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Universidade Federal do Rio de Janeiro

REALIZAÇÃO FONÉTICA DE ACRÔNIMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:

UMA ABORDAGEM MORFOFONOLÓGICA ATRAVÉS DA TEORIA DA OTIMALIDADE

Bruno Cavalcanti Lima

2014

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2 REALIZAÇÃO FONÉTICA DE ACRÔNIMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:

UMA ABORDAGEM MORFOFONOLÓGICA ATRAVÉS DA TEORIA DA OTIMALIDADE

Bruno Cavalcanti Lima

VOLUME ÚNICO

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

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3 REALIZAÇÃO FONÉTICA DE ACRÔNIMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:

UMA ABORDAGEM MORFOFONOLÓGICA ATRAVÉS DA TEORIA DA OTIMALIDADE

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Tese de Doutorado submetida ao Programa e Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

_______________________________________________________________

Presidente, Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves - UFRJ

_______________________________________________________________

Prof. Doutor Gean Nunes Damulakis – UFRJ

_______________________________________________________________

Profa. Doutora Jaqueline dos Santos Peixoto – UFRJ

_______________________________________________________________

Profa. Doutora Marisandra Costa Rodrigues – UFF

_______________________________________________________________

Prof. Doutor Roberto Botelho Rondinini – UFRRJ

_______________________________________________________________

Profa. Doutora Carolina Ribeiro Serra – UFRJ, suplente

_______________________________________________________________

Profa. Doutora Mônica de Toledo Piza C. Machado – UFRRJ, suplente

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

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4 Lima, Bruno Cavalcanti.

Realização fonética de acrônimos no português brasileiro: uma abordagem morfofonológica através da Teoria da Otimalidade / Bruno Cavalcanti Lima. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2014.

xii, 179f.: il.; 31 cm.

Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Tese (doutorado) – UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós- graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2014.

Referências Bibliográficas: f. 192-200.

1. Fonologia. 2. Morfologia. 3. Teoria da Otimalidade. 4. Acronímia. I.

Gonçalves, Carlos Alexandre Victorio. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Realização fonética de acrônimos no português brasileiro: uma abordagem morfofonológica através da Teoria da Otimalidade.

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5

SINOPSE

Estudo de um processo não-linear de formação de palavras: a Siglagem.

Análise da realização fonética dos acrônimos por meio dos mecanismos da Teoria da Otimalidade. Observação de dados morfofonológicos obtidos através do estudo do fenômeno.

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6 RESUMO

REALIZAÇÃO FONÉTICA DE ACRÔNIMOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:

UMA ABORDAGEM MORFOFONOLÓGICA ATRAVÉS DA TEORIA DA OTIMALIDADE

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Dentre os processos conhecidos como não-concatenativos ou não- lineares, Gonçalves (2004) cita a Siglagem, que consiste na combinação das iniciais de um nome composto ou de uma expressão. Nos termos de Abreu (2009), as siglas podem ser alfabetismos, ou seja, siglas cuja pronúncia é feita de forma soletrada, como ocorre em FMI (‘Fundo Monetário Internacional’), ou acrônimos, isto é, siglas cuja sequência de letras permite a pronúncia de uma palavra normal, tal como em USP (‘Universidade de São Paulo’). Nesta tese, analisa-se a realização fonética dos acrônimos constituídos por duas (IG:

‘Internet Grátis’), três (PUC: ‘Pontifícia Universidade Católica’) e quatro letras (ENEM: ‘Exame Nacional do Ensino Médio’); alfabetismos, portanto, não serão contemplados na análise. O principal objetivo do trabalho é a comprovação de que os acrônimos são, de fato, palavras da língua, visto que se submetem aos diversos padrões fonológicos pelos quais qualquer outra palavra da língua se submete. Delimitam-se, além disso, características morfológicas e fonológicas do processo. A análise dá-se por meio da Teoria da Otimalidade (McCARTHY

& PRINCE, 1993; PRINCE & SMOLENSKY, 1993), modelo paralelista que trabalha com a avaliação de formas a partir de uma hierarquização de restrições, que objetiva, por sua vez, checar possíveis candidatos a output.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

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7 ABSTRACT

PHONETIC ACCOMPLISHMENT OF ACRONYMS IN BRAZILIAN PORTUGUESE: A MORPHOPHONOLOGICAL APPROACH THROUGH

OPTIMALITY THEORY Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Among the methods known as non-linear or non-concatenative processes, Gonçalves (2004) cites the acronyms formation which consists of the combination of the initials of a compound noun or an expression. According to Abreu (2009), the acronyms can be alphabetisms, in other words, abbreviations whose pronunciation is made of the spelled form, as in FMI (‘Fundo Monetário Internacional’), or acronyms, in which the sequence of letters allows the pronunciation of a normal word, as in USP ('Universidade de São Paulo'). This thesis analyzes the phonetic accomplishment of acronyms consisting of two (IG: ‘Internet Grátis’), three (PUC: ‘Pontifícia Universidade Católica’) and four letters (ENEM: ‘Exame Nacional do Ensino Médio’).

Therefore, alphabetisms will not be included in the analysis. The main objective of this investigation is the verification that acronyms are indeed words of the language, since they are subject to several phonological patterns by which any other word in the language undergoes. Moreover, morphological and phonological characteristics of the process are delimited. The analysis is accomplished by means of Optimality Theory (McCARTHY & PRINCE, 1993;

PRINCE & SMOLENSKY, 1993), a parity model which deals with the evaluation of forms having as departure a hierarchy of constraints, which aims, in turn, to check for possible candidates to output.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

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8 RESUMEN

REALIZACIÓN FONÉTICA DE ACRÓNIMOS EN PORTUGUÉS DE BRASIL:

UN ENFOQUE MORFOFONOLÓGICO A TRAVÉS DE LA TEORÍA DE LA OPTIMALIDAD

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Resumen da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Entre los procesos conocidos como no-concatenativos o no-lineares, Gonçalves (2004) cita la formación de siglas, que consiste em la combinación de las iniciales de un nombre compuesto o de una expresión. Según Abreu (2009), las siglas pueden ser alfabetismos, es decir, siglas cuya pronunciación se hace de forma deletreada, como ocurre en FMI (‘Fundo Monetário Internacional’), o acrónimos, es decir, siglas cuya secuencia de letras permite la pronunciación de una palabra normal, como en USP (‘Universidade de São Paulo’). En esta tesis, se analiza la realización fonética de los acrónimos que se constituyen por dos (IG: ‘Internet Grátis’), tres (PUC: ‘Pontifícia Universidade Católica’) y cuatro letras (ENEM: ‘Exame Nacional do Ensino Médio’);

alfabetismos, por lo tanto, no serán analisados. El principal objetivo del trabajo es la comprovación de que los acrónimos son, de hecho, palabras de la lengua, ya que están sujetos a los diversos patrones fonológicos por los cuales cualquier otra palabra de la lengua está sujeta. Se delimitan, además, características morfológicas y fonológicas del proceso. El análisis se dá por medio de la Teoría de la Optimalidad (McCARTHY & PRINCE, 1993; PRINCE

& SMOLENSKY, 1993), modelo paralelista que trabaja con la evaluación de formas a partir de una jerarquía de restricciones, que tiene por objetivo, a su vez, verificar posibles candidatos a output.

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

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9 AGRADECIMENTOS

A Deus, meu refúgio, minha força e meu sustento. Finalizando uma importante etapa da vida, posso afirmar que “até aqui me socorreu o Senhor” (1 Sm 7,12). Agradeço também a intercessão da Virgem Maria, Mãe providente e zelosa, que sempre cuidou de mim.

À Fabiana, minha amada esposa, pelo amor, pela amizade, pelo companheirismo e pela fidelidade. Obrigado pelo apoio, pela compreensão e pela presença em minha vida. Você me faz muito feliz!

À minha mãe, a quem devo tantas coisas, dentre as quais destaco minha formação, meu caráter e minha vocação profissional. Obrigado pelo exemplo de mãe, de mulher e de pessoa maravilhosa que a senhora é.

Ao meu pai (in memoriam) e à minha avó Giselda (in memoriam), pessoas tão amadas por mim e que, certamente, gostariam de brindar minhas conquistas comigo. Saudade infinita!

Ao Professor Carlos Alexandre Gonçalves, meu orientador há quase 11 anos (Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado), pelo brilhantismo com que exerce sua profissão. Obrigado, Carlos, por estar presente em minha trajetória acadêmica! Você é um mestre como poucos e merece todas as coisas boas da vida! Conte sempre comigo!

Aos meus alunos, os de ontem e os de hoje, pelo carinho e pelo afeto que sempre manifestam em relação a mim.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Campus Arraial do Cabo, onde exerço minha profissão e sou muito feliz.

Aos membros do Nemp (Núcleo de Estudos Morfossemânticos do Português), especialmente à querida Professora Maria Lúcia Leitão de Almeida e aos parceiros Ana Paula Belchor, Hayla Thami, Kátia Emmerick, Rosângela Ferreira e Vítor Vivas.

À Professora Maria Aparecida (IFRJ), pelo Abstract, e a Matheus Monclai, pela ajuda com questões de Informática.

À Paróquia de São Jerônimo, lugar onde nasci para Deus. Agradeço especialmente aos amigos catequistas e ao Grupo de Oração Veni Creator.

A todos os que torcem por mim.

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10 SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO...13

2 – A SIGLAGEM NA TEORIA MORFOLÓGICA...19

2.1 A ANÁLISE DE PLAG (2003)...22

2.2 A ANÁLISE DE FANDRYCH (2008)...27

3 – A SIGLAGEM EM PORTUGUÊS...33

3.1 O PROCESSO NA VISÃO DOS GRAMÁTICOS...33

3.2 O PROCESSO NA VISÃO GERAL DE LINGUISTAS BRASILEIROS...35

3.3 O PROCESSO NA VISÃO DE VILLALVA (2008)...41

3.4 O PROCESSO NA VISÃO DE SANDMANN (1988)...44

4 – PESQUISAS SOBRE A SIGLAGEM NO PORTUGUÊS BRASILEIRO...47

4.1 O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU (2004)...47

4.2 O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU (2006)...55

4.3 O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU & ROSA (2006)...60

4.4 O PROCESSO NA VISÃO DE ROSA (2009b)...64

4.5 O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU (2009)...67

4.6 O FENÔMENO CONHECIDO COMO SIGLAS REVERSAS...75

5 – BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS PARA A ANÁLISE DA SIGLAGEM EM UMA PERSPECTIVA OTIMALISTA...77

5.1 TEORIA DA OTIMALIDADE...77

5.1.1 Propriedades da TO...78

5.1.2 A arquitetura da TO...79

5.2 BASES METODOLÓGICAS...82

6 – ANÁLISE...87

6.1 A PRONÚNCIA DAS SIGLAS CONFORME BARBOSA ET ALII...87

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11

6.2 ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE...92

6.2.1 As siglas de duas letras...92

6.2.2 As siglas de três letras...103

6.2.2.1 Os formatos VVV e CCC...107

6.2.2.2 O formato CCV...108

6.2.2.3 O formato CVC...109

6.2.2.4 O formato CVV...112

6.2.2.5 O formato VVC...119

6.2.2.6 O formato VCV...120

6.2.2.7 O formato VCC...121

6.2.2.8 Análise conjunta dos acrônimos de três letras...122

6.2.3 As siglas de quatro letras...138

6.2.3.1 Os formatos CCCC, CCCV e VVVV...145

6.2.3.2 O formato VVVC...146

6.2.3.3 O formato CVVV...147

6.2.3.4 O formato VVCV...148

6.2.3.5 O formato VCVV...149

6.2.3.6 O formato CVVC...151

6.2.3.7 O formato CVCC...153

6.2.3.8 O formato VCVC...154

6.2.3.9 O formato CVCV...155

6.2.3.10 O formato VCCC...157

6.2.3.11 O formato VVCC...158

6.2.3.12 O formato CCVV...159

6.2.3.13 O formato VCCV...160

(12)

12

6.2.3.14 O formato CCVC...161

6.2.3.15 Análise conjunta dos acrônimos de quatro letras..162

7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS...189

8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...193

ANEXO 1...202

ANEXO 2...207

ANEXO 3...210

(13)

13 1. INTRODUÇÃO

Conforme a tradição gramatical, a morfologia do português caracteriza- se, basicamente, pela produção de novos itens lexicais a partir da concatenação de formativos, isto é, novas palavras da língua surgem com base no acréscimo de afixos, no caso da derivação, como em ‘dizer’ > ‘desdizer’, ou com o encadeamento de radicais ou bases, como acontece em ‘cata’ + ‘vento’

> ‘catavento’.

É necessário observar, contudo, que algumas palavras não são formadas através do acréscimo de elementos morfológicos, como se pode notar em ‘Cristina’ > ‘Cris’; ‘japonês’ > ‘japa’ e ‘apartamento’ + ‘aperto’ >

‘apertamento’. Nesses exemplos, verifica-se que não há junção de formativos, mas perda de segmentos para que se veiculem novos significados na língua.

Os processos que formam novos vocábulos a partir da perda de segmentos chamam-se casos de morfologia subtrativa (GONÇALVES, 2013), um dos mecanismos não-concatenativos que o português apresenta. Esses processos não são descritos pela gramática tradicional, já que fenômenos dessa natureza, de acordo com esse tipo de literatura, são “subsidiários” em português (ROCHA LIMA, 2003). Quando existe, por parte da gramática tradicional, alguma menção a processos de morfologia não-aglutinativa, estes são dispostos sob o rótulo genérico de “abreviação vocabular” (BECHARA, 2009).

Esses processos, também denominados processos marginais de formação de palavras, têm sido analisados sob a ótica de abordagens não- lineares, como a Morfologia Prosódica (McCARTHY, 1986; McCARTHY &

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14 PRINCE, 1990) e a Teoria da Correspondência (McCARTHY & PRINCE, 1995), uma extensão da Teoria da Otimalidade aplicada à morfologia (BENUA, 1995).

Os processos não concatenativos de formação de palavras revelam que o português também faz uso de categorias morfoprosódicas para formar uma nova palavra. Essas operações, conforme Gonçalves (2004b), são as seguintes: a Reduplicação (pega-pega, brincadeira de criança), o Truncamento (portuga, para português), o Cruzamento Vocabular (chafé, junção das bases chá e café), a Hipocorização (Edu, para Eduardo) e a Siglagem (ONU, para Organização das Nações Unidas).

Alguns autores, como Spencer (1991) e Gonçalves (2005), postulam que a razão para que os processos não-concatenativos sejam “mal-comportados”

reside no fato de não serem analisáveis com base em uma morfologia pura, mas através da interação de dois níveis linguísticos – o morfológico e o fonológico/prosódico –, visto que a perda de massa fônica de uma palavra faz emergir um novo item lexical. Por conta disso, a visão de que as palavras devem ser divididas em partes mínimas significativas é esvaziada, o que promove a necessidade de acessar constituintes fonológicos para estudar dados de morfologia.

Dessa maneira, como se pode observar, através de estudos de interface morfologia-fonologia, descrevem-se melhor operações linguísticas produtivas que envolvem perda de segmentos fônicos (processos não-concatenativos), diferentemente dos casos de aglutinação de elementos morfológicos. Pode-se afirmar, então, que operações morfológicas, muitas vezes, “ultrapassam os terrenos da própria morfologia e acessam conteúdos fonológicos, acarretando

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15 o que chamamos de estudos de interface ou, mais especificamente, interface morfologia-fonologia” (LIMA & THAMI DA SILVA, 2011: 77).

Com exceção da Siglagem, os demais processos não-concatenativos listados acima foram analisados através da Teoria da Otimalidade em dissertações de mestrado e em teses de doutorado desenvolvidas nos últimos anos no âmbito do Nemp (Núcleo de Estudos Morfossemânticos do Português), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (VIALLI, 2008;

BELCHOR, 2009; ANDRADE, 2008, 2013; LIMA, 2008; THAMI DA SILVA, 2008, 2013). Nesta tese, portanto, pretendemos analisar o processo da Siglagem pela ótica da Teoria da Otimalidade, modelo teórico postulado por Prince & Smolensky (1993), uma vez ser este o único processo até o momento ainda não contemplado em abordagens otimalistas1, o que evidencia o caráter inédito deste estudo.

Enfocar a formação de siglas em uma tese é relevante pelo fato de essas construções serem altamente frequentes em diversas áreas da atividade humana, tanto na modalidade oral quanto na modalidade escrita, fazendo referência a organizações (ONG: Organização Não-Governamental), instituições (UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro), associações (ACVM: Associação de Comunidades de Vida Mariana), partidos políticos (PSOL: Partido Socialismo e Liberdade), serviços públicos (SAC: Serviço de

1 O processo de formação de siglas já foi analisado por Abreu (2004, 2009); entretanto, o enfoque teórico abordado pela autora difere da perspectiva de análise proposta através da Teoria da Otimalidade. A análise otimalista do processo da Siglagem é inédita e pertinente, afinal se trata de um processo pouco explorado e bastante produtivo no português brasileiro contemporâneo.

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16 Atendimento ao Consumidor) etc. Como se verifica, as siglas estão presentes em uma variedade de práticas sociais.

Abreu (2004) assevera que as siglas começaram a ganhar força “no decorrer do século XX e, de forma mais sistemática, a partir dos anos quarenta” (NUNBERG, 2003). A partir da década de setenta, porém, o emprego dessas formações vem se tornando mais constante.

Para explicitar essa constância do emprego de siglas na atualidade, um título destacado de reportagem do jornal O Globo, na seção de Economia, dizia: “BC confirma pibinho” (O Globo, 21/02/2013). Conforme se pode notar, em um título com três termos, um é uma sigla propriamente dita (BC: Banco Central), e outro é uma palavra derivada de uma sigla (pibinho é uma palavra derivada por sufixação, cujo radical é a sigla PIB: Produto Interno Bruto). Nota- se, então, que as siglas estão tão inseridas nas práticas sociais cotidianas que são empregadas em uma manchete de jornal de circulação nacional. Fica claro, além disso, que, nesses usos cotidianos, as siglas são compreendidas como palavras primitivas da língua, a ponto de gerarem palavras derivadas através de um processo consagrado como a sufixação.

Adotamos, neste trabalho, a nomenclatura proposta por Abreu (2009), segundo a qual siglas soletradas são chamadas de alfabetismos (IPI, para Imposto sobre Produtos Industrializados), e siglas lidas como palavras da língua são denominadas acrônimos (CEF, para Caixa Econômica Federal).

Defendemos, a partir dessa divisão, que acrônimos são palavras fonológicas e, como tais, ajustam-se aos diversos padrões fonológicos pelos quais qualquer palavra da língua passa. O acrônimo IG (Internet Grátis), por

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17 exemplo, é pronunciado com a epêntese de [ɪ] após o segmento obstruinte [g]2, porque consoantes oclusivas, em português, não poderiam figurar na posição de coda (CÂMARA Jr, 1970). Com a epêntese, o segmento obstruinte passa a ocupar a posição de ataque silábico, posição que lhe é própria, gerando-se o dissílabo paroxítono [ˈi.gɪ].

Os alfabetismos, por sua vez, devem ser compreendidos apenas como palavras morfológicas, uma vez que são encarados, muitas vezes, como formas primitivas. O alfabetismo PMDB, por exemplo, origina a palavra derivada por sufixação peemedebista, ou seja, aquele que é filiado ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro). Outro exemplo observado durante a pesquisa foi essebetista, isto é, aquela pessoa que gosta muito de assistir aos programas do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).

Este trabalho tem como foco a produção de acrônimos, ou seja, para efeito de análise, apenas os acrônimos serão contemplados, uma vez que são, de fato, palavras morfológicas e fonológicas da língua. Sendo assim, espera-se que esta tese evidencie que o estudo da realização fonética de acrônimos pode trazer à tona características da fonologia do português brasileiro.

O trabalho está estruturado da seguinte maneira: no capítulo 2, apresentamos o processo da Siglagem na teoria morfológica, através de análises de autores que tratam do processo fora da morfologia portuguesa. A seguir, no capítulo 3, tratamos da Siglagem na morfologia portuguesa, apresentando as visões das principais gramáticas tradicionais e de linguistas

2 Sabemos que o processo fonológico em que ocorre o acréscimo de som ou sílaba no final de uma palavra chama-se paragoge. No entanto, nesta tese, seguindo diversos trabalhos desenvolvidos no âmbito da TO (p. ex., Collischonn, 2004; Gonçalves, 2004b), chamamos de epêntese qualquer inserção de segmento, independente da posição em que é inserido.

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18 que abordam o assunto em suas obras. O capítulo 4 é dedicado a pesquisas que, de forma aprofundada, abordam o processo de formação de siglas no português brasileiro. No capítulo 5, apresentamos as bases teóricas e metodológicas para o estudo da Siglagem nesta tese, ou seja, procuramos descrever os principais dispositivos da TO e seus mecanismos; ainda nesse capítulo, detalhamos a metodologia empregada na execução da pesquisa.

Finalmente, no capítulo 6, partimos para a análise do fenômeno através dos mecanismos da TO e, por fim, no capítulo 7, expomos as principais conclusões do trabalho.

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19 2. A SIGLAGEM NA TEORIA MORFOLÓGICA

Neste capítulo, apresentamos a visão de morfólogos a respeito do fenômeno da formação de siglas nas línguas naturais. Apresenta-se, primeiramente, uma visão geral do que afirmam Aronoff (1976), Aronoff &

Anshen (1998), Aronoff & Fudeman (2005), Booij (2007), Bauer (2003), Haspelmath (2002), Štekauer (1998), Stockwell & Minkova (2001) e Fandrych (2004). Por fim, destacam-se as análises de Plag (2003) e Fandrych (2008), por serem mais aprofundadas no que concerne ao processo em estudo. O objetivo maior do capítulo é discutir o lugar do processo Siglagem na morfologia, já que muitos autores, como veremos na sequência, excluem esse mecanismo do rol dos processos de formação de palavras efetivamente considerados morfológicos.

Aronoff (1976) situa a formação de siglas como um processo marginal ao afirmar que a Siglagem não constitui um traço universal da linguagem e que forma palavras sem estrutura interna reconhecível, o que acaba por torná-las incomuns e opacas. O autor, todavia, não explicita se o processo está ou não no escopo da morfologia.

Aronoff & Anshen (1998) definem processos como o cruzamento vocabular (saco + picolé = sacolé, exemplo nosso para o português) e a formação de siglas como morfologia improdutiva. Os autores, assim abrangendo processos marginais de formação de palavras, ampliam a noção de improdutividade. Dessa maneira, a morfologia improdutiva, conforme Aronoff & Anshen, é uma forma de criação vocabular e abrange também o que é opaco e intencional.

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20 Aronoff & Fudeman (2005) postulam que a formação de siglas é um processo artificial, externo ao fenômeno geral da formação de lexemas, uma vez que depende da ortografia e não da pronúncia. Esse fato evidencia que os autores compreendem que o processo de formação de siglas está fora do âmbito da morfologia.

Para Booij (2007), há outros modos de criação de unidades lexicais, não sendo o sistema morfológico de uma língua sua única fonte de palavras complexas. Há os processos ditos canônicos (derivação e composição) e processos considerados de criação vocabular que identificam as diversas formas que a língua apresenta para criar palavras.

Bauer (2003) enfatiza a ideia de que há formas de criar novos lexemas que dependem da existência de um sistema de escrita e, como nem todas as línguas apresentam registro escrito, essas formas não são universais.

Haspelmath (2002), postulando que a morfologia é “o estudo da covariação sistemática entre a forma e o significado das palavras” ou o “estudo da combinação de morfemas na produção de palavras” e compreendendo morfema como “o menor constituinte significativo que pode ser identificado em uma palavra” (HASPELMATH, 2002: 3), exclui os processos de formação de palavras não-morfêmicos3, como as siglas, do escopo da morfologia. Dessa forma, estabelece diferenças entre operações que são próprias da morfologia (processos de formação de palavras) e operações que podem criar novas

3 Por processo não-morfêmico, entende-se o mecanismo com o qual se forma uma nova palavra sem utilizar morfemas no sentido estrito do termo: uma forma mínima recorrente para a qual se atribui um significado constante. Assim, cruzamentos vocabulares são não-morfêmicos por acessarem partes de palavras (p. ex, em brasiguaio, brasi e guaio são porções não significativas das formas de base). Do mesmo modo, o truncamento, por gerar um produto que não necessariamente equivale a um radical ou a um afixo (p. ex. refri, para refrigerante), é também considerado não-morfêmico.

(21)

21 palavras (processos de criação de palavras). O autor defende que palavras novas que são produtos de criação vocabular não apresentam características do tipo que possam ser reconhecidas pelos falantes.

Štekauer (1998) nota que linguistas diferem em suas opiniões quanto a decidir se questões relativas à formação de palavras devem se restringir à afixação, deslocando a composição para a sintaxe, e se processos não- morfêmicos devem ser incluídos na teoria de formação de palavras. Para o autor, formações não baseadas em morfemas devem ser excluídas das abordagens de formação de palavras.

Alguns autores admitem que acrônimos e blends (cruzamentos vocabulares) são classificados como subtipos de um ou de outro. Stockwell &

Minkova (2001) definem acrônimos como um tipo especial de blends, pois, para eles, o acrônimo típico toma o primeiro som da forma de cada uma das palavras-base e constrói uma nova palavra com aqueles sons iniciais. Se a palavra gerada for pronunciada como qualquer outra palavra, trata-se de um acrônimo verdadeiro. Muitas vezes, no entanto, para gerar um acrônimo pronunciável, não se tomam apenas os sons iniciais, mas, por exemplo, a primeira consoante e a primeira vogal simultaneamente, como ocorre em Coreme, para Comissão de Residência Médica. Por esse motivo, Stockwell &

Minkova (2001) afirmam que formações desse tipo estão no meio do caminho entre blends e acrônimos.

Fandrych (2004) estabelece que o processo de formação de palavras não-morfêmicas é definido como um mecanismo que forma palavras cujas bases não são morfemas, isto é, que emprega, pelo menos, um elemento que

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22 não é um morfema. Esse elemento pode ser, no caso da formação de acrônimos, parte de uma sílaba ou uma letra inicial, por exemplo.

Nas próximas seções, apresentaremos as análises de Plag (2003) e de Fandrych (2008), destacadas por conterem informações mais aprofundadas sobre o fenômeno em estudo.

2.1. A ANÁLISE DE PLAG (2003)

Plag (2003) faz comentários sobre abreviações e acrônimos em seção destinada ao estudo de processos de formação de palavras no âmbito da Morfologia Prosódica. A Morfologia Prosódica, segundo o autor, trata da interação das informações morfológicas com as prosódicas na formação de palavras complexas. Nessa seção, o autor analisa fenômenos como o truncamento (discotheque > disco), os blends (cruzamentos vocabulares: boat + hotel = boatel) e, em uma análise conjunta, as abreviações e os acrônimos.

Para ele, abreviações são siglas soletradas, como EC (European Community), ou abreviações simples, como kHz (kilohertz), e acrônimos são siglas que podem ser lidas como palavras regulares, tal como ocorre em Nato (North Atlantic Treaty Organization). Dessa forma, quando o autor tratar de algo que valha, simultaneamente, para abreviação e acrônimo, usaremos, para efeito de simplificação, o termo “sigla”.

O autor estabelece que as siglas têm natureza similar aos blends, porque ambos são fusões de diferentes partes de palavras. Ademais, afirma que siglas, por requererem perda de material, possuem algo em comum com truncamentos e blends, mas diferem desses dois processos, uma vez que, em

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23 truncamentos e blends, as categorias prosódicas exercem papel de destaque.

Em vez disso, nas siglas, a ortografia ganha proeminência.

De acordo com Plag, as siglas são mais comumente formadas tomando letras iniciais de várias palavras em sequência para formar uma nova palavra, como ocorre em BA (Bachelor of Arts). Além de palavras compostas por letras iniciais, podem-se também encontrar siglas que incorporam letras não iniciais, como se nota em BSc, para Bachelor of Science.

A grafia e a pronúncia das siglas, embora pareçam triviais, oferecem, conforme o autor, perspectivas interessantes a respeito das propriedades formais dessas construções. A formação ASAP (as soon as possible), por exemplo, pode ser grafada com letras maiúsculas, com letras minúsculas (asap) e com letras minúsculas e pontos (a.s.a.p.). No que se refere à pronúncia, pode ser soletrada, pronunciada como palavra regular ou, ainda, ter as palavras abreviadas pronunciadas.

Segundo Plag, se desprezarmos os casos em que as siglas (ou abreviações) desencadeiam a pronúncia regular das palavras abreviadas (a.s.a.p., e.g., etc.) e ignorarmos o uso ou não uso de pontos, essas formações podem ser agrupadas de acordo com duas propriedades: ortografia e fonologia.

Elas podem ser escritas em letras maiúsculas ou minúsculas e podem ser pronunciadas através da nomeação de cada letra (o chamado alfabetismo4, como em USA [ju.ɛs. ˈej]), ou como uma palavra normal (por exemplo, Nato [ˈnej.tow]). Nesse último caso, a formação é chamada, como já informado,

4 Plag chama de “initialism” o que traduzimos como “alfabetismo”. Como, na prática, o

“initialism” refere-se a siglas soletradas, aproveitamo-nos da nomenclatura já proposta por Abreu (2009) para essas formações. A análise de Abreu (2009) será exposta no quarto capítulo.

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24 acrônimo. O quadro abaixo, em 01, retirado de Plag (2003: 163), sistematiza essa observação:

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Grafia Pronúncia Exemplo Maiúsculas Alfabetismo CIA5 Maiúsculas Acrônimo NATO Minúsculas Alfabetismo e.g.

Minúsculas Acrônimo radar

Plag chama a atenção para o emprego de letras maiúsculas em acrônimos. Conforme o autor, são empregadas, geralmente, letras maiúsculas na formação de acrônimos, o que pode ser interpretado como um dispositivo formal que claramente liga o acrônimo a sua palavra base. Algumas palavras que se originaram historicamente como acrônimos são, hoje em dia, não mais escritas com letras maiúsculas e, para a maioria dos falantes, essas formas não estão mais relacionadas com as palavras que lhes deram origem (por exemplo, radar: radio detection and ranging).

Além disso, Plag ressalta a questão fonológica na produção dessas formações. Como são pronunciados como palavras regulares, os acrônimos, de acordo com o autor, devem obedecer aos padrões fonológicos do inglês, a fim de que não sejam produzidas palavras agramaticais do ponto de vista fonológico. Por exemplo, uma abreviação como BBC é um candidato improvável para um acrônimo, porque [bbk] ou [bbs] constituem combinações ilegais de sons em inglês. Plag, porém, salienta que, às vezes, falantes

5 CIA, em inglês, significa Central Intelligency Agency e é uma sigla considerada alfabetismo pelos falantes de língua inglesa. Em português, entretanto, essa formação é compreendida como acrônimo e é traduzida como Agência Central de Inteligência.

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25 conseguem gerar siglas pronunciáveis, ou seja, criam acrônimos. Isso, segundo ele, parece ser especialmente popular na nomeação de conferências linguísticas, como ocorre em Nwave ([enwˈeyv]: New Ways of Analyzing Variation in English) e em Slrf ([ˈslerf]: Second Language Research Forum).

Plag aborda, além disso, a produção de acrônimos homófonos. Para ele, às vezes, siglas são formadas de tal maneira a produzir não só palavras pronunciáveis (acrônimos, por exemplo), mas também palavras que são homófonas de outras já existentes. Isso, de acordo com o autor, é feito por razões de marketing ou publicidade, especialmente nos casos em que a palavra homônima tem um significado que é destinado a ser associado com o referente do acrônimo. Como exemplos, Plag cita Care6 (Cooperative for Assistance and Relief Everywhere) e Start7 (Strategic Arms Reduction Talks).

Para enfatizar a relevância da formação de acrônimos homófonos em questões estratégicas, Plag afirma que a formação Start, em particular, é interessante, porque foi inventada não apenas como uma palavra para se referir a um tratado de desarmamento previsto entre os Estados Unidos e a União Soviética, mas foi, presumivelmente, também cunhada para evocar a ideia de que o lado americano teve a intenção de fazer um esforço novo e grave em negociações de desarmamento com a União Soviética em um momento em que muitas pessoas duvidavam da disposição do governo dos Estados Unidos em querer seriamente o desarmamento. Um bom (e recente) exemplo desse mecanismo em português é a formação Crer, que significa Comitê de Reconforto Espiritual e Religioso, comissão que tem a finalidade de

6 Tradução: “cuidado”.

7 Tradução: “comece”.

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26 dar assistência espiritual a pacientes do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), hospital público federal situado na cidade do Rio de Janeiro. O verbo “crer”, como se sabe, relaciona-se, muitas vezes, à ideia de religiosidade e de espiritualidade, o que evidencia, portanto, o caráter intencional e estratégico presente em muitas formações acronímicas. Outro exemplo bastante recente deu-se com a criação de um novo partido político cujo acrônimo é Pros (Partido Republicano da Ordem Social). A palavra “pró”, como se sabe, significa “favorável” e é usada normalmente no plural em oposição a “contra” (“prós e contras”). O acrônimo pelo qual o partido é conhecido, então, sugere apenas pontos favoráveis, dando a ideia de que votar no Pros é sempre positivo. Fica claro, mais uma vez, o caráter intencional que existe em diversas formações de acrônimos.

Plag conclui seu texto, asseverando que existe uma série de processos de formação de palavras que não envolvem afixos como seu principal ou único meio de formar palavras. De acordo com o autor, o inglês tem um inventário rico de processos não-concatenativos, incluindo a conversão, o truncamento, o blend e a formação de siglas e acrônimos. Plag postula que, apesar da impressão inicial de irregularidade desses processos, uma vasta gama de sistemáticas restrições estruturais pode ser determinada. Tal como acontece com a afixação, essas restrições podem fazer referência a propriedades semânticas, sintáticas e fonológicas das palavras envolvidas e são altamente regulares por natureza.

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27 2.2. A ANÁLISE DE FANDRYCH (2008)

Para Fandrych (2008), acrônimos consistem em letras iniciais de palavras ou expressões longas. A autora assevera que nem todas as iniciais da expressão longa são empregadas na formação acronímica. Palavras gramaticais (relacionais, como a preposição, por exemplo) tendem a ser ignoradas, a fim de que a sigla se mantenha gerenciável. A autora salienta, ainda, que, diferentemente de todas as palavras formadas por outros processos não-morfêmicos, uma característica que define as siglas é o fato de serem formadas na modalidade escrita8.

Fandrych afirma que há siglas que não empregam todas as iniciais das bases disponíveis, como, por exemplo, Esprit (European Strategic Programme for Research and Development in Information Technology), ou casos em que letra(s) é/são adicionada(s) ou, até mesmo, casos em que sílabas são utilizadas, a exemplo de Soweto (South-Western Townships). A autora ressalta, também, que a ordem das letras em um acrônimo, ocasionalmente, pode ser invertida em favor da pronúncia e da homonímia. Como exemplo, cita Mishap (Missiles High-Speed Assembly Program), em que o <S>, que deveria estar posposto ao <H>, aparece antes dessa letra, formando uma palavra traduzida como acidente.

Fandrych salienta, além disso, que a criatividade desempenha importante papel na formação de algumas siglas, afirmando que acrônimos nunca decorrem de lapsos e são produzidos conscientemente. Comenta, ainda,

8 Cabe ressaltar que, em sua análise, Fandrych emprega apenas o termo acrônimo, seja para formações que podem ser pronunciadas como palavra ou para formações soletradas. Isso significa que, para a autora, sigla e acrônimo são sinônimos.

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28 que existem intenções irônicas como força motriz por trás de algumas reinterpretações jocosas, tal como ocorre em Fiat (Fix it again, Tony, em vez de Fabbrica Italiana di Automobili Torino).

Conforme a autora, siglas comportam-se como lexemas normais, ou seja, podem ser flexionadas. Para ela, uma vez que uma sigla se tornou uma palavra, não há razão para não tratá-la como tal, acrescentando-lhe um sufixo plural. Ademais, assevera que siglas podem tornar-se bases de novas formações, ou seja, podem gerar palavras derivadas. Como exemplos, cita CD- Rom joint venture (composição), Un-PC (prefixação) e OK-ness (sufixação), entre outros.

Fandrych comenta que pode existir, muitas vezes, por parte do usuário, desconhecimento do significado pleno da sigla. Isso fica evidente em construções como “programa Pesp (Pre-Entry Science Programme)”. A repetição pleonástica de um elemento da sigla é, segundo ela, uma clara indicação de que os falantes não estão cientes da expressão subjacente que serviu de base para a sigla. Em português, por exemplo, é comum a expressão

“cadastro no CPF”, que significa Cadastro de Pessoas Físicas.

Sobre as “iniciais”, que são elementos de construção dos acrônimos, Fandrych argumenta que representam palavras inteiras, isto é, estritamente falando, não são “unidades significativas”. A autora postula que essa

“independência” da sigla, talvez, permita que os usuários da língua formem lexemas criativos, o que pode levar à perda comum de motivação primária, abrindo, dessa forma, portas para a homonímia, a reinterpretação e a ironia.

Em processos como a formação de acrônimos, de blends (cruzamentos vocabulares) e de clippings (truncamentos), os morfemas não desempenham

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29 papel de destaque. Para a análise desses processos de formação de palavras, precisa-se, de acordo com Fandrych, de conceitos abaixo do nível do morfema.

A autora defende que esses processos fazem uso de uma gama de elementos submorfêmicos, que, no caso da formação de siglas, são as “iniciais”. Na análise desses processos, portanto, é necessária uma abordagem mais flexível do que a análise baseada em morfemas.

Os acrônimos, os blends e os clippings, conforme Fandrych, têm desfrutado de elevada produtividade em inglês nas últimas décadas. É claro que, em registros mais formais, essas formações nem sempre são bem aceitas, ou seja, são marcadas estilisticamente. Na mídia, na publicidade e na tecnologia moderna, no entanto, elas têm-se estabelecido fortemente. Na observação dessas formações, é necessário, segundo a autora, ir além de uma análise apenas estrutural e levar em conta usos relacionados a aspectos sócio- pragmáticos e textuais.

Como se percebe, o lugar das siglas nos estudos linguísticos não está bem definido. Para a maior parte dos teóricos arrolados neste capítulo, as siglas não se inserem na morfologia; para alguns, inserem-se nesse âmbito, embora de modo especial. A maioria dos autores considera a formação de siglas como um mecanismo de renovação lexical, mas não um recurso morfológico. Abreu (2009) afirma que, se o processo não está inserido na morfologia, o candidato é o léxico.

Nesta tese, defendemos que a Siglagem constitui, de fato, um processo morfológico, devendo ser inserida, inclusive, na lista dos processos não- concatenativos de formação de palavras. Conforme já exposto na Introdução, argumentamos que acrônimos têm estatuto de palavra fonológica, pelo fato de

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30 se ajustarem aos padrões segmentais e prosódicos de qualquer palavra da língua no que diz respeito à sílaba, a acento, à qualidade da vogal, à epêntese, à formação de ditongos, entre outros processos. Por serem palavras fonológicas que se submetem aos mesmos processos das palavras comuns, sem dúvida alguma o estatuto de palavra morfológica é mais óbvio.

No que tange aos alfabetismos, postulamos que essas construções também têm estatuto de palavra morfológica, uma vez que, muitas vezes, exercem papel de raiz em outras operações morfológicas. Dessa maneira, em uma construção como pejoteiro (termo informal empregado por jovens católicos para designarem os membros da PJ: Pastoral da Juventude), observa-se o acréscimo do sufixo –eiro a uma raiz (pejot-), caracterizando o processo da derivação sufixal. Essa raiz, como já mencionado, provém do alfabetismo PJ (Pastoral da Juventude), fato que evidencia que alfabetismos, por não serem pronunciados como palavras da língua, não podem ser compreendidos como palavras fonológicas, mas, por serem construções que, muitas vezes, servem de base para outras formações, devem ser, de acordo com esta análise, entendidos como palavras morfológicas. A sufixação, nesse caso, projeta o alfabetismo à condição de raiz, fazendo com que o produto se comporte como uma palavra fonológica, apesar de sua base não o ser.

Gonçalves (2012: 2) estabelece que existem “formas criadas ex nihilo (‘do nada’), sem ativação de qualquer processo morfológico, as chamadas criações de raiz”. No que se refere aos alfabetismos, defendemos que também sejam, pelos argumentos explicitados acima, criações de raiz, embora não sejam construções geradas “do nada”, pois há uma motivação linguística e intencionalidade por parte de quem os produz. Para efeito de exemplificação,

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31 citam-se as palavras petelho (PT + pentelho, para designar o “eleitor chato do PT”) e nepetismo (PT + nepotismo, o “nepotismo praticado pelo PT”), cruzamentos vocabulares que são produzidos com o alfabetismo PT (Partido dos Trabalhadores). Como de pode notar, os alfabetismos, pelo fato de se envolverem em processos diversos de formação de palavras, devem ser compreendidos como construções de raiz ou como palavras morfológicas.

Interessante ressaltar que, no nível da formação resultante (forma morfologicamente complexa), alfabetismos, por constituírem raízes, acabam projetando, com o elemento com que se combinam, uma única palavra fonológica, embora não o sejam quando usados sozinhos. Por exemplo, PT é um alfabetismo, mas, em petista, a sequência pet- comporta-se rigorosamente da mesma maneira que a raiz golp-, em golpista. O mesmo raciocínio é válido para petelho e nepetismo, equivalentes, em termos segmentais e prosódicos, às formas com que a sigla se funde: pentelho e nepotismo.

Dessa maneira, pelos argumentos expostos, defendemos que o lugar da Siglagem é no âmbito da morfologia: os acrônimos constituem palavras fonológicas, não diferindo em nada das palavras comuns; os alfabetismos são palavras morfológicas e constituem casos de criações de raiz. No nível da palavra complexa, deixa de existir diferença entre acrônimos e alfabetismos, conforme se observa nos exemplos a seguir, em (02):

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32 (02)

ACRÔNIMOS9 ALFABETISMOS

CUT [ˈku.tʃɪ] >> cutista PDT10 [ˈpe.ˈde.ˈte] >> pedetista Uerj [u.ˈeɣ.ʒɪ] >> uerjizar CPF [ˈse.ˈpe.ˈƐ.fɪ] >> cepeefizar Iurd [i.ˈuɣ.dʒɪ] >> iurdibriar11 PT [ˈpe.ˈte] >> nepetismo

No próximo capítulo, apresentaremos as visões de gramáticos e linguistas de língua portuguesa a respeito da formação de siglas. Pretendemos, assim, mostrar como a Siglagem é abordada por estudiosos do português.

9 CUT: Central Única de Trabalhadores; Uerj: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Iurd:

Igreja Universal do Reino de Deus.

10 Partido Democrático Trabalhista.

11 O neologismo iurdibriar foi criado para expressar o significado de que a Iurd, por meio de seus pastores, pode ludibriar seus fiéis.

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33 3. A SIGLAGEM EM PORTUGUÊS

Este capítulo divide-se em quatro seções. Na primeira, são expostas as visões de gramáticos sobre a formação de siglas em português. Foram escolhidos, para a primeira parte, os trabalhos de Cereja & Magalhães (2005), Cunha (1985), Rocha Lima (2003), Bechara (2009) e Azeredo (2008). Na segunda seção do capítulo, apresentam-se considerações de linguistas brasileiros a respeito do processo da Siglagem. Destacam-se os trabalhos de Alves (1990), Carone (2004), Rocha (1998), Kehdi (1992), Monteiro (2002), Henriques (2007), Carvalho (2010), Gonçalves (2004a) e Cristófaro-Silva (2011). Em seções subsequentes, apresentar-se-ão as análises de Villalva (2008) e Sandmann (1988), por constituírem análises mais específicas e completas no que toca ao processo em estudo.

3.1. O PROCESSO NA VISÃO DOS GRAMÁTICOS

Nesta parte do trabalho, incluem-se os comentários de Cereja &

Magalhães (2005), Cunha (1985), Rocha Lima (2003), Bechara (2009) e Azeredo (2008) sobre o fenômeno da Siglagem em português. A obra de Cereja & Magalhães foi escolhida por se tratar de um famoso livro adotado por professores no Ensino Médio e representa, portanto, uma visão mais pedagógica do processo. Os demais autores são conhecidos na literatura gramatical tradicional. Outras abordagens do gênero foram consultadas, como Luft (2002), Perini (2004) e Castilho (2010); no entanto, não havia nelas informação relevante no que se refere ao estudo das siglas.

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34 Cereja & Magalhães (2005) alocam as siglas dentro de um processo de formação de palavras denominado de “processo de redução”. De acordo com os autores, este consiste em reduzir as palavras “com o objetivo de economizar tempo e espaço na comunicação falada e escrita” (p. 104). Juntamente com as siglas, abreviaturas, como PB (para Paraíba) e Av. (para avenida), também são citadas nesse processo.

Para os autores, as siglas são empregadas principalmente como

“redução de nomes de empresas, firmas, organizações internacionais, partidos políticos, serviços públicos, associações estudantis e recreativas” (p. 104).

Além disso, Cereja & Magalhães comentam que as siglas podem provir de outras línguas, como CD (compact disc) e Aids (acquired immunological deficiency syndrome), e que podem funcionar como palavras primitivas, tornando-se capazes de formar derivados, como ocorre em petista, por exemplo.

Cunha (1985) estabelece que há um processo de criação vocabular que consiste em “reduzir longos títulos a meras siglas, constituídas das letras iniciais das palavras que os compõem” (p. 130). O autor ressalta que instituições diversas são, em geral, mais conhecidas pelas siglas que pelas denominações completas. Cunha chama a atenção para o fato de que a sigla, após “criada e vulgarizada” (p. 131), passa a ser sentida como palavra primitiva, capaz de formar derivados, tal como acontece em pedessista, que vem de PDS, ou seja, aquele que é filiado ao Partido Democrático Social, partido já extinto no Brasil. O registro do autor é pioneiro na literatura pedagógica, até porque o foco não incide sobre a questão ortográfica, como a

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35 maior parte dos autores faz quando trata de siglas, mas dentro do assunto

“processo de formação de palavras”.

Rocha Lima (2003) cita a sigla como tipo subsidiário de formação de palavras e define o processo como redução de títulos longos às suas letras iniciais. Assim como Cunha (1985), o autor comenta que a sigla, muitas vezes, passa a criar derivados.

Bechara (2009), citando “outros processos de formação de palavras”, afirma que existe um processo denominado “abreviação” e defende que se pode incluir como caso especial de abreviação a criação de palavras mediante a leitura das letras que compõem as siglas. Da mesma forma que Cunha (1985) e Rocha Lima (2003), o autor assevera que siglas podem gerar derivados, mediante sufixos: puquiano, uerjiano, uspiano, petista etc.

Na Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, Azeredo (2008) menciona as siglas dentro do processo chamado de “neologia”, referindo-se aos

“estrangeirismos”. Para ele, siglas e acrônimos são palavras sinônimas, e o processo consiste no emprego das iniciais das palavras constitutivas da expressão estrangeira, como acontece em PC (personal computer).

3.2. O PROCESSO NA VISÃO GERAL DE LINGUISTAS BRASILEIROS

Nesta seção, apresentam-se considerações de linguistas brasileiros a respeito do processo de formação de siglas. Destacam-se os trabalhos de Alves (1990), Carone (2004), Rocha (1998), Kehdi (1992), Monteiro (2002), Henriques (2007), Carvalho (2010), Gonçalves (2004a) e Cristófaro-Silva (2011). Em seções subsequentes, apresentar-se-ão as análises de Villalva

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36 (2008) e Sandmann (1988), pelo fato de serem trabalhos com análises mais específicas no que tange à formação de siglas.

Alves (1990), analisando a formação de neologismos, emprega sigla e acrônimo como sinônimos e os descreve por seu emprego na língua escrita. A autora estabelece que os acrônimos apresentam características variadas. De forma mais frequente, são constituídos pelas iniciais dos elementos componentes do sintagma, mas podem decorrer também da união de algumas sílabas do conjunto sintagmático. Para a pesquisadora, siglas enquadram-se na classe dos nomes, sofrem flexão e derivam novos itens lexicais. De acordo com ela, a derivação ocorre pelo fato de a sigla já estar em domínio público.

Carone (2004) afirma que as siglas são formadas pelos sons ou pelas sílabas iniciais de denominações complexas. A autora faz a ressalva de que nem sempre os fonemas são encadeados e, por vezes, a sigla é uma sequência dos nomes das letras, como PMDB. Instala-se sobre o processo de formação de siglas, de acordo com Carone, a derivação, o mais ativo de todos os processos, como já tivemos a oportunidade de exemplificar, quando da referência a outros autores.

Rocha (1998), expondo “outros processos de formação de palavras”, fala de derivação siglada ou acronímia e defende que as derivações sigladas são consideradas palavras da língua. Assim o autor define o processo:

Nesse mecanismo linguístico, a base será um substantivo ao mesmo tempo composto e próprio, e o produto, um lexema simples e próprio, formado, em princípio, pelos grafemas e sílabas iniciais do lexema composto que constitui a base (ROCHA, 1998: 176).

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37 Para o autor, as derivações sigladas são aceitas como palavras que fazem parte da língua por alguns motivos. Um deles é a capacidade de gerar novos itens lexicais. Outro motivo é o fato de essas derivações serem empregadas com muita frequência, como é o caso de CPF, INSS, CEP etc.

Além disso, em certos contextos, as siglas assumem característica polissêmica, como acontece com Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) em A aula do professor José dá muito ibope.

O linguista postula alguns tipos de derivação siglada. Para Rocha, ela pode ser grafêmica, como em OAB (Ordem dos Advogados do Brasil); silábica, como em Detran (Departamento Estadual de Trânsito); grafo-silábica, como em Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais); e fortuita, que adota os mais variados critérios para formação, como Bradesco (Banco Brasileiro de Descontos).

Rocha salienta, ainda, que não se deve confundir derivação siglada com abreviatura. Para o autor, o resultado da abreviatura não se constitui em uma nova palavra da língua, pois não tem existência na linguagem oral, sendo um recurso apenas da linguagem escrita, diferença essa com a qual concordamos plenamente.

A formação de siglas em uma língua, segundo o autor, deve-se a dois fatores: a economia fonética, lexical e discursiva e a saliência fônica e gráfica dos acrônimos. Rocha estabelece, por fim, que o surgimento da imprensa diária no século XX possibilitou o aparecimento constante de derivações sigladas.

Kehdi (1992) afirma que o processo de formação de siglas é “moderno e generalizado” (KEHDI, 1992: 51). É relevante ressaltar que Kehdi postula que

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38 siglas são sentidas como palavras primitivas, uma vez que as instituições, atualmente, são menos conhecidas por suas denominações completas do que pelas siglas correspondentes. Na conclusão, o pesquisador assinala que as siglas constituem um caso específico de abreviação.

Monteiro (2002), tratando de processos de formação de palavras, não cita propriamente a formação de siglas, mas a acrossemia, “mecanismo que consiste na combinação de sílabas ou fonemas extraídos dos elementos de um nome composto ou de uma expressão” (MONTEIRO, 2002: 193). Segundo o autor, o processo pode também ser conhecido como acronímia. Monteiro cita como exemplos Embratur (Empresa Brasileira de Turismo), Detran (Departamento Estadual de Trânsito) e Banespa (Banco do Estado de São Paulo), entre outros.

O autor defende que a acrossemia é um processo de formação de palavras, uma vez que “os vocábulos produzidos têm autonomia de significante” (MONTEIRO, 2002: 194). Para Monteiro, Sudene, por exemplo, não se pronuncia Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Outro dado interessante trazido por Monteiro é que

Os acrônimos são em verdade substantivos próprios e muitas vezes seus significantes se enriquecem de valores conotativos que as expressões originárias não transmitem. Essas conotações se devem ao intento de associação com raízes parônimas ou homônimas.

Assim, por exemplo, Clube dos Estudantes Universitários forma CEU, com timbre aberto na vogal para associar-se a paraíso, vida boa, alegria etc.

(MONTEIRO, 2002: 194).

O autor afirma, ainda, que há a possibilidade de que o vocábulo gerado por acrossemia substitua a expressão que designa. Como exemplo, cita radar,

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39 que vem de Radio detecting and ranging, mas já é concebido como vocábulo simples. Como esclarecimento final, Monteiro assevera que as siglas, em geral, são vocábulos acrossêmicos, mas faz uma ressalva: “quando a sequência de fonemas não se organiza em padrões silábicos próprios da articulação das palavras portuguesas, não se tem um vocábulo autônomo” (MONTEIRO, 2002:

195). Cita, como exemplo, INSS.

Henriques (2007), ao expor outros casos de formação de palavras, assim define siglas:

[...] palavras formadas pelas letras iniciais um sintagma e remetem a um significado que pode ter cunho institucional (PV é sigla para Partido Verde, Polícia de Vigilância; ISS é sigla para Imposto sobre Serviço), eufemístico (“pqp” e “cdf” são siglas que encobrem expressões chulas) ou de outra natureza (HENRIQUES, 2007: 137).

O autor afirma, também, que a sigla é forma primitiva para outras formações, citando uerjiana (sufixação de Uerj) e aliança PT-PDT (composição por justaposição). Além disso, postula que, em alguns casos, “a sigla pode coincidir com a aglutinação de partes menores de vocábulos”, como em Mercosul (< mercado + sul) “ou mesmo resultar em vocábulos formais”, como em Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) (HENRIQUES, 2007: 138). Nesses casos, segundo o autor, é comum que a grafia da sigla entre em desacordo com a convenção ortográfica vigente. Como exemplo, cita Mercosul, que deveria ser grafada com “ss”, tal qual “girassol”.

De acordo com Carvalho (2010), reduções, acronímias e siglas constituem fonte de criação neológica e são provenientes do princípio da economia linguística. Para ela, sigla distingue-se de acronímia, pois, nas siglas,

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40 as letras conservam seu valor de soletração (PSB, por exemplo) e, nos acrônimos, consoantes e vogais tiradas da palavra abreviada formam uma nova palavra (Ibope, por exemplo).

De acordo com Gonçalves (2004a), a possibilidade de anexação de afixos às siglas comprova que a Siglagem é um processo em que predomina a função lexical. Além disso, segundo Gonçalves, trata-se de um processo de fusão cujo produto tem a finalidade de nomear uma nova entidade, o que favorece a lexicalização, confirmando sua função lexical. O autor acrescenta, ainda, que uma característica que define as siglas, diferentemente das demais palavras formadas por outros processos também considerados não- morfêmicos, é o fato de serem maciçamente formadas na modalidade escrita, apesar de algumas poucas serem utilizadas, na fala, como eufemismos, a exemplo de FDP (filho da puta).

Cristófaro-Silva (2011), no verbete siglagem de seu Dicionário de Fonética e Fonologia, define o fenômeno como a combinação de iniciais de sons que ocorrem em uma ou mais palavras também denominado redução sintagmática, acronímia ou abreviação (CRISTÓFARO-SILVA, 2011: 201). A linguista salienta que a sigla pode ser pronunciada com os sons das letras que a compõe, como é o caso de UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ou como se fosse a leitura de uma palavra, como acontece em USP (Universidade de São Paulo). Cristófaro-Silva argumenta, ainda, que a siglagem se ajusta ao comportamento fonológico geral da língua podendo evidenciar a aplicação de fenômenos fonológicos (CRISTÓFARO-SILVA, 2011:

201). Essa informação, para este trabalho, é fundamental, uma vez que um dos

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41 objetivos desta tese é evidenciar a aplicação de fenômenos fonológicos na formação de acrônimos.

3.3. O PROCESSO NA VISÃO DE VILLALVA (2008)

A linguista portuguesa defende que a formação de siglas é um processo distinto da acronímia. Para ela, a acronímia é, assim como a formação de siglas, um processo de redução, mas o seu domínio de intervenção é uma sequência de palavras. De acordo com a autora,

[...] em termos práticos, a acronímia consiste na criação de uma palavra a partir do(s) grafema(s) que se situa(m) no início das palavras que integram um título ou uma frase. A forma resultante é foneticamente realizada como um contínuo, e não como uma sequência de sons independentemente articulados (VILLALVA, 2008: 60).

Villalva ressalta que as propriedades gramaticais dos acrônimos, de um modo geral, “são herdadas das propriedades da palavra que constitui o núcleo sintático da expressão que está na sua base” (p. 60). Como exemplo, cita ONU (Organização das Nações Unidas), que é um nome feminino porque

“organização” é um nome feminino. Havendo desencontro, este pode ser causado pela perda de identidade entre a expressão de base e o acrônimo ou também pelo fato de o masculino ser o valor de gênero não marcado.

Outra informação apresentada pela autora diz respeito a empréstimos.

Para ela, muitos dos acrônimos disponíveis em português são empréstimos e principalmente anglicismos, como ocorre, por exemplo, em laser (light

(42)

42 amplification by simulated emission of radiation). Villalva estabelece, assim como outros autores, que a acronímia é um processo utilizado para a denominação de organizações, empresas e instituições, apesar de não ocorrer exclusivamente nesse domínio. Também nesse caso, segundo a linguista, encontram-se denominações formadas em outras línguas, porém empregadas em português, por se tratar de empresas ou organizações estrangeiras relevantes em Portugal ou no Brasil, tal qual ocorre em Fiat, para Fabbrica Italiana di Automobili di Torino.

Além desse aspecto, Villalva afirma que

[...] muitas das organizações internacionais ou fenômenos globalizados cujo nome é formado por acronímia com base numa expressão gerada numa língua que não o português podem ser designadas por esse acrônimo original ou por um outro acrônimo, formado com base na tradução portuguesa da expressão inicial (VILLALVA, 2008: 61).

Isso pode ser verificado em Nato (Northern Atlantic Treaty Organization) e Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), por exemplo.

Outra questão importante abordada na análise da linguista portuguesa é que, na passagem de língua para língua, há, por vezes, siglas que se transformam em acrônimos, como acontece em VIP (very important person), pronunciada letra a letra em inglês e como palavra, com epêntese de [ɪ] final, em português. A autora faz a ressalva de que esse fato também pode ocorrer em português, em que uma mesma sequência pode ser realizada como acrônimo ou como sigla, como ocorre em ONG, para Organização Não Governamental.

Referências

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