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Crenças Ocidentais e Orientais, Sentido de Vida e Visões de Morte: um estudo correlacional

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Academic year: 2017

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MESTRADO EM CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES

Crenças Ocidentais e Orientais, Sentido de Vida e Visões de Morte:

um estudo correlacional.

ANA CAROLINA DINIZ ALVES

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Crenças Ocidentais e Orientais, Sentido de Vida e Visões de Morte:

um estudo correlacional.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a titulação de Mestre e m Ciências das Religiões, na Linha de Pesquisa Espiritualidade e Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Thiago Antônio Avellar de Aquino.

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A474c Alves, Ana Caro lina Diniz.

Crenças ocidentais e orientais, sentido de vida e visões de morte: u m estudo correlacional / Ana Carolina Din iz Alves.- João Pessoa, 2013. 83f.

Orientador: Th iago Antônio Avellar de Aquino Dissertação (Mestrado) – UFPB/CE

1. Ciências das relig iões. 2. Espiritualidade e saúde. 3. Crenças

religiosas. 4. Sentido da vida. 5. Percepção de morte.

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Ao autor e arquiteto da vida é a quem dedico estas primeiras palavras. Ao Deus eterno, ao Pai amoroso, ao príncipe da paz agradeço pela vida, por me guardar diante de tantas dificuldades e a me dar a cada instante a convicção de que em nenhum momento eu não estaria só nessa caminhada, agradeço por experimentar a tua palavra que diz nem os olhos viram nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração humano o que Deus preparou para os que o ama, podendo ver hoje mais uma etapa sendo construída em minha vida. Obrigada meu Senhor.

Aos meus pais que dedicaram as suas vidas dia após dia para verem um sonho sendo realizado em minha vida. Obrigada por acreditarem em mim, pela compreensão, pela dedicação e por todo amor e carinho. Amo vocês.

Ao meu amado esposo João Victor Martins Carneiro da Cunha, obrigada pelo apoio, compreensão e por todo amor e carinho.

As minhas primas-irmãs Georgiana, Lívia e Germana vocês não precisaram fazer algo para despertar em mim o sentimento de gratidão. Posso dizer que Deus me presenteou com a vida de vocês.

Aos meus tios Goret, Lauro e Socorro obrigada por tudo, pelo carinho e o amor de um pai para com um filho, sei que vocês também acreditaram em mim.

A Thiago, meu orientador. Aprendi muito com você, exemplo de um verdadeiro mestre. Levarei teus ensinamentos em todo a minha vida.

As minhas amigas Débora Leite, Andressa Florêncio, Priscyla Mariz, Cynthia Dias e Kely Gomes há amigos mais chegados que irmão. Agradeço a Deus por ter amigas tão especiais como vocês. Sei que vocês torceram por mim. Amo vocês.

A Karen Guedes, Daniela, Monique, Luana e Ana Ouro. Vocês se tornaram pessoas especiais na minha vida. Obrigada pelo carinho e pelas palavras de incentivo.

A minha amada igreja Primeira Igreja Batista do João Agripino – PIBJA por ser parte do reino de Deus aqui na terra. É muito bom poder desfrutar de um pedacinho do céu com vocês. Obrigada pelas orações e todo apoio.

A Carla Brandão e Patrícia Nunes por ter aceitado participar da minha banca de defesa tão prontamente. Obrigada por tudo.

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RESUMO

A morte faz parte do ciclo vital do ser humano sendo interpretada por meio da cultura, dos valores e das crenças religiosas. Contudo, o que há de universal no ser humano seria a busca de sentido da morte, tendo a religiosidade um papel preponderante nesse processo. Tendo em vista as considerações supracitadas, foram realizados dois estudos buscando compreender a relação entre crenças religiosas, sentido de vida e as atitudes perante a morte. O primeiro estudo teve por objetivo validar um instrumento de crenças religiosas. Para tanto, contou-se com uma amostra de 126 participantes, que foram 8,7% do Encontro da Consciência Cristã, 56,5% do Encontro da Nova Consciência e 34,8% foram estudantes de Ciência das Religiões na UFPB e 51,6% do sexo feminino. Para a coleta de dados foi utilizado a Escala de Crenças Religiosas, proposta para este estudo, e um questionário sócio-demográfico. O resultado sugeriu a sua validade fatorial distinguindo dois fatores denominados de Crença Ocidental e

Crença Oriental. A precisão das escalas foi satisfatória (α > 0,70) indicando a pertinência

dessa medida como um índice para a aferição das crenças religiosas. Já o segundo estudo teve como objetivo averiguar as relações entre as crenças e a percepção de sentindo na vida, identificar as associações entre as crenças e as atitudes perante a morte e, por fim, verificar as relações entre percepção de sentido e atitudes perante a morte. A amostra foi composta por 121 participantes, sendo 57% do sexo feminino. Os entrevistados eram 5% do Encontro da Consciência Cristã, 61,1% do Encontro da Nova Consciência e 33,9% foram estudantes de Ciência das Religiões na UFPB. Para a coleta de dados foram utilizados três escalas: Escala de crenças religiosas, Questionário de Sentido de Vida e o Perfil de Atitudes Perante a Morte, sendo acrescido um instrumento sócio-demográfico. Os resultados sugeriram que a realização de sentido se associou diretamente com a crença ocidental, enquanto que a busca de sentido se correlaciono positivamente com a crença oriental. A concepção da finitude na crença ocidental é compreendida através da aceitação religiosa e escape, na crença oriental esse resultado foi inverso. E quanto maior é a realização de sentido a percepção de morte é aceita em uma visão religiosa e menos compreendida como evitação e medo e quanto maior for a busca de sentido maior será a percepção de morte como medo. Os resultados foram discutidos à luz da teoria de Viktor Frankl bem como a partir dos fundamentos das concepções acerca das ciências das religiões.

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ABSTRACT

Death is part of life cycle of the human being, and it is interpreted through culture, values and religious beliefs. However, what is universal in human beings is the search for the meaning of death, and religiosity has a leading role in this process. In view of the above considerations, two studies were conducted in order to understand the relationship between religious beliefs, sense of life and attitudes towards death. The first study had the objective of validating an instrument of religious beliefs. To achieve that, we relied on a sample of 126 participants, respondents were 8,7% from the Christian Conscience’s Meeting, 56,5% from the New Consciousness’s Meeting and 34.8% were students of Science of Religions from UFPB and 51.6 % were female. To collect data we used the Scale of Religious Beliefs, proposed for this study, and a socio-demographic questionnaire. The result suggested its factorial validity distinguishing two factors called Occidental Belief and Oriental Belief. The precision of the scales was satisfactory (α> 0.70), indicating the relevance of this measure as an index to

measure religious beliefs. The second study aimed to investigate the relationship between beliefs and the perception of sense in life, identify the associations between beliefs and attitudes towards death and, finally, to verify the relationship between perception of sense and attitudes towards death. The sample consisted of 121 participants, that 57% were female. Respondents were 5% from the Christian Conscience’s Meeting, 61.1% from the New Consciousness’s Meeting and 33.9% were students of Science of Religions from UFPB. For collecting data we used three scales: religious beliefs, Sense of Life Questionnaire and Profile of Attitudes Against Death, in addition we inserted an socio-demographic instrument. The results suggested that the sense of achievement was directly associated with the occidental belief, while the search for meaning is a correlates positively with oriental belief. The conception of finitude in occidental belief is understood by religious acceptance and escape, but in the oriental belief this result was the opposite. And the greater the sense of accomplishment the perception of death is accepted by a religious vision and less understood as fear and avoidance, and the greater the search for meaning greater the perception of death as fear. The results were discussed based on the theory of Viktor Frankl as well as from the fundamentals of the conceptions of science of religions.

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Tabela 1: Estrutura Fatorial da Escala de Crenças Religiosas... 56

Tabela 2: Matriz Correlacional Crença Ocidental e Oriental e o sentido de vida. ... 60

Tabela 3: Matriz Correlacional Crenças Ocidentais e Oriental e Visões de Morte ... 61

Tabela 3: Matriz Correlacional Sentido de Vida e Visões de Morte ... 61

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PARTE I - INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ... 14

PARTE II – MARCO TEÓRICO ... 16

CAPÍTULO 2 – MORTE ... 17

2.1 HISTÓRIA DA MORTE ... 17

2.2 CRENÇAS E PERCEPÇÕES DA MORTE EM DIFERENTES RELIGIÕES ... 21

2.2.1 Crenças ... 21

2.2.2 Crenças acerca da morte ... 23

2.2.3 Crenças Ocidentais ... 24

2.2.3.1 Judaísmo ... 24

2.2.3.2 Cristianismo... 26

2.2.3.3 Islamismo ... 28

2.2.3 Crenças Orientais ... 29

2.2.3.1 Budismo ... 29

2.2.3.2 Hinduísmo ... 30

2.2.3.3 Taoísmo... 31

2.3 CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS ACERCA DA MORTE ... 32

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A MORTE ... 36

CAPÍTULO 3 – RELIGIÃO, ESPIRITALIDADE E SENTIDO DE VIDA ... 40

3.1 RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE ... 40

3.2 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE ESPIRITUALIDADE E A MORTE ... 43

3.3 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A ESPIRITUALIDADE ... 45

3.4 BUSCA DE SENTIDO COMO ESPIRITUALIDADE ... 48

PARTE III – ESTUDOS EMPÍRICOS ... 52

CAPÍTULO 4 – ESTUDO 1: ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA ESCALA DE CRENÇAS RELIGIOSAS ... 53

4.1 DELINEAMENTO ... 53

4.2 AMOSTRA ... 53

4.3 INSTRUMENTOS ... 53

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4.7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 57

CAPÍTULO 5 – ESTUDO 2: ESTUDO CORRELACIONAL DAS VARIÁVEIS... 58

5.1 DELINEAMENTO ... 58

5.2 AMOSTRA ... 58

5.3 INSTRUMENTOS ... 58

5.4 PROCEDIMENTO ... 59

5.5 ANÁLISE DOS DADOS ... 60

5.6 RESULTADOS ... 60

5.7 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS ... 61

5.7.1 Crenças e o sentido de vida ... 62

5.7.2 Crenças Ocidentais e Orientais e Visões de Morte ... 63

5.7.3 Sentido de Vida e Visões de Morte ... 65

PARTE IV – CONCLUSÃO ... 67

CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 68

REFERÊNCIAS... 70

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

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A religião é uma das expressões mais antigas do homem (JUNG, 1958). Desde a Pré-História, há registros de atitudes e crenças religiosas bem como lugares reservados para a sua expressão, seja através de mitos, ritos e hierofanias. Além disso, observa-se em todas as culturas, a existência de uma palavra específica para qualificar o que é sagrado e diferenciá-lo do profano (CHAUI, 1997; ELIADE, 1949; GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Nesse sentido, a religiosidade e o espaço do sagrado podem ser considerados como fenômenos universais e, consequentemente, uma característica antropológica.

As religiões através dos seus dogmas, doutrinas e crenças refletem acerca da vida e da morte, dessa forma o homem busca por meio da religião respostas para as suas indagações existenciais, tais como: de onde eu vim e para onde eu vou. O medo de morrer, segundo Kovács (1992), está presente na humanidade e alguns fatores (a exemplo do envolvimento religioso e a capacidade de resiliência) podem ajudar no enfrentamento e na aceitabilidade da morte.

Outro aspecto que as religiões se preocupam é sobre a busca de sentido, também concebida como espiritualidade. Nessa perspectiva, Viktor Frankl compreendeu o ser humano como vontade de sentido. A busca de sentido pelo homem, para Frankl (1989/1991), seria a motivação primária da vida, o indivíduo sempre se move em busca de um sentido para se viver. E deve ser individual e específico, pois só pode ser vivenciado por cada pessoa segundo o grau de importância para a realização dos valores. As religiões para Frankl seria concebidas como sistema simbólico, pelo qual o ser humano religioso expressaria a sua espiritualidade. Esta última por sua vez, diz respeito à busca do sentido ultimo da vida (FRANKL, 2003).

Assim, o estudo teve como objetivo verificar a fatorabilidade de uma escala acerca das crenças ocidentais e orientais. Como objetivos específicos, averiguar as relações entre as crenças e a percepção de sentindo na vida; identificar as associações entre as crenças e as atitudes perante a morte e, por fim, verificar as relações entre percepção de sentido e atitudes perante a morte.

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CAPÍTULO 2

MORTE

Com o objetivo de compreender como o medo da morte influencia na qualidade de vida do ser humano, o presente capítulo reuniu elementos históricos e sociais no ocidente que possibilitam ter uma visão panorâmica sobre esse aspecto ao longo do tempo. Ademais, também apresentou como, o temor da morte, nos tempos atuais, facilita uma melhor compreensão das atitudes e comportamentos do homem diante da vida.

2.1 HISTÓRIA DA MORTE

As reflexões sobre a morte foram à fonte de inspiração da maioria dos sistemas filosóficos, da religião. É através do questionamento do homem sobre a vida e a morte, que conteúdos internos são mobilizados e a dor e angústia se fazem presentes. Para Schopenhauer (2000) a mesma razão que teme a morte é a que traz alivio e consolo, onde estão orientadas as religiões e os sistemas filosóficos, que proporciona uma maior aceitação da morte.

Historicamente as percepções sobre a morte, assim como as transformações sociais, econômicas de uma sociedade, passaram por mudanças significativas no seu modo de pensar e agir. Em seu livro, História da Morte no Ocidente (2003), Philippe Ariès (2003) percorre o caminho das diversas concepções acerca da morte, desde Idade Média até o advento do capitalismo. Para este autor, a mudança em relação à morte se configurou em quatro períodos, pelas quais as atitudes diante do morrer sofreram mudanças, muitas vezes, quase imperceptíveis e outras de forma mais rápida e dramatizada.

Na primeira metade da Idade Média a morte era percebida como domada, ou seja, o moribundo sabia que ia morrer e a esperava no próprio leito, tomando todas as providências em relação à cerimônia pública do ritual de sua morte. Os familiares, as crianças e amigos ficavam velando o morto. Nessa época a morte era aceitável e vista como parte do ciclo de vida, simples e sem caráter dramático, fato que não gerava emoções excessivas de choro.

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uma vida plena e eterna na presença de Deus. Assim a imagem que prevalece na época é a que existe um laço contínuo entre vivos e mortos (ARIÈS, 2003).

Entre os séculos XI e XII a atitude diante da morte sofre transformações sutis, que pouco a pouco, darão um sentido dramático e pessoal à familiaridade tradicional do homem com a morte, percebem-se mudanças nas representações do juízo final e das sepulturas (ARIÈS, 2003).

Segundo Ariès (2003), no século XII até o século XVIII, o capitalismo começa a se emergir na Europa surgindo com força o individualismo que começa a se fazer sentir em relação ao fenômeno da morte, na medida em que ela começa a se personalizar.

A partir do século XVIII o homem ocidental atribui outro sentido à morte, preocupa-se menos com a sua própria morte, voltando-se para a morte do outro. Assim, a morte nesse momento passa a ser exaltada, romântica cuja saudade e as lembranças inspiram o novo culto dos túmulos e dos cemitérios. Sai de cena a aceitação da morte como parte normal do ciclo de vida a qual é expressa pela dor devida e não aceitação da separação. A morte temida não é a própria morte, mas a do outro (ARIÈS, 2003).

No decorrer do período compreendido entre a Idade Média até a metade do século XIX, a morte que estava presente na vida das pessoas vai se apagar e desaparecer, tornando-se vergonhosa e objeto de interdição. O leito de morte sai da casa, onde ficavam perto dos seus entes queridos, e passa para o hospital, afastando-se dos familiares.

Todas essas mudanças no modo de vida social e econômico vão interferir no fenômeno da morte, que passa a ser exaltada e dramatizada, o que se evidenciam com as cenas do choro. O luto passa então a ser um cerimonial, um ritual cada vez mais sofisticado, no sentido de exaltar, de fazer discursos aos mortos. Todas essas transformações ocorreram com o fenômeno da morte que passou a ser sentida e vivida, fazendo parte do cotidiano dos homens (ARIÈS, 2003).

Por meio do desenvolvimento do capitalismo e o advento da modernidade, a morte que estava presente na sala de visita, rodeado pelos seus familiares, passou para o leito de hospital, onde janelas estão fechadas, a luz é artificial, a temperatura constante mantida por ar condicionado e os equipamentos técnicos, tentando a todo custo eliminar o que é eliminável, a morte (OLIVEIRA, 2002, apud COMBINATO; QUEIROZ, 2006).

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ter horror da morte, o que pode ser traduzido na dor pelo funeral, pelo terror da decomposição do corpo, pela obsessão da morte e, principalmente, pela perda da individualidade. Já Carvalho et al. (2006) compreendem que o processo de morte e de morrer, tem sido algo de grande aflição e angústia para a humanidade, já que seria tão suscetível e tênue o estar vivo, ou seja, o ser mortal.

O homem ocidental evita pensar sobre a morte, para conservar a felicidade, tendo em vista que refletir sobre a morte traz angústia e medo (SCHUMACHER, 2009). Para Martins (2007) o homem é um ser lançado nesse mundo e a sua existência vai se constituindo do uso das coisas feitas no tempo, entre o início e o fim da vida. Sendo assim, o homem é um ser de possibilidades de usufruir as coisas manipuladas por ele, mas para este homem encontrar seu ser autêntico é necessário reconhecer a possibilidade de morte, e esta consciência de finitude não deixa o homem inerte, paralisada, sem a menor perspectiva de realização. Este ser para a morte vem acompanhado de angústia e dor, gerando sofrimento, antecipando o pensar sobre a morte. Refletir sobre a morte causa angústia, mas leva o homem a utilizar melhor as coisas, a dor que imanente ao ser para a morte, é a abertura para chegar à consciência da possibilidade das impossibilidades e, assim viver bem.

De acordo com Kovács (1992), o medo da morte é a resposta psicológica mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio econômico e crédulo religioso. Entretanto, Kubler-Ross (1998) compreende que a morte constitui um acontecimento “medonho”, pavoroso e um medo universal. Colocando à tona toda a fragilidade humana e impulsionando a ciência na busca se sua exterminação.

Para Martins (2007, p. 177) “no nosso contexto social, a morte é algo incompreensível e inaceitável, pois vivemos num meio a uma supervalorização dos bens materiais. [...] Se o sentido das coisas é serem usadas pelo homem, com a morte tudo perde o sentido”.

De acordo com Morin (1997), é nas atitudes e crenças diante da morte que o homem exprime o que a vida tem de mais de fundamental. A sociedade funciona apesar da morte, contra ela, mas só existe enquanto organizada pela morte, com a morte e na morte.

Confirmando o que foi proposto por Meltezer (1984, apud KOVÁCS, 1992) a morte é o inimigo que os vivos passam suas vidas tentando superar e derrotar para sempre, sem ideia das consequências que podem acarretar em suas vidas.

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Medo de morrer: surge o medo do sofrimento e da indignidade pessoal.

Medo do que vem após a morte: o medo do julgamento, do castigo divino e da rejeição.

Medo da extinção: diante da própria morte existe a ameaça do desconhecido, o medo de não ser e o medo de não mais existir.

A morte difere em seu significado, as tensões provocadas pela morte de um dos seus familiares, ou até mesmo pensar sobre a sua própria morte, traz sentimentos diferentes que vão desde a raiva, a tristeza, a barganha até a negação (KUBLER-ROSS, 1998). Podendo ser percebida de diferentes formas, de acordo com a história de vida do indivíduo, da religião e da cultura envolvida nesse processo (AGRA; ALBUQUERQUE, 2008).

Os fatores que influenciam no enfrentamento referente ao medo da morte são: a maturidade psicológica do indivíduo, a capacidade de enfrentamento, a orientação, o envolvimento religioso e a sua própria idade (FEIFEL, 1959, apud KOVÁCS, 1992).

É difícil a diferenciação entre o medo e ansiedade. Mas, Hoelter (1979, apud ESSLINGER, 2004) afirma que a ansiedade pode ser defendida como um estado geral que precede uma preocupação mais específica do homem com a morte. Assim, as pessoas que apresentam um maior nível de ansiedade têm medo da morte.

Segundo Kovács (1992), o medo da morte pode estar ligado à morte concreta, à finitude, à extinção e também aos seus equivalentes, com medo do abandono, da vingança e de outras forças destrutivas. O medo da morte tem um lado vital e por isso precisa estar presente em certa medida.

O enfrentamento da morte é muito difícil e angustiante para quem vivencia, podendo ser ainda bem mais para a pessoa que fica observando a morte do outro porque provocam rupturas profundas um ajustamento no modo de pensar, de entender, de perceber e viver no mundo. Nessa perspectiva Carvalho et al. (2006) afirmam que os valores e as crenças do homem, influenciam a sua preparação para morrer ou para aumentar a dificuldade do enfrentamento da morte.

De acordo com Moreira e Lisboa (2006, p. 448), “[...] defende-se a premissa de que ser o máximo possível em todos os momentos é valorizar a vida, entendendo que o ser, para viver em sua plenitude tem que ter inserido todas as suas possibilidades, incluindo da própria

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2.2 CRENÇAS E PERCEPÇÕES DA MORTE EM DIFERENTES RELIGIÕES

2.2.1 Crenças

Segundo Helmuth Kruger (1986, p.32), as crenças, em uma perspectiva da Psicologia Social, são “proposições que, na sua formulação mais simples, afirmam ou negam uma relação entre dois aspectos concretos ou abstratos ou entre um objeto e um possível atributo

deste”. De acordo com esse mesmo autor, as crenças se organizam em sistemas e podem ativar comportamentos sociais. Nessa perspectiva, o presente trabalho de dissertação parte do pressuposto de que as crenças religiosas são possíveis atributos acerca de Deus, da vida, da morte e de todos os objetos considerados sagrados.

Smith (1963) explica a crença a partir da relação desta com a fé. Esta última é algo pessoal, diz respeito à experiência humana com o transcendente, a qual é manifesta em algo que pode ser descrito como uma crença. Uma vez que estas descrições, ou conceitos que expressam a fé também influenciam outros a terem fé. Há uma relação de reciprocidade entre fé e crenças em uma perspectiva dinâmica. Crenças, portanto, seriam as proposições resultantes da fé.

Em sua obra Crenças, atitudes e valores, Rokeach (1981) afirma que esses três elementos forma um sistema que funciona de forma integrada, uma mudança em qualquer parte desse sistema resultará em uma mudança comportamental. Mas, cada elemento possui os seus conceitos e particularidades, que é necessário ser compreendido e fazer uma distinção de cada conceito. Abordaremos neste trabalho as questões relacionadas com as crenças, focando em nosso objetivo de estudo.

Um sistema de crenças, na perspectiva de Rokeach (1981), pode ser definido como pensamentos ou convicções que estão ordenadas psicologicamente, mas não na lógica. Cada pessoa possui inúmeras crenças sobre vários aspectos da vida, e estão organizadas em um sistema estrutural e valorativo, assim as crenças possuem consequências comportamentais observáveis. O autor faz três afirmações sobre os tipos de crenças: que são valorativas, quanto mais for central a crença maior a resistência para a mudança e quanto mais central for à crença que mudou, irá repercutir em todas as outras crenças.

As crenças apresentam certa estabilidade que é relativa ao grau de “enraizamento”

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entre indivíduos distintos, ou da importância de uma crença dentro do sistema de crenças de um único indivíduo, podendo ser observada de forma empírica.

Baseado num atributo de importância, Rokeach (1981) identificou cinco classes de crenças do sistema individual num sentido “periférico-central” para avaliar a resistência delas e os efeitos de tal mudança para o resto do sistema; a importância de uma crença tem a ver com o nível de interação e influência com outras dentro do sistema de crenças, o que é chamado de encadeamento lógico. Quatro critérios foram sugeridos por Milton Rokeach (1981) para avaliar qual das crenças dentro dos sistemas, teriam mais ligações e consequências funcionais com outras crenças:

◦ Quanto à existência (crenças existenciais e não existenciais): estão ligadas as convicções sobre a própria existência e ao mundo físico e apresenta uma maior interação e consequências funcionais com outras crenças.

◦ Quanto ao Compartilhamento (crenças compartilhadas versus crenças não

compartilhadas sobre a existência e autoidentidade): são crenças que podem ser

compartilhadas ou não no que se refere à existência e à identidade.

◦ Quanto à derivação (crenças derivadas versus crenças não derivadas): é caracterizada por ser compreendida de forma indiretas, com outras pessoas e grupo e não diretamente com a própria crença. É adquirida sob a influência do meio e possui menos ligações e consequências funcionais com outras crenças.

◦ Quanto à questão de gosto (crenças relativas e não relativas à questão de gosto): são crenças de fácil apreensão para o ser humano e corresponde com a preferência do indivíduo.

Sob o arranjo de uma dimensão periférico-central estão apresentadas a seguir as cincos classes de crenças:

Tipo A – Crenças Primitivas – Consenso: 100%: são aprendidas pelo encontro direto com o objeto da crença, reforçada por um consenso social. São as crenças mais centrais ou nucleares do sistema e raramente são sujeitas a controvérsias. Podem ser compreendidas como os pressupostos de um indivíduo. Esta classe é composta por dois subconjuntos de crenças: um relativo à constância dos objetos físicos e o outro relativo à constância das pessoas com respeito aos objetos físicos.

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Tipo C – Crenças de Autoridade: são crenças não primitivas, portanto, controversíveis. Estão relacionadas à necessidade de conhecimento a respeito da construção de mundo, sofrendo influência de pessoas e grupos de referência, as quais podem ser positivas ou negativas, ou seja, alguns compartilham dessa crença, enquanto outros não a compartilham. O que leva o indivíduo a estabelecer quem terá autoridade sobre suas crenças.

Tipo D – Crenças Derivadas: a crença em certa autoridade implica em crenças provenientes dela, ou seja, crenças derivadas. A qual está submetida à crença na autoridade de tal forma que, se a primeira for atingida, as crenças derivadas dela também serão. São caracterizadas como “as ideologias institucionalizadas”. Estas crenças dão a identidade de um grupo.

Tipo E – Crenças Inconsequentes: são crenças relacionadas às questões de gosto. São resultantes da experiência direta com o objeto de crença, portanto, incontroversíveis. Todavia, são inconsequentes por terem pouca ou nenhuma ligação com outras crenças.

De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005), as crenças são definidas como conceitos fixos dos praticantes das matrizes religiosas sobre quem é Deus, sobre o inicio e o fim da existência humana e o sentido da vida, tendo um viés intelectual. Essas crenças são expressas por meio de cerimônias, ritos e pela linguagem. Com o intuito de compreender e classificar as crenças religiosas, os autores agruparam em dois grupos de crenças que a nomearam de ocidental e oriental, segundo as semelhanças de convicções da visão histórica, do conceito de Deus, da noção de humanidade, salvação, ética e culto. A partir da classificação utilizada por Gaarder, Hellern e Notaker (2005), foi proposto na presente dissertação um instrumento de crenças religiosas.

2.2.2 Crenças acerca da morte

Segundo Ferreira (2007), uma das questões mais preocupantes para o homem é a morte. Ao conhecer o que é aguardado para o fim da vida as pessoas têm oportunidade de se preparar para enfrentar essa realidade, fazendo com que todas as culturas procurem recursos através da religião para ajudar ao ser humano a obter respostas para as suas indagações acerca da morte.

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os seus próprios rituais. A religião é um excelente espaço para que a morte tenha voz e cada tradição transmite isso de uma forma diferente, no entanto é comum a todas elas encararem a morte como um rito de passagem (TEIXEIRA, 2006).

Assim, cada doutrina religiosa, em sua forma de expressar os seus ritos e mitos, possui tantos aspectos comuns como incomuns. Nesta perspectiva Gaarder, Hellern e Notaker (2005) agrupam as religiões em dois segmentos: crenças orientais e ocidentais. Para essa divisão os autores levam em consideração a visão histórica, o conceito de Deus, a noção de humanidade, a salvação, a ética e o culto. Consideram-se crenças ocidentais o judaísmo, o islã e o cristianismo enquanto que as crenças orientais são o budismo, o hinduísmo e o taoísmo.

2.2.3 Crenças Ocidentais

As crenças ocidentais, segundo Gaarder, Hellern e Notaker (2005) compreendem a história tanto da humanidade tanto do espaço geográfico no qual ela está inserida, como tendo um começo e fim. Para esse grupo, Deus é o Único, Criador de todas as coisas e o Todo Poderoso, é o Divino que redime o ser humano do seu pecado, e o homem é um instrumento da ação divina.

2.2.3.1 Judaísmo

O judaísmo é a menor das grandes religiões, mas talvez uma das mais importantes, no sentido de ter influenciado a cultura ocidental e até mesmo a mundial. O judaísmo tem, por assim dizer, dois filhos que seguem seus princípios fundamentais: o cristianismo e o islamismo. Pode-se de fato dizer que o judaísmo está na origem dessas duas grandes religiões (COOGAN, 2007). É a religião dos antigos hebreus, atualmente chamados de judeus, compreendendo todo o acervo não só de crenças religiosas, como também de costumes, cultura e estilo de vida dessas comunidades, que se têm mantido ao longo da sua existência.

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Na religião judaica toda a vida depende de um único Deus e tudo o que é bom vem dele. No coração do Judaísmo reina a crença em Deus (“Jeová” ou “Javé”) único, onipotente e ilimitado. Deus transcende o universo que criou e todos os componentes que nele habitam. Jeová criou o mundo, e ensinou o homem a viver em função dos seus deveres, seguindo somente a Deus, amando, ajudando e respeitando o seu próximo. A Tora é, para os judeus, mais que um livro Sagrado, é acima de tudo o fundamento da relação entre Deus e o povo judeu. Os textos são inspirados por Deus e neles se estabelece a aliança entre Deus e os Homens (BOWKER, 1995).

A própria morte é entendida como parte da criação de Deus. Segundo a narrativa bíblica, o homem foi feito por Deus para ambos desfrutarem de um eterno relacionamento, por consequência da desobediência de Adão e Eva, a morte entra na humanidade. Assim, todo o homem que nasceu e nascerá após o pecado original tem como fim da existência a morte, mas, conforme as histórias bíblicas, Deus, com o seu infinito amor, faz uma aliança como seu povo através de Abraão e com a sua descendência, reiterando-a ao líder Moisés, prometendo a restauração e a vida eterna em um mundo espiritual (BOWKER, 1995). A Bíblia relata, segundo Glasman (2007), que o moribundo Moisés recebe a visita de Deus, o qual, com um beijo, levou a sua alma, demostrando todo o seu amor pelos seus. Assim, a morte não significaria a extinção do ser, mas o começo de uma nova fase.

O fim da existência não é considerado uma tragédia e nem é dramatizada, mesmo que ocorra numa fase inicial da vida ou por circunstâncias infelizes. Ela é contemplada como um processo natural a que todos estão sujeitos, e que é cuidadosamente planejada por Deus. Os judeus acreditam na vida no além, um mundo no qual os que tiveram uma vida terrena digna e virtuosa serão recompensados. A morte é entendida como uma transição da vida que existe para a vida que ainda virá. Os judeus confiam que, embora estejam deixando a vida por uma porta, a ela voltarão por outra no dia da ressurreição, com a ideia de que a alma que partia voaria em direção ao céu e aninhar-se-ia em paz no seio de Deus (GLASMAN, 2007).

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Assim como um recém-nascido é imediatamente lavado e entra neste mundo limpo e puro, também aquele que parte deste mundo deve ser limpo e purificado através do ritual religioso chamado taharat, purificação. O taharat é realizado pela Chevra Kadisha, consistindo de judeus instruídos na área de deveres tradicionais, que podem mostrar o respeito adequado pelo falecido (GLASMAN, 2007).

A aflição da morte é uma das emoções mais pessoais, intransferível e às vezes incompreensível, os costumes de luto judaicos servem para transformar os caos de aflição interiorizada em um padrão de ordem, para que a introversão possa ser substituída por um reconhecimento aberto de perda compartilhada. O objetivo das práticas é de manter a honra do falecido (kibud há-met) e confortar as pessoas de luto (nihum avelim). O judaísmo tradicional proíbe o embalsamamento, a cremação e a exibição de féretro aberto. O funeral deve processar-se com presteza e ser conduzido com simplicidade (GLASMAN, 2007). Não usa flores, nem música. No enterro jogam-se três pares de terra, enquanto recita: ”O Senhor dá o Senhor tira- bendito seja o nome do Senhor”. Após o funeral a família fica de luto por uma semana e no aniversário de morte do falecido a família ascende uma vela na sepultura e recita o Kadish.

2.2.3.2 Cristianismo

O cristianismo é uma das chamadas grandes religiões é a filosofia que mais caracteriza a sociedade ocidental (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Cristianismo vem da palavra Cristo, que significa messias, pessoa consagrada e ungida (OLIVEIRA, 2008). A característica chave desta doutrina é seguir a Jesus Cristo. Ele é o Messias, Filho de Deus, o único salvador. Segundo essa matriz religiosa, Jesus, através de sua vida, morte e ressurreição, libertou os cristãos do pecado original de Adão e Eva. Os cristãos são monoteístas e seu Deus é Onipotente, Onisciente e Onipresente. Os cristãos no mundo estão divididos entre Católicos, Ortodoxos e Protestantes, que apresentam algumas diferenças nas doutrinas e nos rituais, mas que se encontram dentro da mesma crença em Jesus.

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A doutrina do cristianismo baseia-se na crença de que todo o ser humano é eterno, a exemplo de Cristo, que ressuscitou após sua morte. A alma nasce no momento da concepção, sendo eterna a partir daí. Já que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que lhe deu (criou) a sua alma, deve tornar-se sempre mais próximo à imagem d'Ele, cada vez mais subordinado ao Criador, um corpo cada vez mais subordinado à alma.

O messias é o ressuscitado, Jesus, filho enviado por Deus para libertar os homens do pecado e da morte. A conversão estabelece uma relação de participação mística com Cristo. Todo crente efetua a união mística com Cristo mediante o sacramento do batismo. Porque "os que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte. Fomos, pois, batizados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida". A fé cristã ensina que a vida presente é uma caminhada e que a morte é uma passagem para uma vida eterna e feliz para todos os que seguirem os ensinamentos de Cristo (OLIVEIRA, 2008).

Os cristãos têm na morte uma esperança, a presença do eterno no tempo, a ressurreição. O homem deve passar pelos sofrimentos da morte e crer em Jesus para salvar-se de seus pecados. Para os cristãos Jesus morreu para salvar a humanidade. A morte não é o aniquilamento de tudo, não é o aniquilamento do ser, é apenas a transição para a ressurreição. Não é uma fatalidade, é um aspecto real e cotidiano. Ao final dos tempos, com Cristo, os corpos daqueles que creram em Jesus e, portanto, foram purificados do pecado, triunfarão da morte e viverão eternamente, modificados pela imortalidade da alma (LE TROCQUER, 1960).

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2.2.3.3 Islamismo

O Islamismo, religião monoteísta, é considerado uma das maiores e principais religiões do mundo, datando do início do século VII. As suas raízes mergulham no Judaísmo e no Cristianismo. A palavra “islamismo” enquanto nome da religião tem significado de rendição e submissão a Deus. O Islamismo é entendido como uma forma de vida para além de ser uma religião, sendo a palavra utilizada para definir uma sociedade, um tipo de cultura, de civilização (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

Historicamente, o islamismo tem as suas origens com Maomé no século VII. O profeta foi presenteado com as revelações verbais de Deus (Alá) por intermédio do Arcanjo Gabriel, cuja mensagem abria entendimento a duas ordenações fundamentais: - a humanidade devia respeitar e adorar Alá; - Alá um dia viria a punir os homens de acordo com as suas leis e crenças (BOWKER, 1995).

O Alcorão é o livro sagrado desta religião, contém a transcrição das ordenações celestes reveladas a Maomé. Representa um código de conduta para todos os aspectos da vida de um muçulmano, desde o berço até à sepultura. O Alcorão deve constituir um guia para a vida de um muçulmano justo e crente na sua prova para o juízo final (TEIXEIRA, 2006).

Na religião islâmica existe uma submissão absoluta à vontade de Alá, e são estabelecidos cinco pilares de fé, a serem cumpridos pelos muçulmanos: credo, oração, caridade, jejum e peregrinação a Meca. O credo “Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu profeta” é repetido várias vezes ao dia, é a primeira atitude no nascimento da criança e a última na pessoa que esta para morrer. A oração é realizada cinco vezes por dia, antes da oração o fiel deve estar ritualmente limpo, exige palavras e gestes bem definidos enfatizando a submissão do homem a Deus. A caridade é um taxa de imposto formal sobre a riqueza e a propriedade, que deve ser retirada dos ricos e dada aos pobres. O jejum é durante o Ramadan, entre o sol nascer e o por do sol é proibido comer, beber, fumar ou ter relações sexuais. E por fim, todo mulçumano deve pelo menos uma vez na vida ir a Meca (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Cumpridas estas obrigações, o homem deve saber os ensinamentos do Alcorão e cumprir o Shari’ah (conjunto de direitos e obrigações do Islão) a fim de se manter preparado para o momento em que abandonará este mundo e será julgado pelo seu criador –

Alá (TEIXEIRA, 2006).

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distintos: o paraíso, recompensa dos crentes e seguidores da doutrina islâmica, e o Inferno, castigo dos pecadores que duvidam da essência do Islamismo e seus preceitos fundamentais. Os muçulmanos acreditam na vida para além da morte, no céu ou no inferno, junto ou distante de Alá, o Deus supremo, de acordo com o que foi praticado durante o seu percurso de vida terrena. Acreditam no dia do juízo final e na ressurreição do corpo. A vida após a morte terá início no Dia do Juízo Final, ou seja, no dia em que todos os defuntos ressuscitarão fisicamente, e serão julgados pelas ações praticadas durante a sua vida terrena. Nesse dia haverá uma divisão do mundo em duas partes essenciais: o paraíso e o inferno, para onde irá o povo ressuscitado. A morte é vista como um momento de passagem para outra etapa; no Juízo Final acontecerá a ressurreição, todas as almas retomarão corpos jovens e sem defeitos, sendo entendida como um acontecimento natural (TEIXEIRA, 2006).

2.2.3 Crenças Orientais

Nas crenças orientais, encontram-se agrupadas as matrizes religiosas: budismo, taoísmo e o hinduísmo. Nessas religiões, os pontos em comum são a percepção do mundo como uma vida cíclica, repetindo em um ciclo eterno. O divino esta presente em todos os lugares e em muitas divindades. O homem pode relacionar-se com o Sagrado por meio da meditação, alcançando a salvação se libertando do ciclo de reencarnação.

2.2.3.1 Budismo

Sidartha Gautama, o Buda, nasce na Índia no século VI a. C., em meio a uma família de famosos guerreiros - os Shakya. Filho de um príncipe indiano, foi criado com todo luxo e sem contato com a realidade exterior ao palácio. Um eremita por ocasião do nascimento do príncipe lança uma profecia afirmando que a criança seria um mestre de roda, um justo, um iluminado. Preferindo continuar a linhagem real, Sidartha é afastado de toda a realidade humana fora do palácio e criado apenas na vida luxuosa. Aos 29 anos ele resolve sair dos muros reais e se depara com quatro situações que mudaram a trajetória de sua vida: um velho esquelético, um doente gemendo, um cadáver e um monge itinerante. Sendo confrontado com essas situações, é tomado por muitas indagações sobre o sofrimento humano e decide deixar as mordomias reais e sair em sua busca pessoal (GNERRE, no prelo).

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as práticas ascéticas não convence Buda de que esta no caminho certo. Após se alimentar, tomar um banho, Sidarta cruza um campo, e chegando a uma frondosa figueira resolve sentar e não se levantar dali ate que encontrasse o remédio para a dor, o sofrimento e o mal de viver. Nesse processo de meditação que Buda trava uma batalha com Mara, ou demônio, vencido a batalha ele entra em um estagio profundo de meditação e finalmente alcança a iluminação e sabedoria (GNERRE, no prelo).

Após a iluminação, Buda fala para os seus seguidores sobre as quatro nobres verdades: afirma que tudo no mundo é sofrimento e que o sofrimento é causado pelo apego e o desejo, pela eliminação dos desejos a dor é extinta e que o homem pode se libertar do sofrimento pelo caminho de oito vias. Assim, o caminho que cessava o sofrimento. Acreditava que o homem devia evitar os extremos da vida (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

O preceito básico dentro da doutrina budista é ter consciência da impermanência e da morte. Parte-se da afirmação de que a morte é certa e que precisamos nos preparar para ela, devemos pois pensar diariamente no sofrimento, quer seja na hora do nascimento ou na hora da morte. A consciência da morte leva a desprender-se de qualquer apego material, uma vez que tudo fica, nada será levado desta vida e deste mundo. Os prazeres mundanos são desprovidos de qualquer relevância. Ao se chegar ao derradeiro dia de vida, nas últimas horas não deve se ter nenhum tipo de arrependimento, remorso ou medo, pois a negatividade na hora da morte pode levar o indivíduo a um próximo renascimento inferior. Para "acalmar" o indivíduo é bom que se mostre imagens de Buda. Logo após a ocorrência da morte, os seres de mentes virtuosas terão a sensação de passar de escuridão para a luz e não terão sofrimento. Os seres dominados pelo desejo ou rancor terão alucinações e ansiedade. Poderão sentir-se queimando ou adentrando à escuridão. Estas visões e sensações nada mais são que adiantamentos acerca do futuro destes seres. Ao morrer, a pessoa ingressa no estado intermediário, o bardo. Possui sentidos físicos completos e sua aparência corresponde à seu próximo renascimento. Consegue ver através de objetos, viaja para qualquer lugar, mas só são visíveis àqueles da mesma categoria. O tempo neste estado corresponde a sete dias (DALAI LAMA, 1997).

2.2.3.2 Hinduísmo

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o homem, e que marca profundamente a sociedade e o seu estilo de vida, conjugando e permitindo a fusão entre a vida religiosa e a vida social (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Apesar de o Hinduísmo ter Brahman como Deus supremo, é considerada uma religião politeísta (mais de um deus), existindo um número de deuses menores, contudo eles integram-se num tronco comum constituído por três deuses principais ou superiores e à volta do qual gravitam: Brama, Vixnu, e Xiva (TEIXEIRA, 2006).

Na Índia o sistema de castas é o mais bem organizado, desde os tempos antigos as castas eram divididas em quatro classes: os sacerdotes, guerreiros, agricultores, comerciantes e artesões e servos. O que rege a divisão das tarefas para cada casta é a pureza, assim certos trabalhos são considerados tão impuros que só podem ser exercidos por uma determinada casta. E somente a casta que preenche os requisitos de pureza podem se aproximar dos deuses mais elevados (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

O pensamento hindu sobre a morte, é que a alma renasce numa nova criatura vivente, podendo reencarnar em uma casta mais alta ou mais baixa, ou ate mesmo no animal (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Os Hindus creem no Samsara, palavra vinda do sânscrito que se refere ao ciclo da morte e do renascimento. E o renascimento depende diretamente do estado espiritual de quando se morre. O Karma é a lei de causa e efeito que governa vida e renascimento. O Karma, bom ou mau, ligado ao fato de haver o Samsara é o que determina a Jati, ou casta social, na vida próxima. Para libertar-se do Samsara, o hindu visa alcançar o Moksha e portanto entrar em harmonia com o Brahman. Para chegar ao Moksha existem vários caminhos, dos quais estão entre eles: Jnana Marga (caminho da sabedoria), Karma Marga (caminho da ação) e Bhakti Marga (caminho da devoção). Cada caminho requer uma anulação do eu, dos sentidos e de outros aspectos terrenos (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

As etapas da vida de um hindu, como a morte, são marcadas pelo Samkara, um rito de passagem que se destina a orientar a pessoa em sua próxima existência. Com referência a morte, geralmente os hindus são cremados numa pira aberta que é acesa pelo filho mais velho de quem faleceu. Os ossos são jogados no Rio Ganges, preferencialmente, para purificar e libertar o espírito da pessoa (TEIXEIRA, 2006).

2.2.3.3 Taoísmo

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afirmam que não se sabe quem escreveu, mas alguns pesquisadores afirmam que o filosofo Lao-Tse foi o escritor do texto (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

Nos escritos o Tao é a suprema ordem do mundo, a harmonia do mundo, especialmente do mundo natural. Em várias ocasiões o tao é descrito como algo divino. Mas, é impossível descrever o tao de maneira racional, portanto o homem não pode chegar a compreender o tao, pois não pode ser compreendido pela razão humana. O homem só consegue alcançar a união com o tao meditando e se afastando de todos os aspectos externos (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

A forma da organização social do taoísmo é caracterizada pela passividade, as pessoas devem permanecer ingênuas e simples, como crianças. O ser humano dever então, se envolver o menos possível no movimento natural dos fatos, quanto mais mandamentos e leis existirem, mais bandidos e ladrões haverá, afirma Tao Te Ching (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005). Essa passividade levaria a pessoa preservar a sua força vital, assim alguns seguidores interpretaram que a não ação os levaria a longevidade, e passaram a se interessar em se tornar imortais. Assim, filósofos taoístas passaram a meditar e praticavam magias na tentativa de descobrir o remédio para a vida eterna (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

2.3 CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS ACERCA DA MORTE

A humanidade, ao longo de sua existência e na forma das mais diferentes culturas, indaga por uma resposta ainda não encontrada acerca da morte. O ser humano desenvolveu diversas formas de questionamentos a fim de alcançá-la. Dentre elas, a filosofia é a que indaga com maior rigor.

Apresentam-se aqui uma breve apresentação das reflexões filosóficas de Arthur Schopenhauer e Max Scheler acerca da vida e da morte. Embora suas investigações se encaminhem por métodos diferentes a morte seria o ponto convergente dos dois pensadores. Seguindo a tradição metafísica, Schopenhauer trata a morte como simples deixar de viver. O filósofo alemão Max Scheler pertencente ao movimento fenomenológico traz considerações sobre a temática da morte a partir do conhecimento indutivo.

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tempo e o princípio de causalidade; por outro, a consciência íntima e subjetiva acerca do mundo, sem a qual este não existiria. Para Schopenhauer, ao tomar consciência de si, o homem se experiência como um ser movido por aspirações e paixões. Estas constituem a unidade da vontade, compreendida como o princípio norteador da vida humana (REYDSON,

2009).

A filosofia pessimista é atribuída a Schopenhauer, ele percebe o mundo como cheio de dor e sofrimento, afirma que o mundo onde estão todos os seres humanos e os organismos, que estes seres são finitos e a vontade de viver é infindável, e é essa vontade de vida que traz o consolo real para a morte. O pensamento pessimista schopenhaueriano diz que para o indivíduo o melhor é a não existência e que o mundo é o pior mundo possível. Assim, “a mera existência do mal no mundo o torna algo cuja inexistência é preferível à existência”

(REYDSON, 2009, p.55), logo, o desejável seria a não existência nesse mundo que é tenebroso e cheio de dores. Portanto, a vontade é o que sustenta toda a condição humana é entendida na ótica de Schopenhauer como causa de toda as mazelas e sofrimentos, possuindo um desejo irracional de viver (REYDSON, 2009).

O filósofo Arthur Schopenhauer (2000) afirma que o temor da morte é um medo inerente ao ser, ao dizer que mesmo o animal, destituído de conhecimento, foge de ameaças de perigo, sempre protegendo a sua prole, para não se perder, nem perder os seus. O apego à vida se explica pela Vontade de vida, termo utilizado por Schopenhauer para se referir à forma irracional, sem conhecimento e cega, isto é, mesmo que a vida seja incerta e breve, e até esteja difícil, o homem a ela se apega, já que a Vontade de vida é a essência mais íntima do homem.

De in ício está diante de nós o fato inegável de que, de acordo com a consciência natural, o homem teme mais a morte do que qualquer outra coisa, não só para a sua pessoa, mas também chora com veemência a dos seus próximos, e em verdade, é man ifesto, não egoisticamente devido a sua própria perda, mas por co mpaixão pela grande desgraça que lhes acontece; por isso ele também censura como duro de coração e destituído de amor aquele que, em tais casos, não chora e não mostra aflição (SCHOPENHA UER, 2000, p. 62).

A morte enquanto mero desaparecimento do organismo refere-se apenas ao fenômeno, não ao ser íntimo, particular. Schopenhauer (2000) trabalha com a distinção kantiana entre coisa-em-si e fenômeno, isto é, a coisa-em-si diz respeito à realidade das coisas, enquanto o fenômeno consiste no modo como as coisas nos afetam no tempo e no espaço.

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O apego à vida é irracional, isto é, todo o nosso ser em si é uma concentração da Vontade de vida. O indivíduo teme a morte, pois teme o não ser como consequência da morte. Vale salientar que não é a parte cognoscente do homem que teme a morte, mas exclusivamente a coisa-em-si, a Vontade de vida.

Para Schopenhauer, o medo da morte tem seu fundamento na Vontade de vida, isto é facilmente verificável porque todos os animais temem a morte. O temor da morte é, tal como a própria objetivação da vida, algo puramente fenomenal, tendo em vista que ela significa o fim da vida enquanto objetivação da Vontade.

Deste modo, para Schopenhauer, o medo da morte não se funda no conhecimento, mas na Vontade de vida, uma vez que ela significa o fim do organismo vivo, representada pelo corpo. O conhecimento, por sua vez, atuaria como um elixir no alívio desta “perda”.

Sendo assim, em Schopenhauer, a morte não deve ser temida porque ela é apenas perda aparente, uma vez que apenas o princípio de individuação cessa. Aqueles que se apegam de modo descomedido à vida, enquanto fenômeno, não a experimenta de modo consciente, enquanto Vontade de vida, que, de fato, é a coisa em si. Para ele, o homem enquanto vive está preso aos desígnios do agir; não sendo, portanto livre.

A morte não é o oposto da vida, mas um acontecimento complementar que a define. A filosofia schopenhaueriana exposta na Metafísica da Morte tenta ajudar a encarar com um olhar mais tranquilo a morte. Na medida em que tenta provar que no ser em si de cada um reside um núcleo de eternidade, que não se aniquila quando do desaparecimento do organismo.

Como consolo, o filósofo diz que a morte também tem o seu lado positivo, já que o homem não perde a sua essência e sempre estará de volta. Schopenhauer (2000) afirma que quem entende que a existência repousa numa certa necessidade originária, não acreditará que esta seja limitada a lapso de tempo tão curto, mas acredita que ela atua para sempre. O filósofo ainda acrescenta que a única prova imanente, ou seja, a que permanece conforme à experiência, é a indestrutibilidade de nosso ser verdadeiro.

Max Scheler diferente do pensamento de Schopenhauer, não parte de uma discussão Kantiana na análise do fenômeno da morte. As suas opiniões confrontava o idealismo alemão, não concordava que a morte não afetava o ser humano. Para o autor a mortalidade esta intrinsicamente ligado ao ser, faz parte de toda a vida, não se pode separar a vida da morte. Portanto, o homem é um ser orientado para morte (SCHELER, 2001).

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decadência por consequência da ciência e do seu progresso. Opondo-se a essa interpretação, Scheler afirma que os fins e os métodos da ciência não são neutros, mas originam também de pressuposições religiosas. Assim, o crescente progresso da ciência jamais poderá comprovar se os dados das religiões são verdadeiros ou falsos, nada pode contra a religião (SCHELER, 2001). A explicação para o declínio na crença em outra vida deve ser investigada na atitude do homem moderno, ou seja, na forma como o homem moderno imagina sua vida e morte e como ele a experiência. O ser humano foge da certeza intuitiva de sua morte, ele a rejeita de sua consciência e se contenta em considera-la como um mero fato que um dia lhe acontecerá (SCHELER, 2001).

Para fundamentar as explicações acima, se faz necessário recorrer a Scheler (2001), a fim de se pensar sobre a essência e epistemologia da morte, isto é, entender como o indivíduo se depara com a morte e a certeza que dela se têm. O pensamento da época era que a certeza da mortalidade se dava pela experiência externa na observação e indução da morte dos outros. Diante dessa afirmação uma pessoa que nunca tivesse tido contato com outros seres viventes jamais saberia sobre a finitude. Essa ideia da morte como conceito puramente empírico, extraído de casos isolados é recusada por Scheler.

Pôs-se em busca de uma razão que faria com que o indivíduo solitário, que nunca havia tido experiência com a morte dos outros chegasse a um conhecimento absolutamente certo de sua condição mortal. Scheler (2001) explica que, mesmo se houvesse um único ser vivente sobre a terra, ele saberia de alguma forma que o fim lhe alcançaria. Cita um exemplo de uma pessoa solitária que pressentiria o seu fim se fizesse comparações com fases da sua vida, se observasse a curva de suas experiências, chegaria a conclusão que um dia poderia deixar de existir. De acordo com Scheler (2001), a ideia da morte faz parte dos elementos constitutivos da consciência humana, faz parte da essência da vida, da sua forma e estrutura. A morte está fundamentada em cada fase da vida, por limitada que seja e na estrutura que esta oferece à experiência.

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o homem a ter a certeza do seu fim. Essa concepção de morte não pode ser entendida a nível emocional, pois ela se compreende num sentido mais profundo do ser (SCHELER, 2001).

A estrutura do processo vital e da consciência interna consiste em três dimensões: presente imediato (x), o passado imediato (y) e o futuro imediato (z). Três extensões lhe são atribuíveis: percepção (que se liga ao presente), a lembrança (que se liga ao passado) e a expectativa (que se liga ao futuro). A consciência do ser vivo percebe intuitivamente, no processo vital, não só as três dimensões imediatas, mas também a sua totalidade (T). Que pode ser representada pela equação T = x + y + z. Na medida em que o homem vivencia os anos de vida a dimensão do passado cresce cada vez mais, amos tempo que o futuro imediato e suas realizações vão se diminuindo. E o campo do presente fica cada vez mais comprimido pelas outras duas dimensões. Portanto, à medida que a vida passa, diminuem as possibilidades de experiências. Scheler, afirma que aumentando o passado, as duas outras dimensões (presente e futuro) necessariamente diminuem, pois a totalidade é constante. Essa experiência da diminuição do futuro e aumento do passado exprime uma experiência intima da nossa orientação para a morte. A experiência de estrutura num instante de vida fundamenta a certeza de nossa condição mortal e revela a realidade da morte natural (SCHELER, 2001).

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A MORTE

Os estudos sobre a temática da morte têm crescido nas ciências sociais e humanas, seja na condição teórica como também na criação e validação de instrumentos para a testagem das diversas teorias (LOUREIRO, 2010). A concepção da finitude ainda é um desafio tanto para os pesquisadores como para o próprio ser humano, pois não se pode estuda-la através do método experimental e sim pelo meio simbólico e imaginário (MACEDO; MACEDO; GOMES; PERES, 2010).

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0,87), Neutralidade (α = 0,64), Aproximação (α = 0,91) e Escape (α = 0,82). Após a analise dos dados observou que a Escala de Avaliação do Perfil de Atitudes acerca da Morte é uma medida fidedigna e valida. Por um lado, os valores satisfatórios da consistência interna das dimensões, por outro, a estrutura da analise fatorial nada se opõe ao proposto por Wong, Reker e Gesser (1994). A escala também mostrou ser sensível aos dois grupos: saúde e população geral.

Em um estudo realizado por Barros-Oliveira e Neto (2004) contendo uma amostra de 387 participantes divididos em quatro grupos: 102 freiras, 77 estudantes de teologia de diversos segmentos teológicos, 110 estudantes de educação física e 98 professores do ensino básico e secundário. Tendo como finalidade a validação de um instrumento sobre diversas perspectivas de morte: morte como sofrimento e solidão, morte como além da vida e recompensa, indiferença em face da morte, morte como desconhecido, morte como abandono dos que dependem de nós, morte como coragem, morte como fracasso, e morte como um fim natural. Constatou que as pessoas religiosas como as freiras e os seminaristas há uma maior aceitação da finitude do que os estudantes de educação física e os professores de ensino básico e secundário.

A morte enquanto tal é praticamente impensável e quando, por alguma razão de força maior, ela se impõe à consciência e à elaboração, isso só se dá com muito sofrimento. Segundo Venâncio (2004), o momento em que é diagnosticado o câncer, a pessoa vivencia o momento com dor e angustia, mesmo que seja um bom prognostico, o rotulo da enfermidade já é de sofrimento e mortal. Silva, Aquino e Santos (2008) desenvolveram uma pesquisa com pacientes oncológicos com o objetivo de investigar os sentimentos vivenciados ao diagnosticar a doença. Os resultados concluíram que o momento do diagnóstico é vivido de forma conturbada, por evocar pensamentos sobre a morte e reações negativas que interferem no bem estar psíquico do portador. Outro estudo Ferreira e Raminelli (2012) analisou a percepção que os pacientes oncológicos possuem sobre a sua doença e que estratégias utilizam em relação à morte que esta condição lhe apresenta. Foram observados diferentes olhares acerca da terminalidade, dentre os quais a negação da morte foi à questão que obteve maior destaque ao longo dos discursos.

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morte. Percebeu que o acompanhamento da psicóloga durante todo o processo, permitiu que o paciente ressignificasse a sua dor, encontrando um sentido para morte.

A experiência de ter doença grave gera sofrimento, impulsionando na busca por atribuir significados para a enfermidade, na tentativa de que essa situação faça algum sentido. Pois essa experiência pode ser, muitas vezes, confusa e desgastante, tanto para a vida da pessoa quanto para a de sua família. Com intuito de conhecer a relação entre as experiências de famílias de crianças que vivenciaram uma doença grave com a sua religião, doença e suas histórias de vida, Bousso, Serafim Misko (2010) realizou uma pesquisa qualitativa com nove famílias de seis diferentes religiões. As narrativas evidenciaram a busca da família por atribuir significados às experiências vivenciadas, a partir de suas crenças religiosas O trabalho evidencia a importância das crenças religiosas e desenvolvimento da espiritualidade como suporte na situação de doença e morte e como forma de enfrentá-las da melhor maneira possível, já que aumenta a fé e esperança de cura e traz sensação de tranquilidade para enfrentar a adversidade.

O temor da morte não aflige somente adulto, mas está presente desde a infância, Papalia e Olds (2000) afirmam que crianças entre cinco a sete anos já compreendem que a morte é algo irreversível - que uma pessoa, animal, uma flor morta não pode voltar a viver novamente, compreendendo nessa etapa do seu ciclo vital, duas coisas importantes: que ela é universal e que uma pessoa morta não possui as funções vitais. Em uma pesquisa realizada com 42 crianças dos oito aos onze anos de idade, percebeu que os pensamentos sobre a morte provocam sentimentos dolorosos e um desconforto ao debaterem sobre o assunto abordado. Sendo relevante que a comunicação sobre o tema seja discutido tanto no âmbito escolar quanto na família, para uma maior integração da criança diante da vida (MACEDO; MACEDO; GOMES; PERES, 2010).

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negativas perante a morte bem como de sintomas depressivos sendo esta proteção particularmente visível em situação de maior exposição ocupacional à morte. Indica que a existência de um propósito ou sentido de vida constitui um dos aspectos que mais protege os profissionais de saúde do sofrimento psicológico, resultantes do desgaste intrínseco das suas áreas profissionais e do contato com a morte dos seus pacientes.

Brito (2003) investigou a ansiedade perante a morte em estudantes de enfermagem, os resultados indicaram que há uma maior incidência do medo da morte nas mulheres do que nos homens, também aponta para um maior temor da finitude em indivíduos que nunca passaram por alguma situação que o deparassem com a possibilidade de morte, tanto pessoal como de alguém próximo.

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CAPÍTULO 3

RELIGIÃO, ESPIRITALIDADE E SENTIDO DE VIDA

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Os aspectos religiosos são um tema que tem sido foco de muitos estudos, extrapolando as fronteiras da teologia e exigindo outras perspectivas para melhor compreensão desse fenômeno humano (GIOVANETTI, 2005).

Dentro da psicologia alguns autores ignoraram a questão da espiritualidade, como por exemplo, Sigmund Freud que reduziu o homem ao um organismo psicofísico, este via o homem como um ser constituído pela alma (psique) e o corpo físico. Para Valle (2005, p.86),

“com o avanço do behaviorismo e da psicanálise, a religião começou a ser negligenciada por essas correntes, que a julgavam de pouca importância, sem nenhuma validade”.

“Frankl discorda de Freud, que considerou a religião como a sublimação dos impulsos sexuais, denominando-a de neurose obsessiva da humanidade. Frankl valoriza a religião como um fenômeno humano a ser considerado pela psicologia, afinando-se com o pensamento de

Jung” (XAUSA, 1992, p. 8). Assim Frankl encontra um homem humano, que busca pelo espiritual, e vai além do impulso para eternizar uma ideia, ou alcançar o eterno, saindo de toda aquela visão do homem como uma máquina, mas um homem que busca um sentido em seu existir (XAUSA, 1992).

Carl Jung sempre utilizou o termo espiritualidade em suas obras (XAVIER, 2006), afirmava que a religiosidade não está ligada a uma determinada profissão de fé, ou seja, uma doutrina religiosa, mas sim na relação transcendental da alma com a divindade e na mudança que resulta dessa relação transcendental. Está relacionada a uma atitude, uma ação interna, a um contato do indivíduo com sentimentos e pensamentos superiores e no fortalecimento que este contato pode resultar para a personalidade.

Através da compreensão dada por esses autores a respeito da espiritualidade e a sua forma de perceber a constituição do homem, faz – se necessário um melhor entendimento da definição e diferenciação entre os termos religião, religiosidade e espiritualidade, já que esta perspectiva esteja presente no campo cientifico.

3.1 RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE

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(FARIA; SEIDL, 2005). Para Valle (2005), na psicologia da religião as definições de religião e religiosidade são conceitos antigos, mas o uso do termo espiritualidade é bastante recente na psicologia científica. Para Roehe (2004), espiritualidade é um termo mais amplo do que a religiosidade e a religião, mas estes aspectos estão relacionados entre si, mas não são sinônimos (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001).

De acordo com Koenig (2012), a religião se define como um sistema de crenças por uma determinada comunidade religiosa. Nas culturas ocidentais os ritos oferece ao religiosa um relacionamento com o Transcendente e na matriz oriental esta orientada para o Nirvana. Assim, a religião através das suas doutrinas traz uma compreensão sobre o significado do mundo, a natureza da vida após a morte. Além de orientar os seus adeptos sobre a conduta moral vivenciado por eles. A atividade religiosa, segundo Koening (2012), pode ser classificada como institucional ou individual. A religiosidade institucional é caracterizada como o envolvimento do crente com a instituição religiosa (participação nas reuniões, estudo das doutrinas) enquanto a religião não organizada ou individual se refere ao comportamento religioso individual, ou seja, a pratica religiosa é só, fora de um segmento religioso.

No que se refere à religião, Kovács (2007) descreve-a como crenças, tradições, cerimônias, rituais que possuem um poder reflexivo e que explicam sobre a vida e morte. Na visão de Vergote (1961, apud VALLE, 2005 p. 91), “a religião se caracteriza por uma união de sentimentos e pensamentos no qual o homem e a sociedade tomam consciência de seu intimo, tornando presente o poder divino”. Já a religiosidade está relacionada à experiência individualizada do transcendente e deve ser distinguida da religião que é a sua matriz instituída (VALLE, 2005).

Segundo Panzini et al. (2007), a religião é a crença na existência de um ser superior, já a religiosidade é a extensão no qual uma pessoa acredita, segue e pratica a religião. Então a religião esta relacionada com um sistema de doutrinas que é compartilhado por um grupo de pessoas tendo características comportamentais, sociais e valores específicos (SAAD; MASIERO; BATTISTELLA, 2001).

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Figura 1: Representação gráfica dos valores próprios da escala de Crenças Religiosas  Fonte: Elaboração própria, 2013.
Tabela 1: Estrutura Fatorial da Escala de Crenças Religiosas  Fatores  Crença
Tabela 2: Matriz Correlacional Crença Ocidental e Oriental e o sentido de vida.
Tabela 3: Matriz Correlacional Crenças Ocidentais e Oriental e Visões de Morte  Crença Ocidental  Crença Oriental

Referências

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