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Eixo 2 Planejamento e Gestão do Ecoturismo em Unidades de Conservação

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VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS SERVIÇOS RECREATIVOS E ECOTURÍSTICOS

EM UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO – O CASO DO PARQUE NACIONAL DA

TIJUCA (RIO DE JANEIRO – RJ) – BRASIL

Ricardo Rodrigues Malta1 Nadja Maria Castilho da Costa2

Vivian Castilho da Costa3 1Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Geografia, UERJ, ricomalta14@ig.com.br 2Profª Drª em Geografia, Departamento de Geografia, UERJ, nadjagea@bol.com.br 3Drª em Geografia, UERJ, vivianufrj@yahoo.com.br

Eixo 2 – Planejamento e Gestão do Ecoturismo em Unidades de Conservação Palavras-chaves: valoração econômica, ecoturismo, unidade de conservação. Introdução

A crescente preocupação do homem com a natureza tem razão econômica, social e ecológica. Durante séculos de exploração, o homem vem se apoderando dos recursos naturais tidos, até pouco tempo, como “infinitos”, para satisfazer suas necessidades através dos processos produtivos cada vez mais excludentes socialmente e prejudiciais ambientalmente. A natureza nunca teve o seu “real” valor mensurado e computado nessa injusta contabilidade, onde os lucros são individualizados e os custos socioambientais, pelo contrário, socializados.

As funções ecossistêmicas, principalmente das florestas tropicais, são ignoradas ou mal conhecidas, “(...) não se aprendendo sequer a respeitar o valor intrínseco de cada ser vivo” (RICKLEFS, 1996, p.405). Um dos mais importantes documentos ambientais, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), reconhece que a conservação, a preservação e o uso sustentável da biodiversidade possuem valores econômicos, sociais e ambientais, e destaca a necessidade de utilizar instrumentos econômicos na gestão da conservação da biodiversidade. Conhecer estes valores significa garantir que a variável ambiental tenha peso efetivo nas tomadas de decisões em políticas públicas.

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ecoturismo e a recreação são atividades que usam os recursos naturais de forma “indireta”, não retirando nada do ambiente, que é apenas apreciado, apresentando, dessa forma, uma afinidade incontestável com as UC’s, particularmente os parques nacionais.

Os Parques Nacionais (PARNA) são áreas de domínio público (MMA, 2000 apud KINKER, 2002), que destinam-se à proteção integral de ambientes naturais de grande relevância ecológica, cênica, científica, cultural, educativa e recreativa, onde não se permite qualquer interferência humana direta, com exceção das ações de manejo necessárias para sua administração. A visitação pública é permitida, porém está sujeita às normas e restrições estabelecidas no plano de manejo da unidade, pelo órgão gestor e previstas no Decreto nº 84.017/79, que regulamenta os parques nacionais brasileiros.

Os benefícios diretos e indiretos que os parques nacionais trazem para a sociedade são, entre outros: a manutenção da biodiversidade e dos processos ecológicos, as oportunidades de recreação, ecoturismo, educação ambiental e pesquisa, e a proteção dos valores estéticos, espirituais, culturais, históricos e existenciais (DIXON, SHERMAN, 1990

apud KINKER, 2002, p.37).

Em países que adotam políticas de conservação da natureza, são cada vez mais comuns trabalhos que estimam o valor econômico associado aos serviços ambientais das áreas naturais protegidas, o que contribui para sua gestão sustentável. Um grande número de serviços e funções ambientais está disponível na literatura e vários métodos para sua avaliação foram propostos e aplicados a diferentes ecossistemas regionais e mundiais (MAY, 1994; SERÔA DA MOTTA, 1997; COSTANZA et al., 1998; BALMFORD et al., 2002

apud MIKHAILOVA et al., 2004, p.2). Como bem ressalta ORTIZ et al. (2003, p. 82), “a

valoração econômica dos recursos naturais permite ao contribuinte identificar a contrapartida, em termos de gastos orçamentários exigidos para a conservação destas áreas, e indica aos gestores de recursos ambientais com orçamentos limitados quais são as prioridades da sociedade, permitindo um melhor controle e gerenciamento das demandas”.

Segundo WALLACE (1997) e DRIVER et al. (1990 apud BARROS, 2003, p.5), existem diversos valores associados ao estabelecimento de áreas naturais protegidas: valor de conservação; valor científico e educativo; valor histórico e cultural; valor estético; valor econômico; valor recreativo e terapêutico; valor espiritual e valor intrínseco. Desses valores, será enfocado nesse artigo o valor de uso recreativo, onde está inserido o valor de uso ecoturístico.

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de Custo de Viagem (MCV) mensura o benefício de áreas naturais com base nos custos de se utilizar tais áreas para fins de recreação e ecoturismo. Considera as oportunidades de recreação e ecoturismo condicionadas às opções dos “consumidores” – visitantes –, e ao tempo e dinheiro disponíveis para tais atividades. A hipótese a ser testada seria a de que quanto mais longe da área natural os visitantes residem, menos uso desta – menor número de visitas – eles fazem, porque aumentaria o custo de viagem para deslocamento. Os custos de viagem afetariam a taxa de visitação. A visitação em áreas naturais protegidas seria um privilégio dos moradores provenientes de localidades próximas – bairros vizinhos – e do Estado onde estas se localizam.

A área de estudo escolhida, a Floresta da Tijuca, faz parte do Parque Nacional da Tijuca (PNT), criado pelo Decreto Federal nº 50.923, de 06/07/1961, com a denominação de Parque Nacional do Rio de Janeiro, depois alterada para o nome atual pelo Decreto Federal nº 60.183, de 08/02/1967. O Parque, que recebe um fluxo de aproximadamente 1,4 milhão de visitantes por ano (ISER, 2000), está inserido no Maciço da Tijuca, área urbana da cidade do Rio de Janeiro, localizando-se entre os paralelos 22º55’S e 23º00’S e os meridianos 43º11’W e 43º19’W, estendendo-se por uma área de 3.953 hectares, circundada por alguns dos principais bairros residenciais da cidade (Figura 1).

O PNT é constituído de quatro setores, diferenciados pelo uso e ocupação, pelas características ambientais e pelo estado de conservação: (A) Floresta da Tijuca (conjunto Andaraí, Tijuca e Três Rios); (B) Parque Lage e Complexo da Carioca (conjunto Sumaré, Corcovado, Paineiras, Trapicheiros e Gávea Pequena) incluindo a Vista Chinesa e a Mesa do Imperador; (C) Pedra da Gávea e Pedra Bonita; e (D) Floresta do Covanca e Serra dos Pretos Forros.

A Floresta da Tijuca foi escolhida como objeto de estudo desse trabalho pelos seguintes motivos: (a) ser um importante remanescente de Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados de extinção no mundo, além de ser considerada a maior floresta urbana do mundo; (b) ser uma importante área de recreação e ecoturismo não somente para os turistas de outros estados e/ou países, mas também para os moradores da cidade do Rio de Janeiro, pois concentra a maior parte do patrimônio histórico-cultural do PNT, diversos locais para piquenique, recreação, lazer, ecoturismo e descanso, como trilhas que acessam mirantes, o que permite com que o visitante aproveite as belezas e paisagens de uma floresta tropical; (c) ser uma área de relevância ecológica internacional, sendo o primeiro caso bem sucedido de reflorestamento no mundo.

Figura 1

Mapa de Localização

da Área de Estudo

22°40' 22°40'

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Foto 1. Visão panorâmica da cidade do Rio de Janeiro. Foto tirada do Pico da Tijuca por Ricardo Rodrigues Malta.

A área conta com recursos naturais variados, como grutas, quedas d’água, lagos e mirantes. Entre eles destacam-se a Gruta Paulo e Virginia e a Vista do Almirante, o Açude da Solidão, a Cascatinha de Taunay, o Lago das Fadas e o Bom Retiro, que é o ponto de partida para as trilhas que levam aos cumes mais altos do parque. São também significativas a Represa dos Ciganos, na Floresta Santa Inês, e as ruínas de Vila Rica, situadas na Floresta do Andaraí. Nesse conjunto pode-se encontrar loja de souvenires, na Praça da Cascatinha, churrasqueiras, cestas coletoras de lixo, mesas e bancos para piqueniques e churrasco, ponte-pênsil, playgrounds, sanitários públicos e estacionamentos, além dos restaurantes “Cascatinha”, “Os Esquilos” e “A Floresta”. Destacam-se, ainda, a presença de objetos turísticos de cunho histórico-cultural, como a Capela Mayrink, construída em 1860, o Museu do Açude, a antiga residência do Barão d’Escragnolle, onde funciona o restaurante “Os Esquilos”, a antiga residência do Barão do Bom Retiro, que serviu de sede campestre à Sociedade Hípica Brasileira, a antiga casa de escravos do Major Archer, as guaritas nos portões principais de acesso à Floresta da Tijuca, o do Açude da Solidão e da Cascatinha, a edificação conhecida como Barracão, onde funciona a sede administrativa do parque e o sobrado “em ruínas”, conhecido como “A Fazenda”.

Objetivos

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visita, quer dizer, a qualidade da “experiência” que o visitante teve com a sua visita à Floresta da Tijuca; e (d) contribuir para a gestão de uma UC e como fonte de informações para posteriores estudos científicos e acadêmicos.

É importante ressaltar que esse artigo faz parte de uma dissertação de mestrado, conectado a uma abordagem geográfica, pois a Geografia, em particular a Geografia do Turismo, também estuda e se interessa pelos fenômenos do turismo e do lazer, onde as atividades de ecoturismo e recreação estão inseridas, entre outros conceitos geográficos, propriamente ditos, como o de território e espaço, uns dos mais tradicionais, importantes, discutidos e ricos da Geografia.

Metodologia

Inicialmente foi realizado o levantamento de dados e informações através da pesquisa bibliográfica e na internet, o que fundamentou a pesquisa de gabinete e de campo a ser desenvolvida na Floresta da Tijuca.

Os dados secundários foram levantados junto aos órgãos públicos e instituições acadêmicas: bases digitais cartográficas na Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro (FUNDAÇÃO CIDE); informações do Plano de Manejo do Parque Nacional da Tijuca (IBDF, FBCN, 1981); dados quantitativos sobre a visitação da Floresta da Tijuca no Setor de Ecoturismo do PNT; acervos bibliográficos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Foi utilizado o software ArcView 3.2 para a entrada das bases cartográficas e para a geração e integração dos planos de informação.

A partir da adaptação de alguns estudos (ISER, 2000; NIEFER, 2002; COSTA, 2002; KINKER, 2002; BARROS, 2003; SANT’ANNA, 2005) foi elaborado um questionário estruturado visando obter as informações necessárias para se identificar o perfil da visitação e dos visitantes da Floresta da Tijuca. De acordo com ROGGENBUCK e LUCAS (1987 apud BARROS, 2003, p.23), “conhecer as características dos visitantes pode melhorar a qualidade de sua experiência”.

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conhecimento da existência da Floresta da Tijuca com área de lazer; a dificuldade em achar ou chegar à Floresta da Tijuca; e os meios de transporte utilizados; (b) caracterizar o visitante, através de informações que descrevem os seus atributos, tais como: a origem ou procedência do visitante (zona residencial onde mora); preferências, quer dizer, se costuma visitar outras áreas naturais nas quais poderia aproveitar o seu tempo livre em atividades de lazer; e dados socioeconômicos, como nível de escolaridade, renda familiar mensal, idade, sexo, profissão; (c) analisar a percepção do visitante, quanto ao meio ambiente do Parque e suas atividades recreacionais e ecoturísticas, com relação aos problemas e deficiências do parque quanto a sua infra-estrutura de serviços, produtos e equipamentos de lazer; e (d) realizar a avaliação geral da visita, através das informações sobre os benefícios que os visitantes receberam durante a visitação: o quanto ficou satisfeito com sua experiência na natureza; se indicaria o passeio a amigos e/ou parentes; se pretende voltar.

As perguntas utilizadas foram do tipo: (a) fechadas dicotômicas (somente duas opções de respostas são possíveis) ou de múltipla escolha; (b) abertas (resposta livre); (c) escalas nominais (ex: gênero); e (d) escalas de avaliação verbais (ex: muito satisfeito/pouco/não satisfeito) (MATTAR, 1994; SAMARA, BARROS, 1997 apud NIEFER, 2002).

Foram aplicados questionários suficientes para dar confiabilidade à amostragem. Os dados referentes ao número de visitantes que a Floresta da Tijuca recebeu, de janeiro de 2004 a agosto de 2006 (Figura 2) foram obtidos junto ao setor de Ecoturismo do PNT, localizado no Centro de Visitantes da Floresta da Tijuca. Como os valores são muito altos, na ordem de 360 mil visitantes anuais, a amostragem foi considerada satisfatória, na medida em que as principais perguntas fechadas se tornaram repetitivas, recorrentes. Foram aplicados 228 questionários, no período de fevereiro a dezembro de 2006.

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Figura 2. Total mensal de visitantes na Floresta da Tijuca – jan/2004 a ago/2006 Os dados foram coletados através de entrevistas pessoais aplicadas nos finais de semana e nos feriados, por se tratarem de dias com maior fluxo de visitantes no Parque. Os locais escolhidos para a aplicação dos questionários foram: Meu Recanto e Bom Retiro, por se tratar de locais com grande fluxo de visitantes. Era importante questionar o visitante que já estava de saída do parque, e não o recém-chegado à área natural, pois aí sim o visitante já se encontrava com uma opinião formada acerca de todos os aspectos da visitação, podendo avaliar e questionar a qualidade dos serviços oferecidos e os atrativos visitados, assim como opinar sobre uma hipotética taxa de ingresso no parque.

O tipo de amostra foi a “não probabilística por conveniência”, onde o entrevistado era selecionado por estar disponível no local e no momento em que a pesquisa era realizada. Os resultados foram compilados sob a forma de histogramas de freqüência (Figuras 3 a 7).

Os dados coletados foram tabulados e analisados estatisticamente através do programa Excel for Windows. Foi utilizada uma abordagem geográfica e econômica.

Nesta pesquisa, para estimar o valor de uso recreativo da Floresta da Tijuca, optou-se por utilizar o Método de Custo de Viagem (MCV) pela facilidade de sua aplicação, por sua boa aceitação no meio acadêmico, e por ser um dos métodos indiretos mais utilizados para valorar atividades recreacionais e ecoturísticas, atendendo ao objetivo desta pesquisa.

Dessa forma, o MCV busca, a partir dos custos efetivados pelos indivíduos até o local de recreação, estimar os benefícios auferidos pela referida atividade recreativa (TISDELL,1991). A estimativa da função de demanda através de observações individuais pode tornar-se enviesada, na medida que não considera que apenas uma pequena parte da população das zonas mais distantes participa da atividade (BROWN et al., 1983). Visando solucionar estes problemas os autores sugerem que a variável dependente, freqüência de visita, seja expressa em termos per capita.

ADAMOWICZ (1991) ressalta a vantagem da utilização do MCV quando permite ao pesquisador testar e inferir hipóteses a cerca dos modelos de comportamento dos visitantes que freqüentam o local de recreação, o que pode subsidiar os órgãos gestores nas ações de manejo e formulação de políticas públicas para a área em questão.

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passagens de ônibus (GP), além do custo de oportunidade do tempo (COT) de deslocamento até a Floresta da Tijuca ou custo do tempo de viagem (CTV), e o custo do tempo de permanência na Floresta (CTP).

Algebricamente, o CV pode ser escrito da seguinte forma: CV = CTT + COT + GAS Para o cálculo dos gastos com combustível (GC) foi considerada uma média de gasto para automóveis de 10 km / litro e para motocicletas de 15 km / litro, sendo que foi considerado, como base de cálculo, o valor do litro da gasolina, R$ 2,50, cobrado no município do Rio de Janeiro em dezembro de 2006.

GC = distância do local de residência do visitante (km - ida / volta) x litro de combustível

consumo médio de combustível

Para os visitantes que utilizaram o transporte de ônibus (GP), foram consideradas as tarifas vigentes no município do Rio de Janeiro, em dezembro de 2006, conforme as empresas de ônibus utilizadas pelos visitantes, correspondentes aos valores (somente ida) de R$ 2,00 (até o bairro da Tijuca) e R$ 2,20 (da Tijuca para a Praça Afonso Vizeu, no Alto da Boa Vista, onde localiza-se o portão de entrada principal da Floresta da Tijuca).

Algebricamente, o CTT pode ser escrito assim: CTT = CTV + GC + GP

O Custo de Oportunidade do Tempo (COT) entendido como o valor que o visitante estaria deixando de ganhar ao utilizar o seu tempo numa viagem, é considerado uma variável importante na estimativa do valor de uso recreativo, sendo somado aos gastos individuais para gerar os custos de viagem. Além disso, a mensuração do COT usa uma proporção da taxa de salário dos indivíduos, sendo esta taxa arbitrária e independente da população amostrada (McCONNELL et al., 1981). Vários estudos têm sugerido o cálculo com base no valor de um terço a um quinto da renda mensal. CESARIO (1976) e PEARCE (1976) sugerem o valor em torno de um terço da renda mensal, CAULKINS et al. (1986) recomendam a utilização de um quarto da renda.

No entanto, o COT para essa pesquisa foi calculado com base nos trabalhos realizados por NAVRUD & MUNGATANA (1994) e RICHARDS & BROWN (1992) sendo calculado como o produto da soma do tempo gasto na viagem ou deslocamento e o tempo de permanência do visitante na Floresta da Tijuca pela taxa temporal. Finalmente, este custo (COT) foi somado aos outros gastos para gerar os custos de viagem.

O COT pode ser escrito algebricamente da seguinte forma: COT = (CTP + CTV) onde:

CTV = TV x 1/3 do salário ($) / hora (h) CTP = TP x 1/3 do salário ($) / hora (h)

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160 horas de trabalho mensal

Apesar de variar o número de horas de trabalho por dia e o número de dias de trabalho por mês entre os visitantes, para efeito desta pesquisa considerou-se como sendo os mesmos para todos os entrevistados. Dessa forma, admitiu-se que os visitantes trabalham em média 24 - 26 dias no mês e 8 horas a cada dia. Admitiu-se, também, como base de cálculo, o salário mínimo vigente em dezembro de 2006, no valor de R$ 380,00.

Resultados / Discussão

Após o cálculo do Custo Total de Viagem (CV) individual, e soma de todos os excedentes dos consumidores (visitantes), chegou-se ao Custo Médio de Viagem (CVme) de R$ 39,41. Conhecido o público de visitantes anuais da Floresta da Tijuca, 360 mil – segundo dados do Setor de Ecoturismo do PNT –, seu valor de uso recreativo anual foi estimado em R$ 14.186.091,56.

Com relação ao perfil de visitantes, uma série de estudos realizados sobre a visita e os visitantes de áreas naturais – MAGRO et al. (1990), no Parque Estadual da Ilha Anchieta, TAKAHASHI (1998), no Parque Estadual Pico do Marumbi e Reserva Natural de Salto Morato, KINKER (2002), no Parque Nacional do Caparaó e Parque Nacional Aparados da Serra, BARROS (2003), no Parque Nacional do Itatiaia, entre outros – apontam algumas tendências: (a) o número de visitantes é tanto maior quanto mais fáceis forem as condições de acesso; (b) a maioria de visitantes visita a área pela primeira vez, em viagens por conta própria, e permanece apenas por um dia; (c) a visitação é realizada predominantemente por moradores das localidades próximas e do Estado onde as áreas protegidas se encontram; (d) a maioria dos visitantes tem alto nível de escolaridade e possui renda média entre 10 a 25 salários mínimos; (e) há predomínio de estudantes; (f) o tempo de permanência nos parques é diretamente proporcional ao número de atrativos e atividades disponíveis, bem como o nível de liberdade que o visitante tem para se movimentar pela área; (g) a maioria dos visitantes percebe os impactos provocados pelo uso recreativo; (h) a maioria dos visitantes possui pouca experiência e comprometimento com as áreas naturais.

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13,60 22,37 14,91 17,54 18,42 13,16 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 até 2 salários mínimos de 2 a 4 s.m. de 4 a 7 s.m. de 7 a 10 s.m. de 10 a 15 s.m. mais de 15 s.m.

Figura 3. Renda familiar mensal dos entrevistados (%).

A faixa etária dos entrevistados é constituída, predominantemente, por indivíduos jovens: 51,31% dos visitantes apresentam idades entre 18 e 35 anos (Figura 4).

O perfil sociocultural dos entrevistados demonstra que os visitantes apresentam um elevado grau cultural. A maioria dos visitantes apresenta nível de escolaridade superior (60,53%), seguido de indivíduos com o ensino médio (29,39%) e de visitantes que têm nível de escolaridade baixo, ou não concluíram o ensino fundamental (4,39%) (Figura 5). O nível cultural dos indivíduos deve ser considerado como elemento balizador nos programas de Educação e Interpretação Ambiental em UC’s.

11,40 39,91 28,51 9,65 2,63 7,89 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00

18-20 anos 21-35 anos 36-50 anos 51-65 anos mais de 65 anos

não respondeu

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4,39 29,39 60,53 3,51 2,19 0 10 20 30 40 50 60 70 ens ino fundamental

ensino médio ens ino s uperior pós -graduação não res pondeu

Figura 5. Nível de escolaridade dos entrevistados (%).

Como a Floresta da Tijuca está localizada dentro de uma área urbana, a maioria dos visitantes é composta por moradores de bairros vizinhos, localizados no entorno dos limites territoriais do Parque: Tijuca, Vila Isabel, Grajaú, Méier, Barra da Tijuca, Freguesia, Jardim Botânico, Santa Tereza e Gávea. Esses bairros perfazem um total de 53,07% da procedência dos visitantes.

A Floresta da Tijuca apresenta uma considerável diversidade de grupos de visitantes, sendo que a maioria dos visitantes vem acompanhada de amigos e/ou familiares (77,54%). Com relação ao número de pessoas que compõem o grupo de visitantes, 70,13% desses grupos são compostos de 2 a 4 visitantes.

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36,84 5,26 11,40 14,04 31,14 1,32 0 5 10 15 20 25 30 35 40

1ạ vez 2ạ vez até 3

vezes/ano 4-10 vezes/ano mais 10 vezes/ano não respondeu

Figura 6. Freqüência de visitação do entrevistado (%).

Dos usuários considerados “freqüentadores” da Floresta da Tijuca, 21,95% já a freqüentam por um período inferior a 5 anos. Se considerarmos somente os freqüentadores há mais de 16 anos chegaríamos a um indicador de 56,10%.

Com relação ao tempo de permanência: 51,76% dos visitantes desenvolvem suas atividades recreativas e ecoturísticas em intervalo de tempo, variando entre 2 a 4 horas; 25% costumam permanecer no parque de 4 a 6 horas; e 18,86% até 2 horas (Figura 7).

Com relação aos principais motivos que levaram o visitante a procurar a Floresta da Tijuca como área de lazer, o passeio (31,05%), a contemplação da natureza (16,61%), e a vontade de “fazer trilhas” (15,88%) foram as respostas mais significativas.

Com relação a outras oportunidades de lazer em ambientes naturais, 62,39% dos entrevistados responderam que costumam visitar outras áreas naturais ou parques nos quais podem usufruir de atividades de lazer. Os lugares mais citados pelos visitantes foram o Jardim Botânico, o Parque Lage, e os parques nacionais da Serra dos Órgãos e de Itatiaia. 3,51 15,35 16,23 35,53 15,35 9,65 1,32 2,19 0,88 0 5 10 15 20 25 30 35 40

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Questionados sobre a principal atividade realizada no PNT, a prática da caminhada foi o item que alcançou as maiores freqüências relativas (45,71%). Outros itens que merecem menção foram: a observação da paisagem (12,24%), a fotografia (7,76%), o passeio (7,35%) e a realização de piqueniques e churrascos (6,94%). O parque oferece uma ampla gama de atividades potenciais. De acordo com Robim (1999), é necessário que as oportunidades de recreação e de lazer sejam bem divulgadas, para que possam atrair a participação da comunidade local e regional, principalmente promovendo eventos e atividades de interpretação e educação ambiental.

Falta de conservação do patrimônio histórico-cultural e da infra-estrutura de lazer da Floresta da Tijuca (6,92%), banheiros precários ou fechados (6,54%), presença de lixo nas trilhas e na floresta (6,15%), falta de segurança e fiscalização (5,77%), e falta de sinalização (placas) nas trilhas e estradas (5,38%) foram os problemas mais freqüentemente mencionados pelos entrevistados. Juntamente esses “problemas” constituíram 61,07% das queixas, ou 30,76% das respostas dos entrevistados. Entretanto, um número significativo de entrevistados não percebeu problema nenhum em sua visita (44,23%).

Perguntados sobre a qualidade de sua visita, 50,46% dos entrevistados responderam que ficaram muitos satisfeitos com a “experiência” da visita à Floresta da Tijuca.

Com relação a essa satisfação em visitar a Floresta da Tijuca, pelo menos 85,09% dos entrevistados declararam que pretendem voltar à Floresta. Isso, porque 14,04% não responderam à pergunta. E, 100% dos entrevistados declararam que indicariam para parentes e amigos a área da Floresta da Tijuca para futuras atividades de recreação, ecoturismo e lazer.

Conclusão

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melhoria dos atrativos oferecidos, e mostrando, através da valoração, a importância da Floresta da Tijuca como área “real e potencial” de lazer para os moradores da cidade do Rio de Janeiro.

Os resultados deste trabalho servirão para os gestores do PNT avaliarem melhor os serviços oferecidos pelo parque, quer dizer, se esses estão atendendo à demanda dos visitantes, consumidores de recreação e ecoturismo. Servirão, também, como fonte de informações científicas e como subsídio para o planejamento ambiental e ecoturístico do PNT.

A avaliação do perfil dos visitantes mostra que o parque apresenta um enorme potencial para práticas de recreação e ecoturimo, e que a oferta de serviços não satisfaz a demanda atual por estas atividades. Os públicos distintos (freqüentadores e visitantes) procuram o parque para desenvolver atividades também distintas em intervalos de tempo diferenciados, ou seja, o público divide-se quanto ao tipo de atividade desenvolvida. Um grupo muito dinâmico, bastante numeroso, desenvolve atividades físicas durante curto intervalo de tempo, porém, repetidas vezes, ao longo do ano. Já um outro grupo, mais sedentário, visita o parque em busca de ambientes mais bucólicos, compatíveis com suas atividades, durante longos períodos do dia, porém, em menor número de vezes ao longo do ano.

O principal atrativo para os usuários do PNT, visitantes e freqüentadores, é o estreitamento de suas relações com os ambientes naturais, seja pelos componentes da paisagem do parque, seja pelos elementos contidos nas paisagens dentro e fora de seus limites.

Bibliografia Citada

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