Controladoria-Geral da União
Ouvidoria-Geral da União
PARECER
Referência:
23480.012035/2014-45Assunto:
Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.Restrição de
acesso:
Sem restriçãoProvidências
adicionais:
-Ementa:
O cidadão solicita diploma, histórico escolar, certificado de conclusão de curso e certificado de matrícula – O cidadão alega que o pedido está dentro do escopo da LAI – A Universidade alega canal alternativo e informação pessoal – Análise da CGU: Pedido fora do escopo, documento pes-soal de terceiro. Observação: rever os fluxos internos com vistas a responder o pedido de infor-mação (e/ou) os recursos no prazo determinado em Lei; garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso em primeira instância seja diferente e hierarquicamente superior àquela que adotou a decisão inicial; garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso de segunda instância seja a autoridade máxima da instituição pública. - Perda do Objeto.Órgão ou
entidade
recorrido (a):
Ministério da Educação – Fundação Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Recorrente:
F.C.O.Senhor Ouvidor-Geral da União,
1.
O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação, com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
RELATÓRIO
Ato Data Teor
Pedido 19/09/2014
O cidadão apresenta pedido de informação nos seguintes termos: “Solicito documentos comprobatórios do Sr. D.M.S.J. como: Certificado de conclusão de curso de DIREITO;
Diploma; Histórico Escolar;
Certificado de matrícula do curso de graduação de Direito.” (Abreviação de nome de terceiro realizada pela CGU)
Resposta
Inicial 08/10/2014
A instituição responde ao cidadão nos seguintes termos:
“Em protocolo anterior foi descrito o procedimento que Vossa Senhoria, possa proceder junto ao DERCA com a finalidade de viabilizar a solicitação de documento do acadêmico D.M.S..
Recurso à Autoridade
Superior
08/10/2014
O cidadão apresenta recurso à autoridade superior nos seguintes termos:
“O órgão fere os princípios da Lei de acesso a Informação. Informo que o comunicado não foi cortês, logo há diretrizes legais a serem cumpridos pela Universidade que estão sendo ignorados propositalmente ou por não saberem do conteúdo da Lei 12.527/11. retardar o envio de informação pública é inapropriado. Salienta-se que
tais dados são públicos e qualquer cidadão pode solicitar documentos sem o uso de procurações. O acesso a informação é regra e não o contrário. Uma boa aplicabilidade da LAI evidência uma conquista nacional. Reforço o pedido e caso não seja atendido peço que especifique o grau de sigilo para o não fornecimento dos dados.”
Resposta do Recurso à Autoridade
Superior
- A instituição não apresentou resposta.
Recurso à Autoridade
Máxima
21/10/2014
O cidadão apresenta recurso à autoridade máxima nos seguintes termos:
“O órgão insiste em não fornecer os dados ferindo os princípios legais da LAI. Favor, ao menos informar o grau de sigilo dos aludidos documentos solicitados.”
Resposta do Recurso à Autoridade
Máxima
- A instituição não apresentou resposta.
Recurso à CGU 01/11/2014
“O órgão insiste em não fornecer as informações solicitadas. Salienta-se que para a lei de acesso a informação a transparência é a regra e não o contrário. Tal negativa fere os princípios da LAI. Recorro a próxima instância para que se consiga os dados solicitados, contudo, esse retardo prejudica o direito meu e de qualquer cidadão que almeja ter uma informação pública.”
Instrução do
Recurso -
A CGU solicitou esclarecimentos adicionais à Universidade, com vistas a fornecer ao cidadão informações sobre a matrícula do terceiro no curso de direito e se ele concluiu o curso.
Inicialmente a universidade negou acesso do cidadão às informações, porém, no curso da instrução do recurso, forneceu cópia digital de certificado de matrícula no curso de direito, referente ao primeiro semestre de 2015, e informou que o terceiro está regularmente matriculado na instituição.
É o relatório.
Análise
2.
Registre-se que o Recurso foi apresentado perante a Controladoria-Geral da União de
forma tempestiva e recebido na esteira do disposto no
caput e no parágrafo 1º do artigo 16 da
Lei nº 12.527, de 16 de maio de 2011, bem como em respeito ao prazo de dez dias previsto no
artigo 23 do Decreto nº 7.724, de 15 de maio de 2012, in verbis:
Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso.
3.
Quanto ao cumprimento do artigo 21 do Decreto n.º 7.724/2012, ressalta-se que não
houve inserção de resposta aos recursos em primeira e segunda instância no sistema e-SIC,
descumprindo-se o disposto no referido artigo.
4.
A Controladoria-Geral da União analisa o mérito de recursos direcionados a esta nos
casos em que o órgão ou entidade nega o acesso do cidadão à informação por este solicitada,
conforme o disposto no artigo 16 da Lei nº 12.527/11, in verbis:
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
I - o acesso à informação não classificada como sigilosa for negado;
II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou parcialmente classificada como sigilosa não indicar a autoridade classificadora ou a hierarquicamente superior a quem possa ser dirigido pedido de acesso ou desclassificação;
III - os procedimentos de classificação de informação sigilosa estabelecidos nesta Lei não tiverem sido observados; e
IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros procedimentos previstos nesta Lei. (...)
5.
O cidadão solicita, em seu pedido inicial, os seguintes documentos de
terceiro (cujo nome é informado pelo cidadão): certificado de conclusão de
curso de Direito; diploma; histórico escolar; certificado de matrícula do curso
de graduação de Direito. O cidadão não recebe a informação solicitada, o que
implica no conhecimento do mérito pela Controladoria-Geral da União.
7.
Na Universidade do Amapá, o diploma é assinado pelo reitor e é expedido
na conclusão do curso de graduação, conforme o disposto no artigo 17, inciso
III, e o artigo 167 do Regimento Geral da Universidade do Amapá (Resolução nº
09 – CONSU/UNIFAP, de 29 de abril de 2002), in verbis:
Art. 17. Ao Reitor compete : (...)
III - conferir grau e assinar diploma de graduação e pós-graduação;
Art. 167. A colação de grau caracteriza a conclusão de cursos de graduação e enseja a expedição do correspondente diploma.
8.
A segunda via do diploma implica na produção de um novo documento
pela universidade, com novo número de registro e nova assinatura pelo reitor.
Trata-se de um documento único, pessoal e intransferível produzido
especificamente para o estudante que concluiu o curso superior. A solicitação
de produção de documentos não é considerada para os efeitos da Lei nº
12.527/11 um pedido de acesso à informação. Essa interpretação estende-se
ao certificado de conclusão do curso, já que esse documento garante ao titular
o exercício de direitos, como nos casos em que é exigida formação específica
para posse em concurso público.
9.
Dessa forma, orienta-se que o cidadão solicite documentos formalmente,
por meio do canal adequado, com a procuração assinada pelo titular. O
cidadão deve seguir os procedimentos específicos apontados pela
Universidade, quais sejam: dirigir-se ao DERCA com procuração de plenos
poderes concedido pelo titular do documento ao requerente. Não houve, ao
longo do processo, alegação do recorrente de que seguiu as orientações
apresentadas pela Universidade. Nesse sentido, apresenta-se a súmula nº 1
de 2015 da Comissão Mista de Reavaliação de Informações:
Súmula CMRI nº 1/2015
“PROCEDIMENTO ESPECÍFICO - Caso exista canal ou procedimento específico efetivo para obtenção da informação solicitada, o órgão ou a entidade deve orientar o interessado a buscar a informação por intermédio desse canal ou procedimento, indicando os prazos e as condições para sua utilização, sendo o pedido considerado atendido.”
11.
Em relação ao pedido de histórico escolar, este é considerado informação
pessoal, conforme precedente da Controladoria-Geral da União sobre o
assunto, e não deve ser entregue a terceiros sem autorização expressa do
cidadão a qual se refere. Apresenta-se abaixo trecho de parecer relacionado à
solicitação de histórico escolar de graduação por pai, provedor de pensão
alimentícia a estudante que já atingiu a maioridade:
23480.028436/2013-36 – (...) a decisão de trancar o curso ou tê-lo suspenso em função de eventual baixo aproveitamento nas disciplinas cursadas cabe única e exclusivamente ao aluno, consciente de que tal situação implicará no não recebimento do auxílio de alimentos. Nesse sentido, inexistindo elementos nos autos do processo que corroborem a tese de que o acordo judicial de alimentos estabeleceu acompanhamento acadêmico do aluno, resta impossibilitada esta Controladoria de determinar a entrega da informação pessoal solicitada, sem que haja consentimento expresso da pessoa a qual ela se refere.
12.
Cabe, nesse contexto, observar o artigo 31, da Lei nº 12.527/11, que
trata das informações pessoais.
“Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais.
§ 1o As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem:
I - terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; e
II - poderão ter autorizada sua divulgação ou acesso por terceiros diante de previsão legal ou consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem. § 2o Aquele que obtiver acesso às informações de que trata este artigo será responsabilizado por seu uso indevido.
§ 3o O consentimento referido no inciso II do § 1o não será exigido quando as informações forem necessárias:
I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver física ou legalmente incapaz, e para utilização única e exclusivamente para o tratamento médico; II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse público ou geral, previstos em lei, sendo vedada a identificação da pessoa a que as informações se referirem;
III - ao cumprimento de ordem judicial; IV - à defesa de direitos humanos; ou
V - à proteção do interesse público e geral preponderante.
13.
Informações pessoais custodiadas pela Administração Pública podem ser
disponibilizadas para o seu titular, mediante comprovação de identidade, e
devem ser protegidas de acesso de terceiros.
14.
Em relação ao certificado de matrícula, questionou-se se, apesar de não
poder receber o documento pessoal do terceiro, o cidadão poderia ter acesso
às informações neles contidas, seja por meio de cópia com tarjamento das
informações pessoais do cidadão seja por meio do esclarecimento ao cidadão
se o terceiro já esteve ou está matriculado no curso, se concluiu o curso e o
período em que esteve matriculado em direito na universidade.
15.
Dessa forma, procedeu-se ao contato com a Universidade. A interlocução
objetivou a entrega da informação para controle social por parte do
demandante, sem entregar documentos que pertencem ao terceiro ou
informações que possam colocar em risco a intimidade, a honra e a imagem do
terceiro envolvido pelo demandante.
16.
A princípio a Universidade negou o acesso e afirmou que o requerente
deveria dirigir-se ao Departamento de Registro e Controle Acadêmico da
Universidade, com procuração assinada pelo terceiro, para ter acesso aos
documentos requeridos. Durante a instrução do recurso, no entanto, o cidadão
realizou novamente o pedido de informação à universidade, que foi registrado
no e-SIC sob o Protocolo 23480.002538/2015-93, que foi respondido pela
Universidade em 19 de fevereiro de 2015. Em resposta, a Universidade
entregou ao cidadão Atestado de Matrícula do terceiro no curso de Direito da
Universidade, no primeiro semestre de 2015, no turno noturno.
17.
O atestado entregue ao cidadão não continha informações pessoais do
18.
A informação enviada comprova que o terceiro ainda não se formou, logo
os documentos “certificado de conclusão do curso de Direito” e “Diploma” são
inexistentes. O “certificado de matrícula” solicitado pelo cidadão foi
devidamente entregue a este. A única informação existente e não entregue é o
histórico escolar que, conforme esclarecido, é informação pessoal protegida
pela Lei nº 12.527/11.
19. Cabe orientar o cidadão, caso este possua a autorização expressa do
terceiro para busca do histórico escolar do terceiro, que este se dirija à
Universidade, portando procuração assinada pelo mesmo, e solicite os
documento pelo canal indicado por aquela.
20.
Considera-se satisfatória a informação prestada pelo órgão e conclui-se pela perda de
objeto do recurso apresentado, com base no disposto no artigo 52, da Lei nº 9.784/1999, in
verbis:
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
Conclusão
21.
Considerando a resposta enviada pelo órgão ao cidadão no dia 19/12/2014 atende,
dentro da legalidade, a solicitação do cidadão relativa ao certificado de matrícula, com base no
disposto no artigo 52 da Lei nº 9.784/1999, opina-se pela perda do objeto parcial do recurso
apresentado. Opina-se pelo desprovimento recurso no âmbito da solicitação de acesso ao
histórico escolar, com base no artigo 31 da Lei nº 12.527/11, por se tratar de informações
pessoais de terceiros, e da solicitação de documentos pessoais, por haver procedimento
específico para a obtenção dos mesmos (Súmula CMRI nº 1/2015).
22.
Por fim, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento competente que
verifique os fluxos internos dos pedidos de informação da Universidade, com vistas assegurar
que os recursos sejam respondidos tempestivamente e por autoridades competentes,
conforme o disposto no artigo 21 do Decreto n.º 7.724/2012.
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n.
1.567 da Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como
fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir pela perda do objeto
parcial do recurso interposto e desprovimento do restante, nos termos do art.
23 do Decreto nº 7.724/12, no âmbito do pedido de informação nº
23480.012035/2014-45, direcionado à Fundação Universidade Federal do
Amapá (UNIFAP).
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Controladoria-Geral da UniãoFolha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 23480.012035/2014-45 Documento: PARECER nº 354 de 23/02/2015
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 23/02/2015 GILBERTO WALLER JUNIOR Signatário(s):
aprovado.
Relação de Despachos:
Assinado Digitalmente em 23/02/2015 Ouvidor