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Lembrar para pensar

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Academic year: 2021

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REPOSITÓRIO DA PRODUÇÃO CIENTIFICA E INTELECTUAL DA UNICAMP

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Lembrar para pensar

Roberto Goto

editor-gerente de Filosofia e Educação presente número de Filosofia e Educação retoma e amplia o que seu antecedente propôs e dispôs, abrindo-se com o texto do Prof. Dr. Sérgio Eduardo Montes Castanho sobre os laços de amizade que manteve ao longo de décadas com as figuras de José Luiz Sigrist e Rubem Alves. Juntando-se aos que tivemos a ocasião e o privilégio de publicar, de autoria dos professores Antonio Muniz de Rezende, Newton Aquiles von Zuben e José Luís Sanfelice, seu depoimento acrescenta outras cores e detalhes à composição dos retratos daqueles que marcaram com sua presença e sua atuação os caminhos da Faculdade de Educação da Unicamp e a evolução da própria universidade, estendendo não raro sua influência para o universo extra-acadêmico, mercê de suas palavras, tanto escritas quanto faladas – ou, como bem se lembrou, cantadas.

O

Assumindo o papel de um causeur (o equivalente franco ao contador de causos nativo), com um humor que se coaduna com o espírito daquele que sempre fez questão de constar suas origens na mineiridade, além de sua simpatia (quando não adesão) às efusões dionisíacas de Nietzsche (o que o posicionava em defesa do riso e da dança no interior mesmo da comumente sisuda cidadela do labor filosófico), o autor de Amizade cúmplice projeta, a partir da revelação de episódios como o da investigação (e/ou invenção) etimológica da palavra alucinação, o panorama universitário e cultural da época, que calha de desembocar na paisagem política, com a reminiscência dos significados que ela adquiriu nos corações e mentes dos que a viveram.

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A trama dos vínculos se dilata, então, podendo-se aquilatar onde estavam, o que faziam e com quem se relacionavam os vultos rememorados: divisam-se os fios que os eventos tecem entre as instituições e se redescobrem personagens e personalidades que neles se equilibram e/ou se enredam, como aliás sói acontecer com todos os humanos seres e comuns mortais, na condição de suportadores e sofredores da História.

Se ainda se fala em “resgate” a propósito de gestos como esse, que retiram do limbo os perfis daqueles que pareciam mergulhados e perdidos de vez no olvido, isso deve sugerir ou pressupor que a memória, a rigor, não possui tempo próprio ou mesmo propício, não está presa ou atrelada a um momento preciso; por outras palavras, não depende de datas comemorativas e de estímulos externos para aflorar e medrar, talvez nem mesmo de elementos e motivos tais como as madeleines mergulhadas no chá do narrador protagonista de Em busca do tempo perdido. Involuntários ou não, casuais ou deliberados, caprichosos ou construídos, epifânicos ou induzidos, os afloramentos dessa memória podem se dar a qualquer tempo: nessa sugestão ancora-se a ancora-seção in memoriam, lançando o convite para que a exprimam todos quantos se disponham a exercitá-la nas águas das relações entre Filosofia e Educação.

Um pouco desse espírito cabe emprestar à presença de John Dewey neste número, na medida em que não tem para justificar-se nenhum evento comemorativo: se a memória se comporta como o que vai dito no parágrafo anterior, de fato não se faz necessário nenhum pretexto oportuno, nenhuma circunstância especial para lembrar a figura e a obra do filósofo norte-americano, nascido em 1859 e morto

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em 1952. Ao mesmo tempo, todavia, não se trata tanto de recordar – ou, antes, trata-se de lembrar para pensar. Mais precisamente, a proposta do dossiê que constitui o cerne da presente edição de Filosofia e Educação é a de conferir e apresentar algumas reflexões sobre a obra filosófica e as propostas educacionais de Dewey, examinadas sob pontos de vista que levam em conta aspectos da realidade atual, sobretudo a da escola brasileira.

Organizado pelo Prof. Dr. José Claudio Morelli Matos, que escreve sua apresentação, o dossiê compõe-se de seis textos. Em A Filosofia da Educação de John Dewey: reflexões e perspectivas atuais para a escola brasileira, Maria Judith Sucupira da Costa Lins elege alguns tópicos básicos da obra deweyana – experiência e criatividade, o papel do professor, as relações entre sociedade e democracia – a fim de apreciar a contribuição dessa obra para a prática educacional em escolas brasileiras.

As Notas sobre a experiência qualitativa em Dewey, de Leoni Maria Padilha Henning, esmiúçam os sentidos que a noção de experiência adquire no trabalho do pensador e pedagogo norte-americano, levando em conta a necessária articulação com a estética. Já Altair Alberto Fávero e Carina Tonieto, em A educação democrática na escola deweyana, propõem uma discussão das relações entre educação escolar e democracia à luz de um diálogo entre as ideais de Dewey, de um lado, e as de Biesta e Puig, de outro.

Christiane Coutheux Trindade e Guilherme Mirage Umeda, em suas Considerações sobre a imaginação moral em John Dewey, explicitam e esquadrinham o significado da imaginação moral no pensamento

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deweyano e o papel que ela pode e/ou deve desempenhar na educação como formação integral da pessoa humana.

Questões relativas às articulações entre Filosofia da Ciência e Filosofia da Educação na obra de Dewey constituem o tema de Ivan Ferreira da Cunha, que, partindo da análise do texto Unidade da Ciência como um problema social, empenha-se em discutir a abordagem deweyana em confronto com as concepções de Galison e Feyerabend. Em Perspectivas de formação: diálogo entre crescimento e o cultivo de si, Thaís Ferreira Ali, Lúcia Schneider Hardt, Rosana Silva de Moura visam a um outro cotejo, entre Dewey e Nietzche, tomando como núcleo o conceito de vida.

Na seção artigos, esta edição publica A questão do sujeito na filosofia de Emmanuel Lévinas, de Denise Dardeau, que, ao mesmo tempo em que declara sua filiação, “ingratamente talvez, aos apontamentos críticos de Derrida reconhecendo os limites do pensamento levinasiano”, assinala que a “audaciosa meditação de Lévinas”, ao trazer “para o seio do debate filosófico um princípio bíblico essencial, o messianismo”, o faz para que se eduque “não na lógica da razão ou do ser, mas na 'lógica' do rosto, apostando numa espécie de 'fraternidade gratuita'”.

Finalmente, Christian Fernando Ribeiro Guimarães Vinci, em A problematização e as pesquisas educacionais: sobre um gesto analítico foucaultiano, discute e propõe retomar como atitude de pesquisa, levando em consideração “seu potencial interesse para os pesquisadores do campo educacional”, o lema que Foucault sintetizou na frase “tornar difíceis os gestos fáceis demais”.

Referências

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