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1º estágio_Dano Moral - Erro M+®dico - Cirurgia Pl+ística - Obriga+º+úo de Resultado

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Poder Judiciário do Estado da Paraíba

Comarca de Campina Grande

3ª Vara Cível

Processo nº : 001.2005.015.075-2

Natureza/ação : Indenização por Danos Materiais, Morais e Estéticos Autor(a) : SILVANA MARQUES QUINTINO

Réu : ALEXANDRE AUGUSTO GOMES ALVES

S E N T E N Ç A

CONSUMIDOR. CIRURGIA PLÁSTICA ESTÉTICA. INDENIZAÇÃO: Cirurgia plástica estética – Dermolipectomia abdominal – Correção de hipodestrofia abdominal e estrias em grande quantidade – Emprego da técnica adequada - Imperícia quanto ao reimplante do umbigo e equilíbrio das cicatrizes – Mau resultado estético evidente – Deformação do padrão estético da vítima Malefício ao bemestar físico e psíquico da paciente -Responsabilidade de meio - Inadimplemento qualificado pelo dano estético - Cumulação dos danos moral e estéticos – Súmula 387 do STJ - Possibilidade.

É de resultado a responsabilidade dos cirurgiões plásticos no que diz respeito a cirurgia plástica estética.

Demonstrados o dano e o nexo de causalidade entre este e o proceder da casa de saúde, impõe-se o dever reparatório.

Procedência dos pedidos Vistos etc.

SILVANA MARQUES QUINTINO, já qualificado(a), por intermédio de advogado(a) regularmente habilitado(a), ingressou em juízo com a presente ação contra ALEXANDRE AUGUSTO GOMES ALVES, igualmente qualificado(a), objetivando reparação por danos materiais morais e estéticos sofridos em razão de defeito estético e dano psicológico decorrente de cirurgia plástica estética de resultado insatisfatório.

De acordo com a petição inicial, em data de 08 de janeiro de 2004 a suplicante submeteu-se a uma cirurgia de lipoescultura corporal, pela qual pagou a quantia de R$ 2.740,00 (dois mil, setecentos e quarenta reais); que o resultado da cirurgia não foi, contudo, o esperado; mas, pelo contrário, sofreu agravamento de seu estado de saúde e deformação de seu corpo; que o suplicado lhe garantira um corpo escultural, mas tudo o que conseguiu fazer foi trazer-lhe frustração e total desgosto com seu próprio corpo, fazendo cair em meio a uma profunda depressão; que o resultado experimentado foi totalmente diverso do pretendido, sofrendo defeito estético consistente em cicatrizes queloidianas e retração abdominal, alterando, em conseqüência, o padrão estético de seu corpo, causando-lhe dano psíquico irreparável.

Por tudo isto, pugnou pela condenação do(a) suplicado(a) em indenização por danos materiais, morais e estéticos.

(2)

Regularmente citado, o promovido ofereceu contestação (fls. 4/75), acompanhada de documentos (fls. 76/87), alegando, em síntese, que a cirurgia da autora foi uma dermolipectomia abdominal, e não uma lipoescultura, indicada para tratamento de lipodistrofia abdominal mais estrias em grande quantidade; que a cirurgia se processou sem nenhuma intercorrência, utilizando-se a técnica convencional; que o tempo de cicatrização da autora durou cerca de 06 (seis) semanas, sem qualquer anormalidade; que a suplicante fora informada quanto à possibilidade de resultar cicatrizes hipertróficas e queloidianas, dada a sua cor parda; que não prometeu um corpo escultural à paciente, sendo o resultado decorrente de reação inerente ao próprio organismo da paciente, ou de algum outro problema não relatado, não havendo possibilidade da situação ser caracterizada como decorrente de infecção hospitalar; que mesmo estando com uma cicatriz hipertrófica, a autora não ficou deformada, estando, indubitavelmente, melhor do que antes do procedimento.

Audiência preliminar conciliatória (fls. 98/99), na qual deferiu-se a prova pericial, com inversão dos respectivos ônus em desfavor da suplicado.

Agravo retido (fls. 114/126).

Rejeição do Incidente de Impugnação à Justiça gratuita (fls. 135/136) e acolhimento do Incidente de Impugnação ao valor da causa (fls. 137/138).

Depósito do Laudo Pericial (fls. 143/146), impugnando pelo réu (fls. 148/154) e aceito pela autora (fls. 156/157)

Nas datas aprazadas para a audiência de instrução e julgamento (fls. 170 e 181), deferiu-se a dispensa da prova oral, manifestada pelas partes.

Informações do Hospital Infantil Palmira Sales corroborando a alegação da autora no sentido de que o réu manteve em seu poder o respectivo prontuário de atendimento médico-hospitalar (fls. 187/189).

Oferecidas as razões finais pelas partes (fls. 191/192 e 194/196) vieram-me os autos conclusos para a sentença.

É o relatório, em apertada síntese. DECIDO:

PRELIMARMENTE:

Considerando que as razões do agravo retido não infirmaram os fundamentos sobre os quais repousa a decisão que inverteu o ônus da prova, matenho-a por seus próprios fundmentos.

NO MÉRITO

Trata-se de ação ordinária de indenização por danos materiais, morais e estéticos sofridos em decorrência de negligência na realização de cirurgia plástica estética, realizada pelo suplicado no Hospital Infantil Palmira Sales, em data de 08 de janeiro de 2004, resultando em deformidade corporal com prejuízo ao padrão estético da paciente/suplicante.

Inicialmente, ressalte-se que se está diante de típica relação de consumo, aplicando-se ao presente litígio, em sua totalidade, as regras do Código de Defesa do Consumidor, a teor de seu art. 2º e § 2º do art. 3º, in verbis:

“Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”.

Art. 3º ... § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”.

De outra senda, ressalte-se que, diferentemente do que ocorre em relação à cirurgia plástica reparadora e às outras intervenções cirúrgicas realizadas sob o crivo da necessidade, a obrigação dos cirurgiões plásticos, quanto à cirurgia plástica estética, dada a sua ratio essendi, é de resultado, e não simplesmente de meio.

Daí porque tanto a doutrina quanto a jurisprudência nacional tem, reiteradamente, afirmado que a satisfação da obrigação não se opera com o tão-só emprego da técnica adequada, fazendo-se um resultado objetivamente satisfatório.

(3)

A propósito do tema, Teresa Ancona1 obtempera que:

“[...] na verdade, quando alguém, que está muito bem de saúde, procura um médico somente para melhorar algum aspecto seu, que considera desagradável, quer exatamente esse resultado, não apenas que aquele profissional desempenhe o seu trabalho com diligência e conhecimento científico, caso contrário, não adiantaria arriscar-se e gastar dinheiro por nada. Em outras palavras, ninguém se submete a uma operação plástica ser não for para obter um determinado resultado, isto é, a melhoria de uma situação que pode ser, até aquele momento, motivo de tristezas”.

Em idêntico sentido, se posiciona a jurisprudência:

“No procedimento cirúrgico estético, em que o médico lida com paciente saudável que apenas deseja melhor sua aparência física e, conseqüentemente, sentir-se psiquicamente melhor, estabelece-se uma obrigação de resultado que impõe ao profissional da medicina, em caso de insucesso da cirurgia plástica, presunção de culpa, competindo-lhe ilidi-la com a inversão do ônus da prova de molde a livrá-lo da responsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente em razão do ato cirúrgico” (STJ – 3ª T. REsp. 81.101, rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 13.4.99, RT 767/111 e RSTJ 119/290).

Indenização. Responsabilidade civil. Danos estético e moral. Deformidade causada por erro médico em cirurgia plástica. Obrigação de resultado. Responsabilidade que permanece ainda que adotadas todas as técnicas recomendáveis. Obrigação que se transmite aos sucessores do médico, tendo em vista o seu falecimento no curso do processo. Recursos não providos” (TJSP – 3ª C. Dir. Privado – Ap. 132.990-4/0, rel. Ênio Santarelli Zuliani, j. 18.3.03, JTJ-Lex 267/157).

No presente caso concreto, a prova carreada para os autos demonstra, de modo irretorquível, que o suplicado não se desincumbiu, em absoluto, da obrigação de resultado assumida perante a paciente/suplicante, inadimplemento esse qualificado pela alteração do padrão estético da ofendida.

É dizer, além de não corrigir o defeito estético a que se propôs, o suplicado agravou, substancialmente, o quadro estético da vítima, marcando-lhe o corpo com defeitos que podem ser vistos a olho nu, provocando-lhe intensa dor psíquica.

Com efeito, embora o suplicado tenha se limitado, em sua peça contestatória, à tentativa de justificar as cicatrizes hipertróficas e queloidianas encontradiças no corpo da vítima, ressalte-se que o defeito estético foi muito mais além, tal como relatado pelo Perito Judicial em resposta ao quesito “q” (fls. 145):

“R – A pericianda apresenta:

1. Depressão cicatricial do lado direito da incisão abdominal; 2. Cicatriz alargada em toda a extensão da cirurgia;

3. Cicatriz elevada do lado esquerdo com relação ao lado direito da linha cicatricial;

4. Presença de cicatriz hipertrófica e queloidiana; 5. Reimplante de umbigo anatomicamente baixo.”

Já em resposta ao quesito “w” [Há nos autos elementos que comprovem a conduta IMPERITA do demandado], respondeu (fls. 146):

“R – Sim:considerando-se o RESULTADO ESTÉTICO, houve IMPERÍCIA quanto ao reimplante do umbigo e equilíbrio da cicatriz abdominal, estando o lado esquerdo elevado em relação ao lado direito.[...]”

Neste diapasão, a prova pericial veio a corroborar o dano estético constatável a olho nu, uma vez que não precisar ser especialista na área para concluir que o padrão estético da ofendida foi drasticamente deformado, resultando num aleijão abjeto aquilo que deveria ser motivo de orgulho, auto-estima e elevação espiritual para a autora porquanto, como bem esclarece o renomado cirurgião plástico Paulo Jatene, citado pelo tratadista Rui Stoco2:

(4)

“[...] Deve-se convir que, quando o médico aplica um tratamento cosmético está cuidando de uma doença da alma, pois os pacientes da cirurgia plástica estética são, em sua maioria, mulheres na faixa etária de 30 a 50 anos de idade, carentes de afetividade, geralmente, superando ou recuperando perdas (final de um casamento, traumas, vida atribulada, crise existencial), acreditando que a cirurgia e a modificação de sua aparência física irá resolver seus problemas. [...]”

Observou, ainda, o cirurgião Paulo Jatene que o princípio básico de uma cirurgia plástico-estética é o respeito às dobras e linhas naturais do corpo humano, cuja preservação se impõe. [..]”.

Evidentemente que não se conceber, porquanto insustentável à luz da técnica e da própria razão lógica, a tentativa do suplicado de eximir-se de responsabilidade sob a frágil alegação de que o defeito estético seria inerente, isto é, decorrente de uma reação natural do organismo da vítima, haja vista que, além das cicatrizes, resultaram quatro outros defeitos que, somados, causaram verdadeira deformação no corpo da suplicante.

Neste contexto, tenho como manifestamente configurados os danos materiais, morais e estéticos reclamados pela suplicante, bem como nexo de causalidade com a imperícia com que procedeu o suplicado, tudo nos termos como restou clara e objetivamente retratado no laudo pericial.

Portanto, deve o suplicado restituir todas despesas feitas pela suplicante em função da mal-sucedida intervenção cirúrgica, a título de recomposição dos danos de ordem material [além do moral e estético] a teor dos arts. 398 e 402 do Código Civil:

“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

“Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”.

Neste sentido, já decidiu o egrégio TJMG:

“Em se tratando de pedido de indenização por cirurgia plástica malsucedida, provada a culpa, fica o profissional obrigado a restituir ao paciente os honorários, bem como a reparar os danos decorrentes do erro médico” (4ª C – Ap. 110.113-3, rel. Mercedo Moreira, j. 21.8.91 – RT 692/149).

De outra senda, ressalte-se que o dano estético restou patenteado na prova pericial, enquanto os danos morais, desenvolvendo-se no âmago do ofendido, não exigem prova de sua extensão, porquanto inferidos in re ipsa.

Por conseguinte, deve o suplicado reparar, também, os danos morais e estéticos experimentados pela ora reclamante, de forma cumulativa, a teor da recente Súmula 387 do c. STJ:

“É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

No tocante à quantificação dos danos, ressalte-se que, na ausência de critérios pré-estabelecidos, sua determinação submete-se ao prudente arbítrio do juiz, devendo ser fixados em valores que atendam, a um só tempo, a finalidade repressiva e punitiva para o agente, desestimulando a prática de novos ilícitos, e compensatória para o ofendido, recompondo o patrimônio imaterial, considerando-se a extensão do dano, o grau de culpa, o proceder tanto do agente quanto do ofendido, a situação econômica das partes e atendidos os critérios de adequação, suficiência e proporcionalidade.

No presente caso concreto, levando em consideração todo o sofrimento infligido à ofendida, a frustração das expectativas alimentadas, a dor, a angústia e revolva em face da deformação de seu corpo, a negligência com que procedeu o suplicado, resultando nas seqüelas deformadoras do padrão estético e demais circunstâncias inerentes ao presente caso concreto, entendo razoável uma reparação equivalente a 25 salários mínimos para os danos morais e 15 para os danos estéticos, totalizando 45 (quarenta e cinco) salários mínimos.

Por tais fundamentos

,

JULGO PROCEDENTES OS PEDIDOS, condenando o promovido a indenizar a autora, a título de danos morais e estéticos, na quantia de R$

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20.925,00 (vinte mil, novecentos e vinte e cinco reais), devidamente corrigida3, a contar

desta data, e acrescida de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, estes a contar da citação.

Condeno o réu, ainda, no ressarcimento da quantia de R$ R$ 2.740,00 (dois mil, setecentos e quarenta reais), devidamente corrigida pelo INPC, a contar do ajuizamento da ação, e acrescida de juros moratórios de 1% ao mês, estes a contar da citação.

Condeno o réu, por fim, no pagamento de honorários advocatícios, em favor do patrono da autora, em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, devidamente corrigido, além do pagamento das custas processuais.

P. R. Intimem-se.

Campina Grande, 08 de setembro de 2009. MANUEL MARIA ANTUNES DE MELO Juiz de Direito Titular

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