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Tratamento farmacológico e não farmacológico no alívio da dor perineal pós-parto normal

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Academic year: 2021

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Tratamento farmacológico e não farmacológico

no alívio da dor perineal pós-parto normal

Pharmacological and non pharmacological treatment for relief

of perineal pain after vaginal delivery

Joyce Hasegawa1, Lucila Coca Leventhal2

rESUMo

objetivo: Identificar os tipos de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos utilizados no alívio da dor perineal após o parto normal, utilizados pela puérpera no período de internação. Métodos: Os dados foram obtidos por meio dos prontuários médicos de puérperas que tiveram parto normal no ano de 2007. resultados: A média de idade das puérperas foi de 32,4 anos e 97,7% sofreram trauma perineal. Quanto ao tratamento para o alívio da dor perineal, após o parto normal 98,5% utilizaram fármacos, sendo o anti-inflamatório não esteroidal o mais frequente, e 62,3% utilizaram também o tratamento não farmacológico, o fármaco mais utilizado foi bolsa de gelo. Conclusões: É importante que os profissionais que atendem à puérpera, saibam avaliar e tratar a dor perineal. Considerando as elevadas taxas de traumatismo perineal após o parto normal ainda presentes em nossa população, precisa-se oferecer às puérperas alternativas de tratamento para a dor perineal, com base em evidências científicas.

Descritores: Dor; Períneo; Período pós-parto; Analgesia obstétrica; Parto

ABStrACt

objective: To identify the types of pharmacological and non-pharmacological treatments used during hospitalization, in the relief of perineal pain after vaginal deliveries. Methods: Data were obtained from medical files of patients who had vaginal deliveries during 2007. results: The mean age of mothers was 32.4 years, and 97.7% of them suffered perineal trauma. As to treatment for relief of perineal pain after a vaginal delivery, 98.5% used drugs, the most frequent of which were non-steroidal anti-inflammatory drugs, and 62.3% of them also used non-drug treatments, especially ice packs. Conclusions: It is important that healthcare professionals, who attend to new puerperas, know how to assess and treat perineal pain. Considering the high rates of perineal trauma following vaginal deliveries, we need to offer patients treatment alternatives for perineal pain, based on scientific evidence.

Keywords: Pain; Perineum; Postpartum period; Analgesia, obstetrical; Delivery

introDUÇÃo

O traumatismo perineal é um problema importante que afeta muitas mulheres em todo o mundo, que foram sub-metidas ao parto normal, podendo causar dor e descon-forto no período pós-parto. Vários fatores são respon-sáveis pelo trauma perineal, por exemplo: tamanho do feto, má adaptação da apresentação fetal com a sínfise

púbica, feto em posições anômalas e a episiotomia(1-2).

A perda da integridade do períneo pode causar des-conforto à mulher no período pós-parto e influi de for-ma negativa sobre o funcionamento psicológico e físico, em especial a dor(3).

Na amamentação, a dor inibe o efeito da liberação da ocitocina, que é o hormônio responsável pelo refle-xo de ejeção e descida do leite. Apesar da produção normal do leite materno, a dor, a fadiga e a ansiedade podem impedir que o leite chegue ao recém-nascido, aumentando ainda mais a tensão materna e bloqueando a liberação da ocitocina(4).

Vale ressaltar que não existem evidências confiáveis de que o uso rotineiro da episiotomia tenha um efeito benéfico. A episiotomia provoca maior perda sanguínea e aumenta a incidência de dispareunia e dor perineal após o parto. Esta é indicada em situações de sofrimen-to fetal, fesofrimen-to grande, prematuridade, quando períneo apresenta pouca elasticidade, edema de vulva e ameaça de laceração perineal(5-6).

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

1 Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

2 Enfermeira obstetra; Doutora em Enfermagem Obstétrica pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP; Professora do Departamento Materno-Infantil da Faculdade de Enfermagem

do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Lucila Coca Leventhal – Avenida Professor Francisco Morato, 4.293 – Butantã – CEP 05521-200 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3746-1001 – e-mail: lucila0308@hotmail.com

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Entre as práticas para evitar o trauma, estão a pro-teção do períneo e a massagem perineal durante o final do período expulsivo(7).

Em pesquisa americana, realizada com 1.573 mu-lheres pós-parto, 67% das primíparas sem episiotomia e 82,3% com episiotomia relatavam dor perineal após

duas semanas do nascimento(8).

Os fatores físicos associados à dor perineal interferem em diversas atividades das puérperas, tais como: deambu-lar, sentar, dormir, no autocuidado, cuidados com o recém-nascido, no apetite, na disfunção sexual, o que pode levar à exaustão materna e prejudicar as experiências da

mater-nidade e em casos extremos à ruptura matrimonial(1).

Em estudo realizado com puérperas pós-parto vaginal em São Paulo, a prevalência de dor foi elevada 96% nas primeiras 24 horas, sendo a dor perineal a mais citada. As mulheres referiram interferência da dor na amamentação,

cuidados com o bebê, sono, locomoção e eliminação(9).

Quando há dor, apesar do uso de medidas para evi-tá-la, existem vários tratamentos para o alívio da dor perineal. Métodos farmacológicos e não farmacológicos

são utilizados como tratamento deste desconforto(2,10).

De acordo com o Dicionário de administração de

me-dicamentos na enfermagem de 2007/2008(11), os métodos

farmacológicos para alívio da dor são: anti-inflamatório não esteroidal, analgésico oral e local e opioide.

Diversos fatores devem ser considerados nas pre-parações analgésicas orais, como a intensidade da dor; a probabilidade do medicamento causar constipação, irritação gástrica, passagem da droga para o leite ma-terno e os efeitos adversos mais graves, como, o

prolon-gamento de tempo de sangramento materno(10).

De acordo com esses critérios, o paracetamol e o ibuprofeno são considerados seguros para o uso duran-te a lactação, devido ao curto duran-tempo de ação e de rela-tos sobre efeirela-tos adversos sobre o lactente(12).

E para os métodos não farmacológicos observamos na prática a utilização de bolsas de gelo, compressas quentes e banho de assento.

A bolsa de gelo utilizada nas primeiras 24 horas pós-parto é um meio tradicional utilizado para alívio sinto-mático imediato da dor, por anestesiarem o períneo, mas geralmente esse alívio é breve, e não há evidências de qualquer benefício a longo prazo. Após 24 horas, o calor é recomendado porque ele aumenta a circulação para a região. As formas de calor são: compressa quente ou ba-nho de assento. Estas formas ajudam a reduzir o edema perineal; evitar a formação de hematomas; aliviar o des-conforto; promover a recuperação da ferida ao limpar o períneo e o ânus; e reduzir a inflamação(13-14).

Recentemente, novos métodos não farmacológicos vêm sendo pesquisados para o alívio da dor. São compos-tos por equipamencompos-tos fisioterapêuticos como o ultrassom

e a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS)(2).

O ultrassom é um aparelho que emite ondas so-noras (de 16 a 18 kHz), que não são audíveis pelo ouvido humano e com frequência de 3 MHz. Este re-quer assistência contínua do operador durante o tra-tamento, portanto tem um alto custo em relação ao tempo do fisioterapeuta. O TENS é um aparelho de baixa frequência e pode variar de 1 a 250 HZ, este en-via impulsos elétricos pela pele. Apresenta vantagens importantes como o baixo custo, pouco efeito colate-ral, e é eficaz na diminuição da dor e do consumo de analgésicos(15-16).

oBJEtiVo

Identificar quais são os tipos de tratamentos farmaco-lógicos e não farmacofarmaco-lógicos utilizados no alívio da dor perineal, após o parto normal pela puérpera no período de internação.

MÉtoDoS

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, explo-ratório e retrospectivo. Este estudo foi desenvolvido na maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). A maternidade em estudo possui 45 leitos de puerpério, 4 salas de parto, 4 quartos de pré-parto/parto e puerpério (PPP) e 3 salas de pré-parto e 1 de triagem. No ano de 2007, no hospital em estudo ocorreram 2.931 partos, sendo que 2.283 (77,9%) foram cesarianas, 569 foram normais (19,3%) e 83 fórceps (2,8%).

De 3 a 11 de Julho de 2008, realizou-se a coleta de dados por meio da consulta de prontuários médicos. Foram analisados todos os prontuários de mulheres que tiveram parto normal no período do dia 1 de Fe-vereiro a 29 de Abril de 2007, sendo encontrados 130 prontuários.

Para esse estudo foi utilizado um instrumento ela-borado pelas próprias autoras com questões abertas e fechadas, contendo três partes. A primeira parte possui dados de identificação da mulher, como idade, escola-ridade, estado civil, entre outros. A segunda parte foi composta de dados sobre a gestação e parto, como tipo de laceração e peso do recém-nascido. E a terceira, com informações sobre os métodos farmacológicos e não farmacológicos no alívio da dor utilizado pela puérpera no período de internação.

De acordo com a resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HIAE (protocolo de aprovado do CEP - 842), e solicitou-se a autorização para não uti-lização do termo de consentimento livre e esclarecido.

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rESUltADoS

Em Julho de 2008, foram encontrados 130 prontuários médicos de puérperas que tiveram parto normal no pe-ríodo de Fevereiro a Abril de 2007.

A idade das puérperas variou de 20 a 44 anos, sendo que a maior parte tinha entre 20 e 34 anos (90/ 69,2%), média de 32,4, a mediana foi de 32 e o desvio padrão de 3,9. A maioria trabalhava com remuneração (92,3%), tinha mais de 12 anos de escolaridade (98,4%), era ca-sada (93,8%) e branca (96,9%), conforme pode ser ob-servado na Tabela 1.

Nota-se na Tabela 3, que o fármaco mais utilizado foi anti-inflamatório não esteroidal (91,5%), seguido pelo analgésico oral (88,5%). Para diversas puérperas estavam prescritos mais de um tipo de fármaco.

Características sociodemográficas n %

Faixa etária (anos) 20 – 34 anos ≥ 35 anos 9040 69,2 30,8 ocupação Trabalho remunerado Do lar 12010 92,37,7 Escolaridade 8-11 anos 12 e mais anos Sem registro 1 128 1 0,8 98,4 0,8 Estado civil Casada Solteira Separada 122 5 3 93,8 3,9 2,3 Cor Branca Amarela 126 4 96,9 3,1 tabela 1. Distribuição das características sociodemográficas das puérperas estudadas

De acordo com os dados da gestação e parto que estão apresentados na Tabela 2, observa-se que todas as mulheres deste estudo fizeram acompanhamen-to pré-natal, com sete e mais consultas (100,0%); a maioria das puérperas teve o parto com idade gesta-cional de 37 a 41 semanas (94,6%). Quanto à parida-de, 46,9% eram nulípara; 40,0%, primípara; 13,1%, multíparas, e 80,8% não tiveram aborto em outras gestações. As mulheres foram anestesiadas (98,5%). Das 128 puérperas anestesiadas, a anestesia mais fre-quente foi a duplo bloqueio (79,7%), seguido pela raquianestesia (10,9%) e peridural (9,4%). Verifica-se ainda que, 127 (97,7%) puérperas tiveram trauma perineal.

Quanto aos dados dos recém-nascidos, a maioria era do sexo feminino (51,5%) e o peso predominante era entre 2.500 a 3.500 g (79,2%), conforme apresenta-dos na Tabela 2.

Dos 130 prontuários selecionados, 98,5% mulheres utilizaram tratamento farmacológico e 62,3% utiliza-ram tratamento não farmacológico.

Dados da gestação e parto n %

idade gestacional 37 - 41 semanas 32 - 36 semanas 1237 94,65,4 Paridade Nulípara Primípara Multípara 61 52 17 46,9 40,0 13,1 Anestesia Sim Não 1282 98,51,5 trauma perineal Sim Não 1273 97,72,3 Sexo do rn Feminino Masculino 6763 51,548,5 Peso do rn < 2.500 g 2.500 – 3.500 g ≥ 3.500 g 5 103 22 3,9 79,2 16,9 tabela 2. Dados da gestação e parto

RN: recém-nascido.

tratamento farmacológico n %

Anti-inflamatório não esteroidal 119 91,5

Analgésico oral 115 88,5

Anestésico local 71 54,6

Opioide 21 16,1

Não usou 2 1,6

tabela 3. Distribuição dos grupos de tratamento farmacológico

Quanto ao tratamento não farmacológico (Tabela 4) utilizado por 81 (62,3%) puérperas, durante o período de internação, a bolsa de gelo foi o tratamento mais utilizado (61,5%), estes eram prescritos até seis vezes ao dia por 20 minutos. O segundo tratamento utilizado foi banho de assento morno (2,3%), para algumas mulheres foram prescritos mais de um tratamento não farmacológico.

tratamento não farmacológico n %

Bolsa de gelo 80 61,5

Banho de assento morno 3 2,3

Compressa quente 1 0,8

Não usou 49 37,7

tabela 4. Distribuição dos grupos de tratamento não farmacológico

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Peso do rn rn < 2.500 g rn 2.500 – 3.500 g rn > 3.500 g tratamento farmacológico n (%) n (%) n (%) Anti-inflamatório não esteroidal 4 (80,0) 94 (91,3) 21 (95,4) Analgésico oral 4 (80,0) 90 (87,4) 21 (95,4) Anestésico local 3 (60,0) 59 (57,3) 9 (40,9) Opioide - 15 (14,5) 6 (27,3) Não usou 1 (20,0) 1 (0,9)

-tratamento não farmacológico

Bolsa de gelo 4 (80,0) 62 (47,7) 14 (63,6)

Banho de assento morno - 2 (1,94) 1 (4,5)

Compressa quente - - 1 (4,5)

Não usou 1 (20,0) 41 (31,5) 7 (31,8)

Total 5 (100,0) 103 (100,0) 22 (100,0)

tabela 5. Distribuição das mulheres que usaram o tratamento farmacológico e não farmacológico de acordo com o peso do recém-nascido

RN: recém-nascido.

uso de opioide também foi maior (27,3%) para essas puérperas. Quanto ao tratamento não farmacológico, a bolsa de gelo foi a mais utilizada nos três grupos.

De acordo com o tipo de trauma, verifica-se na Tabe-la 6 que as mulheres com episiotomia foram as que mais utilizaram o anti-inflamatório não esteroidal (94,6%). E as com laceração usaram mais bolsa de gelo.

tipo de trauma

tratamento farmacológico Epsiotomian (%) laceraçãon (%) Períneo integron (%)

Anti-inflamatório não esteroidal 106 (94,6) 11 (73,3) 2 (66,7)

Analgésico oral 99 (88,4) 14 (93,3) 2 (66,7)

Anestésico local 66 (59,2) 3 (20,0) 2 (66,7)

Opioide 19 (17,0) 1 (6,7) 1 (33,3)

Não usou 1 (0,9) - 1 (33,3)

tratamento não farmacológico

Bolsa de gelo 65 (58,8) 14 (93,3) 1 (33,3)

Banho de assento morno 1 (0,9) 2 (14,3)

-Compressa quente 1 (0,9) -

-Não usou 46 (41,1) 1 (6,7) 2 (66,7)

Total 112 (100,0) 15 (100,0) 3 (100,0)

tabela 6. Distribuição das mulheres que usaram o tratamento farmacológico e não farmacológico de acordo com o tipo de trauma

Paridade tratamento farmacológico nulíparas n (%) Primíparas n (%) Multíparas n (%)

Anti-inflamatório não esteroidal 56 (91,8) 48 (92,3) 15 (88,2)

Analgésico oral 54 (88,5) 45 (86,5) 16 (94,1)

Anestésico local 42 (68,8) 23 (44,2) 6 (35,3)

Opioide 8 (13,1) 11 (21,5) 2 (11,7)

Não usou 1 (1,6) 1 (1,9)

-tratamento não farmacológico

Bolsa de gelo 42 (68,8) 31 (59,6) 7 (41,2)

Banho de assento morno - 3 (5,7)

-Compressa quente 1 (1,6) -

-Não usou 17 (27,8) 20 (38,5) 12 (70,6)

Total 61 (100,0) 52 (100,0) 17 (100,0)

tabela 7. Distribuição das mulheres que usaram o tratamento farmacológico e não farmacológico de acordo com a paridade

foram coletados os dados, encontramos informações nas anotações de enfermagem sobre a dor perineal, porém essas anotações referiam apenas na presença ou ausência de queixa álgica. Não foi encontrado nenhum registro sobre a aplicação de uma escala de dor, relato de melhora ou piora da dor e/ou qualquer interferência da dor na amamentação, nos cuidados com o recém-nascido, no sono, na deambulação, entre outros.

Em um estudo realizado nas maternidades de Belo Horizonte, foi observada prescrição de analgésicos em 75,5% e de anti-inflamatório não esteroidal em 77,8%, no pós-parto imediato, sendo que mais de um medica-mento foi prescrito simultaneamente(17). Esses fatores

mostram a grande incidência de fármacos prescritos para alívio da dor.

No atual estudo, dentre o tratamento farmacológico, observa-se que os anti-inflamatórios não esteroidais fo-ram os fármacos mais utilizados na grande maioria dos casos. Estes compõem o maior grupo de analgésicos, têm potência de ação moderada e são amplamente usados na

prevenção e tratamento da dor no pós-operatório(18).

Os anti-inflamatórios não esteroidais estão en-tre os fármacos mais utilizados pelas puérperas. Mas, dentre os 27 anti-inflamatórios não esteroidais comer-cializados no Brasil, apenas em 14 foram encontra-dos referências sobre segurança para o uso durante a amamentação(12,17).

O analgésico oral foi o segundo fármaco mais utilizado neste estudo. Segundo uma revisão bibliográfica, com o objetivo de avaliar a eficácia analgésica e os efeitos adver-sos da dipirona em dose única para dor aguda no pós-ope-ratório, teve como resultado que a dipirona tem eficácia similar ao ibuprofeno (400 mg) e outros analgésicos usa-dos frequentemente no tratamento da dor pós-operatória, de moderada a intensa. E os efeitos adversos mais comuns foram sonolência, distúrbios estomacais e náuseas(19).

O terceiro fármaco mais utilizado neste estudo foi o anestésico local. De acordo com outra revisão biblio-gráfica, composta por 976 mulheres, com o objetivo de Quanto à paridade, conforme é demonstrado na

Tabela 7, são vistos elevados índices de uso de fárma-cos nas três categorias. Porém, as nulíparas (68,8%) utilizaram mais anestésico local que as primíparas (44,2%) e as multíparas (35,3%). O uso de gelo tam-bém esteve mais presente entre as nulíparas.

DiSCUSSÃo

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avaliar os efeitos dos anestésicos de aplicação tópica para tratamento da dor perineal pós-parto, não mos-trou diferenças significativas no alívio da dor quando

comparou o anestésico de uso tópico com placebo(1).

Quando a dor passa para o nível mais intenso, são lizados os derivados de codeína, mas estes devem ser uti-lizados em período de curta duração, porque seu uso pro-longado predispõe à constipação, que é particularmente

importante evitar no tratamento da dor perineal(10,20).

A lidocaína é um anestésico local com boa absorção e fácil administração e o próprio paciente pode aplicá-la. Porém, um estudo realizado nos Estados Unidos, no Texas, com 200 mulheres, divididas em dois grupos, um recebendo placebo e o outro, lidocaína, não houve dife-rença significativa entre os dois grupos. Dessa forma, a lidocaína não foi efetiva no alívio da dor perineal(21).

A analgesia retal inclui o uso de um anestésico local que pode aliviar a dor de qualquer intensidade, causa-da por trauma perineal, dentro causa-das primeiras 24 horas após o parto e leva à menor utilização de outros tipos de analgesia nas primeiras 48 horas, quando se utiliza sob forma de supositório retal. Não existem informa-ções disponíveis a respeito do alívio da dor, utilizando o supositório retal três dias após o parto(22).

Em relação ao tratamento não farmacológico, a bol-sa de gelo foi a mais utilizada. A aplicação fria é prescri-ta terapeuticamente para provocar vasoconstrição. Esprescri-ta contração vai reduzir a circulação de sangue na área aplicada, proporcionado alívio da dor causada pela di-minuição da pressão sobre as terminações nervosas. É também usado para diminuir hemorragias, deter

infla-mações, prevenir supuração e aliviar congestão(23).

Com o objetivo de avaliar o efeito da crioterapia no alívio da dor da região perineal em nulíparas submetidas ao parto normal, foi realizado um estudo do tipo ensaio clínico randomizado e controlado, composto por 114 mulheres, comparando o uso por 20 minutos da bolsa de gelo (Experimental), com o mesmo tempo da bolsa de água (Placebo) e um grupo sem tratamento (Controle) em uma maternidade localizada na cidade de São Paulo. A temperatura inicial média do períneo nos três grupos foi de 32,7 °C. No Grupo do Gelo, a temperatura do pe-ríneo reduziu para 12,6 °C; no Grupo Água foi de 30,9 °C e 34,2 °C, no Controle. Houve melhora significativa da dor nos três grupos reduzindo de 4,6 para 3,3 no Grupo Controle; 2,1 no Placebo e 1,6 no Experimental. Na com-paração da dor entre os grupos, o Grupo Experimental

teve média inferior comparada ao Controle(24).

Outro estudo foi realizado com o objetivo de ava-liar a efetividade e comparar a bolsa de gelo e um

anti-inflamatório local (Epifoam®) com uma nova

terapêu-tica, do tipo aleatório e controlado, em maternidade no Norte da Inglaterra. Foi composta por puérperas que sofreram instrumentalização durante o parto

va-ginal. Após 48 horas do parto, uma diferença estatis-ticamente significativa foi encontrada na redução do edema, hematoma e dor. Esta foi maior no grupo que utilizou a nova terapêutica. Os autores ressaltaram que, possivelmente, os resultados da nova terapêutica foram significativa, pois se trata de uma terapêutica desenvolvida especificamente para a região perineal. Esta apresenta formato de absorvente que se estende

dos grandes lábios até a região anal(25).

Apesar de a compressa quente ser uma das menos utilizadas, cientistas confirmam que a aplicação de ca-lor interrompe a dor e oferece conforto aos pacientes. Estudos revelam que temperaturas a partir de 40 °C bloqueiam os mensageiros químicos das células respon-sáveis por alertar o corpo sobre a dor, num efeito que pode durar até uma hora. Porém, o alívio é temporário, mas apesar da duração restrita do efeito do calor, as descobertas poderão ser úteis para tornar mais comum o uso de artifícios como a bolsa de água quente para proporcionar alívio na dor(26).

As principais finalidades da aplicação do calor são diminuir as inflamações e aliviar a dor. O tempo de

apli-cação deve ser de no máximo 20 minutos(23).

Foi realizado um estudo, com o objetivo de avaliar o efeito de terapia fria e quente no períneo de mulhe-res que sofreram laceração e episiotomia. Foi composto por 90 mulheres em três grupos: 30 no grupo de bolsa quente, 30 no grupo bolsa de gelo e 30 no grupo de ba-nho de assento quente. A duração do tratamento foi es-tabelecida por 20 minutos. O desconforto perineal era avaliado antes, imediatamente após e depois de meia, uma e duas horas após o tratamento. Não foi encontra-da diferença significativa entre os grupos antes,

imedia-tamente e após o tratamento(27).

Evitar o trauma perineal é o melhor método para

prevenir a dor(7). Como se observou no atual estudo, no

qual as puérperas com episiotomia usaram mais anti-inflamatórios não esteroidais.

Em um estudo americano, realizado com 23.244 mulheres, usando a regressão logística de análise múlti-pla, foi encontrado que os principais fatores de risco de laceração de terceiro e quarto graus foram: primipari-dade, recém-nascido com mais que 4 kg, parto fórcipe e

episiotomia mediana(28-29)

Neste estudo, optou-se por não incluir o parto fór-ceps devido ao pequeno número de casos.

(6)

O adequado tratamento da dor, não é apenas uma questão fisiopatológica, é também uma questão ética e econômica. O melhor controle da dor evita o sofrimen-to desnecessário, como, por exemplo, interferir negati-vamente na prática do aleitamento materno, pois a dor causa estresse e desconforto. O tratamento proporciona maior satisfação e reduz os custos relacionados a pos-síveis complicações, que determinam maiores períodos de internação(30-31).

ConClUSÃo

Com este estudo, foi possível concluir que os fármacos mais utilizados pela puérpera no período de internação foram: anti-inflamatório não esteroidal, analgésico oral e local. O tratamento não farmacológico mais frequen-te no período de infrequen-ternação foi a bolsa de gelo. As puér-peras com episiotomia usaram mais anti-inflamatórios não esteroidais. As nulíparas (68,8%) utilizaram mais anestésico local que as primíparas (44,2%) e as multí-paras (35,3%). O uso de gelo também esteve mais pre-sente entre as nulíparas.

Verificou-se, em elevada percentagem (95,4%), o uso de anti-inflamatório não esteroidal nas mulheres que deram à luz recém-nascidos com peso maior que 3.500 g e o uso de opioide também foi maior (27,3%) para essas puérperas.

É importante que os profissionais que atendem a puérpera, saibam avaliar e tratar a dor perineal. Conside-rando as elevadas taxas de traumatismo perineal após o parto normal ainda presentes em nossa população, preci-sam-se oferecer às puérperas alternativas de tratamento para a dor perineal com base em evidências científicas. rEFErÊnCiAS

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Referências

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