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2011 SILVA - HOMICIDIO PRATICADO NA DIRECAO DE VEICULO AUTOMOTOR POR CONDUTOR SOB INFLUENCIA DE BEBIDA ALCOOLICA

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

JANAÍNA CARVALHO SILVA

HOMICÍDIO PRATICADO NA DIREÇAO DE VEÍCULO AUTOMOTOR POR CONDUTOR SOB INFLUÊNCIA DE BEBIDA ALCOÓLICA: DOLO EVENTUAL

OU CULPA CONSCIENTE?

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

Cacoal – RO 2011

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HOMICÍDIO PRATICADO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR POR CONDUTOR SOB INFLUÊNCIA DE BEBIDA ALCOÓLICA: DOLO EVENTUAL

OU CULPA CONSCIENTE?

Por:

Janaína Carvalho Silva

Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia – UNIR – campus de Cacoal, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, elaborada sob a orientação da professora MSc. Simone Gonçalves Oliveira.

Cacoal - RO 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR - CAMPUS DE CACOAL DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

A monografia intitulada “Homicídio praticado na direção de veículo automotor por condutor sob a influência de bebida alcoólica: dolo eventual ou culpa consciente?”, elaborada pela acadêmica Janaína Carvalho Silva, foi avaliada e julgada aprovada pela banca examinadora formada por:

_____________________________________________________

Profª. MSc. Simone Gonçalves Oliveira – Orientadora – UNIR

_____________________________________________________ Prof. MSc. Bruno Milenkovichi Caixeiro – Membro – UNIR _____________________________________________________

Profª. Esp. Ana Clara Cabral de Souza Cunha – Membro – UNIR

Cacoal-RO 2011

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Agradeço aos meus pais por todo amor, afeto e por nunca terem medido esforços em me ajudar a obter mais essa importante conquista e pelo apoio dado em todos os passos desta caminhada; Aos meus irmãos que sempre foram companheiros e meus incentivadores;

A minha orientadora que aceitou com muita paciência e dedicação na elaboração desta pesquisa.

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RESUMO

SILVA, Janaína Carvalho. Homicídio praticado na direção de veículo automotor por

condutor sob efeito de bebida alcoólica: Dolo eventual ou culpa consciente?. 64 folhas.

Trabalho de Conclusão de Curso: Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

O presente estudo tem como objetivo investigar a conduta de motoristas quando autores de homicídio no trânsito sob influência de bebida alcoólica. Para tanto, será empregado o método dedutivo e utilizada pesquisa bibliográfica e pesquisa documental. Outrossim, para a realização do presente trabalho se faz necessário análise minuciosa dos institutos penais dolo eventual e culpa consciente tendo em vista que é a previsão ao lado da anuência ou não da produção do resultado que determina a aplicação das penas previstas na legislação competente. De outro norte, o binômio álcool e direção, mostrou-se um fator gerador de discussão, notadamente, quanto à comprovação da embriaguez, haja vista que a legislação estabelece limite preciso de alcoolemia, cuja obtenção depende da colaboração do agente, a fim de que seja constatada; podendo este se negar a contribuir na produção das provas. Ademais, o crescente número de acidentes no trânsito tem motivado manifestações para que sejam adotadas reprimendas mais severas aos homicídios praticados no trânsito por condutor embriagado. Foi possível notar que os Tribunais têm se mostrado favoráveis quanto à pronúncia de motoristas embriagados; no entanto a punição a título culposo continua a ser aplicada. Por fim, medidas preventivas, aliadas à fiscalização e educação para o trânsito podem auxiliar na redução do número de motoristas embriagados que praticam homicídios na direção de veículo.

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ABSTRACT

SILVA. Janaína Carvalho. Murder committed in the direction of a motor vehicle by the driver under the influence of alcohol: any intent or conscious guilt? 64 leaves. Completion of Course Work: Federal University of Rondonia - Campus Cacoal – 2011.

The present study aims to investigate the penalties to the author of murder committed in transit under the influence of booze in Cacoal town RO, from July 2005 to July 2011. For both the deductive method will be employed and used literature and field research. Likewise, for the realization of this work is needed thorough analysis of the institutes criminal intent and conscious guilt possible given that the forecast is next to the acceptance of production that determines the application of penalties laid down in relevant legislation. On the binominal alcohol and the north direction and driving, was a cause for discussion, namely, the proof of intoxication, given that the legislation provides precise limit of alcolemia whose acquisition depends on the collaboration of the agent, so that found, which may refuse to contribute to the production of evidence. Moreover, the growing number of traffic accidents has motivated demonstrations to be taken more severe reprimands to the murders committed by drunk driver in traffic. It may be noted that the courts have proved favorable as the pronunciation of drunken drivers, but the punishment by way guilty applies. Finally, preventive measures, combined with enforcement and traffic education could help reduce the number of drivers who committed homicide while intoxicated.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO……… 09

1 BREVE HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL... 11

1.1 CONCEITO DE TRÂNSITO... 13

1.2 COMPETÊNCIA EM MATÉRIA DE TRÂNSITO... 14

1.2.1 Do Sistema Nacional de Trânsito... 14

1.2.2 Da União... 16 1.2.3 Dos Estados... 15 1.2.4 Dos Municipios... 17 2 DA CONDUTA... 19 2.1 DO DOLO... 20 2.1.1 Teorias do dolo... 21 2.1.1.1 Teoria da vontade... 21

2.1.1.2 Teoria do assentimento ou consentimento... 22

2.1.1.3 Teoria da representação... 22

2.1.14 Teoria adotada pelo Código Penal... 23

2.2 ESPÉCIES DE DOLO... 23 2.2.1 Dolo Direto... 23 2.2.2 Dolo Indireto... 25 2.2.2.1 Dolo Alternativo... 25 2.2.2.2 Dolo Eventual... 25 2.3 DA CULPA... 26

2.3.1 Elementos do fato típico culposo... 28

2.3.1.1 Conduta humana voluntária... 28

2.3.1.2 Inobservância de um dever jurídico de cuidado... 29

2.3.1.3 Resultado lesivo... 29 2.3.1.4 Nexo de causalidade... 30 2.3.1.5 Previsibilidade... 31 2.3.1.6 Tipicidade... 32 2.4 MODALIDADES DE CULPA... 32 2.4.1 Imprudência... 33 2.4.2 Negligência... 33 2.4.3 Imperícia... 34 2.5 ESPÉCIES DE CULPA... 34 2.5.1 Culpa consciente... 35 2.5.2 Culpa inconsciente... 36

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3 MORTES NO TRÂNSITO E A EMBRIAGUEZ... 40

3.1 ASPECTOS DO CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO A TEOR DO ART. 302 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO E DO HOMICÍDIO DOLOSO, CONFORME O CÓDIGO PENAL... 40

3.2 DA EMBRIAGUEZ... 42

3.2.1 Fases da embriaguez... 43

3.2.2 Modalidades de embriaguez... 44

3.3 EMBRIAGUEZ E ACIDENTES DE TRÂNSITO... 45

3.4 MEDIDAS PREVENTIVAS DE ACIDENTES NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR... 49

3.5 ENTEDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL ACERCA DO DOLO EVENTUAL E DA CULPA CONSCIENTE... 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 57

REFERÊNCIAS... 60

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INTRODUÇÃO

Em virtude do elevado número de acidentes de trânsito com vítimas fatais nos últimos anos, somente em 2010 foram registradas mais de 40.000 (quarenta mil) mortes; o homicídio praticado por condutor embriagado tem sido alvo de intensos debates, suscitando a discussão se em casos dessa natureza estar-se-á diante de um delito culposo; na modalidade culpa consciente, a teor do contido no art. 302 do Código de Trânsito (Lei nº 9.503/97), cuja competência é do juízo singular; ou de uma hipótese dolosa, na modalidade de dolo eventual, conforme previsto no art. 121 do Código Penal de competência do Tribunal do Júri.

Mundialmente, o Brasil ocupa a quinta posição entre os países com maior número de mortes no trânsito, diante disso, a sociedade tem exigido uma maior e efetiva punição aos motoristas causadores de sinistros com vítimas fatais. Esta punição mais rigorosa estaria consubstanciada na possibilidade de alguns delitos de trânsito, em regra culposos de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, serem incluídos na modalidade dolosa, na espécie dolo eventual, especialmente quando o motorista estiver sob o efeito de bebida alcoólica.

O presente estudo abordará aspectos relativos ao consumo de álcool e os homicídios causados por motoristas na direção de veículo automotor, uma vez que há entendimentos de que este delito configura dolo eventual e entendimentos de que configura culpa consciente.

O trabalho monográfico está estruturado em três capítulos, no primeiro é apresentada considerações acerca do conceito de trânsito; bem como um breve histórico sobre o trânsito no Brasil, e a legislação que trata da matéria, expondo a competência da União, Estados e Municípios.

No segundo capítulo serão estudados os institutos da culpa e do dolo, buscando evidenciar os aspectos de maior relevância para o tema, destacando-se conceitos, tipos e modalidades. Será analisado ainda, o elemento subjetivo norteador da conduta do sujeito ativo no momento da prática da infração penal, que no caso do homicídio poderá ser a culpa, consciente ou inconsciente e o dolo, direto ou indireto, sendo este dividido em alternativo e eventual.

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O enfoque de estudo do terceiro capítulo, será o número de vítimas do trânsito brasileiro e a atual situação de violência em que um das causas determinantes de acidentes é o consumo de bebidas alcoólicas. Ademais, serão demonstrados aspectos da embriaguez e a forma que o álcool altera as funções do organismo do ser humano.

Ademais, será destacada a dificuldade de obtenção da prova da embriaguez. De outro norte, serão elencadas medidas preventivas que podem auxiliar na resolução deste problema do trânsito, fazendo com que assim o Direito Penal seja utilizado como última alternativa.

Por fim, a divergência entre homicídio doloso e homicídio culposo em sede de acidentes de trânsito será demonstrada, ainda, através de alguns julgados oriundos do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, bem como do Superior Tribunal de Justiça e o posicionamento do Supremo Tribunal Federal, que apesar da manifestação não encerrou a discussão.

O presente trabalho foi elaborado tendo como base o método dedutivo, utilizando-se pesquisa bibliográfica e documental, buscando-se investigar o problema com base em doutrinas, artigos, legislação e jurisprudências.

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1. BREVE HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL

O trânsito no Brasil segundo Silva (1996, p. 50),remonta ao final do Século XIX e o início do Século XX. Porém, segundo suas palavras, o automóvel, realmente, veio fazer parte do cotidiano do brasileiro na década de 20 do século XX:

Desde os anos 20, a importação de automóveis era uma rotina bastante conhecida. A Ford Motors Company tinha iniciado a montagem de seus Ford “T”, em São Paulo, em 1919. A General Motors Company fez o mesmo a partir de 1925, com o Chevrolet “Cabeça de Cavalo”.

A primeira legislação sobre o trânsito que se tem notícia, faz referência à Postura Municipal do Rio de Janeiro nº 858, de 1902, a qual, nas palavras de Pires e Sales (1998, p. 23), dispunha sobre a velocidade máxima dos automóveis no então, Distrito Federal, de forma que, na região urbana não poderia ser ultrapassado o limite de 10 km/h (quilômetros por hora), na região suburbana, dos 20 km/h e por fim, na zona rural, dos 30 km/h. A referida legislação demonstrou preocupação com a velocidade empregada pelos veículos nas vias.

A Cartilha do Governo Federal 100 anos de legislação de trânsito no Brasil (BRASIL, 2010), lançada em 2010, faz menção ao Decreto nº 8.324 de 27 de outubro de 1910, pioneiro ao regular a questão. O decreto aprovou o serviço subvencionado de transporte por automóveis, objetivando facilitar a circulação no Brasil. Esse decreto determinava, por exemplo, a verificação das condições do veículo, a fim de preservar a segurança dos usuários e pedestres.

Outra legislação que aborda a matéria é o Decreto Legislativo nº 4.460 de 11 de janeiro de 1922. Esta lei abordava a construção das estradas, além de estabelecer a capacidade máxima de cargas que os veículos podiam transportar.

O primeiro Código de Trânsito Brasileiro foi aprovado somente em 1941 (Decreto-Lei nº 2.994), aproximadamente após vinte anos da instalação da indústria automobilística no Brasil. No entanto, fora revogado oito meses depois pelo decreto lei 3651, de 25 de setembro de 1941. Nesta época já era crescente a frota de veículos no país surgindo daí a necessidade de uma revisão das leis que estavam em vigor, sendo assim editada a Lei nº 5.108, de 21 de setembro de 1966, instituindo o Código Nacional de Trânsito (PINHEIRO, 2000, p. 152).

Segundo Rizzardo (2003, p. 73), nas décadas de 1970 e 1980 houve aumento significativo do número de acidentes de trânsito no país, o que foi acompanhado do clamor popular para que fossem adotadas medidas mais enérgicas aos infratores do trânsito. Notadamente, porque a legislação em vigor não previa nenhum crime de trânsito, surgindo

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assim, a necessidade de se socorrer do Código Penal Brasileiro para os crimes mais graves, tais como lesão corporal e homicídio.

Em 23 de setembro de 1997, trazendo importantes inovações, foi aprovada a Lei Federal nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), a qual em seu capítulo XIX, entre os arts. 302 a 312 trata dos crimes de trânsito (BRASIL, 1997).

A principal função do atual Código e, logo, dos dispositivos legais nele inseridos, nada mais foi do que uma tentativa do Poder Público de dar uma resposta à sociedade quanto à obrigação de proporcionar um trânsito seguro. Como destacado por Rizzardo (2003, p. 34), essa obrigação decorre do fato de que, dentre os direitos fundamentais proclamados pelo art. 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988), inclui-se “o direito ao trânsito seguro, regular organizado ou planejado, não apenas no pertinente à defesa da vida e da incolumidade física, mas também relativamente à regularidade do próprio trafegar, de modo a facilitar a condução dos veículos e locomoção das pessoas”. Não obstante a lei em tela, o número de acidentes com vítimas fatais continuou subindo, notadamente, nos sinistros em que havia o binômio álcool e direção (JESUS, 2010, p. 43).

Objetivando aplicar punições mais severas aos condutores embriagados, entrou em vigor a Lei Federal nº 11.275/2006 (BRASIL, 2006) que acrescentou ao parágrafo único do art. 302 do CTB, o inciso V, causa de aumento de pena ao homicídio culposo praticado por condutor que estivesse sob o efeito de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos. Ocorre que após dois anos, passou a vigorar a Lei nº 11.705 (Lei Seca), de 19 de junho de 2008, alterando o Código de Trânsito Brasileiro, trazendo a imposição de novas regras, administrativas e penais. A referida legislação traz explicito em seu art. 1º (BRASIL, 2008) a seguinte redação: “Esta Lei altera dispositivos da Lei 9.503/97, [...] com a finalidade de estabelecer alcoolemia zero e de impor penalidades mais severas para o condutor que dirigir sob a influência do álcool [...]”. Não obstante, a redação do art. 1º, o art. 9º (BRASIL, 2008) da mesma lei dispôs o seguinte: “Fica revogado o inciso V do parágrafo único do art. 302 da Lei nº 9.503/97”. Assim, o inciso V outrora acrescentado ao parágrafo único do art. 302 do CTB restou revogado, sendo estabelecida a concentração por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas de álcool ou qualquer outra substância psicoativa para que o condutor seja punido como incurso nas penas do art. 306, que trata especificamente de embriaguez na direção de veículo (ALFERES, 2008 [não paginado]).

Ademais, deixou de existir no Código de Trânsito Brasileiro previsão específica regulando os casos de motoristas embriagados que ocasionam acidentes com vítimas fatais,

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fazendo com que a jurisprudência visse em tal situação a possibilidade de incluir o homicídio no trânsito nestas condições na modalidade dolosa, na espécie dolo eventual.

1.1 CONCEITO DE TRÂNSITO

Os especialistas em trânsito Biviati e Martins (2007, p. 14) apresentam a seguinte definição acerca do trânsito: “[...] é o movimento e a circulação de pessoas em busca da satisfação de alguma necessidade, da sobrevivência, do lazer [...]”.

A definição legal de trânsito está consubstanciada no art. 1º, § 1º do Código de Trânsito Brasileiro (CTB):

Art. 1º. O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas a circulação, rege-se por este Código.

§ 1º. Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga (BRASIL, 1997).

Insta salientar a existência de trânsito também nos rios, mares, bem como nos ares e o efetuado por meio de trilhos, no entanto a problemática do presente trabalho, não abrange essas modalidades de meio de transporte.

Frise-se que o Código de Trânsito se ocupa em regular o trânsito nas vias terrestres, inserindo-se assim, tão-somente os veículos que nelas se desloquem. A definição de vias terrestres pode ser encontrada no art. 2º do Código de Trânsito Brasileiro: “são vias terrestres urbanas e rurais as ruas, avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias” (BRASIL, 1997). O § 2º do dispositivo em questão esclarece ainda que para efeitos desta lei são consideradas também vias terrestres “as praias abertas à circulação pública e as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas” (BRASIL, 1997).

As normas gerais para o trânsito estão compreendidas no Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal nº 9503 de 23 de setembro de 1997), no capítulo III a partir do artigo 26. O dispositivo mencionado estipula normas e condutas para os usuários de vias terrestres, entre elas merecem destaque as elencadas nos incisos I e II do artigo em questão, as quais ressaltam que os usuários das vias devem se “abster de atos que possam constituir perigo ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou privadas” (BRASIL, 1997), bem como evitar “de obstruir o trânsito ou torná-lo

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perigoso, atirando, depositando ou abandonando na via objetos ou substâncias, ou nela criando qualquer outro obstáculo” (BRASIL, 1997).

1.2 COMPETÊNCIA EM MATÉRIA DE TRÂNSITO

Dispõe o art. 22, inciso XI da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que “compete privativamente a União legislar sobre trânsito e transporte”. Assim, a legislação referente ao trânsito no país está sistematizada na Lei Federal nº 9.503/97 (BRASIL, 1997), a qual em seu art. 5º estabelece atribuições a União, Estados e municípios através do Sistema Nacional de Trânsito, o qual é conceituado pela referida lei como o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que têm por finalidade o exercício das atividades de planejamento, administração, normatização, pesquisa, registro e licenciamento de veículos, formação, habilitação e reciclagem de condutores, educação, engenharia, operação do sistema viário, policiamento, fiscalização, julgamento de infrações e de recursos e aplicação de penalidades.

1.2.1 Do Sistema Nacional de Trânsito

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, o sistema Nacional de Trânsito é o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Preceitua o art. 6º, incisos I a III do CTB (BRASIL, 1997) que este conjunto de órgãos possui como objetivos:

I - estabelecer diretrizes da Política Nacional de Trânsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educação para o trânsito, e fiscalizar seu cumprimento;

II - fixar, mediante normas e procedimentos, a padronização de critérios técnicos, financeiros e administrativos para a execução das atividades de trânsito;

III - estabelecer a sistemática de fluxos permanentes de informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema (BRASIL, 1997).

O art. 7º em seus incisos de I a VII elenca os órgãos que compõe o Sistema Nacional de Trânsito:

I. Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) - Órgão Coordenador, Máximo Normativo e consultivo;

II. Órgãos Normativos, consultivos e coordenadores: Conselhos Estaduais de Trânsito (CETRAN);

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Conselho de Trânsito do Distrito Federal (CONTRANDIFE);

III. Órgãos Executivos de trânsito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios: Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN); Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN); Circunscrições Regionais de Trânsito (CIRETRAN); Órgão executivo de trânsito das Prefeituras.

IV. Órgãos e Entidades executivas rodoviários da União (DNIT), Estados (DER), Distrito Federal e Municípios;

V. Polícia Rodoviária Federal (PRF);

VI. Polícias Militares dos Estados e Distrito Federal;

VII. As Juntas Administrativas de Recursos de Infração (JARI) (BRASIL, 1997).

Verifica-se que o sistema nacional de trânsito possui objetivos, administrativos, técnicos, punitivos, penais entre outros, de forma que os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito (SENTRAN) existem para regulamentar, punir, ensinar, entre outras atribuições em matéria de trânsito.

1.2.2 Da União

O Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), conforme aduzido no art. 7, I do CTB, é o órgão máximo em matéria de trânsito, e possui sua sede no Distrito Federal e está descrito na legislação no décimo artigo do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 10. O Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, com sede no Distrito Federal e presidido pelo dirigente do órgão máximo executivo de trânsito da União, tem a seguinte composição:

[...]

III - um representante do Ministério da Ciência e Tecnologia; IV - um representante do Ministério da Educação e do Desporto; V - um representante do Ministério do Exército;

VI - um representante do Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal; VII - um representante do Ministério dos Transportes;

[...]

XX - um representante do ministério ou órgão coordenador máximo do Sistema Nacional de Trânsito;

[...]

XXII - um representante do Ministério da Saúde; XXIII - um representante do Ministério da Justiça;

XXIII - 1 (um) representante do Ministério da Justiça (BRASIL, 1997).

A competência do CONTRAN se acha definida no Art. 12 do CTB (BRASIL, 1997). Além desses, outros artigos dispõem sobre a competência do órgão máximo normativo, coordenador do sistema e consultivo. Abaixo, estão descritas algumas das competências do CONTRAN:

a) Estabelecer as normas regulamentares referidas no CTB e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito (nesta norma, inciso I do art 12, é que esta a competência do CONTRAN em editar as RESOLUÇÕES);

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b) Coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, objetivando a integração de suas atividades;

c) Criar Câmaras Temáticas;

d) Normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem, habilitação, expedição de documentos de condutores, registro e licenciamento de veículos;

e) Aprovar, complementar ou alterar os dispositivos de sinalização e os diapositivos e equipamentos de trânsito;

f) Apreciar os recursos interpostos contra as decisões das instâncias inferiores;

g) Responder às consultas que lhe forem formuladas, relativas à aplicação da legislação de trânsito.

Assim, verifica-se que compete ao Conselho Nacional de Trânsito uma gama de responsabilidades, como estabelecimento de normas regulamentares, coordenação de órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, estabelecimento de regimento interno e diretrizes das Juntas Administrativas de Recursos de Infração (JARI), Conselhos Estaduais de Trânsito (CETRAN), Conselho de Trânsito do Distrito Federal (CONTRANDIFE), entre outras funções importantíssimas. É fato que este órgão em especial é o que possui maior força nos assuntos de trânsito, visto que é a maior esfera no assunto e de onde surgem normativas, e regulamentos.

1.2.3 Dos Estados

A competência dos Estados está redigida no artigo 14 do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997), competindo aos Conselhos Estaduais de Trânsito a tarefa de regulamentar o trânsito nos Estados:

Art. 14. Compete aos Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal - CONTRANDIFE:

I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito das respectivas atribuições;

II - elaborar normas no âmbito das respectivas competências;

III - responder a consultas relativas à aplicação da legislação e dos procedimentos normativos de trânsito;

IV - estimular e orientar a execução de campanhas educativas de trânsito; V - julgar os recursos interpostos contra decisões:

a) das JARI;

b) dos órgãos e entidades executivos estaduais, nos casos de inaptidão permanente constatados nos exames de aptidão física, mental ou psicológica;

VI - indicar um representante para compor a comissão examinadora de candidatos portadores de deficiência física à habilitação para conduzir veículos automotores; [...]

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VIII - acompanhar e coordenar as atividades de administração, educação, engenharia, fiscalização, policiamento ostensivo de trânsito, formação de condutores, registro e licenciamento de veículos, articulando os órgãos do Sistema no Estado, reportando-se ao CONTRAN;

IX - dirimir conflitos sobre circunscrição e competência de trânsito no âmbito dos Municípios; e

X - informar o CONTRAN sobre o cumprimento das exigências definidas nos §§ 1º e 2º do art. 333.

XI - designar, em caso de recursos deferidos e na hipótese de reavaliação dos exames, junta especial de saúde para examinar os candidatos à habilitação para conduzir veículos automotores.

Os CETRANS e CONTRADIFE estão vinculados e subordinados ao CONTRAN de forma que as medidas adotadas nos estados devem estar de acordo com as medidas adotadas nacionalmente.

1.2.4 Dos Municípios

A competência municipal em matéria de trânsito está prevista no artigo 24 do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997):

Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições;

II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário;

IV - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas;

V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;

VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito;

VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;

VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar;

IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas;

X - implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo pago nas vias; XI - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas;

XII - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e transporte de carga indivisível;

XIII - integrar -se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das

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transferências de veículos e de prontuários dos condutores de uma para outra unidade da Federação;

XIV - implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito;

XV - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN;

XVI - planejar e implantar medidas para redução da circulação de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de diminuir a emissão global de poluentes; XVII - registrar e licenciar, na forma da legislação, ciclomotores, veículos de tração e propulsão humana e de tração animal, fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e arrecadando multas decorrentes de infrações;

XVIII - conceder autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de tração animal;

XIX - articular -se com os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN;

XX - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas de órgão ambiental local, quando solicitado;

XXI - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos.

§ 1º As competências relativas a órgão ou entidade municipal serão exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou entidade executivos de trânsito.

§ 2º Para exercer as competências estabelecidas neste artigo, os Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacional de Trânsito, conforme previsto no art. 333 deste Código.

Nota-se que a competência dos Municípios quase que se equipara à dos Estados e à da União. Porém, com uma abrangência menor, e diferentes atribuições. O antigo Código de Trânsito já previa a participação dos Municípios nos órgãos da administração do trânsito, porém este novo Código deixou mais claro as fronteiras de suas atribuições e funções, além da atuação de cada um dos entes federativos, de forma a desburocratizar muitas atividades que no Código anterior existiam.

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2. DA CONDUTA

Partindo-se de uma definição simplificada, pode-se afirmar que conduta é uma ação ou omissão humana, provida de consciência e voluntariedade com uma finalidade. É sabido que ao Direito Penal só interessa os comportamentos baseados na vontade. Nas palavras de Capez (2009, p. 117), a conduta é conceituada da seguinte forma: “[...] conduta penalmente relevante é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, típica ou não, mas que produz ou tenta produzir um resultado previsto na lei penal como crime”.

Reforçando o entendimento de Capez, Greco (2008, p. 165), preceitua que:

A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ser ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).

É Importante ressaltar que a conduta difere do ato, pois o primeiro é a manifestação da vontade do agente externada pelo conjunto de atos, que são os componentes formadores da conduta, ou seja, a conduta se constrói pela prática de um ou mais atos.

No que é pertinente ao trânsito Hoffmann, Cruz e Alchieri (2003, p. 62), exemplificam, resumidamente, três tipos básicos de comportamentos dos motoristas no trânsito, quais sejam:

[...] os cautelosos: aqueles motoristas que na vida respeitam normas, regras, o espaço dos outros, e também respeitam o trânsito; - os donos do mundo: briguentos, agitados, reclamões, insuportáveis, como se os outros motoristas não soubessem nada, e tudo devesse girar em torno deles; - comportamentos mascarados: pessoas que parecem adequadas no trabalho ou em família, mas no trânsito, diante de um instrumento sob o seu controle direto tendem a revelar comportamentos agressivos, como se nessa situação conseguissem se posicionar individualmente [...] (grifo nosso).

Hoffmann, Cruz e Alchieri (2003, p. 130) relatam que “cada pessoa dirige como vive e as mudanças possíveis nesta área passam, inicialmente, por mudanças nas posturas individuais, nos valores transmitidos por cada geração e, principalmente, pelo desejo social de construir um trânsito melhor, menos violento e mais humano”.

Mister se faz que cada condutor de veículo automotor dirija sempre com o fito de preservar a sua segurança e a de outrem, ou seja, dirija com vistas à segurança coletiva para que a vida, bem maior, seja resguardada, assim como a integridade física de todos os que utilizam as vias públicas.

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2.1 DO DOLO

O jurista Rosa (2000, p. 314) faz uma breve análise acerca da evolução histórica do Dolo:

[...] a palavra “dolo”, significa, em suas origens gregas, “engano”, “artifício”, “fraude”. O Direito Germânico, a partir da Idade Média, passou a tomá-lo na acepção de “ato voluntário”. Nos tempos modernos, o dolo é, geralmente, definido como a vontade de um responsável, dirigida a uma ilicitude.

Greco (2008, p. 183), preceitua que dolo “é a vontade e consciência dirigidas a realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador”. Quanto ao elemento volitivo, “o dolo é a vontade de realização da conduta típica”, conforme leciona Barros (2003, p. 221).

A lição de Zaffaroni apud Greco (2008, p. 183) ensina que “dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade pressupõe um conhecimento determinado”. Diante disso, tem-se que o dolo é formado por dois elementos, quais sejam intelectual e volitivo.

Buscando explicar esses dois elementos formadores Greco (2008, p. 184) faz a seguinte explanação:

A consciência, ou seja, o momento intelectual do dolo, basicamente, diz respeito à situação fática em que se encontra o agente. O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, para que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo.

A vontade é outro elemento sem o qual se desestrutura o crime doloso. Aquele que coagido fisicamente a acabar com a vida de outra pessoa não atua com vontade de mata-la.

Discorrendo ainda acerca da consciência, Conde apud Greco (2008, p. 184) aponta que o agente que atua com dolo deve conhecer o que faz, bem como estar ciente de seus elementos caracterizadores.

Para agir dolosamente, o sujeito ativo deve saber o que faz e conhecer os elementos que caracterizam sua ação como ação típica. Quer dizer, deve saber no homicídio, por exemplo que mata outra pessoa; no furto, que se apodera de uma coisa alheia móvel.

De acordo com o entendimento de Noronha (2006, p. 136), não basta que o agente queira o resultado, mas deve ter conhecimento acerca dele:

Dois são, portanto, os elementos do dolo. A consciência há de abranger a ação e omissão do agente, tal qual é caracterizada pela lei, devendo igualmente

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compreender o resultado, e, portanto, o nexo causal entre este e a atividade desenvolvida pelo sujeito ativo. Age, pois dolosamente quem prática a ação (em sentido amplo) consciente e voluntariamente. Alguns definem o dolo como simplesmente representação do resultado, teoria que se opõe a da vontade. Todavia é difícil aceitar-se que a representação possa excluir a vontade, pois esta pressupõe aquela. Não se pode querer conscientemente senão aquilo que se previu, ou representou a nossa mente, pelo menos em parte.

Assim, aduz Noronha (2006, p. 136) que “age dolosamente quem atua com conhecimento ou ciência de agir no sentido do ilícito ou antijurídico, ou, numa palavra: com conhecimento da antijuridicidade do fato”.

De acordo com Capez (2009, p. 200) a conduta dolosa se configura em duas fases distintas:

a) fase interna: opera-se no pensamento do autor. Caso não passe disso, é penalmente indiferente. Isso ocorre nas hipóteses em que o agente apenas se propõe a um fim (...); em que tão somente seleciona os meios para realizar a finalidade [...]; em que se considera os efeitos concomitantes que se unem ao fim pretendido [...]. b) fase externa: consiste em exteriorizar a conduta, numa atividade em que se utilizam os meios selecionados conforme a normal e usual capacidade humana de previsão. Caso o sujeito pratique a conduta nessas condições, age com dolo [...].

Assim, pode-se afirmar que dolo é a vontade de realizar os elementos objetivos do tipo; trata-se de um querer o resultado típico, tendo por base o conhecimento efetivo e atual. Welzel apud Nucci (2009, p. 200) aponta que “a vontade impotente não é um dolo relevante do ponto de vista jurídico-penal”.

2.1.1 Teorias do Dolo

Objetivando estabelecer uma definição acerca do dolo, surgiram três teorias, quais sejam: Teoria da Vontade, Teoria da Representação e Teoria do Assentimento ou consentimento.

2.1.1.1 Teoria da vontade

Segundo a teoria da vontade, “age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente” (MIRABETE, 2009, p. 139). É necessário para sua existência, portanto a consciência da conduta e do resultado e que o agente a pratique voluntariamente. Barros

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agente, além de antever o resultado, almejar que este ocorra reconhecendo assim, o nexo causal entre sua conduta e o evento que ela ensejará”.

Greco (2008, p. 186) aponta que segundo a teoria da vontade, “dolo seria tão-somente a vontade livre e consciente de querer praticar a infração penal, isto é, de querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador”.

Percebe-se que de acordo com esta teoria é necessário que o agente tenha plena consciência acerca do fato delituoso, ademais não pode haver coação, para consecução da conduta, ou seja, o sujeito deseja praticar determinado ato e o faz de forma voluntária.

2.1.1.2 Teoria do assentimento ou consentimento

Segundo esta teoria, ainda que o agente não anseie diretamente pela ocorrência do evento, haverá o dolo quando o agente aceitar que ele ocorra.

Mirabete (2009, p. 139) explica: “[...] para a teoria do assentimento faz parte do dolo a previsão do resultado a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira. Para a teoria em apreço, portanto, existe dolo simplesmente quando o agente consente em causar o resultado ao praticar a conduta”.

Tavares apud Greco (2008, p. 186) faz as seguintes considerações acerca desta teoria:

A teoria do consentimento ou da assunção é a teoria dominante e tem por base uma vinculação emocional do agente para com o resultado. Vale dizer, exige não apenas o conhecimento ou a previsão de que a conduta e o resultado típicos podem realizar-se, como também que o agente se ponha de acordo com isso ou na forma de conformar-se ou de aceitar ou de assumir o risco de sua produção.

Bitencourt (2007, p. 269) afirma ainda que “[...] é dolo a vontade que, embora não dirigida diretamente ao resultado previsto como provável ou possível, consente na sua ocorrência ou, o que dá no mesmo, assume o risco de produzi-lo”. Assim, conforme esta teoria, o agente se conforma com a ocorrência do resultado.

2.1.1.3 Teoria da representação

Nos moldes desta teoria para que haja dolo, basta apenas que o agente tenha antevisto o resultado danoso. Assim, Barros (2003, p. 218) ensina “para a configuração do dolo basta a previsão do resultado. Privilegia-se o momento intelectual, de ter agido com previsão do evento, deixando de lado o aspecto volitivo, de querer ou assumir ou risco de produzi-lo”.

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Para a teoria da representação, “dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de o resultado ocorrer, sem, contudo, desejá-lo. Denomina-se teoria da representação, porque basta ao agente representar (prever) a possibilidade do resultado para a conduta ser qualificada como dolosa” (CAPEZ, 2009, p. 202).

Segundo Grego (2008, p. 186), para os adeptos dessa teoria, não se deve perquirir se o agente havia assumido o risco de produzir o resultado, ou se, mesmo o prevendo como possível, acreditava sinceramente na sua não-ocorrência.

Para a teoria da representação, não há distinção entre dolo eventual e culpa consciente, pois que a antevisão do resultado leva à responsabilização do agente a título de dolo.

2.1.1.4 Teoria adotada pelo Código Penal

Objetivando compreender as teorias adotadas pelo legislador pátrio, mister se faz a análise do art. 18, I do Código Penal Brasileiro, o qual preceitua que “o crime será doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. A análise do dispositivo permite perceber que a primeira parte do inciso I, tem-se a codificação da teoria da vontade, assim age com dolo aquele que deseja a produção do resultado de forma direta. Enquanto na segunda parte do mesmo dispositivo, está a teoria do consentimento ou assentimento, preceituando que também age dolosamente o individuo que assumiu o risco de produzir o resultado, ainda que não o tenha desejado. Diante disso, Bittencourt (2007, p. 269) assevera: “Nosso código Penal, ao contrário do que alguns afirmam, adotou duas teorias: a teoria da vontade, em relação ao dolo direto, e a teoria do consentimento, em relação ao dolo eventual”.

2.2 ESPÉCIES DE DOLO

Segundo Greco (2008, p. 187), “costuma-se distinguir o dolo em direto e indireto”, subdividindo-se este em alternativo e eventual.

2.2.1 Dolo Direto

O dolo será direto quando o agente deseja praticar o delineado no fato típico, dessa forma sua conduta visa alcançar o resultado. Assim, conforme a primeira parte da redação do

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art. 18, inciso I do Código Penal: “quando o agente quis o resultado”. Assim, a vontade e a intenção do agente se coadunam para a produção do resultado típico.

Marques apud Capez (2008, p. 203), aponta que estará presente esta espécie de dolo, quando o resultado corresponder aos termos exatos da vontade e intenção do agente:

Diz-se direto o dolo quando o resultado no mundo exterior corresponde perfeitamente à intenção e à vontade do agente. O objetivo por ele representado e a direção da vontade se coadunam com o resultado do fato praticado.

Bitencourt (2007, p. 209) aponta que o dolo direto pode ser classificado ainda em dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau: “o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado como de segundo grau”.

Roxin apud Nucci (2009, p. 201) faz os seguintes apontamentos acerca da classificação do dolo direto de primeiro e de segundo grau:

O primeiro é a intenção do agente voltada, a determinado resultado efetivamente perseguido abrangendo os meios empregados para tanto (ex.: o atirador, almejando a morte da vítima, desfere-lhe certeiro e fatal tiro); o segundo também denominado dolo de consequências necessários ou dolo necessário, é a intenção do agente, voltado a determinado resultado, efetivamente desejado, embora na utilização dos meios para alcançá-lo, termine por incluir efeitos colaterais praticamente certos. O agente não persegue os efeitos colaterais, mas tem por certa a sua ocorrência, caso se concretize o resultado almejado. O exemplo é do matador que, pretendendo atingir determinada pessoa, situada em lugar público, planta uma bomba, que, ao detonar, certamente matará outras pessoas ao redor. Ainda que não queira atingir essas outras vítimas, tem por certo o resultado caso a bomba estoure, como planejado. Diferencia-se do dolo eventual porque neste caso agente não persegue o resultado típico atingido, e as vontade, portanto, está configurada mais debilmente.

Fragoso (2003, p. 211) aponta que, ainda que o resultado não seja primariamente desejado pelo agente, sendo certa a ocorrência do evento, haverá dolo direto (de segundo grau):

Há dolo direto também em relação ao meio e ao resultado que necessariamente estão ligados à realização da conduta típica, mesmo que não sejam desejados pelo agente. Se este sabe que a ação necessariamente acarreta resultado concomitante, e não obstante a pratica, quer, por certo, também esse resultado, embora o lamente.

Assim, nesta espécie de dolo, o agente dirige sua ação à realização do fato típico, ou seja, o agente deseja a ação delituosa. Assim, o resultado obtido corresponde aos termos da ação praticada pelo agente.

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2.2.2 Dolo Indireto

Nesta modalidade o agente não quer diretamente o resultado ou não se importa em produzir este ou aquele efeito típico.

Trata-se de um dolo de conteúdo sobre o qual repousa imprecisão, pois não há desígnio de evento específico. Em virtude dessa imprecisão, subclassifica-se esta espécie em dolo alternativo e dolo eventual, este causador de imbróglio quando se trata de homicídios praticados na direção de veículo automotor.

De acordo com Noronha (2006, p. 138), “o dolo é indireto quando, apesar de querer o resultado, a vontade não se manifesta de modo único e seguro em direção a ele, ao contrário do que sucede no dolo direto”.

2.2.2.1 Dolo Alternativo

Pierangeli (2007, p. 54) preceitua que dolo alternativo a teor do que o próprio nome já menciona, “caracteriza-se por um querer revestido de resultados alternativos, satisfazendo-se o agente com um evento ou outro. Numa linguagem coloquial, o dolo alternativo caracteriza-se por uma duplicidade de paixões, e qualquer uma satisfaz ao agente”.

O dolo alternativo estará configurado sempre que o agente quiser produzir “um” resultado e não “o” resultado (CAPEZ, 2009, p. 156).

2.2.2.2 Dolo eventual

A segunda parte do art. 18, inciso I, do Código Penal, menciona que o crime será doloso quando o agente assumir o risco de produzir o resultado. Assim, o agente de forma consciente admite um eventual ataque a um bem jurídico tutelado pela norma penal (PRADO, 2005, p. 99).

Esta espécie do dolo indireto é a que apresenta maior relevância para o estudo em tela, pois esta modalidade tem como característica a previsão por parte do sujeito ativo das consequências que poderão advir de sua conduta, aceitando o risco de produzi-las. Ademais, o sujeito se conforma com o resultado típico que poderá ser ocasionado.

Segundo Capez (2009, p. 204), o sujeito antecipa o resultado e, embora não almeje alcançá-lo, pouco se importa com a sua ocorrência, assim o autor exemplifica: “eu não quero,

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mas se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa deste risco que vou parar de praticar minha conduta - não quero, mas também não me importo com a sua ocorrência”.

A ministra Gracie no HC 91.159, STF, menciona que não se faz mister o consentimento explícito do agente, tampouco a consciência quanto as circunstancias do evento. Veja:

[...] para a configuração do dolo eventual não é necessário o consentimento explícito do agente, nem sua consciência reflexiva em relação às circunstâncias do evento. Faz-se imprescindível que o dolo eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do autor, eis que não se exige uma declaração expressa do agente. Assim, ressalta que não basta o elemento psicológico acerca da ocorrência do resultado, mas aduz que as circunstâncias do evento devem ser consideradas (grifo nosso).

Acerca desta espécie de dolo Franco (2000, p. 284) faz a seguinte consideração: “Tolerar o resultado, consentir em sua provocação, estar a ele conforme, assumir o risco de produzi-lo, não passam de formas diversas de expressar um único momento, o de aprovar o resultado alcançado, enfim o de querê-lo”.

2.3 DA CULPA

De acordo com o art. 18, II, do Código Penal, o crime será culposo “quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.

O crime será culposo, quando o agente, desrespeitando o dever de cuidado, pratica a conduta típica por negligência, imprudência ou imperícia. A culpa pode ser consciente ou inconsciente. Nesta, não obstante a previsibilidade do resultado, não o é na mente do autor. Enquanto na consciente, o resultado é previsível objetivamente, bem como para o autor, no entanto ele acredita que não ocorrerá, pois acredita que sua perícia e perspicácia são capazes de obstá-lo (NUCCI, 2009, p. 206).

Discorrendo sobre a culpa stricto sensu Bataglini apud Bitencourt (2007, p. 278) dispõe que: “culpa é a inobservância do dever de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível”.

A lição de Mirabete (2009, p. 138), conceitua o ilícito culposo como “a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado”.

Capez (2009, p. 207) ensina que “a culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente. Os

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tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos, portanto, neles não se descreve em que consiste o comportamento culposo”.

Carrara apud Noronha (2006, p. 141) define culpa como sendo “a voluntária omissão de diligência em calcular as consequências possíveis e previsíveis do próprio fato”.

É de se observar que eventualmente o tipo penal acolhe a modalidade culposa na conduta do agente, no entanto por algumas vezes a lei prevê expressamente que determinado crime poderá ser praticado na forma culposa. Diante disso, é possível dizer que o dolo é a regra e a culpa, exceção descrita pela lei. Diante disso, Nucci (2009, p. 206) faz as seguintes considerações, acerca deste elemento subjetivo da conduta:

É o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível que podia ter sido evitado. O dolo é a regra a culpa é a exceção. Para se punir alguém por delito culposo é indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal. Trata-se de um dos elementos subjetivos do crime, embora se possa definir a natureza jurídica da culpa como sendo um elemento psicológico-normativo. A culpa é o elemento psicológico, pois sendo elemento subjetivo se faz necessário uma ligação com o resultado. È elemento normativo porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, na relação estabelecida entre o querer do agente e o resultado produzido (grifo nosso).

Jesus (2010, p. 72) ensina que os delitos culposos, são crimes de tipos abertos, e exemplifica, a questão com delitos ocorridos no trânsito. Veja-se:

No crime doloso o tipo é “fechado”: a conduta é determinada. No culposo, o comportamento não é legalmente determinado. O tipo é “aberto”. Assim, enquanto na forma dolosa a figura típica do homicídio determina precisamente a conduta do sujeito (matar alguém – CP art. 121, caput), na forma culposa cometida no trânsito o tipo não precisa o comportamento (praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor) [...]. O mandamento aberto precisa ser complementado pelo juiz, segundo o seguinte critério: age culposamente quem não observa o cuidado necessário no tráfego de veículos [...] (grifo nosso).

Vale observar o entendimento jurisprudencial, o qual explica o motivo deste elemento subjetivo se tratar de um tipo aberto :

Nos crimes culposos o tipo é aberto, porque cabe ao juiz identificar a conduta proibida, contrária ao cuidado objetivo, causadora do resultado. Neste tipo de crime não há vontade dirigida ao resultado, a ação dirigida a outros fins deve ser praticada com negligencia, imprudência ou imperícia. É proibida e, pois, típica, a ação que desatendendo ao cuidado, à diligência ou a perícia exigíveis nas circunstancias em que o fato ocorreu, provoca o resultado. A inobservância do cuidado objetivo exigível conduz à antijuridicidade. É exigível o cuidado objetivo quando o resultado era previsível para uma pessoa razoável e prudente” (TACrimSP, Ap. 560.017/1, 11ª Câm., rel Juiz Sidnei Beneti).

Prado (2005, p. 101) estabelece distinção entre os elementos subjetivos dolosos e culposos:

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No tipo injusto doloso é punida a ação ou omissão dirigida a um fim ilícito, ao passo que no culposo pune-se um comportamento mal conduzido a um fim irrelevante ou lícito. Há uma contradição essencial entre o querido e o realizado pelo autor; vale dizer, a direção finalista da ação não corresponde à diligência devida. Na infração ao dever objetivo de cuidado radica a censura penal. Como decorrência da inobservância do cuidado devido produz-se um resultado material externo ou um perigo concreto para o bem jurídico não querido pelo autor. (grifo nosso).

Verifica-se que a culpa é a quebra do dever objetivo de cuidado, cominando na produção de um resultado não desejado, embora previsível. Conforme aduzido, trata-se de tipo aberto, uma vez que caberá ao magistrado a identificação da conduta proibida. Jesus (2010, p. 79) considera típica toda conduta que “infringe o cuidado necessário objetivo”. E prossegue o jurista aduzindo que na circulação de veículos automotores o cuidado exigível de um condutor dotado de discernimento e prudência é o que se denomina previsibilidade objetiva, ou seja “é exigível o cuidado objetivo quando o resultado era previsível para uma pessoa razoável e prudente nas condições em que o agente atuou”.

2.3.1 Elementos do Fato Típico Culposo

Doutrinariamente (NUCCI, 2009, p. 208) para que seja caracterizado o ilícito culposo, é importante a conjugação de vários elementos, a saber: conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia); resultado lesivo; nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dele advindo; previsibilidade, e tipicidade.

2.3.1.1 Conduta humana voluntária

A voluntariedade repousa sobre a realização da conduta e não no resultado definido como crime. Assim, Greco (2008, p. 199) fala o seguinte acerca da conduta nos delitos culposos:

A conduta nos delitos de natureza culposa é o ato humano voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligencia, isto é, por não ter o agente observado o seu dever de cuidado, dá causa ao resultado não querido, nem mesmo assumindo, tipificado previamente na lei penal.

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Assim a vontade do agente está dirigida a um procedimento que nada tem a ver com a produção do resultado lesivo, mas em virtude da quebra do dever de cuidado, vem a produzir o resultado não querido.

2.3.1.2 Inobservância de um dever objetivo de cuidado

Teles apud Greco (2008, p.199), discorre acerca dos novos mecanismos destinados a facilitar a vida do homem e como a inserção desses instrumentos coloca em destaque que o homem aumente a cautela e o cuidado despendidos:

Nos dias de hoje em que a vida incorpora, cada vez mais novos e modernos instrumentos e mecanismos, destinados a facilitar a vida do homem, mas que, conforme sejam manipulados, podem causar sérios danos, todos nós temos, cada vez maior, um dever geral objetivo de adotar toda cautela, toda preocupação e precaução todo o cuidado possível, para não causarmos, com nossos comportamentos, lesões aos bens jurídicos.

Fragoso (2003, p. 272) esclarece que a punição do agente que comete delito culposo, pauta-se na prova de que ele não agiu com a cautela devida ao realizar a conduta:

[...] a ação delituosa que a norma proíbe é a que se realiza com negligência, imprudência ou imperícia, ou seja, violando o dever objetivo de cuidado, atenção ou diligência, geralmente imposto na vida de relação, para evitar dano a interesses e bens alheios e que conduz, assim, ao resultado que configura o delito (grifo nosso).

O autor faz menção à atenção e diligência impostas pela vida. Desse modo, é possível perceber que para a coexistência pacífica, importante que as pessoas se comportem de acordo com certos parâmetros culturais e sociais exigidos e, também, que, sejam prudentes, cautelosas e diligentes em suas ações, assim o dever jurídico de cuidado, funda-se nesses pilares; desse modo quando o sujeito aparta-se deles, dá azo à ocorrência do evento culposo.

Capez (2008, p. 283), discorre acerca do Princípio da Confiança, o qual tem relação com o dever de cuidado, veja:

Funda-se na premissa de que todos devem esperar por parte das outras pessoas que estas sejam responsáveis e ajam de acordo com normas da sociedade, visando evitar danos a terceiros. Por essa razão, consiste na realização da conduta, na confiança de que o outro atuará de modo normal, já esperado, baseando-se na justa expectativa de que o comportamento das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece. Por exemplo: o motorista que, trafegando pela preferencial, passa por um cruzamento, na confiança de que o veículo da via secundária aguardará sua passagem. No caso de um acidente, não terá agido com culpa. A vida social se tornaria extremamente dificultosa se cada um tivesse que vigiar o comportamento do outro para verificar se está cumprindo todos os deveres

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de cuidado; por conseguinte, não realiza conduta típica aquele que, agindo de acordo com o direito acaba por envolver-se em situação em que um terceiro descumpriu seu dever de lealdade e cuidado. O principio da Confiança, contudo não se aplica quando era função do agente compensar eventual comportamento defeituoso de terceiro. Por exemplo um motorista que passa bem ao lado de um ciclista não tem por que esperar uma súbita guinada deste em sua direção, mas deveria ter se acautelado para não passar tão próximo, a ponto de criar uma situação de perigo. Como atuou quebrado uma expectativa social de cuidado, a confiança que depositou na vítima se qualifica como proibida: é o chamado abuso da situação de confiança. Desse modo, surge a confiança permitida, que é aquela que decorre do normal desempenho das atividades sociais, dentro do papel que se espera de cada um, a qual exclui a tipicidade da conduta, em caso de comportamento irregular inesperado de terceiro; e a confiança proibida, quando o autor não deveria ter depositado no outro toda a expectativa, agindo no limite do que lhe era permitido, com nítido espírito emulativo. Em suma, se o comportamento do agente se deu dentro do que dele se esperava, a confiança é permitida; quando há abuso de sua parte em usufruir da posição de que se desfruta, incorrerá em fato típico.

Neste sentido Greco (2008, p. 199) afirma que “[...] esse dever de cuidado objetivo, dirigido a todos nós faz com que atentemos para determinadas regras de comportamentos, mesmo que não escritas ou expressas, a fim de convivermos harmoniosamente em sociedade”.

2.3.1.3 Resultado lesivo

Para existência de delito culposo “faz-se necessária a ocorrência de um resultado naturalístico” (GRECO, 2008, p. 200). Barros (2003, p. 225) argumenta que a ausência de resultado, torna a conduta atípica. O jurista pontua que “no crime culposo, o resultado aloja-se dentro do tipo, conferindo-lhe a essência criminosa. [...] A simples conduta não caracteriza crime. A integralização do tipo penal culposo depende da superveniência do resultado indesejado”.

2.3.1.4 Nexo de Causalidade

A relação de causalidade entre a conduta praticada e o resultado ocasionado por ela, devem estar presentes no fato culposo, a fim de que haja responsabilização por parte do agente. Entendimento esposado por Bitencourt (2007, p. 247) “é indispensável que o resultado seja consequência da inobservância do cuidado objetivo, ou, em outros termos, que este seja a causa daquele [...]”. Pierangeli (2007, p. 54) prescreve ser indispensável que o resultado da conduta emane do descumprimento do dever de cuidado que lhe era cabível. Assim, a lição do Procurador de Justiça preceitua que:

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É indispensável também que o resultado decorra do descumprimento do dever de cautela que competia ao seu causador, isto é, que exista um vínculo real entre a conduta descumpridora do dever de cuidado e o resultado. Se tidos como suficientes para um juízo de culpabilidade, apenas uma conduta violadora do cuidado e um resultado material, sem existência de um vínculo entre os dois, isto é, uma relação de causa e efeito, como inadvertidamente transparece em alguns julgados, qualquer condenação significará a aplicação do princípio do versari in re illicita, ou seja, o reconhecimento e adoção da odiosa responsabilidade penal objetiva, um retorno às legislações primitivas, como o Código de Hamurabi (arts. 228 e 229). Portanto, a culpa é a produção de um resultado típico, não querido, mas perfeitamente evitável, se cumprido fosse o cuidado requerido. Aqui encontramos o pactus saliens do crime culposo, no qual o dever de diligência é a ideia-valor.

É de se ressaltar que deve haver ligação entre a conduta do agente e o resultado ocasionado, pois se isto não existir não há o que se falar em delito culposo.

2.3.1.5 Previsibilidade

Hungria apud Greco (2008, p. 201) preceitua a previsibilidade como a possibilidade de o indivíduo conceber como provável que sua conduta acarretaria determinado resultado:

Existe previsibilidade quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrou, podia, segundo a experiência geral, ter-se representado, como possíveis, as consequências do seu ato. Previsível é o fato cuja possível superveniência não escapa, sob o prisma penal, quando a previsão do seu advento, no caso concreto, podia ser exigida do homem normal, do homo medius, do tipo comum de sensibilidade ético-social.

Mirabete (2009, p. 159) aponta a impossibilidade de punir indivíduos por fatos considerados imprevisíveis “[...] não haverá crime culposo mesmo que a conduta contrarie os cuidados objetivos e se verifica que o resultado se produziria da mesma forma, independentemente da ação descuidada do agente”. Prossegue o jurista, dando como exemplo o seguinte caso: “se alguém se atira sob as rodas do veículo que é dirigido pelo motorista na contramão de direção, não se pode imputar a este o resultado (morte do suicida). Trata-se, no caso, de mero caso fortuito”.

Doutrinariamente, existe distinção entre previsibilidade objetiva e a previsibilidade subjetiva. Noronha (2006, p. 141) aponta que “critério objetivo tem em vista o homem médio [...]. Previsível é um resultado quando a previsão de seu advento pode ser exigida do homem comum e normal, do indivíduo de atenção e diligência ordinárias”.

No que tange a previsibilidade subjetiva, Noronha (2006, p. 142) menciona que “este critério rejeita o paradigma do homem médio, que é abstração, para recomendar que se deve

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ter em vista a personalidade do indivíduo em tela, isto é, suas condições personalíssimas: idade, sexo, grau de cultura, etc”.

Capez (2009, p. 208) entende que a previsibilidade é elementar do tipo, pois se funda na probabilidade, diante das situações de se antever a consequência. Dessa forma, o penalista chama atenção para o seguinte:

A ausência de previsibilidade subjetiva não exclui a culpa, uma vez que não é seu elemento. A consequência será a exclusão da culpabilidade, mas nunca da culpa (o que equivale dizer, da conduta e do fato típico). Dessa forma, o fato será típico, porque houve conduta culposa, mas o agente não será punido pelo crime cometido ante a falta de culpabilidade.

Assim, em uma definição simplificada, previsibilidade é a probabilidade de uma pessoa comum antever o resultado.

2.3.1.6 Tipicidade

A legislação penal pátria estabelece que a punição do agente a título de culpa é uma ressalva; tendo em vista disposição inserida no art.18, parágrafo único do Código Penal: “salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”.

Diante disso, Greco (2008, p. 204) ressalta que só há de se falar em crime culposo “se houver previsão legal expressa para essa modalidade de infração. A regra contida no Código Penal é a de que todo crime seja doloso, somente se falando em delito culposo quando a lei penal expressamente fizer essa ressalva”.

2.4 MODALIDADES DE CULPA

O Código Penal ao tratar da culpa não a definiu, mas elencou suas formas de manifestação, quais sejam: imprudência, negligência e imperícia. Assim, o texto legal menciona que: “diz-se crime, culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”.

A falta de dever objetivo de cuidado (que é um dos elementos da culpa), conforme já aduzido acima se manifesta na imprudência, negligência e imperícia.

Referências

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