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Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Segunda Câmara Cível

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Academic year: 2022

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Appeellaçããoo Cívveell nº 00119933559944--2255..22001100..88..1199..00000011 1 1

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0193594-25.2010.8.19.0001 APELANTE: FELIPE RIBEIRO SOLOMON

APELADO: STUDENT-LEX CURSOS DE IDIOMAS LTDA

RELATOR: DESEMBARGADOR ALEXANDRE FREITAS CÂMARA

Direito do Consumidor. Contratação de prestação de serviço de ensino de idioma. Necessidade de aquisição do material didático para o devido acompanhamento do curso. “Não configuração de venda casada” já que a aquisição do produto é intrínseca à prestação do serviço.

Descumprimento do dever de informação quanto à possibilidade de aquisição noutros locais de venda.

Inexistência de informação sobre o preço do material.

Consumidor que foi surpreendido com o valor de R$

1.305,00, sendo-lhe exigida a compra dos livros que seriam utilizados até o final do curso e não apenas do que seria utilizado no semestre. Falha na prestação do serviço.

Dano moral in re ipsa. Consumidor que tem direito à devolução dos valores devidos pelos livros referentes ao período não cursado. Autor que decidiu dar seguimento ao curso por três meses. Rescisão imotivada antes do término do curso. Multa rescisória devida. Parcial provimento do recurso.

DECISÃO

Trata-se de apelação interposta contra sentença de improcedência dos pedidos formulados pelo apelante, que sustenta que, em dezembro de 2009, celebrou contrato de prestação de serviço de ensino de idioma e que, para não perder desconto no valor da mensalidade, efetuou a matrícula rapidamente, sem ler o contrato de forma cautelosa. Em fevereiro de 2010, pouco tempo antes de o curso ter início, teve ciência de que teria de adquirir o material didático referente aos vinte e quatro meses de curso. Diz que tentou se opor já que seria mais correto, segundo alega, que adquirisse o material ao longo da prestação do serviço. Teria emitido,

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assim, quinze cheques no valor de R$ 85,00. Alega que, no contrato, não há cláusula de aquisição de material e que tal conduta é abusiva já que configura prática de venda casada. Narra, ainda, que cancelou o contrato em maio de 2010, mas que foi obrigado a pagar a mensalidade referente a junho, mesmo sem que houvesse a prestação do serviço, devendo ser oficiado ao Ministério Público sobre tal conduta supostamente ilegal. Postula que cessem os depósitos dos cheques referentes ao material didático e que sejam devolvidos os cheques ainda não descontados; que seja reembolsado o valor dos cheques descontados, limitados ao piso de R$ 250,00, referentes à utilização do Livro 1; a rescisão do contrato sem qualquer ônus e compensação por dano moral.

O juízo de primeiro grau entendeu que o autor manifestou sua vontade livre de qualquer vício, não havendo direito de arrependimento quanto à aquisição do material didático.

Na apelação, o autor reitera os argumentos já expostos.

Foram apresentadas contrarrazões prestigiando o julgado.

É o relatório. Passa-se à decisão.

No que se refere ao agravo retido interposto pela apelada, ressalta-se a impossibilidade de ser apreciado pelo fato de que a respectiva análise não foi objeto de expresso requerimento em sede de contrarrazões de apelação, na forma prevista no artigo 523, § 1º, do Código de Processo Civil. Assim, não se deve conhecer do referido recurso.

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A primeira controvérsia consiste em saber se a venda do material didático pela prestadora do serviço de ensino configura a prática de “venda casada”.

Nesse contexto, o art. 39 do Código de Defesa do Consumidor veda expressamente certas práticas consideradas abusivas, dentre elas a de “condicionar o fornecimento de produto ou serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço”.

Sobre o tema, ensina o ilustre doutrinador Rizzatto Nunes (Curso de Direito do Consumidor. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2005, p. 515):

A norma do inciso I proíbe a conhecida “operação casada” ou

“venda casada, por meio da qual o fornecedor pretende obrigar o consumidor a adquirir um produto ou serviço apenas pelo fato de ele estar interessado em adquirir outro produto ou serviço. (...) É preciso, no entanto, entender que a operação casada pressupõe a existência de produtos e serviços que são usualmente vendidos separados”.

Quanto à necessidade de aquisição do material pelo aluno, o contrato traz cláusula expressa e clara nesse sentido (fl. 15), o que faz com que tal dado tenha feito parte do que seria cognoscível pelo consumidor, não podendo alegar, assim, vício de vontade.

Na contestação, a ré sustenta que atuou como mera intermediária e que os livros poderiam ser adquiridos também em loja mantida pela editora (fl. 36). Alega, ainda, que recebe o valor do material e o repassa ao fornecedor.

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Contudo, o contrato não abriu tal possibilidade para o consumidor, cingindo-se a informar que o material seria adquirido pelo aluno no dia da aula introdutória (fl. 15).

O fato de a ré não ter informado acerca da possibilidade de aquisição do material didático de outra fornecedora não configura a prática de “operação casada”

uma vez que a aquisição dos livros era necessária para o devido acompanhamento do curso e tal necessidade foi devidamente informada no momento da contratação.

Por outro lado, vê-se que a cláusula contratual nº 10, nos termos em que redigida, afronta o dever de informação já que não informa o preço que seria despendido – R$ 1.305,00 -, tampouco que todo o material seria adquirido no início do curso, e tal dever integra qualquer contrato de consumo por força do art. 31 do Código de Defesa do Consumidor.

Logo, o demandante manifestou vontade de celebrar o contrato sem ter conhecimento de todos os dados da realidade. Tal vício, contudo, não contamina todo o contrato, mas apenas a cláusula contratual referente à aquisição do material.

Registre-se que, apesar de não ter sido devidamente informado sobre as condições de contratação, o autor decidiu frequentar o curso por três meses.

Como o autor necessariamente deveria comprar os livros, o dano sofrido diz respeito à perda de possibilidade de aquisição em outro local – que apenas foi informada quando da apresentação da contestação – e à surpresa por ter que despender R$ 1.305,00 pelos livros, que seriam utilizados até a conclusão do curso.

Assim, resta configurada a falha na prestação do serviço, consistente na

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violação do dever de informar clara e adequadamente ao autor sobre o serviço oferecido no mercado de consumo, sendo o dano moral in re ipsa.

A devida compensação por danos morais deve ser feita à luz dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sem perder o foco relativamente às suas características. Deve o julgador fixar uma quantia compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido e as circunstâncias que entenderem relevantes. A compensação, não há dúvida, deve ser o suficiente para reparar o dano tão amplamente quanto possa, sob pena de importar enriquecimento sem causa, ensejando, assim, um novo dano.

Nesses termos, reputa-se como justa e adequada às circunstâncias do caso concreto a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais), tendo em vista que, apesar da situação financeira do autor, o valor debitado referente ao título não foi de expressiva monta a ponto de justificar maior compensação.

Quanto ao dano material, deve ser considerado o fato de que, se a aquisição dos livros somente é justificada para acompanhamento do curso, não há razão para que o demandante, pretendendo a rescisão do contrato, tenha que arcar com o custo dos livros referentes a períodos não cursados. Não há dúvida de que é ilegal a exigência de adiantamento pelo pagamento pelos livros, cuja necessidade se renovaria a cada período em que o demandante optasse por prosseguir no curso.

Em sentido conforme:

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Processo: 0029527-56.2009.8.19.0202 1ª Ementa - APELAÇÃO

DES. PEDRO FREIRE RAGUENET – Julgamento: 10/12/2012 – SEXTA CÂMARA CÍVEL

Cível. Consumidor. Contratação de curso de idiomas.

Cancelamento por iniciativa da autora. Alegação de recusa na devolução dos valores referentes ao material didático. Pretensão de rescisão do ajuste, repetição do indébito e indenização por danos morais. Procedência parcial dos pedidos. Apelos recíprocos. Rescisão, imotivada, do pactuado. Partes que se restituem ao status quo ante, de molde a justificar a devolução dos valores pagos pelo material não utilizado, de forma integral e simples, já que não demonstrada qualquer cobrança indevida pela demandada. Venda casada. Material didático que se revela como elemento intrínseco do curso contratado. Aquisição do mesmo que não se revela como conduta incorreta. Inteligência do art. 335, in medius, do CPC.

Alegação de abusividade que se rechaça. Danos morais.

Inexistência. Rescisão contratual que se deu por volição, exclusiva, da autora. Ausência de prova apta a reconhecer ofensa aos direitos da personalidade daquela. Condenação imposta a este título que se afasta. Juros de mora. Relação contratual entre partes. Incidência daqueles a partir da citação, e não do pedido de cancelamento formulado pela autora. Precedente do E. STJ.

Provimento parcial do recurso da ré e desprovimento do apelo da autora. Rateio das verbas de sucumbência, nos termos do art. 21,

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caput, do CPC. Decisão monocrática, nos termos do art. 557, §1º- A, do CPC, aqui aplicado por simetria.

Assim, o demandante tem direito à restituição dos valores despedidos pelo material referente aos períodos não cursados – todos à exceção do primeiro -, tendo o autor como obrigação devolver os livros não utilizados à demandada.

No que tange à rescisão, restou incontroverso que, em 12/5/2010, vale dizer, cerca de três meses após o início do curso, o autor requereu o cancelamento do contrato.

A ré sustenta que o autor deve pagar o valor da mensalidade com vencimento no mês de junho – referente à prestação do serviço em maio – somado a sete dias proporcionais até 5/7/2010. Isso porque, segundo alega, o pagamento se refere ao mês já cursado, devendo ser pago o chamado “aviso prévio”.

De acordo com o contrato, a rescisão seria concretizada em trinta dias após o protocolo do pedido e, para sua efetivação, o contratante deveria estar em dia com as prestações vencidas e vincendas até o término do prazo de seu comunicado de trinta dias (fl. 15).

Pelo que já foi exposto, não há dúvida de que o demandante decidiu por dar seguimento à execução do contrato, a despeito da falha no dever de informação sobre o material que seria adquirido. Dessa forma, a rescisão do contrato, três meses depois, foi imotivada, razão pela qual é devido o valor cobrado, previsto contratualmente, em função do cancelamento antes do termo final do curso.

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Desta forma, dá-se parcial provimento ao recurso do autor para condenar o réu a devolver os valores referentes aos cheques descontados – à exceção do valor do Livro 1 – e ao pagamento de R$ 1.000,00 (mil reais) a título de compensação por dano moral, corrigidos monetariamente a partir da data em que as partes forem intimadas da presente decisão, sem prejuízo dos juros de mora a partir da citação. Diante do acolhimento de todos os pedidos autorais, deve a ré arcar integralmente com as custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenação.

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2013.

Des. ALEXANDRE FREITAS CÂMARA Relator

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