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12 de janeiro de 2021

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Processo 1939/15.4T8CSC.L1.S1 Data do documento 12 de janeiro de 2021 Relator José Rainho

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Cláusula penal > Interpretação da declaração negocial > Teoria da impressão do destinatário > Direito à indemnização > Cumprimento

SUMÁRIO

I - Por cláusula penal entende-se a estipulação em que alguma das partes se obriga perante a outra, antecipadamente a realizar certa prestação para o caso de vir a não cumprir (ou cumprir retardadamente, ou cumprir de forma imperfeita) a prestação principal a que se vinculou.

II - Pese embora os arts. 810.º a 812.º do CC conotarem a cláusula penal com uma função puramente ressarcitória (compensatória ou moratória), nada se encontra definitivamente na lei que impeça as partes, no exercício da sua liberdade contratual, de criarem uma cláusula com uma outra função, como seja (i) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma pena ou sanção (cláusula penal compulsória) e que acresce à execução específica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento, ou (ii) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma obrigação de substituição da execução específica da prestação ou da indemnização pelo não cumprimento, valendo essa obrigação de substituição como a forma de satisfação do interesse do credor.

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seria considerado por uma pessoa normalmente diligente, sagaz e experiente em face dos termos da declaração e de todas as circunstâncias situadas dentro do horizonte concreto do declaratário, isto é, em face daquilo que o concreto destinatário da declaração conhecia.

IV - (i) Se a letra da cláusula é expressa ao qualificar como quantia indemnizatória a prestação pecuniária devida em caso de incumprimento do contrato; (ii) se o escopo subjacente à vontade de contratar se logra alcançar através dessa quantia; (iii) se a quantia determinada na estipulação coincide normalmente com o valor do dano expectável, (iv) então é de interpretar a declaração negocial no sentido de se estar perante uma cláusula penal com função meramente indemnizatória (fixação do montante da indemnização exigível), e não perante uma pena destinada a pressionar ao cumprimento.

TEXTO INTEGRAL

Processo n.º 1939/15.4T8CSC.L1.S1

Revista

Tribunal recorrido: Tribunal da Relação de Lisboa

+

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça (6ª Secção):

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AA e mulher BB demandaram, pelo tribunal judicial de … e em autos de ação

declarativa com processo na forma comum, Sipo Inversions, S.L. e CC, peticionando a condenação solidária destes no pagamento:

a) Ao Autor, da quantia de € 444.741,00, acrescida de juros de mora à taxa legal em vigor desde 02.04.2013 até efetivo e integral pagamento, os quais, com referência a 15.05.2015, foram liquidados em € 69.394,83;

b) À Autora, da quantia de € 338.171,00, acrescida de juros de mora à taxa legal em vigor desde 02.04.2013 até efetivo e integral pagamento, os quais, com referência a 15.05.2015, foram liquidados em € 52.766,26;

Mais pediram a condenação da 1.ª Ré no pagamento a cada um dos Autores da quantia de € 30.000,00 a título de danos não patrimoniais.

Alegaram para o efeito, em síntese, que em 2 de Outubro de 2012, no contexto de negócio que envolveu cessão de quota na sociedade Adi Química, Lda. que fizeram à Ré e da renúncia do Autor à gerência, os Autores celebraram um contrato com a 1.ª Ré mediante o qual esta assumiu a obrigação de os libertar, no prazo de 6 meses sobre a data da assinatura do contrato, de obrigações bancárias/financeiras (aval/fiança) que impendessem sobre os Autores.

Uma vez decorridos esses 6 meses sem que a 1ª Ré tivesse libertado os Autores dessas obrigações bancárias/financeiras, assistiria aos Autores o direito de receberem da 1ª Ré e/ou do 2º Réu, que se constituiu fiador e principal pagador, quantia igual ao montante de que os Autores, decorridos tais 6 meses, continuassem sem estar desobrigados.

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A desoneração integral de todas e quaisquer responsabilidades bancárias/financeiras dos Autores no referido prazo de 6 meses foi condição essencial para a realização do negócio entre as partes.

Sucede que em 30.04.2013, mais de 6 meses volvidos sobre a assinatura do contrato, os Autores continuavam vinculados a garantias (aval/fiança) financeiras/bancárias, as quais ascendiam, quanto ao Autor, a 444.741,00 €, e, quanto à Autora, a 338.171,00 €, de sorte que a Ré não cumpriu a obrigação de os desonerar, pelo menos até novembro de 2014.

Esta situação foi, ademais, causa de danos não patrimoniais para os Autores, a compensar mediante a indemnização de pelo menos 30.000,00€ a cada um deles.

Contestaram os Réus, concluindo pela improcedência da ação.

Disseram, em síntese, que a libertação das garantias estava dependente da vontade das entidades garantidas.

O escritório de advogados encarregado de proceder ao registo da cessão da quota e da renúncia à gerência, só logrou realizar o registo em 6 de dezembro de 2012, o que foi impeditivo da regularização da representação da sociedade perante terceiros.

Todas as diligências junto dos Bancos tendentes à libertação dos Autores foram feitas de imediato e de forma zelosa.

O espírito do estipulado quanto ao direito ao recebimento de quantia indemnizatória de valor idêntico às obrigações por desonerar era o de permitir

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aos Autores liquidar a obrigação garantida.

Concluído o processo difícil e complexo de desoneração, foram libertadas todas as garantias assumidas pelos Autores, e, na data em que a última se extinguiu, extinguiu-se também o direito dos Autores a reclamarem dos Réus qualquer indemnização, estando a obrigação de desoneração das garantias cumprida.

Mais deduziram reconvenção, a título subsidiário, invocando o enriquecimento sem causa dos Autores e pedindo a restituição desse enriquecimento.

Seguindo o processo seus termos, veio, a final, a ser proferida sentença que julgou improcedente a ação e decidiu não conhecer do pedido reconvencional.

Inconformados com o assim decidido na parte que lhes era desfavorável, apelaram os Autores.

Mais fizeram juntar ao processo dois pareceres jurídicos, um da autoria do Senhor Professor Doutor João Calvão da Silva e outro da autoria da Senhora Professora Doutora Ana Isabel Afonso.

A apelação não teve êxito, pois que a Relação de Lisboa, sem fundamentação essencialmente diferente e sem voto de vencido, confirmou a sentença.

Mantendo-se inconformados, pediram os Autores revista.

Fizeram juntar à sua alegação um parecer jurídico, da autoria do Senhor Professor Doutor António Pinto Monteiro, em cujas conclusões se louvam.

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subsidiariamente interposto como revista excecional, foram os autos à competente formação, que admitiu o recurso assim interposto.

Cumpre, pois, conhecer do seu objeto.

+

São as seguintes as conclusões que os Autores extraem da sua alegação (suprimem-se as conclusões 2ª a 7ª, que se reportam à questão da admissibilidade, quer ordinária quer excecional, da revista):

1. O presente recurso vem interposto do acórdão, na parte em que lhes foi desfavorável porquanto entendem, com a devida vénia, que o acórdão incorreu em erro de julgamento e violação de lei.

8. Para determinar com que sentido devem valer as declarações negociais importa recorrer aos artigos 236º e 238º do Código Civil (CC) e que nos termos do artigo 236º, nº 1 e 2 do CC, o sentido decisivo da declaração negocial é aquele que seria apreendido por um declaratário normal, e essa normalidade do declaratário exprime-se não só na capacidade para entender o texto ou o conteúdo da declaração, mas também na diligência para recolher todos os elementos que, coadjuvando a declaração, auxiliem a descoberta da vontade real do declarante.

9. O acórdão recorrido violou o disposto nos artigos 236º e 238º do CC, uma vez que a interpretação que faz da declaração negocial não considerou todos os elementos que, coadjuvando a declaração, auxiliem a descoberta da vontade real do declarante.

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10. O teor da cláusula 6.9 do contrato é: “Decorridos 6 meses da data da assinatura do presente contrato e caso AA e BB ainda não estejam integralmente desonerados da totalidade das obrigações bancárias por si assumidas têm direito a receber da SIPO Inversions, SL uma quantia indemnizatória de valor idêntico à totalidade das obrigações bancárias por si assumidas e de que ainda não se encontrem desobrigados.”

11. Na celebração do contrato foi essencial para os ora Recorrentes garantir que a Recorrida os libertava de todas as responsabilidades bancárias.

12. Dependia exclusivamente da vontade da Recorrida SIPO o cumprimento da obrigação de desonerar os Recorrentes no referido prazo de 6 meses, mas a Recorrida SIPO não cumpriu a sua obrigação de assegurar que os Recorrentes estavam integralmente desonerados e desobrigados no referido prazo de 6 meses.

13. A circunstância de o Recorrente marido já não ser dono, nem gerente e saber que a Recorrida tinha na mão um instrumento de pressão e chantagem que eram as dívidas financeiras, explica e ajuda a compreender a forma cuidadosa como o Recorrente foi interpelando os Recorridos para pagarem.

14. É absurdo entender que com a cláusula em causa as partes pretendiam uma indemnização igual ao valor do incumprimento. E ainda porque com tal entendimento, não era necessária qualquer cláusula penal especial.

15. A simples obrigação assumida pelos Recorridos de desonerarem num determinado prazo e o seu incumprimento aliado a um putativo acionamento por parte dos bancos já era bastante para assegurar aos Recorrentes e à luz do direito, o direito ao ressarcimento.

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16. Aquela cláusula 6.9 não tinha outra função que não fosse a de forçar – compelir - penalizar os Recorridos, por decorrido aquele período não libertarem os Recorrentes de tais grilhetas. A sua função é exclusivamente a de pressionar o devedor ao cumprimento pela ameaça de cominação de uma elevada sanção.

17. É manifestamente errado entender esta modalidade de cláusula, como uma cláusula penal que visa reparar o dano sofrido pelo credor com o incumprimento.

18. A cláusula 6.9 é uma cláusula penal compulsória, o que se alcança, pela interpretação do contrato e pela via da tarefa hermenêutica de fixar o sentido e alcance das declarações proferidas pelos contraentes, ou seja, interpretando o contrato e a cláusula 6.9 no contexto em causa.

19. A cláusula em causa também revela a intenção de compelir o devedor ao cumprimento (ou ao mais perfeito cumprimento) porque da cláusula resulta a intenção de «cumular» o cumprimento da obrigação com o pagamento de uma pena, então a cláusula só pode ser compulsória.

20. Neste sentido veja-se:

- o clausulado contratual e respectivos considerandos;

- o douto Parecer da autoria da Professora Doutora Ana Afonso, que acompanhamos, quanto ao disposto nos artigos 236º, 238º, 405º, 798º do Código Civil junto a fls.,

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1985, ano 45, vol I e Ferrer Correia e Henrique Mesquita em anotação ao Acórdão e fls. 129 e seg. e respectivo Parecer do Senhor Doutor Antunes Varela – fls. 159 e segs. - Ac. STJ de 27 de Setembro de 2011, in RLJ, Ano 141º, Janeiro/Fevereiro de 2012, nº 3972, pág. 177 e segs. com anotação do Professor Doutor António Pinto Monteiro.

21. Na tarefa da interpretação da vontade negocial é importante fazer essa interpretação no contexto mais amplo do próprio contrato e a inserção de expressões como «indemnização» ou «indemnizatória» por si só não compromete a função e natureza compulsória da cláusula penal.

22. E também a questão da correspondência entre a pena e os prejuízos previsíveis não tem peso interpretativo determinante para se poder concluir que as partes quiseram convencionar uma cláusula penal indemnizatória.

23. Não se provando o sentido da vontade real do declarante aplica-se a regra da 1.ª parte do art. 236.º, n.º 1;

24. A fixação do sentido e alcance da cláusula 6.9 do contrato de cessão de quotas não pode fazer-se isoladamente, nem apenas circunscrita aos elementos que o acórdão recorrido considerou. Tem de apurar-se o seu significado dentro do complexo negocial como um todo.

25. A forma que os Recorrentes e Recorridos encontraram para evitar a morosidade no cumprimento daquela obrigação, foi a de convencionarem uma consequência sancionatória prevista na cláusula 6.9: com efeito, se seis meses depois da celebração do contrato, o cedente e sua mulher (Recorrentes) não estivessem integralmente desobrigados de qualquer responsabilidade (como veio a suceder), então tinham e têm o direito a receber da Recorrida SIPO e do

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Recorrido CC uma quantia de valor idêntico à totalidade das obrigações bancárias por si assumidas e de que a essa data ainda não se encontrassem desobrigados.

26. O objectivo da cláusula (6.9) é claríssimo: pressionar o devedor ao cumprimento da obrigação no tempo certo, pela ameaça de cominação de uma sanção. (é o que resulta para um qualquer destinatário normal, seja da leitura da própria cláusula 6.9, seja do contrato, seja dos considerandos e respectivo enquadramento).

27. Não faz sentido que se interprete essa cláusula como uma forma alternativa de cumprimento, já que nesse caso, não advinha para os Recorrentes qualquer vantagem em se prever uma forma alternativa de cumprimento.

28. Os Recorrentes que tiverem todo o cuidado de expressamente referir no contrato que era essencial e determinante para a vontade de contratar que no final de 6 meses estivessem desonerados, segundo a tese do acórdão recorrido, para garantirem o cumprimento desse aspecto tão essencial e central do acordo, em vez de terem previsto a cláusula 6.9 como uma cláusula penal sancionatória/compulsória, previram uma forma alternativa de cumprimento.

29. Não faz qualquer sentido ter outro entendimento que não seja o de se está perante uma cláusula penal compulsória. Para essa cláusula não é relevante se mais tarde a situação é resolvida, pois, o elemento do tipo normativo está preenchido assim que decorram os ditos 6 meses ou seja; desonerou em 6 meses, não há qualquer cominação, desonerou depois dos 6 meses, tem uma cominação, porque se quis assegurar o cumprimento dessa obrigação nesse prazo de 6 meses. Só assim, se podia ter garantido o interesse reconhecido como essencial do credor (Recorrentes) de evitar um adiamento sucessivo da

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obrigação de os desonerar das garantias referidas.

30. A função desta cláusula é compulsória e não de fixação antecipada da indemnização. O prejuízo de os Recorrentes serem chamados a responder pelas obrigações garantidas já estava acautelado nas cláusulas 6.2 e 6.6 em que o devedor (Recorrido) se obrigou a reembolsar o credor (Recorrentes) de quaisquer quantias cujo pagamento lhes viesse a ser exigido,

31. As partes estabelecerem uma cláusula alternativa ao cumprimento seria redundante e inútil. Decorre da própria natureza jurídica dos avales/fianças, à luz do artigo 32º e 77º da Lei Uniforme das Letras e Livranças que os Recorrentes teriam direito de regresso sobre o devedor principal e co-avalistas.

32. Não pode haver, para um destinatário normal outro entendimento que não seja, em face de tudo isto que, o sentido, alcance e natureza da cláusula 6.9 é o de um típica cláusula cominatória que prevê uma cominação/sanção pelo facto de os Recorrentes não estarem integralmente desobrigados decorrido o prazo de 6 meses assumido contratualmente.

33. Por se estar perante uma cláusula de compulsória, não resta dúvida de que o cumprimento tardio da obrigação não exclui a possibilidade de se exigir o pagamento da pena, já que o ilícito que se quis sancionar foi o atraso no cumprimento e não o incumprimento definitivo.

34. Em face de matéria de facto provada e atenta a natureza, sentido e alcance da cláusula 6.9., errou o Tribunal “a quo” no douto Acórdão recorrido, pois, ao contrário do que decidiu, impõe-se a condenação dos Recorridos a pagarem a cada um dos Recorrentes o montante da sanção contratualmente prevista, ou seja, os Réus/Recorridos tinham de ter sido condenados a pagar 238.290,00€ ao

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Recorrente AA e 238.290,00€ à Recorrente BB.

35. Foram violados os artigos 236º, 238º, 239º, 810º e 811º do Código Civil.

+

Os Réus contra-alegaram, concluindo pela improcedência do recurso.

+

Colhidos os vistos, cumpre apreciar e decidir.

+

II - ÂMBITO DO RECURSO

Importa ter presentes as seguintes coordenadas:

- O teor das conclusões define o âmbito do conhecimento do tribunal ad quem, sem prejuízo para as questões de oficioso conhecimento, posto que ainda não decididas;

- Há que conhecer de questões, e não das razões ou argumentos que às questões subjazam;

- Os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do ato recorrido.

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São questões a conhecer:

- Saber se a estipulação constante do ponto 9 da cláusula sexta do contrato de 2 de outubro de 2012 representa uma cláusula penal com função exclusivamente coercitiva;

- Saber, em função desse resultado, se a ação deve proceder;

- Decidir, ainda em função desse mesmo resultado, se procedem as questões suscitadas pelos Réus na sua contra-alegação.

+

III - FUNDAMENTAÇÃO

De facto

Estão provados e não provados os factos seguintes, após as modificações que o tribunal recorrido fez operar na matéria de facto:

Provados

1. A sociedade Adi Química, Lda., foi constituída em 28.06.2007 tendo como sócios a Ré Sipo Inversions, SL, com 90% do capital, e o R. CC, com 10%.

2. Em 09.06.2008 o capital foi distribuído por forma a que o A. AA passasse a ter 40% do capital social, a Ré Sipo reduziu para 40% e os sócios DD e EE com 10% cada um.

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3. Em 29.12.2011 a sociedade passou a ser detida em partes iguais entre a Ré Sipo e o A. AA, até que este cedeu a sua quota à Ré sociedade e renunciou à gerência (factos registados respetivamente em 11/12/2012 e 05/12/2012), continuando embora como diretor-geral da mesma.

4. Autores, Réus e outros, a 2 de Outubro de 2012, celebraram o contrato junto a fls. 9v e ss., cujo teor aqui se dá por reproduzido, designadamente:

“Considerando que:

f) É essencial para a vontade de contratar de PG e o mesmo faz depender a sua vontade de contratar e realizar o presente negócio, da verificação das seguintes condições:

1. Recebimento da totalidade do preço (€250.000,00), nas datas e condições infra estipuladas;

2. A desoneração e libertação no prazo de 6 meses de PG e RG de todas e quaisquer responsabilidades e assunção pela SP de todas e quaisquer responsabilidades e obrigações assumidas por PG e/ou RG e/ou que lhe possam ser imputadas enquanto sócio e/ou gerente da Adi Química Portugal, Lda.,

Adinstrumentos, Spotachem, designadamente, todas c quaisquer

responsabilidades fiscais, financeiras e/ou bancárias.

3. A obrigação de SP assumir todas e quaisquer garantias que PG e/ou RG tenha assumido pessoalmente e/ou como sócio/gerente, obrigando- se SP a libertar PG e RG de todas as garantias que assumiu pessoalmente ou enquanto sócio e/ou gerente da A……. ou A……., incluindo as assumidas junto de instituições

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financeiras/bancárias.

1. Celebração de contrato de trabalho sem termo entre Adi Química Portugal, Lda. e AA nas condições constantes do contrato de trabalho em anexo. Assim é ajustado e reciprocamente aceite o presente acordo, que as partes subordinam às cláusulas seguintes:

Cláusula 1ª

1. No âmbito do presente contrato AA cede onerosamente a Sipo Inversions, S.L:

a) Uma quota titulada em nome de AA na sociedade Adi Química Portugal, Lda., no valor nomina de £ 77.500,00, a Sipo Inversions,

b) Uma quota na sociedade SIPO - Comércio de Produtos Químicos, Lda., a qual tem o valor nominal de £ 2.500,00.

(...)

Cláusula 2ª

1. No âmbito do presente acordo a Sipo Inversions, S.L. confessa-se devedora a AA da quantia global de € 250.000,00.

2. Sipo Inversions, S.L procederá ao pagamento da quantia acima referida (€250.000,00) a AA, por transferência bancária para o NIB … e em quatro prestações

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(...)

Cláusula 3ª

1. Relativamente à quantia de €25.000,00 que a Adinstrumentos emprestou sem juros a AA, a Adinstrumentos, Sipo Inversions, S.L e AA acordam que AA apenas terá que pagar aquela quantia de € 25.000.00 à Adinstrumentos em 30 de Outubro de 2013 e apenas no caso de a Sipo Inversions S.L ter dado integral cumprimento ao presente acordo.(...)

Cláusula 4ª

AA renuncia à gerência na Adi Química Lda. e na A………., havendo ainda renuncia à gerência na Spotachem, Lda. (anexos).

Cláusula 5ª

A Adi Química Lda. celebra nesta data contrato de trabalho sem termo com AA nos termos e condições constantes do contrato de trabalho que se anexa.

Cláusula 6ª

(...)

2. Excluindo eventuais responsabilidades fiscais/tributárias passada, Sipo Inversions, SL obriga-se a desonerar AA de quaisquer outras responsabilidades passadas presentes e/ou futuras, que lhes possam ser exigidas enquanto gerente e/ou sócio da A……., A…….., S………. e assumem as responsabilidades e obrigam-se a pagar todas e quaisquer quantias que venham a ser exigidas a

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AA e sua esposa BB e que possam advir de obrigações/garantias assumidas em favor da A……, A………., S……...

(...)

4. A Sipo Inversions assume para si a totalidade das obrigações e responsabilidades bancárias/financeiras da sociedade, passadas, presentes e/ou futuras e obriga- se a desonerar integralmente o sócio AA e sua esposa BB de todas as obrigações, responsabilidades bancárias/financeiras passadas, presentes e/ou futuras, decorrentes da atividade da Adi Química, Lda. e/ou que tenham assumido com a Adi Química Portugal ou em beneficio desta, incluindo expressamente as que constam do documento anexo.

(...)

6. A Sipo Inversions, SL obriga-se a assegurar, no prazo de seis meses a contar da data da celebração do presente contrato, que AA e/ou de sua esposa BB estarão integralmente desonerados e desobrigados de todas as garantias e obrigações bancárias incluindo as que constam do documento em anexo.

7. A Sipo Inversions, SL abriga-se a pagar e/ou reembolsar, qualquer quantia que venha a se exigida a AA e/ou a sua esposa BB, decorrente das obrigações por estes assumidas em favor da A……, incluindo as que constam do documento em anexo.

8. Sipo Inversions, SL e CC prestam a garantia em favor de AA e de sua esposa BB, a qual se manterá em vigor até que estes últimos estejam integralmente desonerados das obrigações bancárias por eles assumidas em favor da Adi Química Portugal Lda.

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9. Decorridos 6 meses da data da assinatura do presente contrato e caso AA e BB ainda não estejam integralmente desonerados da totalidade das obrigações bancárias por si assumidas têm direito a receber de Sipo Inversions, SL uma quantia indemnizatória de valor idêntico à totalidade das obrigações bancárias por si assumidas e de que ainda não se encontrem desobrigados. ”

Cláusula 7ª

D. CC constitui-se fiador e principal pagador das obrigações e quantias aqui assumidas por Sipo Inversions, SL renunciando desde já e expressamente ao benefício da excussão prévia. ”

5. Em virtude do acordo junto a fls. 14, celebrado em 02/10/2012, ficou o A. AA como diretor geral da Adi Química, com uma remuneração mensal fixa de € 5.790,00, além de uma percentagem “em função e sobre o crescimento da margem bruta da divisão “Coatings, Adhesique e Construction Chemicals do Grupo ADI'', subsídio de alimentação de € 8,5/dia, além de outras regalias.

6. Em 30.04.2013 os Autores continuavam como avalistas/fiadores, de financiamentos e responsabilidades bancárias/financeiras da Adi Química Portugal, Lda. a saber:

a) junto do Banco Popular Portugal, S.A, num crédito em conta corrente da Adi Química Portugal, Lda., no valor de 71.025,00€ (setenta e um mil e vinte cinco euros);

b) junto do Banco Popular Portugal, S.A, num financiamento à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 14.102,00€ (catorze mil, cento e dois euros);

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c) junto do Banco Popular Portugal, S.A., num financiamento à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 64.990,00€ (sessenta e quatro mil, novecentos e noventa euros);

d) junto do Banco Popular Portugal, S.A., num financiamento à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 15.840,006 (quinze mil, oitocentos e quarenta euros);

e) junto do Banco Popular Portugal, S.A., num financiamento à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 37.678,006 (trinta e sete mil, seiscentos e setenta e oito euros).

f) junto do Banco Popular Portugal, S.A., num leasing mobiliário à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 19.936,006; (dezanove mil, novecentos e trinta e seis euros)

7. Em 30.04.2013 o Autor continuava como avalista/fiador, num leasing mobiliário concedido pelo Credibom, SA. à Adi Química Portugal, Lda., no valor de 14.719,00€ (catorze mil, setecentos e dezanove euros).

8. Relativamente ao credor BES, a qualidade do A. como garante da Adi Química, Portugal, Lda., cessou em 06.12.2012.

9. Em 30.04.2013 os Autores continuavam como avalistas/fiadores, num crédito em conta corrente da Adi Química Portugal, Lda., no valor de 114.600,00€ (cento e catorze mi I e seiscentos euros) junto do Banco BPI, S.A.;

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mencionado no item 7 supra ocorreu em 02/04/2014.

12. O processo de libertação dos avales junto do Banco Popular foi levado a cabo com o conhecimento e a colaboração do A. marido.

13. O início do contacto com o Banco Popular dependeu do prévio registo da renúncia à gerência do A. marido, e alteração da forma de obrigar a sociedade, regularizando-se assim a representação da sociedade, e, ainda para justificar a razão da alteração da garantia prestada pelo avalista que residia no facto de ter cedido a sua quota e ter renunciado à gerência.

14. Tal só ocorreu no fim do ano de 2012 e o Banco Popular exigiu os balanços desse ano, pelo que em 17.01.2013 foi-lhe enviada a certidão permanente com a nova gerência registada, balanços e a reiteração do pedido de levantamento dos avales dos AA.

15. Na sequência de tal envio foram dadas instruções pelo Banco Popular à Adi Química, Portugal, Lda., para que a empresa modificasse os intervenientes na banca eletrónica, com a assinatura de formulários pela nova gerência, que foram enviados em 25.02.2013.

16. Depois de muitas insistências com o Banco Popular, em 13.06.2013, este Banco deu autorização para substituir os avales prestados pelos AA, mas não mencionou os leasings.

17. Em 02.07.2013 a Adi Química Portugal, Lda. remeteu ao Banco Popular o mail de fls. 108, cujo teor aqui se dá por reproduzido.

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concretamente apurada, mas posterior a 02/07/2013 e anterior a 05/09/2013, que não era possível ao Banco alterar os avales nos leasings.

19. Em 22.07.2013, o Banco Popular enviou carta aos AA pela qual informou que eles estavam exonerados da qualidade de avalistas em todos os contratos, exceto os de leasing.

20. Na mesma data o A. marido reencaminhou o e-mail do Banco Popular para o sócio da Ré sociedade, de nome FF, o R CC e a diretora financeira, Dra. GG, com a indicação “Fyi” (for your information), sem qualquer comentário.

21. Perante a manutenção dos avales dos AA. nos leasings, determinada pelo Banco Popular, a Adi Química, Portugal, Lda., decidiu liquidar os ditos contratos, decisão de que o A marido teve conhecimento e concordou.

22. Assim, em 05.09.2013 foi pedida pela Adi Química Portugal, Lda. a liquidação dos contratos de leasing no Banco Popular.

23. O seu pagamento e encerramento ocorreu em 18.10.2013.

24. Depois da celebração do acordo mencionando em 4 supra, em data não apurada, a Adi Química, Portugal, Lda., contactou o Credibom no sentido de ser alterado o aval prestado pelo A. marido à operação de leasing mobiliário destinada à aquisição de um veículo, pedindo ao Credibom que informasse o que seria necessário para substituir o aval.

25. O contacto com esta instituição foi efetuado por contactos telefónicos para “call center”, inexistindo qualquer contacto físico direto por inexistência de balcão.

(22)

26. Foram feitas várias insistências junto do Credibom.

27. Como em Outubro de 2013, não havia resposta alguma do Credibom, a Adi Química, através da sua responsável financeira Dra. GG, escreveu em 30.10.13 um e-mail ao dito banco insistindo com a libertação do aval do A. marido.

28. Por e-mail de 01.11.2013 a diretora de clientes do Banco Credibom (Dra. HH) respondeu que o Banco havia indeferido a pretensão de substituir o aval do A. marido, facto que lhe foi dado a conhecer.

29. Continuou a Dra. GG a insistir telefonicamente com o Credibom para obter a substituição do avalista e foi informada que o indeferimento se baseava no facto do avalista de substituição ser um não residente/estrangeiro.

30. A Dra. GG, em 13.03.2014, enviou e-mail ao Credibom solicitando a liquidação do contrato objeto do aval à data de 02.06.2014.

31. E-mail que recebeu, ainda assim, resposta negativa do Credibom em 14.03.2014 e cujo teor foi dado a conhecer ao A. marido, então Diretor-Geral da Adi Química Portugal, Lda.

32. Foram feitas insistências com o Credibom e, finalmente em 21.03.2014, este Banco escreveu à Adi Química indicando o valor a pagar para liquidar o leasing, tendo o valor de € 13.229,67 sido pago em 02.04.2014.

33. Todos os passos descritos, bem como outros referentes ao tratamento deste assunto com a Credibom foram dados a conhecer ao A. marido, então responsável máximo operacional da Adi Química Portugal, Lda.

(23)

34. O contrato de trabalho celebrado entre a Adi Química Portugal, Lda. e o A. cessou em 31.12.2014, tendo o A., na documentação da cessação de tal contrato de trabalho, declarado que a Adi Química, Lda. nada lhe devia.

35. O A., no exercício das suas funções tinha conhecimento da atividade comercial e administrativa da Adi Química, sendo que o único gerente após a renúncia do A. AA, o R. CC, residia habitualmente em ……..

36. O Dr. II, advogado, pessoa de confiança do A., foi encarregado de proceder ao registo da cedência das quotas bem como ao registo da renúncia à gerência do A. marido para se regularizar a representação da sociedade e permitir encetar todas as diligências necessárias ao cumprimento do acordo mencionado em 4 supra.

37. O referido advogado apenas concluiu o registo dos atos referidos em 05.12.2012, (renúncia à gerência) e 11.12.2012 (cessão de quotas).

38. As diligências com vista a eximir os AA. das garantias prestadas à Adi Química iniciaram-se com o envio de comunicações aos credores bancários logo após a celebração do contrato de 2.10.12.

39. Os atos de concretização necessários a tal fim apenas poderiam ser tratados após a regularização da representação societária concluída em 11.12.2012.

40. A Adi Química diligenciou pela obtenção desse objetivo, sempre com o conhecimento, acompanhamento e colaboração do A. marido, quer antes, quer após o decurso do prazo de seis meses após a celebração do contrato.

(24)

41. Tendo o A. marido acompanhado todas as iniciativas e diligências da Adi Química com cada um e todos os credores onde tais garantias haviam sido prestadas com vista a obter destes a anuência a libertar os AA. dessa obrigação, mesmo depois de decorrido o prazo de seis meses.

42. O A. enviou aos RR. os e-mails de fls. 29 e 31 alertando para pendência das garantias depois do prazo do contrato.

43. O A. marido sempre colaborou com a tarefa que cabia à Adi Química Portugal, Lda. e aos seus colaboradores de levantar os avales dos AA., mesmo depois de 2 de Abril de 2013.

44. Os AA. nunca foram interpelados por qualquer dos credores bancários onde haviam prestado garantias pessoais à Adi Química, Lda., para pagarem qualquer valor em substituição da sociedade garantida.

45. In albis

46. Em 30 de Outubro de 2013 o A marido pagou à Adinstrumentos o empréstimo de €25.000,00 referido na cláusula 3ª do acordo mencionado em 4 supra.

47. Entre 02.04.2013 até 02.04.2014 os AA. não interpelaram os RR. para que lhes pagassem a indemnização a que se refere o nº 9, da Cláusula 9ª do Contrato de Cedência de Quota.

(25)

49. Os AA. têm filhos menores a seu cargo.

50. Adquiriram a casa de morada de família mediante empréstimo bancário.

51. Os AA. manifestaram a familiares e amigos preocupação pela não libertação das garantias que haviam prestado após 30/04/2013.

52. O A. marido enviou os e-mails juntos a fls. 29 a 32, cujo teor aqui se dá por reproduzido.

53. O A. marido manifestou a sua satisfação por poder passar férias com a família após a cedência das quotas, tranquilamente e por período de três semanas, o que antes não fazia.

54. O contrato de 02.10.2012 foi minutado pelo advogado do A..

55. Com a presente ação os RR., sociedade com sede em Espanha e o cidadão de nacionalidade espanhola e residente em Barcelona, tiveram de se deslocar a Portugal, despendendo valores em viagens, estadia e constituição de mandatário, em montante não apurado.

Não provados

a) In albis

b) Em 30.04.2013 o Autor continuava como avalista/fiador, no crédito em conta corrente da Adi Química Portugal, Lda., no valor de € 91.851,00 (noventa e um

(26)

mil, oitocentos e cinquenta e um euros) junto do BES/Novo Banco;

c) A 1ª Ré manteve os Autores como garantes de obrigações bancárias/financeiras da Adi Química Portugal, Lda. pelo menos até Novembro de 2014 - provando-se, outrossim, o que consta dos itens 6 a 11 supra.

d) In albis

e) Os Autores vivem dos seus rendimentos, os quais são escassos e meramente os necessários a suportar os custos e despesas normais e correntes do agregado familiar.

f) A sujeição ao risco, à incerteza da exposição bancária por valores na ordem dos 700 mil euros e sempre acima de 200 mil euros, por quase 2 anos, levaram a que os AA., durante todo esse período e por esse motivo, tenham dormido mal, andado angustiados, irritados, e deprimidos - provando-se, outrossim, o que consta do item 51 supra.

g) Essa situação afetou a respectiva saúde física e mental, a vida do dia-a-dia do seu agregado familiar e do relacionamento dos Autores e deles para com os filhos e demais família e amigos.

h) Tanto o 1º Autor como a 2ª Autora, sempre foram pessoas alegres, dinâmicas, ativas e com uma vida social cheia e intensa, situação que mudou radical e significativamente, durante todo o período em que o 1º Autor e a 2ª Autora estiveram na incerteza e na expectativa que a 1ª Ré os desonerasse como se havia comprometido.

(27)

gerente referiu à empresa Adi Química que não era possível ao Banco alterar os avais nos leasings - provando-se, outrossim, o que consta do item 18 supra.

j) Em virtude de no fim de Julho de 2013 estar a decorrer o período de férias, seguindo indicações do gerente do Banco Popular, a liquidação dos leasings foi pedida no início de Setembro, pois antes não seria apreciada.

k) O Credibom, após os primeiros contatos respondeu que, em princípio, a retirada ou substituição do aval não seria possível, mas que iriam colher informações mais completas na administração e nos serviços jurídicos, facto dado a conhecer ao A. marido, que não viu qualquer inconveniente na resposta.

l) Em face da posição do Credibom mencionada no item 29 supra a Dra. GG propôs a substituição por avalista residente em Portugal, a Adi Center Portugal Unipessoal, Lda.

m) A Ré sociedade é uma empresa que tem de recorrer ao crédito e as referências a ações e litígios poderão constituir contingências e ameaças pendentes contra o valor do seu patrimônio de garantia aos credores, o que pode vir a revelar-se um sério impedimento para a obtenção de financiamentos e fornecimentos.

n) Os prejuízos dos RR. com a instauração da ação cifravam-se à data da contestação em 10.000,00€.

Mais foi considerado não provado (por iniciativa do acórdão recorrido) que:

- Relativamente ao BPI, SA. cessaram as garantias prestadas pelos AA. em 21.02.2013.10. A exoneração dos AA. como avalistas/fiadores relativamente às

(28)

operações mencionadas nas alíneas a) a e) do item 6 supra ocorreu em 22/07/2013 e no tocante à operação referida na alínea f) do mesmo item ocorreu em 18/10/2013.

- O A. manifestou ao R. CC por diversas vezes a sua aceitação da situação perante as diligências tomadas.

De direito

Sustentam os Autores que no ponto 9 da cláusula 6ª do acordo que celebraram com os Réus em 2 de outubro de 2012 foi estabelecida uma cláusula penal de caráter compulsório, sendo-lhe estranha qualquer finalidade indemnizatória. Daqui que seria devida a pena ali prevista, na certeza de que a libertação dos Autores das garantias ocorreu depois de transcorrido o prazo de seis meses fixado para tanto. Seriam assim devidas a cada um dos Autores as quantias a que aludem no presente recurso.

Discordamos totalmente do ponto de vista dos Autores.

Justificando:

Convencionou-se no dito ponto, na sequência da vinculação da Ré a desonerar os Autores de responsabilidades bancárias que sobre eles recaíssem, que “Decorridos 6 meses da data da assinatura do presente contrato e caso AA e BB ainda não estejam integralmente desonerados da totalidade obrigações bancárias por si assumidas têm direito a receber de Sipo Inversions, SL uma quantia indemnizatória de valor idêntico à totalidade das obrigações bancárias por si assumidas e de que ainda não se encontrem desobrigados”.

(29)

Esta estipulação pode ser qualificada, como aliás aceitam as partes, como cláusula penal. Efetivamente, de acordo com entendimento comum, por cláusula penal entende-se a estipulação em que alguma das partes se obriga perante a outra, antecipadamente (no fundo trata-se de uma espécie de promessa), a realizar certa prestação para o caso de vir a não cumprir (ou cumprir retardadamente, ou cumprir de forma imperfeita) a prestação principal a que se vinculou. É o caso.

E pese embora os art.s 810.º a 812.º do CCivil conotarem a cláusula penal com uma função puramente ressarcitória (compensatória ou moratória), nada se encontra definitivamente na lei que impeça as partes (no exercício da sua liberdade contratual, assegurada pelo n.º 1 do art. 405.º do CCivil) de criarem uma cláusula (a que se pode continuar a chamar, e até com mais propriedade, cláusula penal) com uma outra função, como seja (i) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma pena ou sanção (cláusula penal compulsória) e que acresce à execução específica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento, ou (ii) a de compelir ao cumprimento através da fixação de uma obrigação de substituição da execução específica da prestação ou da indemnização pelo não cumprimento, valendo essa obrigação de substituição como a forma de satisfação do interesse do credor[1].

Isto posto:

Mota Pinto (Teoria Geral do Direito Civil, 3ª ed. Actualizada, pp. 447 e seguintes), depois de observar que a doutrina da impressão do destinatário consagrada na lei (art. 236.º, n.º 1 do CCivil) é a mais razoável e justa, por ser a que dá tutela plena à legítima confiança daquele em face de quem é emitida a declaração, esclarece que releva o sentido que seria considerado por uma pessoa normalmente diligente, sagaz e experiente em face dos termos da

(30)

declaração e de todas as circunstâncias situadas dentro do horizonte concreto do declaratário, isto é, em face daquilo que o concreto destinatário da declaração conhecia (sendo que para que tal sentido possa relevar torna-se necessário que seja possível a sua imputação ao declarante, isto é, que este pudesse razoavelmente contar com ele).

Serão dessa forma atendíveis, prossegue Mota Pinto, todos os coeficientes ou elementos que um declaratário medianamente instruído, diligente e sagaz, na posição do declaratário efetivo, teria tomado em conta (tais como os termos do negócio, a finalidade prosseguida pelo declarante, as negociações prévias, os hábitos de linguagem ou outros do declarante, os usos da prática em matéria terminológica, os modos de conduta por que, posteriormente, se prestou observância ao negócio concluído.

Isto está, aliás, em linha com o que referem os próprios Recorrentes na conclusão 8ª: “Para determinar com que sentido devem valer as declarações negociais importa recorrer aos artigos 236º e 238º do Código Civil (CC) e que nos termos do artigo 236º, nº 1 e 2 do CC, o sentido decisivo da declaração negocial é aquele que seria apreendido por um declaratário normal, e essa normalidade do declaratário exprime-se não só na capacidade para entender o texto ou o conteúdo da declaração, mas também na diligência para recolher todos os elementos que, coadjuvando a declaração, auxiliem a descoberta da vontade real do declarante.”

Mas é precisamente por tudo isto assim dever ser, que resulta que a interpretação da estipulação em presença não comporta o sentido que os Autores lhe querem ver atribuído.

(31)

poderia ser levado a representar a declaração em questão como dirigida a estabelecer uma pena para além da indemnização por incumprimento da obrigação principal.

Pelo contrário, seria levado a representar a declaração como uma mera fixação antecipada da indemnização.

a) Desde logo, porque a letra da cláusula é expressa ao qualificar como “quantia indemnizatória” a prestação devida em caso de a desoneração não ter sido concretizada dentro dos seis meses subsequentes à data da celebração do contrato. Se tivermos em conta que, como está provado, o contrato foi minutado por advogado (mais propriamente, pelo advogado do próprio Autor), não podemos senão concluir que do que se tratou foi de fixar a indemnização exigível para o caso de não cumprimento, e nada mais que isto.

É que indemnizar significa tão-somente tornar indemne ou repor a situação anterior à lesão (efeito subsequente), e não coagir ao cumprimento (finalidade antecedente).

Debalde se procurará no contrato (e seus considerandos) ou na demais matéria de facto provada qualquer sinal que induza um declaratário normal a representar que se buscou introduzir uma sanção (pena sancionatória, multa, punição ou algo do género) tendente a pressionar ao cumprimento pontual.

b) Depois porque é esse efeito indemnizatório, e não qualquer efeito sancionatório, compulsório ou coercitivo, que um declaratário normal admitiria estar em linha com a essencialidade subjacente à vontade de contratar do Autor, que está centrada na ideia de ele e a mulher não terem de responder às suas custas por certas obrigações que assumiram.

(32)

Esse escopo tanto se cumpriria com a desoneração e libertação dos Autores tal como visado em primeira linha, como com a entrega aos Autores de meios pecuniários sucedâneos que lhes permitissem alcançar o propósito subjacente à contratação.

Esta última situação em nada prejudica a natureza estritamente indemnizatória da cláusula, pois do que se trata sempre é de tornar indemnes os Autores face ao prejuízo que lhes pudesse advir.

c) Ainda, estamos perante uma quantia indemnizatória de “valor idêntico à totalidade das obrigações bancárias por si assumidas e de que ainda não se encontrem desobrigados”. Isto significa, aos olhos de qualquer declaratário normal, que se pretendeu fazer coincidir o valor a pagar com o valor do dano expectável.

Ora, esta coincidência é compatível com a ideia de que se visou regular sobre a reparação compensatória do dano (o que se faz precisamente através da indemnização tout court) mas não com a ideia de que se visou regular sobre penalidades a acrescer.

Observe-se, a propósito do que acaba de ser dito, que é da natureza comum da coerção ao cumprimento por via da cláusula penal que o efeito (a pena) estabelecido represente mais contra o devedor (isto é, que lhe seja mais onerosa) do que representaria o simples dever de indemnizar os danos previsíveis que sobre ele sempre recai, pois que de outra forma não é identificável qualquer efeito coercitivo. E essa maior onerosidade não é identificável no caso vertente.

(33)

Já, ao invés, a cláusula penal, ademais minutada por um jurista (como é o caso), que situa o montante da “pena” ao redor do valor do prejuízo expectável (como também é o caso) não está senão a dar um sinal de que se pretendeu estabelecer o montante da indemnização exigível, na certeza de que é para essa equiparação entre o dano e a indemnização que propende a lei (isto resulta do n.º 3 do art. 811.º do CCivil). É o que ocorre no caso vertente.

Conclusão: a cláusula em questão teria para um declaratário normal o sentido de simples fixação antecipada daquilo por que haviam os Réus de responder normalmente se não cumprissem o acordo estabelecido, sendo plenamente enquadrável no art. 810.º do CCivil.

Daqui que deve valer com tal sentido.

Mas a considerar que o que vem de ser dito não é válido, o mais que se poderia admitir era que cairíamos numa situação de dúvida quanto à função da cláusula em questão. Porém, a ser desse modo, então seria de entender, como entende Pinto Monteiro (Cláusula Penal e Indemnização, p. 668), que haveria que presumir tratar-se de uma simples fixação antecipada da indemnização, ou seja, da espécie de pena prevista e regulada no Código Civil.

Argumentam os Autores, todavia, que se terá de ver na cláusula em presença uma função exclusiva de compulsão ou pressão ao cumprimento, pois que de outra forma o seu efeito seria redundante, inútil e carecido de sentido. Este é, em síntese, o cerne da sua tese.

Mas, segundo bem nos parece, trata-se de argumentação que não impressiona minimamente.

(34)

Isto pelo seguinte:

A cláusula define que passa a caber aos Autores o direito ao recebimento de uma quantia indemnizatória (logo, trata-se de reparar o dano advindo), e isto não pode ter outro significado (outra interpretação) senão: (i) que tal quantia se tornou firme no seu quantum (tornou-se indiscutível o dano e o seu apuramento), e (ii) que essa quantia seria devida desde logo (exigível imediatamente), libertando os Autores, por isso, de uma prévia conversão de mora em incumprimento definitivo.

Nesta medida, tem-se por óbvio que, sem que tal represente onerosidade relevante para a parte contrária, se está perante uma estipulação sempre vantajosa para os Autores quando comparada com a ausência dela, de sorte que nunca seria inútil e carecida de sentido.

Acresce repetir que a circunstância do montante da indemnização fixada propender para o montante indemnizatório que os Autores sempre poderiam vir a exigir se a cláusula penal não existisse, não faz mais que confirmar a natureza puramente indemnizatória da estipulação em causa.

Termos em que improcedem as conclusões do recurso aí onde se sustenta o contrário do que vem de ser dito.

Aqui chegados, é de dizer como diz o acórdão recorrido, e passa-se a citar:

“Da factualidade apurada resulta que:

(35)

-os recorrentes não foram interpelados pelos garantidos (as entidades financeiras);

- até à propositura da presente acção não interpelaram a recorrida para proceder à desoneração;

Assim, atento o cumprimento voluntário, não podem os AA. vir reclamar o pagamento da quantia indemnizatória estipulada na referida cláusula.

Poderiam, eventualmente, reclamar danos patrimoniais- o que não fizeram.”

Donde, não se estando perante qualquer cláusula penal compulsória, nem se tendo verificado a situação para a qual a estipulação foi prevista (estarem por desonerar as responsabilidades dos Autores), resta concluir que os Autores não têm qualquer direito às quantias que pretendem receber dos Réus.

O que significa que o acórdão recorrido não é passível das censuras que os Autores lhe dirigem. Por isso terá de ser mantido, pese embora não se subscreva inteiramente a sua fundamentação jurídica no que se refere à caracterização da cláusula penal em presença.

Com o que improcede o recurso.

Improcedendo o recurso, fica prejudicado (art.s 608.º, n.º 2, 663.º, n.º 2 e 679.º do CPCivil) o conhecimento das questões suscitadas pelos Réus com respeito à redução equitativa da cláusula penal, ao exercício abusivo do direito por parte dos Autores e ao excesso (duplicação) de pedido.

(36)

Pelo exposto acordam os juízes neste Supremo Tribunal de Justiça em negar a revista.

Regime de custas:

Os Autores são condenados nas custas do presente recurso.

++

Lisboa, 12 de janeiro de 2021

José Rainho (Relator)

Graça Amaral

Henrique Araújo

+

Sumário (art.s 663.º, n.º 7 e 679.º do CPCivil)

(37)

[1] Neste sentido (no essencial), citem-se, com referência ao panorama doutrinário, Vaz Serra (Boletim do Ministério da Justiça, n.º 67, p. 188), Calvão da Silva, (Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, pp. 247 e seguintes), Galvão Telles (Direito das Obrigações, 7ª ed., pp. 447 e 448), Pinto Monteiro (Cláusulas Limitativas e de Exclusão de Responsabilidade Civil, pp. 137 e 138) e Almeida Costa (Direito das Obrigações, 7ª ed., p. 737).

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