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A REVISTA ESCOLA SECUNDÁRIA E A CADES: TRAÇOS DE UMA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (MATEMÁTICA)

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Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 1

A REVISTA ESCOLA SECUNDÁRIA E A CADES: TRAÇOS DE UMA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

(MATEMÁTICA)

Ivete Maria Baraldi Universidade Estadual Paulista – Bauru – SP1

ivete.baraldi@fc.unesp.br Rosinéte Gaertner Universidade Regional de Blumenau - Blumenau – SC

rogaertner@gmail.com

Resumo: A Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundária – CADES – foi criada na gestão de Armando Hildebrand na Diretoria do Ensino Secundário e no governo de Getúlio Vargas a partir do Decreto nº 34.638, de 14 de novembro de 1953.

Tinha como objetivo difundir e elevar o nível do ensino secundário, tornando a escola secundária eficaz e acessível. Para atingir esse objetivo, uma das ações realizadas foi a publicação de periódicos e manuais destinados à formação dos professores. A Revista Escola Secundária foi uma das publicações da Campanha, sendo que, neste trabalho, serão abordados alguns de seus aspectos, principalmente sobre os referentes às orientações para o ensino da matemática à época em que se deu a CADES.

Palavras-chave: Ensino de Matemática; CADES; Revista Escola Secundária.

INTRODUÇÃO

Há alguns anos nos deparamos, em nossas pesquisas individuais, com a formação de professores de matemática por meio da CADES – Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário. Devido aos traços comuns e das intersecções que nossas pesquisas possuíam, embora de Estados diferentes, decidimos empregar nossos esforços num objetivo comum: esboçar uma compreensão da ação da CADES quanto à formação de professores de matemática, mediante a localização e descrição de materiais – livros, revistas e outros documentos – publicados pela Campanha.

Dessa maneira, de total desconhecida à multifacetada, a CADES mostrou-se como um importante veículo dos ideais da época no que diz respeito à formação de professores e uma maneira dos docentes se aperfeiçoarem, discutirem e formalizarem sua prática, num

1 Apoio financeiro da FUNDUNESP para a participação e apresentação de trabalho no evento.

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momento que em nosso país era raro um lócus para tal exercício. Ainda, esse nosso estudo evidencia e mostra que essa Campanha, até os dias atuais, foi quase que totalmente ignorada pelos pesquisadores da História da Educação (Matemática), o que nos leva a acreditar que, muitas vezes, quando se estuda a formação de professores no Brasil, se adota uma postura elitista e centralizadora, focando somente os grandes centros e partindo de instituições de ensino consideradas tradicionais. Hoje em dia, ousamos afirmar que, mediante a dimensão continental do Brasil, quem for se embrenhar nos estudos relacionados à formação de professores, principalmente nas regiões interioranas, não pode deixar de olhar para a CADES.

Em fase de finalização, nossa pesquisa trata sobre os cursos oferecidos, os livros e as revistas publicadas e das impressões do professores que vivenciaram o tempo desta Campanha. No entanto, nesta oportunidade, trataremos sobre alguns aspectos da Revista Escola Secundária, publicação periódica e trimestral, por vários anos consecutivos, dos primeiros cursos até a extinção da CADES.

A CADES E SUAS PUBLICAÇÕES

A Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundária (CADES) foi criada na gestão de Armando Hildebrand na Diretoria do Ensino Secundário e no governo de Getúlio Vargas a partir do Decreto nº 34.638, de 14 de novembro de 1953. Declarava como sendo seus objetivos difundir e elevar o nível do ensino secundário, ou seja, tornar a educação secundária mais ajustada aos interesses e necessidades da época, conferindo ao ensino eficácia e sentido social, bem como criar possibilidades para que os mais jovens tivessem acesso à escola secundária. Para atingir esses objetivos, realizou cursos e estágios de especialização e aperfeiçoamento para professores, técnicos e administradores de estabelecimentos de ensino secundário; concedeu bolsas de estudo a professores secundários para realizarem cursos ou estágios de especialização e aperfeiçoamento, promovidos por entidades nacionais ou estrangeiras; criou o serviço de orientação educacional nas escolas de ensino secundário, entre tantas outras ações.

Uma destas ações, a partir de 1956, foi a promoção nas inspetorias seccionais – instâncias “menores” subordinadas às Secretarias Estaduais de Educação – cursos intensivos de preparação aos exames de suficiência que, de acordo com a Lei nº 2.430, de

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19 de fevereiro de 1955, conferiam aos aprovados o registro de professor do ensino secundário e o direito de lecionar onde não houvesse disponibilidade de licenciados por faculdade de filosofia. Esses cursos, geralmente, tinham a duração de um mês (janeiro ou julho) e eram elaborados a fim de suprir as deficiências dos professores, até então leigos, referentes aos aspectos pedagógicos e aos conteúdos específicos das disciplinas que iriam lecionar ou que já lecionavam nas escolas secundárias. Esses cursos atingiram as diversas regiões brasileiras.

Outra ação de fundamental importância foi a publicação de periódicos e manuais destinados à formação dos professores. Os livros publicados não eram de conteúdos específicos das disciplinas escolares. Eram manuais de “como ensinar”, ou seja, a preocupação era com “as didáticas”, o que de certo modo, servia como forma de regulação do que deveria ser o ensino secundário e da ação do professor que nele atuaria. A importância dessa produção bibliográfica só pode ser devidamente avaliada a partir da sua articulação com as precárias condições daquela época, quando a indústria editorial era incipiente e não havia disponibilidade de publicações voltadas para a área pedagógica.

Dentre as muitas publicações da Campanha, havia a Revista Escola Secundária, cujo primeiro exemplar foi lançado em junho de 1957. Era uma publicação trimestral publicada pela CADES, em conjunto com a Diretoria do Ensino Secundário e o MEC. À época, o diretor do Ensino Secundário era o professor Gildásio Amado, o coordenador da CADES era o professor José Carlos de Mello e Souza (irmão de Malba Tahan, que foi professor por oito anos pela CADES, em diversas localidades do país) e o redator-chefe da revista era o professor Luiz Alves de Mattos.

Essa Revista surgiu no momento identificado por Pinto (2008) como sendo o de consolidação e expansão (1956 – 1963) da CADES. Neste período, as ações da CADES foram ampliadas e os cursos foram espalhados por todo o Brasil, via inspetorias seccionais.

Para que, realmente, todas as regiões brasileiras fossem contempladas pela CADES, foram criadas as “missões pedagógicas”, definidas pelo Ofício Circular nº 15, de 10 de março de 1960, como equipes volantes compostas por membros treinados e que possuíssem experiência no magistério devidamente reconhecida.

Percebemos que a extinção da Revista ocorreu à época em que se deu o golpe militar, momento no qual Lauro de Oliveira Lima era diretor do ensino secundário e, devido sua aliança com “as ideias de esquerda”, foi afastado do cargo e de qualquer

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possibilidade de trabalho como inspetor federal de ensino. A publicação dos últimos exemplares ocorreu após 1963, mas não foi precisado um ano, coincidindo com o terminal período da CADES identificado por Pinto (2008). Tanto no trabalho desta autora quanto no de Baraldi (2003), não foi possível precisar uma data e os motivos para a extinção da CADES. Algumas hipóteses são levantadas pela primeira autora: a CADES sofreu de inanição, o que seria de se esperar de uma campanha que, normalmente, é criada para responder a determinadas demandas, num determinado período apenas; outra, que a expansão do ensino superior tenha colaborado com o motivo anterior e fortalecido seu apagar. Por fim, segundo as duas autoras, o golpe de misericórdia foi a Lei nº 5.692/71, principalmente no que diz respeito às licenciaturas plenas e curtas.

Foram publicados dezenove números da Revista, sendo a primeira edição de 1957 e a última não tem data específica, embora seja observado que, em suas primeiras páginas, estava pronta em 1963 “mas somente agora publicada”, que possibilita supormos que foi publicada na segunda metade da década de 1960.

Na apresentação feita por Gildásio Amado no primeiro número são explicitados os objetivos da revista: divulgar as mais importantes realizações e experiências de educadores nacionais e estrangeiros com a finalidade de estimular e facilitar o aperfeiçoamento técnico do trabalho docente bem como o de possibilitar a compreensão do papel da educação secundária brasileira.

Nas dezenove edições, são encontrados artigos referentes às seguintes áreas e temas: didática geral, orientação educacional, língua vernácula, latim, línguas estrangeiras, matemática, ciências naturais, história do Brasil, geografia, trabalhos manuais e economia doméstica, desenho, física, química, filosofia e educandários nacionais. Com exceção das duas últimas edições, são encontradas as mesmas características de composição: notas ou mensagens da redação e um artigo de cunho geral ou legislativo relativo à escola secundária; os artigos das áreas específicas; e para finalizar, o relatório ou noticiário da CADES, seção que eram descritas as atividades da Campanha e ocorria a divulgação de datas de eventos. Em algumas edições encontramos o Consultório da CADES, seção destinada às respostas das correspondências de professores que expressavam suas dúvidas sobre conteúdos específicos de suas disciplinas. É salutar observar que nesta Revista não existem espaços em branco, ou seja, em todas as páginas, após o término do artigo, o espaço restante era preenchido com dizeres de autores expressivos da área da educação ou

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filosofia.

Em nossa pesquisa, com relação à Revista Escola Secundária, a intenção foi a de identificar os artigos referentes ao ensino de matemática, bem como outros que tratavam indiretamente do assunto ou era escrito por algum professor de matemática. Resenhamos todos esses artigos e, em breve, publicaremos essas resenhas. Abaixo foram elencados os artigos relacionados ao ensino de matemática e que receberam atenção especial pelas pesquisadoras ao efetuarem as resenhas.

- 01 Jun/1957 – A Matemática na Escola Secundária – Profª Eleonora Lobo Ribeiro - 02 Set/1957 – Voltemos ao mercador de vinho – Prof. Malba Tahan

- 03 Dez/1957 – Plano de Curso de Matemática – Profª Eleonora Lobo Ribeiro;

Ensinando Matemática e contando história – Prof. França Campos

- 04 Mar/1958 – A definição da Matemática – Prof. Malba Tahan; Sobre o ensino da Geometria na Escola Secundária – Prof. Thales Mello Carvalho

- 05 Jun/1958 – A Aritmética e a Psicologia da Aprendizagem – Prof. João de Souza Ferraz; A Demonstração Matemática na Educação do Adolescente – Profª Eleonora Lobo Ribeiro

- 06 Set/1958 – O Período Primitivo da Matemática – Prof. Thales Mello Carvalho;

O Material Didático no Ensino da Matemática – Prof. Manoel Jairo Bezerra

- 07 Dez/1958 – Sugestões Para o Ensino da Geometria Dedutiva –Prof. Antonio Rodrigues; Provas Parciais de Matemática – Diversos Autores

- 08 Mar/1959 – O Ensino da Geometria Dedutiva na Escola Secundária – Profª Martha Blauth Menezes

- 09 Jun/1959 – A Suposta Aridez da Matemática – Prof. J.C. de Mello e Souza; A Matemática e a História Natural – Profª Neusa Feital

- 10 Set/1959 – Programa de Matemática para as Classes Experimentais do Colégio de Aplicação da F.N.Fi. – Profª Eleonora Lobo Ribeiro; O Material Didático no Ensino da Geometria – Prof. José Teixeira Baratojo

- 11 Dez/1959 – Aprendei as Matemáticas – Monsenhor Bruno de Colares; Uma Experiência do Estudo Dirigido em Matemática – Profª May Lacerda de Brito Monnerat

- 12 Mar/1960 – Estudo Dirigido em Matemática – Profª Sylvia Barbosa; Exemplos de Estudo Dirigido em Matemática – Profª Anna Averbuch; Círculo e Circunferência – Professores Pedro Pinto e Malba Tahan

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- 13 Jun/1960 – O Ensino de Estatística nas Escolas Holandesas – Prof. Lucas N.H.

Bunt; Ainda a Geometria Euclidiana para os atuais ginasianos? – Prof. Osvaldo Sangiorgi - 14 Set/1960 – O Medo da Matemática – Prof. J.C. de Mello e Souza; Análise de Provas Parciais de Matemática – Comissão de Professores

- 15 Dez/1960 – Sistemas de Equações Lineares – Prof. Leônidas Hegenberg;

Matemática para a 3ª e 4ª Séries Ginasiais – Prof. Luiz Alberto dos Santos Brasil

- 16 Mar/1961 – O Ensino das Médias Aritmética, Geométrica e Harmônica – Prof.

Sylvio de Souza Borges; Estudo Dirigido na 1ª Série Ginasial – Prof. Martinho da Conceição Agostinho

- 17 Jun/1961 – O Ensino da Matemática por caminhos concretos – Profª Ladyr Anchieta da Silveira; Exposição de Material Didático para o Ensino da Matemática – Prof.

Manoel Jairo Bezerra; Plano Experimental de Estudo Dirigido – Prof. Jair Leite Marins - 18 Sem data – Problemas de Aprendizagem da Matemática – Prof. João Baptista da Costa

- 19 Sem data – O Método do Laboratório em Matemática – Prof. Malba Tahan

ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

O ensino de matemática sofreu reformas significativas que puderam ser vivenciadas (e que ainda repercutem nos dias de hoje) nas décadas de 1930 e 1940 e, posteriormente, nas de 1960 e 1970. Quando a CADES foi efetivada, estava em vigor a Reforma Capanema, a Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942. Segundo Dassie (2001), esta reforma conservou muitas das diretrizes da Reforma Francisco Campos (RFC), de 1931, em relação ao ensino de matemática. De acordo com este autor, na RFC foram “impostas”

as idéias de Euclides Roxo sobre a modernização2 do ensino secundário de matemática, que desde 1928 foram defendidas no Colégio Pedro II, bem como a junção das disciplinas aritmética, álgebra e geometria, numa só intitulada matemática. Embora muitos caracterizam o ensino secundário, à época, como enciclopedista e julgavam que seu currículo era muito “inchado”, em comparação aos de outros países, os programas pretendiam inovar o ensino, também propondo outros métodos.

As orientações para o ensino de matemática, no desenrolar da CADES, portanto,

2 Modernização é entendida, neste contexto, diferentemente de quando se trata da Matemática Moderna.

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eram provenientes da RFC, do início da década de 1930. Pautando-se nos que preconizava essa reforma, a metodologia em sala de aula deveria ser diferenciada, pois o aluno deveria participar do processo de aprendizagem, sendo enfatizado o método heurístico.

O ensino se fará, assim, pela solicitação constante da atividade do aluno (método heurístico), de quem se procurar fazer um descobridor e não um receptor passivo de conhecimentos. Daí a necessidade de se renunciar complemente à prática de memorização sem raciocínio, ao enunciado abusivo de definições e regras e ao estudo sistemático das demonstrações já feitas. Ao invés disso, deve a matéria ser levada ao conhecimento do aluno por meio de resolução de problemas e de questionários intimamente coordenados. Assim os problemas não se devem limitar a exercícios dos assuntos ensinados, mas cumpre sejam propostos como processo de orientar a pesquisa de teoremas e de desenvolver a presteza na conclusão lógica. (BICUDO, 1942 apud PIRES, 2004, p. 44)

No último número da Revista, publicado em meados da década de 1960, o artigo

“O Método do Laboratório em Matemática” de autoria de Malba Tahan destacava a importância do método heurístico aliado ao método do laboratório. Ainda ressalta a importância da utilização de recursos materiais para as aulas de matemática. No texto, o autor abordava de forma objetiva como deve ser um laboratório para o ensino da Matemática, apresentando uma relação de setenta e seis itens – informações para a instalação, aquisição de materiais e conteúdos abordados – para descrever o que seria um excelente Laboratório de Matemática; afirma que

[...] todo esse material fosse, realmente, de maneira prática e eficiente, utilizado pelo professor, provocaria uma transformação completa na Didática de Matemática, e faria da aprendizagem da Matemática uma atividade de alto interesse para os alunos. (TAHAN, 196-?, p. 76)

Malba Tahan conclui seu artigo afirmando ser o Método do Laboratório excelente, desde que aplicado com toda técnica e dentro do espírito matemático; finaliza-o com as seguintes palavras de Felix Kein: “Dever-se-á sempre começar, na Escola Secundária, primeiro por uma intuição viva e concreta e só pouco a pouco poderão ser trazidos ao primeiro plano os elementos lógicos.”(p.80)

Um outro método bastante enfatizado pelos artigos da Revista era o do Estudo Dirigido, não somente para o ensino de matemática. Diante do estudo dos artigos, verifica- se que o primordial para o método do ensino dirigido era procurar dar aos alunos condições ambientais e de horário de estudo que, muitas vezes, não encontravam em seus lares, além de também pretender modificar o “fazer” do professor em sua aula. Pretendia-se que o

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professor deixasse de ser apenas um expositor dos conteúdos que os alunos, posteriormente, deveriam estudar sozinhos, e passasse a ser mais ativo em sala de aula, organizando tarefas que deveriam ser executadas sob sua assistência ou de outros professores contratados para isso. “Chamamos de „estudo dirigido‟ ao tipo de estudo, realizado na escola, onde o professor deve dar efetiva e real assistência ao aluno, orientando-o no bom método de estudar.” (BEZERRA, 1959, p. 31). Em diversos números da Revista, é insistente o chamado ao professor para adotar tal método, como também sempre é enfatizado que se faz necessária uma revisão de sua metodologia e que o ensino secundário deve ser renovado.

Percebemos que a grande maioria dos autores dos artigos era constituída de professores do CAp – Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro. Sendo assim, muitos dos artigos eram relatos de experiências do referido colégio.

Alguns outros eram professores do Colégio D. Pedro II e outros autores de livros didáticos.

Ainda, que o foco desta Revista era a “didática”, ou seja, apresentar orientações para a formação do professor, de um modo geral, desde sua postura em sala de aula até a organização de seus planos de ensino.

Os artigos também tratavam da aprendizagem como um todo, levando em consideração outras questões que não somente as de ordem metodológica, além de apontar o descontentamento em relação às políticas públicas educacionais.

No exemplar de número dezoito, o artigo referente à matemática, intitulado

“Problemas da Aprendizagem da Matemática”, o professor João Baptista da Costa, autor do texto, questiona a ideia veiculada à época de que o professor era o único e o principal responsável pelos aspectos negativos relativos à aprendizagem matemática no ensino ginasial, bem como a orientação didática teórica exposta em livros e em revistas. Em seu texto, Costa aponta oitos fatores que, segundo ele, atuam negativamente na aprendizagem da disciplina: programa mal distribuído pelas várias séries do ensino ginasial; a indiferença quando não o pavor à Matemática, que acompanha o aluno ao ingressar no ginásio;

deficiência na execução do programa primário para não falar na sua mutilação; exame de admissão de sentido estatístico; deficiência de conhecimento da própria língua; na primeira série, classes heterogêneas; mudança brusca de métodos de ensino do primário para o ginásio, desinteresse da grande maioria dos pais pela vida de seus filhos como estudantes.

Conclui essa parte indagando: “Por que não propor ao Poder Público, ao Estado, medidas

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que limpem o campo, que homogenizem o espaço de nossas atividades e que alijem de nossos ombros uma responsabilidade que não é nossa?” (COSTA, 196-?, p. 53)

Ainda, propõe “medidas de emergência” para o ensino secundário, tais como:

alteração nos programas das quatro séries do curso ginasial; aumento do número de aulas semanais de matemática; a criação de um Curso de Adaptação ao Ginásio, de duração de um ano letivo, para todos aqueles que quiserem ingressar no curso ginasial. As disciplinas deste curso seriam: matemática, português e técnicas de estudar. Em Matemática, além do programa básico para o ginásio, seria incluída a História da Matemática. Para este curso seria feita a contratação de professores habilitados e experientes para lecionar; além da organização da Associação de Pais de Alunos em todos os educandários sendo semanal a ocorrência de conferências públicas de esclarecimentos e de orientações.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dezenove edições da Revista Escola Secundária circularam entre o professorado da escola secundária brasileira. Tal afirmação justifica-se no fato de exemplares da Revista terem sido encontrados em bibliotecas particulares de professores que atuaram à época.

Publicações direcionadas para a formação continuada de professores são reconhecidas como construtoras e atualizadoras de saberes. Todavia, não podemos determinar o grau de influência dos artigos publicados pela Revista Escola Secundária na ação educativa dos profissionais atuantes no ensino secundário no momento em que se dava a CADES.

No ensino da Matemática constatou-se que uma das orientações dadas em vários artigos, a da utilização do método do estudo dirigido como técnica de ensino, desapareceu das instituições escolares. Os motivos não foram determinados por esta pesquisa, pois não era um dos objetivos propostos. Este tema ficará como sugestão para a realização de outras pesquisas. Outra orientação, a utilização de recursos didáticos, indispensável para o método do laboratório proposto por Malba Tahan, é ainda adotada nas escolas de educação básica atualmente, como uma imprescindível ferramenta para a compreensão dos conceitos matemáticos. Em instituições escolares de ensinos básico e superior há laboratórios de matemática onde são desenvolvidas atividades práticas.

O desenvolvimento da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário no período de 1953 a 1971 permitiu que centenas de professores tivessem

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acesso à formação profissional para atuarem no ensino secundário. Numa época em que ocorreu um aumento significativo de estudantes no nível secundário, principalmente nas cidades do interior do Brasil, e concomitantemente a falta de professores formados em cursos superiores de graduação para atender a essa demanda, a formação oferecida pelos cursos da CADES atendeu às necessidades das escolas secundárias espalhadas pelo país, ou seja, a qualificação dos seus professores.

Considerando as condições do país e da educação escolar em particular, à época em que se deu a CADES, não podemos deixar de reconhecer que esta campanha, com seus cursos e publicações, pode ser considerada um espaço bastante oportuno para a formação de professores.

Apenas uma parte da pesquisa realizada foi descrita neste texto. Esperamos que sua publicação integral futuramente venha a fornecer novos e necessários saberes acerca do ensino de Matemática e da formação de professores de Matemática, num período em que, no Brasil, ainda existiam poucas faculdades ou universidades para formá-los. Ainda, fomentará outras pesquisas temáticas em História da Educação (Matemática).

REFERÊNCIAS

BARALDI, I.M. Retraços da Educação Matemática na Região de Bauru: uma história em construção. 2003. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, UNESP, Rio Claro, 2003.

BEZERRA, M. J. Como ajudar o aluno estudar. Escola Secundária, Rio de Janeiro, ano III, n. 11, p. 31-35, 1959

COSTA, J.B. Problemas da Aprendizagem da Matemática. Escola Secundária. Rio de Janeiro, n. 18, p.51-60, 196-?

DASSIE, B. A. A matemática do curso secundário na reforma Gustavo Capanema.

2001. 170f. Dissertação (Mestrado em Matemática Aplicada) – Departamento de Matemática, PUC, Rio de Janeiro, 2001.

PINTO, D.C. Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário: uma trajetória bem-sucedida?. In: MENDONÇA, A. W.; XAVIER, L. N. (orgs). Por uma política de formação do magistério nacional: o Inep/MEC dos anos 1950/1960. Brasília:

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2008. 260 p.

(Coleção Inep 70 anos, v. 1)

PIRES, I.M.P. Livros didáticos e a Matemática do Ginásio: um estudo da vulgata para a Reforma Francisco Campos. 2004. 141 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – PUC, São Paulo, 2004.

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TAHAN, M. O método do laboratório de matemática. Escola Secundária. Rio de Janeiro, n. 19, p.71-80, 196-?

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