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Crime & mídia: a influência midiática na atuação do sistema punitivo brasileiro

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

PAULA MARCON

CRIME & MÍDIA: a influência midiática negativa na atuação do sistema punitivo brasileiro

Ijuí (RS) 2015

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PAULA MARCON

CRIME & MÍDIA: a influência midiática na atuação do sistema punitivo brasileiro

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, apresentado como requisito para a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão do Curso - TCC.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth

Ijuí (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha amada família e ao meu namorado, pelo amor, pela paciência, pelo incentivo, por confiarem em mim e na minha capacidade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à minha família, em especial aos meus pais, Aguida e Paulo, pelos valores que me foram transmitidos desde cedo, pelo esforço, dedicação, compreensão, apoio e amor incondicional. À minha irmã Cássia, também uma peça fundamental desse processo, a pessoa que me inspirou a fazer este curso, bem como pelo exemplo a ser seguida. Ainda, ao Carlos Alexandre, meu namorado, pelo carinho, confiança, amor e companheirismo. Não seria nada sem vocês, amo-os!

Sinceros agradecimentos ao Professor Doutor Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth que me inspirou a discorrer sobre o tema, bem como por confiar no meu potencial, e me aceitar como sua orientanda. Pela competência, comprometimento e ensinamentos que guiaram a realização deste trabalho.

E sem dúvidas agradeço a Deus, pela minha vida e pelas oportunidades que me foram dadas me possibilitando escolher o caminho que me levou a ser quem eu sou. Agradeço ainda a ele por ter me presenteado com família e amigos maravilhosos que puderam me dar apoio em momentos difíceis.

À todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigada.

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"A mídia não é apenas a mensagem. A mídia é uma

massagem. Estamos constantemente sendo

acariciados, manipulados, ajustados, realinhados e manobrados." Joey Skaggs.

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O presente trabalho de conclusão de curso buscará demonstrar de que maneira a mídia de massa brasileira exerce influências sobre a produção legislativa na seara penal e na forma de sentenciar dos julgadores. Será analisado de que modo a mídia influencia a forma de pensar de leitores e telespectadores acerca de questões que envolvem a aplicação do Direito Penal e os interesses que estão por detrás dessa influência. Para isso analisar-se-á os meios utilizados para essa influência, baseando-se em revista de grande circulação no país. O enfoque se dará na abordagem sensacionalista dos meios de comunicação, na manipulação da notícia, buscando compreender as influências que a mídia exerce sobre o legislador penal infraconstitucional brasileiro e na condução e decisão de processos penais pelos magistrados.

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ABSTRACT

This course conclusion work will seek to demonstrate how the Brazilian mass media exerts influence on the legislative process in criminal harvest and shape of the sentencing judges . It will be analyzed so that the media influences the thinking of readers and viewers about issues involving the application of criminal law and the interests that are behind this influence. For it will analyze the means of this influence, based on widely circulated magazine in the country. The focus will be in the sensational approach of the media , the manipulation of the news , trying to understand the influence the media has on the Brazilian infra criminal legislature and the conduct of criminal proceedings and decision by the magistrates .

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INTRODUÇÃO ... 8 1 O CRIME COMO PRODUTO DA INDÚSTRIA CULTURAL ... 11 1.1 A influência midiática na construção de consensos acerca da repressão penal ... 12 1.2 O crime como produto da indústria cultural: análise crítica da formação de consenso sobre o crime pela Revista Veja no período 2003-2013 ... 15 2A INFLUÊNCIA DA MÍDIA DE MASSA NA ELABORAÇÃO LEGISLATIVA EM MATÉRIA PENAL E NA CONDUÇÃO DE PROCESSOS PENAIS PELOS

MAGISTRADOS ... 23 2.1 A influência da mídia na elaboração de normas penais infraconstitucionais no Brasil ... 24 2.2 A influência da mídia na conduta dos juízes criminais no Brasil: uma análise de julgados ... 29 CONCLUSÃO ... 35 REFERÊNCIAS ... 37

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INTRODUÇÃO

De que maneira a mídia de massa brasileira exerce influências sobre a produção legislativa na seara penal e na forma de sentenciar dos julgadores? A mídia influencia as pessoas no seu modo de agir, de pensar e até no modo de se vestir. Ela cria demandas, orienta costumes e hábitos da sociedade, além de definir estilos e discussões sociais sobre os mais variados temas. Seu fim é direcionado para o retorno de lucro.

Como o escândalo vende, pois os telespectadores gostam de ter conhecimento da desgraça alheia, a mídia, de forma sensacionalista, divulga um crime chocante, colocando sua "opinião" (sejam quais forem os seus reais motivos), influenciando, com isso, a visão dos telespectadores acerca do fenômeno da criminalidade.

O telespectador que vê a notícia do crime chocante, dada por aquele órgão divulgador, como a sua forma de noticiar, a tem como verdadeira, diante da forma exposta pela mídia, sem sequer refletir sobre o caso, pois a mídia não dá espaço para isso, passando assim a comentar sobre aquele crime, conforme lhe foi noticiado pela mídia de massa, e como de costume, a forma que a mídia condenou tal autor do delito.

E a partir dai, busca por "justiça", pressionando o Judiciário e também o legislativo no sentido de que a resposta punitiva seja sempre recrudescida, pois para a população que não tem o conhecimento acadêmico a respeito do direito de punir do Estado, a mídia “vende” a ideia de que para a repreensão de crimes, basta a cominação de penas cada vez mais altas.

O Judiciário, por outro lado, ao ver a repercussão de determinados crimes, tenta dar uma resposta efetiva e aceitável (para o telespectador-cidadão), aplicando penas altas e de forma rigorosa aos crimes noticiados.

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E, por sua vez, políticos que tem a intenção de aproveitar a discussão em pauta pelos seus eleitores (os telespectadores) começam a elaborar planos de leis, com penas mais rigorosas para os crimes chocantes divulgados pela mídia e consequentemente garantir seus votos nas próximas eleições. Com isso, fecha-se um círculo vicioso que tem fomentado o processo de expansão do Direito Penal na realidade brasileira.

A fim de esclarecer a problemática apresentada, se desenvolverão dois capítulos, onde será analisado de forma individual o crime como produto da indústria cultural e ao final, a influência da mídia de massa na elaboração legislativa em matéria penal e na condução de processos penais pelos magistrados.

A presente pesquisa pretende demonstrar como os meios de comunicação tem papel importante na criação do senso de julgamento dos brasileiros, e assim por consequência, na criação das leis e na forma de tomar decisões dos julgadores. Buscar-se-á explanar a forma como a mídia consegue criar juízos de valor nos ouvintes de um fato-crime por ela noticiada e como isso influencia nas vidas dos brasileiros, principalmente na produção legislativa do Estado.

Destaca-se a relevância desse tema do ponto de vista acadêmico e social, uma vez que é necessário distorcer essa imagem. É de grande importância o tema que aqui será pesquisado, pois demonstrará como a mídia pode manipular todo o sistema legislativo brasileiro de forma mercadológica.

No primeiro capítulo será analisado de que modo a mídia influencia a forma de pensar dos brasileiros acerca de questões que envolvem a aplicação do Direito Penal e os interesses que estão por detrás dessa influência, bem como verificar quais os meios utilizados para essa influência a partir da análise de alguns jornais e revistas periódicos de grande circulação nacional;

O segundo capítulo buscará compreender as influências que a mídia exerce sobre o legislador penal infraconstitucional brasileiro. Também examinará as influências que a mídia exerce sobre os magistrados na condução e decisão de processos criminais.

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Na elaboração da presente pesquisa utiliza-se do “método” fenomenológico, compreendido como “interpretação ou hermenêutica universal”, isto é, como revisão crítica dos temas centrais transmitidos pela tradição filosófica através da linguagem, como destruição e revolvimento do chão linguístico da metafísica ocidental. Por meio dele, é possível descobrir um indisfarçável projeto de analítica da linguagem, numa imediata proximidade com a práxis humana, como existência e faticidade, em que a linguagem – o sentido, a denotação – não é analisada a partir de um sistema fechado de referências, mas, sim, no plano da historicidade.

Com efeito, o método de abordagem visa a aproximar o sujeito (pesquisador) e o objeto a ser pesquisado. A opção pelo referido método deve-se ao fato de que ele é o único que permite definitivamente demonstrar que o modelo de conhecimento subsuntivo próprio do sistema sujeito-objeto foi suplantado por um novo paradigma interpretativo, marcado pela invasão da filosofia pela linguagem a partir de uma pós-metafísica de reinclusão da faticidade que passa a atravessar o esquema sujeito-objeto, estabelecendo uma circularidade virtuosa na compreensão. A ênfase, portanto, passa para a compreensão, onde o compreender não é mais um agir do sujeito, e, sim, um modo-de-ser que se dá em uma intersubjetividade.

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1 O CRIME COMO PRODUTO DA INDÚSTRIA CULTURAL

Os meios de comunicação social, influenciados pelas alianças econômicas e políticas, retiram da esfera da opinião pública o discurso acadêmico ou doutrinário atinente às questões de Direito Penal, através da exposição direta ou indireta das opiniões que se pretende defender.

Nos jornais, revistas e comentários em rádio e televisão, que são as formas mais diretas de defesa de uma posição escolhida, as formulações de defesa dos interesses são explicitamente parciais. Na visão de Nilo Batista

toda e qualquer reflexão que deslegitime aquele credo criminológico da mídia deve ser ignorada ou escondida: nenhuma teoria e nenhuma pesquisa questionadora do dogma penal, da criminalização provedora ou do próprio sistema penal são veiculados em igualdade de condições com suas congêneres legitimantes. (BATISTA, 2009, p. 6)

As discussões sobre questões de Direito penal, produzidos através da imprensa, influenciam os discursos de populares na escolha de uma posição, ou outra, sobre os assuntos do momento. É desigual a discussão acadêmica e o discurso popular nos meios de comunicação, pois acaba tornando-se mais relevante a posição do formador de opinião mais influente, que é o interlocutor da mídia de massa, fazendo com que desta forma vire um mito a imparcialidade da impressa.

A opinião “indireta” da mídia de massa acaba norteando a opinião pública de determinadas classes sociais e intelectuais. Com fim lucrativo, em busca da audiência, os meios de comunicação fazem a opção pelo noticiário apelativo, que atrai a atenção do público, interessado em saber os detalhes sórdidos do crime, com suas facetas mais cruéis.

Com intenção real ou não, os meios de comunicação apelativos e sensacionalistas influenciam a opinião da massa de telespectadores sobre a punição a que devem ser submetidos os autores do delito penal em discussão. E assim, aproveitando-se da situação, os oportunistas debatem, manipulam, modificam, editam, aprovam leis penais cada vez mais rígidas.

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São vários os tipos de linguagem para a divulgação de uma notícia. Pode-se dizer que algumas até são isentas de intenções que envolvam emocionalmente a subjetividade dos seus destinatários, e por outro lado, outras que buscam a sensibilidade dos destinatários propositalmente, dentre estas, o sensacionalismo. Ana Lúcia Menezes Vieira salienta que

o sensacionalismo é uma forma diferente de passar uma informação; uma opção por assuntos que podem surpreender, capazes de chocar o público; uma estratégia dos meios de comunicação que trabalham com a linguagem-clichê, vulgar, compacta, conhecida como lugar-comum, de fácil compreensão por aquele que a recebe. A linguagem sensacionalista, caracterizada por ausência de moderação, busca chocar o público, causar impacto, exigindo seu envolvimento emocional. Assim, a imprensa e o meio televisivo de comunicação constroem um modelo informativo que torna difusos os limites do real e do imaginário. Nada do que se vê (imagem televisiva), do que se ouve (rádio) e do que se lê (imprensa jornalística) é indiferente ao consumidor da notícia sensacionalista. As emoções fortes criadas pela imagem são sentidas pelo telespectador. O sujeito não fica do lado de fora da notícia, mas a integra. A mensagem cativa o receptor, levando-o a uma fuga do cotidiano, ainda que de forma passageira. Esse mundo-imaginação é envolvente e o leitor ou telespectador se tornam inerentes, incapazes de criar uma barreira contra os sentimentos, incapazes de discernir o que é real do que é sensacional. (VIEIRA, 2003, p. 52).

Desta maneira, o sensacionalismo gera uma opinião, influenciando não apenas na forma de informação, como também no que se refere ao conteúdo original da informação. Assim, verse-a abaixo de que forma a mídia constrói consensos no que diz respeito a forma de punir.

1.1 A influência midiática na construção de consensos acerca da repressão penal

A mídia está intrinsecamente envolvida na construção do processo de formação de opinião da população no que concerne à repressão penal, sendo utilizada para promover valores, crenças e culturas a partir de seus interesses capitalistas e de mercado (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 43).

Na contemporaneidade, os meios de comunicação de massa são os pilares da formação de opinião da coletividade. É comum ver a mídia tornar insignificantes as preocupações reais, dando ênfase para demandas questionáveis, que geralmente servem apenas para amedrontar a população, criando falsas impressões da realidade (BOURDIEU, 1997). Amparada nesta forma de noticiar, explorada densamente pela mídia, a maioria das pessoas se colocam como validadas a abordar demandas de ordem penal, processual penal, bem como de política criminal.

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Aproveitando-se do fato que o “produto” crime vende, a mídia acaba por dar maior proeminência aos problemas sociais que entende ser mais rentáveis do ponto de vista mercadológico, mostrando o que lhes convém, e transformando esses problemas em mercadorias da indústria cultural. Pierre Bourdieu (1997) refere que a mídia representa os “problemas sociais” de uma maneira generalizada, não aprofundando o tema, buscando mostrar apenas o interesse comum e, assim, formando opiniões incompletas. A partir de sua premissa “ocultar mostrando”, ou seja,

[...] mostrando uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se fizesse o que supostamente se faz, isto é, informar; ou ainda mostrando o que é preciso mostrar, mas de tal maneira que não é mostrado ou se torna insignificante, ou construindo-o de tal maneira que adquire um sentido que não corresponde absolutamente à realidade. (BOURDIEU, 1997, p. 24).

Agindo desta forma, a mídia faz com que as pessoas tomem como reais os fatos ali noticiados, fazendo-as crer nisso, criando “opiniões” nos telespectadores, não os deixando analisar criticamente o que foi divulgado, fazendo a população enxergar os “problemas sociais” a partir de sua ótica mercadológica. Assim, a mídia torna-se capaz, conforme Bourdieu (1997), de criar sentimentos negativos, como, por exemplo, o racismo e a xenofobia.

Desta maneira, os meios de comunicação de massa acabam por criar falsos dados da realidade social, ao vender o crime como um produto, fazendo com que a população busque pela justiça, acreditando que isso se faz por meio de penas mais rígidas, conforme descreve Nilo Batista (2009, p. 03), ao dizer que o “[...] novo credo criminológico da mídia tem seu núcleo irradiador na própria ideia de pena: antes de mais nada, creem na pena como rito sagrado de solução de conflitos [...]”.

Assim, pode-se ver o poder da indústria midiática, que manipula e monopoliza as informações até chegar ao público. A mídia se torna responsável por ditar aquilo que tem relevância ou não dentro dos acontecimentos mundiais, levando a informação até o público da maneira que a definir, o que geralmente ocorre de maneira distorcida, incompleta, parcial. Ela oculta e mostra o que achar melhor, e o público toma por correto e completo aquilo que vê.

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Portanto, a mídia acaba se tornando peça integrante do “[...] exercício de poder do sistema penal, pois tem a capacidade de criar o punitivismo popular, [...]” ante o fato que estabelece uma maneira de considerar os problemas sociais de uma forma exagerada. “Com isso, é responsável por criações legislativas ‘às pressas’ que vão totalmente de encontro com as garantias constitucionais.” (DIAS; DIAS; MENDONÇA, 2013, p. 7).

A mídia, tanto a televisão quanto meios impressos, como jornais e revistas, buscam pelo sensacionalismo, que se caracteriza por tornar proeminente um fato – muitas vezes sui

generis – mas que passa a se apresentar como normal. Isso é feito por meio de imagens ou por

palavras. O sensacionalismo é normalmente utilizado para criar consensos, opiniões, sentimentos e, principalmente, para aumentar os índices de audiência.

A parte majoritária da população utiliza apenas as formas acima descritas como meio de informações, e nelas as informações já estão prontas, sem possibilidades de crítica e de pensamento. A mídia de massa muitas vezes coloca a informação através de uma imagem, o que faz criar uma ideia de realidade, e de acordo com Bordieu (1997, p. 27), “a imagem tem a particularidade de poder produzir o que os críticos literários chamam o efeito do real, ela pode fazer ver e fazer crer no que faz ver”.

Com o fundamento do lucro, as mídias de massa selecionam essas informações, atribuindo a elas valores e opiniões, buscando transformá-las em algo mais atrativo, buscando sempre o sensacional, e por consequência, vender mais. Na realidade, muitas vezes, esta informação repassada aos populares não passa de um juízo, nada técnico, sem fundamentação e que mascara interesses bem claros.

Diante da manipulação da notícia, que busca incessantemente a audiência, cria-se uma imagem de punitivismo distorcida da realidade criminal, provocando um anseio de penitenciar a qualquer preço. Com relação às decorrências dessa ideia de punitivismo, Eugenio Raúl Zaffaroni defende o seguinte posicionamento:

[...] são os meios de massa que desencadeiam as campanhas de ‘lei e ordem’ quando o poder das agências encontra-se ameaçado. Estas campanhas realizam-se através da ‘invenção da realidade’ (distorção pelo aumento de espaço publicitário dedicado a fatos de sangue, invenção direta de fatos que não aconteceram), ‘profecias que se auto-realizam’ (instigação pública para a prática de delitos mediante metamensagens de ‘slogans’ tais como ‘a impunidade é absoluta’, os menores podem fazer qualquer coisa’, ‘os presos entram por uma porta e saem pela outra’, etc; publicidade de novos métodos para a prática de delitos, de facilidades, etc.). ‘produção de

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indignação moral’ (instigação à violência coletiva, à autodefesa, glorificação de ‘justiceiros’, apresentação de grupos de extermínio como ‘justiceiros’, etc.) (ZAFFARONI, 1991, p. 129).

Para Nilo Batista, o discurso midiático faz as pessoas acreditarem que a pena é a saída para a marginalidade, sendo que isto acaba por ser aceito pela população espectadora:

o novo credo criminológico da mídia tem seu núcleo irradiador na própria idéia de pena: antes de mais nada, crêem na pena como rito sagrado de solução de conflitos. Pouco importa o fundamento legitimante: se na universidade um retribucionista e um preventista sistêmico podem desentender-se, na mídia complementam-se harmoniosamente. Não há debate, não há atrito: todo e qualquer discurso legitimante da pena é bem aceito e imediatamente incorporado à massa argumentativa dos editoriais e das crônicas. Pouco importa o fracasso histórico real de todos os preventinismos capazes de serem submetidos à constatação empírica, como pouco importa o fato de um retribucionismo puro, se é que existiu, não passar de um ato de fé (BATISTA, 2009, p. 3 e 4).

Essa ideia de cárcere ser a solução, a qual se apoia no ideal legitimado pelos meios de comunicação social, não deixa de ser motivo de espanto, pois o encarceramento, para a população seria a maneira mais instantânea e eficaz de tirar os criminosos da sociedade e não ter de lidar com os problemas que realmente merecem atenção como, por exemplo, a grande desigualdade social que está na origem de muitos crimes praticados no Brasil (DIAS; DIAS; MENDONÇA, 2013, p. 11).

Veremos no próximo tópico, como essa influência da mídia se consagra na prática, como cria a formação desse consenso, a partir da análise de um dos meios de comunicação que tem grande rotatividade entre os leitores, a revista Veja.

1.2 O crime como produto da indústria cultural: análise crítica da formação de consenso sobre o crime pela Revista Veja no período 2003-2013

O crime é tido como um produto da indústria cultural. Para ponderarmos a forma como isto se constitui, analisaremos neste ponto um dos meios de comunicação de grande circulação no Brasil, qual seja, a revista Veja. Trata-se de uma revista de informação semanal, que apresenta o maior número de edições comercializadas no Brasil – cerca de 1,3 milhões de exemplares -, além de ser a que por mais tempo está em circulação no País – desde 1968. Outro ponto para a escolha desta revista se deu pelo fato de ela ser a quarta maior do segmento do mundo. Um meio com essas caraterísticas constitui-se como de grande

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relevância na formação da opinião pública brasileira, acabando por tornar-se fonte para muitas pesquisas acadêmicas (SÓRIA, 2009, p. 10).

Geralmente, os fatos trágicos tendem a ser transmitidos de maneira sensacionalista, como o episódio do assassinato da menina Isabella Oliveira Nardoni, ocorrido em março de 2008. Sobre esse caso, a revista Veja realizou uma exploração extremada, usando-se de estratégias sensacionalistas. Entre essas estratégias estão as capas das revistas, compostas com ilustrações, fotos e palavras de forte efeito emocional.

Ainda, o sensacionalismo empregado pela revista Veja veio acrescido de erros de apuração, procurando legitimidade em discursos de fontes oficiais, além de criar um pré-julgamento dos acusados, ultrapassando, assim, limites éticos. Como é o caso da capa da revista Veja, edição de 23 de abril de 2008, que, em sede de instrução criminal, já trazia o pai e a madrasta da menina como “culpados”.

A parcialidade e o sensacionalismo são observados logo na capa, onde há uma foto do casal Nardoni com sombras sobre seus rostos, o que nos remete a lembrar de capuzes usados por criminosos. Sob a foto, a manchete em letras garrafais é categórica: Foram Eles. Em escrita miúda acima, os mais cuidadosos, talvez, leiam que esta é a opinião da polícia. A matéria expõe Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá como culpados pela morte da menina Isabella, apresentando o que aparenta ser a versão definitiva da polícia sobre o caso e uma simulação em quadrinhos do passo-a-passo do crime segundo essa versão, onde os desenhos que representam o casal Nardoni aparecem com expressões de ódio e agressividade. Ainda, o título da matéria, “Frios e Dissimulados”, cita palavras específicas de um julgamento e com o tom definitivo de sentença. Ao intitulá-los de “frios”, a revista apresenta imagens em que o rosto do casal Nardoni não apresenta nenhuma emoção, diversamente da imagem da mãe de Isabella que aparece enxugando suas lágrimas. O peso das palavras utilizadas, tais como, “dissimulados”, “culpado e mentiroso”, “monstro”, “brutalidade”, “espetáculo de frieza e dissimulação” formalizam a sentença da mídia.

Como se pode analisar, a matéria é cheia de adjetivos que assinalam juízos de valor. Prática esta utilizada amplamente pela mídia sensacionalista, na qual se usam estratégias que manipulam a opinião pública e defendem pontos de vistas específicos, mostrando-os como única versão dos fatos.

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A sentença que condenou o casal à prisão foi emitida quase dois anos após o assassinato, mas é sabido que, muito antes disso, a opinião pública já tinha sua “sentença” com base nas acusações da mídia. A divulgação exagerada da mídia de massa fez do crime quase uma novela, com seus mocinhos e vilões bem definidos. Assim, a mídia levou a população a acusar e julgar sem, em momento algum, refletir. As matérias divulgadas na revista Veja acusaram os suspeitos de forma direta. A forma apelativa utilizada pela revista colaborou para que o público cobrasse justiça através da punição rígidas dos acusados. Os leitores foram emocionalmente manipulados por um vocabulário e fotos tendenciosas. A imparcialidade, pré-requisito principal para o jornalismo de credibilidade, foi ignorada em detrimento da linha sensacionalista adotada pela revista. (FIORRI, NICOLETTI, BOZZA, ARAKI, 2011, p. 264).

Igualmente, tem-se o caso da morte do menino João Hélio, ocorrido em 07 de fevereiro de 2007. Neste episódio, os veículos de comunicação – e particularmente a revista Veja – reforçaram uma discussão polêmica, qual seja, a redução da maioridade penal, o que trouxe à tona um incentivo a práticas punitivas violentas, seletivas e intolerantes.

A revista Veja publicou a matéria sobre o caso em duas edições. Na primeira edição, de 14 de fevereiro de 2007, o assunto foi capa tendo como manchete: “Arrastado por quatro bairros do Rio de Janeiro, morto, destroçado por bandidos e mais uma vez... NÃO VAMOS FAZER NADA?”, juntamente de uma foto do menino, com nome e idade. A matéria de capa trazia o título “Sem limites para a barbárie” e o assunto ocupou seis páginas da revista, com muitos apelos emocionais. Além das nove fotos que exibiam a desgraça, ainda disponibilizaram um infográfico com o mapa e a rota que os acusados seguiram arrastando o menino; e, principalmente, expondo a opinião de diversos especialistas sobre o que precisa e deve ser feito para diminuir a criminalidade no país.

Na segunda edição, no dia 21 de fevereiro de 2007, sobre o crime, a Veja alterou o foco do acontecimento, discutindo o problema da maioridade penal e os motivos para a prática do crime por aqueles jovens. Gerou-se um grande debate sobre o assunto tão polêmico da maioridade penal a partir da exploração de um caso pela mídia. Em nenhum momento, no entanto, veio à tona a questão da violência estrutural que leva muitos adolescentes à prática de crimes no país.

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No caso Eloá Pimentel, menina de 15 anos que foi mantida em cárcere privado por mais de 100 horas e assassinada pelo ex-namorado, crime ocorrido em 13 de outubro de 2008, a revista Veja, com a matéria publicada em 29 de outubro de 2008 sobre esse caso demonstra, em primeiro lugar, a exploração da violência com sensacionalismo para intensificar seu caráter lucrativo. Buscando elementos para despertar a leitura através da emoção e não da avaliação adequada dos fatos. Dando início pelo título da reportagem disponibilizada no dia 29 de outubro de 2008, “As tintas do inferno” e depois para o texto:

O inferno teve endereço fixo durante cinco dias, e um endereço, por ironia, abundante em referências religiosas: Rua dos Dominicanos, Conjunto Habitacional Santo André, prédio 24, Santo André, São Paulo. A brutalidade do mais longo cárcere privado já registrado no Estado de São Paulo mesmerizou o país, mas o que as câmeras de TV puderam registrar nem de longe a revelou a sua crueza. (VEJA, 2008, ed. 2084, p. 104).

Percebe-se o uso de adjetivos durante o texto, que confere um ar sentimental à narrativa, de forma a fixar a atenção do leitor para o desenrolar dos acontecimentos. Após ter a atenção dos leitores, recai sua opinião sobre a ação do Estado, na figura da polícia, cujos problemas técnicos são descritos pelo narrador nessa reportagem:

A polícia não utilizou equipamentos como microcâmeras ou microfones, que poderiam revelar a posição dos reféns e do criminoso; Nayara que já havia sido liberada por Lindemberg na terça, voltou ao apartamento na quinta. Devolver refém a sequestrador é uma insanidade, de qualquer ponto de vista. (VEJA, 2008, ed. 2084, p. 106).

Apontando o fracasso na operação do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) como o fator determinante para que Eloá fosse assassinada e Nayara, a outra refém, machucada, demonstrando através de infográficos as ações erradas da polícia, e terminando a matéria com o julgamento final:

São profissionais, sim, e competentes, como mostram os números até agora. Ocorre que, no ramo em que o Gate atua, o de salvar vidas, números impressionantes de nada adiantam. A cada nova missão, parte-se do zero. E um único fracasso pode apagar os sucessos. (VEJA, 2008, ed. 2084, p.110)

O caso de Eloá Pimentel é, por diversas vezes, denominado como tragédia por parte da Revista, na medida em que a informação - que é julgada como primordial e foco do trabalho do jornalista - acaba perdendo o posto para a espetacularização, deixando

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transparecer de forma mais evidente a opinião da mesma (GUERREIRO, JACOBINI, SANTOS, 2010).

Tem-se ainda, na edição de 13 de abril de 2011 da revista Veja, um especial da tragédia em Realengo, ocorrida em 07 de abril de 2011. Primeiramente nota-se a capa de cor vermelha, que remete ao banho de sangue provocado por Wellington Menezes, após assassinar doze crianças. A capa ainda traz a imagem de Wellington um pouco desfocada e mais ao fundo, como se fosse enterrado pelo sangue, com a boca cerrada por uma tarja preta, querendo significar o luto.

O título “O monstro mora ao lado”, transporta o peso de um julgamento, estando diretamente ligado à imagem do atirador. A frase soa clichê, remetendo a filmes de terror e claramente mostrando seu conteúdo sensacionalista. Angrimani (1995, pg. 42) refere que a linguagem clichê é “uma possibilidade de manipulação das pulsões do leitor”. É exatamente isso que a Veja resulta ao criar sua manchete principal. Ela distorce a imagem de Wellington aos leitores, especialmente com a chamada principal do título “Como saber quando a loucura assassina emergirá das camadas profundas de anos de humilhação, solidão e frustração?” A palavra monstro do título, ligada à chamada acima descrita, cria na imaginação do leitor a cena de “um monstro vindo das profundezas”, criando uma imagem ainda mais brutal do atirador, gerando uma sensação de agonia, morte e terror.

Além do julgamento precipitado, a Veja provoca a curiosidade dos leitores, em sua segunda chamada “Vidas interrompidas – Elas queriam ser da Marinha, atletas, modelos...”. A revista desperta nas pessoas a vontade de saber mais sobre as crianças mortas, fazendo com que sintam um pouco a dor da perda, trazendo as vítimas para a vida dos leitores. José Arbex Jr. (2005, p. 60), pondera esse caráter como comercial “para a mídia em princípio tudo pode ser publicado, mesmo os detalhes mais íntimos da vida de uma pessoa, se isso gerar lucro.”.

Analisando tais observações nota-se que a revista cativa seus leitores através da manipulação de palavras e imagens, buscando a atenção dos leitores a partir de sentimentos como a dor, curiosidade pela vida das pessoas ou até mesmo da perda. As demais manchetes também levam atributos e julgamentos através de palavras isoladas como “bárbaros” e “trauma”.

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Igualmente tem-se o caso de grande repercussão nacional do assassinato de Eliza Samudio. A revista Veja em sua edição de 07 de julho de 2010, dedicou oito páginas para descrever o sumiço e a suspeita do assassinato da ex-amante de Bruno Fernandes, ex-goleiro do Flamengo. Em sua capa a Veja colocou a foto de Bruno e uma foto de Eliza Samudio, em marca d’água ao fundo da reportagem, com a seguinte legenda “Bruno Fernandes, suspeito de ter assassinado a ex-amante”. A manchete principal é: “TRAIÇÃO, ORGIAS E HORROR” com uma linha de apoio: “O mundo do goleiro do Flamengo, ídolo da maior torcida do Brasil, ameaça ruir”.

A reportagem foi destaque nas páginas centrais da edição com uma foto do Bruno Fernandes, com a manchete: “O SUSPEITO NÚMERO 1”. Há a retrospectiva do caso: a revista explica como foi o encontro entre Bruno Fernandes e Eliza Samudio, desde a sua gravidez até o desaparecimento, bem como as pistas que foram encontradas até então. Ainda, na mesma edição há uma chamada para uma matéria secundária “FAMOSOS E ACIMA DA LEI”, na qual conta como o time do Flamengo está e também sobre os escândalos dos quais o time foi protagonista.

Na análise fica nítida a condenação prematura de Bruno por parte da imprensa. Ainda, há que se dar importância para como Eliza foi representada de diversas maneiras pela imprensa. Antes de desaparecer, foi tratada como garota de programa, após, passou a ser chamada de amante do goleiro. Mais tarde, com a possibilidade do assassinato, Eliza passa a ser chamada de ex-namorada de Bruno, assim ficando claro como a mídia influenciou os leitores ao criar personagens para o caso e depois ficando clara inversão dos mesmos. Bruno passou de goleiro bem sucedido a assassino, e Eliza passa de prostituta a ex-namorada de Bruno, que tinha o sonho de ser modelo.

É claro ver os exemplos da influência e irresponsabilidade da mídia ao pautar e enquadrar temas que, além de causar polêmica, podem influenciar negativamente, condenando pessoas de maneira injusta e usando a espetacularização para ter audiência, alcançando assim aquele que parece, por vezes, ser seu único objetivo.

Como se nota, é comum nos meios de comunicação de massa a divulgação de crimes bárbaros praticados por agentes que, segundo a mídia, debocham da sociedade e buscam

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guarida em normas brandas e na ineficiência do Estado em realizar a persecução criminal considerada “adequada” (BOLDT, 2013, p. 104).

Ademais, a mídia de massa, em seu discurso, acaba por influenciar o público a acreditar que os direitos fundamentais agem como barreiras para aplicação eficaz da sanção penal, e consequentemente a ascensão da impunidade de tais agentes.

E desta forma, após a divulgação do crime bárbaro, a mídia em seu discurso, busca indicar saídas que possam resolver decisivamente o problema da criminalidade, e diante de uma população amedrontada, esta acaba por ser “[...] induzida a não pensar nas raízes do problema, na possibilidade de enfrentá-lo em suas origens e simplesmente adere às sugestões propostas e passa a demandar mais repressão, novos tipos penais, mais prisões” (BOLDT, 2013, p. 105).

Ainda, segundo Boldt (2013, p. 106), a ideia de punir acaba espalhando-se através de um “discurso de emergência”, que busca alimento no temor da população, e sugere o domínio da criminalidade a partir da criação de novas normas penais, endurecimento das sanções e restrição de direitos e garantias fundamentais.

Em consequência, geram-se “políticas populistas”, que servem para abrandar o alarme social: “[...] Os legisladores de plantão estão sempre prontos com os seus pacotes de medidas de resolução da criminalidade que se traduzem, normalmente, em aumento de penas e restrições de garantias.” (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 52).

Assim, também são criadas as leis de emergências, as quais poderão se verifcar no ponto abaixo. Essas leis que serão mencionadas foram criadas a partir da divulgação de um caso novo e diferente, onde a população exigia uma saída para os problemas advindos do fato divulgado. Motivando, assim, interferências políticas e não mais jurídicas. Produzindo leis penais fundamentalmente políticas e irracionais, com consequente violação de direitos e garantias fundamentais.

Da mesma forma, a mídia de massa influencia também os aplicadores da lei criminal no Brasil. Em consequência, a pressão popular influencia o andamento processual desses casos polêmicos em destaque, até mesmo no seu julgamento. O magistrado, na intenção de

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dar uma efetiva resposta a população, aplica penas elevadas aos casos que tiveram grande repercussão social.

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2 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA DE MASSA NA ELABORAÇÃO LEGISLATIVA EM MATÉRIA PENAL E NA CONDUÇÃO DE PROCESSOS PENAIS PELOS

MAGISTRADOS

Como já explanado anteriormente, é comum nos meios de comunicação de massa a divulgação de crimes bárbaros praticados por agentes que, segundo a mídia, debocham da sociedade e buscam guarida em normas brandas e na ineficiência do Estado em realizar a persecução criminal considerada “adequada” (BOLDT, 2013, p. 104).

Ademais, a mídia de massa, em seu discurso, acaba por influenciar o público a acreditar que os direitos fundamentais agem como barreiras para aplicação eficaz da sanção penal, e consequentemente a ascensão da impunidade de tais agentes.

E desta forma, após a divulgação do crime bárbaro, a mídia em seu discurso, busca indicar saídas que possam resolver decisivamente o problema da criminalidade, e diante de uma população amedrontada, esta acaba por ser “[...] induzida a não pensar nas raízes do problema, na possibilidade de enfrentá-lo em suas origens e simplesmente adere às sugestões propostas e passa a demandar mais repressão, novos tipos penais, mais prisões” (BOLDT, 2013, p. 105).

Ainda, segundo Boldt (2013, p. 106), a ideia de punir acaba espalhando-se através de um “discurso de emergência”, que busca alimento no temor da população, e sugere o domínio da criminalidade a partir da criação de novas normas penais, endurecimento das sanções e restrição de direitos e garantias fundamentais.

Em consequência, geram-se “políticas populistas”, que servem para abrandar o alarme social: “[...] Os legisladores de plantão estão sempre prontos com os seus pacotes de medidas de resolução da criminalidade que se traduzem, normalmente, em aumento de penas e restrições de garantias.” (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 52).

A partir dessas medidas - da construção de novas leis penais e do recrudescimento das penas -, cria-se a falsa impressão de que o governo está tomando as rédeas da criminalidade, e em consequência disto, aumentando a sua notoriedade. Como citado por Larrauri Pijoan (apud CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p. 55), como características do

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populismo punitivo podem ser citadas: penas mais altas, as quais poderiam reduzir o delito, penas ajudariam a reforçar o consenso moral existente na sociedade, e ganhos eleitorais que são obra deste uso.

Como bem explicado por Boldt, com o crescimento do medo nos brasileiros, geram-se reflexos notórios, criando a “legislação penal emergencial”, geram-senão vejamos:

Com exemplos significativos do endurecimento do sistema punitivo em razão do agigantamento do medo coletivo, podem ser mencionadas a Lei 8.072/90, que dispões sobre os crimes hediondos, a lei 8.930/04 introdutora de novas figuras no rol dos crimes hediondos, a lei 9.034/95, a chamada “Lei do Crime Organizado”, a lei 11.340/06, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha, e o regime Disciplinar Diferenciado (RDD), previsto na lei 7.210/84, manifestações contundentes do direito penal emergencial. (BOLDT, 2013, p. 109).

As leis acima mencionadas foram criadas a partir da divulgação de um caso novo e diferente, onde a população exigia uma saída para os problemas advindos do fato divulgado. Motivando, assim, interferências políticas e não mais jurídicas. Produzindo leis penais fundamentalmente políticas e irracionais, com consequente violação de direitos e garantias fundamentais.

Da mesma forma, a mídia de massa influencia também os aplicadores da lei criminal no Brasil. Em consequência, a pressão popular influencia o andamento processual desses casos polêmicos em destaque, até mesmo no seu julgamento. O magistrado, na intenção de dar uma efetiva resposta a população, aplica penas elevadas aos casos que tiveram grande repercussão social.

2.1 A influência da mídia na elaboração de normas penais infraconstitucionais no Brasil

A mídia de massa, ao divulgar um fato delituoso, influencia na percepção da realidade criminal de forma negativa e distorcida. Estabelece-se uma falsa realidade do mundo do crime, potencializando um clima de medo e insegurança na população. Isso acaba por transmitir a impressão de que se vive em uma sociedade criminalizada, e somente o Estado, com o seu poder de repreender, seria capaz de cessar a violência, o que desperta na população a ideia de que penas mais rigorosas e a prisão sejam a solução para o caos gerado pelo crime. Para Passeti e Silva (1997, p.141), “o imaginário popular, com efeito, impulsionado por

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notícias e interpretações tendenciosas dos meios de comunicação escrita e falada, vê na prisão o instrumento de vingança legítima do Estado e da recuperação do apenado”.

Evaristo de Morais Filho advertiu:

Repórteres e redatores de jornais, iludidos pelas primeiras aparências, no atabalhoamento da vida jornalística, cometem gravíssimas injustiças, lavram a priori sentenças de condenação ou absolvição, pesam na opinião pública e têm grande responsabilidade pelos veredictos. (FILHO, 1989, p.113)

A divulgação de crimes violentos “[...] abriu uma importante porta para a mídia que, juntamente com a narrativa do crime, difunde para a população a necessidade de medidas urgentes, para a reversão do quadro de criminalidade vivenciado.” (CONRAD, 2012, p. 54) Isso gera na população a “cobrança” de uma resposta por parte do legislador, resultando em leis mais severas.

A mídia aproveita a atenção que esses delitos surtem na população, para “[...] atingir os objetivos esperados com a veiculação desses fatos, quais sejam instalar o pânico geral e a sensação de insegurança na população, ‘vender’ a notícia e obter os lucros esperados.” (CONRAD, 2012, p. 54).

Com toda essa demanda expositiva e uma busca por respostas imediatas através do poder legislativo, é que se surgem as chamadas leis de ocasião, as quais se tratam

de uma aberração da democracia e de uma violência à racionalidade que deve presidir o poder punitivo estatal. Assim, para a doutrina, a presença da grande mídia é geralmente vista como um fator que deslegitima o processo de formação das leis penais; para os políticos, ao contrário, a mídia funciona, grande parte das vezes, como verdadeiro fiel da balança que confere legitimidade, ou não, às decisões legislativas. (SILVEIRA, 2010)

É entendida de forma ainda mais desfavorável a influência da mídia na elaboração de normas penais infraconstitucionais no Brasil, quando a lei responde a um caso concreto ou a uma consequência de matérias jornalísticas. Com base nisso Silveira (2010), arrolou as seguintes leis:

Nesse filão, poderíamos citar, com consideráveis chances de acerto, a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072, de 1990, especialmente ao aumentar as penas do crime de extorsão mediante sequestro), as leis que incluíram o homicídio qualificado e a adulteração de remédios entre os crimes hediondos (Leis nos 8.930, de 1994, e 9.685, de 1998, respectivamente), o Código de Trânsito (Lei nº 9.503, de 1997), a Lei do Assédio Sexual (Lei nº 10.224, de 2001), a Lei de Combate à Pirataria (Lei nº

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10.695, de 2003), o Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003), a Lei do Regime Disciplinar Diferenciado (Lei nº 10.792, de 2003), a Lei Seca (Lei nº 11.705, de 2008), entre outras. Em maior ou menor grau, referidas leis foram precedidas por agitações da mídia, e seria mesmo difícil compreendê-las se ignorarmos esse ingrediente. (SILVEIRA, 2010)

Desta lista, pode-se começar pela promulgação da Lei nº 8.072/90, a Lei dos Crimes Hediondos, impulsionada pelo sequestro do empresário Abílio Diniz, ocorrido em 1989. O clamor dos meios de comunicação, juntamente com a criminalidade urbana, fez com que o delito de extorsão mediante sequestro se tornasse hediondo. (ROMANHOL, 2010, p.42)

Zaffaroni e Pierangeli, lecionam:

Menos de 2 anos após a Constituição Federal de 1988, o legislador ordinário, pressionado por uma arquitetada atuação dos meios de comunicação social, formulava a lei 8072/90. Um sentimento de pânico e de insegurança – muito mais produto de comunicação do que realidade – tinha tomado conta do meio social e acarretava como consequência imediata a dramatização da violência e sua politização (ZAFFARONI, PIERANGELI, 2002, p. 36).

Quase quatro anos após a promulgação da Lei dos Crimes Hediondos, ocorreu a inclusão do delito de homicídio qualificado a este rol, através da Lei nº 8.930/1994, resultado de um projeto de lei de um deputado que se aproveitou da comoção implantada pelos meios de comunicação. Isto porque, em dezembro de 1992, a atriz Daniela Perez, que era filha da escritora Glória Perez, foi assassinada brutalmente pelo casal Guilherme de Pádua e Paula Thomaz. O caso teve grande repercussão na mídia, e Glória Perez, na intenção de incluir o delito no rol dos Crimes Hediondos, colheu milhares de assinaturas para encaminhar ao Congresso o projeto de lei, sendo que resultou na inclusão deste delito ao rol.

Ainda no “afã da mídia e do legislador em ‘hediondizar’ os crimes, em meados de 1998, diante de um famoso caso de falsificação de remédios, foi promulgada a Lei nº 9.695, de 20 de Agosto de 1998, acrescendo o inciso VII-B ao artigo 1º da Lei nº 8.072/90.” (MASCARENHAS, 2010). Esta lei foi promulgada com base no escândalo causado pela falsificação dos medicamentos, na qual foram encontrados mais de 138 remédios falsificados expostos e à venda nas farmácias e, após inúmeras fatalidades, como, por exemplo, idosos e crianças que entraram em óbito por tratamentos feitos com medicamentos à base de farinha de trigo, a sociedade e a mídia, aguardavam por justiça e por uma posição das autoridades competentes a respeito do assunto (MONTEIRO, 2002, p. 70).

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A lei acima descrita foi sancionada rapidamente pelo Presidente. Veja-se, o projeto foi aprovado, no dia 12 de agosto de 1998. No mesmo dia em que chegou ao Senado Federal, teve parecer favorável, vindo a ser aprovada no final do mesmo dia que foi entregue. E, finalmente, no dia 20 de agosto de 1998, foi sancionada pelo Presidente a Lei nº 9.695 (MONTEIRO, 2002, p. 73).

Acredita-se que essa lei fere o princípio da proporcionalidade, porque não há como fazer a equiparação de ofensividade à saúde pública entre os produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais com os produtos cosméticos (§ 1º). Isto quer dizer que, os produtos que têm por finalidade o embelezamento estético ou à preservação da beleza a simples saneantes, produtos destinados à higienização ou à desinfecção do local, não devem receber penas tão grandes e severas. Esses produtos de beleza e de higienização ambiental, não devem ser comparados conceitualmente com os produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais, e nem devem receber, o mesmo tratamento punitivo (PRADO, 2008, p. 167).

A pena aplicada para as condutas praticadas de acordo com o art. 273, são desproporcionais, pois é indispensável que o ato praticado lesione ou ponha em perigo um bem jurídico comum a todos. Há uma desproporção entre o desvalor do injusto e a gravidade da pena. Ocorre uma desproporcionalidade entre as condutas apontadas pelo art. 273, existindo uma sanção mais rigorosa a condutas valorativamente menos graves (PRADO, 2008, p. 168).

Tem-se também a Lei da Tortura, Lei nº 9.455/1997 criada imediatamente após a divulgação de imagens de policiais militares extorquindo dinheiro, humilhando, espancando e executando pessoas, no que, oficialmente, seria uma operação de combate ao tráfico de drogas na Favela Naval, em Diadema, no Estado de São Paulo. Ainda, contém a Lei 10.792/93, criada por causa do preso midiático Fernandinho Beira-Mar, diante da dificuldade do Estado em manter o criminoso isolado. A criação do Regime Disciplinar Diferenciado, inovação da Lei 10.792, foi mais uma aberração jurídica, sobejamente casuística e violadora de direitos do preso. (MASCARENHAS, 2010)

Ademais, ao analisar-se a imediatez e a forma com que leis são promulgadas, tem-se também casos que desencadeiam grandes polêmicas quanto ao ordenamento jurídico atual, como é o caso ocorrido em novembro de 2003, no qual a estudante Liana Friedenbach e seu

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namorado Felipe Caffé foram brutalmente assassinados por um grupo de criminosos, sendo que o chefe da quadrilha era um menor “Champinha”. Outro caso muito divulgado que “[...] deu ensejo a uma precipitada discussão sobre a redução da maioridade penal. O pai da jovem, o Advogado Ari Friendbach lidera um movimento neste sentido e detém o cabal apoio dos meios televisivos.” (MASCARENHAS, 2010).

Sobre o alarde da Mídia na divulgação deste caso o Professor Túlio Vianna discorre:

O homicídio dos adolescentes Liana e Felipe tão alardeado pela mídia não passaria de uma tragédia particular como tantas outras registradas cotidianamente em nossas delegacias de polícia, não fossem as circunstâncias nas quais ocorreu. Não me refiro ao grau de crueldade na execução do crime, pois dezenas de Marias e Joões são mortos todo dia em situações tão ou mais bárbaras e não são objeto sequer de uma nota nos jornais de primeiro escalão. O que difere este homicídio daqueles que já não vendem mais jornais é a posição ocupada pelas vítimas na sociedade. Na balança da mídia e de seus consumidores de tragédias pessoais, a vida de um adolescente de classe média vale muito mais do que a de um João e Maria...

O que choca nas mortes de Liana e Felipe, não são as circunstâncias da execução, mas a transferência que o leitor-telespectador-consumidor faz, colocando seus próprios filhos na situação das vítimas de fato. As mortes das Marias e Joões não chocam, pois se dão nas favelas, na periferia, em suma, em lugares demasiadamente distantes e “perigosos” – as aspas aqui são imprescindíveis – para a maioria dos filhos da classe média. (2003)

Ainda, na discussão sobre a maioridade penal, tem-se a morte do menino João Hélio Fernandes. Logo após o acontecido, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado teria aprovado a proposta de redução da maioridade penal, porque um dos autores do roubo era menor. Esse projeto alteraria o artigo 228 da Constituição Federal, reduzindo para 16 (dezesseis) anos a idade para imputabilidade penal.

Em 2008, para tentar conter-se a expansão das milícias no Rio de Janeiro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que alteraria vários dispositivos do Código Penal, sem nenhuma chance de efeito prático. Foi mais uma “legislação penal de emergência”, ou seja, mais uma inovação legislativa apressada, que foi editada para acalmar os ânimos da população, ou seja, para mostrar serviço para sociedade. (ROMANHOL, 2010, p.44). Ademais, tem-se o Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503/97 também é um exemplo de uma intensa discussão dos meios de comunicação. O debate foi amplo e acalorado.

Desta forma, não há como o legislador dizer que a mídia não constitua um dos principais alicerces para a elaboração das leis penais. “Nesse sentido, muito do incremento da

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produção normativa em direito penal deve-se à atuação dos meios de comunicação.” Podemos dizer que a mídia dita às ações legislativas ou boa parte delas. “O seu poder é realmente avassalador, no sentido literal da palavra”. (SILVEIRA, 2010)

Assim, o legislativo acaba atuando sob o comando da emergência. “Basta um fato escandaloso e a pressão da mídia para surgirem novas leis. [...] O que o Poder Político oferece é o conforto enganoso de uma nova lei.” (ROMANHOL, 2010, p.45).

Diante disso, também há que se analisar os casos em que a desenfreada exposição de fatos delitos pela mídia de massa acaba por influenciar outros órgãos repressores. No próximo ponto veremos de que forma essa influência altera a conduta dos juízes criminais no Brasil, usando julgados como comparativo.

2.2 A influência da mídia na conduta dos juízes criminais no Brasil: uma análise de julgados

Como já discorrido anteriormente, a influência da mídia é ilimitada na área penal, podendo-se chegar até mesmo àquela pessoa que foi preparada juridicamente para ser imparcial e ter independência em suas decisões, o juiz penal. Nem mesmo ele consegue se desvencilhar da pressão e influência exercida pela mídia. A partir disso, buscar-se-á analisar de que forma isso ocorre e os resultados práticos dessa influência nas penas aplicadas.

Nem sempre apenas a divulgação do crime pela mídia, a qual ao transmitir a notícia delimita que são os mocinhos e quem são os bandidos, basta para influenciar o juiz, mas muitas vezes acaba por servir como “[...]uma pressão implícita na sua consciência, o levando a agir de acordo com o que pensa que lhe é esperado, mesmo sem que a mídia se manifeste nesse sentido.” (DOMINGUEZ, 2009, p. 5)

A partir dessa pressão implícita, muitas vezes o julgador fica compelido a agir de forma mais rigorosa, decretando prisões preventivas em casos nos quais ela não caberia, buscando sua aceitação pessoal, por entender que seja isso que a mídia e sociedade irão reclamar. Apesar de não ser uma pressão direta, o juiz sente-se pressionado, pelo fato de que “[...] quase sempre a mídia e a sociedade espera algo do juiz, e este tendo esta consciência, se sente coagido [...] a agir.” (DOMINGUEZ, p. 05, 2009).

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Ademais, há também a forma de pressão tácita por meio da qual a mídia divulga o fato delituoso e já se revela na necessidade da prisão e condenação do agente. Diante do pré-julgamento da mídia a sociedade manifesta-se pedindo maior rigorosidade do órgão judiciário, impelindo o juiz penal a julgar e/ou decidir influenciado.

Há que se atentar que os crimes mais divulgados são os de competência do Tribunal do Júri, nos quais, apesar de o juiz não decidir acerca da culpabilidade do réu, é o responsável por todos os atos processuais, inclusive o de sentenciar. O juiz ao dosar a pena deve levar em consideração a necessidade de punir o criminoso e prevenir a prática criminosa. No entanto, a influência da mídia faz com que o “homem-juiz” puna rigorosamente o criminoso.

Os anseios da população, de certa forma, influenciam o juiz no momento de aplicar o quantum ideal da pena. O que era para ser uma punição ao criminoso, acaba sendo um meio desnecessário e injusto, e o que era para prevenir, acaba ultrapassando os patamares estipulados. O magistrado sofre, com a influência nos crimes de grande repercussão, talvez visando acalmar a ira da população. (CRUVIEL NETO, 2013)

Esse juízo será analisado, ao compararem-se as sentenças e decisões criminais de um caso célebre, que possui grande repercussão midiática - como, por exemplo, o caso Isabella Nardoni e caso Suzane Von Richthofen; de um caso incógnito, que não se torna público, tendo apenas como abarcados as partes e os envoltos processuais – como, por exemplo, o caso Pedro Henrique e caso Amarildo.

Ao confrontar-se o Caso Isabella Nardoni, amplamente já discutido, como o caso Pedro Henrique, tem-se as seguintes semelhanças:

As semelhanças se dão por conta de que ambos os pais eram divorciados e estavam em seu segundo casamento (Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá), (Juliano Gunello e Kátia Marques); os suspeitos em ambos os casos eram advindos do segundo relacionamento, ou seja, padrasto e mãe (Pedro Henrique), e madrasta e pai (Isabella); as vítimas tinham a mesma idade, 05 (cinco) anos; ambos os acusados negam a prática dos crimes. (CRUVIEL NETO, 2013)

Como fatos, inclui-se o apurado em sede de investigação Criminal, no Caso Isabella Nardoni apurou-se:

ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, qualificados nos autos, foram denunciados pelo Ministério Público porque no dia 29 de março de 2.008, por volta de 23:49 horas, na rua Santa Leocádia, nº 138, apartamento 62, vila Isolina Mazei, nesta Capital, agindo em

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concurso e com identidade de propósitos, teriam praticado crime de homicídio triplamente qualificado pelo meio cruel (asfixia mecânica e sofrimento intenso), utilização de recurso que impossibilitou a defesa da ofendida (surpresa na esganadura e lançamento inconsciente pela janela) e com o objetivo de ocultar crime anteriormente cometido (esganadura e ferimentos praticados anteriormente contra a mesma vítima) contra a menina ISABELLA OLIVEIRA NARDONI. Aponta a denúncia também que os acusados, após a prática do crime de homicídio referido acima, teriam incorrido também no delito de fraude processual, ao alterarem o local do crime com o objetivo de inovarem artificiosamente o estado do lugar e dos objetos ali existentes, com a finalidade de induzir a erro o juiz e os peritos e, com isso, produzir efeito em processo penal que viria a ser iniciado. (FOSSEN, 2010, p. 1).

E no caso Pedro Henrique, as informações de sede investigativa são:

Kátia Marques e Juliano Aparecido Gunello foram denunciados como incursos no

artigo 1º, inciso II, parágrafo 3º, parte final e parágrafo 4º, inciso II, da Lei nº 9.455/97, combinado com o artigo 61, inciso II, letras “e” e “f”, do Código Penal, porque expuseram à perigo a vida e a saúde da criança Pedro Henrique Marques Rodrigues, com cinco anos de idade, pessoa que tinham sob seu poder e guarda, privando-a de alimentos e cuidados indispensáveis, aplicando castigos pessoais e abusando dos meios de correção e disciplina com violência, e submetendo-a a intenso sofrimento físico e mental, donde adveio a sua morte agônica. Consta da inicial que no dia 12 de junho de 2008, por volta das 11h45min, no Hospital SantaLydia, neste município, a criança faleceu; os acusados Kátia e Juliano justificaram, na ocasião, que a vítima havia ingerido o produto denominado Semorin; todavia, a equipe médica constatou, de início, que não existia indicativo de ingestão de referida substância e que o corpo de Pedro apresentava inúmeras equimoses e fratura no punho direito; médicos legistas realizaram exame necroscópico no cadáver e constataram que a vítima morreu devido à insuficiência respiratória decorrente dos efeitos da embolia gordurosa pulmonar em virtude de politraumatismos característicos de violência contra a criança. Narra, ainda, a inicial que o acusado Juliano torturava a vítima por intermédio de ofensas, humilhação e agressões, estas múltiplas e graves, a título de correção e imposição de disciplina, com o que consentia a acusada Kátia, que a tudo assistia e de nada discordava, pelo contrário, contribuía com sua postura agressiva e intencionalmente omissiva; essa tortura a Pedro prolongou-se por mais de um ano, dela advindo os problemas que deram causa à morte, vez que a diagnosticada síndrome da criança espancada, processo lento e gradual de deterioração da saúde. (NETO, 2010, p. 01-02)

As diferenças se têm a partir da importância que a mídia aplicou a cada caso. No caso da Isabella Nardoni foi mundialmente divulgado, enquanto do Pedro Henrique as divulgações se deram em apenas algumas mídias locais, sendo que isso afetou inteiramente as decisões prolatadas, como veremos:

[...] os acusados Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá aguardaram o decorrer da instrução processual presos. Já os acusados Juliano Gunello e Kátia Marques aguardaram a marcha processual em liberdade. No caso Isabella, Alexandre Nardoni foi condenado a 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês, e 10 (dez) dias de reclusão, a iniciar-se em regime fechado, e Anna Carolina Jatobá a 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, também a iniciar-se em regime fechado. No caso Pedro Henrique, ambos os acusados, Juliano e Kátia, foram condenados a 07 (sete) anos de reclusão, em regime inicial semiaberto. Segundo consta das investigações realizadas, antes de se dar o ilícito acontecido, Isabella Nardoni não sofria maus tratos por parte

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de Alexandre e Anna Carolina Jatobá durante o tempo em que passava com o pai e a madrasta. (CRUVIEL NETO, 2013)

Para reforçar essa ideia, pode-se comparar mais dois casos, quais sejam, caso Suzane Von Richthofen versus caso Amarildo. O caso Suzane Von Richthofen foi bastante divulgado pela mídia, o qual narra a história de uma moça de classe média alta que abalou e chocou todo o país pelo planejamento do assassinato de seus pais Manfred Albert Von Richthofen e Marísia Von Richthofen, dos fatos tem-se:

Na madrugada do dia 31 de outubro, Daniel e o irmão Cristian aguardaram que Suzane confirmasse que seus pais estavam dormindo e entraram com ela na casa dos Richthofen. Suzane guiou-os pela sala, subiu as escadas na frente e ficou aguardando que entrassem no quarto. Assim que entraram, ela acionou o interruptor de luz para facilitar a locomoção dos assassinos. Nesse ponto, afirma, desceu para a biblioteca. Manfred e Marísia dormiam. O primeiro a atacar foi Daniel, que golpeou Manfred na cabeça com uma barra de ferro. Em seguida, Cristian, com uma barra idêntica nas mãos, atingiu Marísia. Manfred desmaiou logo. Marísia, não. Ao ser atacada, acordou e tentou proteger-se com as mãos. Alguns de seus dedos foram quebrados com a violência das pancadas. Recebeu golpes na cabeça e no rosto. A certa altura, já agonizante, passou a emitir um som “parecido com um ronco”, segundo relatou Cristian à polícia. Na tentativa de silenciá-la, o jovem pegou uma toalha do casal no banheiro e empurrou-a pela garganta da psiquiatra. Um dos ossos do pescoço de Marísia foi quebrado. Depois de constatarem que suas vítimas estavam mortas, Daniel colocou uma arma pertencente a Manfred, perto de seu braço, ao lado da cama. Depois, cobriu o rosto de Manfred com uma toalha. O de Marísia foi envolvido em uma sacola plástica de lixo, que havia sido deixada por Suzane na escada para que os irmãos depositassem as barras de ferro e suas roupas manchadas de sangue.

A moça disse à polícia que, enquanto os pais eram mortos, ela permaneceu no andar de baixo da casa, caminhando entre a sala e a biblioteca. Suzane afirma que, na maior parte do tempo, chorou, com os ouvidos tampados com as mãos. Teve, no entanto, suficiente sangue frio para espalhar documentos e contas a pagar pelo chão da biblioteca, também ajudou os irmãos a arrombar, com uma faca, a maleta em que o pai escondia dinheiro e a colocar 8 000 reais e 5 000 dólares na mochila de Cristian. Embora soubesse o segredo da pasta, Suzane deduziu que o arrombamento daria mais veracidade à farsa. Depois do crime, Suzane e Daniel deixaram Cristian perto da casa dele e foram para um motel. No primeiro depoimento que prestaram à polícia, logo após o crime, os dois afirmaram ter mantido relações sexuais naquela noite. Mais tarde, mudaram a versão. Do motel, pegaram o irmão Andreas, que havia sido deixado por eles num ciber-café próximo à casa dos pais. Suzane entrou em casa junto com o irmão. Depois de simular surpresa diante dos indícios do “assalto”, cumpriu o roteiro combinado com o namorado: na frente de Andreas, que nada sabia, ligou para Daniel pedindo ajuda e obedeceu a seu conselho de chamar a polícia.” (LINHARES, 2006, p. 109-110).

De outro lado há o caso do Amarildo, que segundo a denúncia do Ministério Público ocorre da seguinte forma:

Noticiam os inclusos autos de inquérito policial que no dia 29 de junho do corrente ano, por volta das 11:30 horas, no local denominado “Abobrinha Loterias”, situado na Av. Presidente Vargas, nº 475, centro, nesta urbe, o indiciado assassinou com um tiro de garrucha, seu próprio pai, AILDO MARTINS BORGES.

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Segundo restou apurado até aqui, o estabelecimento era explorado como banca de jogo do bicho e carteado, com nome fantasia de “Abobrinha Loterias”. Ante as notícias veiculadas nos meios de comunicação meses atrás, sobre a pressão que vinha sofrendo esta atividade contravencional em todo país, resolveram desativar o jogo e dividir o imóvel onde funcionava, no endereço já alinhado, construindo um muro de placas ao meio do lote.

Pronto o muro, insatisfeita, a vítima questiona junto ao indiciado, ponderando que o mesmo deveria ter sido construído mais recuado, haja vista ter Amarildo ficado com a melhor parte, o que não concordou este, gerando daí uma discussão.

Afirmam as testemunhas inquiridas pela autoridade policial que no calor da discussão trocaram ofensas recíprocas, até que Aildo disse ao filho que ele não prestava e esta furtando-o, momento em que Amarildo saca de uma garrucha que trazia na cinta e queima roupa, dispara um tiro na altura do ombro direito do seu pai indo o projetil penetrar-lhe o hemitorax direito, causando choque hemorrágico e sua consequente morte, antes de chegar ao hospital para socorro médico.

Como pode ver, não esperava a vítima reação tão violenta do próprio filho, ao lhe atingir mortalmente, colhendo-o de surpresa, portanto. Às fls. 26, percebe-se o auto de exibição e apreensão do objeto material usado no cometimento do crime, ou seja uma garrucha dois canos, marca Rossi, calibre 22, apreendida em poder do indiciado, bem como as fls. 33/36, o exame de corpo de delito (laudo de exame cadavérico) comprovando a materialidade do fato.” (TOCANTINS. Aguinaldo Bezerra Lino. Promotor de Justiça. 1994. Denúncia disponível no Cartório da 1ª Vara Criminal de Rio Verde-GO. Autos nº 9400641400. p. 02/04).

Ao analisar-se, vê-se que os dois casos se assemelham, pois tanto Suzane quanto Amarildo cometeram o crime de parricídio. Com a diferença de que Suzane também comentou o crime de matricídio. Apesar disso, os dois réus eram primários e confessaram os crimes. Mas as semelhanças vão até ai, pois “[...] tratando-se das diferenças em que a marcha processual se deu nos dois casos, bem como a publicidade que os acusados obtiveram, além do que a dosimetria da pena sui generis em particular que cada um foi condenado.” (CRUVIEL NETO, 2013).

Suzane Von Richthofen foi condenada a 19 anos e 06 meses de reclusão pela morte de seu pai, tendo sua pena total somada em 39 anos e 06 meses de reclusão. Não podendo apelar em liberdade, devido a sua alta periculosidade. Já Amarildo fora condenado a 06 anos de reclusão, com regime inicial semiaberto e pode recorrer em liberdade.

Casos semelhantes com penas bem distintas. Ademais Suzane foi rigorosamente punida por cogitar a morte dos pais, sendo que Amarildo, quem matou o pai a queima roupa, teve uma pena bem inferior. Fica clara a influência desenfreada da mídia na resolução dos crimes. (CRUVIEL NETO, 2013).

Desta forma, ao analisar os casos expostos, é perceptível a influência de a mídia no desenrolar de cada um dos casos. Casos tão semelhantes entre si e com penas corporais tão

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