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Elementos do suicídio na adolescência baseados na análise da série os Treze porquês baseada no romance de Jay Ascher

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

SUSANA EDUARDA MIETH

ELEMENTOS DO SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA BASEADOS NA ANÁLISE DA SÉRIE OS TREZE PORQUÊS BASEADA NO ROMANCE DE JAY ASCHER

SANTA ROSA/RS 2019

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SUSANA EDUARDA MIETH

ELEMENTOS DO SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA BASEADOS NA ANÁLISE DA SÉRIE OS TREZE PORQUÊS BASEADA NO ROMANCE DE JAY ASCHER

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Psicologia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Orientadora: Simoni Antunes Fernandes

Santa Rosa/RS 2019

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Erno e Liria, e ao meu namorado Darlei, que sempre me incentivaram e estavam ao meu lado em todos os momentos. Dedico também aos mestres e colegas que tanto contribuíram na formação acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais Erno e Liria, por todo incentivo desde o começo da minha caminhada acadêmica, por todo apoio emocional, e por todos os conselhos, pois sem eles, nada disso seria possível.

Agradeço aos meus colegas de trabalho e chefes, por compreender minhas saídas para estágios, e por sempre estarem dispostos a me auxiliar nos momentos em que precisei.

Em especial, quero agradecer a minha supervisora e aos demais mestres do curso, pelo conhecimento que transmitiram em todos os momentos da minha formação.

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RESUMO

Este trabalho aborda a temática do suicídio na adolescência a partir da análise da primeira temporada da série produzida e exibida pela Netflix, Os Treze Porquês de Brian Yorkey, lançada em 2017, com base no romance Os Treze Porquês de Jay Ascher (2007). A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma pesquisa bibliográfica que aborda os temas da adolescência e suicídio na adolescência. A série realça elementos que podem levar sofrimento para os adolescentes. A protagonista da série grava 13 fitas onde em cada uma delas ela expõe seu sofrimento e o que levou ela ao suicídio. Cada elemento que a jovem suicida traz como um “motivo” no seriado pode ser analisado, e a partir desta análise é possível perceber quanto esta adolescente estava fragilizada, e sofrendo psiquicamente. Além das questões relacionadas ao suicídio, é analisado o tempo da adolescência, que é um momento onde os jovens passam por diversas mudanças, e estas lhes causam diversos conflitos. Como estratégia de prevenção e tratamento para o suicídio, consideramos que é necessário escutar os sujeitos em sofrimento. A escuta clínica com estes sujeitos é primordial para que eles possam expressar seu sofrimento destemidamente.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 6 1. TEMPO DA ADOLESCÊNCIA ... 9 2. COMPREENDER O SUICÍDIO ... 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 24 REFERÊNCIAS ... 25

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INTRODUÇÃO

Durante a escrita deste trabalho, analisaremos quais elementos podem levar o adolescente ao suicídio, com base na primeira temporada da série produzida e exibida pela Netflix, Os treze porquês (2017), que trata do suicídio entre adolescentes, baseado no livro The Thirteen Reasons Why, de Jay Ascher, lançado em 2007, e no livro Adolescência em Cartaz: filmes e psicanálise para entendê-la, de Diana Corso e Mário Corso (2018). Neste livro, Diana e Mário fazem uma análise psicanalítica baseada em filmes e séries que tem como personagens principais os adolescentes.

A partir de pesquisas e de representações artísticas, como o caso da série Os treze porquês - que será utilizada como ferramenta para análise de alguns fatores que podem resultar no suicídio de adolescentes -, falamos de alguns fatores, pois é impossível deduzir quais os sofrimentos que levam os adolescentes ao pensamento suicida, e também, ao ato.

Para os autores supracitados (2018, p. 9) “a adolescência é um extenso espaço de tempo no qual ocorrem o desligamento da infância e a preparação para a vida adulta”. A adolescência é uma etapa da vida, na qual o sujeito passa por diversas mudanças, desafios e também vivências de perdas, sendo que, estas perdas, muitas vezes são essenciais. Percebe-se que muitos jovens não conseguem simbolizá-las, elas geram um luto, este luto é necessário e precisa ser compreendido internamente. Quando esta elaboração da perda não acontece, o adolescente pode acabar entrando em um sofrimento extremo onde muitas vezes a única saída que ele encontra é o suicídio.

Segundo Corso e Corso (2018), a automutilação acontece em momentos recorrentes de crise, sendo mais praticada pelo sexo feminino. Quem pratica o ato de mutilar-se não quer morrer, embora acidentalmente isso possa acontecer, mas a dor e o sangramento são formas de sentir-se vivo. Esses cortes, e o que eles representam psiquicamente, são sentimentos próximos ao sentimento da angústia.

Num momento de escuta clínica a autora deste trabalho se depara com as questões do sofrer do adolescente, onde cortar-se e planejar o suicídio faz quem que o sujeito alivie sua dor. A partir deste momento desenvolveu-se o desejo de entender a adolescência, o que pode levar os jovens ao ato suicida.

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7 Levando em consideração as questões do sofrimento dos jovens, é importante pensarmos sobre os motivos que podem levá-los ao ato suicida. E, para que consigamos pensar sobre isso, num primeiro momento desta pesquisa situamos a importância de compreendermos o tempo da adolescência - o que é -, além de pensar na construção psíquica, e, também sobre a sexualidade deste sujeito.

Num segundo momento, busca-secompreender o ato suicida, pensando nos motivos, nas razões pelo qual este pode acontecer, e para aprofundar a questão, é abordada a série exibida pela Netflix, lançada em 2017, Os treze porquês, e, também, discorrer sobre o capítulo do livro de Diana e Mário Corso, Adolescência em Cartaz: filmes e psicanálise para entendê-la, que fala desta série a partir do pensamento psicanalítico dos autores.

É fundamental compreender um pouco mais sobre o tempo da adolescência, pois se percebe que é um tempo complicado para lidar, pois é um momento de mudanças, de adaptação, e qualquer fala, gesto ou ato, tanto por parte dos pais, quanto de amigos, comunidade escolar e social, pode causar sofrimento. Para Rassial (1999), os problemas enfrentados no período da adolescência, repercutem não só no âmbito familiar, mas no social.

Esta pesquisa se justifica, pois a partir de dados da Unisefp (Universidade Federal de São Paulo), num trabalho feito por Sobrinho (2019) e divulgado na página do provedor UOL, os índices de suicídio caem em todo o mundo, mas entre adolescentes brasileiros a taxa aumentou 24% entre 2006 e 2015, além disso, o estudo aponta ainda que o suicídio de adolescentes do sexo masculino é três vezes maior.

Conforme a pesquisa da Uniseft, a cidade com maior taxa de suicídio é Belo Horizonte com 3,13 para cada mil habitantes em 2015. Em seguida vem Porto Alegre com taxa de 2,93/1.000; São Paulo com 2,44/1.000; Rio de Janeiro com 1,52/1.000; Recife com 1,23/1.000 e; Salvador com 0,23/1.000. Ao todo 20.445 adolescentes tiraram a própria vida no ano de 2015.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) a morte autoprovocada de jovens tem crescido em todo mundo. No entanto, é pouco discutida, e vista quase que como um tabu. No Brasil, a taxa de crescimento de casos de suicídio na faixa etária de 10 a 14 anos aumentou 40% em dez anos, e 33,5% entre adolescentes de 15 a 19 anos (RODRIGUES, 2019).

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8 Conforme Bouzas e Jannuzzi (2017), é preciso que sejam criados mais centros de apoio, e incitar a pesquisa sobre o tema. Recentemente o jogo Baleia Azul trouxe a cena uma discussão sobre o assunto, também a série Os treze porquês, aborda o tema, e faz com que o tema seja discutido e percebido.

O artigo escrito pelos autores a cima para a Revista Adolescência e Saúde, coloca que existem várias hipóteses associadas aos alarmantes dados envolvendo a questão do suicídio na adolescência como, por exemplo, o aumento significativo da oferta de drogas, que podem provocar transtornos psicológicos e; o estilo de vida em que se dorme cada vez menos, o que tem repercussões químicas no cérebro, como o estresse e a depressão. Além destes fatores, temos o fato de que as famílias também estão menores e os adolescentes passam mais tempo em atividades solitárias como o videogame, o que hoje dificulta a criação de vínculos mais efetivos e de redes de apoio nas quais eles possam pedir ajuda.

Conforme estes autores ouvir e ver o adolescente é vital, assim como percebê-lo e senti-lo, entender e captar seus anseios, inquietudes e angústias, estar ao seu lado. É preciso manter a percepção sempre bem aguçada com relação ao comportamento de jovens e adolescentes, pois, sabemos que há alguns sinais da chamada ideação suicida. É fundamental que pais, educadores e profissionais da área da saúde fiquem atentos aos sinais demonstrados pelos adolescentes.

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1. TEMPO DA ADOLESCÊNCIA

Neste primeiro capítulo serão exploradas questões acerca da adolescência, do que se trata, como muitas vezes é doloroso para estes sujeitos a travessia da infância para a vida adulta, e também a dificuldade de ser visto como uma pessoa adulta pelos sujeitos que já passaram por este processo.

A adolescência não se refere apenas a uma faixa etária, é uma passagem de tempo que marca a travessia da infância para a vida adulta. O que interessa para a psicanálise são as mudanças subjetivas que o sujeito precisa operar para poder dar conta destas metamorfoses (RAPPAPORT, 1993).

Segundo Marcelli e Branconnier (2007, p.19), “a adolescência é a idade das mudanças, a palavra adolescer em latim significa ‘crescer’”. A adolescência é uma passagem entre a infância e a vida adulta. Todo sujeito adolescente passa por uma crise do processo psíquico que é a negação da sua infância e a busca de status na via de já se considerar um adulto.

Conforme Rassial (1999) o momento da adolescência pode ser pensado como um momento que apresenta diversas mudanças, que transforma a imagem que foi previamente concebida desse corpo considerado ideal na infância, para um corpo estranho que veio com a puberdade.Na adolescência a imagem do corpo é algo essencial, pois é este que irá chamar a atenção dos sujeitos mostrando que não tem mais o corpo infantil.

As diversas mudanças corporais que acontecem na adolescência são vistas como precipitações, pois aquele corpo infantil dá lugar para um corpo mais estruturado, mais adulto, a partir do aparecimento da puberdade. Essas mudanças corporais podem sobrecarregar este sujeito que vive uma aceleração a partir disto, e isso afeta também a sociedade (RASSIAL, 1999).

As mudanças que por um lado sobrecarregam o adolescente, vão fazer com que ele se aproprie do sentimento de ser lançado para fora da temporalidade da criança e assim ele é voltado para a imagem do adulto neste momento irá acontecer a reestruturação desse sujeito. Após essa reestruturação o adolescente poderá chegar ao ato sexual, assim ele vai se separar de seus pais, e tomar uma nova posição (RASSIAL, 1999).

Na adolescência são revividas questões que estavam presentes na infância, como é o caso do Complexo de Édipo, Castração e a questão da identificação.

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10 Conforme Roudinesco (1998, p. 105), “Sigmund Freud denominou complexo de castração o sentimento inconsciente de ameaça experimentado pela criança quando ela constata a diferença anatômica entre os sexos”.

A estrutura e os efeitos do complexo de castração são diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração como realização de uma ameaça paterna em respostas às suas atividades sexuais, surgindo daí uma intensa angústia de castração. Na menina, a ausência do pênis é sentida como dano sofrido que ela procura negar, compensar ou reparar (LAPLANCHE, 2001, p.73).

“Complexo de castração proporciona uma resposta da diferença anatômica dos sexos, presença ou não de pênis” (LAPLANCHE, 2001, p.73). Segundo Freud (1917/1996) os meninos pensam que há uma genitália igual a sua em todos os sujeitos que conhece, e quando percebe que a sua genitália é diferente da das meninas, eles começam a lutar internamente e, esta convicção de que todos têm pênis é abandonada. Já as meninas ao avistar os genitais masculinos, reconhecem que é diferente, e são tomadas pela inveja deste, o que leva ao desejo de também ser menino.

O complexo de Édipo é vivido na fase em que a criança descobre os desejos tanto amorosos quanto hostis em relação aos pais. Ou seja, a criança sente-se “apaixonada” pela mãe e deseja a morte do pai, assim percebe-se que“é a representação inconsciente pela qual se exprime o desejo sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo” (ROUDINESCO, 1998, p.166). Este desejo amoroso e de hostilidade que aparece no complexo, apresenta-se como na história do mito-grego Édipo-Rei, que mata o pai para casar-se com a mãe.

Conforme Freud (1917/1996) a menina identifica-se com a mãe, e inconscientemente é enamorada pelo pai. Em diversas situações até parece que a filha é a esposa, pois a criança coloca-se neste lugar. Essas relações amorosas inconscientes entre pai e filha ou mãe e filho, são vividas quando a criança está na fase do complexo de Édipo.

Segundo Freud (1917/1996), o complexo de Édipo é revivido na adolescência, quando acontecerá a escolha do objeto amoroso e colocando o desejo em cena no sexual. E essa escolha que é feita na puberdade fará com que este sujeito renuncie os objetos de desejo da sua infância.

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11 E a primeira identificação da criança é pela pessoa do mesmo sexo. A menina identifica-se com a mãe e o menino identifica-se com o pai. “É um processo pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando ou se apropriando, em momentos-chave de sua evolução, dos aspectos, atributos ou traços dos seres humanos que o cercam” (ROUDINESCO, 1998, p.363). Essa identificação caminha do nascimento até o Édipo.

Marcelli e Branconnier (2007) nos trazem os principais aspectos dinâmicos da adolescência que são a excitação sexual, a problemática do corpo, a puberdade e o acesso à sexualidade genital, a imagem do corpo, a adolescência como trabalho de luto, os meios de defesa, o narcisismo, o lugar do Ideal do ego na adolescência, identidade-identificação e o grupo. Cada um destes aspectos dinâmicos tem o seu significado.

Para os autores “a excitação sexual, que é a puberdade, caracterizada pelo aparecimento do orgasmo, provoca explosão libidinal, uma erupção pulsional genital. E a partir disso ocorre o conflito interno entre o ego ideal atualizado e o ego desestabilizado” (p.27).

A adolescência, portanto, longe de ser puramente biológica ou social, é antes o produto do impacto pubertário e a intensificação de exigências sociais sobre o jovem em vias de deixar a infância, sob certas condições de cultura que caracterizam a civilização ocidental hoje, e a partir do estabelecimento de certas alterações na história dessa civilização que especificam a modernidade (RAPPAPORT, 1993, p. 37).

Marcelli e Branconnier (2017, p. 27) dizem ainda que “aproblemática do corpo também está ligada a puberdade, pois acontecem várias modificações fisiológicas que repercutem no psicológico deste adolescente tanto no nível da realidade concreta, quanto no nível imaginário e simbólico”. A mudança que ocorre no corpo adolescente faz com que este se perceba diferente, e isso causa um estranhamento, e, este estranhamento pode fazer com que ele sofra. As modificações visíveis afetam o imaginário, pois aquilo que o sujeito vê no semelhante muitas vezes não está presente em seu corpo. E no simbólico este corpo também não se apresenta como é colocado.

Ainda conforme os autores, “a puberdade e o acesso à sexualidade genital têm um impacto importante no processo da adolescência devido o aparecimento das primeiras possibilidades de ter relações sexuais e da procriação” (p. 27-28).

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12 A imagem do corpo é alterada em vários âmbitos, muda tanto para o adolescente quanto para os que o observam. As várias modificações corporais que acontecem nos adolescentes são incorporadas com dificuldade pelo sujeito, muitas vezes ele não se reconhece com este corpo “novo” (MARCELLI e BRANCONNIER, 2007, p.28-29).

A adolescência é considerada um trabalho de luto devido às modificações fisiológicas e pulsionais que acontecem e também devido ao movimento intrapsíquico que está ligado à experiência de separação de pessoas importantes na infância, mudança de modos e de prazeres elaborados em comum, caracterizando assim uma espécie de luto. Tanto no trabalho de luto quanto o período da adolescência consistem na “perda do objeto”, que no caso da adolescência é o objeto da infância (MARCELLI e BRANCONNIER, 2007).

Ruffino (1993, p. 46), também compara a fase da adolescência ao luto dizendo que “a adolescência é uma tarefa, e que sua tarefa é um trabalho de luto”. Enquanto trabalho de luto, a adolescência se estabelece como uma operação no sujeito que visa transformá-lo, tornando-o capaz de construir os dispositivos simbólicos. Quando a adolescência não cumpre sua tarefa, a alternativa ao luto é a melancolia. A melancolia que o autor se refere é a que se esquiva do trabalho de elaboração do luto.

Um processo de adolescência será melancólico ao evitar o trabalho de luto que lhe cabe por duas razões. Primeiramente, ela não logrará construir no sujeito o significante que equivaleria ao que se perdeu fora. E, em segundo lugar, porque o encontro com o real, permanecendo vivo, requererá do sujeito outro recurso: aceitar a impossibilidade de significá-lo e curvar-se ao efeito siderante até que, pela sua permanência, este venha a desgastar-se enquanto impacto. A adolescência melancólica não produzirá um sujeito que se situará na estrutura melancólica, mas sim recobrirá de uma melancolia secundária seja qual for a estrutura na qual o adolescente já se encontrará(RAPPAPORT, 1993, p.47).

Segundo Freud (1916/1996) no luto vemos que a inibição e a perda de interesse são explicadas pelo trabalho do luto no qual o ego é absorvido. Já na melancolia, a perda, que é desconhecida, resultará num trabalho interno semelhante, que será responsável pela inibição melancólica.

[...] A diferença consiste em que a inibição do melancólico nos parece enigmática porque não podemos ver o que é que o está absorvendo tão completamente. O melancólico exibe ainda uma outra coisa que está ausente no luto – uma diminuição extraordinária de sua autoestima, um

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13 empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego (FREUD, 1916/1996, p.251).

A melancolia toma emprestado do luto alguns traços do processo de regressão, como a escolha objetal narcisista para o narcisismo, que é como o luto, onde tem uma reação à perda real de um objeto amado. A perda desse objeto amoroso constitui oportunidade para que essa dúvida nas relações amorosas se faça real (FREUD, 1916/1996). Quando o adolescente perde seu objeto de desejo ele se depara com uma perda que causa sofrimento e que precisa ser elaborada.

Para Marcelli e Branconnier (2007, p. 31),“o narcisismo na adolescência consiste em escolher novos objetos e também escolher a si mesmo como objeto de interesse, é a partir disso que o narcisismo adulto é estabelecido”. Segundo os autores, “o lugar do Ideal do ego na adolescência é considerado essencial nessa idade conforme alguns analistas (p.31).

O ideal do ego é uma instância da personalidade que resulta da aproximação do narcisismo e da identificação com os pais, substitutos e ideais do coletivo. Este ideal do ego constituído como modelo é utilizado pelo sujeito, pois conforma-se com este ideal.

A identificação com o pai, mas, principalmente, a interiorização da imagem paterna dentro do Ideal do eu substitui a submissão homossexual passiva ao pai e a relação de ternura que o menino poderia ter mantido até a puberdade. Essa relação de ternura entre pai e filho, vale recordar, provém diretamente do conflito edipiano invertido, resultante do deslocamento da agressividade dirigida contra o pai para outros âmbitos e da preservação atenuada da ligação libidinal (MARCELLI e BRANCONNIER, 2007, p.32).

Sobre a identidade-identificação, Marcelli e Branconnier (2007, p. 34-35) falam que este período “na adolescência é um processo complexo que se escora nas imagens interiorizadas dos dois genitores, ou ainda mais na do genitor do mesmo sexo”. Essa identificação também ocorre com os grupos que os adolescentes de relacionam.

Ainda para os autores, o grupo é o resultado da relação estabelecida entre os adolescentes. Um determinado grupo que tem implicações sociológicas, e também desempenham um papel de primeiro plano no processo psíquico que está em construção. Segundo os autores o grupo acaba desempenhando um papel importante no início da adolescência.

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14 Para Calligaris (2011) o adolescente sente insegurança ao olhar-se no espelho percebendo-se diferente, pois não tem mais aquele corpo infantil que garantia o amor dos adultos. Essa insegurança que ele sente deveria ser compensada por um novo olhar desses adultos, que poderiam reconhecer esse corpo como também sendo um adulto.

O que vemos no espelho não é bem nossa imagem. É uma imagem que se deve muito ao olhar dos outros. Ou seja, me vejo bonito ou desejável se tenho razões de acreditar que os outros gostam de mim ou me desejam. [...] Por isso o espelho é ao mesmo tempo tão tentador e tão perigoso para o adolescente: porque gostaria muito de descobrir o que os outros veem nele. Entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chega, o espelho do adolescente é frequentemente vazio (CALLIGARIS, 2011, p. 25).

O autor coloca que a fase da adolescência é muito frágil, sendo responsável por diversos sofrimentos nestes sujeitos, sofrimentos estes que podem levá-los a uma tentativa de suicídio.

Para o autor as dificuldades de relacionar-se dos adolescentes tanto com sujeitos da mesma idade quanto com adultos, vem dessa insegurança com seu corpo, do que os outros pensam dele. Isso acaba gerando diversos questionamentos angustiantes para estes jovens. O adolescente quer tornar-se adulto, ser reconhecido como um pelos outros. Mas para que isso aconteça com ele precisa transgredir.

Para ser amado, para preencher as expectativas do desejo dos adultos é necessário, paradoxalmente, não se conformar ao que os mesmos adultos explicitamente pedem. Transgredir também não é nada fácil. Não é suficiente atender as expectativas implícitas e falar com as explícitas (CALLIGARIS, 2011, p.32).

Calligaris (2011, p. 33) também coloca que “a adolescência é uma interpretação de sonhos adultos”. O comportamento adolescente é diferente do desejo reprimido e dos sonhos adultos, devido a isso são vistos como condutas transgressoras.

Os adultos receiam as irrupções transgressivas que os adolescentes podem escolher como maneiras de se afirmar. Mas, sobretudo, os adultos sabem confusamente que o que há de mais transgressor nos adolescentes é a realização de um desejo dos adultos, que estes pretendiam reprimir e esquecer (CALLIGARIS, 2011, p.34).

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15 Segundo o autor as escolhas dos adolescentes normalmente são as realizações dos sonhos dos adultos. Para o adolescente é praticamente impossível afastar-se do desejo adulto, pois, primeiramente, para acessar a vida adulta, há a dependência de um olhar, e, esse olhar é procurado, sendo necessário interrogar e interpretar o desejo dos adultos. Posteriormente há a procurapela autonomia, não depender dos outros, mas essa autonomia ainda seria o desejo dos adultos ao adolescente.

O desejo dos adultos que acaba aparecendo nos adolescentes pode fazer com que estes jovens se sintam obrigados a realizar os sonhos dos pais, que muitas vezes foram interrompidos. E essa obrigação de realizar o desejo dos adultos na sua travessia da infância para a vida adulta, faz com que entrem em sofrimento quando percebem quenão vão conseguir suprir o esperado/idealizado pelo outro (CORSO e CORSO, 2018, p. 186). Percebe-se assim que a adolescência é um tempo marcado por diversas mudanças e crises subjetivas.

Essa travessia apresentada neste capítulo por vezes se problematiza. O adolescente pode estar atravessando por questões que ele não dá conta no momento, e acaba entrando em quadros de sofrimento psíquico que podem levar ao suicídio. E a partir disso também observamos o suicídio como uma vontade de desaparecer, de sumir (CORSO e CORSO, 2018, p. 132).

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2. COMPREENDER O SUICÍDIO

Neste capítulo vamos pensar sobre sofrimento dos adolescentes a partir da série os Os treze porquês criada por Brian Yorkey, e como estes jovens muitas vezes tentam cessar este sofrer com a tentativa, ou com o ato suicida. É necessário que estes sujeitos que sofrem, sejam escutados, contudo, este escutar é completamente peculiar, pois cada um tem sua maneira de expressar suas angústias.

A tentativa de suicídio é uma das condutas mais significativas da adolescência. Por suas características epidemiológicas, ela se distingue com bastante nitidez das tentativas de suicídio da criança assim como do adulto. Pela impulsividade que costuma presidir sua realização, ela coloca o problema fundamental nessa idade da ativação, da passagem ao ato. Pelo ataque direto do corpo, ela ilustra um questionamento completo da relação que o adolescente mantém com seu corpo. Pelo desejo de assassinato das imagens internas, ela representa uma caricatura do “trabalho de luto” que esse mesmo adolescente deve cumprir. Pelo contexto depressivo que normalmente a envolve, a tentativa de suicídio coloca o problema da depressão enquanto vivência existencial própria à adolescência (MARCELLI e BRANCONNIER, 2007, p.195).

Na série Os treze porquês criada por Brian Yorkey, a partir do livro de Jay Asher, produzida e lançada em 2017 pela Netflix, Hannah Backer, é uma adolescente que comete suicídio e grava treze fitas contando os motivos que a levaram ao ato, cada fita traz um fator. Antes de cometer o suicídio, ela deixou estas fitas com um amigo, e através de uma carta deixou as instruções para quem ele deveria destinar as fitas. Estes treze elementos podem ser considerados popularmente como motivos bobos, mas para Hannah foram causadores de grande sofrimento, que ela não conseguiu superar.

Um pequeno gesto pode salvar um suicida, como também a ausência dele pode ser fatal. [...] embora seja equivocado distribuir as culpas sem hierarquia definida, como se todas a prejudicassem por igual, a história de Hannah nos faz pensar corretamente no sofrimento e adoecimento como resultados de um acúmulo paulatino. Nos casos de suicídio geralmente é isso que acontece(CORSO e CORSO, 2018, p. 174).

Os elementos que aparecem na série podem ser alguns dos motivos causadores de suicídio na adolescência. Pensamos em alguns, pois cada sujeito tem suas razões, podem ser vários como pode ser também apenas um, essa

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17 passagem ao ato depende também da estruturação do adolescente, se ele conseguiu elaborar as perdas, o “luto” pelo qual acaba passando.

Hannah arquitetou uma vingança detalhadamente planejada: as instruções deixadas por ela orquestram os movimentos de seus acusados, que ficam acuados pelas fitas e a ameaça de divulgá-las caso não as sigam. Tanto sangue frio é de fato possível nos suicidas francamente determinados ao seu ato, pois costumam organizar a cena de modo a não ser impedidos. [...] os suicidas são os únicos que ficam com a última palavra. Desejam restringir os efeitos de sua mensagem ao sentido que pretenderam, não estão abertos a réplicas, nem interessados em observar os efeitos de suas ações. Quem se mata não suporta mais e ponto (CORSO e CORSO, 2018, p. 174).

Ainda conforme os autores,

Essas gravações relatam situações realmente graves como ter suas fotos vazadas na rede com claras intenções de destruir sua reputação, ter sofrido um estupro, assim como ter sido obrigada a presenciar situação similar ocorrida com uma amiga. Porém, encontramos também motivos tolos e inconscientes. Por exemplo, o fato de uma poesia escrita por ela ter sido publicada à sua revelia por um colega que admirava seu trabalho. Mesmo sem a menção de sua autoria, como o poema chamou a atenção na comunidade escolar, ela sentiu-se exposta. Ou ainda, o afastamento daquela que considerava sua melhor amiga (p. 171).

No caso de Hannah, foram treze elementos que serão explorados a seguir. Primeiro elemento: exposição de seu corpo através de fotos. Um rapaz, durante um primeiro encontro com a personagem, acaba tirando fotos, e numa destas fotos, em que a personagem desce por um escorregador, aparece sua calcinha. Estas fotos foram passadas para todos os alunos da escola, e partir disto ela sente que todos olham para ela de maneira diferente, fazendo uma espécie de julgamento, supondo que teria acontecido algo entre eles.

Com a exposição de seu corpo através das imagens podemos pensar na mudança do corpo adolescente onde segundo Rassial (1990 apud RAPPAPORT, 1993, p.16),

“[...] o sujeito adolescente deve se reapropriar de uma imagem do corpo transformada. Esta imagem é afetada de quatro maneiras complementares: modificações de seus atributos; mudança de suas funções; semelhança com o corpo adulto, do genitor do mesmo sexo; e a importância do olhar do adolescente ou do adulto do outro sexo”.

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18 Segundo elemento: a perda de dois amigos. Esses amigos acabaram se distanciando de Hannah, por conta de iniciarem um namoro entre si, e isso fez com que ela se sentisse excluída por eles.

Os laços de amizade são essenciais na adolescência, segundo Corso e Corso (2018, p. 172):

[...] os adolescentes precisam de amigos e amores como de oxigênio, em contraponto ao vazio deixado pelo enfraquecimento dos laços familiares. A tendência é que as amizades sejam memoráveis e os amores intensos, porém quando esses vínculos fracassam os resultados serão drásticos, tudo é vivido ao extremo.

Terceiro elemento: um rapaz, que era amigo de Hannah, fez uma lista das partes do corpo de meninas da escola. Hannah foi intitulada como a “melhor bunda”, isso fez com que ela fosse novamente exposta para todas as pessoas da escola.

Outra vez podemos perceber a exposição do corpo de Hannah, e isso ocasionou novamente um mal-estar para a adolescente. Conforme Rappaport (1993, p. 25), “as modificações da silhueta, o alargamento dos quadris, aumento do volume das nádegas e especialmente o crescimento dos seios, levarão a garota a oscilar, quanto à imagem do corpo”.

Quarto elemento: Mais uma vez, um aluno da escola tirou fotos escondido de Hannah. Na ocasião Hannah convida uma nova amiga para ir até sua casa, as duas bebem, e a amiga manifesta um interesse sexual em Hannah tentando beijá-la. Uma das fotos que o rapaz tirou dela foi desse momento do beijo. Novamente as imagens foram expostas para toda a escola, e os olhares da escola se voltaram para ela, fazendo com que se sentisse cada vez pior devido o ocorrido.

A descoberta dos desejos homoeróticos ou bissexuais não obedece a regras genéricas, mas é principalmente na adolescência que boa parte das pessoas se confronta com sua necessidade de expressão. É comum que o interesse sexual por pessoas do mesmo gênero se faça presente já nas brincadeiras eróticas infantis, mas isso nem sempre define uma forma de amar que irá se consolidar por toda vida (CORSO e CORSO, 2018, p. 143).

Quinto elemento: após as fotos de Hannah com a amiga serem expostas, esta amiga afastou-se dela. E depois disto, num baile da escola os “garotos” lembraram disto, e esta amiga mentiu colocando toda a culpa nela. Para não expor sua

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19 homossexualidade. Neste momento percebemos a angústia a respeito da identidade de gênero.

Nossa identidade tem como ponto de partida o corpo e suas características, isso é inegável, mas, a partir daí os caminhos abrem-se em um leque, do qual o masculino e o feminino são as apostas. Mesmo que se queira simplificar as coisas, a realidade as demonstra complicadas: não existe uma sexualidade natural que brotaria espontaneamente de um corpo. Será a história de cada um e a cultura em que se está imerso, dialogando com as premissas anatômicas, que darão forma à síntese do que seremos (CORSO e CORSO, 2018, p. 147).

Sexto elemento: no dia dos namorados ela foi a um encontro com um rapaz da escola. A rádio escolar promoveu uma enquete onde as pessoas preenchiam dados, que eram agrupados em um programa de computador que listava os possíveis pares ideais. O rapaz que liga para Hannah aproveita-se disto – sendo que ela nem era um dos nomes em sua lista -, e faz uma aposta com os amigos, de que conseguiria ficar com ela. No dia do encontro, ele a deixou esperando, e quando chegou conversou um pouco com ela, mas depois tentou apalpá-la o que deixou Hannah assustada, e ela então empurrou-o para que ele saísse, a cena foi presenciada pelos amigos do rapaz, e mais uma vez o fato foi comentado na escola.

Segundo Corso e Corso (2018), constrangimentos verbais, maledicência, vazamento de fotos íntimas na rede e exposição em lugares públicos, e o abuso sexual são práticas cada vez mais recorrentes e causam sofrimento.

Sétimo elemento: Em uma aula a professora pediu para que todos fizessem saquinhos para que fossem depositados elogios. E Hannah se sentia muito bem em receber desenhos ou poucas palavras. Mas isso durou muito pouco devido um rapaz retirar seus bilhetes, quando descobriu ela deixou uma carta para ele, mas não fez muito efeito, pois ele não devolveu os bilhetes.

Essa atitude causou um mal-estar para a protagonista, conforme Corso e Corso (2018) acontecem diversas situações de bullying e agressões nas escolas e essa situação pode ser considerada uma forma de exclusão demonstrando crueldade para com Hannah.

Oitavo elemento: Hannah entrou em um grupo de poesias, e através delas ela conseguia expressar o que estava sentindo. Mas um colega de escola, e também de grupo de poesias, publicou seu poema numa revista da escola. E depois disto ela sentiu-se invadida.

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20 Conforme Corso e Corso (2018) Hannah sentiu-se exposta, ao ter seu poema publicado na revista da escola sem sua autorização, este colega admirava suas poesias e não mencionou o nome dela como autora, mas o poema chamou a atenção de toda a comunidade escolar. Neste momento, ela pode ter sentido-se exibida para todos novamente.

Nono elemento: Ela presenciou um estupro de uma ex-amiga. O autor do estupro foi o amigo do namorado desta garota. E ele não foi punido, e ninguém soube disto, pois Hannah não conseguiu agir no momento, e nem falar depois.

“As adolescentes sempre lidaram com a violência masculina como se fosse inevitável [...] Até hoje, as agressões que elas sofrem raríssimas vezes são percebidas e punidas, mesmo nos lugares teoricamente mais arejados” (CORSO e CORSO, 2018, p. 180).

Décimo elemento: Depois da festa que ela presenciou um estupro, Hannah pegou carona para ir a sua casa, quando estavam a caminho, uma colega que era a motorista bateu e derrubou uma placa de PARE na rua. Hannah queria avisar a polícia do que aconteceu, mas a garota não quis e foi embora, então ela foi até um mercadinho próximo e avisou sobre o acontecido, mas neste meio tempo aconteceu um acidente no qual uma pessoa morreu, por conta de não haver sinalização na estrada. Depois deste acontecimento ela sentiu-se culpada.

Décimo primeiro: Nesta fita Hannah fala de Clay, seu melhor amigo e colega de trabalho. Fala da noite da festa em que os dois ficaram juntos, mas ela começou a lembrar de todos os acontecimentos com outros rapazes, e ela pediu para que ele saísse, mesmo no fundo querendo que ele ficasse.

Clay, o personagem por meio do qual os episódios são costurados, é um garoto tímido, apaixonado pela protagonista, que, devido a seu escasso amor próprio, vacilou inúmeras vezes em declarar-se. Essa covardia seria a razão para estar incluído entre os acusados de destruir a vida de Hannah. Embora ela insista que ele é o único que não lhe teria feito um grande mal, apenas deixou de fazer-lhe suficiente bem, há uma fita dedicada a ele (CORSO e CORSO, 2018, p. 171).

Décimo segundo elemento: Hannah foi estuprada pela mesma pessoa que a amiga dela. Neste dia ela passou por várias frustrações, e sentiu-se ainda mais sozinha do que o normal.

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21 “Algumas das experiências retratadas na série são de indiscutível malignidade, como, por exemplo, a cultura do estupro que expõe tantas garotas à violência e a situações traumáticas” (CORSO e CORSO, 2018, p. 176).

Décimo terceiro elemento: nesta última fita ela foi pedir ajuda para o conselheiro da escola, contou um pouco sobre o que aconteceu naquela festa, mas ele não entendeu o seu pedido de ajuda, sendo que, ela não falou claramente sobre o assunto, mas ficou subentendido. Como ele não entendeu o que ela queria, Hannah foi para casa e cometeu o suicídio.

[...] tentou fazer-se ouvir pelo conselheiro da escola, apelando para que ele entendesse a gravidade do seu sofrimento; deixou vistosamente suas fitas na casa do amigo antes de cortar os pulsos, o qual demorou demais a encontrá-las na porta. Enfim, alguns dos seus últimos atos poderiam ter sido percebidos se a sorte não a houvesse desfavorecido(CORSO e CORSO 2018, p. 175).

O suicídio é considerado um tabu que não pode ser dito. Quando é falado sobre o assunto em novelas, filmes e séries as pessoas ficam espantadas e temem que ao ver e falar sobre o suicídio pode influenciar os sujeitos ao ato.

Talvez 13 razões ajude a derrubar o tabu e abra caminho para outras representações desta temática tão grave. Se bem que seja compreensível o temor de dar visibilidade e, com isso, incentivar bravatas suicidas, o silêncio, o segredo característico dos assuntos proibidos, também sabe ser perigoso. A partir da história de Hannah, famílias, escolas e grupos de amigos sentiram-se liberados para expressar seus temores e falar sobre o assunto. Não temos dúvida de que essa é uma importante contribuição para a prevenção dessas mortes devastadoras(CORSO e CORSO, 2018, p. 174- 175).

Segundo Corso e Corso (2018, p.132) “o tema do suicídio já é difícil de enfrentar, e esta questão pede uma coragem adicional. Em alguns casos o suicídio é uma vontade de desaparecer. Eles matam-se em lugares que dificilmente sejam reconhecidos, e encontrados eventualmente”.

Um grande erro que as famílias cometem é deixar cair no vazio as notícias de suicídios que aconteceram por perto ou de figuras públicas. Não é um assunto agradável, mas, se a pessoa era conhecida, é melhor falar sobre o que aconteceu. Deixar claro que provavelmente foi um ato desesperado, mas que a pessoa também foi extremamente egoísta com os amigos e familiares, a quem devastou com sua partida. Falar como é uma saída fácil e, na verdade, nem sequer é uma saída, mas mera desistência. Isso pede um delicado equilíbrio, pois precisamos mencionar o trauma que um suicida impõe aos seus familiares, amigos e amores e, ao mesmo tempo, cuidar

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22 para não esquecer a dor de quem partiu, afinal, ninguém faz isso de graça, algo grave estava presente (CORSO e CORSO, 2018, p. 134).

Segundo Rassial (1999, p.134-135) “as causas de suicídio são muitas, mas ele relata três principais causas que são: apelo, resposta e gozo”.Para o autor “a tentativa de suicídio como apelo, demanda; o adolescente lança desafios a si e aos outros para fazer apelos, mas muitas vezes estes desafios acabam levando-o a um fim trágico” (p.134).

Num ato suicida [...] o sujeito dirige ao Outro uma demanda: demanda de amor, de atenção, de reconhecimento. Percebe-se aí um elemento de mostração, em que o sujeito cria a cena, se insere nela e desse lugar faz um apelo ao Outro. Numa passagem ao ato [...] o sujeito identificado ao nada e reduzido ao resto do desejo do mundo, não se reconhece mais como um sujeito historiado, por isso ele sai de cena por meio de um ato radical (RIGO, 2013, p.34).

Conforme Rigo (2013) as tentativas de suicídio são um ato de apelo, um ato de clamar atenção, e não de chamar atenção como geralmente é falado em situações desse tipo.

Para Rassial (1999, p. 135) “a tentativa de suicídio como resposta a um luto ou como punição de uma culpa; todo adolescente precisa efetuar um trabalho de luto devido às transformações do corpo e da imagem perante o Outro”.

A tentativa de suicídio como busca de um gozo; na adolescência são experimentados todos os tipos de gozo, e muitas vezes se precipitam no Real, e essa precipitação é que move a passagem ao ato. “As passagens ao ato podem ser reinterpretadas após um trabalho de ressimbolização pelo reconhecimento de sua posição em uma história” (RASSIAL, 1999, p. 136).

A questão da ideação suicida é algo sério, quando o adolescente fala em se matar, ainda mais se for dito distante de um momento de briga, de um ataque de fúria, em um contexto emocionalmente neutro. Às vezes é “para chamar a atenção” como popularmente se diz, mas aqui temos algo que não se pode pagar para ver. Especialmente se lhe dissermos que está blefando, ele pode dobrar a aposta. É um momento da vida em que tendemos à bravata, mas ganhamos uma inesperada coragem caso nossos gestos sejam desqualificados. Essa “coragem” também faz parte do drama, pois ela pode estar mesmo faltando: na verdade, coragem mesmo precisamos para viver; ir embora é mais fácil (CORSO e CORSO, 2018, p. 133).

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23 O flerte do adolescente com a morte, na maioria das vezes é uma indagação sobre o sentido da vida. Colocar a questão do suicídio é um modo terrorista de se questionar e mobilizar os adultos, assim provocando-os para que ofereçam uma razão para seguir adiante.

Escutar os adolescentes é algo muito importante, pois eles precisam falar o que estão sentindo.

A relevância de escutá-los não decorre de eles tenderem realmente matar-se somente por estar atravessando essa famatar-se, mas sim de inevitavelmente se questionarem sobre o sentido da vida e pensarem bastante sobre o que os motivaria a passar para a próxima fase e com que forças fazê-lo (CORSO e CORSO, 2018, p. 173).

Segundo Ayub (2009) a escuta psicanalítica proporciona ao adolescente um espaço, em que possa expressar o seu sofrimento e suas vivências, e onde ele pode dar um sentido para suas dores. Quando o seu pedido de ajuda não foi compreendido Hannah cortou seus pulsos e deitou-se na banheira cheia de água, ali ela sangrou até morrer.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que a adolescência é um momento onde o sujeito, até entãouma criança, passa a transformar-se num adulto. Acontecem diversas mudanças significativas tanto no corpo e quanto na relação com o meio, onde estes sujeitos começam a ter novas vivências.

Constatamos que esta passagem traz vários impasses, tanto na relação de aceitar as mudanças que ocorrem no seu corpo, quanto lidar com o olhar das outras pessoas, pois ali não está mais aquele corpo infantil, mas sim um corpo que desperta desejos nos outros sujeitos. A partir disso pode haver o surgimento do desejo de morrer como é o caso do suicídio onde o adolescente tem como objetivo terminar com o seu sofrimento, e para que isso ocorra, ele resolve isso tirando sua vida. E alguns dos agravantes para esta questão são a depressão, abusos sexuais ou morais, bullying, transtornos alimentares, entre outras diversas questões que para o adolescente fragilizado pode ser um grande problema.

A partir das ideias colocadas em questão, podemos pensar em estratégias de prevenção e tratamento para o suicídio. Escutar os sujeitos em sofrimento é um dos passos mais eficazes. É importante fazer uma escuta clínica com estes sujeitos para que eles possam falar sobre seu sofrimento, sem medo.

Na clínica, o adolescente pode falar sobre o seu sofrimento sem ter medo, e isso faz com que ele se sinta melhor, ele pode descarregar um “peso” que antes ele se sentia sozinho, pois percebe que ali na escuta clínica há um sujeito que acredita no sofrimento sem julgá-lo. A escola e pais também podem fazer uma escuta dos adolescentes, no sentido de observar, pois diversas vezes eles mudam seus modos de agir, pois tentam da sua maneira mostrar que estão precisando de ajuda, mas não conseguem expressar.

Esta pesquisa não se esgota, mas sim, provoca mais questões que podem ser importantes como o porquê não é falado sobre suicídio nas escolas e em casa, ou por que o suicídio ainda é visto como um ato de “chamar atenção”, e ainda, como se sentem os familiares de sujeitos que cometeram o suicídio, como eles lidam com isso perante a sociedade que acaba julgando o ato sem saber ao certo o que estava se passando com este sujeito.

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REFERÊNCIAS

AYUB, Renata Cardoso Plácido. O olhar de psicanalistas que escutam a adolescência: singularidades da clínica atual.Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, Faculdade de Psicologia, PUC-RS.Porto Alegre, 2009. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/699/1/421854.pdf.Acesso em 12/11/2019.

BOUZAS, Isabel; JANNUZZI, Felipe. Suicídio. Revista Adolescência e Saúde. V.14, n. 2, p. 1, abr./jun. Rio de Janeiro: 2017. Disponível em: http://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=644.Acesso em: 04/10/2019.

CALLIGARIS, Contardo. A adolescência.São Paulo: Publifolha, 2011.

CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Mário. Adolescência em cartaz: filmes e psicanálise para entendê-la.Porto Alegre: Artmed, 2018.

FREUD, Sigmund. (1917 [1915]).Luto e Melancolia. In:______. A história do Movimento Psicanalítico, Artigos sobre a Metapsicologia e outros trabalhos (1914- 1916). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV, Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 245-263.

LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise. 4ª Edição.São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MARCELLI, Daniel; BRACONNIER, Alain. Adolescência e psicopatologia. 6ª Edição.Porto Alegre: Artmed, 2007.

OS TREZE PORQUÊS. Criador Brian Yorkey. 1ª temporada. Série Netflix: 2017.

RAPPAPORT, Clara Regina. Adolescência: Abordagem Psicanalítica.São Paulo: EPU, 1993.

RASSIAL, Jean-Jacques. O Adolescente e o Psicanalista.Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999.

RIGO, Soraya Carvalho. Suicídio: uma questão de Saúde Pública e um desafio para a Psicologia Clínica.In: Conselho Federal de Psicologia. O Suicídio e os desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Suicidio-FINAL-revisao61.pdf. Acesso em: 12/11/2019.

RODRIGUES, Alex. OMS alerta para adoção de estratégias de prevenção ao suicídio. Agência Brasil. Brasília, 2019. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-09/oms-alerta-para-adocao-de-estrategias-de-prevencao-ao-suicidio. Acesso em 25/09/2019.

ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

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26 RUFFINO, Rodolpho. Sobre o lugar da adolescência na teoria do sujeito. In: RAPPAPORT, Clara Regina. Adolescência: Abordagem Psicanalítica.São Paulo: EPU, 1993, p.25-57.

SOBRINHO, Wanderley Preite.Suicídio cai no mundo, mas cresce até 24% entre adolescentes no Brasil. São Paulo 27/04/2019, site UOL Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2019/04/27/suicidio-cai-no-mundo-mas-cresce-ate-24-entre-adolescentes-no-brasil.htm. Acesso em: 19/11/2019.

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