B180 M
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A evolução do valor de mercado/contábil
19 Índice Valor Mercado / Valor Contábil
Média S&P 500
Fonte: Lev (2001)
= 1
= 2
= 10
= 9
= 17 Intangível-intensivas
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Porque valor da firma como parâmetro
• Porque utilizar o valor da firma como parâmetro para a gestão – Considera o valor total, inclusive para os credores
– Considera o longo prazo e não o curto prazo
• Para uma empresa de capital aberto (com ações negociadas em Bolsa), o valor de mercado ainda é o melhor parâmetro
– Porque o preço da ação incorpora (ou deveria) as informações relativas às estratégias da empresa
• Mas e se a empresa não for negociada em Bolsa?
– Valor continua sendo o parâmetro, mas o valor intrínseco
• O valor da empresa, então, deve balizar todas as decisões da empresa (tanto de investimento quanto de financiamento)
20
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Relembrando: Endividamento a valores de mercado
21
O cálculo do endividamento pela análise tradicional de balanços esconde uma armadilha: se valor de mercado for maior que valor contábil, utilizar dados contábeis pode superestimaro nível de endividamento e vice-versa
Capital de terceiros R$ 10 milhões Patrimônio líquido R$ 15 milhões Endividamento
contábil:
milhões 40%
25 milhões
10
Capital de terceiros R$ 10 milhões
Valor de mercado das ações R$ 40 milhões
Endividamento a valores de mercado:
milhões 20%
50 milhões
10
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A estrutura de capital de empresas dos EUA
• O endividamento a valores de mercado são sempre menores que o endividamento contábil em função do elevado valor de mercado das empresas norte-americanas
22 Fonte: Lewellen, 2003.
Notas de aula (Finance Theory II, MIT)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Estrutura de capital de empresas brasileiras
• Setores excluídos: finanças, seguros, fundos, outros
• Fonte: Economática
23 Endividamento de mercado começa a diminuir em função
do crescente aumento do valor
de mercado das empresas
M&M E A IRRELEVÂNCIA DA ESTRUTURA DE CAPITAL
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A proposição I de Modigliani e Miller (MM)
• Em 1958, Modigliani e Miller propõem que a estrutura de capital é irrelevante para a determinação do valor da firma (lembrando que esses dois autores ganharam o prêmio Nobel em Economia)
– Para eles, o valor da firma seria determinado pela qualidade das decisões de investimento
• A proposição de irrelevância foi construída com a suposição de um mercado perfeito, isto é:
– Ausência de impostos
– Ausência de custos de falência e de transação – Eficiência de mercado e informações simétricas – A política de investimento permanece constante
• Com base nessas premissas, MM afirmam que – O valor da firma independe de sua estrutura de capital
– Portanto, as decisões de financiamento não afetariam o valor da firma
25
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Um exemplo da proposição I de MM
26
O carro pode ter um valor de mercado de R$ 100 mil
Dívida R$ 30 mil Recursos próprios
R$ 70 mil
Nesse exemplo, não importa como você financia a compra do seu carro. O valor de mercado do carro continuaria o mesmo
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A importância das proposições de MM
• Evidentemente, as proposições de Modigliani e Miller consideram premissas que não pertencem, necessariamente, ao mundo real
• Nesse caso, porque discutir essa proposição?
• Modigliani e Miller ajudam a entender algumas falácias – Falácia do lucro por ação (LPA)
– Falácia do custo médio ponderado de capital (WACC) – Entre outros
• Vamos examinar os dois primeiros...
27
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio x capital de terceiros: a falácia do LPA – Lucro por ação
• Falácia 1: a dívida é uma opção melhor porque aumenta o lucro por ação
– O lucro por ação aumenta quando o endividamento aumenta (verdadeiro)
– As empresas deveriam se endividar para maximizar seu lucro por ação (falso)
– A segunda afirmação é falsa porque, embora o lucro por ação aumente, o risco também aumenta
28
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio x capital de terceiros: a falácia do LPA – Lucro por ação (cont.)
29
EMPRESA COM 100% DE CAPITAL PRÓPRIO DADOS
Número de ações 1.000,00 Preço por ação ($) 10,00 Valor de mercado das ações 10.000,00 Valor de mercado da dívida - Juro à taxa de 10% -
RESULTADOS Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Resultados operacionais ($) 500,00 1.000,00 1.500,00 2.000,00 Juro ($) - - - - Remuneração do capital ($) 500,00 1.000,00 1.500,00 2.000,00 LPA - Lucros por ação ($) 0,50 1,00 1,50 2,00
Retorno das ações (%) 5,0% 10,0% 15,0% 20,0%
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio x capital de terceiros: a falácia do LPA – Lucro por ação (cont.)
30
EMPRESA COM 50% DE CAPITAL PRÓPRIO E 50% DE CAPITAL DE TERCEIROS DADOS
Número de ações 500,00 Preço por ação ($) 10,00 Valor de mercado das ações 5.000,00 Valor de mercado da dívida 5.000,00 Juro à taxa de 10% 500,00
RESULTADOS Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Resultados operacionais ($) 500,00 1.000,00 1.500,00 2.000,00 Juro ($) 500,00 500,00 500,00 500,00 Remuneração do capital ($) - 500,00 1.000,00 1.500,00 LPA - Lucros por ação ($) - 1,00 2,00 3,00
Retorno das ações (%) 0,0% 10,0% 20,0% 30,0%
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio x capital de terceiros: a falácia do LPA – Lucro por ação (cont.)
31
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A proposição II de Modigliani e Miller
32
E D r E E D r D
rA D E
Da fórmula do WACC (sem o benefício dos impostos), supomos que o retorno dos ativos seja uma média ponderada do retornos da dívida e do capital próprio.
rA= retorno esperado dos ativos rD= retorno esperado das dívidas rE= retorno esperado do capital próprio D = valor de mercado das dívidas E = valor de mercado do capital próprio
E r D r r
rE A A D Reescrevendo a equação
para isolar o retorno do capital próprio ...
Proposição II: o retorno esperado do capital próprio em uma empresa endividada aumenta proporcionalmente ao índice de dívidas sobre capital próprio
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A proposição II de Modigliani e Miller (cont.)
33
Exemplo (baseado nos cálculos do LPA)
15%
ou 15 , 000 0 . 10
500 .
1
E
D A A E
r
E r D r r r
0,20ou 20%
000 . 5
000 . 10 5 , 0 15 , 0 15 ,
0
E
D A A E
r
E r D r r r
O retorno do capital próprio aumenta com o endividamento, mas o retorno do ativo continuaria o mesmo.
Neste exemplo, o retorno esperado dos ativosé de 15%, tanto com dívidas quanto sem dívidas.
Entretanto, o retorno esperado do capital próprioaumenta para 20% em função do endividamento.
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Portanto, na visão de Modigiliani e Miller, a estrutura de capital não afetaria o valor da empresa, uma vez que o retorno dos ativos continuaria o mesmo.
A proposição II de Modigliani e Miller (cont.)
34
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Capital próprio x capital de terceiros: as falácias do custo do capital (WACC)
• Falácia 2: o capital próprio é mais barato que o capital de terceiros – O fato da remuneração do acionista não estar explicitada (como nos
contratos de dívida) não significa que ele não tenha custo!
– Para um investidor, o risco de se conceder um empréstimo é menor do que o de comprar uma ação
• Cláusulas contratuais da dívida garantem a remuneração do credor
• O acionista tem direito ao caixa residual (o caixa residual é alto se a empresa tiver um bom desempenho)
• Falácia 3: como o endividamento é mais barato (verdadeiro), a firma deveria se financiar apenas com dívidas (falso)
– As dívidas tornam-se mais caras na medida em que o endividamento aumenta porque cresce o risco de falência
– Isso é explicado pela hipótese de trade-off
35
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que falta na proposição de MM?
• As proposições de Modigliani e Miller ajudam no entendimento de questões importantes, mas o que falta analisar???
• Novamente – a proposição de irrelevância foi construída com a suposição de um mercado perfeito, isto é:
– Ausência de impostos
– Ausência de custos de falência e de transação – Eficiência de mercado e informações simétricas – A política de investimento permanece constante
36
O relaxamento dessas suposições leva à construção de algumas teorias importantes, discutidas na seqüência...
A TEORIA DO TRADE-OFF
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que falta na proposição de MM?
• Novamente – a proposição de irrelevância foi construída com a suposição de um mercado perfeito, isto é:
– Ausência de impostos
– Ausência de custos de falência e de transação – Eficiência de mercado e informações simétricas – A política de investimento permanece constante
38
Relaxando algumas dessas suposições emerge a teoria do trade-off Para essa teoria, as empresas se preocupam com impostos (que geram benefícios fiscais) e dificuldades financeiras (que geram custos)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O papel dos impostos
• O tratamento fiscal é diferente para os diferentes tipos de remuneração do capital
– Juros relativos a dívidas financeiras são dedutíveis – Dividendos não são dedutíveis
• No Brasil, juros sobre o capital próprio (outro tipo de remuneração) são dedutíveis
• Primeira contraposição ao teorema de MM
– As decisões de financiamento (estrutura de capital) afetam o valor da firma porque afetam o valor de imposto de renda a pagar
– A princípio, quanto maior o endividamento (e as respectivas despesas financeiras com juros) maior o benefício fiscal
• Nota: no curto prazo, se a empresa não for lucrativa esse benefício não existe
39
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O papel dos impostos (cont.)
• Um exemplo do benefício fiscal proporcionado pelas dívidas
40
Descrição 100% Capital
próprio 50% capital de terceiros
Receita 130 milhões 130 milhões
[-] Custos e despesas -30 milhões -30 milhões
[=] LAJIR (Lucro antes dos juros e IR) 100 milhões 100 milhões
[-] Despesas financeiras 0 -10 milhões
[=] LAIR (Lucro antes do IR) 100 milhões 90 milhões
Imposto de renda (34%) -34 milhões -30,6 milhões
Lucro líquido 66 milhões 59,4 milhões
Com capital de terceiros, Imposto de renda é menor em $3,4
milhões, o equivalente a 34% dos $10 milhões de despesas financeira
É por isso que, no WACC, o custo da dívida é multiplicado por 1-T(em que Té a alíquota do IR)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O papel dos impostos (cont.)
• Alguém pode argumentar que o lucro é menor
• Porém
– O LPA (lucro por ação) é maior: lembrem-se do efeito do endividamento sobre o LPA
– Além disso, o valor total da firma é gerado pelo fluxo de caixa total;
quanto maior o fluxo total, maior o valor da firma (ou projeto)
41
Descrição 100% Capital
próprio 50% capital de terceiros
Fluxo de caixa para os credores 0 10 milhões
Fluxo de caixa para os acionistas 66 milhões 59,4 milhões Fluxo de caixa TOTAL para a FIRMA 66 milhões 69,4 milhões
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O papel dos impostos (cont.)
• Dessa forma, na presença de impostos sobre a renda (pessoa jurídica) o valor da firma alavancada seria:
– VL= VU+ Valor presente dos benefícios fiscais
• Onde VL= valor da firma alavancada (com dívidas)
• VU = valor da firma não alavancada (só capital próprio)
• Assim, o valor da empresa aumentaria com o endividamento...
42
Valor
Alavancagem
VL= valor da firma alavancada
VU= valor da firma não alavancada
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O limite para o endividamento
• Se o valor da firma aumenta com o endividamento, ela deveria ser 100% financiada com capital de terceiros?
• Não...
• Porque o aumento do endividamento leva ao aumento dos custos com dificuldades financeiras
– Custos diretos
• Custos legais (ex.: advogados, peritos, etc)
• Custos administrativos (ex.: consultorias, reorganização da empresa, etc) – Custos indiretos
• Redução da capacidade de operação (ex.: dificuldade na relação com fornecedores)
• Perda de clientes
• Perda de empregados importantes
• Perda de oportunidades de investimento
43
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Endividamento ótimo pela trade-off
44 Fonte: Adaptado de Myers (1984)
A TEORIA DE AGÊNCIA
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que falta na proposição de MM?
• Novamente – a proposição de irrelevância foi construída com a suposição de um mercado perfeito, isto é:
– Ausência de impostos
– Ausência de custos de falência e de transação – Eficiência de mercado e informações simétricas – A política de investimento permanece constante
46
A teoria de agência analisa parcialmente esse problema
O endividamento, para essa teoria, pode exercer efeitos positivos ou negativos sobre o valor, dependendo da fase do ciclo de vida da empresa e do seu fluxo de caixa líquido
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A empresa do ponto de vista financeiro
[1] Empreendedores aportam capital e recebem os lucros [2] recursos são investidos em
ativos que geram fluxos de caixa
[3] caixa é reinvestido ou distribuído aos sócios
47
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Mercado Primário [1] Quando a empresa necessita de capital para crescer, ela pode vender ações no mercado primário; os investidores tornam- se sócios
Mercado secundário
[3] Por meio da Bolsa de Valores, esses investidores podem revender suas ações no mercado secundárioa outros investidores
O papel do mercado de capitais
[2] Empresa usa os recursos em novos investimentos
Empresa recebe recursos e investidor
recebe ações (que gera dividendos e ganhos de capital)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
A separação entre propriedade e controle
• Os agentes nem sempre atuam para maximizar o valor do acionista
• Os agentes estão preocupados em maximizar sua utilidade
• “O olho do dono é que engorda o boi”
• “Quando o gato sai, os ratos fazem a festa”
49
Gestores Acionistas
A separação entre propriedade e controle causa o conflito de
agência entre acionista (chamado principal) e gestor
(chamado agente)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Custos de agência do capital próprio externo
• Custos de agência do capital próprio externo – Cenário: pulverização do capital próprio – Conflitos entre gestores e acionistas
• Potenciais problemas – Mordomias
– Risco moral (moral hazard) ou negligência: falta de esforço do agente – Seleção adversa (adverse selection) ou maus investimentos: perdas de
valor decorrentes de projetos com VPL negativo
• “Construção de impérios” (ex.: aumento do poder do gestor em função do porte da empresa), etc
– Esses problemas aumentam quando o fluxo de caixa livre é elevado
50
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Custos de agência do capital próprio externo: o problema do fluxo de caixa livre
• Fluxo de caixa livre
– Fluxo de caixa acima do necessário para financiar todos os projetos com VPL positivo
• O problema de fluxo de caixa livre é grave quando – A empresa gera alto fluxo de caixa
– Mas não possui muitas oportunidades de investimentos
• Nesse caso, o ideal é devolver o dinheiro aos acionistas
• Entretanto, os gestores resistem a devolver o dinheiro
– Para “construir seu império” com aquisições e/ou investimentos que não agregam valor
– Para aumentar suas mordomias
51
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Custos de agência do capital próprio externo: possíveis soluções
• Possíveis soluções para alinhar os interesses entre acionistas e gestores
– Mecanismos internos de governança: monitorar as ações do gestor (ex.: conselho de administração independente), aumentar participação acionária do gestor, aumentar dividendos, etc
– Mecanismos externos de governança: ameaça de aquisições, concorrência no mercado de trabalho
– Alterar a estrutura de capital, aumentando o endividamento
• Fluxo de caixa livre e incentivo do gestor a sobreinvestir (desperdiçar) diminuem
• O endividamento compromete parte do fluxo de caixa futuro, obrigando o gestor a adotar políticas mais austeras
• Entretanto, o aumento exagerado do endividamento leva ao surgimento dos custos de agência da dívida
52
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Custos de agência da dívida
• Custos de agência da dívida
– Cenário: aumento do nível de endividamento – Conflitos entre acionista (agente) e credor (principal) – Pode levar a um aumento das dificuldades financeiras
• Potenciais problemas: incentivo a estratégias egoístas por parte dos acionistas
– Assumir riscos elevados – Subinvestimento
– Esvaziamento da propriedade
• Possíveis soluções para reduzir os custos de agência da dívida – Adoção de cláusulas protetores nos contratos, como por exemplo
• Limitação do pagamento de dividendos
• Restrições quanto à venda dos ativos, etc – Redução do endividamento
53
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Endividamento ótimo pela teoria de agência
54
Custo de Agência
Endividamento
Custo de agência do capital próprio externo
Custo de agência da dívida
Custo de agência total
Endividamento com o
menor custo de agência Fonte: Adaptado de Jensen e Meckling (1976)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Conflitos de agência, ciclo de vida da firma e endividamento
55 Fonte: Kayo
Predominância de capital próprio
Predominância de capital de
terceiros
O PECKING ORDER E A FOLGA FINANCEIRA
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O que falta na proposição de MM?
• Novamente – a proposição de irrelevância foi construída com a suposição de um mercado perfeito, isto é:
– Ausência de impostos
– Ausência de custos de falência e de transação – Eficiência de mercado e informações simétricas – A política de investimento permanece constante
57
Relaxando essas suposições emerge a teoria do pecking ordere folga financeira
• Para essa teoria, a assimetria informacional provoca uma preferência por recursos gerados internamente
• Ao contrário das duas primeiras, o pecking ordernão prevê um nível ótimo de endividamento
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Pecking order
• Assimetria informacional
– Gestores e acionistas têm informações assimétricas – Market for lemons(Akerlof)
• “Mercado de abacaxi” [tradução minha]
• Meu primeiro carro usado
• Reações do mercado
– Emissão de ações são consideradas notícias ruins
• Exemplo: indicam poucos projetos de investimento (com exceção das chamadas ações de crescimento ou “growth stocks”)
– Emissão de dívidas são consideradas notícias boas – Por que? Principalmente por causa da sinalização:
• Emissão de ações sinaliza que preços das ações estão sobrevalorizados
• Emissão de dívidas (ou recompra de ações) sinaliza subvalorização
58
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Entendendo o mecanismo do pecking order
59
Gestores tendem a emitir ações quando os preços estão sobrevalorizados (beneficiando os acionistas antigos) Lembrem-se do “mercado de abacaxi”
Sabendo dessa tendência, novos acionistas exigem um desconto sobre o preço da ação para adquiri-la
Como os gestores sabem que pode haver esse desconto, eles deixam de emitir novas ações. Por isso, a emissão de novas ações é o último recurso na hierarquia do pecking order
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Pecking order(hierarquização das fontes de financiamento)
• Portanto, em função do problema de assimetria informacional, essa teoria sugere que os gestores tenham a seguinte ordem de
preferência na utilização de recursos financeiros 1. Financiamento interno
2. Dívidas 3. Novas ações
• Resultados
– o endividamento varia pela necessidade de recursos externos e não pela busca de uma estrutura de capital ótima
– Quanto maior a geração de recursos internos (ou rentabilidade) menor a utilização de recursos externos (ex.: endividamento)
60
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Financial slack (folga financeira)
• Folga financeira
– conjunto de ativos líquidos (caixa, aplicações financeiras e outros títulos negociáveis) e de capacidade de empréstimo além do necessário para atender ao pagamento de dívidas e gastos operacionais (isto é, baixo nível de endividamento)
• A folga financeira é importante para assegurar
– que os investimentos em P&D sejam feitos de maneira contínua e ininterrupta
– que haja recursos disponíveis para o lançamento de novos produtos – que as empresas tenham recursos disponíveis para adquirir outras
empresas com o propósito de expandir sua base de conhecimento
• Por isso, pesquisas recentes mostram que empresas intangível- intensivas apresentam predominância de capital próprio
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
Resumo das principais teorias de estrutura de capital
• Irrelevância da estrutura de capital – Premissa: mercado perfeito
– Decisões de investimento (e não de financiamento) é que criam valor
• Teoria do trade-off
– Benefícios fiscais incentivam o uso de dívidas (capital de terceiros) – Dificuldades financeiras limitam o uso de dívidas
– Ponto ótimo de endividamento em função da compensação entre esses dois fatores
• Teoria de agência
– Separação entre propriedade e controle leva aos custos de agência do capital próprio externo (endividamento pode ajudar a reduzir esse conflito)
– Por outro lado, o endividamento crescente pode levar aos custos de agência da dívida
– Ponto ótimo de endividamento: onde custos totais de agência são minimizados
• Teoria do pecking order
– Não prevê um ponto ótimo de endividamento
– Ordem de preferência: financiamento interno, dívidas, novas ações
63
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O processo de criação de valor
• Acontece a criação de valor quando, na equação abaixo, o numerador aumenta ou quando o denominador diminui
• Isto é, quando existir um incremento de fluxo de caixa ou uma redução do custo de capital (i)
64
1 (1 )
n
n n
i VP FC
Criação de valor com fluxo de caixa:
- Aumento das receitas - Redução de custo ou despesa - Redução do capital de giro
- Redução de investimentos (com o cuidado de não comprometer a capacidade de produção)
Criação de valor com custo de capital : - Redução do custo do capital próprio - Redução do custo do capital de terceiro - Estrutura de capital ótima (nível de
endividamento que seja adequado)
FEA-USP – Prof. Dr. Eduardo K. Kayo
O processo de criação de valor (cont.)
• Em outras palavras, a pergunta central que devemos nos fazer como gestores financeiros é:
– Como podemos criar valor com as nossas decisões de investimento e de financiamento
• Algumas dúvidas comuns entre os gestores financeiros quando sua empresa precisa de recursos para novos investimentos
– Devemos emitir títulos de dívida (debêntures), ações ou contrair empréstimos bancários?
– Devemos emitir ações ordinárias ou preferenciais?
– Minha empresa é de capital aberto: como o mercado reagirá à minha decisão?
65