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A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA E A FORÇA AÉREA BRASILEIRA

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Academic year: 2022

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A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA E A FORÇA AÉREA BRASILEIRA

Uma análise acerca da interveniência dos fatores contribuintes para o Desenvolvimento e a Defesa Nacionais

Trabalho de Conclusão de Curso - M o n o g r a f i a a p r e s e n t a d a a o Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Marco Aurélio de Oliveira.

Rio de Janeiro 2017

(2)

C2017 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade d a E S C O L A S U P E R I O R D E GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _____________________________

Sérgio Luis de Araújo Peres Biblioteca General Cordeiro de Farias

Peres, Sérgio Luis de Araújo.

A Base Industrial de Defesa e a Força Aérea Brasileira: Uma análise acerca da interveniência dos fatores contribuintes para o Desenvolvimento e Defesa Nacionais / Coronel de Infantaria Sérgio Luis de Araújo Peres. - Rio de Janeiro: ESG, 2017.

50 f.: il.

Orientador: Coronel Aviador Marco Aurélio de Oliveira.

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2017.

1. Base Industrial de Defesa/Complexo Industrial-Militar. 2.

Força Aérea Brasileira. 3. Desenvolvimento e Defesa. 4. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. 5. “Offset”. I.Título.

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Conceição, do lar, que já educou centenas de filhos, ao irmão que, mais novo, me presenteia com e x e m p l o s d i á r i o s d e a f e t o e profissionalismo.

A minha gratidão, em especial às minhas filhas, Thamires e Thaís, e à A n a , m i n h a e s p o s a , p e l a c o m p r e e n s ã o , b r i g a s e a m o r incondicionais, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, por toda a carreira, e, n e s t e a n o , e m d e d i c a ç ã o à s atividades da ESG.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus mestres de todas as épocas, em especial "tia" Sueli, Fernando Vitor e Renato Lemos, pelo vigor e empenho no exercício do magistério, na condução e formação do indivíduo inquieto e crítico, e por terem sido responsáveis pela pavimentação dos caminhos percorridos até aqui por este entusiasmado neófito na pesquisa das coisas de nosso país e de nossa gente.

Aos companheiros da Turma Ordem e Progresso, amigos descobertos em momentos de final da carreira, pelo apoio e convívio prazeroso em todas as atividades do CAEPE.

Ao meu orientador, Cel Av Marco Aurélio de Oliveira. Paciente e diligente, realizou a árdua tarefa de cotejar as pesquisas e documentação trabalhadas por este estagiário; sem a sua colaboração esta monografia não poderia ser concluída.

Aos integrantes da ESG, voluntários e do efetivo, pelo suporte, exemplo e ensinamentos, preponderantes para o estudo do Brasil com a isenção e responsabilidade implícitas na busca de soluções de problemas e propostas para a busca do bem comum.

(5)

gratia”.

Montaigne.

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RESUMO

Esta monografia aborda a Indústria de Defesa como um dos mecanismos preponderantes na alavancagem do Desenvolvimento Nacional e na promoção da soberania do País ao incrementar eficiência e eficácia na manutenção da Defesa Nacional, conforme esta é entendida na Doutrina da ESG. O objetivo deste estudo é, a partir do diagnóstico derivado da pesquisa bibliográfica e documental, aliado à expertise daqueles que labutam na Força Aérea Brasileira (em especial na COPAC e demais Institutos do DCTA), nas atividades de PDI (desenvolvidas na FAB e na BID) e, obviamente, na mercancia de Produtos de Defesa, determinar em que medida a interação entre as representantes da BID e seus congêneres na FAB contribuem para o Desenvolvimento e a Defesa nacionais. Países como o Brasil, que apresentam um capitalismo tardio e economia de reboque, experimentam cerceamentos diversos, seja de conglomerados nacionais (EEUU), seja de blocos econômicos (UE), que por vezes inviabilizam a obtenção de tecnologias necessárias ao desenvolvimento de equipamentos e materiais inerentes à operação de uma Força Armada.

Esse quadro é intrínseco à concorrência internacional, haja vista tratar-se de atividade ligada à segurança das nações e que demanda recursos vultosos por parte dos governos em sua implementação. As circunstâncias a que o Brasil é submetido levam à necessidade premente do desenvolvimento da indústria nacional, ainda que seja preciso, ao longo desse processo, adquirir produtos no exterior. Emerge, então, a questão do incentivo à pesquisa e desenvolvimento realizados pela FAB e sua expertise, concomitante, no estabelecimento de contratos de aquisição de Produtos de Defesa sob o instrumento contratual do Offset. Ao permitirem que a transferência de tecnologia possibilite o Desenvolvimento Nacional e, por conseguinte, contribua para a Defesa Nacional, esses modelos de contrato e o liame estabelecido pelas instituições representantes do Complexo Industrial-Militar e a Força Aérea Brasileira são os objetos para onde convergem as inquietações do autor e a motivação do presente trabalho.

Palavras chave: Base Industrial de Defesa/Complexo Industrial-Militar. Força Aérea Brasileira. Desenvolvimento e Defesa. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. “Offset”.

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This undergraduate thesis approaches the Brazilian Defense Industry (BID) as one the preponderant mechanisms in the National Development advancement and in the promotion of Brazil’s sovereignty by associating efficiency and effectiveness to the National Defense maintenance, according to the Superior War School (ESG). The objective of this study is, based on the diagnosis derived from the bibliographical and documentary research, allied to the expertise of those who work in the Brazilian Air Force (especially at COPAC and other DCTA Institutes), in PDI activities (developed at FAB and BID) and, clearly, in Defense Products business, to determine the extent to which the interaction between BID representatives and their counterparts at FAB contributes to the national Development and Defense. Countries such as Brazil, that manifest a late capitalism and a towed economy, experience different constraints, either from national conglomerates (USA) or trade blocs (EU), which sometimes make it impracticable the obtainment of technologies that are necessary for the development of equipment and materials inherent to the operation of an Armed Force. This set is intrinsic to international competition, since it is an activity linked to the security of nations and that demands, in its implementation, great resources from the governments. The circumstances to which Brazil is submitted lead to the pressing need for the development of the national industry, even if it is necessary, throughout this process, to import products. It emerges, then, the issue related to the incentive to research and development carried out by FAB and its expertise, parallel to the establishment of contracts for the acquisition of Defense Products under the Offset contractual instrument. By, through technology transfer, enabling National Development and, therefore, contributing to National Defense, these models of contract and the relationship established by the institutions representing the Industrial- Military Complex and the Brazilian Air Force are the objects to which the author's concerns and the motivation of the present work converge.

Keywords: Defense Industrial Base/Industrial-Military Complex. Brazilian Air Force. Development and Defense. Research, Development and Innovation.

“Offset".

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Exportações e Importações de Sistemas de Armas ……… 22

GRÁFICO 1 Exportações brasileiras de armamentos (1970-2000) ……… 27

FIGURA 2 Aeronave MUNIZ M-7 ………..…. 31

FIGURA 3 SIVAM - Financiamentos ………..… 38

FIGURA 4 FAB R-99 A ………. 39

FIGURA 5 FAB R-99 B ………..….. 39

FIGURA 6 FAB A-1 ………..… 40

FIGURA 7 KC-390 - ANV Multimissão ………..………… 43

FIGURA 8 GRIPEN-NG ………..… 44

FIGURA 9 Domínio do Conhecimento Tecnológico ……… 44

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Tabela 1 Evolução da Indústria de Armamentos no Brasil ………..…………..…… 26

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMDE - Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e Segurança.

AeCB - Aeroclube do Brasil.

AVIBRÁS - Aviação Brasileira S/A.

AMX - Aeronave produzida pela EMBRAER.

AMI - Aeronautica Militare Italiana.

ANV - Aeronave.

BID - Base Industrial de Defesa.

CAEPE - Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

COPAC - Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate.

CTA - Centro Técnico da Aeronáutica.

CIM (BR)/CMI (EUA) - Complexo Industrial-Militar/Complexo Militar-Industrial.

DCA - Diretriz do Comando da Aeronáutica.

DCTA - Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial.

EBA - Escola Brasileira de Aviação.

ECEMAR - Escola de Comando e EStado-Maior da Aeronáutica.

EED - Empresa Estratégica de Defesa.

EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A.

END - Estratégia Nacional de Defesa.

ENGESA - Engenheiros Especializados S/A.

EAvM - Escola de Aviação Militar.

ESG - Escola Superior de Guerra.

FBA - Fábrica Brasileira de Aviões.

IA - Indústria de Armamentos.

ID - Indústria de Defesa.

IFI - Instituto de Fomento e Coordenação Industrial.

IPD - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento.

ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica.

MD - Ministério da Defesa/Material de Defesa.

MMFA - Missão Militar Francesa de Aviação.

PED - Produtos Estratégicos de Defesa.

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PQDT - Paraquedista.

RETID - Regime Especial Tributário.

REVO - Reabastecimento em voo.

ROP - Requisitos Operacionais.

RTLI - Requisitos Técnicos, Logísticos e Industriais.

SAR - Search and Rescue (Busca e Salvamento).

SIPRI - Stockholm International Peace Research Institute.

SIVAM - Sistema de Vigilância da Amazônia.

TAL - Transporte Aéreo Logístico.

TRL - Technology Readiness Level (Nível de Maturidade Tecnológica)

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO……….………12

1.1 PROBLEMA………..………..……….14

1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO………..……….….15

1.3 REFERENCIAL TEÓRICO………..………..16

1.4 METODOLOGIA……….………..………..….17

2 HISTÓRICO………..…19

2.1 A INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL - UM MITO DE ORIGEM?…..……20

2.2 O COMPLEXO INDUSTRIAL-MILITAR APÓS A II GRANDE GUERRA……22

2.2.1 Eisenhower, o CIM e a dicotomia da Guerra Fria………...……..23

2.2.2 O Brasil no Grupo dos “não alinhados”…..….………..24

2.2.3 A BID e sua evolução no Brasil…..………..……….25

2.2.3.1 A legislação e os incentivos…..……….……28

3 A FAB E A INDÚSTRIA DE ARMAMENTOS……..……….………..…30

3.1 EXPERIÊNCIAS PREGRESSAS………..……30

3.1.1 A EMBRAER……….…….…..31

3.1.1.1 A privatização e a importância de Ozires Silva..………33

4 A FAB COMO INCENTIVADORA DE P&D NO SETOR DE DEFESA……..33

4.1 A COPAC………..…34

5 A FAB E A AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DE DEFESA……….….36

5.1 UM PROBLEMA QUE SE TORNA SOLUÇÃO………..37

5.2 CASOS DE SUCESSO……….….38

5.2.1 O Programa AMX.……….………..………..40

5.2.2 O Programa KC-390.………..………..41

5.2.3 O Programa FX-2 - GRIPEN..…………..……….………..…43

6 CONCLUSÃO………..……45

REFERÊNCIAS………..…….47

GLOSSÁRIO………..………….50

(13)

1 INTRODUÇÃO

É mister considerar que, não obstante o pragmatismo inerente à busca dos Objetivos Nacionais, para a compreensão dos processos de manutenção da Defesa 1 e Desenvolvimento nacionais, através da capacitação dos meios das Forças Armadas, impõe-se a necessidade de perscrutar os caminhos que conduzem à esta mesma capacitação por intermédio dos mecanismos que a compõem.

Neste sentido, e através de uma abordagem histórica e metodológica, este trabalho busca avaliar criticamente as interações entre os setores de produção e o estamento militar, representados neste trabalho, respectivamente, pela Base Industrial de Defesa (BID), também tratada por este autor como Complexo Industrial- Militar (CIM) e a Força Aérea Brasileira, na busca por respostas ao questionamento formulado no item 1.1.

Neste diapasão, o estabelecimento de metas e Projetos pelas Forças Singulares permite identificar as ondas que tem mobilizado a BID na realização desses Objetivos, seja no reaparelhamento ou na revitalização, seja na inovação tecnológica, gerando as capacidades e a dualidade necessárias ao emprego das FFAA.

Destarte, as qualidades inerentes ao emprego militar são preponderantes para, além de propiciar Defesa e Segurança, incrementar os investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação, fatores que, indubitavelmente, levam ao Desenvolvimento . 2

Nenhuma das transformações por que passam as sociedades se dão sem planejamento, sem pesquisa, sem sobressaltos; seja no campo da política doméstica, seja nos embates geopolíticos que perpassam as relações diplomáticas.

Note-se que este autor ao utilizar o termo Defesa, no trato da questão formulada para o trabalho em

1

tela, pensa preponderantemente em Soberania; haja vista este ser termo integrante da Missão Síntese da Força Aérea Brasileira.

Este é um dos pontos principais deste trabalho; ou seja, o investimento em Projetos Militares

2

contribuem para a Força Aérea cumprir sua Missão?

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13

Assim, as teorias sobre a transição de regimes de capitalismo tardio3 e economia de reboque para regimes inovadores e com projetos de Estado voltados ao desenvolvimento de suas sociedades "fazem previsões pessimistas sobre a sustentabilidade e a qualidade dos regimes políticos competitivos que substituíram governos autoritários. Eles seriam instáveis devido à natureza de suas instituições e das práticas políticas das elites, condenados, assim, a formas de populismo, à política de clientela, a processos eleitorais viciados, e à ingovernabilidade ”. Desta 4 forma, ao decidir levar a cabo este trabalho, urge a este estagiário elencar as razões pelas quais a pesquisa em tela possui a relevância requerida pela ESG.

Em seu aspecto primevo, a discussão em comento se insere integralmente ao contexto hodierno e ao ambiente acadêmico alvitrado pela Escola; e embora o Tema já tenha sido desenvolvido por outros estagiários em suas monografias, a proposta apresentada por este autor indica uma abordagem não observada em trabalhos já realizados nesta Escola e na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR).

Para além disso, o assunto proposto na questão-problema é objeto de estudo há três anos, uma vez que, dentre outros, faz parte das discussões do Laboratório de Estudos dos Militares na Política (LEMP) do Instituto de História (IH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do qual este autor fez parte anteriormente ao início do presente CAEPE.

Não obstante o interesse acadêmico já levantado, esta pesquisa se reveste de maior importância quando verificados seus desdobramentos nas questões relacionadas à Indústria de Defesa, no incremento e inovação da P&D e no estímulo à Economia nacional; o que, inequivocamente, contribui para a manutenção da Defesa e do Desenvolvimento brasileiros, indo ao encontro dos objetivos preconizados pela Escola Superior de Guerra. Tal contribuição é assegurada pela utilidade do trabalho aos demais pesquisadores e pela contribuição cumulativa; ou seja, pelo que este acrescenta ao conjunto do conhecimento científico do tema.

MENDEL, Ernst. Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

3

http://neci.fflch.usp.br/en/node/10, acessado em 29 abr 2017.

4

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1.1 PROBLEMA

No desenvolvimento desse trabalho acadêmico, buscou-se responder o seguinte questionamento norteador: "Em que medida a interação entre as representantes da BID e seus pares da Força Aérea Brasileira contribuem para o Desenvolvimento e a Defesa nacionais?”.

Desta forma, foram verificadas as relações da Base Industrial de Defesa (setor produtivo) com o estamento militar, estritamente nas suas interações com a FAB e seus fatores intervenientes para o Desenvolvimento Nacional.

Para atingir o objetivo alvitrado, realizou-se uma abordagem histórica da Indústria de Defesa e sua atuação no pós-Segunda Grande Guerra contextualizando a participação brasileira no mercado de armamentos. Esta preliminar análise permitiu ponderar em que circunstância o Brasil se coloca no concerto das nações como comprador/exportador de produtos de Defesa.

Ao determinar a situação nacional, foi possível viabilizar o estreitamento da pesquisa na direção proposta, qual seja: Verificar a atuação da FAB como incentivadora de PDI no setor de Defesa, bem como seu protagonismo como adquirente de produtos de Defesa.

É mister identificar que a verificação acerca da participação da Força Aérea, seja no incentivo à pesquisa e desenvolvimento, seja na aquisição de plataformas aéreas e equipamentos, implica na análise dos seus Projetos, e também daqueles sob sua coordenação, evidenciando a relação entre a Instituição e os players 5 do setor.

Este autor também almejou complementar os dados obtidos nas análises já citadas com a expertise daqueles que efetivamente labutam nas atividades da BID e seus correlatos na FAB, de forma a sustentar conhecimentos auferidos que corroborassem hipóteses pré-existentes ou que viessem a ser identificadas no 6 decorrer da presente pesquisa.

Aqui entendidos como aqueles que fornecem, produzem e/ou desenvolvem itens para emprego

5

pelas FFAA; sejam estes nacionais ou estrangeiros.

Estas identificadas na bibliografia utilizada para o presente trabalho.

6

(16)

15

1.2 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A complexidade das ações a serem implementadas, desde a fase de planejamento até a sua efetiva execução , para o estabelecimento de contratos no 7 âmbito da Defesa demandam de forma crescente a observância de preceitos legais 8 e regulamentares do Ministério da Defesa (MD), e da Força Aérea em particular;

bem como a conveniente adoção de boas práticas administrativas. Não obstante os desafios impostos pela legislação inerentes à atividade, verifica-se que o cerceamento tecnológico, através das reservas e impedimentos impostos pelos detentores de tecnologia também necessitam ser considerados.

Desta forma, e cônscio da impossibilidade de abordar irrestritamente todas as perspectivas relativas ao Tema, este trabalho buscou verificar quais aspectos ligados às relações entre os atores citados influenciam o cumprimento da Missão Síntese atribuída à Força Aérea Brasileira, dando especial atenção aos Projetos mais importantes da FAB, ou aqueles sob sua coordenação, no período compreendido entre 2003 a 2010, recorte este coincidente com o determinado pelo professor Renato Dagnino em sua obra “A Indústria de Defesa no Governos Lula”, Marco Teórico estabelecido para este trabalho.

Para tanto, adotou-se o delineamento bibliográfico e documental, cujo material foi acessado nas Escolas de Altos Estudos Militares e na Academia em geral, bem como na bibliografia e fontes especializadas disponíveis sobre o assunto em comento.

Em complemento ao escrutínio do material utilizado, foram estabelecidos liames deste às atividades diretamente vinculadas ao objeto do trabalho proposto, no esforço de arrostar opiniões deste autor que poderiam contaminar as conclusões resultantes com uma análise particular. O emprego dessas ligações (a interação da bibliografia com outras perspectivas), não fundamentou o trabalho; para além disso, este autor visou ao enriquecimento da discussão acerca do Tema abordado.


Aqui entendida como o pagamento final ou de fases previamente acordadas.

7

Aqui o termo Defesa diz respeito às responsabilidades da Pasta Ministerial homônima.

8

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1.3 REFERENCIAL TEÓRICO

O Gerenciamento de equipamentos e sistemas militares não difere, em essência, da administração de um empreendimento empresarial; ao termo, ambos buscam atender seus “clientes” com máxima eficiência e eficácia. Não importa se em guerra ou competindo pelo mercado, a administração sempre caminha em direção aos melhores resultados e para a consecução desse objetivo necessita, de acordo com Chiavenato (2003, p.17), de modelos organizacionais flexíveis. É a flexibilidade que permitirá a adequação da administração a um ambiente onde a demanda pelos seus produtos exige mudanças significativas em seus processos, sem que grandes perdas ou aumento dos custos sejam verificados.

Na realização de um trabalho de pesquisa, é imprescindível ao pesquisador o domínio de certas capacidades que lhe franqueiem o caminhar seguro e amparado naqueles que o precedem. Ainda que haja autor ou autores com quem mais se identifique, cabe ao pesquisador perscrutar todas as vias possíveis e lançar mão de contrapontos para melhor expor suas concepções e idéias.

Dessarte, como já indicado anteriormente, a revisão da literatura, ora consultada e utilizada como referencial que fundamentou toda a investigação, abrangeu os conhecimentos das Normas da Força Aérea, em especial as DCA 400-6 (Ciclo de vida de Sistemas e Materiais da Aeronáutica) e a DCA 11-45 Concepção Estratégica Força Aérea 100), documentações técnicas e estritamente necessárias ao trabalho e que necessitam ser acompanhadas de outras fontes, a fim de perpassar outras visões e abordagens do problema proposto.

Assim decidiu-se, dentre vários autores que foram objeto de referências no decorrer desta monografia, optar por Renato Dagnino (com maior atenção à obra “A Indústria de Defesa no Governo Lula") como Referencial Teórico do trabalho.

Dada a relevância que possui o Curso de Altos Estudos em andamento na Escola Superior de Guerra, é inequívoco que documentos outros, ainda que não tenham constituído um Marco Teórico, fossem trabalhados de maneira a atingir os propósitos ligados à presente pesquisa. Para tanto, a legislação básica para aquisição de itens ligados à Defesa, na BID ou no exterior, também passou pelo escrutínio deste autor.

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17

Com este discernimento, cabe ter em mente os objetivos que levam a FAB a adquirir equipamentos, armamentos e demais itens necessários ao cumprimento de sua Missão Síntese. Por isso, a Constituição Federal de 1988 e algumas de suas Emendas, a Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END), o Livro Branco de Defesa Nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei da Inovação estruturaram o liame que distinguiu a relevância da pesquisa para os objetivos citados.

Sobretudo, foram visitadas obras de autores nacionais e estrangeiros que há muito pesquisam o papel do Complexo Industrial-Militar nas relações comerciais internacionais e no Brasil, além de trabalhos acadêmicos ligados ao Tema desta Pesquisa. Destes, no momento, é possível fazer menção a Clóvis Brigagão, Fernando M. Baptista Costa, Ken Conca, Mariana Mazzucato, Pablo Dreyfuss, Paul Sweezy, Renato Dagnino, Regiane de Melo e Roberto Lopes, todos consignados (juntamente a suas obras) nas referências bibliográficas desta monografia.

1.3 METODOLOGIA

A fim de estabelecer o método aplicado à presente pesquisa, este autor pronuncia-se sobre os fins e meios e pormenoriza as características planejadas para a obtenção e coleta dos dados.

Foi realizada a apreciação da bibliografia disponível nas publicações do Comando da Aeronáutica, livros de autores especializados, documentos disponíveis para acesso na ABIMDE, em Empresas nacionais e em Órgãos da FAB; bem como em outros meios disponíveis, como os sites do IPEA e do MPOG , tendo sempre 9 10 como escopo a Questão e o Tema propostos.

Com sustentação da documentação examinada, foi realizado o cotejamento entre a bibliografia e as práticas de empresas e Unidades da FAB, fim de ratificar entendimentos ou apontar novos dados à pesquisa através de análises horizontais que auxiliaram na construção da resposta ao questionamento feito.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

9

Ministério do Planejamento, Desenvolvimento, Orçamento e Gestão.

10

(19)

Para classificar esta pesquisa, foram adotados os critérios descritos em Gil (2002, p. 41), os quais pelos fins a caracterizam como exploratória e descritiva na coleta de dados que ao serem estruturados, elegidos e submetidos ao escrutínio deste pesquisador, permitiram elucidar de que formas se dão as relações entre os representantes da BID e o estamento militar, representado pela Força Aérea.

A metodologia em apreço considerou a premissa de que a questão-problema somente pôde ser compreendida a partir da consulta às publicações, regulamentos, normas e experiências daqueles inseridos no contexto apresentado, representativos do fenômeno estudado.

Neste diapasão, foi exequível e pertinente o estudo exploratório de maneira que, amparado na bibliografia e complementado pela ligação desta aos atores presentes nos processos de aquisição, cotejou-se os principais fatores que permitiram verificar como se dão as aquisições de Material de Defesa pela FAB.

Quanto ao universo estudado, tamanho da amostra e sujeito da pesquisa, além da sistemática das técnicas de coleta de dados, mostrou-se como mais viável a pesquisa bibliográfica e documental, a fim de alicerçar o conhecimento e estabelecer premissas, como instrumento mais adequado à pesquisa.

Portanto, verificou-se, sob a ótica da literatura cotejada e na visão daqueles que atuam diretamente no “core" da questão apresentada, como a atual forma de relacionamento permite o cumprimento da Missão Síntese da Força Aérea, outorgada pela legislação em vigor; e que contribui na busca dos Objetivos relacionados à Defesa, Desenvolvimento e Segurança nacionais.


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19

2 HISTÓRICO

Aqui cabe uma breve consideração a respeito daquilo que, há muito, é identificado por alguns autores, em especial aqueles dos livros didáticos, sobre o que é Brasil, ou melhor expondo, desde quando somos Brasil.

Não é objeto deste trabalho tratar de História do Brasil, tampouco redefinir entendimentos já consolidados acerca de nosso passado; entretanto, faz-se necessário alijar o anacronismo da narrativa presente em alguns nichos preenchidos por autores pouco comprometidos com a precisão interpretativa de fatos pretéritos.

Encontrar relatos e textos que enaltecem feitos brasileiros anteriores ao século XIX não é tarefa difícil, mais ainda quando seus autores são contemporâneos. Talvez essa prática seja explicada com o suporte de teóricos da História como o germânico Ranke , para quem a História não deveria servir a 11 interesses outros que não a descoberta do que realmente ocorreu.

Assim, a fim de nortear a narrativa adotada neste trabalho, o marco para considerar brasileiros os fatos e eventos seguintes será estabelecido em 1831 ano em que, de fato, o último governante português deixou nossas terras, que adequadamente são tratadas como a “América Portuguesa” por autores do porte de João Fragoso e Antônio Jucá , ao abdicar em favor do filho. É claro que discussões 12 a respeito das Regências geram controvérsias, mas essa é matéria para outro trabalho e qualquer evento anterior a esse período será considerado, por este autor, como pertencente à América Portuguesa.

Leopold Von Ranke (1795-1886). Historiador germânico, fundador da moderna disciplina histórica,

11

para quem a História não deve julgar o passado ou trazer orientações para o presente, apenas mostrar o que aconteceu. Disponível em https://fontehistorica.wordpress.com/tag/leopold-von-ranke/, acessado em 25/08/2017, 13:42h.

Ambos Doutores em História e atualmente professores da UFRJ. Disponíveis respectivamente em:

12

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4783500E0 e http://buscatextual.cnpq.br/

buscatextual/visualizacv.do?id=K4784419A7, acessado em 08/09/17, às 13:37h.

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2.1 A INDÚSTRIA DE DEFESA NO BRASIL - UM MITO DE ORIGEM?

Para tratar de períodos com mais de um século de história, brasileira, como proposto acima é necessária a ancoragem em boa bibliografia e, para além disso, a isenção e distanciamento necessários à boa prática da análise de fatos e versões inerentes a quaisquer abordagens do tema em comento.

Desta forma, é mister identificar em que medida a bibliografia disponível demonstra a isenção necessária ao estudo da fabricação e comércio de itens de defesa no Brasil, e, ainda, arguir se essa pontuação é adequada aos períodos abordados.

Há, por um lado, ufanistas buscando trilhas históricas de grandes feitos e possibilidades urgentes, de outro, críticos do processo da afirmação nacional tecnológica e geopolítica, e, bem diluídos, os que não se manifestam ou não expressam opiniões precisas. Esse amálgama brasileiro, com suas idiossincrasias, produz relatos para todos os vieses e reflete bem a polarização a que nosso tema é submetido.

Sejam militares apresentando análises sobre riscos, ameaças e loas aos governos militares, sejam acadêmicos e políticos atrelados ao que se chamou de ditadura, a pesquisa do Tema continua polarizada, ainda que sejam passados mais de trinta anos da assunção do governo por indivíduo eleito em escrutínio majoritário.

Assim, mesmo na bibliografia que suporta este trabalho, verifica-se exemplos das opiniões que se movimentam nas linhas dos diversos autores.

Os idos do século XVIII, especificamente os anos de 1762 e 1763, são citados por Israel de Oliveira Andrade (in NEGRETE, A.C.A. et al. 2016, p. 12) como ponto de partida de nossa BID. Ora, segundo o próprio, os empreendimentos citados em seu texto tinham por objetivo reparos e manutenção de navios da Esquadra Real e a reparação e fundição de materiais bélicos. Desta passagem verifica-se, ao analisarmos o não dito, que além de não se tratar de Brasil como supomos hodiernamente, também depreende-se que, à época, seria impraticável o translado de navios e itens bélicos para a metrópole à giza de manutení-los; assim, percebe-

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21

se que seria mandatório haver diversas “bases" de manutenção por todas as colônias de Portugal a fim de atender às demandas de sua frota.

Já Renato P. Dagnino, autor escolhido como referencial teórico do presente trabalho, entende que a Indústria de Armamentos no Brasil aparece apenas em meados da década de 1960 onde as FFAA desejavam se reequipar e ocupar a capacidade ociosa gerada pela crise de então (DAGNINO, Renato P. “A indústria de armamentos brasileira: desenvolvimento e perspectivas”. In: ARNT, Ricardo (Org.). O armamentismo e o Brasil. A guerra deles. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 71).

De concreto, o que se pode verificar na bibliografia disponível, incluídas aí as reportagens constantes do noticiário nacional e internacional, é que verificando-se os dois últimos quartéis do século XX, observou-se a retomada da BID, com um posterior retraimento (crises dos anos 80 e 90), ocorrida juntamente à industrialização que toma lugar no país após a 2ª Grande Guerra. Entretanto, o acordo de assistência recíproca com os EUA, em que foi estabelecida a utilização dos excedentes militares dos EEUU, demonstrou que o uso de MD importado desestimulou a necessidade da obtenção de tecnologia própria para a produção de equipamentos nacionais. Situação contornada somente após a denúncia do Acordo nos anos 1970 (CARVALHO, 2013).

Com a denúncia e os planos de “Brasil Potência” estabelecidos pelos Governos Militares a ID revela uma disposição para investimento em P&D e na fabricação de equipamentos militares que passa a representar uma parcela significativa das exportações mundiais do setor.

A figura abaixo permitem observar com maior detalhamento a evolução do setor, e o seu posterior declínio devido às crises que a sucederam, com maior detalhamento. Importante se faz colocar que o investimento estatal e o estabelecimento de projetos de Estado foram imprescindíveis para esse sucesso, ainda que momentâneo, da ID. Também é pertinente destacar que a Indústria de Defesa à época se destacou pelo investimento em tecnologias nacionais e, para além disso, na formação de massa crítica intelectual a fim de lograr os objetivos estabelecidos naquela política de crescimento.

(23)

Destarte, neste trabalho, a abstenção de posições acerca do juízo de valor é prevalente, ainda que na bibliografia utilizada haja flagrantes casos de posicionamento de todas as matizes.

2.2 O COMPLEXO INDUSTRIAL-MILITAR APÓS A II GRANDE GUERRA

A Segunda Grande Guerra foi um importante divisor de tendências para a indústria de armamentos mundial. Antes deste evento verifica-se uma produção voltada para a demanda interna dos países e, em menor medida, para atender alguns outros sob suas áreas de influência. Após o conflito, os EEUU e a URSS despontam como líderes no setor.

Durante a Guerra, ao acionar a máquina industrial a fim de atender as demandas das FFAA, ocorre nos EUA o aumento da institucionalização das Forças Armadas que passam a exercer influência significativa nas diretrizes da política externa americana. Dessa influência surge o maior centro de administração e Comando e Controle (C²) e de administração militar conhecido até então, o

Fonte: DAGNINO, 2010

Figura 1:Exportações/Importações 1975-2000. (US$Milhões)

(24)

23

Pentágono, concluído em 15 de janeiro de 1943 e chamado por James Carroll de 13

“A Casa da Guerra”.

É importante destacar que as necessidades militares americanas, no esforço de guerra e com vistas a atender interesses geoestratégicos de uma política que já vinha sendo desenhada desde o século XIX, incrementada com o êxito na Guerra Hispano-Americana, levaram ao gasto desmedido e sem controle que foi motivo de reação, quase isolada é verdade, daquele que seria o próximo presidente americano, o Senador Truman, que estabelece um comitê para o assunto (ALMEIDA, 2013. p. 41)

É nesse contexto que o General Presidente Eisenhower coloca suas preocupações ao fim de sua administração.

2.2.1 Eisenhower, o CIM e a dicotomia da Guerra Fria

Com a entrada dos EEUU na campanha da Segunda Grande Guerra e a movimentação de sua capacidade industrial, somada aos anseios desse país delineados pelo seu destino manifesto e sua predisposição em tornar as Américas sua área de influência, houve uma comutação na ordem de então e vislumbrou-se uma rentável atividade na produção de armamentos para exportação. Tudo isso dentro de um contexto do Pós-Guerra em que a Europa encontrava-se arrasada, a União Soviética ascendera como uma potência e a Ásia havia sido reduzida a padrões mínimos de industrialização, ainda que boa parte da infraestrutura do Parque Industrial japonês tenha sido preservada.

Os Estados Unidos deram a partida através do Plano Marshall para a recuperação da Europa e, com a ocupação do Japão através da liderança do Gen Douglas MacArthur, puderam consolidar sua presença na Ásia afastando a influência soviética. Enfim, a partir daí verifica-se a dicotomização da Guerra Fria e seus efeitos durante as mais de três décadas seguintes.

Ocorre que em seu discurso de despedida da presidência dos EUA (1961), o presidente Eisenhower , após oito anos ocupando o cargo, cita pela primeira vez a 14

Disponível em http://www.lecturalia.com/autor/5174/james-carroll, acessado em 21/04/17.

13

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=luEIV6q1pxI, acessado em 23/04/17.

14

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expressão “Complexo Militar-Industrial” e denuncia a influência nefasta que poderosos grupos exerciam nas altas esferas de poder. Passados menos de vinte anos do encerramento dos combates no teatro europeu e a máquina capitalista já havia posto suas engrenagens a serviço do ocidente ensejando movimento correlato no Bloco Comunista.

Com as lentes de um observador do agora as palavras do presidente americano assemelham-se às de um pacifista ou crítico da escalada armamentista pertencente a uma das incontáveis ONG’s hoje existentes. Entretanto, trata-se do General que comandou as forças aliadas ante a ameaça nazista e, para além disso, alguém que conhecia intimamente as propensões e demandas do setor militar e suas interações com a indústria de armamentos já estabelecida.

2.2.2 O Brasil no Grupo dos “não alinhados”

Com as conferências de Ialta (ou da Criméia - fev de 1945) e Potsdam (Alemanha - jul-ago de 1945) que, na prática, lotearam o mundo em duas grandes áreas de influência, o Bloco Ocidental liderado pelos Estados Unidos e o Bloco Oriental com influência da URSS, ao mesmo tempo em que ruíam os impérios coloniais da França e Grã-Bretanha, é revelado um movimento que surge sob o impacto de distintos fatores: a revolução nacionalista nas antigas colônias, incapaz de ser detida pelas metrópoles européias, e a "guerra fria", com a ameaça permanente do "conflito final" entre Estados Unidos e URSS; ao que se acrescenta a reativação do fluxo de investimentos externos (principalmente norte-americanos) em direção aos países subdesenvolvidos.

A análise da posição diplomática do Brasil nesse período, especialmente se estaria integrada ao grupo dos não alinhados é tarefa difícil, uma vez que são flagrantes as influências norte-americanas em nossa doutrina e equipamentos militares. Todavia, o professor Dagnino (DAGNINO. In: ARNT, Ricardo. p. 75-76) nos ilustra que havia uma divergência interna, principalmente no Exército, acerca do direcionamento a ser dado quanto à matriz de nossos equipamentos e armamentos.

Conforme exposto em seu texto ele nos dá a possibilidade de constatar que o Projeto de Brasil Potência e as questões geopolíticas da época se impuseram à simples adoção de tecnologia norte-americana por nossas FFAA.

(26)

25

2.2.3 A BID e sua evolução no Brasil

A indústria mundial de armamentos é altamente concentrada, tendo os Estados Unidos como seu maior pólo fabricante e exportador. Junta-se a ele países como França, Inglaterra, Alemanha, Rússia e alguns poucos como o Brasil que se especializam em setores específicos, como a fabricação de aeronaves, munições e armas leves. Contudo, nossa história recente mostra que nem sempre fomos um fabricante/fornecedor periférico.

Um importante fator a ser considerado na produção de armamentos é que nela se destaca a variável tecnológica, chegando muitas vezes a 50% (cinquenta por cento) do custo total de seu desenvolvimento; por alguns critérios vinte vezes maior que a de produtos civis. Assim, o processo de aquisição de armas baseia-se mais em questões estratégicas que na tradicional comparação de preços.

Foi num quadro de renhida disputa tecnológica, ainda nos anos 1960-1970 que surge, em nível internacional, a indústria de armamentos brasileira.

O rompimento do acordo militar Brasil-EUA, juntamente à crise econômica, leva o país a direcionar investimentos governamentais vultosos ocorrendo, conforme colocado pelo professor Dagnino, a conversão da planta industrial civil levando diversas empresas dos mais variados setores a diversificarem suas linhas de produção para produtos militares. Há casos de fabricantes de máquinas de costura e locomotivas a produtores de aço e equipamentos eletrônicos que seguiram esse caminho.

Outra característica que beneficiou a inserção dos itens brasileiros foi a simplicidade e facilidade de manutenção com que eram fabricados, diferentemente das “árvores de natal” tecnológicas, e suscetíveis a panes repetidas, características dos fabricantes americanos de então.

Abaixo apresenta-se uma tabela que permite uma melhor visualização da evolução da Indústria de Armamentos brasileira entre os anos 1960 e 1980; é claro que esta é uma ótica retratada em período muito próximo aos fatos e, dadas as características do sistema de governo vigente e o sigilo que envolve a produção de itens bélicos poderá haver incongruências com a real situação brasileira, considerando-se o volume de exportações e posicionamento global do país, nessas três décadas. Entretanto, ao coligir os dados verifica-se o cuidado do professor

(27)

Dagnino em relacioná-los com as diferentes fases da indústria civil, o que manifesta o quanto a situação econômica e o desenvolvimento tecnológico brasileiro foi preponderante para o crescimento da BID no período.

É relevante ressaltar que a representação acima não contempla o período dos anos 1990 e posteriores, caracterizados pela crise da BID, bem como a sua retomada nos anos 2000-2010, este período será analisado com maior propriedade

Tabela 1: Evolução da Indústria de Armamentos no Brasil

Fases Características

1ª - Meados dos anos 60

crise econômica: aproveitamento da capacidade ociosa da indústria, evitando importações para renovar o equipamento obsoleto.

- conversão de linhas de produção

- aproveitamento do “patamar tecnológico automobilístico.

2ª - Final dos anos 60/começo dos 70 permanece a dificuldade de importação de armamento (guerra do Vietnã)

- produção de armamento convencional do tipo contra-insurgência, pouco sofisticado, barato, de fácil manutenção e operação.

- coroamento do esforço da Aeronáutica no campo científico e tecnológico.

- criação da EMBRAER e aproveitamento de

“brecha de mercado”.

3ª - Meados dos anos 70

política de Direitos Humanos do governo Carter abre o mercado no Terceiro Mundo e estimula a produção interna (rompimento do acordo).

- aproveitamento do esforço de P&D já existente.

- estratégia tecnológica autônoma.

- políticas governamentais de apoio concatenadas.

4ª - Final dos anos 70/começo dos 80 penetração no mercado do Terceiro Mundo, receptivo ao armamento brasileiro, com profissionalização da IA e diminuição da já pequena participação dos militares.

balão de oxigênio de um modelo econômico agonizante?

- exportação de material bélico em 1983 estimada em até 3 bilhões de dólares (3º ou 4º produto de exportação).

- Brasil, 1º exportador do Terceiro Mundo.

- 70% da produção são exportados.

- crescimento num contexto de queda do produto industrial.

5ª - Meados dos anos 80

ampliação/sofisticação da linha de produtos

para outras faixas de mercado. - necessidade de um maior insumo de C&T.

Fonte: (DAGNINO. In: ARNT, Ricardo (Org.), 1985, p. 73-74)

(28)

27

ao abordarmos os casos de sucesso resultantes das relações entre a FAB e a EMBRAER.

Ainda que houvesse iniciativas como a diversificação de produtos e adaptação das linhas de produção pela indústria civil, o que se verifica no auge da Indústria de Armamento no Brasil são três grandes conglomerados no setor: a ENGESA (Engenheiros Especializados S/A), a EMBRAER (Empresa Brasileira de Aeronáutica) e a AVIBRAS (Avibras Indústria Aeroespacial S/A) que respondiam por 95% das exportações do setor militar à época (ANDRADE. in NEGRETE, A.C.A. et al. 2016, p. 15).

Com a chegada dos anos 1990 e a crise econômica, temos a maior evidência de que o setor também entrou em declínio, apenas a EMBRAER manteve-se bem sucedida ao final daquela década.

Grafico 1: Exportações brasileiras de armamentos (1970-2000) (Em US$ milhões - valores de 1990)

Fonte: (ANDRADE. in NEGRETE, A.C.A. et al. 2016, p. 15)

(29)

Já nos anos 2000, identifica-se o direcionamento de grandes Projetos aos Comandos das Forças. Com a racionalização de esforços cada uma se responsabilizou pela coordenação e gerenciamento de um nicho tecnológico, ainda que com a colaboração de elementos de outras Forças co-irmãs. A Marinha ficou com o Programa Nuclear, o Exército com a Defesa Cibernética e a Força Aérea com os Sistemas Espaciais.

2.2.3.1 A legislação e os incentivos

Desde a crise nos anos 1990 até sua retomada a partir dos anos 2000 as políticas governamentais para o setor sofreram diversas alterações. Todavia, uma característica do modelo militar brasileiro dificultava uma melhor racionalização dos meios e a otimização das compras. Isso ocorria devido à separação das Forças Armadas em Ministérios, levando a disputas por verbas e relevância de Projetos e consequentemente à desagregação de equipamentos, armamentos, veículos e, por conseguinte à manutenção e padronização descentralizada.

Essa problemática teve uma solução que, talvez à revelia, se deu pela vontade política do então presidente Fernando Henrique que desde o início de seu governo insistia em unir as FFAA no Ministério da Defesa, no que logrou êxito em 1999. A nova pasta não foi bem recebida de imediato e passaram-se anos até que se estabelecesse, entretanto o que se vê no presente é uma integração muito maior das Forças com compras, ainda restritas é verdade, unificadas e padronização de diversos itens como caminhões e viaturas leves. Destarte, uma palavra que poderia simbolizar a transformação por que passaram as FFAA brasileiras em suas demandas é a “interoperabilidade".

Na esteira do desenvolvimento do MD foram realizados Ciclos de Debates, criadas a Política de Defesa Nacional (PDN), a Estratégia nacional de Defesa (END), o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), o Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PaeD), a Lei nº 12.598, de 22 de março de 2012 (criou o Retid) e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de 2008, assim como a inclusão dos grandes Projetos das FFAA na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI).

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29

De acordo com o Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) é definido que:

“Uma indústria de defesa competitiva e consolidada gera empregos qualificados e incentiva o desenvolvimento tecnológico com encadeamentos produtivos para outros setores da indústria”. (BRASIL, 2012, p. 210).

Assim, segundo Robson Santos de Carvalho, com a Lei nº 12.598, de 22 de março de 2012, é estabelecido o marco regulatório inicial e uma ruptura do entendimento aplicado até então para as atividades da BID no país. Com a entrada em vigor desse instrumento legal foi possível realizar contratações, desenvolvimento de equipamentos e de tecnologias para sistemas de defesa no país (CARVALHO, 2012. p. 30).

A partir daí os Produtos de Defesa (PRODE) (bens, serviços, obras e informações de caráter geral voltados para área de defesa), equipamentos, fardamentos e outros produtos civis, já empregados pelas FFAA, puderam ser considerados de emprego militar.

Outra característica desse instituto legal foi o estabelecimento dos Produtos Estratégicos de Defesa (PED) que, pelo seu conteúdo tecnológico ou dificuldade de obtenção, são imperiosos para a Soberania nacional. Com esse alcance foi possível estabelecer o conceito de Empresa Estratégica de Defesa (EED).

A aplicação dos instrumentos decorrentes dessa legislação, permitiu a redução dos custos de produção de companhias legalmente classificadas como estratégicas e estabeleceu incentivos ao desenvolvimento de tecnologias estratégicas para o país e, além disso, em um efeito colateral positivo, forneceu subsídios para que tecnologias antes empregadas apenas em artefatos militares pudessem ser utilizadas em outros nichos da indústria nacional, gerando um emprego dual e benefícios que foram traduzidos em empregos e faturamento de setores distintos ao de Defesa (CARVALHO, 2012).

É nesse contexto e buscando entender qual papel, nós brasileiros, desejamos para nossas FFAA que este trabalho debruçou-se sobre as relações da Força Aérea e a Base Industrial de Defesa brasileira.

(31)

3 A FAB E A INDÚSTRIA DE ARMAMENTOS

Debruçar-se sobre as interações da Força Aérea e a indústria bélica brasileira não é uma tarefa fácil mesmo nos dias atuais, e buscar relações semelhantes no passado requer uma pesquisa aprofundada que não encontra espaço para sua inclusão neste trabalho de conclusão de Curso. Entretanto, é possível, através da leitura histórica da Força, fazer um bom arrazoado desse relacionamento.

De forma descomplicada e objetiva associamos as atividades aéreas, mesmo em seus primórdios, à utilização de novas tecnologias. Seja na inovação de alçar voos com algo mais pesado que o ar, seja no emprego de armamento embarcado nas rudimentares aeronaves disponíveis no início do séc. XX, a aeronáutica brasileira sofria com a insipiência de indústrias nacionais para dar 15 seguimento a projetos de construção de aviões. Em verdade, as aeronaves construídas em território nacional à época são fruto da iniciativa particular de alguns abnegados, inventores e entusiastas que iniciam uma proto-indústria aeronáutica , 16 como será visto a seguir.

3.1 EXPERIÊNCIAS PREGRESSAS

No alvorecer do século XX a economia brasileira era alavancada pela produção agrícola, através da cafeicultura. Ocorre que no período pós- I Guerra há uma escassez de capitais e isso leva o Brasil a uma política de industrialização através da substituição de importações, dando início ao aparecimento de pequenas manufaturas. É claro que, para a embrionária indústria aeronáutica, esse cenário não era satisfatório e a obrigava a partir de um cenário com elevada lacuna tecnológica; era necessária uma indústria de base.

Nossas FFAA sempre estiveram atreladas a alguma doutrina, ou ao menos influência, de exemplos europeus e norte americanos e nesse princípio sobressai-se a Missão Militar Francesa de Aviação - MMFA (UNIFA, 2012, p. 82), que definiu rumos para o treinamento, e também o estímulo ao então Major do Exército Brasileiro, Antônio Guedes Muniz a desenvolver e fabricar uma ANV nacional,

Antes de 1941, com a criação do Ministério da Aeronáutica e a Força Aérea, a aviação militar

15

brasileira esteve sob o gerenciamento da Marinha e do Exército. Aliás, esta não era uma particularidade nacional, outros países (os EUA incluídos) tinham o mesmo formato.

Rev. UNIFA, nº31, 2012, p. 82.

16

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31

atingindo seu objetivo com a aeronave MUNIZ M-7, que foi o primeiro modelo a ser fabricado em série no país (CARDOSO e CARVALHO, 2016) . 17

Publicações da época como o carioca “A Noite” e a revista “Fon Fon”

alardeavam a necessidade da implantação da indústria de aeronáutica no país ante os frutos colhidos por europeus e norte-americanos que fizeram esta escolha. No Campo dos Afonsos, onde situava-se a Escola Brasileira de Aviação (EBA), sob autorização do Aeroclube Brasileiro (AeCB) foi construído, em 1913, pelo italiano Nicola Santo, engenheiro, um hangar com a finalidade de instalar uma oficina de manutenção e reparo de aeronaves, ou aparelhos de aviação como chamados à época (UNIFA, 2012, p.85). E é no Campo dos Afonsos que surge a primeira aeronave construída no país e com patente nacional, sua construção é devida ao engenheiro carioca José D’Alvear.

Há diversos casos que atestam o desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil, este contudo não é o objeto desta pesquisa. Assim, vejamos como a FAB se insere nesse contexto e como se dá sua relação com essa indústria de expoente matriz tecnológica.

3.1.1 A EMBRAER

Maior caso de sucesso da Base Industrial de Defesa (BID) nacional, e sem dúvida líder no campo da internalização de C&T e I na indústria brasileira, a EMBRAER surge em momento ímpar. Passadas duas décadas da criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e do Centro Técnico da Aeronáutica (CTA)

Disponível em: http://site.mast.br/ivspct/inicio.html, acessado em 25/04/17.

17

Figura 2: Aeronave MUNIZ M-7.

Fonte: CARDOSO e CARVALHO, 2016.

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em 1947, por iniciativa do Mal do Ar Casimiro Montenegro Filho e aos moldes do Massachussets Technology Institute (MIT) americano, uma oportunidade vislumbrada pelo então Maj Av Ozires Silva, chefe do Departamento de Aeronaves, levou o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) a fomentar a indústria (Neiva e Aerotec) que passaram, respectivamente a produzir pequenas aeronaves e a fornecer peças estruturais para a EMBRAER (UNIFA, 2012, p.104-105).

Ozires, naquela oportunidade, convida um projetista francês para participar do desenvolvimento de um avião bimotor para 12 (doze) passageiros que viria a ser o Bandeirante (EMB-110). Para produzir a aeronave em série foi criada em 19 de agosto de 1969 a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (EMBRAER) de capital misto e controle estatal.

A constituição da empresa leva, a partir de 1970, à encomenda de produção de 112 exemplares do XAVANTE (EMB-326) jato de treinamento e ataque de origem italiana. Isso propiciou à empresa a expertise na produção aeronáutica em larga escala. Era a quarta aeronave produzida na EMBRAER. (GOMES, 2012). Esse passo também viria a possibilitar o desenvolvimento de outra aeronave em conjunto com a Itália o AMX. Essa encomenda também denota a relevância que o projeto de uma empresa nacional com tecnologia própria tinha para governo brasileiro e a articulação da Força Aérea, em um contexto de predominância da força terrestre na condução do país.

Com a expertise adquirida através dessas atividades junto à Itália e no desenvolvimento de seus próprios projetos a EMBRAER assume papel preponderante na Indústria de Defesa nacional, papel que continuará desempenhando mesmo quando de sua decadência e quase insolvência na década de 1990. E, como abordaremos mais adiante, a Força Aérea sempre esteve presente nas lides da empresa, seja como controladora e desenvolvedora de projetos, seja como estimuladora da fabricação de aeronaves com design dedicado ao atendimento de demandas operacionais da Força. Abaixo é possível verificar como, ao longo de sua história e desenvolvimento, a EMBRAER passa de uma empresa de um avião somente para ser o colosso empresarial que representa parcela considerável do PIB nacional.

(34)

33

3.1.1.1 A privatização e a importância de Ozires Silva

Num quadro em que problemas institucionais do Estado brasileiro somavam- se aos prejuízos alarmantes acumulados pela empresa na década de 1990, a operação da EMBRAER tornou-se inviável. Ainda que fosse defendido por alguns o socorro governamental, o impasse financeiro com dívidas próximas de US$ 1 bilhão, em 1994 leva o governo federal à realização do Leilão de Privatização. Foi realizado o saneamento financeiro, com operações de capitalização que reduziram o endividamento para algo da ordem de US$ 350 milhões (BERNARDES, 2000).

O agravamento da crise, no início de 1990, provoca a troca do comando da empresa e é indicado um novo diretor presidente, João Cunha, homem de confiança do presidente Fernando Collor. O novo gestor solicita empréstimos para o pagamento de dívidas imediatas e determina a demissão de mais de 3.100 funcionários, a fim de buscar o equilíbrio das contas; entretanto, devido à pressões internas, não resiste e pede demissão.

Para substituí-lo retorna como diretor presidente o engenheiro Ozires Silva, em junho de 1991, após passagens pela PETROBRAS e pelo Ministério da Infra- Estrutura. Com sua visão estratégica, uma influência de sua formação militar e de vínculo seminal com a EMBRAER, iria preparar o processo de privatização pelo qual a empresa passaria (NETO, 2005).

Com a privatização o capital da empresa foi arrematado por investidores americanos tendo o banco de investimentos Wasserstein Perella, um dos maiores dos Estados Unidos e sócio da maior corretora do mundo, a Nomura Securities, como o maior investidor individual. Além de outros, o consórcio liderado pelo grupo Bozano, Simonsen adquiriu 40% das ações com direito a voto da empresa e 10%

restantes foram reservados aos funcionários da empresa. Assim, a EMBRAER foi privatizada por R$ 265 milhões em valores da época (BERNARDES, 2000).

4 A FAB COMO INCENTIVADORA DE P&D NO SETOR DE DEFESA

O Poder Aéreo, mesmo em sua origem no início do século passado, representa o que há de vanguarda no desenvolvimento de P&D. Com essa característica, ao mesmo tempo entusiasmante e absolutamente técnica, a Força

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Aérea desenvolve desde seus primórdios projetos de alta complexidade e, com reflexos além de seu tempo, de características duais (como o desenvolvimento do motor à álcool e o projeto da urna eletrônica). Esse esforço no desenvolvimento e busca de tecnologias é materializado bem cedo com a criação do ITA e do CTA (atual DCTA) em São José dos Campos-SP e com o aperfeiçoamento, mais recente, na elaboração de contratos com cláusulas de offset.

O DCTA com suas diversas Unidades subordinadas e sediadas lidera o esforço da FAB na direção de adquirir capacidade própria no desenvolvimento de tecnologias imprescindíveis ao emprego da Força e, paralelamente, estimular a indústria nacional no atendimento das demandas internas e com vistas à inserção no mercado exportador de equipamentos de defesa com alta complexidade, como é o caso do KC-390 em processo de certificação e fabricado pela EMBRAER com base em projeto e Requisitos Operacionais da FAB.

Como indutora de P&D a FAB através do DCTA desde sempre estimula a interação de seus pesquisadores com a cadeia produtiva (através do IFI principalmente) de forma a tornar possíveis o desenvolvimento de produtos e soluções com tecnologia nacional. Além disso, o DCTA emprega o conceito de tripla hélice (triple-helix ) responsável em grande medida pelo desenvolvimento do Pólo 18 Científico-Tecnológico no qual a cidade de São José dos Campos se transformou.

No Campus em São José dos Campos encontram-se o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), o IFI (Instituto de Fomento e Coordenação Industrial, o IEAv (Instituto de Estudos Avançados), o IAE ( Instituto de Aeronáutica e Espaço), dentre outros que se dedicam ao desenvolvimento e pesquisa de tecnologias e soluções para a FAB e o país.

4.1 A COPAC

Uma Unidade que não se encontra sediada em São José dos Campos e é imprescindível para a manutenção da capacidade operacional da Força é a COPAC (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate).

Conceito desenvolvido nos anos 1990 por Henry Etzkovitz que visa ao desenvolvimento de um

18

modelo de interação entre a Universidade-Governo-Empresa. Disponível em http://

incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/IJKEM/article/viewFile/3309/4071, acessado em 27/04/17.

(36)

35

Inicialmente criada para atender às demandas do Projeto AMX (FARIA, 2017), a COPAC adquire expertise na busca de equipamentos e materiais de interesse da FAB e passa a ser um elo imprescindível na elaboração de Requisitos Operacionais, Normas e Diretrizes para aquisição (DCA 400-6) e de contratos com compensações diversas relacionadas à disponibilidade de tecnologias não disponíveis ao Brasil.

Vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), e com a atribuição de gerenciar os programas de aquisição e modernização de aeronaves da FAB, a COPAC possui uma estrutura de gerenciamento matricial, distribuída entre Brasília - o centro das decisões gerenciais; Rio de Janeiro – onde estão sediadas diretorias da FAB vinculadas ao projeto; e, São José dos Campos (SP) - sede dos demais institutos do DCTA e da própria Embraer.

O Gerenciamento feito pela COPAC é realizado por Unidades chamadas de Grupos de Acompanhamento e Controle (GAC), constituídas por equipes de engenheiros e técnicos alocados nas unidades fabris de empresas fornecedoras no Brasil e no exterior, especialmente em países onde o Brasil, por meio da FAB, estabelece algum acordo comercial ou desenvolvimento de projeto conjunto.

Dentre as atividades rotineiras dos GAC, além das necessárias reuniões com os fornecedores e empresas, são estabelecidos procedimentos diferenciados para os sistemas considerados estratégicos, tais como, sistemas de propulsão, aviônica, missão, autoproteção, manuseio e lançamento de cargas, reabastecimento em voo, trens de pouso e comandos de voo, a procura e a avaliação técnica são realizadas pela Embraer e os resultados são submetidos à aprovação e à validação final da FAB.

Atualmente, 14 processos de negociação de offset estão em andamento entre a COPAC e fornecedores internacionais, com o objetivo de celebrar acordos de um trabalho conjunto entre as empresas brasileiras e as estrangeiras, elevando-se assim, a capacitação da indústria nacional por meio da absorção de elevados níveis de conhecimento e de tecnologia. Na área de sistemas, duas empresas brasileiras podem exemplificar a representatividade de empresas nacionais no Projeto: a ELEB Equipamentos e a AEL Sistemas. A primeira fornecerá o sistema de trem de pouso do KC-390 e, a segunda, o computador de missão e os sistemas de autoproteção (SPS); de contramedidas

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direcionais infravermelho (DIRCM); e de orientação do piloto (HUD). A complexidade desses equipamentos lega à indústria nacional uma inestimável contribuição pela incorporação de tecnologias apenas disponíveis aos grandes players da Indústria de Defesa mundial.

5 A FAB E A AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DE DEFESA

Durante a década de 1970, e principalmente após a denúncia do Acordo Brasil-EUA, a FAB necessitou renovar sua frota de aeronaves. Destaca-se nesse contexto a frota de caças e segundo Fábio Antônio de Faria (FARIA, 2017. p 08) teriam sido adquiridas 170 (cento e setenta) aeronaves de caça e, dentre estas, 58 (cinquenta e oito) eram supersônicas.

Hoje em dia a FAB é referência no estabelecimento de contratos com compensações de transferência tecnológica, de investimentos em projetos nacionais ou de leasing de aeronaves.

A legislação básica para essas aquisições é composta da DCA 400-6 (Ciclo de Vida de Sistemas e Materiais da Aeronáutica) que constitui um poderoso instrumento para garantir que as necessidades da Força sejam atendidas sem perdas de ativos tecnológicos ou de domínio integral sobre o material/equipamento adquirido.

Nessa publicação são estabelecidos acordos de compensação que formalizam as obrigações do fornecedor estrangeiro para compensar as importações realizadas e também a conformidade da adequabilidade operacional , avaliação 19 que deverá verificar a conformidade do Sistema/Equipamento ante aos Requisitos Operacionais (ROP) e os Requisitos Técnicos, Logísticos e Industriais (RTLI). Essa avaliação em conjunto com outras previstas no documento em comento podem sugerir diversas medidas para o trato de questões relativas aos Sistemas/

Equipamentos da Força. Dentre elas, é possível a revitalização, modernização (como no caso dos caças F-5), melhorias diversas ou mesmo a desativação daquele item, o que poderá levar a um novo ciclo que se iniciará a fim de adquirir um item novo.

Capacidade de um Sistema ou Material em atender à missão para a qual foi concebido.

19

Referências

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