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O tempo de ser criança na contemporaneidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

CURSO DE PEDAGOGIA

GILMARA TÁPIA DE OLIVEIRA

O TEMPO DE SER CRIANÇA NA CONTEMPORANEIDADE

Monografia apresentada à banca do curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI – Para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia em junho de 2013 sob orientação da Prof.ª Dra. Noeli Valentina Weschenfelder.

IJUI 2013

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GILMARA TÁPIA DE OLIVEIRA

Aprovada em ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Prof.ª Dra. Noeli Valentina Weschenfelder

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

_______________________________________________________ Nome Completo

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

________________________________________________________ Nome Completo

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

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AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento é a Deus meu maior Orientador, digno de toda honra e toda glória fonte de sabedoria e infinita bondade, por ter-me possibilitado saúde, inteligência e capacidade para vencer este desafio. Obrigada pela oportunidade de viver e conquistar tudo que tenho.

Ao meu esposo Paulo que de forma especial e carinhosa me deu força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades, preocupando-se com os meus problemas pessoais pelos quais passei durante a escrita deste TCC, ajudando a carregar o fardo, pois, estava pesado, agradeço pelo incentivo e pelo amor incondicional a mim concedido, essas e outras palavras ainda serão poucas para dizer o quanto você é importante na minha vida, obrigado por se fazer presente na minha história.

À minha amada filha Gabrielli, maior presente que ganhei na vida, agradeço todos os dias por você existir e me ajudar a superar as adversidades. Obrigada por estar presente e sendo compreensiva nos momentos estressantes desta caminhada.

À minha família, mãe Ivete e irmãos Giovete e Jamersom que sempre acreditaram em mim, proferindo palavras de incentivo e otimismo. Obrigada pelo apoio e compreensão, principalmente nos momentos de maiores dificuldades e involuntárias ausências.

As colegas de trabalho da Escolinha que através de empréstimo de livros, palavras de apoio se fizeram presentes na fase de construção deste trabalho.

Á direção pela credibilidade e oportunidade da realização dos estágios que muito contribuíram para que esse momento se concretizasse.

As colegas do curso de Pedagogia que fizeram parte desta caminhada dividindo as angústias, expectativas, tristezas e alegrias. Peço ao Senhor Deus que abençoe a cada uma com muita serenidade para que possam mediar os conhecimentos com competência e amorosidade aos seus educandos.

É com grande alegria que agradeço a todos os professores (as) da Unijuí, muito obrigada por se fazerem presentes nos momentos decisivos da minha graduação.

À minha professora Dr.ª Noeli Valentina Weschenfelder que veio me acompanhando desde os primeiros semestres, contribuindo com a minha formação docente possibilitando-me a troca dos óculos do etnocentrismo pelo relativismo, a ela agradeço por ter me ensinado a exercer a escuta atenta e flexível.

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RESUMO

Este trabalho foi motivado a partir das observações feitas no período de três anos em que atuei como auxiliar e educadora na Escola de Educação Infantil denominada ―Escolinha‖ no município de Cruz Alta, a presente pesquisa não pretende criticar as expectativas dos pais em relação às crianças, entende-se que a modernidade em que a sociedade está inserida cobra resultados devido à competitividade, desta forma percebe-se a preocupação que os pais tem em relação ao futuro de seus filhos. A partir dos relatos feitos pelas crianças onde narram suas experiências com atividades realizadas no período inverso a escola, como futebol, balé, língua estrangeira, Kumon etc. surgiu dessa maneira uma inquietação no que diz respeito a esta questão, seguindo tal perspectiva foi realizado uma pesquisa na qual foram entrevistadas trinta e duas famílias, percebe-se que as crianças estão disponibilizadas a realizar múltiplas atividades, portanto o tempo de ser criança acaba sendo minimizado restando um tempo limitado para brincadeiras inerentes a sua idade. Outros fatores abordados no presente trabalho baseados em referências bibliográficas foram a terceirização e o consumismo das crianças pertencentes da sociedade contemporânea. Para uma melhor compreensão sobre a infância atual o trabalho fundamenta-se a partir de referências bibliográficas e pesquisa.

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ABSTRACT

This work was motivated from observations made during the three years that I worked as an assistant and teacher at the School of Early Childhood Education known as "Little School" in Cruz Alta, this research does not intend to criticize the expectations of parents in relation to children means that modernity in which the company is embedded snake results due to competitiveness, thus realizes the concern that parents have about the future of their children. From the reports made by the children where they narrated their experiences with activities carried out in the opposite school, like soccer, ballet, foreign language, etc. Kumon. came this way an uneasiness with regard to this issue, following such an outlook was conducted a survey in which they interviewed thirty-two families, one realizes that the children are available to perform multiple activities, so the time to be a child ends up being minimized leaving limited time to play inherent to their age. Other factors discussed in this paper based references were outsourcing and consumerism of children belonging in contemporary society. For a better understanding of the current childhood work is based from references and research

.

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SUMÁRIO

1 VOLTANDO ÀS MINHAS MEMÓRIAS PARA CHEGAR AO TEMA DA

INVESTIGAÇÃO... 07-09

2 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA... 10-12 3 HISTÓRIA DA INFÂNCIA... 13-16

3.1 Concepções da infância na contemporaneidade... 17-18 3.2 Definições de infância e de criança... 19-23

4 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL... 24-26 5 ATIVIDADES EXTRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL... 27-28

5.1 Como determinadas crianças da ―Escolinha‖ vivem seu tempo fora do

contexto escolar... 28-32

6 INFÂNCIA TERCEIRIZADA... 33-36 7 CONSUMISMO INFANTL... 37-40

8 EXPERIÊNCIA COM SITUAÇÕES DE APRENDIZAGENS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL FORA DO AMBIENTE

ESCOLAR... 41-45

9 METODOLOGIA DA PESQUISA... 46

10 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS... 46-54 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 55-56

12. REFERÊNCIAS... 57-59

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1 VOLTANDO ÀS MINHAS MEMÓRIAS PARA CHEGAR AO TEMA DA INVESTIGAÇÃO

A escrita que aqui se inicia, tem como base meu autoconhecimento, pois através dele posso dar significado a minha vida e vontade de ser educadora. Escrever sobre si mesmo não é uma tarefa fácil, realizar uma autocrítica verdadeira sobre minha vida e relembrar tristezas, alegrias, fracassos e sucessos me faz sentir saudades dos tempos de infância, que mesmo com dificuldades posso afirmar, com certeza, que foram os momentos mais marcantes e maravilhosos da minha vida. Tempo esse que eu guardo com carinho dentro do coração.

Ingressei na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Dom Antônio Reis, no município de Cruz Alta aos sete anos de idade, lembro-me como se fosse hoje meu primeiro dia de aula, estava vestida com uniforme da escola, sapatos pretos, meias brancas, saia azul marinho e camisa branca. Estava ansiosa para começar a estudar na mesma escola onde minha irmã já frequentava a 5ª série. Esperávamos no pátio, onde a diretora nos recebeu desejando boas vindas, logo em seguida chamou cada aluno pelo nome, deveríamos ficar em fila a espera da professora, minha sala era a 1ª série turma 1.

A professora chamava-se Jussara, eu estava muito feliz por ter a oportunidade de estar na escola, pois não havia feito pré-escola. Posso afirmar que essa foi à professora que mais marcou a minha caminhada como estudante, pois ela era especial. O encanto de conhecer as letras consequentemente as palavras, para mim foi um momento especial, quando percebi estava lendo e escrevendo com facilidade, por isso criei uma espécie de admiração e carinho pela a professora Jussara minha alfabetizadora, entendi a satisfação através do estímulo e mediação em ler um livro e desvendar suas belezas e mistérios, nunca deixando para trás a curiosidade se ser criança sempre em busca de novos saberes.

Meus pais se separaram quando eu tinha apenas 11 meses e minha irmã 5 anos de idade, morávamos eu, minha irmã e minha mãe. Não tive a presença do pai, o contato que tínhamos com ele era apenas nas férias escolares onde passávamos na casa da avó paterna na cidade de Palmeira das Missões, após a separação minha mãe veio embora para Cruz Alta, apenas com o desejo de mudar de vida e criar suas duas filhas.

Em relação à 3ª série tive dificuldades em matemática, não conseguia resolver os cálculos de multiplicação e divisão, ficava com vergonha e não perguntava para a professora que se chamava Rosane, confesso que não gostava muito dela, pois na minha memória ainda estava à lembrança da professora Jussara, que era muito diferente da professora atual.

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Sempre tive um problema que até hoje ainda me prejudica, toda vez que tínhamos avaliação e os colegas começavam a entregar a prova e sair da sala eu ficava nervosa não me concentrava, consequentemente, não conseguia resolver os cálculos e o resultado não poderia ser diferente, acabei reprovando. Inicia um novo ano e lá estava eu pela segunda vez na 3ª série, a professora se chamava Regiane era loura e muito séria, no começo eu achava ela brava, mas o tempo foi passando e acabei acostumando com seu jeito de ser e de ensinar.

Todos os dias quando chegávamos à sala de aula, a professora ―tomava‖ a tabuada onde um aluno era escolhido aleatoriamente, pedia que o mesmo se dirigisse até a sua mesa e perguntava, eu tinha um pouco de medo dela, mas sempre conseguia responder certo. E foi assim, com uma professora mais rígida que aprendi a resolver os cálculos, o motivo da reprovação no ano anterior.

Minha mãe trabalhava em um restaurante, não tinha tempo de me ajudar nas tarefas da escola, nunca participava das reuniões, gostaria que ela tivesse sido mais participativa na minha vida escolar, mas mesmo sendo criança eu entendia que ela não podia, por ter que trabalhar para pagar as despesas do mês suprindo nossas necessidades.

Já na 4ª série eu tinha destaque nas aulas de educação física, participava de todas as atividades esportivas da escola, em relação aos conteúdos não tive dificuldades. Outra professora que se chamava Fátima marcou minha vida, ela lecionava língua portuguesa, era uma excelente profissional, mantemos contato até os dias atuais.

Não tive dificuldades nos anos finais do Ensino Fundamental, já no Ensino Médio reprovei pela segunda vez. Na época trabalhava em um supermercado chegava atrasada na escola todas às noites e foi com muito sacrifício que consegui terminar o segundo grau.

Casei com 21 anos e no ano seguinte nasceu minha filha, parei com os estudos e passei a dedicar-me somente a família, morei em diversas cidades até mesmo fora do estado de origem que é o Rio Grande do Sul, pois meu esposo, por motivo de trabalho, com frequência é transferido.

Mesmo estando com minha família, sentia que havia um vazio dentro de mim, por não estar estudando e nem trabalhando. Parecia como se algo estivesse faltando, para que minha vida tivesse algum sentido. Foi quando ao retornar para Cruz Alta, fui incentivada pela professora Jaqueline que havia me dado aula no Ensino Médio a fazer a prova do ENEM, e fui selecionada com uma bolsa de estudos para o curso de Pedagogia, por esse motivo afirmo que o curso me escolheu e não o contrário.

Logo no 1º semestre, surgiram as dúvidas se esse era o curso certo para mim, então parti do pressuposto que só saberia realmente se teria ―vocação‖ ou ―dom‖ para assumir a

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responsabilidade de ser professora quando estivesse em sala de aula, pois não havia feito magistério, experiência nenhuma com escolas, planejamentos e, principalmente, com crianças, mas devido ao amor que tinha em estudar mesmo com as dificuldades que a vida me impôs senti que tinha vocação para esta profissão tão nobre de educar.

Os semestres foram passando e chegaram os estágios e comecei a perceber afinidades com o curso, as tardes em que passei junto às crianças, as situações de aprendizagens os trabalhos realizados e os vínculos que acabavam sendo estabelecidos entre professores e alunos fizeram com que eu entendesse que a escolha feita pelo curso era mesmo a ideal para mim.

Ao ouvir a pedagogia proposta por Paulo Freire foi somente aumentando o meu interesse pela profissão, mesmo sabendo que reconhecimento financeiro não há, e que o professor muitas vezes acaba assumindo um papel que não lhe pertence.

Trabalhar com crianças não é uma tarefa fácil, mas o que é fácil nessa vida? Tudo merece empenho, esforço e dedicação, nada acontece por mero acaso, a vida em si já é uma dificuldade e cabe a eu mudar a minha história e neste momento a minha história é tornar-me uma professora apaixonada pela profissão, que no início me escolheu e que a partir deste momento, a escolha por ela é minha.

Pode-se verificar através do que vivencio hoje como educadora de uma escola particular de Educação Infantil, que além da preocupação que os pais têm em deixar seus filhos na escola para que sejam cuidados e educados durante o período que ali se encontram realizando atividades, também se preocupam para que os mesmos realizem atividades extraclasses no período em que não estão na escola.

Associado a essa preocupação não se pode deixar de citar a hiper realização dessas crianças, que devido suas condições financeiras possuem um contato direto com o consumo, pois a elas ―tudo‖ o que se pode comprar é oferecido. Outro fator que se percebe a partir de algumas leituras foi justamente a terceirização que passam algumas crianças, as demandas profissionais e até mesmo as cobranças feitas por uma sociedade que ainda insiste que a mulher seja a matriarca responsável pela criação e educação de seu filho (a), sem ao menos procurar entender se essa mulher da contemporaneidade almeja realmente essa maternidade ou acaba apenas por tê-la para satisfazer famílias e sociedade.

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2 INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA

Este trabalho surgiu de questionamentos, reflexões e inquietações surgidas ao longo da minha trajetória de formação do Curso Pedagogia, onde partir dos estágios realizados nesta instituição passando da função de estagiária para posteriormente professora auxiliar, foram surgindo algumas inquietações durante o período na Educação Infantil, mais precisamente, em uma escola particular denominada ―Escolinha‖ nome fictício, localizada no município de Cruz Alta, foi possível verificar através do contato com os alunos que os mesmos realizam muitas atividades extras nos períodos inversos aos da escola.

Esta pesquisa justifica-se por ser um estudo que abrange os atores que compõem a vida escolar de educação infantil contando com o auxílio dos pais onde se pôde verificar a preocupação que os mesmos possuem em oferecer a seus filhos meios de aprendizagem não sendo somente no ambiente da escola, mas também fora da mesma com atividades extras como kumon, futebol, natação, língua estrangeira etc.

Devido ao cenário atual não podemos deixar de citar dois outros fatores que considerados importantes, sendo eles o consumismo e a terceirização, onde para a escrita das mesmas serão utilizadas referências bibliográficas e não pesquisa de campo.

Nesse sentido, estudos desta natureza são importantes para analisar como está ocorrendo as modificações da infância na contemporaneidade no que diz respeito ao papel dos pais e educadores.

Atendendo turmas do Berçário I e II com dormitório e sala de estimulação, Maternal I e II, Jardim nível A, sendo que este possui duas turmas em salas diferentes e Jardim nível B com crianças na faixa etária 5 anos de idade.

Atualmente a escola possui cerca de 130 crianças matriculadas e frequentadoras da mesma, sendo divididas em 10 salas atendendo apenas no turno da tarde. Os espaços internos e externos da escola são organizados de forma versátil e flexível para atender as necessidades dos alunos e os objetivos das atividades programadas, os banheiros e lavabos são adequados inerentes a cada faixa etária.

Aos professores cabe a organização dos espaços e tempo adequado para o convívio de todos de forma harmoniosa, prazerosa e educativa, onde se pode crescer sem deixar de ser criança. No espaço externo há ampla área de lazer e uma sala de materiais, com uma estrutura que proporciona aos alunos brincarem de maneira livre, tranquila e segura desenvolvendo a criança de forma integral e contendo materiais pedagógicos apropriados a cada faixa etária.

Considera-se que o ato de brincar favorece o desenvolvimento da identidade e autonomia, um ambiente onde a ludicidade é inserida diariamente certamente será um lugar

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favorável a significação dos conhecimentos, pois é através das brincadeiras é que a criança vai desenvolvendo certas capacidades importantes na sua infância e vida adulta.

Atualmente o corpo docente é formado por dez professoras sendo que oito delas possuem curso superior e outras duas passaram neste vestibular de inverno. A escola ainda possui três professoras auxiliares graduadas no curso de pedagogia e outras sete que possuem formação no curso de magistério, dessa forma o corpo docente contêm vinte professoras.

As reuniões pedagógicas são realizadas e cada quinze dias, as professoras mantém contato diário com os pais, pois os mesmos buscam seus filhos diretamente na sala de aula, dessa forma, o contato é estabelecido todos os dias facilitando e possibilitando a construção de vínculos e de confiança.

A história mostra que não havia uma preocupação com as crianças, as mesmas eram consideradas como adultos em miniatura, participavam de assuntos, trabalhos e castigos tudo relacionado como se adultos fossem. A mortalidade infantil nessa época era considerada normal.

Quando se fala em criança não se pode deixar de citar a história da Educação Infantil que passou a ganhar notoriedade de acordo com a necessidade imposta pela sociedade. Com o passar do tempo a criança passou a ser reconhecida, na contemporaneidade a mesma nos desafia a refletir sobre uma vasta dimensão sob o universo que se encontra inserida.

Com relação à atual reflexão e busca pela compreensão do tempo de ser criança na contemporaneidade abordou-se algumas questões como as múltiplas atividades extracurriculares que envolvem crianças da classe média e alta frequentadoras da instituição infantil referida. Assim e, seguindo a perspectiva da competitividade na atualidade verificou-se que as crianças estão inverificou-seridas cada vez mais cedo em atividades extracurriculares, visando uma complementação das atividades não disponibilizadas na escola.

Constata-se- que a criança da atualidade está inserida em uma sociedade em volta com novas tecnologias, possuindo desta forma interesses relacionada ao consumo, ou seja, a mídia chega em suas casas com alto poder de persuasão capaz de convencer a criança, que rapidamente acredita necessitar deste ou daquele objeto. A criança desde muito cedo já está em contato com aparelhos eletrônicos, mexem sem medo e rapidamente manuseiam com segurança todos os aparatos tecnológicos inseridos no seu dia a dia.

Na escola onde leciono é permitido que um dia na semana as crianças tragam ―um pedacinho de sua casa‖, sendo representado por um brinquedo, percebe-se que os mesmos estão cada vez mais sofisticados com um custo elevado, muitas vezes voltados para a tecnologia.

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Não se podem ignorar as modificações que estão acontecendo na sociedade e, como educadora preocupada com a infância, procuro inserir situações de aprendizagens voltadas para o simples, valorizando mais o ser do que o ter, desta forma acredito que a infância é uma fase de construção e não de reprodução.

Levando-se em consideração a inexistência da infância no passado, pode-se verificar que houve a passos lentos o reconhecimento das crianças para posteriormente ser reconhecida como um ser de direito sendo os mesmos respeitados, desde o ponto de vista educacional, assim também há cada vez mais um grande investimento por parte do mercado consumidor sobre o público infantil, quer para vender produtos ou para oferta de serviços especializados e extraclasses.

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3 A HISTÓRIA DA INFÂNCIA

O capítulo que apresento tem como objetivo demonstrar as fases da infância durante a evolução dos tempos tendo como objetivo realizar uma analogia entre o passado e a contemporaneidade, identificando suas conquistas. Para entender o presente e melhorar o futuro é necessário compreender o passado.

As crianças que hoje estão em nossas escolas infantis são vistas de um modo específico conforme a época, a sociedade em que estão e, a comunidade onde está inserida. A infância deixou de ser preocupação somente da família, a conquista da mulher na sociedade levou a infância a uma categoria social. As mudanças estabelecidas pela política e economia levaram a criança a ser sujeito de direitos. Por algum tempo tratavam a criança como sementinha que precisava ser regada e cuidada para que pudesse se desenvolver. Hoje a criança tem direitos, tem sua própria identidade, que deve ser respeitada.

Considerando-se os estudos que foram feitos ao longo do tempo podemos levar em consideração a sociologia da infância que parte de uma concepção que as crianças são participativas na sociedade, sendo as mesmas sujeitos ativos capazes de compreender seus direitos sem deixar-se levar pela passividade.

De acordo com (SARMENTO, 2004, p.10) ―as crianças são também seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem à raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças‖

A história mostra que não havia uma preocupação com as crianças, nos séculos X e XI a mesma não despertava nenhum interesse na sociedade adulta, sua imagem infantil não era reconhecida nessa fase da vida que se conceitua como infância, não passava de um período de transição que passaria rápido sem deixar lembranças.

Por volta do século XII, as mesmas continuavam sem o reconhecimento, ou seja, eram desconhecidas, pois não eram representadas. Desta forma acredita-se que não haveria lugar para essa fase da vida.

Muitas pinturas antigas representavam as crianças com traços e vestimenta dos adultos, a estrutura corporal era tal qual a de um sujeito já crescido, apenas na estatura é que havia uma diferenciação entre adultos e crianças. Nesta época, as crianças eram vistas como seres simples, servindo apenas para garantir a continuidade humana. A família cabia dar-lhe o nome assegurando-lhe alguns bens, sentimentos como, carinho, afeto e amor eram praticamente nulos, pois estabelecer relações e vínculos com as crianças não era comum.

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Figura 01: Trajes das crianças da França e Alemanha no início do séc. XVI.

<http://estudodainfancia.blogspot.com.br/2012/08/o-traje-das-criancas.html> acesso em 05 de agosto 2013.

A criança pequena não tinha importância para a família, morrer na infância era natural, as mulheres geralmente tinham vários filhos a fim de que um ou outro vingasse.

Em relação à mortalidade infantil, a mesma era vista na época como algo eventual, natural e até mesmo comum. Hábitos de higiene eram quase inexistentes, a alimentação não tinha muitos cuidados por esse motivo havia um alto índice de mortalidade infantil, não era dada a devida importância ao problema.

Essas concepções sobre a morte das crianças persistiu até o século XIX vista como seres ‗sem alma‘. A mesma era considerada como insignificante, sendo assim o enterro acontecia em qualquer lugar, inclusive no jardim da própria casa.

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[...] a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar na lembrança; no segundo, o da criança morta, não se considerava que essa coisinha desaparecida tão cedo fosse digna de lembrança: havia tantas crianças, cuja sobrevivência era tão problemática. (ARIÈS, 1981, p. 56).

Já no século XIII a criança ainda continua a ser representada como um adulto em miniatura, mas podemos considerar que se inicia um sentimento de representar a infância, surgindo alguns tipos mais próximos ao moderno.

Podem-se citar alguns tipos de crianças que surgiram ou começaram a ter evidência neste século XIII, quando surge um anjo que aparentava ser um jovem adolescente, que participava auxiliando nas missas prestando seus serviços ao religioso. As mesmas faziam parte de uma classe privilegiada, pois obtinham algum tipo de contato com as letras, sendo educados a participarem da vida religiosa, pois naquele tempo não havia a existência de instituições denominadas como seminários.

O segundo tipo de criança pode ser considerado como paradigma de todas as crianças pequenas, da biografia da arte. Segundo o historiador Ariès:

[...] o menino Jesus ou Maria ou Nossa Senhora menina, pois a infância aqui se ligava ao mistério da maternidade da Virgem e ao culto de Maria. No início, Jesus era, como as outras crianças, uma redução do adulto: um pequeno Deus-padre majestoso [...] Com a maternidade da Virgem, a tenra infância ingressou no mundo das representações. No século XIII ela inspirou outras cenas familiares. (ARIÈS, 1981, p. 53).

O terceiro tipo surge na fase gótica, na qual as crianças anteriormente a mesma não eram representada nua, ou seja, sempre apareciam vestidas ou cobertas. Nos séculos XV e XVI, as crianças começam a ganhar mais destaque, não sendo ainda representada ―só‖, entretanto dá-se início nesta época a representação mais constante nas pinturas juntamente com sua família, brincando sozinha, ou com seus amigos, participando como ouvinte das atividades nas quais sua família se fazia presente.

A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se particularmente e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII. (ARIÈS, 1981, p.65)

Mas as mudanças de alguns comportamentos não evidenciam que a criança é valorizada com seus direitos reconhecidos, ainda nesta época a mesma continuava não sendo

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reconhecida. Em relação ao cotidiano a mesma apenas se fazia presente juntamente com os adultos, o mundo das crianças não era separado dos adultos.

A partir do século XV, na Europa pode-se considerar que se inicia o aparecimento de outra concepção relacionada à infância, sendo ela denominada por paparicação a mesma atribuía a infância por ser uma fase curta sendo essa tomada pela atenção dos adultos.

Esse sentimento segundo o historiador (ARIÈS 1981, p.58), ―era compreendido pelo gosto pitoresco e pela graça desse pequeno ser, ou o sentimento de infância ―engraçadinha‖, com que nós, adultos, nos divertimos ―para nosso passatempo, assim como nos divertimos com os macacos‖

No século XVI os sentimentos foram demonstrados pelos familiares ao enterrarem seus filhos inserindo na lápide retrato e escrita referindo-se a criança, esse sentimento de tristeza pela perda até então não era comum.

Anteriormente, as crianças já falecidas tinham os retratos inseridos nos túmulos de seus gestores, somente mais tarde essa condição foi sendo modificada fazendo parte dos túmulos de seus pais e posteriormente eram retratadas sozinhas na sua lápide.

Em relação ao século XVII, o mesmo se afirma como início de grandes e significativas mudanças relacionadas às crianças, as mesmas começam a ser ilustradas em forma de retratos sozinhas, essas cenas já não ocorre de forma esporádica tornando-se comum a criança ser representada por ela própria. Somente no século XIX é que surge uma nova visão como se tem na atualidade a ideia de permitir que esses mundos passem a ser distintos.

Enquanto as mudanças demográficas ficam evidenciadas, surge uma nova sensibilidade ligada à infância, a mortalidade ainda atingia altos índices, é a partir desse momento é que surge um maior interesse e uma maior preocupação em imunizar suas crianças para que pudessem ficar protegidas de algumas doenças reduzindo o índice de mortalidade infantil.

Com o passar do tempo as crianças pareciam aos olhos dos adultos como sendo um ser que lhes permitissem sorrir, dessa maneira a criança começa a ser percebida de uma maneira diferente, um exemplo claro é a visão sobre a morte, pois os pais já não acreditavam que a mesma era natural, passando a dar uma importância maior ao ser que havia falecido.

As crianças passam a ser vista com outros olhos por uma sociedade que até então nunca antes havia lhe reconhecido. A partir dessas observações feitas pelos adultos a infância começa a ter uma maior importância e a ter uma concepção de acordo com suas particularidades.

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3.1 Concepções da Infância na Contemporaneidade

Por volta do século XVIII tempo este pertencente à Idade Moderna, dá-se início as aparições das crianças retratadas sozinhas sendo estas imagens menos desfiguradas como no passado.

O auge sobre a descoberta da infância ocorre no século XVIII, época essa na qual os artistas representavam as crianças através das pinturas e desenhos. ―Essa cena era denominada como infâncias literárias, na qual se revela a primeira infância, o corpo e hábitos infantis, era oralidade da criança‖ (ARIÈS, 1981).

Sobre a ausência das imagens infantis acredita-se que Santo Agostinho teria sido o responsável através da teologia cristã, pois pregava uma imagem dramática da infância, ou seja, retrava a mesma como sendo o mal.

Santo Agostinho acreditava que a infância era: [...] o mais forte testemunho de uma condenação lançada contra a totalidade dos homens, pois evidencia como a natureza humana corrompida se precipita para o mal (BADINTER,1985, p.55).

O pensamento de Santo Agostinho sobre a infância se estendeu até o final do século XVII, esse pensamento sobre a infância ser considerada como sendo uma ocasião de pecado ou até mesmo um erro era também compartilhado pelo filosofo René Descartes, afirmando que a infância era um tempo do mal, da falta de razão, de enganos e da impotência, para ele a mesma é um período da vida em que a capacidade de conhecer esta sob a dependência do corpo.

Nesta época as crianças eram consideradas como empecilhos, pois desde o nascimento o bebê era entregue a sua ama de leite sendo essa a primeira rejeição. Nos séculos XVII e XVIII, as crianças eram entregues a governantas se fazendo presentes em sua companhia até completar sete anos de idade, após crianças de sexo masculino eram entregues a seus preceptores.

Em relação à educação dessas crianças ainda nos séculos XVII e XVIII, levando em consideração as classes mais abastadas, ou seja, a elite suas crianças permaneciam um tempo limitado juntamente com sua família sendo esse tempo de aproximadamente cinco anos, esse tempo em que a criança permanecia com sua família não significava que obtivesse carinho e atenção, mas sim vivia na maior absoluta solidão sem obter os cuidados necessários sem amor e afeto.

A história das instituições relacionadas às crianças pode ser considerada recente, pois até então as crianças não obtinham um ambiente nas quais pudessem ser cuidadas e educadas,

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essas instituições quando criadas tinham como maior preocupação a questão assistencialista, ou seja, questões pedagógicas não era o ponto central.

Com a Revolução Industrial, surge a preocupação para com as crianças pequenas, pois as mães se fizeram presentes e atuantes no mercado de trabalho, partindo dessa concepção surge a necessidade da criação de lugares onde as mesmas permaneceriam enquanto seus responsáveis trabalhavam.

Segundo Narodowski, do ponto de vista histórico e filosófico a concepção da infância possui um caráter histórico, dessa forma, não são naturais as concepções contemporâneas. A transição da antiga a nova concepção da infância no Ocidente se deu em duas etapas no que se refere aos sentimentos, sendo que a primeira diz respeito à necessidade de proteção e a dependência da criança em relação às pessoas adultas.

O outro sentimento surge com o interesse pela infância, mas como objeto de estudo e de normalização, sendo os pedagogos os sujeitos destacados nesse processo e a escola, o melhor, o processo de escolarização. O cenário observável desse interesse (Baquero e Narodowski, 1994).

Não há um consenso entre os autores sobre o reconhecimento da infância segundo o historiador Philippe Ariès o mesmo se dá somente na idade moderna, já em contraponto cito o pesquisador brasileiro (MOYSÉS KUHLMANN Jr, 1998) que através de pesquisa relacionados à época anterior a fase temporal que se refere Áries afirma que esse sentimento era existente.

―O sentimento de infância não seria inexistente em tempos antigos ou na Idade Média, como estudos posteriores mostraram. Em livros escritos pelos historiadores Pierre Riché e Daniele Alexandre-Bidon (...), fartamente ilustrados com pinturas e objetos, arrolam-se os mais variados testemunhos da existência de um sentimento da especificidade da infância naquela época.‖ (KUHLMANN, 1998, p.22)

Dessa forma, é primordial que compreendamos que não existe apenas uma infância, mas sim infâncias a mesma não pode ser considerada como sendo homogênea, mas reconhecer toda a subjetividade inerentes em todas as vivências, experiências e culturas, sendo a mesma um sujeito que faz e produz ―culturas‖ a partir do meio em que está inserida.

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3.2 Definições de Infância e de criança

De acordo com Walter O. Kohan (2003 p.53). É uma etapa da vida, a primeira, o começo, que adquire em função de sua projeção no tempo: o ser humano está pensando como um ser em desenvolvimento, numa relação de continuidade entre o passado, o presente e o futuro. Assim, a intervenção educacional teria um papel preponderante nessa linha contínua, se tornaria desejável e necessária na medida em que as crianças não seriam um ser definido apriori, elas seriam, sobretudo, possibilidade, potencialidade, seriam o que devem ser.

A infância tem ocupado um lugar significativo nas diversas ciências do humano, a pedagogia deveria se fazer presente e atenta a dinâmica da sociedade onde as imagens da infância se constroem e reconstroem. Dessa forma, há uma necessidade de compreender como a sociedade adulta vê a criança. Partindo desse princípio é importante conhecer e identificar as infâncias não a considerando como única, mas sim reconhecer as diferenças e desigualdades nas formas de viver a infância.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010 p.12). Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivência, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

A pedagogia se repensará na medida em que estiver atenta em como a infância experimenta seu viver, levando em consideração o que as diversas ciências pensam sobre as verdades da infância. Considerando as contribuições da antropologia, sociologia, pedagogia e outras ciências sendo importante ressaltar o que afirma (BARBOSA, 2000, p. 84): sobre a infância plural

Falar de uma infância universal como unidade pode ser um equívoco ou um modo de encobrir uma realidade. Todavia uma certa universalização é necessária para que se possa enfrentar a questão e refletir sobre ela, sendo importante ter sempre presente que a infância não é singular, nem única. A infância é plural: infâncias.

A partir de leituras realizadas corrobora-se o repensar sobre a importância de desmistificar a ideia de uma infância única, pois, considerando os aspectos citados acima é constatado que não existe a possibilidade de estabelecer como verdade absoluta a existência de uma infância homogênea.

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Ao ingressar na escola os educandos entram em contato com um ambiente diferente iniciando a socialização com um grupo e suas diversidades sejam elas culturais, étnicas, sociais etc.

A criança participa, também, de outros universos sociais, como festas populares de sua cidade ou bairro, igreja, feira ou clube, ou seja, pode ter as mais diversas vivências, das quais resultam um repertório de valores, crenças e conhecimentos. Uma das particularidades da sociedade brasileira é a diversidade étnica e cultural. Essa diversidade apresenta-se com características próprias segundo a região e a localidade; faz-se presente nas crianças que frequentam as instituições de educação infantil, e também em seus professores. (RCNEI, p14. 2009)

Considerando que as crianças desde muito pequenas então em contato com as diversidades, sendo elas na rua ou na escola, por isso é importante que a educadora através das mediações vá inserindo situações de aprendizagens que visam o respeito através das percepções e identificações sobre as diferenças que há entre o grupo em estão inseridos.

Ao longo do tempo direcionou-se para um olhar uniforme sobre a infância criou-se uma visão da mesma única sendo tratada de forma homogênea tanto pela mídia e como pela escola, pois se considerarmos o pensamento do Sociólogo Pierre Bourdieu, onde afirma que a instituição escolar legítima uma educação elitizada fragmentando e reproduzindo as desigualdades. Dessa forma, o autor explica que o capital cultural se dá fora do contexto escolar, sendo transmitido pela família com estímulos constantes, incentivos a boa linguagem e as boas maneiras.

Percebe-se através dos argumentos de Bourdieu, que muitas vezes as escolas não levam em consideração as vivências dos estudantes, pois aqueles que não tiveram um capital cultural são submetidos às mesmas aprendizagens daqueles que já possuem, aumentando assim certas desigualdades culturais e sociais, dessa forma a diversidade cultural acaba por ser anulada.

Não se pode considerar a infância como única, pois num país onde a diversidade de classes sociais é tão distinta, é preciso reconhecer que as diferenças existem, uns são mais privilegiados que outros, por isso que a concepção ―única‖ de infância deve ser repensada e avaliada, só através deste reconhecimento é que se vai aprender, ensinar e reconhecer as diferenças entre as várias infâncias existentes. É preciso observar essa ―nova‖ infância, essa ―nova‖ criança que se faz presente e atuante no dia a dia, dessa forma há uma necessidade de olhar as infância e reconhecê-las culturalmente.

Considerando as ciências voltadas para a humanidade a sociologia, filosofia, antropologia e pedagogia nos auxiliam para que possamos compreender a infância como

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sendo múltiplas, rompendo com a ideia tradicional dos paradigmas da homogeneização da infância, dessa forma a mesma deixa de ser singular passando para a pluralidade, pois as questões relacionadas à infância devem ser pensadas sob ―as Infâncias‖.

Contribuem para os Estudos da Infância, alguns autores da Sociologia da Infância e da Antropologia, tais como (SARMENTO: PINTO; 1997 - COELHO; 2007) entre outros, sendo Ariès o primeiro historiador a se aventurar a escrever sobre a história e a concepção de infância e da família,

Esses autores citados acima contribuem rompendo com a questão de infância homogeneizada, pois primeiramente a infância não era reconhecida, posteriormente a criança passa a ser considerada como um ser ingênuo, passivo, inocente e omisso as decisões determinadas pelos adultos, considerando que homogeneização muitas vezes é reproduzida pela própria instituição escolar, na medida em que oferece uma pedagogia também única e homogeneizadora.

Após alguns estudos realizados por sociólogos e antropólogos ligados a infância essa concepção sobre essas crianças passa a tomar outra forma, ou seja, a mesma começa a ser percebida como um sujeito social, capaz de interpretar, falar e não aceitar o que a sociedade impõe passivamente, desse modo a criança por influenciar e ser influenciadas participa da sociedade.

O primeiro passo para desmistificar a infância única é reconhecer toda uma questão que envolve família, classe social, educação, capital cultural, partindo dessas premissas podemos refletir e identificar a diversidade de infâncias, principalmente nas escolas. Dessa forma, é preciso reconhecer as diferenças entre ambas às infâncias, saber ouvir o que essas crianças têm a falar possibilitar o processo narrativo sendo de extrema importância abrir espaço para o diálogo, só assim pode-se estabelecer um tipo de troca entre quem ouve e quem fala.

O autor Mariano Narodowski faz importantes reflexões sobre dois pólos entre a infância hiper-realizada e a des-realizada, sendo a primeira uma consequência da modernidade, pois o fácil acesso a tecnologia, televisão, internet e vídeo games são recentes, a mesma ganhou força nas últimas décadas onde a cada dia estão sendo apresentadas outras tecnologias mais potentes com um poder de encantar essas crianças cybers.

Quando o autor se refere nos dois pólos vividos pela infância, em termos de realização, ressalta-se que a infância des-realizada sempre existiu, as crianças abandonadas, sem recursos, desvalorizadas as de ruas, as que trabalham, estiveram e estão excluídas,

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enquanto as hiper-realizadas vivem e são inseridas num mundo onde estão incluídas aos bens materiais e simbólicos, em uma realidade real e não virtual.

Podemos verificar que a uma distância considerável entre as duas infâncias, sendo que para alguns tudo é proporcionado e para outros ―nada‖, dessa forma fica fácil entender que alguns governantes sentem-se na obrigatoriedade em compensar de alguma forma essas gerações de des-realizadas, pois as mesmas dificilmente conseguirão chegar a essa outra infância (realizada) tão distante de sua realidade.

Considerando um contexto escolar o autor afirma que os pais delegavam às instituições escolares modernas a capacidade de ensinar/educar, pois o professor era um sujeito com especialização capaz de contribuir com saberes nas quais irão servir subsídios positivos aos mesmos quando adultos foram.

Essas escolas ao inserirem esses educandos em seus contextos nem sempre eram pensadas a favor da infância, pois as condições culturais e familiares em caso de alguma situação conflituosa o poder que prevaleceria sempre era da escola.

Segundo Narodowski já não é a cultura escolar a que necessariamente é predominante, mas frente a um conflito entre cultura escolar, cultura familiar e cultura de mídia, o conflito é dirimido no aqui e no agora, sem legitimidade pré-estabelecidas.

A partir do pensamento do autor constata-se que toda a legitimidade relacionada aos educadores já não pode ser considerada como única, na contemporaneidade o saber do adulto perante a criança já não se faz dessa forma, as crianças passam a ser ouvidas.

Em relação aos avanços culturais voltados para mídia as escolas estão um passo atrás, pois seus métodos tradicionais de ensino ainda não conseguem acompanhar os interesses de uma geração voltada para o cenário pós-figurativo, dessa forma a geração internet é compreendida e processadas por aqueles que nela estão inseridos.

Como educadora de escola de educação infantil, através das observações e fazendo relações com o pensamento de Mariano percebi que as crianças frequentadoras da escola em que leciono podem ser classificadas como crianças pertencentes à classe das hiper-realizadas, pois é possível verificar seus interesses tecnológicos e obtenção do que desejam.

Dessa forma não posso deixar de refletir sobre essa infância que tudo e quer tudo pode. A intenção não é criticar a infância hiper-realizada, pois os pertencentes dessa concepção podem ser considerados como privilegiados, fazendo parte de uma parcela pequena da sociedade, mas sim refletir sob a minha posição como educadora realizando situações de aprendizagem voltadas para a realidade, pois a realidade virtual eles dominam melhor que ninguém, dominam e têm acesso aos bens culturais.

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Atualmente os sujeitos que compõem a infância e os adolescentes são protegidos pelo Estado, através de leis previstas em legislações específicas como Constituição Federal, o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente e o RCNEI- Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil.

As crianças são vistas como sujeitos que possuem direitos e deveres, direitos esses que são assegurados ao longo da história do Brasil, para que as mesmas sejam respeitadas por toda uma sociedade envolvida não apenas nos cuidados, mas também com a educação de suas crianças lhe assegurando o bem estar, saúde, lazer, alimentação, moradia etc.

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4 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

A história da infância do ponto de vista europeu mostra que não havia uma preocupação única com as crianças, as mesmas eram consideradas como adultos em miniatura, participavam de assuntos, trabalhos e castigos tudo relacionado como se adultos fossem. A mortalidade infantil nessa época era considerada normal. A entrada da criança na história é recente e se consolida a partir do século XVIII, mudando a concepção de criança e adulto a mesma passa a ter direito a vida e começa a ser entendida como criança.

Com o passar do tempo essa concepção de infância foi se modificando, tomando formato em relação à Educação Infantil, a partir do século XIX onde começam a surgir às primeiras instituições de educação, tendo como finalidade somente o cuidado, ou seja, o assistencialismo. Concepção essa que começa a sofrer mudanças, e de certa forma mudanças significativas.

Segundo Sanches (2004), a ideia de creche surge na Europa, no final do século XVIII e início do século XIX, a creche propunha-se ―guardar‖ crianças de 0 a 3 anos, durante o período de trabalho das famílias, a instituição denominada de creche nasce a partir da necessidade vinculada ao crescimento do capitalismo e da população.

Já no Brasil, a instituição creche surge no final do século XIX, e segundo a autora, o mesmo se deu devido ao processo de industrialização que estava ganhando força juntamente com o crescimento populacional do país.

Com o crescimento urbano, há um aumento significativo da população, a pobreza e a falta de emprego eram reconhecidas como um problema, dessa forma algumas pessoas ligadas a elite do país reuniam-se em busca de alternativas para que essa situação pudesse ser contida, assim proferem com o estado em busca de uma solução voltada para o assistencialismo nas quais iriam fazer parte a população menos favorecida do país.

Segundo o pensamento da autora as atitudes que os empregadores colocaram em prática para que pudessem contar com seus empregados criando algumas vilas bem próximas aos locais de trabalho, com estabelecimentos de apoio como mercearias, escolas, creches, dentre outros.

Benefícios ou facilidades esses que possuíam um caráter de patrocínio das instituições filantrópicas, nas quais as mulheres da alta sociedade e do estado faziam parte, esses e outros facilitadores tinham como objetivo manter a mão-de-obra de seus funcionários com o rendimento esperado, uma vez que suas crianças estavam em uma instituição educacional ou de lazer.

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Os avanços da Educação Infantil no Brasil acontecem a partir da década de 80, tendo como referência a Constituição Federal de 1988, a educação das crianças pequenas que antes eram consideradas apenas como um trabalho assistencialista passou a ser um dever do Estado visando os direitos de suas crianças e da sociedade, como prevê o inciso IX do art 24 da Constituição Federal.

Partindo desta, a educação das crianças de zero a seis anos de idade passa a ser assegurado com total prioridade pela família, dever público e pelo estado, ou seja, toda sociedade passa a ser responsável por suas crianças.

Conforme prevê o inciso IV do art. 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é dever do Estado assegurar a criança atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade, sendo alterado pela Lei nᵒ 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, onde passou a ser obrigatório a inclusão das crianças a partir dos seis anos de idade no Ensino Fundamental.

A Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional, Lei nº 9394 de 20 de Dezembro de 1996, (LDB) coloca a criança como sujeito de direitos em vez de tratá-las, como ocorria nas leis anteriores a esta, como objeto de tutela, evidencia a importância da Educação Infantil, sendo reconhecida como primeira etapa da educação das crianças pequenas, passando a desempenhar um trabalho visando o pedagógico não apenas os cuidados e a higiene, dando mais proteção à educação.

Dessa forma a Educação Infantil passa a ser desempenhada juntamente com o reconhecimento das diferenças, a educação das crianças se voltam para o atendimento no qual um dos seus interesses são justamente a valorização das especificidades e o desenvolvimento de cada sujeito inserido nesta faixa etária.

Sobre a Educação Infantil a LDB prevê:

A Educação Infantil é conceituada como a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico e social, complementando a ação da família e da comunidade. No art. 30 a Educação Infantil será oferecida em creches para crianças de até três anos de idade e em pré- escolas para crianças de quatro a cinco anos de idade. No art. 31. Na Educação Infantil a avaliação será feita mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para acesso ao Ensino Fundamental. (LDB, 1996, art.29)

A partir dessa conceituação podemos considerar como um facilitador para que os educadores pensem seus alunos de maneira individual, respeitando cada fase contribuindo

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incondicionalmente, para que esse sujeito se desenvolva integralmente e exerça sua cidadania obtendo seus direitos respeitados.

Considerando que a Educação Infantil tem uma função pedagógica, é importante ressaltar que a mesma visa à mediação das aprendizagens, contribuindo, ampliando, possibilitando, oportunizando, acrescentando e valorizando os conhecimentos que os mesmos trazem consigo, pois as crianças da contemporaneidade possuem acesso as diversas informações e muitas vezes trazem as mesmas para ser discutidas em sala de aula.

Desta forma é importante que o educador tenha um olhar diferenciado, sabendo ouvir, e respeitar a criança, já que a mesma é produtora de cultura, é um sujeito que precisa ser ouvido, ao educador cabe a mediação para que o mesmo se assuma como protagonista da sua história. Atualmente as crianças não estão só inseridas na Educação Infantil, as mesmas são frequentadoras de diversas atividades fora do contexto escolar, portanto, vários são os espaços em que elas se socializam e aprendem.

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5 ATIVIDADES EXTRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Considerando que as crianças contemporâneas têm uma noção, uma concepção temporal diferentes dos adultos é importante ponderar e procurar entender como os pais estão administrando e tempo de ser criança, ou seja, considerando quais são os interesses das crianças, brincadeiras e até mesmo suas expectativas.

Levando-se em consideração que a sociedade está passando por rápidas e profundas transformações devido à globalização, época em que tanto o tempo e o espaço sofrem uma grande compressão, é necessário (válido) buscar melhor entender o motivo de tanta pressa gerando certa tensão em busca de conhecimentos diversificados, parecendo até uma corrida contra o tempo. Identificamos que de certa forma há a existência desde a Educação Infantil de uma preparação para inserção em um mundo globalizado que exige qualificação, segundo muitos pontos de vista.

É direito da criança a garantia de uma educação que visa suprir suas necessidades educacionais, ou seja, o direito a uma educação de qualidade é por lei garantida a todas as crianças, dessa forma na atualidade, a idade de inserção de crianças na escola de Educação Infantil é de quatro anos, não deixando sem escola as crianças pertencentes a essa faixa etária.

Quando a criança ingressa em uma instituição de Educação Infantil a mesma passa a ter a oportunidade de conviver, interagir e socializar-se com outras pessoas pertencentes a esse novo grupo em que está inserida, considerando que o universo educacional é recheado de diversas situações de aprendizagens e brincadeiras, há uma imensa possibilidade de que a mesma dê significados às mediações de conhecimentos sob a realidade em que se encontra, por isso que um ambiente lúdico proporciona grandes possibilidades de construção de conhecimentos pedagógicos e porque não dizer conhecimentos do mundo e da realidade.

A Educação Infantil é uma etapa muito importante para a formação social de uma criança a essa instituição cabe a mediação para que a mesma possa perceber sua identidade, aceitas as diversidade e relacionar-se com o outro de maneira respeitosa percebendo as igualdades e aceitando as diferenças.

Ao longo da minha graduação considerando também o tempo que me encontro inserida no ambiente escolar foram surgindo algumas dúvidas, por exemplo, a importância ou não da inserção de atividades extras classes tão cedo, ou seja, desde a Educação Infantil.

Partindo dessa questão, através das observações dei início a alguns questionamentos em busca da compreensão sobre essas atividades, qual o tempo destinado

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para as mesmas e qual o tempo destinado as brincadeiras, a criança pode ser cobrada ainda mesmo que pequena. Para elucidar essa última questão obtive como ferramenta de esclarecimento com o RCNEI, o qual afirma que a criança é capaz desde muito cedo, de efetuar escolhas e assumir responsabilidades favorecendo dessa forma, o desenvolvimento da auto- estima para que as crianças se sintam capazes e felizes.

Considerando o que afirma o RCNEI, os pais e até mesmo os professores podem inserir algumas responsabilidades às crianças, entretanto, é preciso ter cautela para não exigir de maneira exagerada, pois estamos falando de crianças entre quatro e cinco anos de idade frequentadoras da Educação Infantil, educandos ainda pequenos que estão formando sua identidade em busca de uma maior autonomia sem deixar de ser criança.

Em relação às atividades extras podem ser um fator positivo desde que realizadas com cautela vem a somar, pois as mesmas visam ampliação da sensibilidade promovendo o desenvolvimento corporal, intelectual e linguístico das crianças envolvidas neste contexto de atividades, desta forma as mesmas enriquecem as relações.

A questão que faço relaciona-se às atividades extras, ocorre certo exagero quando as crianças não possuem tempo para viver a infância, brincar, ousar, fantasiar, imaginar e aproveitar essa fase. Com uma agenda super lotada, pouco tempo sobra para que as crianças possam vivenciar coisas de criança aqui e agora, a única coisa que resta para as mesmas é cumprir com todas as obrigações relacionadas às atividades extras que são agendadas pelos pais.

5.1 Como determinadas crianças da ―Escolinha‖ nome fictício vivem seu tempo fora do contexto escolar

O modo como as crianças vivem sua infância vem passando por grandes transformações na atualidade, uma delas é justamente a supervalorização da infância, pois as mesmas deixaram de ser ignoradas tornando-se alvo de preocupações de seus pais. Ou seja, as famílias investem cada vez mais cedo em seus filhos, as melhores escolas, as melhores roupas, os melhores brinquedos, as últimas tecnologias, celulares computadores, tablets etc.

O que essa sociedade almeja e muitas das famílias com as quais convivemos é que suas crianças vivam a melhor infância que a elas possa ser proporcionadas. A interrogação que me acompanha é, será que é dessa forma que se valoriza a infância? A criança está sendo

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alvo de grandes expectativas, sendo que alguns os pais buscam inserir seus filhos no maior número de atividades extracurriculares possíveis.

Certos autores, como Filho (2011) afirmam que a criança já chegou ao ponto de verificar na agenda qual o dia que a mesma tem disponível para brincar ou até mesmo não fazer nada as crianças estão cheias de compromisso.

As discussões de como lidar com as crianças não param por aí. Você tem se debruçado sobre o que é a vida das crianças de classe média, para as quais os pais não têm tempo: São verdadeiras mini executivas: vão à escola, à aula de inglês, à aula de tênis, ao judô, ao futebol, ao professor particular etc. Não tem tempo para o que elas mais gostam de fazer, que é brincar, fantasiar, correr, saltar, pular livres, sem diretrizes ou muito deveres a cumprir. Seguramente essas crianças vivem em verdadeiras gaiolas de ouro, com dinheiro suficiente para ter suas vontades realizadas. (FILHO, 2011 p.82).

É direito da criança se fazer presente na escola, mesmo que muito pequena, essas instituições foram criadas devido a demanda de crianças que necessitam desse espaço que por sua vez é de direito garantido.

Considera-se que entre uma ou outra atividade é importante que as crianças tenham um tempo para brincar, pois a brincadeira faz parte das aprendizagens e também é direito adquirido. Segundo o RCNEI:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (RCNEI, pág. 22)

O ato de brincar faz parte da formação da criança, contribuindo para sua formação como protagonista de sua história, desta forma não se pode limitar o tempo ou fase para brincar, não existe idade para brincar os pais mesmo com seu tempo limitado podem auxiliar participando das mesmas.

A sociedade contemporânea vive num mundo acelerado devido a globalização, dessa forma as pressões e cobranças estão sendo impostas, as crianças e os adolescentes vêm sendo pressionados a dar resultados e assumir compromissos precocemente. Alguns pais não percebem se essa atividade vem ao encontro dos anseios da criança, outra questão que se pode levar em consideração é a vontade e o interesse que a criança tem ou não pela realização de

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diversas atividades. Como elas se sentem, o que mais gostam o que desejam? Seria interessante escutar a criança, ver suas preferências e desejos.

Como já citado anteriormente, acredita-se que manter o diálogo seria a melhor maneira de conhecer e identificar algumas reações positivas e negativas ligadas às crianças em relação às atividades extras. Dessa forma, poderiam em conjunto com a criança escolher uma ou duas atividades que venham ao encontro dos anseios das mesmas, trocando se necessárias a quantidade pela qualidade.

Nessa perspectiva parece que há tendências de fazer a infância passar a ser uma preparação contínua que se aproximam muito a vida adulta, de fato a Educação Infantil auxilia nessa construção de sujeito capaz de ser autônomo buscando sua identidade, mas não se pode afirmar que mesmo com tanta preocupação dos pais em matricular seus filhos na melhor escola, sendo os mesmos frequentadores de outras atividades extras será garantia de sucesso no futuro.

Muitas vezes a agitação das crianças, a agressividade ou choros podem demonstrar que não estão bem, o estresse infantil tem se manifestando cada vez mais cedo. Alguns pais acabam por não perceber o efeito que as múltiplas atividades em excesso podem causar ao desenvolvimento físico e emocional das crianças.

Novamente a questão do tempo e vivências vem à tona, sendo o tempo que os pais têm outra questão que merece ser ressaltada, pois com tantas atividades extras dos filhos e tanto trabalho dos pais, qual seria o tempo que alguns teriam disponível para brincar, conversar ou simplesmente, se fazer mais presente na vida dos filhos.

Alguns pais possuem pouco tempo para seus filhos, pois o trabalho toma conta de grande parte de seu tempo, muitas vezes o horário de lazer com os filhos torna-se muito escasso, pois os pais permanecem muitas horas fora de casa. Dessa forma, o que o que resta para as crianças muitas vezes é a compensação material, os responsáveis por não possuir um tempo de qualidade as crianças estão recebendo menos atenção que poderiam.

Considerando que a globalização ganhou força no final do século XX, sendo o mesmo um processo de integração econômicas e culturais que envolvem inovações tecnológicas onde a criança já faz parte da sociedade que sofre as modificações e efeitos dessa globalização, a mesma tem seu cotidiano afetado com essas questões que evolvem seu dia a dia, tais como a falta de tempo dos pais, o consumo as atividades extras a terceirização dentre outros.

Segundo (POSTMAN, 1999), estaríamos nos encaminhando para o desaparecimento da infância, considerando fatores como a adultização nas quais as crianças contemporâneas demonstram interesse em ser adulto, às vezes o mesmo passa a ser dos pais, pois acabam

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incentivando a adultização, desde o modo de vestir-se parecendo um mini adulto, frequentando desde muito pequenas salões de beleza e até mesmo eventos noturnos juntamente com os adultos. Narodowski, não concorda com a tese do fim da infância de Postman, ele argumenta que hoje há um deslocamento de certa concepção de infância que não é mais a romântica ou inocente, mas uma infância consumidora,

Outro fator a ser destacado sobre o suposto desaparecimento da infância passa pela questão da erotização das mesmas, tudo o que vem ao encontro da criança antes mesmo que ela esteja na fase ou faixa etária para compreender ou até mesmo receber determinados estímulos pode-se caracterizar como precoce.

Como exemplo, cito algumas músicas que se remetem ao duplo sentido com letras que visam à estimulação sob a sexualidade com coreografias sensuais inadequadas para as crianças, que dançam, rebolam fazem gestos sem saber o que os mesmos representam. Essas músicas geralmente possuem um refrão de fácil entendimento, dessa forma fica mais fácil de ser decoradas (aceitas) pelas crianças.

Destaca-se também o corpo escultural de certas bonecas vestidas com roupas e acessórios que se adequariam ao público adulto, com maquiagens cada vez mais sofisticadas voltadas para o público infantil entre outras inúmeras questões relacionadas ao tema.

Outros autores são contrários a suposta afirmação sob o desaparecimento da infância, um deles é o autor Manuel Sarmento que ao invés de desaparecimento acredita que a infância esta se modificando segundo o mesmo:

Os tempos contemporâneos incluem, nas diferentes mudanças sociais que os caracteriza, a reinstitucionalização da infância. As ideias e representações sociais sobre as crianças, bem como suas condições de existência, estão a sofrer transformações significativas, em homologia com as mudanças que ocorrem na estruturação do espaço-tempo das vidas cotidianas, na estrutura familiar, na escola nos ―mass‖ média, e no espaço público. Contrariamente a proclamada ―morte da infância‖ o que a contemporaneidade tem aportado é a pluralização dos modos de ser criança, a heterogeneização da infância enquanto categoria social geracional e o investimento das crianças com novos papéis e estatutos sociais (2003ª)

Considerando os estudos feitos pelos autores citados acima, compartilho com Sarmento, pois o mesmo afirma que a infância está se modificando devido a fatores como a globalização, tendo em vista as alterações sofridas pela sociedade, se fazendo presente nas questões relacionadas aos estatutos sociais.

Em contraposição a toda essa valorização e preocupação alguns pais poderiam rever a educação dos filhos, no que diz respeito (relacionadas) às atividades, pois é visível que se vive numa época que a criança é realmente um sujeito de direitos, a qual tem voz e necessita que

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suas narrativas sejam ouvidas e entendidas, a criança hoje manifesta suas vontades, dessa forma é importante que os pais ou responsáveis estejam atentos a escuta dessas narrativas.

Com tantas atividades realizadas pelos pais devido ao mundo atual que estamos vivendo com modificações visíveis algumas atividades inerentes à infância estão sendo terceirizadas.

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6 A INFÂNCIA TERCEIRIZADA

Considerando que a sociedade contemporânea vive num mundo de cobranças e crescente aceleração no seu ritmo, vale à pena refletir sobre a infância e qual o seu papel juntamente com a família, quem as educa e com quem convivem.

Não é de hoje que a criança vem obtendo uma supervalorização, mas se pensarmos sob um aspecto de transferência de cuidados e de educação, os pais estão inseridos num mundo de trabalho que visa à competitividade. Com quem fica a responsabilidade de educar?

Percebe-se que essa transferência de responsabilidade passa a ser sobre as babás, avós e professores recebendo a missão de ensinar valores, cuidar e educar. Segundo o autor (a):

[...] a arte feminina de cuidar das crianças está sendo esquecida. É a impressão de que avós atuais (há exceções insisto) esqueceram-se de ensinar ás filhas e, por que não, aos filhos também, a importância da arte milenar, transmitida de geração para geração, de como cuidar dos filhos. (FILHO, 2011, p. 50)

Entende-se que essa questão lhe foi favorecida a partir da inserção da mulher no mercado de trabalho, a valorização profissional toma consistência e passa a ser prioridade na vida de algumas mulheres contemporâneas.

Na contemporaneidade a questão de mostrar-se bem sucedido passa a ser muito valorizada apenas com o que se tem. Um carro zero quilômetro, viagens, bolsas e casas cada vez mais luxuosas, ou seja, os pais da contemporaneidade estão em busca do ter para mostrar-se um profissional altamente competente e bem remunerado.

Segundo o autor (FILHO 2011) faz uma pergunta será que a mulher está achando ser um sacrifício engravidar, amamentar, limpar e cuidar de seus filhos? Como em todos os casos há exceções não estamos afirmando que todas as mulheres pensam e agem dessa forma.

O fato a considerar é quais são as prioridades dessas mulheres em relação a trabalho, cuidados e educação de seus filhos sem repassar essa responsabilidade para outros, mesmo que estes sejam avós, tios ou qualquer pessoa da família isso sem citar babás e professores.

O que fica evidenciado é que a mulher moderna não está dando conta de conciliar, trabalho, estudo, educação e cuidados com seus pequenos.

Segundo o autor (FILHO 2011) uma criança com menos de dois anos sofre com afastamentos superiores á 12 horas longe da mamãe, pois o vínculo nessa fase da vida é incondicional o bebê acredita ser abandonado por seu grande amor e provedor de carinho e afeto.

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