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Heloísa diz C011l quantas cores se faz arte erudita e popular

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Academic year: 2018

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(1)

E n tre v is ta c o m a a rtis ta p lá s tic a H e lo is a J u a ç a b a , d ia 2 3 /0 6 /9 4 .

P ro d u ç ã o : L ia n a F a ria s e M a rllia A g u ia r A b e rtu ra : E th e l d e P a u la R e d a ç ã o , e d iç ã o e te x to fin a l: C lá u d ia M o n te iro , F ra n c in e id e M a rtin s e M a rllia A g u ia r P a rtic ip a ç ã o : C lá u d ia M o n te iro ,

E th e l d e P a u la , F ra n c in e id e M a rtin s , L ia n a F a ria s e M a rllia A g u ia r F o to : A rq u iv o D iá rio d o

N o rd e s te

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A primeira exposição no Salão dos Novos de Fortaleza (1952) inaugurou por essas bandas o traço

de quem descobriu com a vida que Arte não se

aprende, apenas se aprimora. "Nós podemos

ensi-nar técnicas. Mas a criação é muito forte dentro do

artista pra qualquer professor transmitir isso",

ensina. Comprovando a tese, Heloísa incursionou

pelo cubismo, expressionismo e impressionismo

com a mesma naturalidade com que uniu erudito e

popular. Nas telas da artista, simples punhos de

rede podem virar o jogo quando a Arte Erudita

pensa reinar absoluta. Isso sem que ninguém

recla-me.

A paixão de Heloísa pela Arte Popular está

retratada em cada cômodo de seu apartamento ou

ainda nas mais de 800 peças que doou ao Museu de

Arte Popular, do qual foi organizadora. "Fizemos

o museu mais lindo do mundo!!!", comemora, ao

mesmo tempo que recorda a ousadia em desmontar

uma jangada inteira, só para tê-Ia como peça em

exposição no local. Heloísa é entusiasta ao ponto de considerar o artista popular mais importante que o

erudito. E justifica: "A Arte Popular é uma das

manifestações mais puras, mais verdadeiras de

umas raça". Inspirada, nomeia os ex-votos

expressionistas na escultura, "porque eles

transmi-tem na-peça a doença que eles imaginam que têm,

transmitem o que imaginam que sentem".

Na vida cor-de-rosa da dama das artes

plás-ticas, um capítulo dá o tom de neutralidade. Heloísa

exerce uma atividade filantrópica em favor das

vítimas cancerosas indigentes e vindas do interior

do Estado. Ela é Presidente da Rede Feminina do

Instituto do Câncer do Ceará, tendo como função

básica e permanente o arrecadamento de doações

provenientes de pessoas fisicas e jurídicas. "Ah,

meu Deus, a coisa pior no mundo é a gente pedir dinheiro aos outros, mas a gente bota a alma lá em

cima e tem que fazer,

né?",

questiona como se

espírito de artista não fosse genuinamente altivo.

Na conversa com os estudantes de Comunicação

Social da UFC, Heloísa Juaçaba não deixa dúvidas sobre isso.

Heloísa diz

C011l

quantas cores

se faz arte erudita e popular

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N a m u ltip lic id a d e d e fo r m a s , H e lo ís a J u a ç a b a éd e s b r a v a d o r a d e o u tr o s c a m in h o s c u ltu r a is , v iv e n d o a a r te e m to d a s u a p le n itu d e .

A

mão que pintou Heloísa Ferreira Juaçaba

estava naqueles dias de profunda inspi-ração. Era 10 de abril de 1926 e o criador deu-lhe a missão de reinventar a tonalidade

huma-na. Nada muito dificil para quem nasceu sob o signo da sensibilidade artística e foi embalada nos braços das cores. O lápis preciso do destino entrou em ação. A aluna de 13 anos da Escola Normal Dom Pedro 11se destacou nas aulas de Geografia pela destreza com que desenhava e coloria mapas. Sem intuir, ela já esboçava ali alguns dos países que, no futuro, lhe

reconheceriam talento nato para as Artes plásticas.

O rascunho começou a virar obra de arte

após casar-se com o médico Haroldo Juaçaba. En-quanto esperava o marido chegar do trabalho,

He-loísa desenhava horas a fio. Até que Haroldo

desco-briu no "passatempo" da esposa qualidades

incomuns aos simples amadores. Não deu tempo ao tempo. No dia seguinte estava a lhe presentear com tintas, pincéis e cavaletes. Foi o bastante para que Heloísa viesse a se matricular na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP). Era 1950 e ali a artista

lapidou o dom, sob o testemunho dos mestres do

(2)

A e n tre v is ta e ra p a ra te r s id o n o d ia 2 I d e ju n h o .

n u m a te rç a -fe ira

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à ta r-d e . m a s H e lo is a p e r-d iu

p a ra a d ia rm o s p a ra q u in ta -fe ira .

É q u e a q u e le e ra u m d o s d ia s e m q u e p o d ia fic a r a ta rd e c o n v e rs a n -d o c o m s e u m a ri-d o . D r. H a ro ld o J u a ç a b a . c o m q u e m é c a s a d a h á 4 2 a n o s .

N a n o ite a n te rio r. a e q u i-p e d e i-p ro d u ç ã o lig o u p a ra c o n firm a r a e n tre v is ta . E la h a v ia e s p e ra d o o d ia to d o . p o is p e n s a v a q u e a n o s s a c o n -v e rs a s e ria n a q u a rta .

44

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H e lo ís a J u a ç a b a E n tr e v is ta

E n tr e v is ta - A g e n te q u e r p o n tu a r e s s a e n tr e v is ta e m tr ê s m o m e n to s . N o p r im e ir o m o m e n to , a g e n te q u e r fa la r

d a a r tis ta e m s i, d a fo r m a ç ã o a r tís ti-c a , d a s u a c o n tr ib u iç ã o n o d e s e n v o lv im e n to d a s A r te s n o C e a r á . N o s e g u n d o m o m e n to , n ó s q u e r e m o s a p r o fu n d a r os e u e n v o lv im e n to c o m a c u ltu r a p o p u la r . F a la n d o e s p e c ifi-c a m e n te d a s u a paixão, d o s s e u s a n s e io s , d a s u a s p e s q u is a s p e la A r te P o p u la r . E n o te r c e ir o m o m e n to , n ó s q u e r e m o s a b o r d a r o s e u tr a b a lh o h u m a n itá r io a fa v o r d a s v itim a s d o c â n c e r .

Heloísa Juaçaba - Sim, eu sei.

E n tr e v is ta

-E n tã o , c o m o p o n to d e p a r tid a , a g e n te q u e r ia a s s im a s u a d e fin iç ã o d e A r te . O q u e é a A r te ? C o m o a s e n h o r a v ê a A r te n o m o m e n -to , n o C e a r á , n o B r a s il?

Heloísa Juaçaba - (pensativa) Arte, Arte mesmo ... Por exemplo, a ten-dência da pessoa ... eu acho que por exemplo, um artista ... uma Arte ... eu acho que as Artes Plásticas especial-mente, eu acho é uma Arte quase impossível de ensinar, tá? Outras, por exemplo, como a música que en-tram instrumentos... é uma coisa muito mais erudita a música entran-do ... digamos como uma sinfonia ... Então fica mais dificil. Mas as Artes Plásticas, eu acho que o artista tem que ser tão espontâneo ... Eu acho que o artista pra ser verdadeiramente ar-tista, ele já nasce artista. Ninguém pode transmitir... Ele tem que ser espontâneo. Quer dizer, ele tem que ser de uma maneira muito verdadei-ra, né? E eu acho que isso é que faz o artista. Não é o ensino. Nós podemos ensinar técnicas. Então, por isso que eu acho que Arte não se ensina. Nós podemos ensinar técnicas, por exem-plo, a técnica da gravura, a técnica de construção de papel, de fazer uma tapeçaria, fazer outras maneiras de .... outras manifestações ... A técnica pro-priamente dita a gente pode ensinar, mas a criação é muito forte dentro do artista pra qualquer professor trans-mitir isso. Eu acho que é quase impossível.

E n tr e v is ta

-D o n a H e lo is a , a g e n te s a b e q u e oF lo r ia n o T e ix e ir a ( p in to r m a r a n h e n s e ) fo i u m d o s s e u s p r o fe s -s o r e -s , n é ? E a n te s d is s o ? A s e n h o r a s e m a n ife s ta v a a r tis tic a m e n te ?

Heloísa Juaçaba - Já. Eu comecei no funda SCAP(Sociedade Cearense de Artes Plásticas), né? Em 1950 e pouco, quando a SCAP não tinha terminado, mas já tinha passado a primeira equipe do Bandeira (Antô-nio Bandeira), do Aldemir (Aldemir Martins) ... Eu já não fui contemporâ-nea deles. Foi logo depois um

pouquinho, né? E realmente, eu fre-qüentei a SCAP muito, em dois pontos a SCAP teve que eu freqüentei. E eu acho que a SCAP realmente ...É inte-ressante. É exatamente isso... Por exemplo, um modelo vivo. Um mo-delo vivo ... nós estudávamos com um modelo vivo, né? Mas é em desenho. E o desenho eu considero como um esqueleto do corpo humano ... É um desenho. Porque de tudo nós depen-demos do desenho. Quer dizer, é um estudo básico. Então você tem que ter informação do desenho numa propor-ção. Isso daí a gente tem que ter. Agora a criação de um quadro, por exemplo, as cores, a sensibilidade ... Isso daí é muito íntimo. Édo coração da pessoa, do espírito mesmo. Agora essa parte ...

E n tr e v is ta - S e a n te s d a S C A P a s e n h o r a já s e m a n ife s ta v a a r tis tic a -m e n te .

Heloísa Juaçaba - Sim, da SCAP. Eu sempre gostei porque eu desenha-vamuito. Eu comecei a desenhar sabe o quê? (ri) Uma coisa interessante.

" ... Eu acho que o

artista tem que ser tão

espontâneo ... Eu acho

que o artista pra ser

verdadeiramente artista,

ele já nasce artista."

Na Escola Normal, que eu estudei ... Naquele tempo eraEscolaNormal Dom Pedro lI, hoje é Justiniano de Serpa. E então a professora de geografia, ela adorava fazer mapa. Ela tinha um li-vrinho ... isso era a dona ... como era o nome dela? M'esqueci. E então ela dizia assim: "Heloísa, outro dia eu vi na sua carteira um mapa muito bem . feito, mas eu vou fazer um projeto de fazer um teto aqui, de toda a nossa sala - que era uma sala que tinha lá na Escola Normal. Nós vamos fazer um teto todo de mapas. E é você que vai fazer." (risos) E então já me deu tin-tas, me deu papel de cartolina branca, né? Então eu ficava desenhando aque-les mapas com o maior carinho, com o maioramorerealmente ... Ela colou no teto, né? E todos os alunos da época viram. Não sei nem se ainda tá lá ...

E n tr e v is ta - A s e n h o r a tin h a q u a n to s a n o s ?

Heloísa Juaçaba - Era, por amor de Deus... Devia ser uns catorze anos, treze, não é? Treze anos ...

E n tr e v is ta - N e s s e te m p o a s e n h o r a s a b ia q u e ia tr a b a lh a r c o m d e s e

-n h o ?

(3)

H e lo ís a J u a ç a b a

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

AP. E eu então continuei a traba-sozinha, né? Trabalhar sozinha e fazia os quadros etc .. Então quando foi um dia os Pamplonas -- eram três Pamplonas aqui. Era o Paulo Pam-plona, era o Carlos Pamplona e o Eduardo Pamplona, Eram três. E eles então ... um deles tava organi-zando o Salão de Abril (concurso de Artes Plásticos patrocinado pela Pre-feituraMunicipaJ), um dos primeiros Salões de Abril-- tá por aqui, naque-le caderninho.. Quem é que tem aquela coisa? (Heloísa se refere ao currículo impresso, que foi cedido à

produção da E n tr e v is ta .) Eu vou pegar um aqui que eu tenho porque a data assim a gente não pode ser exata, né?

E n tr e v is ta - - F o i e m

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5 2 .A p r im e ir a . ( H e lo ís a fo i p r e m ia d a n o S a lã o d o s

N o v o s e m 5 2 , u m c o n c u r s o ta m b é m p a tr o c in a d o p e la P r e fe itu r a M u n i-c ip a l p a r a le la m e n te a o S a lã o d e

A b r il.)

Heloísa Juaçaba -- O primeiro Sa-lão de Abril foi em 52? (Na verdade, o 10

Salão de Abril foi em 43 e o primeiro com participação de Helo-ísa foi em 53.) Pois é. (HeloHelo-ísa não recorre ao currículo.) Pois então, em 52, ele telefonou assim pra mim: "Olha, Heloísa, você sabe ... eu sou-be que você tava aí desenhando e eu quero ver o que você tá desenhando porque nós vamos organizar o Salão de Abril e eu quero que você me traga alguns desenhos. " E eu fiz uns desenhos e levei. E ele: "Ah, os prontos que você tem em casa eu quero. Traga tudo ... " Mas eu não levei não. Só levei quatro. E no primeiro ano ... (Heloísa insiste e sai para buscar o currículo. Depois vol-ta.)

E n tr e v is ta A s e n h o r a ta v a fa la n -d o -d o p r im e ir o S a lã o -d e A b r il q u e p a r tic ip o u .

Heloísa Juaçaba -- Então foi um salão importantíssimo porque, como foi o primeiro, despertou assim urna curiosidade no povo. Porque aqui não ... Você sabe como os pintores vendiam quadros? IncJusi ve o pai do Rubens de Azevedo, que hoje é um grande pintor, o Rubens ... ele é dese-nhista exímio. Ele desenhou todos os trechos mais importantes da cida-de cida-de Fortaleza a bico de pena. É uma preciosidade. O pai dele, que era o ... Eu digo o nome dele ... (trata-se de Otacílio de Azevedo) E ele então fazia os quadros, botava em baixo do braço e ia vender no comér-cio, nas residências. Batia palma e vendia os quadros, entendeu? Então, quando um navio estrangeiro parava assim por acolá, assim distante ...

Porque wna vez por outra um artista europeu pegava assim uns 80 qua-dros, 50, 80, e vinha vender aqui no Brasil, Entendeu? Étão interessante isso porque o seguinte: naquele tem-po - eu tenho um quadro dessa étem-poca. Eu tenho quadro porque herdei do meu pai. Não era casada ainda -- ele descia e pedia a wna casa de comér-cio ... mostrava aquelas obras de arte e então dizia que era pra vender. E então todo mundo, toda a cidade com-prou. Aqui tem muito quadro de artista europeu porque esse foi o princípio do desenvolvimento da sociedade para comprar quadros. Eles vinham do es-trangeiro pra ter esses quadros.

E n tr e v is ta - M a s o s d a q u i a in d a e r a m d e p o r ta e m p o r ta ?

Heloísa Juaçaba - Os daqui eram de porta em porta e eram poucos por-que ... Por exemplo, o ... puxa vida, eu tô esquecida do pai do Rubens: Otacílio de Azevedo. Seu Otacílio. Seu Otacílio ... muitas, muitas pesso-as aqui no Ceará têm quadros do Seu Otacílio ... todos vendendo assim. Ele

, 'Aqui tem muito

quadro de artista

europeu porque esse

foi o princípio do

desenvolvimento da

sociedade para com

prar quadros. "

não expunha. Não havia restrição naquela época. Agora, depois dessa exposição do primeiro SalãodeAbril, então foi que ficou acontecendo anu-almente, e então apareceu, depois de algum tempo, urna galeria pra vender alguns quadros dos artistas e os artis-tas foram se animando e não faltavam o Salão de Abril e assim foi se desen-volvendo ... Mas eu acho que o Salão de Abril, ele teve uma importância muito grande no desenvolvimento de Artes Plásticas no Ceará ... Acho que foi o principal assim, pra despertar ... o despertar de Arte no Ceará.

E n tr e v is ta - - D o n a H e lo ís a , p a r e c e q u e a s e n h o r a e n tã o fo i u m a d a s p r im e ir a s m u lh e r e s a e n tr a r n e s s e m e io a r tís tic o n a é p o c a . N ã o fo i?

Heloísa Juaçaba - (Ri) Na época foi' eu. Realmente foi eu, a senhora do Estrigas (nome artístico de Nilo Fir-meza), que é a Maria Nice, e a Lúcia Galeno, que era sobrinha da

Hen-riqueta Galeno, Vocês sabem quem é Henriqueta Galeno, né? Que era uma escritora. Quer dizer, não era escritora. Ela vivia da obra do pai, né? Que era o Juvenal Galeno, que ainda hoje tem a casa, a Casa Juvenal Galeno. E então a Hen-riqueta, ela patrocinando ... Às vezes ela fazia urnas exposiçõezinhas de pintura. Ela gostava de ajudar. O Raimundo Cela expôs lá os primeiros assim (quadros) ... da vida dele, que nin-guém conhecia. Era nessa época de poucas vendas, de pouco comércio de arte -- que naquele tempo não existia nem esse nome "comércio de arte", como hoje tem -- e então ela expunha lá. Na Juvenal Galeno, Ela também teve assim a sua impor-tância, eu acho, na ajuda, para o conhecimento das artes plásticas.

E n tr e v is ta - F o r a m s e m p r e b e m r e c e b id a s ? N ã o h o u v e p r e c o n c e ito ?

Heloísa Juaçaba - Não. Não. De maneira nenhuma, De maneira ne-nhuma. Depois foi aparecendo mais mulheres, mais, mais ... Sempre, todo ano, aparecia duas, três, duas, três, a mais né?

E n tr e v is ta - M a s a s e n h o r a fo i u m a d a s p io n e ir a s n ã o s ó e x p o n d o , c o m o ta m b é m d e s e n v o lv e n d o ...

Heloísa Juaçaba -- Sim. Sei.

E n tr e v is ta : .. .p r o m o v e n d o a c u ltu -r a n o E s ta d o , n a c a p ita l.

Heloísa Juaçaba -- Promovendo. Sei. É .Continuou assim por algum tempo quando a SCAP terminou e então foi assim um período mais ou menos nublado, sabe? Apagado. Quando a SCAP acabou-se em 56. Ou foi em 62? Quando foi que ela terminou? Eu já nem me lembro. E então eu fui ... O Virgílio Távora (ex-governador do Ceará), pra fazer justiça ... A primeira idéia de uma Secretaria de Cultura quem teve foi o Virgílio Távora, Mas ele não fez, ele não chegou' a realizar nada por-que eu acho que o Virgílio não gostava muito das Artes. Porque nunca, ele não freqüentava mesmo, sabe? Ele não gostava. Ele achava que tinha que fazer a parte da cultura mas ele nunca recebeu os artistas, ele nunca ... Quem fez, quem organi-zou, quem criou foi o César Cals de Oliveira (ex-senador do Ceará e ex-ministro de Minas e Energia). Ele criou a Secretaria de Cultura, que foi a primeira secretaria do Brasil: Se-cretaria de Cultura. Depois apareceu a Secretaria de Cultura em São Pau-lo, mas já depois de um ano. Aí o Ceará é pioneiro em muita coisa. Eu sou muito bairrista. (risos) Porque eu acho que o Ceará fez muita coisa.

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• O u a n d o a e q u ip e d e p ro d u ç ã o c o n v e rs a v a c o m H e lo ís a s o b re o s a s -s u n to -s q u e p o d e ria m ser a b o rd a d o s n a e n tre v is -ta . e ladisseq u e h a v e ria "c o is a b o a p a ra re c o r-d a r"

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• H e lo is a re v e la te r g ra n d e p a ix ã o p e la a rte p o -p u la r e a d o ra ria fa la r s o b reisson a e n tre v is ta -te m a ra ra m e n -te e x p lo -ra d o n o s d e m a is meios d e c o m u n ic a ç ã o d e m a s s a .

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A e n tre v is ta o c o rre u e m s e u a p a rta m e n to n a P ra ia d e Ira c e m a . d e o n d e s e o u v ia o b a ru lh o d a s o n d a s . d e z a n d a re s a b a ix o .

(4)

lo g o n a e n trá d a n o h a ll d o e d ifíc io . e n c o n tra m -s e d o i-s q u a d ro -s d o a d o -s p o r d o n a H e lo ís a a o c o n

-d o m ín io . U m -d e le s

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éd a la rg u ra d a p a re d e .

A c o n c h e g a n te . o a p a r-ta m e n to te m u m a v is ta p riv ile g ia d a d o m a r. q u e H e lo ís a J u a ç a b a n ã o c a n -s a d e a p re c ia r.

D e c o ra d o c o m ra rid a d e s e m e s c u ltu ra s . q u a d ro s e a rte s a n a to . a fo ra a lg u -m a s d e s u a s p ró p ria s o b ra s . o a p a rta m e n to m a is p a re c e u m m u s e u d e c u ltu ra .

46

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H e lo ís a J u a ç a b a E n tr e v is ta

Por exemplo, agora nós vamos ter o Centenário da Academia Cearense de Letras, né? E que nós fizemos antes, seis anos antes da do Rio de Janeiro, da Academia Brasileira de Letras. Quer dizer, os intelectuais que viajavam tanto àEuropa, né, e que tinha tanta gente importante, e de valor, mesmo no século passado ... e não fundavam essa escola, essa Academia Brasileira de Letras. E o Ceará fundou a Academia Cearense de Letras.

E n tr e v is ta - - A g e n te g o s ta r ia a té d e d is c u tir u m p o u c o e s s a q u e s tã o d a p o lític a c u ltu r a l n o C e a r á . m a s p r i-m e ir a i-m e n te e u q u e r ia s a b e r d e o n d e v e m o in te r e s s e d a s e n h o r a e m p r o -m o v e r e s s a A r te , e m v is ta q u e a s e n h o r a d e s c o b r iu e s s e d o m . N ã o é u m a c o is a q u e v e io a s s im d a fa m ília .

Afamllia to d a p a r e c e q u e n ã o tr a b a -lh a v a c o m A r te .

Heloísa Juaçaba - Em arte. É .

• •

E n tr e v is ta - - A s e n h o r a d e s c o b r iu od o m . E d e o n d e v e m o in te r e s s e e m

n ã o s ó d e s e n v o lv e r o s e u tr a b a lh o c o m o p r o c u r a r q u e o s o u tr o s d e s e n -v o l-v e s s e m , ti-v e s s e m e s p a ç o p r a is s o ?

Heloísa Juaçaba - Sei.

• •

E n tr e v is ta - - D e o n d e v e m o s e u in te r e s s e p o r is s o ?

Heloísa Juaçaba -- Bem, veio o

interesse partindo da SCAP. A SCAP foi na época da guerra, foi no fim da guerra, 49, foi na Segunda Grande Guerra, né? Então, logo depois da guerra que eu me casei, né? E nessa época eu freqüentei a SCAP, então aquilo ali ficou na minha cabeça. Enquanto a SCAP existia eu tava satisfeita lá porque a gente se encon-trava uma vez por outra, fazíamos as exposições, fazíamos os Salões de Abril... E depois que a SCAP termi-nou foi que eu achei que ficou um vazio, né? E nesse vazio, foi algum tempo aí, foi numa época que eu tava muito ocupada porque eu tava tendo meus filhos, que são cinco, então eu tava muito ocupada. Realmente eu não podia trabalhar. Mas quando a última criancinha tinha dois anos ou três, então foi justamente em 67 que eu fundei, que foi fundada a Secreta-ria de Cultura e então eu fui convidada ... e eu acho que eu vou fazer um dever de gratidão, porque eu acho que a minha permanência no Conselho Estadual de Cultura, eu acho que foi muito benéfica e teve muitos bons resultados para a minha formação cultural. Porque era um grupo dos maiores escritores da terra e eu no meio ... me sentia até muito tímida no começo, não é? Mas o Doutor Raimundo Girão, era o

Se-•

• •

cretário de Cultura, me dava muito valor e nós começamos a organizar justamente a Raimundo Cela (Casa de Cultura Raimundo Cela), tanto é que eu queria Centro de Artes Visu-ais. Então ele disse: "Dona Heloísa, vamos fazer homenagem a um grande pintor daqui, que foi o Raimundo Cela, porque nós temos a Casa Juvenal Galeno, temos a Casa ... " Que mais? Eram alguns, né? Algumas casas que tinham nome de gente famosa. Ele disse assim: "Como não tem na pin-tura, a senhora devia fazer isso, aquilo ... " Aí eu disse assim: "Bem, doutor Girão, tá certo. Eu penso mais modemamente, mas eu gostaria de, como eu tenho assim uma pessoa ... "

É porque é muito importante... Eu vou confessar aqui, vou voltar assim

àminha inf'ancia porque um dos meus professores que eu tenho orgulho muito grande foi o doutor Filgueiras Lima. Ele era tão responsável, ele era tão apaixonado como professor ... Ele achava importante uma pessoa for-mar uma geração de jovens ... que ele se preocupava profundamente com

, , ... Eu achava que

.

.

ensmar era a COIsa

mais difícil do mundo.

A gente podia levar

uma criatura do mal

b

"

para o

em ...

issoe que alguém não tivesse uma má influência nem nada. E ele me pas-sou ... Eu fiquei muito preocupada, eu achava que ensinar era a coisa mais dificil do mundo. A gente podia levar uma criatura do mal para o bem se ela, conforme ela interpretasse a mi-nhalinhadepensamento,né?Quando eu terminei a Escola Normal, foi em 41, 40, em 1940 (afirmativa), ele disse assim ... ele me convidou para trabalhar no Lourenço Filho (Colé-gio) e eu disse ... Aí ele repetiu isso com muita graça sempre, depois até numa festa lá em casa que eu dei para um escritor que veio do Rio de Janei-ro, e ele disse: "Porque eu tive uma aluna que é a dona dessa casa e isso aqui e aquilo outro -- porque eu tava recebendo os intelectuais -- e então eu convidei pra ela ser professora do . meu colégio e ela virou-se pra mim e disse: 'Olha, doutor Filgueiras, eu prefiro aprender a vida todinha a ter que ensinar.'" Mas resultado do que ele me passou, sabe? Depois, não. Mais adiante da vida dele, eu disse:

"Doutor Filgueiras, eu nunca ensi-nei por causa do senhor." -- "Não diga isso, Heloísa! Foi isso mes-mo?" - "Foi sim senhor" (risos) Eu não ensino Arte e condeno assim o ensino das Artes. Por exemplo, um curso, por exemplo num atelier livre depintura ... Eu freqüentei umatelier li vre de pintura em Paris, freqüentei no Rio de Janeiro, mas é uma coisa por exemplo: você fica olhando, não é um curso que você tenha, digamos, livros, você tenha, digamos, um ro-teiro pra ... "Eu vi um pintor pintar essa daí..." Eu acho que é muito importante a gente olhar um pintor fazendo seu quadro. Ele observa como é a técnica, então ele veio ... ele se interessa muito.

E n tr e v is ta - - M a s a in s p ir a ç ã o a s e n h o r a a c h a q u e é n a ta . Q u e a p e s s o a ...

Heloísa Juaçaba - Énata. Não se

(5)

pes-E n tr e v is ta H e lo ís a J u a ç a b a

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

soa a ver aquela peça pra poder re-produzir, né?

E n tr e v is ta - -

É

a e s p o n ta n e id a d e .

Heloísa Juaçaba --Éo espontâneo e depois então, se tiver muito errado, aí o professor diz assim: "Olha, isso aqui tá errado, essa linha, porque essa linha aqui tem que passar por baixo dessa." E então, com essas pequenas orientações do professor, duma critica que ele fazia de um desenho que a gente fizesse ... Então, lá nessas escolas livres, que ainda hoje se chama assim, os ateliers li-vres de pintura ... eu acho que é onde nós aprendemos mais, na Escola Li-vre de Pintura.

E n tr e v is ta D a í e n tã o a s u a p r e o -c u p a ç ã o e m o r g a n iz a r e x p o s iç õ e s p a r a q u e o a r tis ta , v e n d o a q u ilo a li,

e le ...

Heloísa Juaçaba -- Foi. Bem, é as-sim ...

E n tr e v is ta - - C o m o é q u e s e d iz ? A p e s s o a q u e te m in te r e s s e p e la a r te e d e s e n v o lv a a li ... e n ã o , e m n u n c a c r ia r , e mfundaruma e s c o la d e a r te ...

Heloísa Juaçaba -- Pois é eu sempre fui contra. Ainda hoje sou. Ainda hoje sou. O (empresário) Aírton Queiroz, ele que é meu sobrinho casado com minha sobrinha, disse: "Heloísa ... num sei o que. Num sei o que ... c c Eu disse: "Não, Aírton, você pode fundar, a universidade pode fundar uma Escola de Belas Artes. " Mas só se for pelo fato de o diploma valer muito. Mas se o diplo-ma às vezes não vale na mão de outras profissões, quanto mais na de Artes, que é a criação mais livre que pode existir no mundo são as Artes Plásticas, né? Nem a música. A mú-sica tem o seu ensino, tem o seu ritmo, não é? Tem os seus compassos que você não pode variar de maneira nenhuma. Você tem que, por exem-plo, uma sinfônica (orquestra sinfônica): você tem que freqüentar ali meses pra poder se apresentar, né? Quer dizer, outras manifesta-ções artísticas, por exemplo, o balé: o balé é um sacrifício no mundo. No balé você faz todo sacrifício pra po-der fazer uma apresentação de uma bailarina e então ela, depois de um sacrifício enorme, de horas e horas e horas de sacrifício; então ela faz o balé dela. E só pode trabalhar vinte anos da vida porque, infelizmente, aos quarenta anos ela não tem a capacidade e a segurança e a fmneza de que tem urna pessoa jovem, né?

E n tr e v is ta - - E n tã o , d o n a H e lo ís a ,

foi

p o r e s s e in te r e s s e e m o b s e r v a r a s m a n ife s ta ç õ e s n a tu r a is d e c a d a u m

q u e a s e n h o r a c o m e ç o u a s e in te r e s -s a r p e la c u ltu r a p o p u la r ?

Heloísa Juaçaba -- A cultura popu-lar... é o seguinte: quando a gente começa assim ... olhar, por exemplo, ler livros ... Eu acho que pra mim a primeira lição que eu daria, porexem-pio se eu fosse ensinar aqui a vocês, eu dava um livro pra cada um poder ler. Pra você ter um pouco de noção. Porque a Arte Popular, eu acho que é uma das manifestações mais puras, mais verdadeiras de uma raça, de uma nação que guarda todas as suas características. Então a Arte Popular é a mais, digamos, permanente, Por-que o folclore, a dança folclórica modifica. Ela hoje já não é o que era há 15 anos atrás, entendeu? E vai modificando aos poucos a influência da música folclórica. Mas o folclore, a Arte Popular, que chamam Folk Lore, a Arte Povo ... é Arte Povo, eu acho, porque ela permanece. Ela pode permanecer a vida toda, por centenas de anos, não é? E eu acho que ela não sofre influência de nenhuma cultura.

, 'Porque a Arte

Popular, eu acho que é

uma das manifestaçõesfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

.

.

mars

puras,

mais

ver-dadeiras de uma raça,

de uma nação que

guarda todas as suas

características. "

É uma cultura pura. Éa verdadeira, digamos, documentação de um setor daquela região que ele guarda sem nenhuma influência de nenhum pro-fessor. Então a Arte Popular é assim. Ela pode ser .. (pensativa) Realmen-te, eu acho que ela é uma arte que eu dou o maior valor. Eu acho mais - importante, eu vou lhe dizer com muita sinceridade: é mais importan-te o artista popular que um artista erudito. Porque um artista erudito é esse que passa por Escola de Belas Artes, que viaja muito, que viajou o mundo todo. Isso e aquilo outro. Que viu muita coisa. Tá certo que isso daí tudo enriquece culturalmente a pes-soa, mas não desperta aquela força criativa, aquela verdade que ele tem. Ele não vai buscar a inspiração dele, r digamos, nas Artes que ele vê na Europa. Ele fica aqui, o artista popu-lar brasileiro. Ele guarda uma verdade da sua região e eu acho isso muito importante.

E n tr e v is ta - -O q u e a s e n h o r a te m a o fe r e c e r e m te r m o s d e A r te P o p u la r ? O n d e é q u e s e lo c a liz a m o s p o n to s d e e fe r v e s c ê n c ia a r tís tic a ?

Heloísa Juaçaba -- Eu acho o Ceará interessantíssimo porque ele é tão rico na Arte Popular, tão rico que, por exemplo, na área de Sobral (inte-rior do Estado): na área de Sobral tem muitas palmeiras. Tem uma pal-meiraque dá um fioqueéumcadarço, direitinho um cadarço, e eles fazem esses chapéus tão perfeitos, como o chapéu do Panamá que você vê na Itália, depois de aprender anos e anos a fazer aquele trançado. Eles fazem aquilo na maior perfeição que vai daqui de Sobral d ir e tim pra Itália. E lá eles usam como se fosse um cha-péu italiano e ninguém, poucas pessoas notam. Poucos artistas, só os verdadeiros mestres, aqueles que vão atrás daquela maneira do trançado, da qualidade que é o do cipó ... enten-deu? Então é que vai. E tem cestarias, né? E muita coisa bonita que eles fazem, fazem até cortina de cipó. Fazem objetos utilitários, muita coi-sa bonita, muita cestaria linda ... E já o lado de Juazeiro (Juazeiro do Nor-te, no interior do Ceará) é riquíssimo porque eles fazem também muita Arte Popular de barro, e de madeira também eu já vi. Tem muito artista bom. Por exemplo, o principal deles foi o Mestre Noza, né? O Mestre Noza foi o mestre dos mestres -- eu tenho até um Mestre Noza aí -- e o Mestre Noza foi quem começou em Juazeiro, no começo do século - que ele morreu há uns oito anos. Ele começou a fazer o Padre Cícero (lí-der religioso e político da região Sul do Ceará, com influência em outros estados nordestinos durante as déca-das de 10 a 30) em madeira, sabe? E todos os outros que estavam ali, ao redor dele, aqueles menininhos, aque-les artistas pequenos, que eles nem sabem que têm essas tendências, né? Mas quando vêem um fazer então eles vão imitar-e descobrem toda a sua arte ali, né? Então eles começa-vam a fazer. Hoje são centenas de garotos que fazem o Padre Cícero Romão Batista, especialmente na época da festa, e que ganham dinhei-ro por muito tempo fazendo o Padre Cícero de madeira, né? Eles mesmos fazendo os instrumentos. Pegam um canivete velho, uma faca velha e eles mesmo fazem, fazem, fazem o pró-prio instrumento de trabalho porque eles não têm condições de comprar, né? E então eles fazem isso.

E n tr e v is ta - - M a s is s o é té c n ic a o u é a r te ?

Heloísa Juaçaba -- Eles fazerem isso?

U m a d e s u a s m a io re s d e -c e p ç õ e s fo i n ã o te r p o d

id o le v a r p a ra s e u a p a rta -m e n to u -m a s a n ta e s c u l-p id a e m m a d e ira . d e q u a s e q u a tro m e tro s d e a ltu ra .

• • •

• •

• •

• O u a n d ofo ra m lig a d o s p a ra o in í-o s g ra v a d o re s c io d a e n tre v is ta . H e lo ís a ís e a ís ís u ís to u e q u iís ís a -b e r s e n ã o te ría m o s q u e c o m b in a r a s p e rg u n ta s a n te n o rm e n te .

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• • •

• V a id o s a . H e lo ís a J u a ç a -b a e s ta v a v e s tid a ele-g a n te m e n te e m a -q u ia d a . a p e s a r d e e s ta r e m s u a p ró p ria c a s a .

(6)

F a la n d o p a u s a d a m e n te . p ro c u ra n d o s e le m b ra r d e n o m e s e d a ta s . H e lo -ís a c o n v e rs o u c o n o s c o c o m o s e já n o s c o n h e -c e s s e h á m u ito te m p o .

H e lo ís a J u a ç a b a n a s c e u n a s e rra d e G u a ra m í-ra n g a . q u e s e rv iria m a is

ta rd e d e fo n te d e in s p ira -

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

ção p a ra s u a a rte

A n te s d e in ic ia r-s e n a s a rte s . H e lo ís a c o n c lu i o s e s tu d o s n a E s c o la N o r-m a l J u s tin ia n o d e S e rp a e re c e b e o d ip lo m a d e p ro fe s s o ra p n m á ria .

4 8

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H e lo ís a J u a ç a b a E n tr e v is ta

E n tr e v is ta - - É .

Heloísa Juaçaba -- Eu acho uma arte maravilhosa! Eles fazem por exemplo aquelas garrafas todinhas ...

É porque eu não tenho tempo de mostrarpra vocês, mas eu tenho umas coisas guardadas ... Por exemplo, nas moringas (garrafão de barro para água) ... Você sabe o que é uma moringa? Sabe como é que elas fa-zem depois de pronta a moringa? Elas põem espiga de milho. Porque depois que a gente come milho, não fica a espiga? Então a espiga de milho elas guardam bem essa espiga de milho. Eu perguntava pra que era. "Ah, Dona Heloísa, é pra fazer o amassamento. " ESse amassamento é o amassamento -- ninguém entende esse nome, né? -- é o "alisamento" , que elas não sabem dizer, do barro úmido quando ele tá querendo ficar enxuto. Então elas passam e ela fica assim entre lisa e rugosa, um pouquinho. Mas nem uma coisa nem outra. Éesse "alisamento" que elas chamam, sabe? E então fazem com espiga de milho. Quer dizer, tudo é um aproveitamento de tudo que exis-te, não é?

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E n tr e v is tain te r e s s e d a s e n h o r a p o r e x e m p lo ,- - D o n a H e lo ís a , e e s s e

e s s e s e u tr a b a lh o m a is r e c e n te : R e -le v o s , n ã oéis s o ? A s e n h o r a u tiliz a e x a ta m e n te e s s e m a te r ia l. ..

Heloísa Juaçaba -- Pois é. Eu utilizo esse material. ..

• •

E n tr e v is ta - - ...p u n h o s d e r e d e e tu d o . M a s e s s e in te r e s s e d a s e n h o r a p e la C u ltu r a P o p u la r e p e la A r te P o p u la r ... n o ta d a m e n te o s e u tr a b a -lh o d e a r tis ta p lá s tic a e r u d ita , e le c h e g o u a g o r a ? O u já éd e b a s ta n te te m p o q u e a s e n h o r a ...

Heloísa Juaçaba -- Não. É de bas-tante tempo. Olhe, basta lhe dizer que quando eu fundei a Casa de Cultura Raimundo Cela, em 1967, eu tinha, sabe, 1300 peças de Arte Popular na minha casa. Eu tinha um atelier grande, porque eu morava numa casa muito grande, e então eu tinha 1300 peças. Não só daqui. Eu tinha do Rio Grande do Norte. Tinha do Recife (PE), que era o Vitalino, né? O Vitalino era um pintor que ficou famoso ... Ele fazia um touro belíssimo e ele ficou famoso mais por esse touro. Ele fazia todas as ati vidades que uma comunidade pode ter. Por exemplo, dentista, lavadei-ra, todos esses temas do cotidiano da vida comum do interior. .. Eles fazi-am aquilo em barro e o Vitalino se especializou em touro porque ele dava um forma muito forte, muito bonita. E então os Condé, os irmãos Condé que eram pernambucanos, mas mo-•

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ravam no Rio de Janeiro, levavam aqueles touros pro Rio de Janeiro e, por amor de Deus (entusiasmada) os intelectuais, os escritores, todo mun-do dava nota 10 e comprava, os meninos vendendo... Fizeram foi muito dinheiro com esse touro do Vitalino. Muito mesmo. E digo com sinceridade ... eram os irmãos Condé do Recife. E então eles fizeram lá uma escola, como aqui tem a escola do Padre Cícero, lá é a mesma coisa. O Vitalino está para a Arte Popular do Recife como o Mestre Noza aqui para a Arte Popular do Juazeiro. Por-que ele foi Por-que começou.

E n tr e v is ta - - E n tã o p a r e c e q u e a s e n h o r a v ia ja m u ito p e lo in te r io r ...

Heloísa Juaçaba - Viajo. Viajornui-to. Eu não perdi essa ... Hoje eu tô mais parada um pouco. A gente fica meio preguiçosa, né? Mas ... então nessa época, depois de um ano do governo doCésar,já mais pro fim, do meio pro fim do ano ... porque eu me

"O Artesanato

Popu-lar... a informação é

adquirida, é aprendida.

E a Arte Popular

pro-priamente dita não se

ensina. "

dava muito com o CésarCals, ele me ouvia demais e era até meu contra-parente porque o tio dele era casado com minha irmã, Norma Diogo. Ele é César CaIs Diogo, Diogo CaIs, né? Aquele que era filho do doutor César CaIs que foi fundador da Maternida-de César CaIs, foi o pai Maternida-dele. E então eu disse: "Olha, César, o seguinte: eu vou lhe propor. .. Eu quero fazer um Museu de Arte Popular aqui no Ceará. Eu lhe dou todo o acervo desse museu e você me dá as condi-ções pra eu realizar acervo." Ele disse assim: "Como, Dona Heloí-sa?" Eu digo: "Você me dá uma sala, uma sala conveniente, porque construir, eu sei que não pode --porque foi numa fase lá difícil->, mas aqui tem muita sala, tem muita casa que eu posso procurar. " E então ele. tinha feito a EMCETUR (atualmen-te Centro de Turismo), e um dia eu visitando a EMCETUR com ele --porque eu fui uma das que ajudou

muito na EMCETUR, sabe? Dei

muita orientação lá. E então eu disse assim ... E vou lhe dizer outra coisa

também: o César CaIs foi a pessoa que aproveitou a cadeia pública pri-meira no Brasil pra fazer um museu ou então transformar num ambiente de artesões. Que ali tudo é artesana-to, né? Tudo é artesanato. Você vê que tudo, todos ali fazem ou é blusa, ou bordado, ou isso, aquilo e aquilo outro. Isso tudo é uma beleza. Eu acho essa manifestação artística ... tem um valor extraordinário. Porque sem aprender, sem nada ... tem aque-les pontos de cruz, tem aqueaque-les pontos que eu não sei nem dizer o nome dos pontos todos porque essa área não era minha propriamente, né? E o César disse assim: "Mas realmente, Heloísa, é uma maravilha ... Vamos transformar a cadeia." E então sei que ele, em pouco tempo, em dois meses o César tinha resolvido e já não tinha mais um preso dentro da-quela cadeia. Em dois meses. Aí começou a reforma, as reformas, e eu disse: "César, isso daqui é que dava um Museu de Arte Popular, a parte de cima " Porque era um salão enorme Disse: "Dona Heloísa, pois então fica tudo completo. Porque fica a Arte Popular de artistas mesmo, de artigos em barro, manuais, e fica então o artesanato." (pausa) Que é mesmo ... Tem um pouco de diferen-ça entre Arte Popular e o Artesanato Popular. Porque o Artesanato Popu-lar -- é muito importante vocês guardarem isso. O Artesanato Popu-lar... a informação é adquirida, é aprendida. E a Arte Popular propria-mente dita não se ensina. Écomo um grande artista, um grande pintor, né? Como o Aldemir Martins. Ninguém ensinou o Aldemir Martins a pintar e é um grande pintor. E então o artista, a Arte Popular propriamente dita é pura. Ela nasce sem nenhuma influ-ência, sem ninguém ensinar, sem ninguém dar, assim, nada. E veja, tem outra diferença: a Arte Popular, sendo ela feita em madeira ...É uma das caracteristicas dela, por exem-plo, é madeira, barro, são as principais, e até em pedra também, em osso, fazem Arte Popular em osso. Ela é muito mais ...

E n tr e v is ta - - A u tê n tic a ?

(7)

fes-H e lo ís a J u a ç a b a

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

, festas de cunho religioso, e eles am também os ex-votos, que eu ho da maior nobreza e da maior idade e da maior importância rque eles guardam aquilo. Eu vou ostrar a vocês. Eu tenho muita coi-guardada. Eu vou buscar ali pra ocês verem (ri) ou então nós vamos no meu atelier ou então depois eu ostro. Vocês me pedem e eu mos-tro, senão me esqueço.

E n tr e v is ta - - E q u a n to a o m u s e u , a s e n h o r a d o o u 8 0 0 p e ç a s . F o i is s o ?

Heloísa Juaçaba -- Dei mais de 800 peças. Fomos a Juazeiro eu, o Henrique Barroso e o... quem foi mais? O Félix (Tarcísio Félix). E nós fomos e compramos lá mais alguma oisa que eu não tinha e fizemos o museu mais lindo do mundo. Ele ainda permanece lá. Ele permanece lá. Um crítico de Arte do Rio de Janeiro esteve aqui e disse assim (pensativa): "Puxa, dentro do

Cea-rá, esse museu é o museu da

verdade. " Ele disse isso. Eu achei isso muito bonito, muito importante.

E n tr e v is ta - - M a s a lé m d is s o a s e -n h o r a p r e te n d e ta m b é m c o n s tr u ir u m o u tr o m u s e u , n é ? F o r m a r u m o u tr o m u s e u .

E n tr e v is ta - -É o s e u s o n h o , a s u a p a ix ã o .

Heloísa Juaçaba --

fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É ...(risonha) Eu tenho planos, né? De fazer um

porque eu teria condições de fazer.. agora como é dificil aparecer um segundoCésar Cais no Ceará! (ri) Eu ponho minhas dúvidas nesse meu sonho. Porque, o César, o que eu dizia, era um dogma. Eu nunca via. Era uma coisa assim maravilhosa. O que devia ser feito ele fazia porque acreditava. Agora não. Agora, por exemplo, a Secretaria de Cultura (Secretaria da Cultura e Desporto do Estado do Ceará) acabou simples-mente com a organização das Artes Plásticas no Ceará. Porque o César Cais tinha me dado o Palácio da Luz (antiga sede do Governo Estadual, abriga atualmente a Academia Cearense de Letras) permanentemen-te pra Casa de Cultura Raimundo Cela. E quando a Violeta Arrais (ex-secretária, entre 1987 e 1990) teve aí, as pessoas, os escritores que esta-vam velhinhos e não podiam subir aquela escada que hoje é o museu ... (Museu do Ceará) então eles insisti-ram porque ... Aí eu saí porque ela não me chamou, ela não gostava de ninguém que tivesse sido do governo passado, entendeu? Do César CaIs. Ela não gostava. Quer dizer, ela que-ria uma coisa toda dela. Partisse dela. Não tinha aproveitamento. O que é um erro muito grande na política é

porque uma coisa boa que se começa, não é... Eu vou só citar aqui duas coisas que deviam permanecer no Ceará e que infelizmente desapare-ceram porque os governos não têm capacidade, ou têm inveja de manter o que o governo passado fez. Por exemplo, o César, ele fazia assim: a Feira dos Municípios. Hoje existe a Feira dos Municípios? Eles traziam tudo. Traziam da rapadura, do filé, do bordado, do labirinto. Traziam tudo que se fazia de artesanato, de comida típica ... tudo se tinha nessas feiras, por três dias. Tudo. Tudo. Era a coisa mais linda. Não sei se vocês foram. Pois bem. Aquilo ali era um museu vivo. Aquilo era um museu vivo pra informação! E toda a cidade de Fortaleza freqüentava aquela F ei-ra dos Municípios! E todo mundo comprava! Era mel de abelha verda-deiro, não era aqui essas coisas que se compra em supermercado, que tudo é falso, esse negócio todo. En-tão tudo ... Pois bem. Acabaram. A EXANOR, que era a Exposição de

Num mês

desfize-ram a Casa Raimundo

Cela. Agora aonde

botaram os quadros?

(. ..) jogados aqui,

outros acolá porque

não tinha um local pra

guardar. "

,,

Artesanato do Nordeste, também aca-baram. Por quê? Com inveja! Porque era uma criação fabulosa e não podia desaparecer e desapareceu. (inconformada) É isso aí que faz pena. Éo espírito político de alguns políticos, né, porque alguns se sal-vam como o Ciro (Ciro Ferreira Gomes, atual Governador do Esta-do), que é realmente fora de série, não é? É tão fora de série que é conhecido pelo Brasil inteiro. E en-tão é isso aí que eu digo: tudo se acaba porque não tem a permanên-cia. Por exemplo, nas feiras populares que o César fazia, quando vinham as feiras do interior todas juntas, o que eu não tinha no museu eu dizia: "César, essa peça é importante pro museu e nós não temos essa peça, dessa região, aqui. " Imediatamente ele reservava: "César Cais de Oli-veira" . Quando era com uma semana eu tava recebendo lá no museu.

En-tão são essas coisas assim que a gente não espera que chegue o se-gundo. (ri)

E n tr e v is ta - A tu a lm e n te a s e n h o r a a c h a q u e a s A r te s P lá s tic a s v ê m s e n d o n e g lig e n c ia d a s p o r e s s a p o lí-tic a ?

Heloísa Juaçaba -- Acho que sim. O anterior ... (pensati va) como é o nome dele? (se referindo ao Secretário de Cultura) Paulo Linhares é o atual. O Augusto (Augusto Pontes). Apesar d'eu achar o Augusto inteligentíssi-mo, ele acabou com a Casa de Cultura Raimundo Cela. Simplesmente o Cláudio Martins (ex-presidente da Academia Cearense de Letras) é um homem que tem muita influência porque ele tem muitas funções, é intelectual, poeta, irmão do Antônio Martins Filho, que fundou a univer-sidade (ex-reitor da UFe), essas coisas todas ... O Cláudio pediu e o doutor Martins então pediu ao gover-nador, o antigo que era o Tasso (Tasso Jereissati), né? E então disse: "Tas-so ... tudo ... vamos?". E eu só sei que

num mês desfizeram a Casa

Raimundo Cela. Agora aonde bota-ram os quadros? Botabota-ram os quadros jogados aqui, outros acolá porque não tinha um local pra guardar esses quadros. Quadros preciosíssimos! Preciosos. Então tá hoje tudo as-sim ... sabe como é? Eu acho que o artista, todo artista, a gente se sente assim sem um lugar, sabe? Pra ver... Você não vê. Você não pode. Não tem nem Museu de Arte.

E n tr e v is ta - -Os e u s o n h o s e r ia c o n s -tr u ir u m lu g a r c o m o e s s e ? O n d e p u d e s s e c o lo c a r ta n to a s s u a s o b r a s c o m o o u tr a s ? A s e n h o r a in c lu s iv e a d q u ir iu u m a ja n g a d a , n ã o to i is s o ?

Heloísa Juaçaba -- Ah, foi. Des-manchei uma jangada inteira, como ela não subia (lá no prédio da antiga Emcetur), né? (risos) Não tinha jane-la que subisse! (risos) Desmanchei a jangada todinha com dois jangadei-ros, né? E ela subiu peça por peça. Eles armaram lá. Eu fiz um estrado de madeira com dez centímetros de areia do mar e botei a jangada linda como ela é ...

E n tr e v is ta - - E n tã o e s s a ja n g a d a tá e m a lg u m lu g a r ?

Heloísa Juaçaba -- Já está lá. Ainda está.

E n tr e v is ta

É

a ja n g a d a d a

E M C E T U R , n é ? .

Heloísa Juaçaba -- Pois é. Da EMCETUR. Agora ...

E n tr e v is ta - - E n tã o a s e n h o r a p r e -te n d e r ia le v a r ...

• •

o

p rim e iro c o n ta to d e H e lo ís a J u a ç a b a c o m a s a rte s sed e u através d a m ú s ic a . O d o m d e dese-n h a r fo i d e s c o b e rto p o r u m a p ro fe s s o ra d o p ri-m á rio . q u e a p e d iu p a ra d e s e n h a r u m m a p a ..

• • • •

• •

• • • • •

• OH a ro ld om a rid o .Juaçaba.m é d ic ofo i q u e m mais in c e n tiv o u H e lo ís a a in g re s s a r n a s Artes P lá s tic a s . •

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• • • • • •

• • •

C o s tu m a v ae n q u a n to e s p e ra v a p o rd e s e n h a r H a ro ld o q u e . c o m o m é -d ic o . m o tin h a h o rá rio p re v is to . A té h o je . espe-ra e d e s e n h a . •

49

(8)

Nu m a d e s s a s ocasiões, H a ro ld o v iu u m d e s e u s d e s e n h o s e , s u rp re s o c o rn s e u ta le n to , s u g e riu q u e e la fiz e s s e u m c u rs o p a ra a p rim o ra r o d o m

N o d ia s e g u in te , s u rp re -e n d -e u a e s p o s a c o m u m a p ra n c h e ta , c a v a le -te , tin ta s , te la s .. u m a te lie r c o m p le to !

M ã e c o ru ja , H e lo is a fa la c o m m u ito c a rin h o e a d -m ira ç ã o d e s e u s filh o s , e n tre eleso m é d ic o S é r-g io , q u e m o ra e m s u a a n tig a c a s a .

50

fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

H e lo ís a J u a ç a b a E n tr e v is ta

• •

•xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAHeloísa Juaçaba -- Levar? Ah, eu levava tudo. Levava tudo. Porque

ali ... vou dizer uma coisa. Sobre os ex-votos, que eu acho de valor extra-ordinário, porque eles exprimem, são os expressionistas na escultura, en-tendeu? Porque eles transmitem na peça, na escultura, a doença que eles imaginam que têm, né? Então eles desenham o coração, ou uma doença no ouvido, botam uma inchação, bo-tam urna coisa... Então eles transmitem o que eles imaginam que sentem, né? O que acha que sentem. Tem muita coisa interessante. São muito autênticos. Muito verdadei-ros.

• • • • •

• •

E n tr e v is ta - - D o n a H e lo ís a , a s e

-n h o r a ta v a fa la n d o a í a r e s p e ito d e s s a q u e s tã o d a C u ltu r a P o p u la r , d a A r te P o p u la r . L a m e n to u a e x tin ç ã o d a E X A N O R , a q u e s tã o d a sfeiras d o m u n ic íp io s , q u e é d e ix a d a p r a tr á s .. , E o R o s e m b e r g C a r ir i, c in e a s ta c e a r e n s e , e le fe z u m a e n tr e v is ta n o p r im e ir o n ú m e r o d a r e v is ta e e le fa lo u m u ito s o b r e e s s a q u e s tã o d a a r te e d a c u ltu r a p o p u la r n o C e a r á . N u m a p a s s a g e m d a e n tr e v is ta e le le m b r o u q u e o m e s tr e C h ic o d o C e -d r o , d a b a n d a C a b a ç a I,m o r r e u d e fo m e .

Heloísa Juaçaba -- Meu Deus.

• •

E n tr e v is ta - - O Z é G a g o , u m d o s m a io r e s m e s tr e s d o p o v o , m o r r e u d e fo m e . A d o n a C íc e r a d o B a r r o C r u , q u e te m o b r a s n a E u r o p a , n o M u s e u d o L o u v r e , m o r r e u d e fo m e . E e le p e r g u n to u e n tã o : " Q u e s o c ie d a d e é e s s a ? " Oq u e a s e n h o r a a c h a ? Q u e s o c ie d a d e é e s s a q u e d e ix a a C u ltu r a P o p u la r , a A r te P o p u la r m o r r e r d e fo m e ?

Heloísa Juaçaba -- Pois é. (pensati-va) É gravíssimo. Aí entra uma questão política também porque o museu daqui ... Quer dizer nós só podemos fazer um museu ... um mu-seu particular é dificil, a não ser que seja assim um colecionador particu-lar, entendeu? Porque um museu propriamente não tem aqui. Urna coisa estranha... Eu esqueci o teu nome.

• • • •

• •

E n tr e v is ta - - R o n a ld o .

Heloísa Juaçaba - Ronaldo. Pois sim, Ronaldo, é urna coisa estranha, por exemplo, os políticos não dão valor às-pessoas aqui que têm grande entendimento, e que têm grande ca-pacidade e valor, pra orientação artística. Por exemplo, pramim, uma das pessoas, um dos artistas mais inteligentes daqui, tanto ele é bom pintor, corno ele escreve bem, e é um grande entendedor, é o Roberto Galvão. Simplesmente o secretário

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tirou da Secretaria de Cultura, o Roberto Galvão. Então isso é uma demonstração de quê? Eu acho que afastam os valores do Estado, enten-deu? Porque ele precisava ter uma informação, porque ele não tem a informação das pessoas, e esses se-cretários não ouvem a opinião de outras pessoas, né? Porque eu acho que um cargo desses precisava ter um especialista. É como por exemplo, você organiza uma Casa de Saúde, né? Você bota no setor de Cirurgia Cardíaca quem? Um clínico? Não pode, né? Você tem que botar um cardiologista. Então, cada um na sua especialidade. Então a Secretaria de Cultura, a pessoa que entendia mais de Arte, pra dar informação, e pra poder divulgar a Arte do Ceará, era o Roberto Galvão. Éuma coisa horro-rosa. E entraram outras pessoas que eu não conheço, não é que eu diga que eu precise conhecer todo mundo aí inteligente que entende de Arte, porque eu sei que tá continuando aí. ..

, ,A primeira pessoa

que ajudou os

cancero-sos no Ceará foi dona

Maria José Weyne.

Dona Maria José

Weyne era a mulher do

prefeito Álvaro

Weyne".

E ele está agora fazendo, por orienta-ção de um rapaz chamado ... é o Solon (Solon Ribeiro). O Solon ocupou o lugar do Roberto Galvão. Étambém pintor. Ele tá levando a Arte para o interior. Que eu tinha feito isso já. No tempo do César eu levava. Eu levava até no meu carro, que não tinha camionete, não sei o quê. Então ago-ra ele arrumou uma camionete, vai o Solon, vai um outro pintor e ele vai levando... me pediu três quadros. Pediu três quadros de uns quinze pintores daqui. E então fez um rotei-ro e tá fazendo uma excursão da Secretaria de Cultura no Ceará intei-ro.

E n tr e v is ta - - E s ta ç ã o d a s A r te s .

Heloísa Juaçaba --Éa Estação das. Artes. A Estação das Artes. Eles

ago-ra estavam exatamente lá em

Camocim (interior do Estado), mas já tinham passado por Sobra!... E daí vão até Juazeiro e vem pelo outro lado até chegar aqui. Então ele tá

fazendo isso que é alguma coisa pra despertar porque é uma coisa incrí-vel. .. Quando eu levava as Artes aos bairros da seguinte maneira: eu dizia bem ... corno é que eu vou confiar --de qualquer maneira um artista não quer ver o seu quadro, mesmo que não seja wna obra prima, estragado, não é isso? E eu tinha muito cuidado com isso, eu dava muito valor a qualquer criação - e então eu falava com a diretora dos grupos escolares. Eu fazia isso e era uma coisa obriga-tória, porque, na hora dos recreios, os meninos todos se interessavam pela exposição e iam olhar. Quer dizer, eu tinha um público garantido, né? Do que uma coisa assim, vaga ... A Estação das Artes não ... porque a Estação das Artes tá acontecendo isso lá, porque tem lá um artista formado pelo Raimundo Cela. É

Tarcísio Félix. E ele ensina lá Arte e dá uma orientação ... Corno eu acho que o Félix era muito ... eu tinha muita afinidade com ele, ele dava uma orientação muito boa. E ele disse assim: "Dona Heloísa, eu que-ro que a senhora venha aqui, em Camocim, pra ver os artistas que tem. Corno eles captam, corno eles desenham, corno eles criam ... " E é muito importante isso. Então ele está por lá e tá fazendo um bem muito grande. Mas as crianças são tão des-pertadas quando eu levava os quadros. No dia que eu terminava --que eu passava geralmente urna se-mana - e o Félix ficava dando as explicações. E então os meninos per-guntavam e ele disse assim ... Eu vou servir uma coca-colazinha a vocês que vocês tão com sede! Margarida! (Chama a empregada) Ah.. meu Deus do céu ...

E n tr e v is ta - - ( r is o s ) N ã o . N ã o p r e c i-s a i-s e in c o m o d a r n ã o .

Heloísa Juaçaba - E então ...Oque era que eu tava dizendo a vocês? (Pausa) Era ...

E n tr e v is ta - - D o n a H e lo ís a , a g e n te s a b e q u e s e u m a r id o te v e g r a n d e im -p o r tâ n c ia n o s e u d e s p e r ta r a r tís tic o ,

n é ? E fo i e le ta m b é m q u e m a c a b o u le v a n d o a s e n h o r a a a ju d a r a s v íti-m a s d e c â n c e r d e íti-m a íti-m a n o I n s titu to d e C â n c e r d o C e a r á , q u e e le p r e s id e ,

n é ? OI n s titu to d o C â n c e r ?

Heloísa Juaçaba - É .Ele é o presi-dente.

E n tr e v is ta - - C o m o é q u e a s e n h o r a d e s e n v o lv e e s s e tr a b a lh o ?

É

u m tr a -b a lh o d e a n g a r ia r fu n d o s o u é u m tr a b a lh o d e u s a r a A r te c o m o te r a p ia d o s p a c ie n te s ?

(9)

E n tr e v is ta H e lo ís a J u a ç a b a

E n tr e v is ta A s e n h o r a p o d ia c o -m e ç a r p o r d e s d e q u a n d o o d o u to r H a r o ld o c h a m o u a s e n h o r a , e le a p r e s e n to u o p r o b le m a p r a s e n h o r a e a s e n h o r a c o m e ç o u a s e in te r e s s a r

p e lo tr a b a lh o .

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Heloísa Juaçaba - Sim. Mas aí, amor, foi um pouquinho antes. An-tes. A primeira pessoa que ajudou os cancerosos no Ceará foi dona Maria José Weyne. Dona Maria José Weyne era a mulher do prefeito Álvaro Weyne, né?Não sei se vocês se lembram dele. São crianças, não foram da época do Álvaro Weyne, mas o Álvaro Weyne foi um ótimo prefeito. Então - eu acho que ela tinha perdido a mãe com câncer -só tinha aqui de hospital que tratava do câncer a Santa Casa de Misericór-dia, sabe? E então o Haroldo trabalhava na Santa Casa porque todos os médicos que trabalham lá, eles operam de graça. Sempre. To-dos. E então, ele disse assim: "Heloísa, a dona Maria José tá can-sada e eu achava que você podia ajudar a dona Maria José. E então eu e outras senhoras de médicos, nós nos reunimos e fomos na casa da dona Maria José e ela ficou maravi-lhada e achou uma beleza como era que a gente tinha tido essa idéia, isso aquilo e aquilo outro. E nós começamos a ajudar a dona Maria José Weyne. Então, a gente fazia umas festinhas, essas coisas assim. Aquelas senhoras que jogavam, que eu não sei jogar baralho de jeito nenhum, mas elas tinham um bara-lho, não sei que, que sobrava um dinheirinho e a gente ia juntando, aí comprava ... Num mês comprava dez lençóis, no outro mês dez travessei-ros, depois remédios e camisolas, roupagens assim. Essas coisas to-das, a gente ia fazendo isso. E isso eu fiz uns ... nós trabalhamos pra Santa Casa de Misericórdia uns oi to anos, certo? Tudo o que nós angari-ávamos, nós dávamos à dona Maria José e ela mesma que comprava e dava para a enfermaria. Essa enfer-maria foi dada à Santa Casa pelo

Fernando Pinto. Fernando de

Alencar Pinto. Então não tinham os aparelhos para tratar dos cancero-sos, entendeu? Porque são coisas muito especiais. E ele deu condi-ções aos médicos pra mandar comprar esse aparelhos e tipo de raio-X, raio infravennelho, raio ... essas coisas todas, pra poder dar à Santa Casa para a enfermaria do câncer. E então, quer dizer, eu tra-balho com câncer há muito tempo. Então, quando foi ... o Haroldo era muito amigo do Waldemar. E o Waldemar Alcântara era muito p0-lítico e vivia fora. Foi deputado, foi

senador. Foi senador, não. Foi depu-tado Federal. Foi deputado aqui, foi deputado fora (foi também governa-dor do Estado em 1978). E ele disse assim: "Não, Haroldo, você é a pes-soa. Meu maior amigo. Você tem que ficar me substituindo. Enquanto eu saio, você me substitui no Instituto do Câncer, né? Você é meu vice-presi-dente." Aí quando foi um dia o Haroldo assumiu e ficou. Quando ele tomou pé e viu que a situação era gravíssima, ele então realmente ... Eu acho assim o Haroldo extraordinário. Porque ele tem muito valor. Porque ele fez muita coisa pela Medicina no Ceará. Além do próprio valor pessoal dele, sabe? Então ele conseguiu com amigos, com entidades, com não sei o quê, os aparelhos mais caros. Vocês não podem imaginar o quanto custa um aparelho de câncer, sabe? Têm megaton 12, bombadecobalto,cobalto 14, mas é tanta coisa de profundo,

sabe? De Um perigo muito grande,

fedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

,

,

Essas pessoas que

vinham do interior para

onde era que iam? Se já

eram paupérrimas, né?

( ...) Não sabiam, às

vezes, o sobrenome."

sabe? Inclusive a bomba de cobalto, porque entra até esse negócio de atô-mico, bomba atômica.

E n tr e v is ta - - R a d ia ç ã o ?

Heloísa Juaçaba -- Radiação. E radi-ação é um perigo. Então o Haroldo conseguiu essas máquinas todas com auxílio do doutor Waldemar, com a importância dele como político lá ... Só sei que ele equipou, equipou um lado do terreno todinho para justa-mente a maquinaria todinha de tratamento do câncer. Bem, aqui ti-nha só uma casiti-nha, viu? (indica num papel) Tô contando a vocês a história todinha, como é que é. Não sei se tá interessando ...

E n tr e v is ta - N ã o , é in te r e s s a n te .

Heloísa Juaçaba - E então ele equi-pou tudo e depois operava as pacientes no Hospital de Cirurgias.

E n tr e v is ta - N o I C C ?

Heloísa Juaçaba - Não. Fica vizinho ao Hospital do Câncer, mas pertence a Universidade Federal do Ceará, sabe? Porque tem muito intercâmbio

entre a Universidade Federal e o instituto. E então ele disse assim: "Olha, Heloísa, eu só falto me aca-bar de pena porque, por exemplo, uma cirurgia que nós passamos seis, sete horas fazendo essa cirurgia nes-sas pessoas, nesses indigentes -- ele só opera indigente lá na Faculdade de Medicina, que ele é professor de Técnica Cirúrgica. E então ele disse que via aquelas pessoas... Quando chegava no quinto dia a pessoa tinha que abandonar a casa, porque tinham outras pessoas pra serem operadas, né? Então, essas pessoas que vinham do interior para onde era que iam? Se já eram paupérrimas, né?

Absoluta-mente indigentes. Não sabiam, às vezes, o sobrenome. Então, o Haroldo ficou preocupadíssimo, porque elas ficavam .. saíam ... Não sabe aquela ponte que passa assim por ali perto da ...

E n tr e v is ta - - J o ã o P e s s o a ?

Heloísa Juaçaba -- Dali da Materni-dade Escola, né? Por ali assim.

E n tr e v is ta - - S e i.

Heloísa Juaçaba -- Pois bem, saía de uma cirurgia, quer dizer, da mais alta delicadeza, e ficava sentada ali comendo o que davam. Quer dizer, sem higiene, sem nada. Você imagi-na ... Aí eu fui olhar um dia. Quase fico louca. (Ri nervoso) Fiquei lou-ca! Eu digo: "Haroldo, pelo amor de Deus, não é possível. Então nós va-mos fazer o seguinte: perto do instituto ainda tem muita casinha -- baixinha. Aí eu aluguei logo seis casinhas pra botar essas pessoas que eu vi sair de lá pra poder ter um conforto. Uma

redinha, um banheiro e um

fogãozinho pra poder Botar uma pessoa, uma mocinha Isso tudo de graça, né? Era só ... porque todo mun-do que trabalha com câncer é ...

E n tr e v is ta - - V o lu n tá r io .

Heloísa Juaçaba - É voluntário. Aí as mocinhas todinhas disseram assim: "Não, dona Heloísa, não tem impor-tância não. Nós vamos fazer... Eu cuido dessa casa, essa outra cuida dessa, dessa ... " E assim ficou. E fica-mos, melhoramos a situação perigosa. Quando eles estavam bem, nós dáva-mos a passagem de volta pro interior.

E n tr e v is ta F o i a í e n tã o q u e a s e -n h o r a c o m e ç o u a s e e n v o lv e r p r o fu n d a m e n te c o m is s o ?

Heloísa Juaçaba - Foi. Profunda-mente com isso. Foi. Antes eu trabalhava ...

E n tr e v is ta - - B o ta r a m a s e n h o r a p r a p r e s id e n te d o C o n s e lh o F e m in in o . C o m oé is s o ?

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s a m e n te o tra b a lh oH e lo is a d iz a d m ira r im e n -d o m a rid o . p e lo e x e m p lo d e v id a . é tic a e p a ix ã o p e la c a rre ira .

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S u a s e n s ib ilid a d e a g u -ç a d a a le v o u a o tra b a lh o c o m o s d o e n te s d e c â n -c e r. P o r is s o c o n c e n tra e s fo rç o s n o c a rg o d e p re s id e n te d a R e d e F e m iru n a d o In s titu to d o C â n -c e r d o C e a rá .

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A F o rta le z a d e s u a ju -v e n tu d e fo i s a c u d id a p e la s n o v a s a s p ira ç õ e s n o c a m p o d a s a rte s . D a í s u rg e a (S C A P ).d a q u a l p a rtic ip a v a a tu a n te .

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