Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.432.035 - RS (2014/0016960-9)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE : ATIVA SERVIÇOS TEMPORÁRIOS LTDA - EMPRESA DE
PEQUENO PORTE
ADVOGADOS : DOUGLAS MATIAS
LEONARDO INVERNIZZI E OUTRO(S)
RECORRENTE : UNIÃO
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECORRIDO : OS MESMOS
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PIS, COFINS, IRPJ E CLSS. EMPRESA DE TRABALHO TEMPORÁRIOS. EXCLUSÃO DOS VALORES RELATIVOS A VERBAS SALARIAIS, ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS REFERENTES À MÃO DE OBRA FORNECIDA. AÇÃO RESCISÓRIA. ARTIGO 485, V, DO CPC. AÇÃO RESCISÓRIA INADMISSÍVEL, NA ESPÉCIE, POR INCIDÊNCIA DA SÚMULA 343/STF, CUJA APLICABILIDADE FOI RECENTEMENTE RATIFICADA, PELO STF, NO JULGAMENTO DO RE 590.809/RS, INCLUSIVE QUANDO A CONTROVÉRSIA DE ENTENDIMENTOS BASEAR-SE NA APLICAÇÃO DE NORMA CONSTITUCIONAL.
1. Trata-se na origem de Ação Rescisória interposta pela União, com fundamento no art. 485, V, do CPC/1973, buscando rescindir acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que reconheceu que a empresa Ativa Serviços Temporários Ltda., em razão de ter atividade exclusiva de intermediação de mão de obra, deveria recolher as contribuições ao PIS, à Cofins, ao IRPJ e à CSLL apenas sobre suas comissões de serviços ou honorários, denominada Taxa de Administração.
2. O Tribunal a quo julgou procedente a referida Ação Rescisória, e, preliminarmente, registrou que "a questão debatida envolve matéria constitucional, conforme a seguir será analisando, razão pela qual é inaplicável a Súmula n°. 343 do Supremo Tribunal Federal ("Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.") (fl. 767, e-STJ).
3. Nos termos da jurisprudência do STJ, não cabe Ação Rescisória sob a alegação de ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais, consoante enuncia a Súmula 343 do STF, cuja aplicabilidade foi recentemente ratificada, pelo Pretório Excelso, no aludido RE 590.809/RS, inclusive quando a controvérsia de entendimentos basear-se na aplicação de norma constitucional.
4. Recurso Especial de Ativa Serviços Temporários Ltda provido. Prejudicado o Recurso da União.
ACÓRDÃO
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Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial de Ativa Serviços Temporários Ltda; julgou prejudicado o recurso especial da União, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente), Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Região) e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 19 de maio de 2016(data do julgamento).
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.432.035 - RS (2014/0016960-9)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE : ATIVA SERVIÇOS TEMPORÁRIOS LTDA - EMPRESA DE
PEQUENO PORTE
ADVOGADOS : DOUGLAS MATIAS
LEONARDO INVERNIZZI E OUTRO(S)
RECORRENTE : UNIÃO
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECORRIDO : OS MESMOS
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):
Trata-se de Recursos Especiais interpostos, com fundamento no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição da República, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim ementado:
AÇÃO RESCISÓRIA. TRIBUTÁRIO. IRPJ. Cs/x. PIS. COFINS. EMPRESA LOCADORA DE MÃO DE OBRA. BASE DE CÁLCULO. SALÁRIOS E ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS. INCLUSÃO. RECEITA BRUTA.
1. Tratando-se de matéria de natureza constitucional, não incide a limitação da súmula 343 do STF [Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais], de forma que "Cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição constitucional, ainda que a decisão rescindenda tenha se baseado em interpretação controvertida, ou seja anterior à orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal." (RE-ED 328.812/AM, Tribunal Pleíio, Rei. Min. Gilmar Mendes, Dje de 30-04-2008).
2. Os valores destinados ao pagamento de salários e demais encargos trabalhistas dos trabalhadores temporários, assim como a taxa de administração cobrada das empresas tomadoras de serviços, devem ser computados no apuração da base de cálculo do IRPJ, CSLL, Pife e COFINS, uma vez que se inserem no conceito de faturamento da empresa locadora de mão-de- obra.
Ativa Serviços Temporários Ltda. afirma que houve, além de divergência jurisprudencial, ofensa aos arts. 485, V, e 495 do CPC/1973; 97 e 176 do CTN; 3º da Lei 9.718/1998; 1º, § 3º, da Lei 10.637/2003; 1º, § 3º, da Lei 10.883/2003. Alega: a) a decadência da Ação Rescisória, uma vez que teria sido interposta após o
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prazo legal de dois anos previsto no CPC; b) o não cabimento da Ação Rescisória, tendo em vista que "ao contrário do alegado pela parte autora, ora recorrida, bem como, no aresto objeto do presente recurso, a questão do direito aqui discutida não está pacificada nos tribunais, não possuindo orientação jurisprudencial firma" (fl. 837, e-STJ).
Contrarrazões nas fls. 942-970, e-STJ.
A União defende violação do arts. 485 e 494 do CPC; e 27 da Lei 9.868/1999. Afirma que "a declaração de improcedência da demanda originária, constante da decisão proferida na ação rescisória, substitui com efeitos retroativos a decisão rescindenda" (fl. 921, e-STJ).
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.432.035 - RS (2014/0016960-9) VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os
autos foram recebidos neste Gabinete em 5.2.2014.
Trata-se na origem de Ação Rescisória interposta pela União, com fundamento no art. 485, V, do CPC/1973, buscando rescindir acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que reconheceu que a empresa Ativa Serviços Temporários Ltda., em razão de ter atividade exclusiva de intermediação de mão de obra, deveria recolher as contribuições ao PIS, à Cofins, ao IRPJ e à CSLL apenas sobre suas comissões de serviços ou honorários, denominada Taxa de Administração.
Merece prosperar o recurso de Ativa Serviços Temporários Ltda., isso porque o Tribunal de origem julgou procedente o pedido, nos seguintes termos (grifei):
Registro que a questão debatida envolve matéria constitucional, conforme a seguir será analisando, razão pela qual é inaplicável a Súmula n°. 343 do Supremo Tribunal Federal ("Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.").
Mérito
O julgado objeto da presente ação rescisória está assim ementado:
TRIBUTÁRIO. PIS. COFINS. IRPJ E CSLL. EMPRESAS DE TRABALHO TEMPORÁRIO. EXCLUSÃO DOS VALORES RELATIVOS VERBAS SALARIAIS, ENCARGOS SOCIAIS E TRABALHISTAS REFERENTES A MÃO-DE-OBRA FORNECIDA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO (...). J
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contribuição.2. No caso concreto, restou comprovado que a impetrante é empresa que se dedica, exclusivamente, à intermediação ou cessão de mão-de-obra, I de maneira que deve recolher a contribuição ao PIS à COFINS, ao IRPJ\e à CSLL, apenas sobre a denominada Taxa de Administração
(...)
9. Apelação da autora parcialmente provida /tara o fim de declarar seu direito á restituição/compensação dos valores recolhidos a maior a titulo de PIS, COFINS, IRPJ e CSLL, devendo estes tributos incidir apenas sobre a Taxa de Administração e apelação da União improvida (TRF4. APELAÇAO CÍVEL 2007.71.00.0444W-7. I' Turma. Juiz Federal ARTUR CÉSAR DE SOUZA, POR UNANIMIDADE. D E 12/11/2008)
Atualmente a questão pertinente aos valores recebidos pelas empresas prestadoras de serviços de locação de mão-de-obra temporária, a titulo de pagamento de salários, encargos sociais e trabalhistas dos trabalhadores temporários, resta superada, uma vez que o STJ, em sede de recurso repetitivo, reconhece a natureza de faturamento destes valores, os quais devem ser considerados na apuração da base de cálculo do PIS, COFINS, IRPJ e CSLL, conforme precedente esclarecedor abaixo reproduzido:
(...)
E também o STF vem se posicionando exatamente no mesmo sentido, conforme precedentes ilustrativos que abaixo colaciono, o que, a toda evidência, viabiliza a procedência da presente ação rescisória:
(...)
Portanto procede a presente rescisória.
Assim, em juízo rescindendo, julgo procedente'a ação rescisóiia, para desconstituir o acórdão proferido na Ação Ordinária n° 2007.71.00.04440- 7/RS.
Em juízo rescisório, julgo procedente o pedido para negar provimento à apelação c, via de conseqüência, manter na integra a sentença de improcedência de primeira instância.
Nos termos da jurisprudência desta Corte, não cabe Ação Rescisória, sob a alegação de ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais, consoante enuncia a Súmula 343 do STF, cuja aplicabilidade foi recentemente ratificada, pelo Pretório Excelso, no aludido RE 590.809/RS, inclusive quando a controvérsia de entendimentos basear-se na aplicação de norma constitucional.
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ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RESCISÓRIA. SERVIDOR PÚBLICO. CONVERSÃO DE URV EM REAL. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. NÃO CONFIGURAÇÃO. MATÉRIA DE INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE NOS TRIBUNAIS. IMPOSSIBILIDADE DE DESCONSTITUIÇÃO DO JULGADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 343/STF. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO POR PARTE DO STF.
1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 590.809/RS, submetido ao rito da repercussão geral, decidiu que o verbete 343 de sua Súmula também tem aplicação para não admitir ação rescisória fundada em dissenso jurisprudencial acerca de questão constitucional (AgRg nos EDcl na AR 3.861/DF, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Terceira Seção, DJe 21/08/2015).
2. Incidência da Súmula n. 343/STF, segundo a qual não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
3. Embargos de declaração acolhidos para fins de suprir omissão, mantida, no entanto, a negativa ao recurso especial, embora por fundamento diverso.
(EDcl no AgRg no REsp 1196075/SE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 13/10/2015, DJe 03/11/2015).
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RESCISÓRIA. EXIGIBILIDADE DA CONTRIBUIÇÃO AO INCRA, DE EMPRESA URBANA, APÓS A LEI 8.212/91. MATÉRIA CONTROVERTIDA NOS TRIBUNAIS, À ÉPOCA DA PROLAÇÃO DO ACÓRDÃO RESCINDENDO. PACIFICAÇÃO DA MATÉRIA, PELA 1ª SEÇÃO DO STJ, POR OCASIÃO DO JULGAMENTO DOS ERESP 770.451/SC. AÇÃO RESCISÓRIA INADMISSÍVEL, NA ESPÉCIE, POR INCIDÊNCIA DA SÚMULA 343/STF, CUJA APLICABILIDADE FOI RECENTEMENTE RATIFICADA, PELO STF, NO JULGAMENTO DO RE 590.809/RS, INCLUSIVE QUANDO A CONTROVÉRSIA DE ENTENDIMENTOS BASEAR-SE NA APLICAÇÃO DE NORMA CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. Em 22/10/2014, o Plenário do STF, no julgamento do RE 590.809/RS, sob a relatoria do Ministro MARCO AURÉLIO MELLO e sob o regime de repercussão geral, pacificou o entendimento no sentido de que deve ser refutada "a assertiva de que o Enunciado 343 da Súmula do STF ('Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais') deveria ser afastado, aprioristicamente, em caso de matéria constitucional".
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Pretório Excelso, inclusive quando a controvérsia de entendimentos basear-se na aplicação de norma constitucional.
III. No presente caso, considerando que a pacificação da jurisprudência, no sentido da exigibilidade da contribuição ao INCRA, em relação às empresas urbanas, após a Lei 8.212/91, somente ocorreu por ocasião do julgamento, pela 1ª Seção do STJ, dos EREsp 770.451/SC (Rel. Ministro CASTRO MEIRA, DJe de 11/06/2007), e levando-se em consideração, ainda, que o acórdão rescindendo foi proferido em 11/06/2003, época em que havia entendimentos diversos sobre o tema, aplica-se a Súmula 343/STF, do seguinte teor: "Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais". Precedentes do STJ (AgRg na AR 4.908/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 18/06/2015).
IV. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no REsp 1416515/SC, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 04/09/2015).
Dessa forma, incabível a rescisória, ante a incidência da Súmula 343/STF. Prejudicada a análise das demais matérias suscitadas no Recurso Especial da empresa e prejudicado o Recurso Especial da União.
Ante o exposto, dou provimento ao Recurso Especial de Ativa
Serviços Temporários Ltda. para extinguir, sem resolução do mérito, o processo desta Ação Rescisória, com a consequente inversão dos ônus da sucumbência.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA
Número Registro: 2014/0016960-9 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.432.035 / RS
Números Origem: 00157986620114040000 157986620114040000 200771000444107
PAUTA: 19/05/2016 JULGADO: 19/05/2016
Relator
Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ELAERES MARQUES TEIXEIRA Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ATIVA SERVIÇOS TEMPORÁRIOS LTDA - EMPRESA DE PEQUENO
PORTE
ADVOGADOS : DOUGLAS MATIAS
LEONARDO INVERNIZZI E OUTRO(S)
RECORRENTE : UNIÃO
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RECORRIDO : OS MESMOS
ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Contribuições - Contribuições Sociais - Cofins
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial de Ativa Serviços Temporários Ltda; julgou prejudicado o recurso especial da União, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães (Presidente), Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3a. Região) e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.