• Nenhum resultado encontrado

CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO CURITIBA LUCAS JONDRAL TCHEIN

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO CURITIBA LUCAS JONDRAL TCHEIN"

Copied!
43
0
0

Texto

(1)

FACULDADE DE DIREITO CURITIBA

LUCAS JONDRAL TCHEIN

ANÁLISE DE DISCURSOS JUSRISPRUDENCIAIS SOBRE A NECESSIDADE DE REANÁLISE DA PRISÃO CAUTELAR

CURITIBA 2021

(2)

ANÁLISE DE DISCURSOS JUSRISPRUDENCIAIS SOBRE A NECESSIDADE DE REANÁLISE DA PRISÃO CAUTELAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, do Centro Universitário Curitiba apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Régnier Chemim Guimarães

CURITIBA 2021

(3)

ANÁLISE DE DISCURSOS JUSRISPRUDENCIAIS SOBRE A NECESSIDADE DE REANÁLISE DA PRISÃO CAUTELAR

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito do Centro Universitário Curitiba, pela Banca

Examinadora formada pelos professores:

Orientador: _____________________

_______________________

Prof. Membro da banca

Curitiba, 16 de outubro de 2021.

(4)

Mostra-se relevante analisar a forma como os operadores do direito vêm analisando o parágrafo único do artigo 316, do Código de Processo Penal, parágrafo que em síntese o qual foi visto com estranheza por grande parte desse grupo. Primeiramente, por ter sido inserido nos últimos dias de tramitação do projeto na Câmara dos Deputados, visto que não ocorrera discussão acerca do tema, fato que, por conseguinte, acabou por gerar dúvidas quanto a sua intenção e a sua idoneidade.

A inserção do parágrafo no artigo 316, do CPP, estipula a necessidade de Magistrados reavaliarem a prisão decretada preventivamente a cada 90 (noventa) dias. Diante disso, diversos advogados vislumbraram uma forma de livrar os seus clientes do cárcere. Tal atitude - tida como um ataque lateral ao processo -, vem sendo cada vez mais adotada, resultando em uma enxurrada de impetrações de pedidos de análise de Habeas Corpus em todos os Tribunais do país.

Nesse diapasão, o legislador, ao especificar o prazo e detalhá-lo a ponto de ser lido em sentido estrito, tornou inviável sua aplicação, devido à alta demanda que os entes estatais detêm. Ainda, a falta de aparato que auxilie no cumprimento dessa determinação evidencia a necessidade de a medida merecer mais atenção.

Assim, por ocorrência da recente alteração do artigo, ainda não há um entendimento pacificado.

O desentendimento no modo agir diante de casos concretos vem ocorrendo por parte da doutrina. A forma que o Tribunal Paranaense vem procedendo ao analisar casos que versem sobre a prisão preventiva. Portanto, em razão de ser um tema recente, percebeu-se frutífero analisar e adentrar a discussão.

Palavras-chave: Prisão preventiva. Cautelar. Reanálise. Acórdão. Prazo nonagesimal. Tribunal Paranaense.

(5)

It is imperative to analyze the way legal practitioners have been analyzing the sole paragraph of article 316 of the Code of Criminal Procedure. In short, it is a paragraph which viewed with strangeness by a large part of this group. First, it was inserted in the last days of processing of the bill in the Chamber of Deputies, since there had been no discussion on the topic; a fact that ended up generating doubts as to its intention and its suitability.

The insertion of the paragraph in article 316 of the CPP stipulates the need for Magistrates to reassess the imprisonment ordered preventively every 90 (ninety) days.

Therefore, several lawyers devised a way to free their clients from prison. This attitude - seen as a lateral attack on the process - has been increasingly adopted, resulting in a flurry of petitions for analysis of Habeas Corpus in all Courts in the country.

In this tuning fork, the legislator, by specifying the deadline and detailing it to the point of being read in the strict sense, made its application unfeasible. This is due to the high demand that state entities have. The lack of apparatus to assist in the fulfillment of this determination still highlights the need for the measure to deserve more attention.

With the recent alteration of the article, it still does not have a pacified understanding.

The misunderstanding in the way to act in concrete cases has been occurring on behalf of the doctrine. With the way that the Paraná Court has been proceeding when analyzing cases that deal with preventive detention, it is a recent topic and was found fruitful to analyze and enter into the discussion.

Keywords: Preventive Detention. Cautionary. Reanalysis. Court Decision. Ninetieth Degree Term. Parana Court.

(6)

CPP – Código de Processo Penal CP – Código Penal

CF – Constituição Federal

TJPR – Tribunal de Justiça do Paraná CNJ – Conselho Nacional de Justiça STJ – Superior Tribunal de Justiça STF – Supremo Tribunal de Federal

(7)

1. INTRODUÇÃO ... 8

2. BREVE ANÁLISE DO INSTITUTO DA PRISÃO PREVENTIVA ... 9

3. DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE SELEÇÃO DOS CASOS ... 12

3.1. PROCEDIMENTO DE ESCOLHA DOS JULGADOS ... 17

3.2. RELATÓRIOS SOBRE OS CASOS JULGADOS SELECIONADOS ... 19

3.2.1. Processo N° 0005938-57.2020.8.16.0000 ... 20

3.2.2. Processo N° 0039945-75.2020.8.16.0000 ... 22

3.2.3. Processo N° 0038896-96.2020.8.16.0000 ... 24

3.2.4. Processo N° 0013195-90.2019.8.16.0058 ... 26

3.2.5. Processo N° 0071172-83.2020.8.16.0000 ... 29

3.2.6. Processo N° 0065673-21.2020.8.16.0000 ... 30

4. SIMILITUDES ENTRE OS JULGADOS E OS FUNDAMENTOS BASILARES . 32 5. DIÁLOGO DA DOUTRINA DE CORTES SUPERIORES COM AS DECISÕES DO TJPR ... 35

5.1. UNANIMIDADE DA APLICAÇÃO DA RAZOABILIDADE E CELERIDADE ... 38

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 40

REFERÊNCIAS ... 42

(8)

1. INTRODUÇÃO

A seguir, encontrar-se-ão os entendimentos do TJPR acerca da possibilidade de reanálise da medida cautelar de prisão preventiva, no período de 90 (noventa) dias, disposto no parágrafo único do artigo 316, do CPP.

Parágrafo este que, em um sistema judiciário sem lentidão e com menor quantidade de processos, mostrar-se-ia conivente com a justiça, o justo proposto e com a celeridade, haja vista apresentar uma possibilidade para dirimir o número de encarcerados provisoriamente em decorrência da reanálise periódica.

Todavia, os membros do Poder Judiciário não vislumbraram formas de interpretar a literalidade do texto de lei e entender como peremptório tal medida, bem como a maior parte da doutrina. Não obstante, o mero transcurso do período nonagesimal não deixou de ser um argumento para os advogados de defesa em prol da soltura do paciente.

Com isso, demonstrar-se-á como Advogados, Desembargadores, Juízes, Membros do Ministério Público e Doutrinadores entendem essa aplicação cotidiana no mundo jurídico.

(9)

2. BREVE ANÁLISE DO INSTITUTO DA PRISÃO PREVENTIVA

Apesar de o presente trabalho não tratar em específico sobre o tema da prisão preventiva, para não aparentar vagueza tem-se como necessário desmantelar, mesmo que de forma breve, a razão de ser da prisão cautelar, tratada por muitos como radical por ultimar-se da ultima ratio do sistema, resultando na privação da liberdade antes de ocorrer o trânsito em julgado.

A prisão preventiva está contida no título IX, do CPP, especificamente no capítulo III, previamente em seu artigo 3111, o qual define a possibilidade de decretação da prisão pelo juiz ou pelo tribunal a pedido do Ministério Público, ou em casos excepcionais em decorrência da inércia do ente ministerial. Como previsto no artigo 292, do CPP, em casos de ação penal privada subsidiária da pública considera- se hábil o querelante requerer a prisão.

Quando se constatam os requisitos cumulativos da parte final do artigo 3123, do CPP, com a demonstração da existência do crime, ao passo que conjuntamente se vislumbram indícios suficientes de autoria e perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado, ter-se-á a motivação necessária para a utilização da medida cautelar.

De modo que o objetivo é acautelar a tutela da persecução penal sempre buscando a efetividade do procedimento investigatório ao longo do processo. Não obstante, infelizmente, pessoas que acompanham o andamento do processo de fora e, eventualmente, até mesmo juristas, veem a medida cautelar como uma forma prévia do poder punitivo do estado, aqui em latu sensu, visão que se mostra totalmente obsoleta e equivocada.

A partir desses argumentos, muito utilizados por advogados, a partir do ano de 2014, quando da impetração do Habeas Corpus, clientes com forte influência política, empresários ligados ao governo, ex-agentes políticos e pessoas atuantes junto a partidos políticos, que não acobertados pela prerrogativa de foro, tinham as

1 Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.

2 Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

3 Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).

(10)

suas prisões cautelares decretadas.

Nesse sentido, os argumentos corriqueiros utilizados pelos defensores de que os promotores em conluio com juízes agiam de modo a violar os preceitos fundamentais da dignidade da pessoa humana, e as cautelares tinham como fim punir, de modo antecipado, os imputados. Com isso, no ano de 2019, ocorreu a inserção do parágrafo segundo no artigo 313, que trouxe o óbvio: a preventiva não pode ter como finalidade a antecipação de cumprimento de pena.

Esse assunto vem sendo tratado com preocupação desde o período do Iluminismo penal. Cessaria Beccaria, em sua obra Dei Delitti e Delle Pene (1764)4, destacou a necessidade de colocar o acusado em um cárcere apenas em situações em que não houvesse outra opção para acautelar o procedimento investigatório e, posteriormente, a aplicação da lei penal.

Para que essa punição prévia não venha a ocorrer é necessário o cumprimento de requisitos mínimos. Logo, não basta apenas o bem querer dos requerentes.

Note-se que a prisão preventiva não pode ser decretada em razão da mera prática de qualquer ilícito, conforme o art. 3135, do CPP. Assim, apenas os crimes dolosos, aqueles em que o agente é movido pela vontade com a consciência de praticar a conduta típica, maioria dos tipos previstos no CP, podem ser presos preventivamente. Além disso, é necessária a prática delitiva ter como pena a privação da liberdade por no máximo 4 (quatro) anos. Ademais, pode ocorrer também de o agente ser reincidente em crimes dolosos ou ter praticado um ato que se configure em violência doméstica e familiar contra qualquer pessoa vulnerável, o qual

4 Beccaria Cesaria, Dei Delitti e Delle Pene, [1764] 2015, p. 65.

5 Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - CP;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;

(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 e pela Lei nº 12.403, de 2011). Inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – CP.

(11)

igualmente permite a utilização da medida cautelar.

Outrossim, constata-se que o legislador ao inserir esses requisitos estava preocupado com o número de presos preventivos, de modo que criou uma “peneira”

para que não se tornasse possível a decretação da medida cautelar para qualquer crime cometido.

Apesar dessa limitação, para muitos, o número de presos preventivamente no país é algo muito maior do que o necessário e só vem crescendo. Segundo os defensores dessa tese, a medida cautelar não vem sendo utilizada como a legislação prevê. Argumento esse que vem ganhando cada vez mais força e adeptos ao longo dos anos.

Preocupado com o aumento de presos preventivamente, o Conselho Nacional de Justiça, no ano de 2009, presidido à época pelo Ministro Gilmar Mendes, grande defensor das medidas de desencarceramento, achou por bem adotar estratégias para não corroborar com tal crescimento e vislumbrou uma forma de fazer com que esse número fosse controlado. Por meio de ato normativo primário, a Resolução n°

66/20096, de 27 de janeiro do mesmo ano, instituiu que os juízes e os tribunais reavaliassem a necessidade da prisão preventiva ou a continuidade da prisão a cada 90 (noventa) dias.

Apesar de o ato normativo ser existente no ordenamento jurídico, a medida imposta não foi levada em consideração pelos magistrados, bem como grande parte dos operadores do direito não usufruíram da norma em teses jurídicas, tendo pouquíssima utilização forense.

Convém tecer que o novel artigo 316, em seu parágrafo único, mostra ser verossimilhante à Resolução n°66/2009, demonstrando indícios de que o legislador, no momento em que tramitava e discutia a proposta do pacote anticrime, até certo ponto usufruiu de um ato normativo já existente para positivar a norma.

Mas, como nem tudo são rosas, enfatiza-se que no momento no qual os deputados estavam para aprovar o projeto de lei anticrime e enviá-lo para o Senado analisar e votar, veio à tona a inserção da emenda que previa o parágrafo único. O termo aqui empregado “veio a inserção” não está equivocado, pois a proposta do Deputado Lafayette de Andrada7 (Republicanos – MG), veio inesperadamente aos “45 minutos do segundo tempo”, não havendo espaço para discussão.

6 https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_66_27012009_08042019135736.pdf.

7 https://www.camara.leg.br/deputados/98057?ano=2019.

(12)

Ainda, sequer os eminentes representantes do povo tiveram ciência do que havia sido inserido e o que estavam aprovando, a qual, apesar de prática corriqueira no cenário político brasileiro, teve seus frutos negativos colhidos à frente. Tal situação continua provocando debates, fazendo com que a presente pesquisa busque entender a forma com que os advogados, ao demandarem a intervenção do Poder Judiciário para a resolução de conflitos, vêm interpretando a norma do artigo 316, parágrafo único, bem como os juízes estão analisando os pleitos.

3. DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA DE SELEÇÃO DOS CASOS

No primeiro contato com o orientador indagou-se o interesse de abordar o tema das medidas cautelares, em específico, a prisão preventiva. Porém, ao explicar que o recorte se limitaria à análise do parágrafo único do artigo 316, do CPP, e às consequências da inovação legislativa, o professor questionou se o estudo desse assunto não seria muito amplo, haja vista as dimensões continentais do país e a enorme quantidade de conflitos diários que demandam a intervenção do Poder Judiciário brasileiro.

Diante dessas dúvidas inúmeras outras surgiram. Assim, ante a pesquisa preliminar vislumbrou-se ser necessário delimitar a temática à análise dos julgados do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por estar mais próximo da realidade em que nos inserimos e por perceber que a contribuição do trabalho teria mais utilidade. Para tanto, notou-se que o polêmico parágrafo único vem gerando interpretações diferentes e, não obstante, fazendo jus aqui ao famoso ditado popular “cada cabeça, uma sentença”.

Primeiramente, consultando o Regimento Interno do Tribunal a fim de verificar as competências de matérias para julgamento das Câmaras Criminais e averiguar se haveria uma possibilidade de crivar os casos de análise, por notório, percebeu-se que em qualquer hipótese de ato ilícito em que couber a medida cautelar de prisão e o caso se enquadrando nas hipóteses da lei, deve assim por ocorrer.

Nesse sentido, todas as Câmaras Criminais teriam a possibilidade de passar pelo exame do artigo em estudo. Todavia, grande parte dos julgados que enfrentaram o tema são oriundos das 4ª e 5ª Câmaras, recebedoras de processos relativos à:

(13)

Art. 1168. Às Câmaras Criminais serão distribuídos os feitos atinentes às matérias de suas especializações, assim classificadas: (...)

III - à 3ª, à 4ª e à 5ª Câmara Criminal:

a) crimes contra o patrimônio;

b) crimes contra a dignidade sexual;

c) crimes contra a paz pública;

d) infrações penais relativas a tóxicos e entorpecentes;

e) demais infrações penais. (...)” .

Logo, os atos infracionais vistos por esses colegiados têm em comum o fato de serem de maior prática delitiva no cotidiano. Ainda, entres tais casos, as infrações penais relativas a tóxicos e entorpecentes se sobressaem sobre as demais, haja vista que grande parte dos atos ocorrem em flagrante, os quais em sua maioria, posteriormente, convertem-se em prisões preventivas.

Várias são as razões de as prisões preventivas durarem o prazo acima do que muitos veem como ideal e de acabarem por extrapolar o “prazo” para a sua reanálise.

Todavia, um motivo é evidente: em se tratando de crimes praticados na esfera estadual de competência para a investigação criminal, a falta de aparato, tanto técnico como material da Polícia Civil, em algumas hipóteses salta aos olhos e reforça a ideia de que muitas vezes a instituição parece estar sucateada. Essa é a razão pela qual a investigação criminal influencia o período em que o paciente fica encarcerado e enseja a provocação do Poder Judiciário para analisar se ainda estão presentes os requisitos necessários para a sua manutenção, exigências essas que se encontram no artigo 312, do CPP, e acabam por extrapolar o “prazo” para a sua reanálise.

Nesse sentido, a prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado, assim como nas seguintes hipóteses:

§ 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares;

§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. (art. 282, § 4º).

Pois bem. No primeiro contato com os julgados, para a definição do banco de

8 https://www.tjpr.jus.br/regimento-interno-ri.

(14)

dados fornecedor do conteúdo para o trabalho, adentrou-se no sítio eletrônico do TJPR e consultou-se no campo “pesquisa livre” o marcador “artigo 316, parágrafo único, do CPP”. Foram encontrados 56 (cinquenta e seis) julgados que faziam referência ao tema, em razão deste ser recente, devido à alteração da legislação em 04 de dezembro de 2019, tornando-se vigente no dia 23 de janeiro de 2020.

Ainda, é preciso salientar que não se mostrou necessário delimitar o período dos julgados. No entanto, em vista do grande número de acórdãos fazendo referência à temática demonstrou-se a necessidade de refinar a pesquisa e delimitar as referências jurisprudenciais.

Também é importante ressaltar que dentre esses 56 (cinquenta e seis) acórdãos informados na página do tribunal, 9 (nove) se enquadravam na hipótese de segredo de justiça. Assim, apesar de ficar disponível para a leitura a ementa do voto, achou-se por bem filtrar os 47 (quarenta e sete) resultados remanescentes disponíveis ao público. Dentre esses, uma decisão monocrática que será analisada posteriormente conforme o decorrer dos estudos. Apesar de a página inicial demonstrar esses portfólios, os últimos quatro acórdãos são de datas anteriores da inserção do parágrafo único, sendo também excluídos, restando apenas 43 (quarenta e três).

Os julgados definidos para análise do trabalho, em sua grande maioria, foram os de Habeas Corpus e são aqueles que analisam remédio constitucional previsto na CF, em seu artigo 5°, inciso LXVIII.

Destaca-se que ao começar a análise constatou-se que alguns dos julgados eram apenas confirmatórios, pois o recurso era impetrado, grande parte tendo a pretensão de reanálise da prisão preventiva e como segundo pressuposto o relaxamento da cautelar. No entanto, os operadores do direito, responsáveis pela defesa dos pacientes, não observaram devidamente o processo e a reanálise já havia ocorrido dentro do prazo nonagesimal, sem mesmo ter o pleito das partes no ato processual, nos conformes da lei. Contudo, observa-se que não ocorreu o ato, por si só, da reanálise dos requisitos que ensejam a medida cautelar, mas sim por atos de magistrados, como os de conversão da prisão em flagrante para a prisão preventiva, ou em decisões interlocutórias e, não obstante, em sentenças que naturalmente necessitavam que a prisão cautelar fosse reanalisada para que o ato processual ocorresse.

É relevante notar que apesar de em alguns casos haver a desatenção do

(15)

defensor, essa ação pode ser entendida, sob outro ponto de vista, como uma “última cartada”. Então, em um processo no qual o defensor não verifica outra alternativa, muitas dessas hipóteses são conhecidas como ataques laterais ao processo.

Portanto, para efeitos de investigação, a menos a priori, não se mostra interessante integrar tal item aos estudos, considerando que a maioria das decisões se pauta em demonstrar dois momentos: aquele no qual o indivíduo foi encarcerado e o em que se analisou a necessidade de se manter o paciente nessas condições.

Ao fazer este “pente fino” nos julgados para poder analisar a fundo apenas alguns deles com maior cautela, realça-se que ocorreu o amadurecimento das ideias, tanto no sentido do âmbito do Tribunal Paranaense quanto em instâncias superiores, em razões óbvias de pôr a lei em abstrato, sair do papel e se enquadrar em casos concretos.

Ainda, por conta de seus efeitos irradiarem resultados inesperados, por parte dos legisladores, os quais, por não discutirem acerca do tema e em grande maioria não terem a noção que a inserção um de “mero” parágrafo em um artigo do CP gera efeitos em um sistema inteiro como, por exemplo, no julgamento do HC n°191.836, de São Paulo, em que por pouco não ocorrera a soltura de dezena de milhares de presos preventivamente.

Outrossim, os efeitos da tal inserção não geraram surpresa para os que atuam no cotidiano com o Processo Penal, haja vista a vagueza do texto, a qual permitirá interpretações diversas, como se verá na sequência.

Essa evolução na jurisprudência é notória, pois os processos disponibilizados até a data do início do presente trabalho, 12 de março de 2020, e o último dia, 20 de março de 2021, correspondem ao período de mais de um ano. Enfim, tempo suficiente para que ocorresse a evolução interpretativa e, consequentemente, a divergência de interpretações.

Destarte, como citado acima, as Câmaras com maiores preponderâncias dos julgados são a 4ª e a 5ª. Por sua vez, a 5ª Câmara tem se inclinado na maioria dos casos para a reativação do prazo nonagesimal, não reconhecendo então o caráter peremptório, como será visto mais à frente. Ademais, segue o entendimento de que a reanálise da prisão preventiva deve ser a stricto sensu pelo juiz que decretou a medida cautelar.

Por fim, grande parte dos votos fazem referência à manutenção da prisão com fulcro no argumento de ser necessária a mantença da medida cautelar para que seja

(16)

preservada a garantia da ordem pública como, por exemplo, o caso julgado no processo n°0071172-83.2020.8.16.0000:

(...) assim, resta caracterizado o fumus commissi delicti e o periculum libertatis, a justificar a manutenção da prisão preventiva para a garantia da ordem pública, não sendo cabível, no presente momento, medidas cautelares diversas. Em relação à reavaliação da prisão preventiva, prevista no artigo 316, parágrafo único do Código de Processo Penal, verifica-se que o MM.

Juiz a quo, atendendo a recomendação desta relatora, que reavaliou a prisão preventiva, mantendo-a pelos fundamentos do decreto preventivo, vez que não houve alteração na situação fática. Vejamos: “Considerando as determinações contidas no artigo 316, § único do Código de Processo Penal, considerando a natureza do crime, a pena de reclusão prevista ser superior a quatro anos, considerando peculiaridade do caso e a sua necessidade ante a presença de todos os requisitos legais (art. 312 e art. 313, I do CPP), mantendo-se hígido todos os fundamentos da decisão proferida na seq.19.1.

Considerando que se reconhece neste momento a complexidade do caso, a real gravidade concreta deste feito, bem como venho registrar a inexistência de quaisquer elementos que renovem ou transformem as condições de admissibilidade da supracitada medida de custódia, ausentes também fatos novos que possam elidir a medida cautelar, bem como com a devida vênia se faz necessária, pela própria peculiaridade do caso em tela, não haveria (e não há) modo diverso de se proceder neste momento venho a manter a prisão preventiva dos réus decretada por este Juízo Criminal na seq. 19.1 (agosto de 2020).” (autos n. 0001074-08.2020.8.16.0054 - mov. 134.1. E ainda, designo audiência de instrução para o dia 11 de janeiro de 2021. Ademais, ressalte- se que o prazo de 90 (noventa) dias estabelecido no artigo 316, parágrafo único do Código de Processo Penal, não é peremptório, pois eventual atraso não implica em revogação automática da custódia cautelar, deve-se observar as complexidades do caso (...). (Des. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira - 5ª Câmara Criminal). (Data do Julgamento: 15/12/2020).

Enfatiza-se que o julgado se deu em data que pode ser considerada a discussão em um nível avançado, haja vista perdurar quase um ano da alteração na legislação. Portanto, esse foi um dos julgados escolhidos para ser analisado e ser, mais adiante, destrinchado e confrontado com outros que têm ideias ímpares.

Nota-se que nesse caso o acórdão é abrangente e não versa apenas sobre o aspecto do prazo processual, questão que não pode ser deixada de lado, mas que, por vezes, acaba se tornando o cerne da questão. Porém, aqui este se torna um pouco mais complexo por se tratar de um rol legislativo, o qual deixou uma lacuna interpretativa.

Desse modo, apesar de órgãos superiores já trazerem à tona, o fato por si só não vincula obrigatoriamente os demais tribunais a adotarem entendimento igual, mesmo que atualmente o sistema brasileiro esteja passando, o que se pode denominar aqui como a crise do código, na qual mais vale uma decisão jurisprudencial do que um trecho do códex, assim como a ideia de que há muito mais do que apenas

(17)

a opinião doutrinária. Assim, pode-se indicar como um dos motivos desse descrédito o fato de o legislador ser obscuro e a maneira pouco didática dele para/ao se expressar.

Como dito, a posteriori será feita a análise dos demais casos. Por hora, limita- se a indicação em observância aos critérios de excelência acadêmica - a forma de construção monográfica, voltada à metodologia na maneira de análise dos julgados representativos. Foram escolhidos pelo autor 7 (sete) acórdãos dentre esses que se mostraram divergentes e com temas relevantes para o cotidiano jurídico, oriundos de câmaras de julgamentos diferentes.

Intenta-se, então, observar o modo em que os juízes singulares e desembargadores vêm se deparando com casos parecidos e se as interpretações têm seguido um certo parâmetro entre Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e Juízes de instâncias ordinárias.

Por fim, mostra-se importante destacar que muitas decisões apenas faziam alusão ao que fora decidido pelo juiz singular e, posteriormente, apresentavam-se ponderações doutrinárias com a inserção de entendimentos de Cortes Superiores.

Longe de ser uma crítica, mas esses tipos de decisões, apesar de definir as vidas das pessoas não acrescentam conteúdo. Muito pelo contrário. Apenas somam-se números para a demonstração da efetividade.

3.1. PROCEDIMENTO DE ESCOLHA DOS JULGADOS

Dos 43 (quarenta e três) acórdãos disponíveis para a consulta do voto na íntegra, verificou-se que em razão das ocorrências de substituições por parte de juízes substitutos de 2º grau9, assim como em casos que desembargadores não mais pertencentes às Câmeras Criminais devido à mudança de câmara julgadora, alguns deles ficando preventos e precisando retornar para julgarem casos aos quais se vincularam, oportunizou-se que diversos pontos de vista fossem analisados. Contudo, mesmo os magistrados prezando pelo princípio da colegialidade, as interpretações surtiram de modo a conflitar em certos pontos.

9 Art. 384. A carreira da Magistratura de primeira instância far-se-á por meio de promoções, remoções, opções e permutas. (...) § 3º Para efeito de remoção por merecimento ao cargo de Juiz de Direito Substituto em Segundo Grau, será considerado o primeiro quinto da lista dos Juízes de entrância final, excluindo-se dela os que já exercem o respectivo cargo, e somando- se o número que resultar dessa exclusão, e assim sucessivamente.

(18)

Com isso, para a escolha dos julgados, analisou-se além das divergências de entendimento entre julgadores, o exame de quais fundamentos foram utilizados pelos juízes singulares, bem como os argumentos de defesa do imputado. Ainda, em casos que fora necessária a intervenção de membros do Ministério Público, quais os fundamentos que sustentaram as teses.

Em que pese a maioria dos julgados não conceder a benesse da liberdade pleiteada, chamou a atenção o primeiro julgado, no qual fora conhecido o excesso de prazo para a formação de culpa do preso preventivo, além do reconhecimento do constrangimento ilegal em razão da não reanálise dos pressupostos que mantivesse a necessidade de utilização da cautelar pelo período de 90 (noventa) dias. Em síntese, tratou-se de Habeas Corpus crime, autos n° 0065673-21.2020.8.16.000010, que tramitou perante à vara criminal do foro de Piraquara, tendo como relatora a Juíza Subst. Dilmari Helena Kessle, que se fez presente perante à 4ª Câmara Criminal.

Por segundo, mostrou-se interessante examinar o recurso em sentido estrito, n° 0013195-90.2019.8.16.005811, proposto pelo MP, no qual o Juiz Substituto de 2°

grau, Pedro Luis Sanson Corat, Relator, analisou em conjunto com os membros da 4ª Câmara Criminal do TJPR, a questão de qual órgão teria a competência para revisitar a emissão da medida cautelar, mesmo tratando-se no caso em tela de recurso pendente de julgamento pelo STJ.

Dando continuidade à seleção dos casos, os autos n° 0038896- 96.2020.8.16.000012, de mesma relatoria dos autos citados anteriormente, assim como do mesmo colegiado, referiu-se à Habeas Corpus, no qual o paciente tivera a prisão cautelar decretada e o período para a revisão da necessidade da medida adotada não fora observado pelo MM. Juiz a quo.

A lide destoa das demais, pois nestes autos o mero transcurso do período de 90 (noventa dias) estipulado em lei deu amparo e razão para conceder a liberdade provisória ao imputado. Adiante será destrinchada a fundamentação da decisão que, veementemente, demonstrará a sua importância.

Por conseguinte, o processo nº. 0005938-57.2020.8.16.000013, de relatoria do

10 https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1248390881/habeas-corpus-hc-656732120208160000- piraquara-0065673-2120208160000-acordao

11 https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/pesquisa.do?actionType=pesquisar

12 https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000014430751/Ac%C3%B3rd%C3%A3o- 0013195-90.2019.8.16.0058.

13 https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000012560271/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0005938- 57.2020.8.16.0000

(19)

Des. Luiz Osório Panza, julgado em conjunto por integrantes da 5ª Câmara Criminal, tratou-se de Habeas Corpus, que fora impetrado pelo defensor, arguindo em síntese o constrangimento ilegal em razão da não observação do prazo previsto no §ún., do art. 316, do CPP.

Apesar de ser um argumento regularmente utilizado pela defesa, mostrou-se interessante colocar a lide em análise, pois o julgamento se deu na data de 12 de março de 2020, três meses após a introdução da alteração legislativa, momento em que não havia grande aplicabilidade das alterações, assim como pouco arcabouço jurisprudencial. Logo, antes da “contaminação” por parte de julgadores de órgãos de instâncias ordinárias sobre o entendimento das Cortes superiores.

Em sequência, o HC Nº 0039945-75.2020.8.16.0000, no qual o Des. Marcos Vinícius Lacerda foi o Relator designado, em conjunto com os componentes da 5ª Câmara Criminal, entendeu-se como necessário inseri-lo no estudo, pois analisando todos os demais julgados viu-se que o entendimento adotado, assim como o procedimento no caso em voga é o majoritário da Corte Paranaense.

Por fim, mas não menos oportuno, analisar-se-ão as ponderações lançadas pelos eminentes membros da 5ª Câmara Criminal, nos autos n° 0071172- 83.2020.8.16.000014, processo em que se tratou de um pleito de Habeas Corpus, cuja discussão foi levada ao colegiado para melhor compreensão da lide.

3.2. RELATÓRIOS SOBRE OS CASOS JULGADOS SELECIONADOS

Para melhor entendimento do que adiante será exposto, como as divergências de entendimentos e o modus operandi de magistrados singulares adotar-se-á um relatório que investigue a fundo os julgados.

Pois bem. Mostrou-se interessante adotar uma linha cronológica temporal para melhor vislumbrar a evolução do raciocínio jurídico, começando pela análise do julgado escolhido há mais tempo seguindo para os mais recentes.

Não apenas será verificado, no que diz respeito ao progresso no entendimento dos julgadores, mas também como teses de ataque para melhor aplicação do direito, além de que conjuntamente a esses progressos foram adotadas por instituições

14 https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/4100000016028401/Ac%C3%B3rd%C3%A3o- 0071172-83.2020.8.16.0000.

(20)

públicas visando aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário (CNJ)15, Ainda, em âmbito de atuação do MP16 (CNMP) e no campo da advocacia17 (OAB), em conjunto ambas as instituições atuaram para com a melhor aplicabilidade das leis, emitido comunicados e normativas para tanto.

3.2.1. Processo N° 0005938-57.2020.8.16.0000

Seguindo a ordem cronológica, o primeiro acórdão a ser destrinchado será o n°

0005938-57.2020.8.16.0000, julgado pela 5ª Câmara Criminal, participando do julgamento Des. Luiz Osório Moraes Panza (relator), o Des. Marcus Vinicius de Lacerda Costa e a Des. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira. Esse processo teve a ocorrência de seu julgamento no dia de 12 de março de 2020, sendo este o primeiro a enfrentar a matéria do artigo 316, parágrafo único, no que cerne em âmbito do Tribunal Paranaense.

Trata-se de remédio constitucional de Habeas Corpus, no qual o impetrante aduziu em síntese que, no caso dos autos ocorrera o constrangimento ilegal do paciente, em razão da autoridade coautora estar usurpando de suas prerrogativas legais. Enfatiza-se que o imputado fora preso em flagrante no dia 12 de setembro de 2019, pelas supostas práticas dos supostos crimes de tráfico de ilícitos de entorpecentes, artigo 33, caput da Lei nº 11.343/2006, bem como associação criminosa para fins de tráfico, artigo 35 da mesma lei.

Prosseguiu-se a arguição. No decorrer da investigação criminal fora deferido o mandado de busca e apreensão em sua residência e lá fora encontrado 101 (cento e

15 Missão: promover o desenvolvimento do Poder Judiciário em benefício da sociedade, por meio de políticas judiciárias e do controle da atuação administrativa e financeira. Eficiência dos Serviços Judiciais: realizar, fomentar e disseminar melhores práticas que visem à modernização e à celeridade dos serviços dos órgãos do Judiciário. Com base no relatório estatístico sobre movimentação processual e outros indicadores pertinentes à atividade jurisdicional em todo o País, formular e executar políticas judiciárias, programas e projetos que visam à eficiência da justiça brasileira.

16 Art. 130-A., CF, O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe: pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo: I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências.

17 Art. 61. Lei nº8.906, de 4 de julho de 1994. Compete à Subseção, no âmbito de seu território:

Parágrafo único. Ao Conselho da Subseção, quando houver, compete exercer as funções e atribuições do Conselho Seccional, na forma do regimento interno deste, e ainda: b) editar resoluções, no âmbito de sua competência.

(21)

um) gramas da substância denominada no jargão popular como “cocaína”. In casu, não ocorrera o emprego de violência e grave ameaça. Logo, não cumprindo os requisitos do tipo penal, desse modo deveria ter ocorrido o relaxamento da prisão preventiva ou adoção de medidas cautelares diversas da prisão.

Ademais, destacou-se que porventura da alteração advinda do pacote anticrime, modificadora do artigo 312, do CPP, os requisitos previstos no texto não se enquadram ao caso.

No que cerne à afronta ao parágrafo único, verificou-se que havia se passado 152 (cento e cinquenta e dois) dias da segregação sem a devida revisão por parte do órgão emissor, o paciente, ficou, portanto, encarcerado 62 (sessenta e dois) dias de forma ilegal.

Nesses termos requereu-se a concessão liminar da ordem para o relaxamento da prisão. Entretanto, em sede de piso, o juiz singular indeferiu a concessão da medida liminar.

A Procuradora Geral de Justiça, intimada para se manifestar acerca do pleito, emitiu o parecer no sentido de denegar a ordem e manter o denunciado nas mesmas condições que ora se encontrava.

Em sede preliminar alegou o impetrante, a ocorrência do cerceamento de defesa, por conta do indeferimento do pedido de perícia judicial a ser realizado na embalagem que envolvia a droga. Fato esse que incorreu em conjunto com a não reanálise da prisão cautelar para o constrangimento do imputado.

No tocante à preliminar suscitada, relatou o magistrado que o pedido suscitado já havia sido indeferido em instância inferior, para que não ocorresse a produção da prova. Sendo assim, restou preclusa a questão nesse ponto.

Quanto à imaginada afronta ao parágrafo único, destacou-se que o paciente foi preso em 13 de setembro de 2019. A denúncia fora oferecida em 11 de novembro de 2019 e recebida em 14 de janeiro de 2020, por conseguinte a audiência marcada para a data de 11 de março de 2020. Tendo isso claro, atentou-se para o número de acusados envolvidos no autos, 7 (sete), número considerado elevado, o que incumbiu excessivamente o juíz encarregado pela análise, a prezar pela igualdade de direitos e tratamento, fato que ensejou a demora.

Deve haver adequação legal, conforme o caso em tela, de modo que o caso em alhures exigiu cautela em todos os atos, haja vista a complexidade, devendo

(22)

assim, ter como premissa o princípio da razoabilidade18 na averiguação do tempo estipulado pelo artigo para que ocorresse a vista ao instituto, mesmo argumento utilizado pelo juízo.

Nessa toada não se verificou o descaso do juízo para com o feito, nem ocorrência de desatenção, e sim o excesso de demanda no caso. Ademais, entendeu- se que o direito não é uma ciência exata, oportunizando a dilação de certos prazos de acordo com a situação em concreto.

Em consonância com os motivos acima citados, analisaram-se as razões , as quais ensejaram a utilização da última cautelar. Ainda se encontram presentes, de notar que a decisão fora fundada na necessidade de manter o imputado fora das ruas para fins de resguardar a ordem pública e a fim de evitar a reiteração delitiva. Logo, o fato do imputado ser de alta periculosidade e pertencer a uma organização criminosa foram motivos suficientes para fundamentar a necessidade de utilização da segregação cautelar com base no mesmo motivo, tese já pacificada pelo STJ.

Nesse mesmo diapasão foi tese ora adotada pela PGJ19 em parecer que ventilou a necessidade de manter o réu preso, por a prisão ater-se aos fatos concretos e ainda permanentes, argumento esse que fundou a decisão do desembargador.

Diante das razões que culminaram na utilização da cautelar mantiveram- se inócuas, visto a ocorrência do prazo ter sido extrapolado pelo juiz a quo, fato que não assiste razão para a concessão de liberdade provisória, sendo assim negado o Habeas Corpus por unanimidade dos votantes.

3.2.2. Processo N° 0039945-75.2020.8.16.0000

Seguindo a ordem cronológica, os autos seguintes n° 0039945-

18 (...) Deve ocorrer, portanto, uma razoabilidade na avaliação do prazo, cuja contagem não pode ser aferível simplesmente por um cálculo matemático, eis que o direito não é uma ciência exata, principalmente considerando a multiplicidades de réus (07) e a complexidade do feito.

Deve ocorrer, portanto, uma razoabilidade na avaliação do prazo, cuja contagem não pode ser aferível simplesmente por um cálculo matemático, eis que o direito não é uma ciência exata, principalmente considerando a multiplicidades de réus (07) e a complexidade do feito.” Ozório Panza Luiz, p. 03.

19 (...) “uma vez que o juiz a quo se baseou nos fatos concretos para a decretação do cárcere preventivo, bem como demonstrou a presença de todos os requisitos autorizadores.

Desta forma, convencido estou de que a decisão que converteu a prisão em flagrante em preventiva está devidamente fundamentada e fincada sobre sólidos alicerces.

Destarte o Caderno não apresenta vício algum suscetível de espancar a manutenção do paciente no cárcere, até porque existentes os requisitos da prisão preventiva, insertos no artigo 312, do Estatuto Processual Repressivo (...)” parecer PGJ, p. 12.

(23)

75.2020.8.16.0000, foram analisados na data de 14 de agosto de 2020, tendo como relator Des. Marcus Vinícius de Lacerda Costa, participando conjuntamente da análise do feito os Des. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira e Jorge Wagih Massad, em que se discutiu o Habeas Corpus crime, impetrado pelo paciente, o qual se encontra no cárcere preventivamente, denunciado pela prática de associação ao tráfico, previsto no artigo 35, da Lei n°11.343.

A defesa aduziu em síntese que o paciente estava sendo submetido a manifesto constrangimento ilegal por parte do juízo, por motivo do excesso de prazo para a formação de culpa, sendo que as provas colacionadas nos autos corroboraram para com a demonstração de não participação no crime, visto que os elementos trazidos à tona, após a instrução processual, alteraram veementemente o quadro fático probatório.

Em conformidade com o artigo 316, parágrafo único, o MM. Juiz revisitou as necessidades de utilização da medida imposta, na qual manteve a custódia do denunciado. Entretanto, padece e muito de fundamentação, violando os preceitos fundamentais de uma decisão judicial, cuja nova redação deixou de forma expressa a necessidade de fundamentação coesa por parte do juízo, em que preceitua os meios em não se verificar devidamente fundada uma sentença, nada obstante, também não se vislumbrando motivação.

A medida liminar foi indeferida pelo juízo, o qual também foi obrigado a prestar explicações acerca da razão do ocorrido.

Em parecer, o representante do MP manifestou-se pela denegação da ordem.

De início, quanto a autoria do crime findou-se como evidente que o meio fim utilizado para a análise dos requisitos da autoria não é o Habeas Corpus, sendo o remédio heroico ineficaz para tanto. Portanto, não comportado conhecimento.

Os argumentos fundamentadores para a fixação da medida cautelar foram os corriqueiros: da necessidade de salvaguardar a ordem pública para obstar a reiteração delitiva.

Em que pese o impetrante ter arguido que na decisão na qual revisitou a necessidade da medida acautelatória, conforme a nova previsão legal determina, não restaram mais os requisitos necessários e havendo a falta de motivos explanados para tanto, verificou-se que a decisão forneceu, de forma clara, os requisitos para que a cautelar deixasse de existir. Ainda, as exigências que a motivara ainda permaneceram, sendo que as medidas diversas da prisão não iriam surtir efeito, tendo

(24)

assim grande probabilidade de o imputado agir em desacordo com a lei penal. Logo, mostrou-se irretocável a decisão proferida.

No que concerniu aos prazos20 alegados pelo impetrante, os quais não foram cumpridos de forma estrita pelo magistrado de piso, tanto no que diz respeito ao prazo para a formação da culpa, quanto ao prazo que estipula o artigo 316, parágrafo único, levou-se em consideração que os prazos previstos na matéria de Processo Penal não seriam peremptórios, podendo ser relaxados, isso de acordo com cada circunstância versada nos autos.

Não obstante, o mero transcurso do prazo, por si só, não teve cunho para revogar a medida imposta. Entendimento esse adotado pelo STJ21, visto o caso tratado ser de extrema complexidade, contendo 13 (treze) denunciados, tendo como cerne 28 (vinte e oito) fatos. Feito de magnitude não habitual, sendo inverossímil correr de forma habitual como os demais casos. Logo, a demora decorre por conta da quantidade de partes envolvidas no feito.

Com base nos termos assim expostos, foi denegada a ordem.

3.2.3. Processo N° 0038896-96.2020.8.16.0000

Discutiu-se nos autos de Habeas Corpus, com pleito liminar, de relatoria do Des. Carvílio da Silveira Filho, julgado em conjunto com a Des. Sônia Regina de Castro e o Juiz Subst. 2º grau, Pedro Luis Sanson Corat, integrantes da 4ª Câmara Criminal, na data de 27 de agosto de 2020.

A defesa alegou que o imputado se encontrava preso preventivamente desde o dia 21 de março de 2018, tendo sido condenado no incurso nas sanções dos artigos 3322, caput, tráfico ilícito de entorpecentese 3523, caput, associação criminosa. Tais

20 “De efeito, o termo para o encerramento da formação da culpa é obtido pela soma global dos prazos previstos no Código de Processo Penal ou nas leis especiais e não individualmente, não sendo inflexíveis e peremptórios, devendo-se avaliar a peculiaridade de cada caso.” p. 07.

21 Por outro lado, é firme o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de que somente o excesso indevido de prazo imputável ao aparelho judiciário traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade (HC 85.237-DF, rel. Min. Celso de Mello). p. 07.

22 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

23 Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei.

(25)

sanções foram cumuladas com o artigo 4024, incisos III, V e VI, da Lei nº 11.343/06 em conjunto com o artigo 69, do CP, chegando à pena de 12 (dose) anos de reclusão, sendo estipulado o cumprimento da mesma em regime fechado, além do pagamento de R$ 1.800 (um mil e oitocentos reais) dias-multa, feito que à época encontrava-se pendente de análise do recurso de apelação, em autos apartados nº 0003347- 22.2018.8.16.0056.

Além disso, a defesa destacou que o paciente sofreu constrangimento ilegal, proveniente da não fundamentação da sentença, bem como pela inexistência de reapreciação da preventiva no prazo de 90 (noventa) dias por parte do juízo, violando frontalmente a previsão do artigo 316, §ún.

Ademais, a defesa alegou ainda que o condenado se encontrara a mais de 02 (dois anos) preso sem que ocorresse a apreciação do recurso de apelação, por decorrência de ato coador do eminente relator, mesmo havendo decisão favorável à progressão de regime, no autos apartados (Autos nº 0010319- 42.2017.8.16.0056) em que fora condenado.

Nesses termos, então, pleiteou a concessão de liminar para a liberdade provisória. Destacam-se os graves riscos que o paciente estava correndo tendo em vista a pandemia causada pelo vírus da Covid-19.

No entanto, o pedido liminar foi indeferido pelo juiz singular.

Em movimento seguinte, a Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se no sentido de denegação da ordem, diante da não demonstração da inexistência do apontado constrangimento ilegal, assim como, o fato por si só, de não haver análise do decreto prisional pelo lapso de 02 (dois anos), não demonstrou cunho para conceder a benesse.

Pois bem. Entendeu o Desembargador que, no tocante ao apontado excesso de prazo para ocorrer o julgamento do ora recurso de apelação interposto, não se mostrou ultrapassado o prazo, apenas estava se aguardando a manifestação do outro réu.

24 Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua prática envolver ou visar atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação.

(26)

No que tange a pena proferida pelo juízo de execução, relacionado aos autos nº 0010319-42.2017.8.16.0056 em que ocorrera a unificação das penas, em conjunto com processo nº 0003347-22.2018.8.16.0056, o secundário não teve o seu trânsito em julgado, concedendo a progressão para o regime aberto, excluindo-o da execução.

Entretanto, não concedera a benesse da liberdade, tendo em vista a vigência de um decreto prisional preventivo, o qual não era de sua alçada, por isso tratou-se de incidente de execução de pena não podendo ser atacado via HC. Porém, tal fato não pode ser empecilho para a análise de ilegalidade de prisão.

Da análise dos autos, verificou-se que estavam presentes os requisitos para a prisão cautelar do ora paciente. Todavia, vislumbrou-se que a última revisão da prisão preventiva se deu em sentença, datada de 13 de maio de 2019, e o julgamento ocorrera na data de 27 de agosto de 2020. Sendo assim, o prazo, do artigo 316, parágrafo único, em que se estipula a necessidade de reavaliação periódica a cada 90 (noventa dias) foi extrapolado, tornando a referida medida ilegal.

Denota-se que o magistrado deu ênfase ao período de 90 (noventa dias), definindo-o como um prazo que deveria ter sido cumprido.

É de se notar, entretanto, que apesar do caso25 discutido ser de grande complexidade e envolver inúmeros réus e diversos delitos, assim como o aguardo da análise do recurso de apelação ora interposto, o tempo de espera é exacerbado, tendo a presente prisão preventiva perdurado por quase um ano sem que ocorresse qualquer manifestação acerca da situação do réu preso.

Sendo assim, em razão da não reanálise da necessidade da segregação da medida cautelar, nos termos do artigo 316, parágrafo único, concedeu-se a liberdade provisória ao mesmo.

3.2.4. Processo N° 0013195-90.2019.8.16.0058

Destoando dos demais julgados escolhidos, este tratou-se de recurso em sentido estrito, tendo designado como relator do feito o Juiz de Direito Substituto em 2º Grau, Pedro Luís Sanson Corat (em substituição ao Des. Celso Jair Mainardi), perante

25 (...) “verifica-se que, embora se trate de processo de alta complexidade, envolvendo vários réus e diversos atos delituosos, bem como encontra-se o mesmo em fase recursal. (...) (...) a extrapolação do prazo estabelecido no citado dispositivo de lei se deu de forma exacerbada, reconhecendo-se, desta forma, em favor do ora paciente, e, tão somente em relação aos autos ora em análise, a ilegalidade de sua prisão cautelar.”. p. 05.

(27)

a 4ª Câmara Criminal. Ainda, participaram do julgamento os Des. Rui Portugal Bacellar Filho e Domingos Thadeu Ribeiro da Fonseca.

Ressalta-se que o recurso em sentido estrito, interposto pelo MP do Estado do Paraná, atua contra a decisão que revogou a prisão preventiva do réu. Alega o MP, em apertada síntese, da necessidade da manutenção da prisão preventiva, que a ocorrência do excesso de prazo é culpa exclusiva do réu. Argumenta ainda que em relação ao recurso perante o STJ, não compete ao magistrado singular averiguar e declarar que o réu está sofrendo constrangimento ilegal, bem como interferir no processo que está em trâmite em instância superior, soltando o denunciado de forma arbitrária.

Em manifestação seguinte, a Procuradoria Geral de Justiça expressou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Previamente, em relação à tese adotada, de que o magistrado a quo não tem competência jurisdicional para revisar a prisão preventiva do réu e supostamente ter agido de acordo com as suas prerrogativas soltando o réu, deve-se atentar que o feito está aguardando julgamento perante a corte superior. Logo, entendeu-se que compete ao magistrado que decretou a prisão rever os pressupostos no que concerne a necessidade de manutenção. Portanto, tal tese não mereceu prosperar.

Na sequência, destacou-se que na mesma toada fora o entendimento dos julgadores do STJ e apoiou a sua decisão em conjectura à jurisprudência26 da corte superior.

Portanto, em casos como o que fora exposto em julgamento, quando ocorre a espera do julgamento do feito perante as cortes superiores, a tarefa de revisar a prisão preventiva do réu se mantém a cargo do juízo que a decretou.

Trouxe à tona que o réu teve a sua prisão preventiva decretada com fundamento do resguardo da ordem pública e encontrava-se preso há mais de 3 (três) anos e 6 (seis) meses, ficando claro o exacerbado uso da medida cautelar, ultrapassando a razoabilidade.

26 Partindo-se para o atual entendimento jurisprudencial sobre a matéria, conforme muito bem pontuou a douta Procuradoria-Geral de Justiça, tenha-se presente que, em recentíssima decisão, em caráter liminar, emanada pela Ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (HC 589.544 – SC, julgado em 22.06.2020), a eminente Relatora entendeu que a obrigação de revisar, de ofício, a necessidade da prisão preventiva, nos termos da nova redação do parágrafo único, do artigo 316, do Código de Processo Penal, introduzido pela Lei 13.964/2019, e imposta apenas ao juiz ou ao Tribunal que decretou a medida. Segundo a Ministra, seria desarrazoado, ou mesmo inexequível, estender essa tarefa a todos os órgãos judiciários competentes para o exame do processo em grau de recurso. p.3.

(28)

Realça-se que neste caso o desembargador teve de reanalisar se os fatos que ensejaram medida, com fulcro na ordem pública, ainda restavam presentes, verificando os elementos fáticos recentes que indicassem a persistência dos motivos ensejadores da segregação cautelar. No entanto, não os encontrou remanescentes.

Ademais, até a análise do julgado o tempo decorrido era de 4 (quatro) anos sem haver a devida revisitação do caso, mesmo a situação tendo abalado veemente a sociedade na época. Assim, a possível soltura do paciente não poderia causar graves danos à ordem pública, tal fato não poderia perdurar ad eternum.

Situação que se mostrou clara, haja vista o paciente ter passado 6 (seis) meses em liberdade sem que ocorresse qualquer prática delitiva ou questão que compartilhasse com o fundamento de necessidade de recolocá-lo junto ao cárcere.

Ademais, constata-se que o réu foi preso preventivamente em 26 de agosto de 2016, o Mm. Juiz pronunciou-se o acusando na data de 15 de março de 2017, desclassificando o crime de latrocínio para homicídio. Em face dessa decisão o MP interpôs recurso em sentido estrito, em 18 de janeiro de 2018, para reaver a decisão e para pronunciá-la nos termos da denúncia, tendo o parcial provimento do recurso.

A partir desse acórdão a defesa interpôs recurso especial em 1º de fevereiro de 2018, o qual até a data do julgamento do acórdão diante do Tribunal Paranaense ainda não havia sido julgado na instância superior.

Não podendo o réu arcar com a demora no julgamento27 do feito, menos ainda a esperar no cárcere, mostra-se mais que notório como as cortes superiores brasileiras estão abarrotadas de processos, de modo que não conseguem lidar com tanta demanda. Tendo isso em mente, o indivíduo poderia passar mais anos da sua vida preso preventivamente por um crime pelo qual futuramente poderia ser absolvido.

Diante das razões que não justificam a medida extrema e também por não se fazerem mais presentes in casu para que a medida retorne, o recorrente deveria ter trazido elementos palpáveis que corroborassem com as alegações, bem como a demonstração dos requisitos previstos no artigo 312, do CPP. Ainda, em conjunto destacou-se afronta ao artigo 316, parágrafo único da mesma lei, sendo assim ele mereceu ser provido.

27 Destarte, embora o último recurso manejado tenha sido manejado pela defesa, não se pode atribuir ao polo defensivo a responsabilidade exclusiva pela morosidade do deslinde definitivo da ação penal de origem. p. 07.

(29)

3.2.5. Processo N° 0071172-83.2020.8.16.0000

Tratou-se de Habeas Corpus em que fora relatora a integrante da 5ª Câmara Criminal, Des. Maria José de Toledo Marcondes Teixeira. Acordaram, conjuntamente com a eminente relatora, os Des. Renato Naves Barcellos e Jorge Wagih Massad.

O recurso fora impetrado pelo réu, o qual arguiu, em apertada síntese, que fora preso em flagrante pela suposta prática do crime de roubo, Art. 157, do CP, concurso de agentes e mediante uso de arma de fogo.

Alegou ser arrimo de família, réu primário e exercer atividade laboral. Além disso, no que cerne a necessidade de medida cautelar, carece de fundamentação idônea, não cumprindo então os requisitos do artigo 312, do CPP.

Como se não bastasse, estava sofrendo constrangimento ilegal devido a não aplicação do artigo 316, §ún, uma vez que haviam se passado mais de 90 (noventa) dias sem a reavaliação de sua prisão. Por esse motivo, deveria conceder-se a liberdade provisória.

O pedido de liminar foi indeferido pelo magistrado a quo.

O Procurador de Justiça manifestou-se pelo conhecimento e pela denegação da ordem.

O Colegiado entendeu que o juízo singular demonstrou, de forma clara, os requisitos presentes no artigo 312, do CPP, e que de forma demasiada o réu, em caso de soltura, incorreria em perigo à sociedade, causando graves danos à ordem pública.28

De modo que ficou demonstrado fumus commissi delicti e o periculum libertatis, justificando a manutenção da prisão com o intuito de acautelar a ordem pública.

Com relação à suposta afronta ao parágrafo único do artigo 316, denota- se que se incumbiu ao magistrado que proferiu a decisão reavaliada e não a outros órgãos jurisdicionais. Como in casu, o juiz prolator da medida foi o juiz a quo, ele mesmo no prazo estipulado a revisou e a fundamentou de forma correta. Denota-se que o juiz não atuou de ofício, devendo a relatora29 ultimar o magistrado a seguir de acordo com a lei,

28 Neste contexto, é de se anotar que a última ratio afigura-se cabível na espécie, pois presentes a materialidade e indícios de autoria, tendo entendido o MM. Juiz a necessidade da custódia preventiva para garantia da ordem pública, além da gravidade concreta do delito e reiteração delitiva, bem como para assegurar o cumprimento da lei penal, a garantia da instrução criminal e para preservar a integridade física da vítima e testemunhas, fundamentos aptos para embasar o decreto preventivo. p.

05.

29 Em relação a reavaliação da prisão preventiva, prevista no artigo 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal, verifica-se que o MM. Juiz a quo, atendendo a recomendação desta relatora reavaliou

(30)

para que a prisão não se tornasse ilegal.

Em razão das medidas adotadas pela relatora não houve revogação automática da custódia cautelar. Ademais, deve-se ater ao caso concreto em que há alta complexidade, o que comporta a dilação do prazo previsto no artigo 316, do CPP.

Nessa toada fora o entendimento lançado pelo Procurador de Justiça30, o qual destacou o excesso de prazo em apenas 104 (cento e quatro) dias, não sendo o prazo peremptório. Portanto, o que ocorrera considera-se habitual em razão do excesso de demanda e da complexidade do caso, o qual na situação em que ora se discute não se vislumbrou a hipótese de concessão da liberdade provisória.

Por fim, o mero fato de o réu ter bons antecedentes criminais por si só não pode acarretar na soltura, tese que já é consolidada em sedes superiores.

Diante dessas razões entendeu-se por denegar ordem.

3.2.6. Processo N° 0065673-21.2020.8.16.0000

Ressalta-se que o presente feito, por ser o último na linha temporal e já haver inúmeros precedentes tanto no que cerne ao Tribunal Paranaense quanto no tocante às instâncias superiores, apresenta decisão com maior base jurisprudencial, o que por vezes, alguns magistrados entendem que a mera transcrição de um precedente jurisprudencial que se adeque, mesmo como uma luva ao caso, deve de forma concreta se fundamentar a decisão de acordo com os fatos.

a prisão preventiva, mantendo-a pelos fundamentos do decreto preventivo, vez que não houve alteração na situação fática. Vejamos:

“Considerando as determinações contidas no artigo 316 § único do Código de Processo Penal, considerando a natureza do crime, a pena de reclusão prevista ser superior a quatro anos, considerando peculiaridade do caso e a sua necessidade ante a presença de todos os requisitos legais (art. 312 e artigo 313, I do CPP), mantendo-se hígido todos os fundamentos da decisão proferida na seq.19.1.

Considerando que se reconhece neste momento a complexidade do caso, a real gravidade concreta deste feito, bem como venho registrar a inexistência de quaisquer elementos que renovem ou transformem as condições de admissibilidade da supracitada medida de custódia, ausentes também fatos novos que possa elidir a medida cautelar, bem como com a devida vênia se faz necessária, pela própria peculiaridade do caso em tela, não haveria (e não há) modo diverso de se proceder neste momento venho a manter a prisão preventiva dos réus decretada por este Juízo Criminal.

30 In casu, a prisão preventiva do paciente foi decretada em 19 de agosto de 2020 (mov. 19.1), sendo que apenas transcorreu o lapso temporal de 104 (cento e quatro) dias.

Nesse diapasão, o prazo de 90 dias para reavaliação da prisão preventiva, determinado pelo art. 316, parágrafo único, do CPP, é examinado pelo prisma jurisprudencialmente construído de valoração casuística, observando as complexidades fáticas e jurídicas envolvidas, admitindo-se assim eventual e não relevante prorrogação da decisão acerca da mantença de necessidade das cautelares penais”. p.

07.

Referências

Documentos relacionados

LUCAS EDUARDO GREFF DA SILVA CURITIBA - CENTRO ENSINO MÉDIO 20 ENSINO MÉDIO NÃO 14/08/2017. LUCAS PANTAROLO VAZ CURITIBA - CENTRO SUPERIOR/GRADUAÇÃO 25 DIREITO

Para que sejam melhor compreendidos os elementos revolucionários e libertários do surrealismo, assim como os meios que esse movimento forneceu para mudar o mundo,é de grande

A fruta, sensação da indústria de alimentos saudáveis no Brasil e outros países, é um dos ingredientes mais conhecidos da tradicional medicina chinesa, onde é apreciado por

Quando a olanzapina é utilizada por via oral (pela boca), em doses diárias entre 5 e 20 mg, para o tratamento da esquizofrenia e outras condições relacionadas, ou em doses diárias

DUPLICIDADE 2/9/2020 19:11:57 LUCIANA SILVA GOMES COSTA MONTEIRO PROCESSOS PSICOSSOCIAIS EM SAÚDE / POLLYANNA SANTOS DA SILVEIRA GRUPO 2 - AMPLA CONCORRÊNCIA. SIM 2/27/2020

Bibliografia: BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de

Então, em se tratando de lançamento de ofício, os documentos fiscais deverão ser conservados até que ocorra a DECADÊNCIA dos créditos tributários (CTN, art. ex.) no prazo legal,

Se você vai realizar o exame em papel, você já deve ter informado o local onde pretende fazer o exame como parte do processo de inscrição (veja orientações abaixo), assim não