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Contribuições do profissional da psicologia em emergências e desastres

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Academic year: 2021

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DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

DAIANI KESSLER

CONTRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA EM

EMERGÊNCIAS E DESASTRES

SANTA ROSA – RS

2020

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DAIANI KESSLER

CONTRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA EM

EMERGÊNCIAS E DESASTRES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Profa. Me. Flávia Flach

SANTA ROSA – RS 2020

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DAIANI KESSLER

CONTRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Psicologia.

Avaliado em: __/__/____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Mestre Flávia Flach

Docente do Curso de Psicologia da Unijuí

________________________________________ Mestre e Doutora Taís Cervi

Docente do Curso de Psicologia da Unijuí

SANTA ROSA – RS 2020

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O presente trabalho tem como objetivo apresentar e discutir sobre a área da psicologia das Emergências e Desastres, mais especificamente, sobre a atuação do profissional da psicologia nesse campo. Para tanto, a pesquisa será de abordagem qualitativa descritiva e exploratória por meio de levantamento bibliográfico de artigos científicos consultados na base de dados da Scielo, portal CAPES, entre outros. Percebemos que os desastres vêm ocorrendo com maior frequência nos dias de hoje, em resposta a isso, cada vez mais surgem iniciativas e ações no intuito de pensar novas estratégias para uma atuação rápida e eficaz a quem necessite. Apesar de ainda ser uma área desconhecida por muitos, a psicologia já desenvolveu muitos estudos e pesquisas voltados a elaboração de estratégias de prevenção e mitigação dos riscos, no que diz respeito ao sofrimento humano das vítimas ou afetados, amparando-os e prestando acolhimento frente ao caos, auxiliando no pós evento com questões como luto e estresse pós-traumático (TEPT). As possíveis contribuições da psicologia na área são amplas, relevantes e o preparo profissional nesse contexto é imprescindível e decisivo para a sustentação de uma proposta e construção de um plano de intervenção.

Palavras-chave: Emergências e Desastres. Intervenção. Defesa Civil. Psicólogo.

ABSTRACT

The present work aims to present and discuss about the area of Psychology of Emergencies and Disasters, more specifically, about the role of the psychology professional in this field. Therefore, the research will be of a descriptive and exploratory qualitative approach through bibliographic survey of scientific articles consulted in the database of Scielo, CAPES portal, among others. We realize that disasters are occurring more frequently nowadays, in response to this, more and more initiatives and actions are emerging in order to think of new strategies for a quick and effective action to those in need. Although it is still an unknown area for many, psychology has already developed many studies and research aimed at the elaboration of risk prevention and mitigation strategies, with regard to the human suffering of the victims or affected, supporting them and welcoming them. chaos, assisting in the post-event with issues such as grief and post-traumatic stress (PTSD). The possible contributions of psychology in the area are broad, relevant, and professional training in this context is essential and decisive for sustaining a proposal and building an intervention plan.

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Agradeço primeiramente a Deus por ter me mantido na trilha certa durante este projeto de pesquisa com saúde e forças para chegar até o final.

Gratidão à minha família pelo apoio de sempre durante toda a minha vida, em especial minha mãe Vera Balhejos e ao meu namorado Gerson Cambimba pelo incentivo, amor e compreensão das várias horas em que estive ausente por causa do desenvolvimento deste trabalho.

Deixo um agradecimento especial a minha orientadora Flavia Flach por aceitar conduzir o meu trabalho de pesquisa, por todas suas contribuições e dedicação em me auxiliar nessa escrita.

E por último, quero agradecer à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- UNIJUÍ e a todos os professores do meu curso pela elevada qualidade do ensino oferecido.

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“Toda dor pode ser suportada se sobre ela Puder ser contada uma história.”

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INTRODUÇÃO...08

1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA...10

2. DEFINIÇÕES E CONCEITOS...19

3. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES...27

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...36

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INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem por objetivo compreender a área da Psicologia das Emergências e Desastres e pensar como se dá a atuação deste profissional, visto que tais situações podem vir a causar sofrimento e desencadear o desenvolvimento de sintomas tanto físicos quanto psíquicos. Assim é imprescindível que o psicólogo esteja inserido nesse meio construindo alternativas que venham a contribuir em todas as fases da ocorrência dos desastres.

O interesse pelo tema surgiu por meio de um curso de avaliação psicossocial, onde o trabalho do psicólogo era avaliar e, posteriormente, selecionar pessoas para trabalhar em áreas de risco, como espaços confinados, altura, eletricidade entre outros. A avaliação basicamente estava voltada para a estrutura psíquica do colaborador que iria atuar nas áreas de riscos previstos nas Normas Regulamentadoras (NRs). Por meio dessa aproximação, surge a curiosidade em saber mais sobre a atuação do psicólogo nesses contextos, ampliando assim o conhecimento sobre as possibilidades de atuação dos profissionais da Psicologia.

Em seguida, houve a oportunidade da realização do estágio curricular de Ênfase em Psicologia e Processos Organizacionais e do trabalho na corporação dos Bombeiros Militares. Nesse espaço foi desenvolvido um projeto de estágio voltado ao campo da saúde mental dos socorristas e profissionais do setor operacional, que estão na linha de frente em emergências e desastres. Essa experiência viabilizou a escuta destes profissionais que trouxeram relatos tristes, angustiantes, de morte, perdas e, também, de heroísmo, empatia e solidariedade que permitiram entender o significado do trabalho naquele contexto.

Nesse sentido, observando a frequência que os desastres vêm ocorrendo em toda parte do mundo, abordar esse tema é fundamental e relevante para a sociedade, pois fica claro o quanto estamos suscetíveis a passar por eventos dessa ordem em algum momento de nossas vidas, seja como vítima ou prestando ajuda como profissional.

Nesse campo de trabalho a capacitação técnica, o aprofundamento teórico e o posicionamento ético andam juntos. Assim, pode-se pensar que é preciso o trabalho de uma rede interdisciplinar para o auxílio e cuidado das pessoas envolvidas em situações de emergência e desastre, como a defesa civil, bombeiros, médicos,

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enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, voluntários e agentes da própria comunidade.

Dessa forma, no primeiro capítulo pretende-se fazer um resgate histórico do surgimento da área da psicologia das emergências e desastres trazendo as principais ações e órgãos que impulsionaram e colaboraram para o desenvolvimento dessa área tanto a nível mundial quanto nacional. O segundo capítulo, tem como objetivo apresentar os principais conceitos dessa área de atuação e o terceiro e último capítulo busca compreender como um profissional da psicologia atuaria frente as vítimas e ou as pessoas afetadas por desastres.

A pesquisa será de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. A coleta de dados e informações será realizada por meio de levantamento bibliográfico tendo como instrumentos livros e artigos científicos consultados nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) entre outros sites que contemplam publicações de cunho científico.

Diante disso, reafirma-se o interesse e compromisso com esse tema, buscando referências com sustentação teórica para a atuação colaborativa do profissional da psicologia em emergências e desastres, o qual deve estar capacitado e de acordo com as determinações éticas da profissão.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A área das emergências e desastres sempre esteve presente em nossa sociedade, portanto é a partir do final do século XX que a mesma ganha notoriedade e passa a ser estudada em caráter teórico científico e reflexivo.

Visto que os desastres desestabilizam o sujeito e são causadores de grandes perdas e sofrimentos, surgem ações, iniciativas e órgãos a fim de prestar serviço e pensar estratégias de intervenção nesses contextos em prol da comunidade atingida. Portanto, pretende-se inicialmente fazer um resgate histórico, com os principais marcos e organizações que compõem e que consolidaram a área.

O campo da Psicologia das Emergências surgiu nos EUA, início do século XX, em resposta a grandes tragédias. Segundo Coelho (2006), Edward Stierlin (psiquiatra) foi quem desenvolveu o primeiro estudo sobre a inserção do psicólogo nessa área no ano de 1909, buscando entender as ações relacionadas às emoções dos indivíduos envolvidos em desastres.

O evento que desencadeou esse interesse foi a explosão de uma mina de carvão em 10 de março de 1906 na França que resultou na morte de 1.099 mineiros e centenas de pessoas feridas gravemente, sendo necessário o apoio ás famílias, amigos e sobreviventes. Há também registros de estudos na época das guerras mundiais, sob os efeitos desencadeados pelo campo de batalha como o estresse pós-traumático e a neurose de guerra.

De acordo Franco (2015), na primeira guerra tem-se a contribuição de Salmon, que oferecia suporte psicológico aos combatentes para auxilia-los no enfrentamento da constante ameaça vivida e minimizar os efeitos devastadores da situação. Na segunda guerra, os autores Kardiner e Spiegel desenvolveram estudos sobre o conceito de trauma que para eles é um evento externo que inicia numa abrupta mudança, e interfere no desenvolvimento do sujeito.

No ano de 1917, ocorreu no Canadá o desastre de Halifax, provocado pelo choque acidental entre dois navios, um Francês cheio de explosivos, e um navio Belga, que ocasionou um tsunami destruindo parte da capital da província da Nova Escócia. Por meio desse acidente, Samuel Price se dedicou a estudar as variáveis psicológicas envolvidas, resultando no que conhecemos hoje de ciclo do desastre, que será abordado no capítulo seguinte.

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Seguindo o percurso histórico, no ano de 1944, outro estudo que ganhou destaque, foi desenvolvido por Erich Lindemann, sobre a “intervenção psicológica no pós-desastre, através da avaliação sistemática das respostas psicológicas dos sobreviventes e de seus familiares no incêndio do Clube Noturno Coconut Grove, em Boston, EUA” (CARVALHO, 2009, p. 03).

Esse evento resultou no total de 492 mortos e mais de 600 feridos, após o fogo se alastrar através de uma palmeira (item decorativo), espalhando-se rapidamente pelas paredes e teto do local. Apesar dos danos irreversíveis, mortes e sofrimento, essa tragédia trouxe significativas mudanças na legislação de segurança contra incêndios, estimulando ações de prevenção em todo país.

Mais tarde, na década de 1960 e 1970, o interesse das pesquisas passa a ser as reações individuais no pós-desastre. Nesse mesmo momento, mais especificamente, no ano de 1970 a American Psychological Association (APA) lança um manual de orientação para prestar os primeiros socorros psicológicos em catástrofes, centrada nas reações encontradas no pós-desastre, e na identificação de vítimas fragilizadas emocionalmente.

A título de conhecimento, surge na França no ano de 1971, uma organização humanitária nomeada de Médicos Sem Fronteiras (MSF), oferecendo cuidado em saúde e apoio psicológico as vítimas de desastres, epidemias, guerras ou ainda que foram violentadas sexualmente em seus países, onde a produção de cuidado é baixíssima ou ainda inexistente. Entre as motivações da organização está a possibilidade de oferecer serviço gratuito para populações sem recursos financeiros, onde as instalações de saúde são escassas e profissionais qualificados são raros.

As ações são viabilizadas conforme o próprio MSF determina, ou seja, onde; quando e como agir, avaliando a localidade que mais necessita de atendimento. As equipes são escaladas para a missão, no período de 48 e 72 horas, em casos de desastres naturais, deslocando-se imediatamente para a região afetada utilizando kits personalizados e adaptados para cada contexto. Neles contêm medicamentos, suprimentos e equipamentos básicos que atendem determinada necessidade.

Sabendo dos efeitos produzidos após os desastres nas vítimas e o quanto esses sujeitos ficavam abalados e fragilizados, por meio do Instituto de Saúde Mental do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, em 1974 foi promulgada a primeira lei que regulamenta a atuação e ajuda em desastres e a intervenção de profissionais da psicologia junto aos afetados. Essa lei determina que toda pessoa que vivencia um

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evento de emergência e/ou desastre, receba acompanhamento psicológico por tempo indeterminado, até que seja possível dar continuidade a sua rotina, de maneira autônoma, sem maiores danos (BENEVIDES, 2015).

Observa-se que a maioria, se não todas das ações, programas e congressos, em emergência e desastres surgem após algum acontecimento, e que é a partir disso que as equipes se mobilizam para pensar estratégias e ações a fim de reduzir os danos ou trabalhar na prevenção de um novo incidente. É o caso do surgimento do programa de intervenção em crises desenvolvido pela Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma do México, do Instituto Mexicano de Psicanálise e do Instituto Mexicano de Segurança Social, no ano de 1985 após o terremoto ocorrido na Cidade do México, com o objetivo de oferecer apoio psicológico aos afetados.

Um acidente que marcou o mundo foi a explosão da usina de Chernobyl, causado por uma falha humana que ocorreu em 26 de abril de 1986, na Ucrânia, sendo considerado o pior acidente nuclear da história. O fato aconteceu por problemas nas hastes de controle de um reator que foram mal projetadas por erros no manuseio da máquina.

A explosão do reator nuclear causou uma enorme liberação de resíduos tóxicos na atmosfera que tomou conta do local contaminando inúmeras pessoas da região. Após o acidente muitos problemas de saúde começaram a aparecer na população, como o câncer de tireoide, casos de leucemia, problemas de circulação e catarata. Além disso, haviam muitos casos relacionados ao estado mental dos sobreviventes, que ficaram traumatizados pelo ocorrido, sendo necessária a intervenção de profissionais da psicologia.

No ano seguinte, em 1987, um evento similar envolvendo material radioativo, marca a atuação da psicologia das emergências e desastres no Brasil, o desastre do césio-137 em Goiânia, estado de Goiás.

De acordo Pereira (2005), no dia 13 de setembro de 1987, em Goiânia este desastre resultou no maior acidente radioativo do país. Pereira (2005) afirma que de 1972 a 1984, funcionou o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que ao migrar de endereço, abandonou no interior das instalações antigas, o equipamento de tele radioterapia.

Fazendo parte deste equipamento havia uma cápsula de chumbo, que dois catadores de papel e sucata retiraram do local, com a intenção de vender ao ferro velho, pois consideravam que está teria grande valia. Ao vender para o dono do ferro

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velho, dois funcionários abriram a cápsula e observaram que dentro continha uma espécie de “pó luminoso”. Encantados com o brilho distribuíram para várias famílias, achando que fosse algo valioso. Sabe-se que até os dias atuais, pessoas sofrem com as consequências desta catástrofe (PEREIRA, 2005).

Barbosa (2009) cita que a intervenção do psicólogo nesse evento em Goiânia aconteceu a partir da terceira semana após o acidente, sendo que sua atuação estava pautada em “reduzir a ansiedade através da reflexão, por meio de técnicas que dessem vazão aos sentimentos, minimizando o medo da morte e a crise frente à situação de isolamento” (BARBOSA, 2009, p. 53).

Há registros também da contribuição nesse desastre da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Católica de Goiânia (UCG) em conjunto com uma equipe de psicólogos cubanos, que já haviam atuado no Acidente Nuclear de Chernobyl, prestando atendimento aos atingidos e adaptando o mesmo programa utilizado em 1986 às necessidades da comunidade afetada.

Outro registro que se tem quanto a história da psicologia nas emergências e desastres é criação da linha telefônica nomeada de “info-saúde”, com o intuito de dar amparo psicológico durante as 72 horas após o sinistro no mercado popular Mesa Redonda em 2001, localizado no centro de Lima, Peru. O incêndio de grandes proporções contou com o trabalho de 500 bombeiros para combater o fogo que ocasionou a morte de 300 pessoas. Neste episódio, a Sociedade Peruana em Emergências e Desastres foi acionada para atuar no sentido de informar a população das reações normais de luto.

Conforme Carvalho (2009), no ano de 2002, aconteceu o I Congresso de Psicologia das Emergências e dos Desastres em Lima, capital do Peru. E neste evento foi criada a Federação Latino-Americana de Psicologia das Emergências e dos Desastres (FLAPED), “com o objetivo de reunir psicólogos de diversas nacionalidades no Peru e fazer com que os mesmos que retornassem aos seus países também fossem despertados pela mesma intenção” (CARVALHO, 2009, p. 04).

Em 19 de março de 2004 surge a Sociedade Chilena de Psicologia das Emergências e Desastres (SOCHPED), com a missão de descrever e explicar os processos psicológicos que aparecem nesses cenários; desenvolver e ensinar técnicas psicológicas, selecionar pessoas para integrar grupos de resgate e trabalhos

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de risco em geral, capacitar psicologicamente a comunidade para enfrentar os ocorridos e, além disso, gerar conhecimento psicológico especializado.

No Brasil, a temática começou a ser discutida pelo Conselho Federal de Psicologia, no ano de 2005 (CFP, 2009), quando realizou uma mesa-redonda intitulada “Subjetividade, Ecologia e Desastres: a contribuição da psicologia na américa latina”, durante o I Congresso Latino-americano da Psicologia ULAPSI.

No ano seguinte, em 2006 tem-se o registro da realização do I Seminário Nacional de Psicologia das Emergências e dos Desastres em Brasília intitulada “Contribuições para a Construção de Comunidades mais Seguras”, iniciativa da Secretaria Nacional de Defesa Civil e do Conselho Federal de Psicologia. Neste mesmo momento, acontecia a primeira reunião internacional por uma formação especializada em Psicologia das emergências e desastres, que procurava sintetizar elementos curriculares, os quais deveriam compor a formação dos futuros profissionais que cooperariam com a Defesa Civil (CARVALHO, 2009).

O tema também foi apresentado e debatido com destaque no V Seminário Nacional de Defesa Civil – Defencil, ocorrido em São Paulo em 2009, com a realização de simpósios e oficinas sobre o atendimento psicológico às vítimas de emergências e desastres, o trabalho com as equipes de respostas, a participação da psicologia na construção de políticas da defesa civil e ainda foi debatido sobre a criação de um currículo em nível de especialização para a atuação nesses cenários. (DEFENCIL, 2009).

Com esses debates e espaços de discussão, a área passou a ganhar visibilidade ao mesmo tempo que foram estruturando e consolidando as formas de intervenção.

No Brasil, a área ainda é recente, porém vem crescendo gradual e significamente. Nos países como Chile, México, Venezuela, Argentina e Peru, já existem sociedades ou associações em que esta temática e área de atuação são bastante conhecidas, nelas os estudos são permanentes e realizados a fim de aperfeiçoar as técnicas já existentes, assim como o objetivo de desenvolverem novas estratégias de apoio psicológico às populações atingidas por uma emergência ou calamidade.

Conforme Carvalho (2009), um fato relevante na história do campo, no Brasil, ocorreu em fevereiro de 2008, quando o Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-12) assinou o termo de cooperação com a Secretaria Executiva de

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Justiça e Cidadania do Estado, propondo ações e desenvolvendo referências técnicas junto a Defesa Civil Estadual, para atuação frente às emergências e aos desastres.

Segundo a Defesa Civil apud Freitas (2010), neste mesmo ano, ocorreu em Santa Catarina, uma enchente no Vale do Itajaí, que atingiu 97.680 pessoas em 63 municípios, tal situação levou o Estado a decretar Estado de Calamidade Pública (ECP). Para prestar ajuda aos afetados foi criado um grupo de ajuda humanitária entre a Aliança Internacional Save the Children; o CRP-12-SC; as Secretarias de Assistência Social, Trabalho, Habitação e Defesa Civil do Estado; as psicólogas do Conselho Federal de Psicologia e da Defesa Civil Nacional e a Organização dos Estados Americanos OEA.

No ano seguinte, janeiro de 2009, mobilizados ainda por essa enchente “os profissionais da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) realizaram capacitações para os indivíduos envolvidos no atendimento aos atingidos” (CARVALHO, 2009, p. 05). O trabalho foi baseado em um protocolo de atuação referenciado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) mediante o ofício circular nº 0519 de 2008.

Uma das grandes conquistas para a área foi a criação da Associação Brasileira de Psicologia nas Emergências e Desastres (ABRAPED) no dia 21 de setembro de 2012. A mesma surge na intenção de reunir e representar os profissionais interessados no debate e na construção de iniciativas relacionadas ao assunto.

Na lista de eventos significativos que marcam a história brasileira da psicologia das emergências e desastres está o incêndio na Boate Kiss ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 na cidade de Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul, vitimando 242 pessoas e deixando outras 680 feridas. Diante o ocorrido, um grupo interdisciplinar de profissionais foi chamado para traçar estratégias de saúde mental e atenção psicossocial voltada aos sobreviventes e familiares.

Muitos estudos foram desenvolvidos após o incidente, principalmente voltados para a atuação do profissional e em relação a ética, visto que muitos estavam despreparados e não tinham domínio para intervir corretamente. Além disso, outras questões também receberam atenção, como o trabalho de saúde mental sob viés da saúde pública e também a construção do conhecimento no campo das políticas públicas.

Nesse mesmo ano, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lança uma nota técnica para atuação do psicólogo nas emergências e desastres, relacionado com a

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política de defesa civil, para que a prática seja norteada por princípios éticos e responsáveis. Acredita-se que as ações sejam mais efetivas quando articuladas com demais órgãos, evitando intervenções desintegradas e improvisadas o que retardariam o processo de reconstrução.

Mais tarde, no ano de 2016, foi elaborada outra nota técnica, ressaltando a necessidade e importância do psicólogo trabalhar em todas as fases propostas pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), que seriam: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação.

A defesa civil é um dos órgãos envolvidos diretamente em situações de emergências e desastres, sendo que é um dos primeiros agentes a ser acionado nessas circunstâncias. Sua presença é indispensável, contribuindo com ações de socorro e assistência.

Segundo o Ministério da Integração Nacional (2010), inicialmente, a organização da Defesa Civil esteve relacionada, direta ou indiretamente, aos confrontos armados, principalmente na primeira e na segunda Guerra Mundial. Posteriormente, ao acontecimento dos desastres de grandes impactos, que obtiveram significativas perdas humanas, “tornou imprescindível a estruturação e o fortalecimento das instituições governamentais no atendimento às situações de anormalidade” (BRASIL, 2010, p. 35).

Em um primeiro momento o órgão da Defesa Civil prestava serviço somente nas guerras, após os serviços eram desativados. Porém com a ocorrência de vários eventos climáticos como a seca e as enchentes em diversas regiões do País, o órgão foi reestabelecido institucionalmente por volta dos anos de 1960, expandindo-se não somente na área prática como no socorro e assistência as vítimas, mas desenvolvendo também debates sobre a temática. Ao mesmo tempo o órgão foi se constituindo a nível federal, estadual e municipal.

Conforme Pimentel (2006), a Defesa Civil está organizada de forma hierárquica, da seguinte forma: há um órgão superior, composto por representantes de todos os Ministérios, representantes dos Estados, chamado Conselho Nacional de Defesa Civil (CONDEC). Em seguida, existe a Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), que é o órgão central responsável pela articulação e coordenação de todo o sistema; e abaixo desses, não menos importante, os órgãos estaduais e municipais de Defesa Civil, as coordenadorias municipais e os núcleos comunitários de Defesa Civil.

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No Brasil, o tema desastres está institucionalmente ligado ao Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), onde estão os órgãos setoriais, “que é toda a Administração Pública: bombeiros, polícia militar, exército, marinha, aeronáutica, Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os órgãos de apoio ao Sistema” (PIMENTEL, 2006, p. 26). O propósito destas instâncias é oferecer apoio e suporte para recuperação e restruturação dos afetados após um desastre.

Segundo o Ministério da Integração Nacional (2007), dentre os objetivos da Defesa Civil, pondera-se reduzir os desastres, diminuindo a intensidade e a assiduidade destes, as quais são quantificadas em função dos danos e prejuízos provocados. “Elegeu-se, internacionalmente, a ação “reduzir”, porque a ação “eliminar” definiria um objetivo inatingível” (BRASIL, 2007b, p. 19).

De forma geral as atuações desse órgão e demais instituições que o complementam seria de minimizar a ocorrência de desastres através de programas de prevenção, preparação e resposta ao desastre que envolve o socorro e assistência e por fim, contribuir na reconstrução pensando no bem-estar moral, social e econômico da população e da área afetada. Vale ressaltar que a participação da comunidade é de suma importância no auxílio, na reabilitação e reconstrução da comunidade.

A Organização das Nações Unidas (ONU), no intuito de integrar a comunidade e desenvolver ações para redução das vulnerabilidades por meio da educação das mesmas, nomeou os anos de 1990 a 1999 como a Década Internacional de Redução dos Desastres (DIRDN). Um grande avanço que vem a somar nessa área, pois investir em prevenção é, sobretudo, investir nas pessoas, na qualidade de uma vida estável e segura para os mesmos.

Com esse assunto inicialmente introduzido na sociedade, observa-se um crescente número de eventos e debates sobre as emergências e desastres e com isso, mais estudos e descobertas vão consolidando a área e oportunizando estratégias mais rápidas e eficazes. É o caso das ações desenvolvidas pela ONU no Japão, com objetivos específicos em um determinado tempo.

O primeiro protocolo, nomeado Marco de Ação de Hyogo (MAH), surge no ano de 2005, onde todos os governos do mundo vinculados a Organização das Nações Unidas (ONU) se comprometeram em pensar e pôr em ação estratégias para reduzir os riscos diante dos desastres e ameaças naturais como enchentes, ciclones, furacões e secas.

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Além disso, objetivam mostrar a importância de compreender e atuar em todas as fases, ou seja, a prevenção, a resposta e a recuperação. Buscando refletir sobre os riscos, e sobre o papel das instituições e da sociedade em evitar novos desastres, trabalhando de forma articulada e direta com as comunidades mais vulneráveis. Esse trabalho foi pensado, considerando que muitos desastres são provocados pelos seres humanos, sejam eles, por meio da crescente urbanização, pelo aumento de construções sem planejamento e principalmente a soma desses fatores.

O foco do Marco de Ação de Hyogo (MAH) é aumentar a resiliência das nações e das comunidades frente aos desastres e reduzir perdas tanto de vidas humanas quanto de bens sociais, econômicos e ambientais das comunidades e dos países, até o ano de 2015.

O segundo protocolo é formulado no ano de 2015 em Sendai, também no Japão, através da Conferência Mundial sobre Redução de Riscos de Desastres, para ser seguido pelos próximos 15 anos, 2015-2030, pelos estados em acordo com a ONU.

Conforme o Marco de Sendai (2015) fica esclarecido sobre o papel dos parlamentares na promoção de novas legislações ou, na modificação das já existentes, assim como no monitoramento e na vigilância de ações do Executivo sobre a matéria e no estabelecimento de alocações orçamentárias orientadas para a construção de sociedades resilientes frente aos desastres.

Seu objetivo geral é a redução substancial nos riscos de desastres e nas perdas de vidas, meios de subsistência e saúde, bem como de ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais de pessoas, empresas, comunidades e países.

Dessa forma, o contexto histórico das emergências e desastres vai se constituindo por eventos, discussões, ideias e desdobramentos que vão agregando e concedendo consistência teórica e técnica para esse campo de atuação. Com isso, pretende-se desenvolver no capítulo seguinte os conceitos que sustentam esse percurso e são fundamentais para compreensão da temática.

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2. DEFINIÇÕES E CONCEITOS

O campo das emergências e desastres é de grande importância para sociedade, pois é a partir de estudos nessa área que a resposta se torna mais rápida e eficaz frente ao imprevisível, assim como é possível desenvolver e aprimorar planos de prevenção e minimização de efeitos nesse contexto.

Conhecer os agentes, fatores e conceitos que o compõem é fundamental para compreender e formular estratégias de atuação, considerando todo contexto em que ela ocorre.

Os desastres fazem parte da história da humanidade. Mas afinal, o que é um desastre? Há muitas conceituações para a palavra, para a Comissão de Psicologia das Emergências e Desastres do CFP, depende da perspectiva de quem o nomeia e do lugar que ele ocupa na interação com o evento.

Conforme a Cruz Vermelha Internacional (2010 apud FRANCO, 2015, p. 29) os desastres são definidos como “resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e/ou ambientais, econômicos e sociais”.

Já o manual de planejamento em Defesa Civil, como salienta Castro (1999), enfatiza que os desastres não são eventos adversos, mas a consequência destes sob um ambiente vulnerável, onde não se pode falar que ele surge de forma súbita, pois a falta de assistência como planejamento urbano, e outros fatores como desmatamentos, poluições de rios e construções irregulares, fatores de longos anos que vão se somando, contribuem para seu desenvolvimento.

As consequências dos desastres impactam a todos pelo grau de destruição e pelo rastro de sofrimento humano deixado. É expressivo o número de eventos catastróficos que ocorrem em todo o mundo, deixando pessoas fragilizadas e sem condições para uma vida digna e estável.

Os desastres podem ser classificados de diferentes formas, muitos autores estudaram e apresentam seus resultados a seguir:

Samuel Price em 1917, como já citado no capítulo anterior, dedicou-se a estudar as variáveis psicológicas envolvidas no choque acidental entre dois navios, que ocasionou um tsunami na Nova Escócia. Em seus estudos, formula um modelo de ciclo de desastre, nele temos a primeira fase, de prevenção e mitigação

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preocupada em reduzir o risco antes do incidente, a segunda de preparação, que também ocorre antes do acontecimento, onde é debatido e são estudados os planos de emergência, onde ocorrem capacitações e treinamentos, realização de simulados e atividades no intuito de alertar e levar informação a população sobre reações e comportamentos diante de um desastre.

Em seguida, tem-se a fase da resposta que ocorre no momento em que está acontecendo a situação e onde são colocadas em prática as estratégias pensadas, de acordo as necessidades específicas daquele momento e por último a fase recuperação que acontecera após o momento crítico, com o objetivo de restabelecer as condições de vida existentes e possíveis.

Conforme Ocampo (2006, p. 17) “essa classificação ainda pode ir além, sendo definida por outra nomenclatura como a que antecipa o desastre, nomeada de pré-impacto; momento que ocorre o fenômeno seria o impacto em si e o que viria depois de ocorrido, sendo pós-impacto”.

Torga (2008) diz que a fase do pré-impacto corresponde ao tempo que ocorre à ameaça da ocorrência, a qual pode ser detectada por sistemas de previsão, por exemplo: satélites, sinais de rádio e radares e o desencadeamento real do desastre. O impacto, é caracterizado pela duração de tempo em que o desastre ocorre de maneira efetiva. É o momento de caos e desordem e a fase do pós-impacto corresponde à situação imediata a fase anterior (impacto), onde começa as atividades assistenciais e de reabilitação do cenário afetado.

Para Valêncio (2011) os desastres podem ocorrer entre dois planos: o plano simbólico, onde encontra-se diversas interpretações do fenômeno ocorrido, visto que cada pessoa possui sua forma singular de perceber seu entorno. E o plano concreto, onde o fenômeno do desastre proporciona múltiplas e diferentes vivências, que envolve as dimensões socioambientais, sociopolíticas e econômicas.

Segundo Franco (2015), os desastres podem ser classificados ainda conforme sua origem, podendo ser naturais ou tecnológicos, os naturais são subdivididos entre processos biológicos, como epidemias e infestações de pragas; geológicos, como erosão, terremotos, deslizamentos, tsunamis; hidrológicos como inundações, alagamentos; climatológicos como secas e incêndios florestais e meteorológicos como tempestades e temperaturas extremas.

Os tecnológicos, são subdivididos em três grupos: acidentes industriais que envolvem explosões, vazamentos de gás, derramamentos químicos, radiação; os

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acidentes com transportes, seja aéreo, rodoviários, de trem; e acidentes diversos que englobam colapso de estruturas domésticas e incêndios.

Um detalhe importante relativo aos desastres naturais é que, embora sejam considerados nessa perspectiva natural, a mesma é influenciada ou agravada por ações humanas, como desmatamento, poluição do ambiente, entupindo bueiros que favorecem os alagamentos na cidade, assim como a crescente urbanização transformando áreas impermeáveis para água da chuva, má qualidade da construção das casas/prédios em áreas de risco provocando deslizamento de terras e desmoronamento de casas.

Dessa forma, pode-se dizer que esses desastres não são totalmente naturais, pois envolve diretamente ações dos seres humanos e como o mesmo se comporta em relação ao meio ambiente.

Quanto a intensidade os desastres, podem ser classificados como: de pequeno porte (nível I) quando são suportáveis e superáveis a curto prazo pela comunidade; de médio porte (nível II) quando os danos são recuperados com recursos da própria comunidade, os de grande porte (nível III) são quando a comunidade necessita de ajuda de terceiros para reparar os prejuízos e é declarada a Situação de Emergência (SE) e os de muito grande porte (Nível IV) quando o município declara situação de Estado de Calamidade Pública (ECP), o qual precisa de recursos do governo estadual ou federal para se recuperar (CASTRO, 1999).

Segundo o manual para decretação de situação de emergência ou de estado de calamidade da defesa civil do Rio Grande do Sul, os critérios estabelecidos para a caracterização de situação de emergência e de estado de calamidade pública são de duas ordens: critérios preponderantes; onde são relacionados com a intensidade do desastre e a comparação entre a necessidade e a disponibilidade de recursos, para o restabelecimento da situação de normalidade e os critérios agravantes relacionados com o padrão evolutivo dos desastres, a ocorrência de desastres secundários, o nível de preparação e de eficiência da defesa civil local e o grau de vulnerabilidade do cenário do desastre e da comunidade local.

Ainda sobre a classificação, quanto à evolução dos desastres esses são divididos em: desastres súbitos ou de evolução aguda, caracterizados pela rapidez que evoluem e pela violência dos fenômenos que os causam; desastres de evolução crônica ou gradual, que se caracterizam por continuarem evoluindo ao longo do tempo, como por exemplo as secas e estiagens; e os desastres por somação de

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efeitos, que se caracterizam pela acumulação de eventos semelhantes, cujos danos, quando somados ao término de um determinado período, representam também um desastre, como por exemplo, os acidentes de trânsito.

Embora os conceitos de emergência e desastre serem semelhantes, vale ressaltar algumas de suas diferenciações. Conforme Bruck (2009) compreende-se o conceito emergência como uma situação crítica, acontecimento perigoso, incidente que necessita de atendimento rápido, ou seja, uma situação que exige providências imediatas e inadiáveis.

A mesma pode ocorrer de forma individual ou coletiva, surgindo sem que ocorra um desastre propriamente dito. As emergências, por sua vez representam as ocorrências atendidas rotineiramente por bombeiros, policiais civis, militares ou rodoviários, equipes de manutenção de redes elétricas, técnicos de Defesa Civil, médicos e enfermeiros do SAMU.

Outra diferenciação que se faz necessária é quanto ao termo catástrofe. Costuma-se dizer que ocorre uma catástrofe quando acontece uma tragédia de grande magnitude.

Quarantelli (2006) considera que a diversidade dos danos e a variabilidade destes permitem caracterizar uma catástrofe, sobretudo quando as infraestruturas da vida cotidiana como fornecimento de energia elétrica, de água, de serviços de comunicação, de transporte, entre outros são seriamente comprometidas.

Vale também considerar os prejuízos nas infraestruturas emergência, bem como à impossibilidade de resposta e reconstrução frente ao cenário de destruição em virtude do pessoal especializado estar ferido, morto ou incomunicável. Outro elemento de distinção entre desastre e catástrofe refere-se à impossibilidade de auxílio por comunidades próximas à localidade afetada, porque em uma catástrofe, várias cidades tendem a ser afetadas assumindo caráter regional.

Tanto nas emergências, desastres ou catástrofes, destaca-se o trabalho da Defesa Civil, que é uma das primeiras instituições a ser acionada nesses contextos, para contribuir com ações de socorro e assistência, como já citado no capítulo anterior.

A mesma é também responsável pela elaboração de planos de contingência, que conforme a Defesa Civil do estado de Santa Catarina é uma ferramenta de gestão de risco que consiste na construção de orientações e guias para atuação nesses cenários, caso o desastre venha ocorrer. Um Plano de Contingencia organizado e preparado contribui na redução de danos e prejuízos, além de salvar vidas.

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Conforme a Cartilha de Prevenção de Riscos e Desastres (2012, p. 15):

O Plano de Contingência facilita muito a resposta inicial aos desastres, pois quando o evento ocorre, as informações básicas já foram reunidas e organizadas previamente; a divisão de autoridade e responsabilidade entre os órgãos já foi combinada; as estratégias, as táticas e alguns aspectos operativos já foram definidos e, se o plano tiver sido adequadamente divulgado e treinado, todos conhecem o seu papel.

Ainda de acordo a Cartilha de Prevenção de Riscos e Desastres (2012), referente à estrutura do plano ele pode ser bem diversificado, a depender da metodologia utilizada, bem como a situação para a qual esteja sendo planejado. Porém, há alguns componentes fundamentais para que o mesmo seja compreendido de forma clara e rápida, onde cada um saiba seu dever, sua responsabilidade e tenha uma visão geral de onde atuará.

São eles:

Introdução: descreve a competência legal para a elaboração do plano (se for o caso), relacionando os participantes do processo de planejamento, enumerando quem receberá cópias do plano e orientando quanto ao seu uso e atualização; Finalidade: breve descrição dos resultados esperados com o plano, ou seja, para que ele serve; Situação e cenários de risco: descrição dos cenários de risco que foram identificados na avaliação de risco. Esse tópico ajuda a compreender o foco do planejamento, pois esclarece o cenário de risco, tal como foi considerado pela equipe de planejamento; Conceito de operação: descrição de quando e como os vários recursos previstos serão ativados, desde o alerta inicial e ao longo de toda a evolução do desastre, explicando suas responsabilidades. Estrutura de resposta: aqui é registrado como as agências e instituições, envolvidas na resposta aos desastres, serão organizadas, na medida em que forem acionadas, definindo quem organizará as ações, quais as responsabilidades de cada organização, quais as linhas de comunicação e de autoridade; Administração e logística: neste espaço são descritos quais os recursos materiais e financeiros que provavelmente serão necessários ao longo da evolução do desastre, desde o alerta até o início da reconstrução, indicando de que maneira tais recursos serão mobilizados junto ao governo, às organizações não governamentais e às agências voluntárias. Atualização: este campo estabelece quem terá a responsabilidade pela atualização do plano e seus anexos, além de determinar como esse processo será conduzido por meio de treinamentos, exercícios, estudos de caso e atualização da Análise de Riscos (CPRD, 2012, p. 16).

Para Castro (2009 p. 03) “É preciso, inicialmente, realizar um trabalho de mapeamento de áreas de risco, para se levantar as vulnerabilidades de cada ente em sua totalidade, pois somente por meio dessa primeira atividade se torna possível a elaboração de um plano para cada ameaça”. Com isso, observa-se a importância dos planos de contingência, que são facilitadores e guias para atuação nessas situações

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de emergências e desastres ou catástrofes, que devem ser ativados imediatamente a ocorrência do desastre evitando maiores danos e prejuízos para a comunidade.

Coelho (2010, p. 03) corrobora que as ações de enfrentamento dos desastres devem primar pelo planejamento, afastando-se do improviso e das decisões sem fundamento técnico.

Nessas circunstancias, em relação às vítimas, estas podem ser identificadas em seis níveis, que são descritas a seguir por Taylor apud Bruck (2009, p. 15):

Vítimas de primeiro grau são as que sofrem o primeiro impacto direto das emergências ou desastres com perdas materiais e danos físicos; vítimas de segundo grau são os familiares e amigos das anteriores; vítimas de terceiro grau são as chamadas vítimas ocultas, constituídas pelos integrantes das equipes de primeiros auxílios, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), bombeiros, médicos, psicólogos, policiais, pessoas da defesa civil, voluntários e outros; vítimas de quarto grau é a comunidade afetada em seu conjunto; vítimas de quinto grau são as pessoas que ficam sabendo através dos meios de comunicação; vítimas de sexto grau são aquelas pessoas que não se encontravam no lugar do acontecimento por diferentes motivos.

De acordo o Conselho Regional de Psicologia do Paraná citado por Sant’Anna Filho (2017, p. 22) “calcula-se que para cada afetado por um desastre, há, no mínimo, quatro traumatizados psicologicamente, que irão necessitar de assistência profissional”.

Sabendo que um desastre pode se desenvolver de forma inesperada, os afetados e pessoas próximas com menos resiliência, podem apresentar um sofrimento psíquico considerável. Nesse sentido, se faz necessário estar atento ao aparecimento de alguns sentimentos e reações típicas.

Ainda segundo Sant’Anna Filho (2017, p. 24): “os desastres podem provocar medo, horror, sensação de impotência, confrontação com a destruição, com o caos e a própria morte, como também causar perturbações em relação aos seus valores e crenças”. Podemos ainda dizer, para que um desastre aconteça, há alguns fatores que combinados, podem fortalecer seu surgimento, são eles: a vulnerabilidade, as ameaças e os riscos.

A vulnerabilidade trata-se de um conjunto de condições, sejam sociais, econômicas, culturais, educativas ou ambientais que deixam as pessoas mais expostas ao perigo, ou seja, os envolvidos se encontram em uma situação de carência de recursos que lhes impossibilita de agir para se recuperar de forma autônoma.

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Conforme a Defesa Civil, vulnerabilidade é a condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento, define os efeitos adversos, medidos em termos de intensidade dos danos previstos.

Albuquerque (1997, p. 243) afirma que a má distribuição da riqueza no Brasil, aliada a ausência de serviços governamentais de amparo social aos mais carentes, e aos serviços públicos de saúde e educação em péssimas condições, favorecem um ambiente de risco e vulnerabilidade permanente, e impossibilitam a segurança institucional para que o indivíduo possa responder eficientemente às situações de desastres.

O conceito de risco por sua vez, diz sobre a probabilidade de a população estar numa situação perigosa frente a um evento desastroso. Segundo Sant’Anna e Lopes (2017) o grau de risco de desastre é proporcional as características de determinada ameaça, associada as condições de vulnerabilidade da população.

No manual de gerenciamento de risco (2009), esse conceito é determinado, pelo que chamamos de ameaça ou perigo. A ameaça é um fato ou situação que tem a possibilidade de causar danos e prejuízos caso venha a ocorrer.

Para Sorokin, citado por Valêncio (2011), todo desastre deve ser entendido como uma crise, e deve ser considerada num tempo social e não somente no cronológico. Segundo Franco (2005), crise seria a interrupção de um estado “normal” de funcionamento, que resulta em expressivo desequilíbrio no sistema, familiar e comunitário, onde muitos são afetados, independente de estarem associados ou não ao evento.

Outros fatores ainda, que os desastres podem desencadear são: o transtorno de Estresse Agudo, caracterizado pela intensa ansiedade, o medo, a impotência e horror, frente ao imprevisível acompanhado de sintomas dissociativos como ausência de resposta emocional, sentimentos de desconexão, a redução do reconhecimento de ambiente e sentimento de irrealidade (DSM IV TR, 2002). O que deve ser observado mais cuidadosamente em relação as angústias e aos fatores desencadeados por esses eventos, é a intensidade e severidade que ocorrem e o quanto isso pode afetar a si próprio.

Diante o contexto apresentado até aqui, vale destacar a importância de se ter profissionais qualificados para atender os afetados, considerando que cada indivíduo apresentará uma maneira particular de enfrentar a situação, é necessário considerar sua singularidade, história de vida e resiliência, isso significa que frente a uma

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situação de emergência é compreensível aparecer reações de desequilíbrio emocional.

Mattedi (2008) enfatiza que conhecer os fatores que ameaçam as comunidades, bem como incrementar pesquisas, além de acreditar na capacidade de preparação e recuperação das comunidades afetadas, devem ser as reais contribuições da Psicologia nas emergências e desastres. Levando em consideração esses aspectos, no próximo capitulo será abordado sobre a atuação do profissional da psicologia que por sua vez, tem muito a contribuir nesse contexto das emergências e desastres.

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3. ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS EMERGÊNCIAS E DESASTRES

Frente à imprevisibilidade e ao desconhecido dessa área, é imprescindível ter profissionais capacitados e preparados para atuar. Esse novo campo de trabalho para a psicologia, possibilita olhar para as questões psicológicas e amparar as pessoas afetadas por desastres ou eventos traumáticos. A falta de capacitação e conhecimento nesse contexto retardaria o processo de reconstrução da comunidade, sobretudo, no psíquico e na subjetividade humana.

O estudo da psicologia das emergências e desastres é, ainda, muito recente, motivo pelo qual encontramos poucos profissionais que se interessam por essa temática e, também, poucas produções científicas. Contudo, há quem se identifique e elabore conteúdos e reflexões importantíssimas em torno dessa temática.

Alguns dos conteúdos elaborados partem da importância de se ter uma sociedade unida, do coletivo, na mobilização frente à prevenção e na construção de políticas públicas. Segundo Oliveira (2006), o assunto das emergências e desastres é complexo e interdisciplinar dessa forma, o manejo dos desastres não pode estar vinculado somente a uma pessoa, mas a toda uma equipe de profissionais.

Bindé (2006) complementa o estudo do autor citado anteriormente, enfatizando a questão da interdisciplinaridade e união das áreas e saberes de diversos conhecimentos para trabalhar de forma conjunta. O autor comenta que um dos desafios para construir um programa voltado à investigação em psicologia das emergências e dos desastres é circular entre as diversas áreas da psicologia. O psicólogo deve utilizar os conhecimentos dos diferentes campos para dar suporte às pessoas e aos profissionais envolvidos nos desastres a fim de fortalecer o funcionamento da comunidade.

A contribuição de um psicólogo nas situações de emergências e desastres é de grande importância para a ressignificação do sofrimento, oportunizando maior compreensão do momento. Paiva e Yamamoto (2010) também argumentam que como os psicólogos são profissionais que se preocupam com o bem-estar, devem também se ocupar com as questões sociais. Seguem dizendo que só há compromisso social da Psicologia se esta estiver ligada a um plano de mudança, buscando as causas do problema e medidas para solucioná-las, a partir de uma ação que vise à emancipação do sujeito.

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Segundo o Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005), de acordo com Art. 1º, referente às responsabilidades deste, é dever fundamental, conforme item d) prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal.

A Psicologia deve se colocar a serviço, conforme Silveira (2011, p. 74):

[...] de promover ações que otimizem o tempo, criando uma rede de informações, facilitando a transmissão de dados importantes sobre a realidade da comunidade afetada aos apoiadores, dando referências e possibilitando a reorganização social e psíquica de cada um e do coletivo (rede de suporte social).

Muitos pensam que o papel do psicólogo em situação de desastre, é uma escuta clínica tradicional, porém o que acontece é um trabalho interdisciplinar de apoio com: enfermeiros, bombeiros, assistentes sociais, socorristas, que objetiva possibilitar um ambiente para a reestruturação da vítima e das comunidades. Nessa construção, cada profissional deve colaborar a partir da sua especificidade.

Para Dimenstein (2001), o compromisso profissional do psicólogo na saúde coletiva está além de ser uma questão burocrática, envolvendo, ações e reflexões que propiciam a cidadania ativa, a sociabilidade e novas subjetividades.

Como já explicado no capítulo anterior, a Psicologia das Emergências e dos Desastres propõe quatro ações: “preparação, prevenção, resposta e reconstrução. Essas ações dizem respeito às diferentes possibilidades de atuação do psicólogo nesse campo, trabalhando para a construção da resiliência comunitária” (LOPES et al, 2010, p. 23).

Quanto às intervenções nessas fases, temos a colaboração de vários autores que apresentam suas ideias de forma explicativa e coerente, abordando pontos diferentes que, juntos, somam e agregam para que possam surgir outras construções, novas elaborações cada vez mais fortalecidas para compreensão da atuação do profissional da psicologia nesse contexto.

Na fase nomeada de preparação, Coelho (2006, p. 62) afirma que:

A preparação e a forma pela qual a situação será dimensionada em uma ocasião de desastre, ou seja, o modo como será realizada a intervenção, produz efeitos importantes. Se inadequada, pode, inclusive, acumular danos para as pessoas.

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Ainda conforme o autor destaca-se hoje a importância da intervenção precoce referindo-se as manifestações emocionais de curta duração, amparando os indivíduos na minimização dos efeitos e na recuperação de seus recursos psicossociais, trabalhando então de forma preventiva no desenvolvimento de questões emocionais mais graves.

Esta tarefa passa essencialmente por capacitar todos que vão prestar atendimento às vítimas, nas mais diferentes instâncias, fazendo com que o cuidado psicológico faça parte de todos os momentos de ação em desastres.

Na fase da prevenção para Kobiyama et al (2004), as ações são voltadas para prevenir ou mitigar os futuros danos e auxiliar o sujeito desenvolver uma percepção de risco, onde isso possa ser primordial para que o indivíduo e sua comunidade compreendam a situação em que se encontram, e que, a partir dessa constatação, possam refletir na solução do problema.

Molina (2006) acrescenta ainda que as equipes de saúde mental podem simular situações de desastres para que, caso venham a ocorrer, a comunidade esteja preparada a se organizar, respondendo com agilidade e de modo benéfico à situação. Torga (2008) certifica ainda que essa fase de pré-impacto que engloba a preparação e a prevenção corresponde ao tempo entre à ameaça da ocorrência e o desencadeamento do desastre. A duração desta fase varia de acordo com alguns fatores, dentre eles a eficiência dos sistemas de previsão de desastres, que se dá por satélites, sinais de rádio e radares, entre outros.

Confirmando isto, Castro (2004, p. 35) corrobora que a “previsão antecipada dos desastres, contribui para minimizar os danos e os prejuízos, pois permite uma completa evacuação das áreas de riscos”.

A fase nomeada de impacto ou resposta é conhecida pelo intervalo de tempo em que o evento acontece. É um momento caótico, de desordem, podendo durar segundos, minutos ou horas.

A atuação do profissional da psicologia nessa fase destina-se há:

Sobreviventes machucados ou não machucados; parentes e amigos enlutados e traumatizados; equipe de assistência emergencial; membros da equipe de resgate e outros serviços de apoio; membros da mídia que cobriram o fato; e vítimas secundárias (FRANCO, 2005, p. 178).

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Nesse caso, o acompanhamento psicológico da equipe de trabalho que também intervém no desastre é de extrema importância, visto que ela lida com situações extremas e imprevistas, que envolvem risco pessoal e responsabilidade com a integridade física e psicológica das pessoas (SILVA, 2009).

Esse aspecto é fundamental, pois a intervenção não acontece apenas em nível da comunidade vulnerável, mas também pode contribuir com os demais profissionais para então estabelecerem procedimentos de proteção e resposta.

Uma das técnicas utilizadas na intervenção da fase de resposta são os Primeiros Socorros Psicológicos (PSP), Ramírez (2011) nos diz que, pelo fato dos indivíduos precisarem reconstruir suas identidades, o psicólogo tem como objetivo amenizar o sofrimento humano.

Diante da necessidade do auxílio psicológico, o profissional deve estimular a pessoa a “restabelecer a capacidade de enfrentamento imediato, controlar os sentimentos, enfrentar a crise, iniciar a solução de problemas e continuar dando sentido à continuidade de sua vida” (BRUCK, 2009, p. 29).

De acordo Franco (2015) os primeiros socorros psicológicos são oferecidos no primeiro contato com as vítimas na fase do impacto ou logo após, com duração de horas, dias ou semanas a depender de cada situação e proporção do ocorrido. Esse serviço objetiva prestar cuidado prático em um primeiro momento para suprir as necessidades básicas como: local seguro, alimentação, higiene para que em seguida possa oferecer suporte psicológico e acolhimento.

O auxilio ofertado às vítimas, segundo Baloian (2007) trata-se de uma identificação dos psicólogos como rede de apoio à população para que se sintam assistidas e seguras, transmitindo informações e instruções claras e precisas, mostrando confiança, atenção, instruindo sobre os procedimentos que estão ou serão tomados; e por fim incentivar o cuidado consigo mesmo e com o outro.

Os profissionais da Psicologia devem estar cientes sobre o ocorrido, como por exemplo o número de vítimas, a situação em que se encontram, a magnitude do evento, ou seja, é preciso compreender o todo e as necessidade da população atingida (SILVA, 2013).

Melle (2015, p. 57) contribui nessa perspectiva de intervenção humanizada citando um conjunto de seis intervenções:

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1) Contato: realizar um envolvimento de forma não abrupta com os indivíduos relacionados ao evento emergencial. A forma de comunicação utilizada com alguém em crise deve ser cuidadosa, devido à confusão mental que essas pessoas podem estar vivenciando. Por causa disso, demonstrar calma e compreensão pode auxiliá-las a se sentirem mais protegidas e, consequentemente, mais calmas. 2) Segurança: assegurar a redução de riscos e possíveis ameaças que o indivíduo possa estar vivenciando naquele momento. Com a diminuição dos riscos, procura-se estabilizar as pessoas que podem estar desorientadas, tentando propiciar um ambiente desprovido de sons, cheiros e exposições ao evento crítico. Pode ser verificado também se o indivíduo está satisfazendo suas necessidades fisiológicas, tais como alimentação e descanso, a fim de trazer-lhe mais conforto. 3) Estabilidade: proporcionar fornecimento e clarificação de informações relacionadas ao desastre. Oferecer dados precisos sobre a tragédia pode implicar em alívio aos sobreviventes, que tentam compreender a situação. Procura-se ouvir os que desejam compartilhar suas emoções, sem forçá-los a realizar verbalizações. 4) Coleta de informações: avaliar com sobreviventes e envolvidos as suas reais necessidades e preocupações, para que se possa verificar se a assistência está sendo eficaz. 5) Conexão do indivíduo com a rede social: aproximar o indivíduo do seu suporte primário, identificando familiares e amigos que possuam mais recursos para auxiliar os demais envolvidos. 6) informar: oferecer informações verbais ou escritas, tais como habilidades de enfrentamento e resiliência, com a finalidade de instrumentalizar os indivíduos frente à situação de crise. Além disso, são fornecidas informações acerca de serviços de colaboração, como os de saúde mental, que estão disponíveis para dar continuidade ao auxílio psicológico, caso seja necessário [...].

Nesse sentido o profissional poderá ofertar os primeiros socorros psicológicos, visando a segurança, orientando e auxiliando nas necessidades básicas e emocionais.

Outros métodos de intervenção psicológica que se destacam nesse contexto, tratam-se do Debriefing e o Defusing (GUIMARÃES et al., 2009). Além dessas duas intervenções, também pode ser utilizado o coping coletivo, que Suls e outros autores (1996 apud KRUM; BANDEIRA, 2008) classificam como um conjunto de estratégias aplicadas pelas pessoas para responderem as condições desastrosas e para que elas possam se adaptar.

O defusing é a intervenção utilizada depois do ocorrido em até 24 horas, de forma breve, que objetiva minimizar a gravidade de resposta sobre a situação e analisa as necessidades para a continuação de tratamento.

Após a primeira sessão de defusing a continuação do processo segue com as técnicas do debriefing, que é uma entrevista mais detalhada que tem como objetivo provocar o ajustamento de experiências traumáticas pertencente ao evento, suscitando a melhora do sujeito, seu equilíbrio e seu desenvolvimento pessoal. Podendo ser aplicada em dias após o ocorrido em médio e longo prazo, individual ou em grupo onde irá relatar tudo o que está vivendo (GUIMARÃES et al., 2009).

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Já o coping é considerado como esforços cognitivos e comportamentais, utilizados pelos indivíduos para responder as necessidades internas ou externas, classificadas como estressores, ou seja, estímulos que sobrecarregam seu equilíbrio pessoal (KRUM; BANDEIRA, 2008).

Dessa forma, cabe ao profissional analisar qual intervenção será mais adequada para determinada situação, que venha a suprir suas demandas, sempre respeitando a vítima em sua singularidade, cultura, dignidade e direitos.

A fase do pós-impacto ou recuperação, corresponde à situação imediata a fase anterior (impacto) neste momento prevalecem as atividades assistenciais e de reabilitação no cenário dos desastres. Diante de uma situação de desastre é comum aparecer reações psicológicas tais como: confusão, pânico, ansiedade, nervosismo, raiva, sentimento de culpa, tristeza profunda, medo e desesperança.

Além dessas manifestações, nessa fase encontram-se o processo de luto, onde o psicólogo pode acompanhar e intervir. As perdas em si não fáceis, em um evento inesperado como os desastres naturais ou influenciados por ações humanas, a morte é um fator que infelizmente está envolvido, que desestabiliza e produz muita angustia a quem fica.

O luto corresponde ao tempo que ocorre a perda e o retorno à normalidade do indivíduo enlutado. É considerado um sentimento profundo e que carrega consigo tristeza pela partida de alguém, porém é necessária nesse contexto para que a mesma seja vivenciada como última manifestação de carinho, lembrança e saudade por quem partiu.

Para Parkes e Prigerson, citado por Franco (2015) os desastres são:

Períodos de perdas massivas para as quais estamos quase sempre despreparados. Eles conjugam muitas das circunstanciais que aumentam o risco do luto: é o inesperado, o terror, a violência, a multiplicidade das perdas e a ruptura das famílias e dos outros sistemas sociais nos quais nos apoiamos. (FRANCO, 2015 p. 189).

Para Franco (2015) cada desastre tem a sua particularidade por isso, não pode ter uma padronização, pois os efeitos e reações serão diferentes de acordo com a intensidade e proporção do evento.

Sendo assim, vale ressaltar a importância de o profissional ser sensível e empático diante esse contexto, para auxiliar na localização e identificação de corpos, permitindo que amigos e familiares finalizam seus rituais de despedida de acordo sua

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cultura que nessas circunstancias, frente ao caos e destruição são organizadores e conhecidos da comunidade.

A mesma ainda afirma que visitar o local do desastre, receber informações corretas e participar das celebrações são de ordem terapêutica nesse processo. O luto se expressa não somente nos afetados diretamente, mas também em quem acompanha, mesmo que de longe pelas notícias em TV, rádio ou internet, por vezes sem conhecer os atingidos e não possuir nenhum vínculo.

A autora afirma ainda, que as perdas por desastres geralmente são de forma súbita, coletiva e violenta, onde nessas condições o ser humano enlutado é permeado por sentimentos como culpa, raiva, inconformismo, ansiedade e ainda enfrenta um grande desafio, que é lidar com a ruptura brusca de vínculos e tentar se reorganizar perante a vida e o social.

Outro aspecto relevante que a autora traz é quanto ao preparo do próprio psicólogo para atender em emergências e desastres, devendo desenvolver nele a consciência do impacto do seu trabalho frente ao sofrimento humano, a disponibilidade e ética devem estar sempre presentes.

As intervenções realizadas no pós-impacto têm por propósito analisar o sofrimento psíquico e auxiliar as vítimas, minimizando os impactos provocados pelo desastre, bem como a contribuir para atuações mais eficientes (ALVES; LACERDA, 2012).

Mattedi (2008) acrescenta que o papel do profissional da psicologia é compreender e intervir sobre os efeitos que o desastre exerce sobre o comportamento individual e sobre as condições subjetivas dos indivíduos. A intervenção psicológica no pós-impacto na visão do autor é um meio de se produzir e aplicar conhecimentos para minimizar os efeitos negativos causados pela ruptura da vida cotidiana, cuidando da saúde mental dos indivíduos que, direta ou indiretamente, foram afetados.

Em um contexto de desastre, é normal os afetados apresentarem algumas reações, como já citadas anteriormente, entretanto, devido aos inúmeros fatores estressantes que estão expostos podem desencadear também fatores mais agravantes, como o estresse pós-traumático (TEPT).

Esse fator é definido, no DSM-IV-TR (APA, 2002), como uma série de sintomas que um indivíduo desenvolve após vivenciar um acontecimento estressor traumático, onde vários critérios diagnósticos estão presentes, que são: experenciar, testemunhar ou ser confrontada com um ou mais eventos envolvendo morte, ferimento

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grave ou outra ameaça à integridade física, própria ou de outros (critério A1), reação envolvendo intenso medo, impotência ou horror (critério A2). Indivíduo apresentar uma resposta sintomática que inclui a revivência contínua do evento traumático (critério B), evitação e entorpecimento (critério C) e excitabilidade aumentada (critério D), duração dos sintomas superior a um mês (critério E), sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo em áreas importantes da vida do indivíduo (critério F).

Ainda conforme APA (2002) quanto aos sintomas: os de revivência caracterizam-se por sonhos aflitivos e recorrentes relacionados à vivencia traumática, flashbacks do momento do ocorrido e sensação de que está ocorrendo novamente, sofrimento psicológico intenso e/ ou reação fisiológica quando exposto a elementos que relembrem o acontecido; no critério de esquiva e entorpecimento, o indivíduo busca evitar pensamentos, atitudes, sentimentos, locais e/ou pessoas relacionadas ao trauma, incapacidade de lembrar algum aspecto importante do evento traumático e perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, já no critério de excitabilidade aumentada, elementos como irritabilidade, dificuldades de concentração, hipervigilância (estar sempre em alerta) e dificuldades em conciliar ou manter o sono, se fazem presentes dificultando uma vida estável e de qualidade.

Vale esclarecer que o TEPT se desenvolve não somente nas vítimas, mas também nos trabalhadores que estão prestando auxilio, principalmente na equipe de primeira resposta como bombeiros, socorristas, médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde. Considerando esses fatores, fica claro o quanto o TEPT interfere na vida do indivíduo e, portanto, o quanto esse necessita de ajuda para se reestabelecer.

Em alguns casos também no pós desastre, podem permanecer cicatrizes emocionais que venham alterar o seu nível de funcionamento ou a sua qualidade de vida com o tempo, inclusive muitos anos depois de vivida a situação, com isso esses indivíduos, tentando tamponar o trauma, poderão recorrer ao álcool ou a outras drogas.

De acordo com Heredia (2006, p. 68), quanto as intervenções, de uma forma geral:

O propósito das intervenções é conter ansiedades, auxiliar na descarga emocional, provocar a significação do que está sendo vivenciado pelo indivíduo, favorecer condutas participativas e promover a solidariedade entre as pessoas que sofreram com os impactos dos desastres. Dessa forma, a representação do desastre é derivada do sentido que essa situação tem para

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