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USO CONTÍNUO DE INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS E SEUS EFEITOS A LONGO PRAZO

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USO CONTÍNUO DE INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS E SEUS EFEITOS A LONGO PRAZO

VIEIRA, Mariana Tomain Peres Martins; BORJA, Amélia mariana.tomain@hospunimed.com.br

Centro de Pós Graduação Oswaldo Cruz

Resumo: Os inibidores da bomba de prótons é uma das classes de medicamentos mais prescritas no mundo. Possuem alto índice de efetividade e os efeitos adversos são moderados e de ação curta. O mecanismo de ação se da pela inibição da enzima H+/K+-ATPase, realizando supressão ácida gástrica sendo assim farmacologicamente utilizado em doenças relacionadas à essa acidez. No mercado existem seis representantes da classe, sendo:

omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazol. Alguns estudos apontam dúvidas quanto à segurança desses fármacos quanto utilizados por uso prolongado. Essa revisão bibliográfica objetiva divulgar mais informações sobre essa classe de medicamento, os IBPs, que mesmo sem estudos comprovados, muito se tem relatado que o uso crônico e indiscriminado dessas substâncias traz danos à saúde como infecções bacterianas, deficiências de vitaminas, osteoporose, hipergastrinemia e câncer gástrico.

Palavras-chave: Inibidor de bomba de prótons. Uso prolongado. Danos à saúde.

Abstract: Proton pump inhibitors are one of the most prescribed classes of drugs in the world.

They have a high level of effectiveness and the adverse effects are moderate and short acting.

The mechanism of action is by inhibition of the enzyme H + / K + -ATPase, performing gastric acid suppression and thus is pharmacologically used in diseases related to this acidity. In the market there are six representatives of the class, being: omeprazole, lansoprazole, pantoprazole, rabeprazole, esomepazole and dexlansoprazole. Some studies point out doubts about the safety of these drugs when used for prolonged use. This literature review aims to disseminate more information about this class of drugs, PPIs, that even without proven studies, it has been reported that chronic and indiscriminate use of these substances causes health damages such as bacterial infections, vitamin deficiencies, osteoporosis, hypergastrinemia and gastric cancer.

Keywords: Proton pump inhibitor. Extended use. Damage to health.

1 INTRODUÇÃO

A cada ano, com o crescimento da indústria farmacêutica, inúmeros fármacos chegam ao mercado. Com os IBPs (inibidores de bomba de prótons), não é diferente: são drogas amplamente utilizadas de forma crônica no nosso cotidiano, muitas vezes por automedicação, sem quaisquer indicações médicas.

Os inibidores da bomba de prótons (IBP) são uma das classes de medicamentos mais prescritas no mundo, pois estes combinam um alto nível de eficácia juntamente com uma baixa toxicidade (FORGACS; LOGANAYAGAM, 2008).

Os inibidores da bomba de prótons (IBP) – omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, rabeprazol, esomeprazol – suprimem a secreção de ácido gástrico por meio de inibição

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específica da enzima H+/K+-ATPase na superfície secretora da célula parietal gástrica.

Embora haja diferenças farmacocinéticas, todos os representantes dessa classe são similares entre si, reduzindo em até 95% a produção diária de ácido gástrico (WANNMACHER, 2004).

Desde a introdução do omeprazol, as prescrições de IBP dobraram e sem razões aparentes para este crescimento. Outras classes também efetivas e mais baratas, como os antagonistas dos receptores H2, também estão disponíveis no mercado, porém o consumo dos IBP tem superado todos outros agentes inibidores de ácido gástrico (FORGACS;

LOGANAYAGAM,2008).

Os IBP são, em geral, bem tolerados pelo organismo, sendo poucas as reações adversas. Entre as reações mais relatadas estão: cefaléia, diarréia, náusea, exantema, tonteira, sonolência, impotência, ginecomastia e dores musculares (PAZ et al., 2008). Estes medicamentos têm a característica de serem administrados em dose única diária e de afetarem a secreção ácida durante dois a três dias, tendo poucos efeitos colaterais. Por esta razão são prescritos de forma contínua como terapia a longo prazo (RANG et al., 2003). Entretanto, o ácido gástrico é um tipo de mecanismo de defesa contra os microrganismos ingeridos e os fisiológicos, e a supressão de forma crônica do ácido gástrico poderia, de alguma forma, causar outros exemplos de efeitos adversos por não ser uma ação fisiológica.

Segundo THOMSON (2010), os IBP estão associados com o desenvolvimento de hiperplasia de células parietais e de pólipos das glândulas gástricas. Estes pólipos podem ocorrer na presença ou ausência de infecção pelo H. pylori, porém a erradicação desta bactéria e a interrupção do uso de IBP causam a regressão da formação dos pólipos. Esta classe de medicamentos também pode mascarar os sintomas do câncer gástrico, aumentar o risco de pneumonia adquirida da comunidade e pode levar a uma deficiência de vitamina B12 em pessoas idosas ou pacientes com a síndrome de Zollinger-Ellison, os quais utilizam altas doses e por longo período de tratamento.

O ácido presente no estômago facilita a absorção de cálcio e, quando suprimida a produção deste ácido, há uma inibição da absorção do cálcio, podendo estar relacionado com fraturas de quadril. Também há relatos de efeitos colaterais relacionados à diminuição da atividade antiplaquetária do clopidogrel, e aumento de infecção por Clostridium difficile.

Estudos de Rodriguez et al.(2007) avaliaram que os IBP são altamente efetivos para o tratamento das desordens gástricas, porém a supressão ácida pode alterar a flora bacteriana do trato gastrointestinal e levar a complicações como má absorção, infecções entéricas e infecções fora do trato gastrointestinal. No mesmo seguimento, Roughead (2009), citado por Talley (2009) analisou pacientes em uso de IBP e concluiu que baixos níveis de ácido gástrico promovem o crescimento da flora entérica na porção proximal do intestino, e que estas bactérias podem ser aspiradas durante episódios de refluxo fisiológicos, causando pneumonia.

2 FISIOLOGIA DA SECREÇÃO GÁSTRICA

Segundo Goodman & Gilman (2010), a secreção de ácido gástrico é um processo contínuo e complexo, em que múltiplos fatores centrais e periféricos contribuem para uma meta comum: a secreção de H+ pelas células parietais. As estruturas mais importantes para a estimulação da secreção de ácido gástrico no SNC incluem o núcleo motor dorsal do nervo vago, o hipotálamo e o núcleo do trato solitário.

A gastrina, que é fabricada pelas células G do antro, sendo o indutor mais competente da secreção de ácido. A liberação da gastrina é incentivada por múltiplas vias, abrangendo ativação do SNC, distensões locais e integrantes químicos do conteúdo gástrico. Deve ter destaque o fato de que a gastrina ainda dá força a secreção ácida indiretamente (BRUNTON;

LAZO; PARKER, 2010).

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3 INIBIDORES DA BOMBA DE PROTONS

São utilizados principalmente para promover a cicatrização de úlceras gástricas e duodenais e para tratar a doença por refluxo gastroesofágico (DRGE), incluindo esofagite erosiva, que é complicada ou refratária ao tratamento com antagonistas dos receptores H2. Os inibidores de bomba de prótons também constituem a base para o tratamento dos distúrbios hipersecretores patológicos, incluindo a síndrome de Zollinger-Ellison. (GOODMAN, 2010).

O primeiro inibidor da bomba de prótons foi o benzimiprazol, substituído pelo omeprazol, que inibe irreversivelmente a H+/K+ATPase, a etapa terminal na via secretora de ácido (RANG, 2007).

No mercado brasileiro possuem seis fármacos dessa classe sendo comercializado e o omeprazol é o fármaco mais vendido devido ao seu alto número de prescrições e também do uso por automedicação devido ser o representante da classe com preço de comercialização mais baixo.

Nas doses típicas, esses fármacos diminuem a produção diária de ácido (basal e estimulado) em 80 a 95%. Esses fármacos apresentam diferentes substituições nos grupos peridina e/ou benzimidazol, porém são notavelmente semelhantes nas suas propriedades farmacológicas. O omeprazol é uma mistura racêmica de isômeros R e S; o isômero S, o esomeprazol (S-omeprazol) é eliminado menos rapidamente que o R-omeprazol, o que teoricamente apresenta uma vantagem terapêutica, em virtude de sua meia-vida aumentada.

Apesar de declarações em contrário, todos os inibidores da bomba de prótons possuem eficácia equivalente em doses comparáveis. Devido a necessidade de um pH ácido nos canalículos ácidos das células parietais para a ativação dos fármacos, e visto que o alimento estimula a produção de ácido, a conduta ideal consiste na administração desses fármacos cerca de 30 minutos antes das refeições. A administração concomitante de alimento pode reduzir ligeiramente a taxa de absorção dos inibidores da bomba de prótons, porém não se acredita que esse efeito seja clinicamente significativo (GOODMAN,2010).

A ação dos IBP, segundo PENILDON (2010), se dá da seguinte forma: Por possuírem liberação prolongada, essas drogas são liberadas dos grânulos no duodeno, onde são rapidamente absorvidas e ganham a circulação sanguínea. Do sangue, atingem as células parietais e difundem-se para os canalículos secretores, onde são retiradas após ionizarem-se.

Uma vez ionizadas em meio ácido, formam-se um ácido sulfênico e uma sulfenamida, que se ligam covalentemente a grupamentos sulfidrílicos localizados em pontos críticos do mínio extracelular (luminal) da bomba de prótons. Como, para se tornarem efetivas, necessitam ser ativadas através da ionização, os inibidores da bomba de prótons são considerados pró-drogas.

A ligação de duas moléculas de sulfenamida a uma bomba de prótons inibe totalmente a atividade da enzima. A secreção ácida só retorna ao normal após síntese e inserção de novas moléculas da bomba de prótons na membrana apical das células parietais, conforme Figura 1.

Figura 1-Ilustração esquemática da ativação do pró-droga no canalículo da célula parietal, seguido da inibição irreversível da bomba H+,K+ ATPase pelo IBP ativo. (a) IBP passa da corrente sangüínea para os canalículos da célula parietal (b) protonação do IBP (c)

modificação de sua estrutura química para um derivado sulfonamida e posterior ligação com a bomba H+,K+ ATPase

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Fonte: (PAZ et al., 2008).

Como a inibição da bomba de prótons é irreversível, a secreção ácida permanece suprimida por 24 a 48 h ou mais, até que ocorra síntese de novas bombas de prótons e sua incorporação na membrana luminal das células parietais (GOODMAN, 2010).

Uma vez no intestino delgado, os inibidores da bomba de prótons sofrem rápida absorção, ligam-se altamente às proteínas e são extensamente metabolizados por CYP hepáticas, principalmente CYP2C19 e CYP3A4. Foram identificadas diversas variantes da CYP2C19. Os asiáticos têm mais tendências do que os caucasianos ou os afro-americanos a apresentar o genótipo CYP2C19, que se correlaciona com um metabolismo lento dos inibidores da bomba de prótons (23% versus 3%, respectivamente), podendo contribuir, como foi sugerido, para a maior eficácia e/ou toxicidade desses fármacos nesse grupo étnico (GOODMAN,2010).

Os inibidores da bomba de prótons são muito bem tolerados, mesmo em altas doses.

Menos de 3% dos pacientes relatam efeitos colaterais inespecíficos no trato gastrintestinal, como náuseas, diarreia e cólica. Efeito no sistema central (cefaleia, tontura, sonolência), são ainda mais raros. Há relatos ocasionais de exantemas e elevações das transaminases hepáticas.

Como o metabolismo dessas drogas é predominantemente hepático e ocorre a interação com o citocromo P450 in vitro, há um risco potencial de inibição do metabolismo hepático de outras drogas, como varfarina, cetoconazol, fenitoína, claritromicina e diazepan (PENILDON, 2010).

4 INDICAÇÕES DA UTILIZAÇÃO CRÔNICA DOS INIBIDORES DE BOMBA DE PRÓTONS

Situações clínicas como doença de refluxo gastresofágico, esôfago de Barret e úlceras induzidas por anti-inflamatórios não esteroidais são situações clínicas que justificam o uso crônico de IBP. Porém muitos pacientes que apresentam sintomas persistentes podem realizar tratamento intermitente com IBP não sendo necessário sua utilização de forma contínua.

4.1 Doença de refluxo gastresofágico

É um dos distúrbios gastrointestinais que mais acometem a população, alguns estudos demonstram que até 15% apresentam pirose e/ou regurgitação uma vez por semana e 7%

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diariamente. Os IBP são mais eficazes no tratamento dos sintomas causados por refluxo retrógrado de ácido e conteúdo gástrico para o esôfago por falha na função das estruturas de restrição mecânica na junção gastresofágica. O tempo de tratamento é de oito semanas promovendo cicatrização da esofagite corrosiva.

4.2 Esôfago de Barret

Trata-se de uma complicação grave da esofagite por refluxo e fator de risco para adenocarcinoma esofágico. (GOYAL 2006). O tratamento é o uso contínuo de IBP em dose única diária. Aos pacientes que não respondem à essa posologia a dose é estendida à duas vezes ao dia.

4.3 Úlceras induzidas por anti-inflamatórios não esteroidais

Pacientes que desenvolvem doença péptica durante o uso crônico de anti-inflamatório não esteroidal precisam suspender ou diminuir a dose do anti-inflamatório não esteroidal e receber tratamento para eliminação do Helicobacter pylori, quando essa esta estiver presente.

Quando não for possível alterar o tratamento com o anti-inflamatório, recomenda-se adicionar um inibidor de secreção.

5 EFEITOS ADVERSOS DA UTILIZAÇÃO A LONGO PRAZO DOS IBP

O omeprazol é um dos fármacos mais utilizados da classe dos IBPs e seu uso prolongado já foi ligado ao desenvolvimento de uma hipersensibilidade ao fármaco, gerando uma doença rara nos rins conhecida como nefrite intersticial. Essa ação conduz a uma inflamação dos túbulos renais, criando alterações que vão desde disfunção moderada até falta renal aguda. Seus indícios prévios são: perda de peso, erupção cutânea, náuseas, febre e mal- estar (SAVAGE, 2000).

5.1 Alteração da Histologia Gástrica

Estudos recentes têm analisado a relação entre o uso crônicos dos IBP com alterações proliferativas gástricas. Ainda há muitas controvérsias sobre esta relação, sendo que o tempo de tratamento com estas drogas para provocar alterações proliferativas gástricas ainda não foi determinado por ser bastante variável na literatura (MENEGASSI et al., 2010).

A infecção pelo Helicobacter pylori juntamente com a utilização de IBP pode causar progressão ou aceleração da gastrite crônica do antro gástrico para uma gastrite crônica predominante no corpo gástrico, e esta mudança pode ser um fator de risco para o câncer gástrico (UEMURA et al., 2000 apud THOMSON, 2010).

Entretanto, pelos estudos de THOMSON et al. (2010), a utilização a longo prazo de IBP não está comprovada ser a causadora ou aceleradora da progressão de gastrites crônicas pré-existentes, atrofia de corpo gástrico ou metaplasia intestinal.

O risco de câncer gástrico com a terapia a longo prazo com IBP são largamente relacionados com a interação destas drogas com o Helicobacter pylori. Em pacientes infectados por H. pylori, os IBP induzem gastrite e progressão para gastrite atrófica, porém não há provas que isto pode aumentar a incidência de câncer gástrico (SOHAILY; DUGGAN, 2008).

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5.2 Diminuição na Absorção de Nutrientes

Os IBP diminuem a absorção de vitamina B12 ao reduzirem a acidez gástrica. Esta ação se deve a uma alteração no ciclo do pepsinogênio, o qual necessita de certa acidez gástrica para ser transformado em pepsina retirando, assim, a vitamina B12 contida nos alimentos ingeridos por pacientes idosos que já possuem atrofia gástrica, possivelmente por infecção de H. pylori, o uso crônico de IBP pode reduzir a concentração sérica de vitamina B12 (THOMSON et al., 2010).

Outra reação complicada vinculada ao uso prolongando e regular (neste caso um ano ou mais) dos IBPs é a redução nos níveis de magnésio no fluxo sanguíneo (hipomagnesia), podendo provocar expansão da ocorrência de espasmos (contração involuntária do músculo) nas pernas, arritmias cardíacas, convulsões e mudanças de entusiasmo. Pacientes que fazem uso de outros fármacos que enfraquecem a concentração do magnésio plasmático, como os diuréticos e a digoxina, têm grandes riscos de distinguirem hipomagnesia ao utilizarem IBPs (PECK,2011).

A absorção duodenal de ferro orgânico e não orgânico também pode ser afeta do com o tratamento crônico destes medicamentos (SHARMA et al., 2004 apud THOMSON, 2010).

Entretanto, este efeito é pequeno, não estando associados com um aumento no risco de deficiência de ferro (KOOP et al., 1992 apud THOMSON,2010).

5.3 Interação com o Clopidogrel

O clopidogrel, um antiagregante plaquetário, é convertida no fígado em sua forma ativa pelas isoenzimas do citocromo P450. Alguns estudos relatam que os inibidores de bomba de prótons podem inibir o citocromo P450, diminuindo a eficácia do medicamento, o que pode resultar em aumento riscos de desfechos cardiovasculares.

Segundo Melloni (2015) et al, os IBP interferem com a metabolização do clopidogrel ao competirem pela enzima hepática CYP2C19. Contudo, foi observada uma diminuição da eficácia de outros agentes antiplaquetários como a aspirina e o ticagrelor e nem um nem outro necessitam de ativação pelo CYP2C19. No entanto, os resultados são contraditórios se compararmos estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados (RCT). Ao analisarmos estudos observacionais, é evidente uma associação entre a toma de IBP e o aumento do risco de SCA e interação com o clopidogrel, mas ao avaliarmos os dados de alguns RCT (são escassos os realizados nesta área) essa associação parece não estar presente.

São necessários mais estudos nesta área, especialmente estudos de alta evidência cientifica prospetivos e randomizados de forma a diminuir vieses não identificados.

5.4 Pneumonia Adquirida na Comunidade

A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é um diagnóstico muito comum e com peso relevante em mortalidade. Foi sugerido recentemente que um dos efeitos adversos da ingestão de supressores ácidos, principalmente da classe dos IBP, seria o aumento do risco de PAC e dos internamentos por esta causa.

Existem vários processos patogénicos propostos para explicar este aumento de incidência de PAC nos doentes tratados com IBP. A diminuição do ácido gástrico altera a flora intestinal, esta alteração associada à microaspiração do conteúdo gástrico (já de si mais prevalente nos doentes com DRGE) é um dos mecanismos propostos. Outra hipótese baseia- se no fato de terem sido identificadas recentemente bombas de prótons tanto no trato respiratório superior como no inferior e a sua inibição pelos IBP pode causar uma alteração do pH pulmonar e brônquico que facilita a infeção direta por agentes patogénicos (ALTMAN, 2005). Estas propostas de mecanismos patológicos são plausíveis com o risco superior de pneumonia no primeiro mês, pois é durante este período que a flora respiratória e

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gastrointestinal sofre maior alteração. Outra justificativa para a maior incidência de PAC no período inicial do tratamento é que o doente com comorbidades que inicia IBP pode adoecer enquanto o doente saudável é capaz de resistir ao risco acrescido.

5.5 Redução da Absorção de Cálcio

Os osteoclastos são células que participam do processo de absorção e remodelação do tecido ósseo. Assim como a mucosa gástrica, possuem bombas de prótons os quais são utilizados para a excreção de íons H+, produzindo um meio ácido, auxiliando na descalcificação da matriz óssea. Os IBP, ao inibirem a bomba de prótons da mucosa gástrica também inibem a bomba de prótons dos osteoclastos, interferindo no metabolismo ósseo podendo ocasionar riscos de fraturas (VESTERGAARD et al., 2006).

De acordo com THOMSON et al. (2010), a utilização de IBP é associada com um aumento de risco de osteoporose, osteopenia e fraturas ósseas, podendo este aumento depender da duração de tratamento e da dose utilizada.

Nos estudos de HO et al. (2009) descobriram que a chance de uma pessoa ter uma fratura de bacia era de 44% maior se fazia uso de um IBP por mais de um ano. Com base nos dados disponíveis, o FDA recomenda que os profissionais considerem a possibilidade de prescrever doses baixas e/ou tratamentos de curta duração com os IBP. Os pacientes devem ser orientados a não suspender o tratamento, a menos que sejam orientados desta forma pelo médico (Revista O Farmacêutico, 2010, p.6).

5.6 Redução da Função Leucocitária

Os leucócitos são encaminhados ao sítio de infecção por um processo bem regulado e de várias etapas, governados por expressão de moléculas adesivas na superfície do endotélio e dos leucócitos. Estudos têm demonstrado que os IBP causam uma diminuição na expressão das moléculas de adesão intercelulares 1e nas moléculas de adesão de células vasculares 1 que aparecem no endotélio e nas integrinas b2 da superfície das células brancas, resultando em decaimento da adesividade em resposta à ativação das células endoteliais (YOSHIDA et al., 2000 apud RODRÍGUEZ, 2007).

7 CONCLUSÃO

Atualmente os IBP são prescritos indiscriminadamente por profissionais de saúde e são fármacos de venda livre o que leva a um excesso da sua utilização. Muito utilizado por pessoas de todas idades, inclusive crianças. Os efeitos colaterais do uso a curto prazo são poucos como diarreia, dor abdominal, náusea e dor de cabeça, o que aumenta o uso indiscriminado por automedicação. Desta forma, é importante educar a população e os prescritores para uma prescrição mais apropriada e regrada pois a instituição de terapêutica de supressão ácida com IBP tem indicações definidas e estas devem ser seguidas a fim de evitar a exposição desnecessária a possíveis fatores adversos.

O uso prolongado dos IBPs conforme abordado nesse artigo pode trazer muitas complicações, porém algumas ainda com poucos estudos comprobatórios. Existem pesquisas, porém as amostras pouco direcionadas dificultando a definição da relação IBP e seus efeitos.

Ao inibirem a secreção gástrica consequentemente acidez há uma redução na absorção de Vitamina B12 que tem função essencial para o bom funcionamento do sistema nervoso central e hematológico. A associação entre a toma de IBP e o défice de Vitamina B12 está presente, mas sem evidência para a sua causalidade. Mais estudos, prospetivos, randomizados e com controlos bem definidos, têm que ser realizados nesta área de forma a confirmar ou

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negar a associação causal entre a terapia com IBP e o déficit dessa vitamina. Quanto à redução da absorção do cálcio existem estudos que apontam ao risco aumentado para osteoporose e fraturas ósseas e outros atuais não apontam. Nesses mesmos estudos também existem ressalvas quanto aos fatores de riscos apresentados pelo paciente como histórico familiar de doenças como osteoporose. Há recomendação do FDA para prescrições de IBPs em dose baixas por curto prazo e que os pacientes não suspendam o tratamento.

Em relação à interação medicamentosa com o clopidogrel ainda se faz necessários mais estudos e pesquisas com amostras direcionadas, mas o que já tem disponível demonstra possível inibição do citocromo P450 diminuindo eficácia do clopidgrel, antiagregante plaquetário, aumentando os riscos de desfechos cardiovasculares.

A Pneumonia Adquirida na Comunidade em pacientes em uso de IBP possui vários processos patogênicos capazes de explicar o aumento da incidência dessa doença. Uma delas é que a diminuição da acidez gástrica altera a flora intestinal promovendo microaspiração do conteúdo gástrico, sendo ainda mais prevalentes em pacientes com DRGE. Também se conclui a necessidade de mais estudos devido heterogenicidade das amostras das pesquisas existentes.

Estudos recentes demonstram alterações proliferativas gástricas no uso prolongado de IBPS. Ainda existem muitas controvérsias a respeito do assunto, porém a elevação do ph, como consequência do uso crônico, leva a uma hiperproduçõ de gastrina que causa hiperplasia das células ECL. Não é ainda possível confirmar uma associação entre a toma crónica de IBP e o desenvolvimento de neoplasia gástrica. Contudo, existem alterações histológicas e serológicas importantes nestes doentes que não podem ser ignoradas e devem ser melhor estudadas. A hiperplasia das células ECL é um efeito aceito, contudo não é certa a sua relevância clínica.

É importante reforçar a necessidade de maior investigação nesta área, uma vez que os IBP são um dos fármacos mais utilizados a nível mundial e, caso se confirmem os efeitos adversos propostos, estes podem estar a contribuir de uma forma silenciosa para uma grande mortalidade a nível mundial.

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