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ASSOCIAÇÕES DE MULHERES NEGRAS EM CURITIBA: DAS MUTUAIS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS

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ASSOCIAÇÕES DE MULHERES NEGRAS EM CURITIBA: DAS MUTUAIS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS

Fernanda Lucas Santiago Mestra em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Resumo: Neste artigo tratarei da formação de associações femininas negras em Curitiba no pós-abolição. Através da análise dos livros de atas de reuniões da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio e dos jornais (A República, Correio do Paraná, Diário da Tarde e O Dia), onde localizei a trajetória de 5 associações femininas negras (Sociedade 28 de Setembro, Grêmio das Camélias, Grêmio 13 de Maio, Grêmio Flor de Maio e Grêmio Princesa Isabel), dentre as quais as 4 últimas eram filiadas a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio, estas associações estiveram em funcionamento desde a última década do século XIX até meados do século XX, as integrantes organizaram para si um espaço de sociabilidade em que poderiam ser dirigentes. Objetivando entender as motivações para a organização dessas associação de mulheres negras operárias e a relação delas com a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio e as outras Sociedades Operárias de Curitiba adotei uma abordagem interseccional para analisar as relações de gênero, raça e classe estabelecida entre as integrantes dessas associações. Inicialmente as ações das associações femininas negras estavam ligadas a promoção de assistência social, principalmente nas áreas da saúde e educação, como o auxílio saúde em caso de doença e o auxílio viúva no caso do falecimento do marido, acesso a escola primária e a biblioteca. No século XX há uma ampliação da dimensão desses projetos, como a defesa do sufrágio feminino, auxílio aposentadoria, auxílio maternidade e a construção de creches.

Palavras-chave: Associativismo Feminino Negro; Associativismo Negro;

Assistência social; Políticas Públicas; Curitiba.

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Neste artigo apresentarei 5 associações femininas negras atuantes na cidade de Curitiba e a rede de apoio mútuo do qual elas faziam parte, evidenciando o protagonismo de mulheres negras na organização de ações de beneficência na área da saúde e educação. Paralelamente a apresentação das principais ações de beneficência desenvolvida pelo associativismo feminino negro curitibano, colocarei em diálogo com o processo de formação das políticas públicas emplementadas durante a Era Vargas. Problematizarei a possibilidade dessas ações realizadas no âmbito local de caráter beneficente terem influenciado a construção de políticas públicas no âmbito municipal, estadual e nacional.

Associativismo Feminino Negro: Mulheres negras e suas associações

O conceito de associativismo feminino negro abrange as organizações criadas por e para mulheres negras, seja organizações independentes ou filiadas a alguma associação negra. Essas associações poderiam se definir exclusivamente femininas, ou mista, desde que constituíssem um grupo majoritariamente formado e dirigido por mulheres negras. Dessa forma, o associativismo feminino negro se distancia das associações negras e dos clubes sociais negros, por ser um tipo de associação em que as mulheres negras poderiam propor ações e assumir cargos da direção.

A vinculação ao associativismo feminino negro, poderia significar buscar fortalecimento identitário com outras mulheres que partilhavam a experiência de serem negras e operária. Mulheres negras operárias que buscavam melhorar as condições de suas vivências e de seus familiares, traçando estratégias de (re) existência frente ao racismo, ao machismo e às desigualdades sociais. A percepção sobre os desafios comuns aproximou essas mulheres, que por meio das

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associações femininas negras conseguiram adentrar em uma rede de solidariedades entre clubes sociais negros, sociedades operárias e associações femininas. A experiência do racismo aproximava (e ainda aproxima)1 mulheres negras e homens negros em torno da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio2 mas, mesmo entre pessoas negras havia (e ainda há) relações desiguais condicionadas ao gênero estabelecidas em estatuto do clube, com a finalidade de delimitar os limites de atuação das mulheres. Devido a essas restrições, as mulheres negras formaram agremiações próprias. O fortalecimento racial entre sócias/os, permitiu a construção da sede da S.O.B. 13 de Maio e da S.O.B. 28 de Setembro; a longevidade desses dois grupos; a manutenção de auxílios saúde e velório; a instalação de escola noturna e biblioteca na sede da S.O.B. 13 de Maio, entre outros projetos de vida compartilhados por famílias negras através de gerações.

Por reconhecerem-se enquanto operárias/os, as/os sócias/os da S.O.B. 13 de Maio comporam a rede de sociabilidade da classe operária, mesmo havendo tensões de ordem racial e de gênero para a atuação desses homens e mulheres negros/as, em associações constituídas majoritariamente por pessoas brancas, ainda que algum homens negros ocupassem cargos na diretoria de sociedades operárias e houvessem trocas de convites constantes entre sociedades operária e o associativismo negro. Já a aproximação às associações femininas, se conformaram em torno das vivências femininas, na organização de campanhas em auxílio a instituições de caridade e articulações em prol do sufrágio feminino, ainda que, essas mulheres vinham de vivências de raças e classes diversas. E entre as associações femininas negras é possível localizar algumas trocas de convites para

1 Entre parênteses insiro a dimensão do presente, por considerar a perspectiva alongado da História do Tempo Presente em que as relação passado, presente e futuro se alongam e se fundem num eterno presente. DELACROIX, Christian. A história do tempo presente uma história (realmente) como as outras? Tempo e argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, 2018. DOSSE, François. Renascimento do acontecimento: um desafio para o historiador: entre Esfinge e Fênix. [tradução de Constancia Morel] São Paulo: Editora Unesp, 2013. KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

2 A Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio (S.O.B. 13 de Maio) foi fundada por mulheres e homens descendentes de africanas/os livres e libertas/os em Curitiba, no dia 06 de junho de 1888.

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festas, organização de campanhas beneficentes e a atuação de sócias e diretoras em diversas organizações de maneira concomitante.

Quadro 1 - Associações Femininas Negras de Curitiba entre 1895 e 1963

Associações femininas negras

Período de funcionamento

Filiação

1- S.O.B. 28 de Setembro 22/09/1895 a 13/05/1961 independente3 2- Grêmio das Camélias 04/06/1899 a 20/04/19274 S.O.B. 13 de Maio 3- Grêmio 13 de Maio 25/05/1912 a 23/04/1919 S.O.B. 13 de Maio 4- Grêmio Flor de Maio 17/11/1922 a 13/05/1946 S.O.B. 13 de Maio 5- Grêmio Princesa Isabel5 12/02/1924 a 13/05/1963 S.O.B. 13 de Maio

Fonte: produzida pela a autora, 2019

A associação feminina negra mais antiga listada nesta pesquisa, a Sociedade Operária Beneficente 28 de Setembro provavelmente tenha surgido a partir da organização das sócias da S.O.B. 13 de Maio. O estatuto de 1896 da S.O.B. 13 de Maio e seu livro ata do mesmo ano nos indicam essa evidência. “O Sr.º Benedito Candido pede p. ser supprimido dos Estatutos as festas de 28 de Setembro visto já existir uma sociedade com este título.”6

Art. 1º (...) Promover festejos commemorativos às leis de 28 de setembro de 1871, que libertou os filhos da mulher escrava, nascidos depois dessa data, e de 13 de Maio de 1888, que decretou a abolição da escravidão no Brazil.7

3 A S.O.B. 28 de Setembro era independente, não estava filiada a outra Sociedade, diferente das agremiações femininas negras, dessa forma diferencio a categoria das associações femininas negras (independentes) e as agremiações femininas (filiadas).

4 Há indícios de que o Grêmio das Camélias foi desativado entre 1903 a 1924, quando foi reativado.

5 Entre 1949 e 1954 tornou-se Sociedade Operária Beneficente Princesa Isabel, tornou-se independente da S.O.B. 13 de Maio, ainda que partilhasse, por vezes, o espaço da sede e projetos de re (existência) concorria a subvenções e editais de forma independente.

6 LIVRO ATA DA S.O.B. 13 DE MAIO, 02/02/1896, fl. 129.

7 A República, 26/08/1896, fl. 2.

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Ambos documentos acima citados fazem referência a importância de comemorar a Lei do Ventre Livre e a transformação, ou atualização do seu significado para o grupo. Após o surgimento da S.O.B. 28 de Setembro os sócios da S.O.B. 13 de Maio deixaram de comemorar a data da Lei do Ventre Livre, não por desconsiderar a importância da data mas, por respeitar o significado que ela continha para a organização de mulheres libertas, livres e descendentes de escravizadas. A Lei criou o status de ingênuo para as crianças nascidas a partir de 28 de setembro de 1871, mesmo que os artigos da lei colocassem uma série de condicionantes com relação à libertação das crianças filhas de mães escravizadas, a existência da lei também acionou a expectativa de melhora na condição de vida e de libertação ainda que ela não tenha se concretizado de maneira instantânea.

Acionar essa memória de expectativa, pode indicar que a população liberta e descendente de escravizados queria continuar lembrando do histórico de lutas pela libertação, os significados de ser mãe e poder criar os filhos em liberdade, a percepção de ser a última geração de escravizados de sua família.

Todos os nomes das 5 associações femininas negras estão relacionados ao histórico de libertação da escravização, 28 de setembro é a data da Lei do Ventre Livre8. Os adjetivos operárias, recreativas e beneficentes geralmente acompanhavam os nomes das associações femininas negras explicitando a maneira como elas se percebiam e queriam ser reconhecidas pela cidade onde viviam.

Como já dito anteriormente, a formação de associações femininas negras ocorreu devido à diretoria da S.O.B. 13 de Maio inserir critérios condicionados ao gênero para tornar-se sócia/o, além de proibir a inserção de mulheres nos cargos da diretoria.

Art. 4 § 2. - As mulheres e filhos dos associados, ou parentes poderão fazer parte do Club, e gozarão de todos os favores, aqui estabelecidos, menos no que diz respeito a parte activa dos trabalhos sociais e terem mais de 14 anos e menos de 45 podendo frequentar os recreios e sessões magnas promovidos pelo Club.

8 Aprofundamos esse assunto no texto da dissertação. SANTIAGO, Fernanda Lucas. Mulheres negras: Trajetórias de (re) existência em rede (Curitiba, 1922-1963). Dissertação de Mestrado em História. Florianópolis: UDESC, 2019.

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Art. 4 § 3. - As propostas para sócias do Club, só poderão vir assignadas pelos seus maridos, paes, parentes, e irmãos, que façam parte do Club.9 O artigo 4 colocava as mulheres lado a lado dos filhos, das crianças, na condição de tuteladas por um homem de sua família que fosse sócio e estivesse com as mensalidades pagas em dia, por meio deles, as mulheres e crianças poderiam ter acesso ao clube e aos direitos sociais.

Art. 9. § Único - Todo sócio que não souber ler nem escrever poderá votar, porém não ser votado.

(...)

Art. 34. - § Único - Todo o sócio tem direito de votar e ser votado exibindo o respectivo recibo pelo qual prove estar quite com o Club, menos as senhoras de acordo com o disposto no parágrafo 2 do artigo 3.10

Nos artigos 9 e 34 fica perceptível o descrédito das mulheres. Na visão dos diretores, independente do seu grau de instrução, as mulheres eram tidas como incapazes de fazer escolhas, tomar decisões e exercer o direito social de votar. Lembrando que no ano de 1929, quando foi oficializado o estatuto acima o direito ao sufrágio feminino não havia sido conquistado pelas mulheres. Sendo assim, analfabetos e mulheres estavam igualmente proibidos de votar e serem eleitos. Mas no âmbito da S.O.B. 13 de Maio homens analfabetos tinham esse direito social assegurado. Por meio das associações de mulheres negras, as sócias da S.O.B. 13 de Maio poderiam formar um espaço deliberativo composto por mulheres associadas ao clube, formando sua própria diretoria. No estatuto de 1896 não havia nenhum critério condicionado ao gênero, o que mostra que com o passar dos anos, as mulheres passaram a requerer o direito sobre este espaço de poder e os diretores, resolveram registrar no estatuto essa proibição.

A revelia dessa disputa de poder, sobre o direito de escolha e poder de voto, é intrigante pensar que o sócio Benedito Candido11 foi o representante da S.O.B. 28 de Setembro na reunião em que 8 associações femininas se reuniram para escolher a representante do Paraná, no 2º Congresso Feminista no Rio de Janeiro em 1931.

9 ESTATUTO DA S.O.B. 13 DE MAIO, 1929, fl.2.

10 ESTATUTO DA S.O.B. 13 DE MAIO, 1929, fl. 6 e 17.

11 Sócio da S.O.B. 13 de Maio e da S.O.B. 28 de Setembro, assumiu diversos cargos na diretoria da SOB 13 de Maio e em Sociedades Operárias de Curitiba como Sociedade Protetora dos Operários e Sociedade 14 de Janeiro.

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Apesar de não sabermos qual o posicionamento de Benedito e das sócias, essa fonte12 é rico, pois diverge e questiona as narrativas sobre a conquista do sufrágio feminino centrado nas mulheres brancas burguesas, fazendo submergir dessa narrativa unilateral, as mulheres e homens negras/os da classe operária, evidenciando que esses sujeitos também participaram do processo de debates, tensões e conquista do direito ao sufrágio feminino.

Fazer parte dos Grêmios das Camélias, 13 de Maio, Flor de Maio e Princesa Isabel significava estar filiada a da S.O.B. 13 de Maio e ter acesso a diversos benefícios sociais como o auxílio saúde; auxílio velório; auxílio viúva e herdeiros.

Mesmo não sendo um dever estatutário, a sócia Januária Maria da Conceição13 conseguiu requerer a S.O.B. 13 de Maio uma pensão vitalícia de Cr$ 30,00 (trinta cruzeiros) mensais, “por se tratar do seu estado de velhice” que a dificultava continuar trabalhando, foi unanime a decisão da diretoria em prover-lhe uma

“aposentadoria”. Embora na ata de reunião não esteja revelada sua idade e profissão, podemos deduzir que a sócia requerente realizava alguma atividade braçal informal, considerada incompatível para uma pessoa de sua idade. Sabendo que na década de 1950 a expectativa de vida do brasileiro era de 43,3 anos, sendo na região sul 52,7 anos14, provavelmente Januária passara dos 50 anos.

Em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) havia estendido o direito a aposentadoria a algumas categorias de trabalhadores, certamente Januária desenvolvia alguma atividade informal, ou seja, sua categoria trabalhista não tinha direito a aposentadoria estabelecido por lei e portanto, sua única opção seria, requerer a diretoria da SOB 13 de Maio um auxílio, em nome dos anos que a sócia prestou serviços relevantes à sociedade. Segundo Gomes (1999) as estratégias de governo Vargas no Estado Novo situavam-se entre a implementação das pautas dos trabalhadores, com a implementação de políticas públicas na área da saúde, educação e trabalho como forma de conter as greves trabalhistas, controle da população empobrecida e manutenção do poder do Estado. Nesse cálculo entre

12 O Dia, 06/06/1931, fl. 8.

13 LIVRO ATA DA S.O.B. 13 DE MAIO, 24/01/1948, fl. 108-109.

14 IBGE, 2000, p.2.

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concessão de direitos e a exclusão deles, fazia-se fundamental a atuação das associações e a prestação de auxílio mútuos.

Mas, e qual seria a profissão de Januária? Ao longo da pesquisa de dissertação as profissões mais comuns entre as sócias da SOB 13 de Maio e das associações femininas negras listo, empregadas domésticas, cozinheira, costureira, servente, funcionária pública e enfermeira. A sócia Virgília Alves Marques era empregada doméstica e lavadeira, foi a 1ª Secretária do Grêmio 13 de Maio e integrou a rede do associativismo feminino negro de Curitiba, participou da organização e de festas visando levantar fundos para dar continuídade aos auxílios sociais e aos projetos voltados a instrução como criação de creche, manutenção da escola primária e biblioteca. Os frutos plantados por Virgília e demais sócias floresceram. A filha de Virgília, seguiu os passos da mãe, também foi empregada doméstica. Mas diferente da mãe teve a oportunidade de dar seguimentos aos estudos enquanto trabalhava como doméstica, formou-se no magistério e passou a lecionar. Ingressou no curso de engenharia e formou-se em 1945 como a primeira engenheira negra do Brasil, Enedina Alves Marques15 rompeu barreiras que pareciam intransponíveis.

Segundo Helena Hirata (2014) as profissões ligadas ao cuidado são mais comuns entre as mulheres, devido a crença de que o ato de cuidar do outro é característica inata das mulheres. E no caso das mulheres negras há uma tentativa em reconduzi-las a atividades similares as desenvolvidas no tempo da escravidão como doméstica, babá (a ama de leite moderna), lavadeira e doceira.

Algumas tarefas na sociedade curitibana continuaram sendo exercidas pelos negros. As quitandeiras, as passadeiras, as amas, os engraxates, os pedreiros, os marceneiros, os carpinteiros e tantos outros ofícios estiveram sob as responsabilidades deste grupo.16

A valorização da conduta moral através do trabalho para as/os integrantes da classe operária e a valorização da mulher através de atos de caridade foram

15 SANTANA, 2013, p. 32.

16 SANTANA, 2013, p. 19.

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bastantes estimuladas durante o Estado Novo, sendo anteriores a este período, há muito impregnado no imaginário social de sociedades cristãs patriarcais. O maternalismo no Estado Novo definiu o lugar da mãe, e das crianças.

Devido ao racismo e sexismo poderia ser atribuído às mulheres negras diversos estereótipos ligados a promiscuidade, inferioridade moral, propensão a vícios e crimes. As ações de caridade mobilizações pelas as associações femininas negras podem ter sido organizadas na tentativa de livrar-se dos estereótipos negativos atribuídos a população negra, demonstrando seu valor moral ao realizar doações a Igreja Católica do Portão, enviar dinheiro para auxiliar na construção da Escola de Enfermeiras do Hospital da Cruz Vermelha, organizar campanhas de arrecadação para a Sociedade de Socorro aos Necessitados, Sociedade de Assistência aos Lázaros, Instituto de Cegos do Paraná, Liga Paranaense de Combate ao Câncer, Campanha Nacional da Criança e Campanha O Dia da Caridade.

Algumas necessidades das sócias ficaram de fora do estatuto, por não serem entendidos como deveres do clube: “Art. 39. - Para as sócias os partos não é considerado doença caso sobrevenha algum incidente.”17 A diretoria não considerava legítimo assegurar às mulheres algum tipo de auxílio no período da gestação, ou no pós parto. De fato, a gestação não é doença, porém, sabemos que a gravidez pode agravar problemas de saúde pré-existentes da mãe, colocando em riscos à saúde da gestante e do bebe. Considerando que algumas gestações teriam complicações, a gestante teria que recorrer ao tratamento médico e ausentar-se do trabalho. Caso fosse uma gestação saudável, após o parto a gestante necessitaria de um período de resguardo e ausentar-se do trabalho para cuidar e amamentar o recém nascido. Mesmo tratando-se de suas companheiras de associação a diretoria não considerou justo/viável prestar algum auxílio às gestantes. E depois, quem cuidaria de seu bebe enquanto a mãe trabalhasse? Acredito que a diretoria inseriu de forma explícita no artigo 39 do estatuto, a impossibilidade de oferecer auxílio às

17 ESTATUTO DA S.O.B. 13 DE MAIO, 1929, fl. 19.

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gestantes, no intuito de desencorajar tal requisição. Provavelmente, esse tipo de pauta fosse acolhida pelas associações femininas negras.

Dentre outros pontos, os arts. 392, 393 e 395 da CLT aprovada pelo Decreto-Lei nº. 5.452, de 1º de maio de 1943, estabeleceram, respectivamente, que a licença gestante era de quatro semanas antes e oito semanas depois do parto; que neste período a mulher tinha direito ao salário integral e que, em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico oficial, a mulher tinha direito a um repouso remunerado de duas semanas, assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes de seu afastamento.18

1 - Hospital da Cruz Vermelha do Paraná: Donativos para a construção do Hospital e Escola de Enfermeiras. A S.O.B. 13 de Maio se comprometeu em realizar um baile em benefício dessa instituição no dia 24/09/44 domingo.19

O lucro da festa do dia 24/09/44 rendeu Cr$ 20.500 (Vinte mil e quinhentos cruzeiros) que foi integralmente doado aquela instituição.20

2 - Sociedade de Socorro aos Necessitados: Doação em dinheiro, valor não revelado. Remetido através da Delegacia de Segurança Pessoal.21

Doação em dinheiro, valor não revelado. Remetido através da Delegacia de Segurança Pessoal.22

3 - Sociedade de Assistência aos Lázaros: Doação em dinheiro, valor não revelado.

Remetido através da Delegacia de Segurança Pessoal.23

A S.O.B. 13 de Maio se comprometeu em realizar uma matine dançante no dia 10/12/44 em benefício a aquela instituição e passar uma lista de arrecadação entre as/os associadas/os.24

4 - Instituto dos Cegos: Quando a S.O.B. 13 de Maio melhorasse sua situação financeira tornaria-se membro daquela instituição. Houve a contribuição espontânea

18ANSILIERO, Graziela; RODRIGUES, Eva B. de O.. Histórico e Evolução Recente da Concessão de Salários-Maternidade no Brasil. Ministério da Previdência Social, Secretaria de Previdência Social. v.19, n.2, 2007, p.2.

19 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 10/09/1944, fl.61.

20 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 03/10/1944, fl. 63.

21 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 29/10/1944, fl. 64.

22 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 13/12/1944, fl. 66.

23 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 29/10/1944, fl. 64.

24 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 29/10/1944, fl.65.

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de alguns sócios, não foi mencionado o valor.25

5 - Liga Paranaense de Combate ao Câncer: Passaram lista de arrecadação entre as/os sócias/os, não informando o valor arrecadado.26

6 - Campanha Nacional da Criança: Doação de Cr$ 513,00 (quinhentos e treze cruzeiros).27

7 - Campanha O Dia da Caridade: As sócias da S.O.B. 13 de Maio venderam diversas violentas juntando o valor de 50$00 (cinquenta mil réis) inteiramente doados a campanha.28

A Sociedade 28 de Setembro ficou encarregada de vender flores na 12ª zona de vendas.

Considerações finais:

As estratégias das associações de mulheres eram múltiplos e poderiam variar entre buscar filiação à uma Sociedade ou organizar-se de maneira independente como o caso da S.O.B. 28 de Setembro e do Grêmio Princesa Isabel.

Era bastante comum que as sócias e diretoras participassem em mais de uma associação. A identidade racial, de classe e de gênero aproximou aquelas mulheres negras desenvolverem ações conjuntas com outras organizações que partilhavam experiências de vida comuns, sendo assim uniram-se a associações negras, sociedade operária e associações femininas. Considerandos os desafios da reprodução da existência cotidiana, essas mulheres por meio do associativismo feminino negro conseguiram dar continuidade a projetos de melhoria da condição de vida que muitas vezes só foram colhidas pelas gerações posteriores a elas.

Pensando nas redes de solidariedades das mutuais para além de Curitiba, podemos considerar que essas redes ofereceram amparo onde o Estado não alcançava e em alguns termos, seus anseios e sonhos partilhados tornaram-se políticas públicas.

25 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 11/08/1946, fl. 94.

26 LIVRO ATA DE REUNIÕES DA S.O.B. 13 DE MAIO, 09/05/1954, fl. 170.

27 O Dia, 30/09/1948, fl..8.

28 O Dia, 20/11/1923, fl. 5.

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Referências:

DELACROIX, Christian. A história do tempo presente uma história (realmente) como as outras? Tempo e argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, 2018. Disponível em:

<http://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/12709/8049> Acesso em: 24 mai. 2019.

DOSSE, François. Renascimento do acontecimento: um desafio para o historiador: entre Esfinge e Fênix. [tradução de Constancia Morel] São Paulo:

Editora Unesp, 2013.

GOMES, Angela de Castro. Trabalho, previdência e sindicalismo: Vargas e os trabalhadores do Brasil. In: PANDOLFI, Dulce (org). Repensando o Estado Novo.

Rio de Janeiro: Ed Fundação Getúlio Vargas, 1999.

HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça. Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, São Paulo, v.26, n.1,p.61-73, 2014.

KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Rio de Janeiro:

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MARTINS, Ana P. V. Itinerários do associativismo feminino no Brasil: uma história do silêncio. Delawere Review of Latin American Studies. vol.17, n. 2, p.1-13, nov.

2016.

SANTIAGO, Fernanda Lucas. Mulheres negras: Trajetórias de (re) existência em rede (Curitiba, 1922-1963). Dissertação de Mestrado em História. Florianópolis:

UDESC, 2019.

SANTANA, Jorge Luiz. Rompendo Barreiras: Enedina uma mulher singular. 2013.

73 p. Monografia de conclusão do curso de bacharelado em História, Memória e Imagem, UFPR, Curitiba, 2013.

SEIXAS, Larissa S. Associações femininas e a inserção das mulheres na esfera pública: o Centro Paranaense e Feminino de Cultura (Curitiba, 1933-1958). In: XXV Simpósio Nacional de História, 2009, Fortaleza. Anais do XXV Simpósio Nacional de História, 2009.

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