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As mudanças da bovinocultura de corte no Brasil : evidências a partir de Mato Grosso do Sul (2004 - 2015)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARIANE CRESPOLINI DOS SANTOS

AS MUDANÇAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO

BRASIL: EVIDÊNCIAS A PARTIR DE MATO GROSSO DO

SUL (2004 – 2015)

Campinas

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARIANE CRESPOLINI DOS SANTOS

AS MUDANÇAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO

BRASIL: EVIDÊNCIAS A PARTIR DE MATO GROSSO DO

SUL (2004 – 2015)

Profa. Dra. Ivette Raymunda Luna Huamani - Orientadora

Dissertação apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Desenvolvimento Econômico, na área de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARIANE CRESPOLINI DOS SANTOS E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. IVETTE RAYMUNDA LUNA HUAMANI

Campinas

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

MARIANE CRESPOLINI DOS SANTOS

AS MUDANÇAS DA BOVINOCULTURA DE CORTE NO

BRASIL: EVIDÊNCIAS A PARTIR DE MATO GROSSO DO

SUL (2004 – 2015)

Defendida em 10/12/2015

COMISSÃO JULGADORA

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"I believe in intuition and inspiration (…). Imagination is more important than knowledge. For knowledge is limited, whereas imagination embraces the entire world, stimulating progress, giving birth to evolution. It is, strictly speaking, a real factor in scientific research."

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AGRADECIMENTOS

Quando penso em quem devo agradecer pelo apoio na elaboração deste trabalho, percebo que ele começou muito antes do ingresso no mestrado. Assim, primeiramente, agradeço aos meus pais, João Pedro e Luzia, pelo amor incondicional! Também agradeço por desde pequena terem me incentivado a não apenas estudar, mas a gostar de estudar e, nesse sentido, por não terem poupado investimentos na minha formação.

Aos meus irmãos, Fausto e Fernando, por serem meu exemplo e fazerem tudo ser mais divertido. Vocês são ótimos e insubstituíveis! À minha prima, Fernanda, por ser a irmã que eu não tive! Aos meus sobrinhos, Júlia e Pedro, por iluminarem a minha vida! E à minha querida avó, Lydia, por ter cuidado tanto de mim!

Ao Luiz Henrique, porque somos capazes de viver sozinhos, mas preferimos e escolhemos viver juntos! Agradeço pelo amor, companheirismo, dedicação e paciência. Pelas longas discussões sobre este trabalho e, claro, pela elaboração das figuras esquemáticas! Agradeço também por ter me dado os melhores presentes da minha vida, o Fejuca e a Farofa, meus cachorrinhos tão amados e especiais.

Ao Prof. Evaristo Neves, ao Prof. Ricardo Shirota, ao Prof. Eric Richer e à Profa. Silvia Miranda por terem despertado o meu interesse para o ensino e para a pesquisa e também por terem se tornado grandes amigos!

Ao Prof. Sergio De Zen por ter me apresentado a incrível complexidade da bovinocultura de corte e também por ser o líder do projeto que forneceu os dados para este trabalho. O trabalho que desenvolve enquanto gestor de equipes de pesquisa é admirável! Além do aprendizado profissional ao longo dos cinco anos que temos trabalhado juntos, obrigada pelas preocupações em relação à minha felicidade e realização pessoal.

Aos amigos do Cepea, à Dra. Ana Paula Ponchio e à Paola Ribeiro, pela paciência e grandes ensinamentos em correções de textos que, certamente, contribuíram para a redação deste trabalho. Ao Baraio, Camaila, Gabi, Kuper, Pitu, Regina, Rildo, Roskinha, So-t e Shirley pela amizade e trabalho em equipe! Em especial, agradeço ao Sarga, que além de ser um dos meus melhores amigos, também levantou parte dos dados deste trabalho comigo, “caçando” um lugar para comemorarmos meu aniversário em uma segunda-feira no interior de MS! E ao Cumidói, por ainda que longe, me proporcionar a certeza de que as coisas iam dar certo!

Aos meus amigos de infâncias, Jéssica, Laís, Mansur, Lívia Brunetti e Livia Miranda, Paulinho, Paulão, Joninha, Arthur, Gabi e Thiago por entenderem não a minha ausência, mas

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o meu total desaparecimento! Ao Felipe Najm, que nesses dois anos, assim como somos desde criança, foi meu melhor amigo e conselheiro das horas difíceis.

À República Balaio, que continua a me encher de orgulho e onde, apesar de não morar há anos, ainda me sinto em casa. À Bivalvia, por sempre ter feito questão de comemorar as pequenas conquistas comigo. À minha grande amiga/irmã e colega de Esalq e república, com quem morei tantos anos, Pre-k-ria, que mesmo com as exigências das nossas “´pós-graduações”, sempre esteve junto comigo! Agradeço também à Meni e à Novilha, pois graças às suas valiosas ajudas consegui conciliar o mestrado e a graduação em agronomia.

Ao Prof. Walter Belik, por ter identificado no primeiro artigo do mestrado a semente desta dissertação. Ao Prof. Antônio Buainain, ao Prof. José Maria e ao Prof. Maurício Serra pelos ensinamentos ao longo do mestrado e também pelas horas dedicadas em discussões com valiosas sugestões para este trabalho. E também à Profa. Angela Kageyama, pois sem a sua disciplina não haveria os mapas deste trabalho.

Ao Prof. Bastiaan Reydon, por ter contribuído com várias considerações durante a elaboração da dissertação, por ser a banca da defesa e também por estar sempre disposto a me ajudar e a me aconselhar, com paciência mesmo quando eu digo que não preciso de ajuda e depois mudo de ideia!

Ao Marcelo Messias, uma das pessoas mais prestativas que já conheci! E a todos os amigos do NEA, onde a troca de experiência é sempre muito rica! Em especial, à Grazielle, à Jamile, à Thaís Bannwart e à Larissa Alvarez, amigas queridas, pelas ótimas conversas, risadas e por tantos momentos de terapia da “pós-graduação” no IE.

Ao Dr. Urbano Abreu, por ter me ensinado as peculiaridades que só a bovinocultura pantaneira tem, pela elaboração de artigos ao longo deste ano que amadureceram a problemática da pecuária sul mato-grossense e também, pelas sugestões e críticas nos resultados deste trabalho.

Ao Prof. Júlio Barcellos, por, apesar da distância, ter aceitado participar da banca de defesa desta dissertação e pelas suas valiosas contribuições.

Por fim, agradeço à Profa. Ivette, minha orientadora que merece um agradecimento mais que especial. Sem ela este trabalho não teria acontecido. A sua participação não foi apenas de orientadora, criticando, discutindo, sugerindo e revisando. Foi muito além, foi essencial! Ela acreditou em mim, confiou no meu trabalho, teve paciência e tolerância, e me ensinou muitas coisas! Muito obrigada, Iv! Continuaremos juntas no doutorado!

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RESUMO

Este trabalho teve como objetivo analisar as mudanças ocorridas na bovinocultura de corte brasileira, entre 2004 e 2015, com base nas evidências de Mato Grosso do Sul. A pesquisa foi divida em dois eixos, o primeiro analisa os sistemas de produção, com ênfase na especialização e nos ganhos de produtividade. O segundo eixo avalia o desempenho financeiro no curto, médio e longo prazo, considerando a relevância da valorização da terra na análise de investimento.

O levantamento dos dados primários foi realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Pela metodologia de grupo focal buscou-se definir as propriedades representativas de cada microrregião de MS, totalizando nos dois períodos 23 propriedades. A atualização mensal dos preços dos insumos também foi realizada pelo Cepea.

Os resultados indicaram que nas propriedades representativas de 2015, comparativamente às de 2004, houve aumento da escala e especialização da produção. De modo geral, também houve ganhos de produtividade. O fato mais relevante foi o aparecimento da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) como o sistema modal na região sudoeste do estado.

A análise financeira permitiu verificar que, ao não considerar a compra e venda da terra, ainda que as Margens Bruta e Líquida tenham sido positivas, em 60% das propriedades a Taxa Interna de Retorno (TIR) foi negativa. A propriedade com ILP destacou-se, pois, mesmo sem considerar a valorização da terra, a TIR foi superior a 10%.

Ao considerar a compra, valorização e posterior venda da terra, em todas as propriedades a TIR foi positiva. Verificou-se que quanto maior a produtividade, menor é o impacto da valorização da terra nos indicadores financeiros.

Portanto, em determinadas regiões a bovinocultura de corte passou por uma efetiva transformação. Já em outros locais ocorreram mudanças e avanços produtivos, mas ainda não houve uma ruptura com o modelo produtivo de décadas passadas.

Palavras-chaves: bovinocultura de corte, produtividade, rentabilidade e propriedades

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze the changes in the Brazilian beef cattle, between 2004 and 2015, based on the evidence of Mato Grosso do Sul state. The research was divided into two parts, the first analyzes the production systems, with emphasis on specialization and productivity gains. The second part evaluates the financial performance in the short, medium and long term, considering the relevance of land valuation in the investment analysis.

The survey of primary data was collected by the Center for Advanced Studies in Applied Economics (Cepea) of the “Luiz de Queiroz” College of Agriculture- University of São Paulo (ESALQ / USP) and the Brazilian Confederation of Agriculture and Livestock (CNA). The focus group methodology it sought to define the typical farms of each region, in both periods totaling 23 properties. The monthly update of input prices was also performed by Cepea.

The results indicated that the 2015 typical farms, compared to 2004, an increase in scale and specialization of production. In general, there were also productivity gains. The most significant event was the modal system Crop-Livestock Integration (CLI) in the southwest region of the state.

The financial analysis has shown that by not considering the purchase and sale of land, although the Gross and Net Margins were positive in 60% of the properties the Internal Rate of Return (IRR) was negative. The property with CLI highlight was because, even without considering the valuation of the land, the IRR was above 10%.

When considering the purchase, recovery and subsequent sale of the land throughout all the properties the IRR was positive. It was found that the higher the productivity, the lower the appreciation of the land in financial indicators.

Therefore, it has been found that in certain regions beef cattle experienced an effective transformation. Already in other places the changes are taking place, but there has not been a break with the production model of past decades.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Números chaves da bovinocultura de corte em 2014 ... 14

Figura 2: Evolução do rebanho bovino no Brasil e nas grandes regiões, em milhões de cabeças, 1974 a 2014 ... 15

Figura 3: Estabelecimentos rurais com área maior que 1000 hectares ocupando a área agrícola total (%) e em relação ao número total de propriedades (%), por UF, em 2006. ... 16

Figura 4: O estado de Mato Grosso do Sul e as microrregiões ... 20

Figura 5: Biomas do Brasil... 21

Figura 6: Potencialidade Agrícola dos Solos ... 22

Figura 7: Etapas da produção da bovinocultura de corte ... 25

Figura 8: Fatores que explicaram o aumento da produção de bovinos de corte no Brasil – 1950 a 2006 ... 26

Figura 9: Variação da lotação animal/hectare para as propriedades modais de 2003 a 2008 e de 2009 a 2013. ... 27

Figura 10: Taxa de abate (%) e peso médio das carcaças (kg), 1997 a 2014 ... 28

Figura 11: Grupos focais de bovinocultura de corte realizados pelo Cepea, 2002 a 2015 ... 34

Figura 12: Sistemas de produção representativos agregados pelo produto final comercializado ... 35

Figura 13: Distribuição geográfica dos sistemas produtivos das propriedades modais em Mato Grosso do Sul, 2004 e 2015 ... 46

Figura 14: Custo Operacional Total (COT) por hectare nas propriedades modais com sistema produtivo Cria, em 2004 e 2015 ... 54

Figura 15: Custo Operacional Total (COT) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema produtivo Cria, em 2004 e 2015 ... 54

Figura 16: Custo Operacional Total (COT) por hectare nas propriedades modais com sistema produtivo Cria, em 2004 e Recria-Engorda em 2015 ... 55

Figura 17: Custo Operacional Total (COT) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema produtivo Cria, em 2004 e Recria-Engorda em 2015 ... 55

Figura 18: Custo Operacional Total (COT) por hectare nas propriedades modais com sistema produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 56

Figura 19: Custo Operacional Total (COT) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 56

Figura 20: Custo Operacional Total (COT) por hectare nas propriedades modais com sistema produtivo Recria-Engorda em 2004 e Recria-Engorda/ILP em 2015 ... 57

Figura 21: Custo Operacional Total (COT) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema produtivo Recria-Engorda em 2004 e Recria-Engorda/ILP em 2015 ... 57

Figura 22: Série histórica dos Indicadores ESALQ/BM&FBovespa da arroba do boi gordo e do bezerro - valores reais de 2000 a 2015 ... 59

Figura 23: Relação entre o preço do bezerro e o preço da arroba - 2000 a 2015 ... 60

Figura 24: Margem Líquida (ML) por hectare nas propriedades modais com sistema produtivo Cria, em 2004 e 2015 ... 61

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Figura 25: Margem Líquida (ML) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema

produtivo Cria, em 2004 e 2015 ... 62

Figura 26: Margem Líquida (ML) por hectare nas propriedades modais com sistema

produtivo Cria, em 2004 e Recria-Engorda em 2015 ... 63

Figura 27: Margem Líquida (ML) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema

produtivo Cria, em 2004 e Recria-Engorda em 2015 ... 63

Figura 28: Margem Líquida (ML) por hectare nas propriedades modais com sistema

produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 64

Figura 29: Margem Líquida (ML) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema

produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 64

Figura 30: Margem Líquida (ML) por hectare nas propriedades modais com sistema

produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 65

Figura 31: Margem Líquida (ML) por arroba vendida nas propriedades modais com sistema

produtivo Ciclo Completo em 2004 e que em 2015 especializou-se em Cria ou Recria-Engorda ... 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Rebanho efetivo, abate total e abate sob inspeção federal, por mesorregião e estado

– número de cabeças e percentual - 2014 ... 17

Tabela 2: Propriedades representativas selecionadas ... 37 Tabela 3: Indicadores zootécnicos das propriedades típicas ... 39 Tabela 4: Sistemas de produção das propriedades modais por microrregião, 2004 e 2015 .... 46 Tabela 5: Indicadores de produtividade das propriedades de Cria – 2004 e 2015 ... 48 Tabela 6: Indicadores de produtividade das propriedades de Ciclo Completo e outros

sistemas – 2004 e 2015 ... 50

Tabela 7: Indicadores de produtividade das propriedades de Recria-Engorda – 2004 e 2015 51 Tabela 8: Indicadores financeiros das propriedades representativas de 2004 e 2015, em Mato

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne

CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

COE – Custo Operacional Efetivo

COT – Custo Operacional Total

ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

FAMASUL – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

GTA – Guia de Trânsito Animal

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILP – Integração Lavoura-Pecuária

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

MB – Margem Bruta

ML – Margem Líquida

NEI – Nova Economia Institucional

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU – Organizações das Nações Unidas

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PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PPM – Produção da Pecuária Municipal

RRI – Retorno por Real Investido

SECEX – Secretaria de Comércio Exterior

SIE – Serviço de Inspeção Estadual

SIF – Serviço de Inspeção Federal

SIM – Serviço de Inspeção Municipal

TIR – Taxa Interna de Retorno

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Objetivo Geral ... 3

1.2. Objetivos Específicos ... 3

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E INSTITUCIONAL ... 5

2.1. A ocupação do território brasileiro pela “pata do boi” ... 5

2.2. Três modelos de utilização da terra ... 7

2.3. Desenvolvimento econômico, instituições e direito de propriedade ... 8

3. CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ... 13

3.1. Produção total e relevância econômica ... 13

3.2. Produção e heterogeneidade regional ... 15

3.2.1. Mato Grosso do Sul ... 19

3.3. Etapas da produção primária ... 23

3.4. Pastagens e produtividade ... 26

3.5. Impactos Ambientais ... 28

4. METODOLOGIA ... 31

4.1. Grupo focal e propriedade representativa ... 31

4.2. Base de dados ... 33

4.2.1. Propriedades representativas selecionadas ... 36

4.3. Indicadores de produtividade ... 38

4.4. Indicadores econômicos e financeiros ... 40

4.4.1. Custo Operacional Efetivo (COE) ... 40

4.4.2. Custo Operacional Total (COT) ... 40

4.4.3. Margem Bruta (MB) ... 41

4.4.4. Margem Líquida (ML) ... 41

4.4.5. Fluxo de Caixa, VPL e TIR ... 41

4.4.6. Atualização dos preços dos insumos... 43

5. RESULTADOS ... 45 5.1. Sistemas de produção ... 45 5.2. Indicadores de produtividade ... 47 5.2.1. Cria/Cria ... 47 5.2.3. Cria/Recria-Engorda ... 48 5.2.4. Ciclo Completo/Outros ... 49

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5.2.5. Recria-Engorda/Recria-Engorda-ILP ... 51

5.3. Indicadores econômicos e financeiros ... 52

5.2.2. Custos de Produção ... 52

5.2.3. Cria/Cria ... 53

5.2.4. Cria/Recria-Engorda ... 54

5.2.5. Ciclo Completo/Outros ... 55

5.2.6. Recria-Engorda/Recria-Engorda-ILP ... 56

5.2.7. Margem Bruta e Margem Líquida ... 58

5.2.8. Cria/Cria ... 61

5.2.9. Cria/Recria-Engorda ... 62

5.2.10. Ciclo Completo/Outros ... 64

5.2.11. Recria-Engorda/Recria-Engorda com ILP ... 65

5.4. Viabilidade Econômica... 66

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1. INTRODUÇÃO

A bovinocultura de corte teve início no Brasil praticamente com a colonização, sendo uma das primeiras atividades econômicas da nação. É considerada a atividade mais importante na função de ocupação do território (PRADO JR, 1945; FURTADO, 1964), resultado da baixa exigência de investimentos de capital e fácil adaptação às condições adversas de relevo e solo. Além das questões edafoclimáticas, as instituições também explicaram o processo de ocupação, principalmente aquelas relacionadas à governança fundiária.

Guedes & Reydon (2012) destacam que, historicamente, no território brasileiro a ocupação do espaço rural se deu por duas vias principais, uma “legal”, perante a legislação em vigor, a concessão de sesmarias pela coroa portuguesa, e outra “de fato” amplamente utilizada e irregular, a posse. Como resultado desse processo, ainda hoje o governo brasileiro não tem o registro comprobatório de todo os imóveis rurais no Brasil, tampouco dos estabelecimentos de maior escala produtiva.

Essa falta de governança fundiária faz com que a terra apresente três modelos de utilização, sendo eles o produtivo, o especulativo e o predatório. A produção de bovinos de corte facilita o uso especulativo da terra, já que, ainda que por hectare o retorno econômico seja baixo, comparativamente ao de outras atividades, a expectativa de valorização do capital mantém a atratividade do negócio (REYDON, 2014).

A produção de bovinos também implica em uso predatório da terra, de tal modo que dos 160 milhões de hectares ocupados com pastagens, o equivalente a aproximadamente 50% da área ocupada pelos estabelecimentos rurais no país (IBGE, 2006), estima-se que de 50% a 70% dos pastos apresentem algum grau de degradação (DIAS-FILHO, 2011).

A literatura aponta que a maior parte dos impactos ambientais da atividade, com destaque para a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE), está relacionada à degradação das pastagens e seus efeitos limitantes sob outros indicadores de produtividade. No Brasil, a taxa de lotação é de 1,2 animais por hectare, sendo que o manejo de pasto poderia aumentar em mais de quatro vezes essa produtividade, reduzindo também a idade de abate (CORREA & SANTOS, 2003; IBGE, 2006).

Mesmo com a baixa produtividade e seus impactos sob o meio ambiente, é notória a relevância da bovinocultura de corte na economia brasileira e mundial. Em 2014, a cadeia produtiva da carne bovina respondeu por 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 12,76% do PIB do Agronegócio brasileiro. Ressalta-se que, do produto da cadeia, 44% foi gerado na produção primária (CEPEA, 2015).

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2

A produção brasileira além de gerar divisas para o país, também influencia a economia mundial. Com apenas 19% da produção destinada para exportação, desde 2004 o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores exportadores de carne bovina, atendendo a demanda de 201 diferentes países (MDIC/Secex, 2015).

A liderança nas exportações é alcançada pelo Brasil com 90% da sua produção realizada com terminação dos animais a pasto (DE ZEN et al, 2013). Esse cenário, relacionado às condições edafoclimáticas do clima tropical, permite que o país tenha vantagens comparativas em relação aos demais exportadores de carne bovina, além de potencial produtivo expressivamente superior.

Austrália, Canadá, França e Estados Unidos, países relevantes na produção e comércio internacional, estão muito próximos às suas fronteiras produtivas, o que implica que produções marginais aumentem os custos mais que proporcionalmente. Já o Brasil, em um comparativo com esses e outros 25 países, possui um dos menores custos de produção por unidade produzida e grande potencial de aumento produtivo (AGRI BENCHMARK, 2014).

A perspectiva para o futuro é que a atividade ganhe ainda mais espaço na economia nacional e internacional, fundamentada nas projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) de que até 2050 a demanda mundial por alimentos deve aumentar expressivos 70%, principalmente para fontes de proteína animal, resultado do crescimento populacional e do aumento da renda em países em desenvolvimento (ONU, 2014).

O Brasil tem grande potencial para atender a demanda de carne bovina, mantendo inclusive as vantagens comparativas com outros países relativas aos custos de produção (DE ZEN & SANTOS, 2015). Porém, para que políticas públicas efetivas propiciem o aumento da produção aliado à sustentabilidade ambiental e social, é necessário compreender o contexto histórico da produção de bovinos de corte, as mudanças no período recente e os desafios do futuro.

Assim, este trabalho tem como objetivo analisar as mudanças na produção primária de carne bovina, buscando responder a pergunta: houve mudanças no modelo produtivo da bovinocultura de corte entre 2004 e 2015?

O estudo levanta duas hipóteses: a primeira é que ocorreram mudanças, resultando em especialização produtiva nas diferentes etapas da produção primária e em aumento da produtividade. E a segunda é que, apesar disso, a valorização da terra ainda é relevante na viabilidade econômica da atividade.

Para isso, são analisadas as propriedades representativas de 2004 e 2015, do banco de dados do Cepea, em Mato Grosso do Sul. O MS é um dos estados mais importantes na

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produção nacional, tem a bovinocultura de corte nas raízes do processo de ocupação do seu território e atualmente apresenta grande heterogeneidade da produção. Pela natureza das propriedades representativas1, os resultados permitem delinear um panorama detalhado sobre o cenário regional. Pelas evidências que se apresentam, contribuem também para uma compreensão maior sobre o cenário nacional.

A dissertação está estruturada em seis capítulos. O primeiro integra esta introdução e os objetivos. O segundo capítulo apresenta a contextualização histórica e o papel das instituições na ocupação do território brasileiro e no uso atual da terra. O terceiro é uma caracterização da produção, desde a relevância econômica, distribuição regional do rebanho e do abate, definição dos sistemas de produção até os impactos ambientais da atividade. O quarto capítulo é a metodologia e o quinto os resultados. Por fim, o sexto capítulo apresenta as considerações finais e uma agenda de continuidade do estudo.

1.1. Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é analisar as mudanças ocorridas na bovinocultura de corte brasileira entre 2004 e 2015, a partir das evidências observadas em Mato Grosso do Sul.

1.2. Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são divididos em dois eixos: o primeiro busca analisar as mudanças no modelo produtivo de bovinos de corte, com ênfase na especialização e nas variações de produtividade dos sistemas de produção. O segundo busca analisar o desempenho financeiro de curto, médio e longo prazo e a importância da valorização da terra.

1 Como será detalhado na metodologia, a propriedade representativa é um modelo teórico que caracteriza a moda

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2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E INSTITUCIONAL 2.1. A ocupação do território brasileiro pela “pata do boi”

A pecuária de corte no Brasil teve início praticamente no mesmo período da colonização. Com as primeiras ocupações portuguesas no Brasil e desenvolvimento da economia açucareira no nordeste, a atividade provia proteína animal para a população e também animais para tração nos cultivos agrícolas (FURTADO,1964).

Após longa presença no sertão nordestino, no final do século XVIII, a atividade criatória avançou para a região central do país, onde hoje seria Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Além dos desafios de produzir no semiárido nordestino, o aumento da demanda por carne bovina, resultado do crescimento econômico proporcionado pela mineração, estimulou ainda mais a produção (FURTADO,1964). As externalidades do ciclo do ouro não se restringiram apenas à região Central do Brasil, irradiando seus efeitos também para a região Sul, onde a pecuária recebeu importante impulso (PRADO JR., 1945).

A atividade criatória desenvolvida na região Sul, introduzida muito antes da mineração, ainda no início do século XVII, desenvolveu-se inicialmente para a produção de couro. Naquele momento, a demanda por carne bovina da população local era muito inferior ao total de carne ofertada. Porém, com a irradiação das externalidades econômicas da mineração, os preços subiram expressivamente, resultado do aumento da demanda por carne. (FURTADO, 1964; PRADO JR., 1945).

Assim como no Sul, o couro extraído das boiadas também foi o produto que impulsionou a economia da região pantaneira, fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Ainda que os primeiros registros históricos sobre a descoberta do território do pantanal tenham ocorrido em 1524 (BARBOSA RODRIGUES, 1985), foi a partir de 1880, quando as indústrias de charque e de couro começaram a florescer2, que a economia regional cresceu de forma mais expressiva (BORGES, 1991). Mesmo com a falta de infraestrutura, foi com a pecuária que a região de fronteira passou a integrar-se à economia nacional (ESSELIN, 2011). Já no século XX, o governo brasileiro buscou impulsionar a ainda tímida ocupação das regiões mais afastadas. No fim da década de 30, Getúlio Vargas lançou o programa “Marcha para o Oeste”, justamente para povoar o Centro-Oeste. Neste processo, inicialmente a

2

Os primeiros bovinos a passarem pela região, foram tocados a pé em 1554, saindo de São Vicente e indo para Assunção no Paraguai (Corrêa Filho, 1926), e o primeiro registro oficial da atividade criatória no pantanal ocorreu em 1737. Em 1775, com a instalação do Forte Coimbra, próximo à Corumbá a atividade ganhou impulsou, mas foi abandonada com a eclosão da Guerra do Paraguai.

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pecuária de corte extensiva se apresentava como a única atividade econômica para a região (GARFIELD, 2000).

Outras culturas não ocupavam a região porque o Cerrado brasileiro, bioma predominante no Centro-Oeste, possuía solos pobres, deficientes em fósforo e com altos teores de alumínio, elemento que causa toxicidade nas plantas. Mesmo a pecuária possuía produtividade muito reduzida, com taxa média de lotação de 0,3 UA/hectare e idade de abate entre 48 e 50 meses (EUCLIDES FILHO, 2008)

Esse cenário começou a sofrer alteração. Na década de 50 houve a primeira tentativa da introdução de Brachiaria como forragem para nutrição animal, porém, sem sucesso. Já em 60, a cultivar australiana Basilisk de B. decumbens, conhecida popularmente como “capim-braquiária” demonstrou excelente adaptação aos solos pobres do Cerrado, revolucionando a pecuária nacional. O capim Brachiaria brizantha cv Marandu, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1984, é atualmente o mais utilizado no Brasil, conhecido popularmente como “capim-brachiarão” (KARIA et al, 2006).

Assim como a pecuária aumentou sua produtividade e produção, as iniciativas da Embrapa e da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), juntamente com os programas de desenvolvimento regional, impulsionaram o processo de utilização do solo do Cerrado, também pela agricultura, com destaque para a soja (BARROS, 2014).

Conforme a concorrência por área produtiva se acentuou o Estado brasileiro enfatizou a importância do desenvolvimento da região da Amazônia, dando início aos programas de incentivo à colonização e à construção de rodovias na região, dentro dos chamados Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND I, II e III), e a expansão da pecuária também caminhou para essa região.

Com objetivo de contribuir para a transformação de grandes áreas de mata em áreas cultiváveis e também confiantes nas promessas dos líderes políticos, brasileiros dos estados de São Paulo e Paraná, e mais tarde do Rio Grande do Sul, mudaram-se para as regiões de fronteira3. Os incentivos governamentais para ocupação de novas áreas contribuíram para que, entre 1950 a 1975, o aumento da produção de carne bovina no país tenha sido 86% resultante

3 Em 2012, no levantamento realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da ESALQ – USP) no estado do Pará, 90% dos pecuaristas que participaram da reunião eram gaúchos, paranaenses ou paulistas que se mudaram para a região na década de 70 e 80.

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da abertura de novas áreas e apenas 14% dos ganhos de produtividade (MARTHA JR. ET AL., 2012)

Assim, ainda que de forma extensiva e rudimentar, a pecuária tornou-se um importante fator de ocupação e integração do território (FURTADO,1964), sendo que esse processo conhecido também como “a colonização pela pata do boi” (SANTIAGO, 1972). Extremamente ligada ao passado, em “seu passo lerdo”, as boiadas alcançaram os pontos mais distantes que separam o Brasil, podendo ser considerada a atividade mais importante na função de ocupação do território, ainda que pouco abordada na histografia (PRADO JR, 1945).

2.2. Três modelos de utilização da terra

Ainda que a abertura e ocupação de novas áreas tenha sido importante para estabelecer e proteger o que é hoje o território nacional, houve e ainda existem muitos impactos sociais e ambientais relacionados a esse processo e à introdução de bovinos em área de fronteiras. É importante ressaltar que, em primeira instância, a abertura de novas áreas são resultados de aspectos institucionais da governança de terras no Brasil, explicado brevemente nos próximos parágrafos.

Historicamente, no território brasileiro a ocupação do espaço rural se deu por duas vias principais, uma “legal”, perante a legislação em vigor, a concessão de sesmarias pela coroa portuguesa, e outra “de fato” amplamente utilizada e irregular, a posse (GUEDES & REYDON, 2012). As sesmarias conferiam aos requerentes o direito de uso da terra mediante sua efetiva ocupação e utilização produtiva. A posse, por sua vez configurava-se como mecanismo descontrolado e conveniente aos grandes proprietários e posseiros, que abriam as terras na medida em que se esgotava a fertilidade dos solos previamente ocupados (SILVA, 1996).

A Lei de Terras de 1850 foi elaborada na tentativa de pôr fim à falta de administração fundiária, mas não atingiu seu objetivo, pois o governo não foi capaz de exigir que cada sesmeiro realizasse a demarcação de suas terras, oferecendo oportunidade clara para o aumento da posse e para regularização dos posseiros (SILVA, 1996; SILVA 1997). Mesmo após a proclamação da República, ao Código Civil de 1916, e à Constituição de 1988, os problemas de governança fundiária não foram resolvidos. Tanto que, novamente em 1999, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), exigiu que proprietários de imóveis com mais de 10 mil hectares apresentassem documentação comprobatório dos seus

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imóveis, o que resultou em comprovação de pouco mais da metade (Di Sabbato (2001) appud Reydon, 2014).

Reydon (2014) ressalta que há três maneiras pelas quais a terra pode ser utilizada. A primeira é a produtiva, onde a rentabilidade principal é resultante da produção agrícola. A segunda é especulativa, onde há compra, manutenção, transformação e posterior revenda da terra. E a terceira maneira, por fim, é a predatória.

Em relação às duas últimas maneiras apontadas por Reydon (2014), a produção de bovinos é uma das principais atividades que permitem o uso especulativo e predatório da terra. Isso ocorre, pois a bovinocultura de corte tem fácil adaptação em áreas recém-abertas, já que exige baixos níveis de capital, pouco preparo para o solo e apresenta poucas restrições associadas a relevo (RIVERO et al, 2009).

Reydon (2014) destaca que há muitos proprietários de terras, principalmente pecuaristas, cujas atividades produtivas geram retornos não muito expressivos, mas eles mantêm-se na agropecuária, pois sabem que suas propriedades se valorizarão mais do que qualquer outra aplicação econômica. Por outro lado, Buainain et al., (2014) ressaltam que há um novo padrão de acumulação na agricultura brasileira, onde cada vez menos o papel da terra é relevante.

Santos et al., (2014) analisaram a rentabilidade anual de 193 propriedades representativas4 em 13 estados brasileiros e verificaram que em mais de 40% das propriedades as receitas não são suficientes para cobrir os desembolsos e as depreciações, e, em mais de 90% as receitas não remuneram o custo de oportunidade do capital investido. Porém, os autores concluíram que não é apenas a valorização da terra que motiva esses produtores, mas também o baixo risco da atividade e motivações pessoais, como histórico familiar. Além disso, verificaram que o aparato institucional brasileiro contribui para uma atividade de baixa produtividade, como se explica a seguir.

2.3. Desenvolvimento econômico, instituições e direito de propriedade

Existe uma discussão importante sobre o que permeia e diferencia o crescimento e o desenvolvimento econômico. O primeiro representa o crescimento do PIB, que além de não refletir as reduções das desigualdades sociais, captura apenas os bens comercializados. Já o desenvolvimento econômico é um conceito muito mais abrangente, onde “a melhoria na qualidade de vida deve claramente ser o elemento essencial (...) de todo exercício econômico” (SEN, 1988, p. 11).

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Políticas públicas efetivas que possam alcançar o desenvolvimento econômico dependem de intervenções corretas e para tanto se torna necessário desprender-se do paradigma neoclássico de que, no longo prazo, o equilíbrio e o desenvolvimento serão atingidos. No mundo real, há assimetrias de informação, os agentes não são substantivamente racionais e tampouco maximizadores de lucro. (LAVOIE, 2006).

Consequentemente, o mercado não é apenas um ponto de equilíbrio entre preço e quantidade ou oferta e procura, mas sim o resultado de construções sociais que refletem o ambiente institucional em que se inserem. É uma realidade muito mais complexa onde, as instituições têm um papel fundamental (COASE, 1937). O papel das instituições é a base do referencial teórico da Nova Economia Institucional (NEI):

“As instituições são as restrições impostas pelos humanos nas suas interações. Consistem em regras formais (constituições, leis, estatutos, regulamentos e direitos comuns) e informais (convenções, normas, e códigos de conduta). As instituições definem, (...), as combinações de risco e recompensa que podem ser construídos com os recursos disponíveis em uma economia.” (NORTH, 1995, p. 15)

Assim, as instituições formam a estrutura na qual as economias, sociedades e políticas estão inseridas (NORTH, 2000). Enquanto as instituições são as regras, as organizações são os jogadores e a interação entre elas geram as mudanças institucionais. Outro destaque é que, as escolhas individuais dependem de fatores culturais e cotidianos, o que significa que, indivíduos com históricos diferentes interpretarão de forma distinta a mesma situação. Os resultados não são, portanto, escolhas racionais e perfeitas, mas se dão também pela tentativa e erro (NORTH, 1995).

A sociologia econômica agrega conceitos importantes à economia das instituições. A interação entre direitos de propriedade, estrutura de governança, regras de troca e concepção de controle estabelecem os contornos daquilo que denominamos o mercado. Um ponto fundamental destacado por essa corrente é que “Leis e práticas aceitas frequentemente refletem os interesses das forças mais organizadas da sociedade” (FLIGSTEIN, 1996, p. 662). Nesse sentido, com base nos dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), Graziano da Silva (2010) aponta que a bancada ruralista em 2006 foi a mais organizada e com maior representatividade no Congresso Nacional.

Assim, o desenvolvimento não reside em dons naturais, na acumulação de riqueza, ou tampouco nas capacidades humanas, mas sim nas instituições, nas ações coordenadas dos

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indivíduos e dos grupos sociais mais organizados (ABRAMOVAY, 2007). Como apresentado no item 2.1, por muitas décadas a produção pela abertura de novas áreas e com baixa produtividade foi fomentada pelo aparato institucional brasileiro.

No entanto, o modelo institucional tem passado por um processo de intensa mudança, afetando expressivamente a produção rural no Brasil, sendo que a política de estabilização a partir de 1994 pode ser considerada um dos impactos mais relevantes. Enquanto o consumidor se beneficiou com a redução dos preços dos alimentos, produtores rurais viram sua rentabilidade cair dramaticamente (BELIK, 2001). Silva e Batalha (2000) ressaltam que, no caso da bovinocultura de corte, essas mudanças exigiram adaptação dos produtores, já que o boi deixou de ser reserva de valor.

Outros temas afetados pelas mudanças econômicas foram os relativos às políticas de segurança alimentar e de preços mínimos, reforma agrária e direitos de propriedade de terra. Para Azevedo (2000), o direito de propriedade da terra é o mais relevante na decisão dos investimentos agropecuários.

Reydon (2014) afirma que os direitos de propriedade são mantidos, mas garantem apenas a propriedade da terra e não a regulação do seu uso, como formalmente indica a legislação. É, portanto, de se questionar se em determinas propriedades de bovinos de corte a função social da terra é cumprida:

“A função social é cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores” (Artigo 186 da Constituição Brasileira).

O item II do § 2º do Art. 6º da Lei 8.629/1993 estabelece que o aproveitamento racional e adequado para a propriedade onde ocorre a atividade pecuária bovina deve atender um índice mínimo de animais por hectare de pastagem, medido em Unidade Animal, isto é, 450 kg de peso vivo, definido pelo Poder Executivo e específico para cada Microrregião Homogênea.

Se o pecuarista alcança o índice de lotação definido, todas as áreas de pastagens nativas e plantadas são consideradas efetivamente utilizadas (Item II, § 3º do mesmo Artigo)

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e, portanto, a propriedade é produtiva. No entanto, para alcançar o índice de lotação estabelecido, na maior parte das microrregiões a necessidade de investimento é mínima e as pastagens apresentam capacidade de suporte muito baixa, como será detalhado no Capítulo 3.

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3. CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO 3.1. Produção total e relevância econômica

Como mencionado no capítulo introdutório, a produção de carne bovina tem grande importância para a economia nacional. Em 2014, o Agronegócio respondeu por 22,5% do PIB do Brasil. A cadeia produtiva da carne, por sua vez, respondeu por 2,9% do PIB nacional e 12,76% do PIB do Agronegócio brasileiro. Do produto da cadeia, 44% foi resultado da produção primária, seguida pela indústria, pelos serviços e pelos insumos, com 27%, 26% e 3% de participação, respectivamente (CEPEA, 2015).

Além da relevância econômica, a pecuária bovina é a atividade mais difundida no meio rural. De acordo com o Censo Agropecuário, em 2006, últimos dados disponíveis, o Brasil contava com 5,17 milhões estabelecimentos agropecuários. Desses, 67,6% possuíam em sua área agricultável pastagens naturais ou plantadas. Se considerado as áreas plantadas com forrageiras e os sistemas agroflorestais, com espécies também para pastoreio, o percentual de estabelecimentos com ruminantes cresce para 83,5%. Os dados de rebanho indicam que a maior parte dos ruminantes são bovinos (IBGE, 2006) e em regiões como o Nordeste, a produção de caprinos ocorre em consórcio com a de bovinos (CEPEA, 2014)

Se a análise for em relação à área ocupada pela agricultura e pecuária, o Brasil possui 333,7 milhões de hectares, dos quais 160 milhões são de pastagens, ou seja, 48%. Há também mais 12,5 milhões de áreas com forrageiras ou sistemas agroflorestais também para pastoreio que somados às áreas de pastagem totalizam 51,7% da área total dos estabelecimentos agropecuários (IBGE, 2006). As condições das pastagens serão analisadas posteriormente, mas cabe ressaltar que entre 50% a 70% dos pastos do Brasil apresentam algum grau de degradação (DIAS-FILHO, 2011).

Desde 1991 o rebanho de bovinos no Brasil é superior à população brasileira e, em 2014, o rebanho atingiu 212,3 milhões de cabeças. No mesmo período, foram abatidas, 33,9 milhões de cabeças, com peso total de carcaça de 8,06 milhões de toneladas, o que equivale a um peso médio de 237,8 por carcaça (IBGE, 2015b; IBGE, 2015c). Naquele ano, 81% da produção teve como destino o mercado nacional. No comparativo mundial, o povo brasileiro apresenta o terceiro maior consumo de carne bovina, 27 kg per capita, atrás apenas dos argentinos e uruguaios (OCDE, 2014), este valor diverge de acordo com as instituições. A Abiec estima que cada brasileiro consome 39 kg de carne bovina por ano.

Assim, com apenas 19% da produção destinada para exportação, desde 2004 o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores exportadores de carne bovina, atendendo a

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14

demanda de 201 diferentes países. Em 2014, foram exportadas 1,54 milhões de toneladas de carne, gerando divisas no valor de 7,22 bilhões de dólares (MDIC/Secex, 2015).

Além dos dados apresentados anteriormente, pela análise da Matriz-Insumo-Produto, verifica-se que a produção primaria gera 360 mil empregos formais. A Abiec (2015) estima que considerando todas as etapas produtivas e também os postos de trabalho informais, são gerados 7,5 milhões de empregos. A Figura 1 ilustra os principais indicadores apresentados anteriormente, assim como outros detalhes.

Figura 1: Números chaves da bovinocultura de corte em 2014

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Cepea (2014), Dias-Filho (2011), IBGE

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3.2. Produção e heterogeneidade regional

O Brasil é um país continental e, por isso, não apenas na bovinocultura, mas em toda a produção agrícola, há grandes diferenças nas características produtivas e também nos produtos ofertados, resultado das condições edafoclimáticas. Além disso, os fatores institucionais também determinam os modelos produtivos regionais. Navarro (2001) aponta que no período recente a diferenciação foi exacerbada, resultado da forte intensificação econômica e do dinamismo tecnológico, principalmente no Centro-Oeste brasileiro. Em oposição, outras regiões, como o Nordeste, conservam relações sociais do passado, mantendo assim relativo atraso.

Até 1980, a maior parte dos bovinos era criado nas mesorregiões Sul e Sudeste. Desde então, a importância destas regiões tem caído, ainda que em valores absolutos o rebanho tenha aumentado. Como apresentando na contextualização histórica, os incentivos governamentais, assim como o desenvolvimento de novas tecnologias, resultaram em aumento expressivo da produção no Centro-Oeste e no Norte do Brasil, como pode ser ilustrado pela Figura 2.

Figura 2: Evolução do rebanho bovino no Brasil e nas grandes regiões, em milhões de

cabeças, 1974 a 2014

Fonte: PPM-IBGE, 2015

É no Centro-Oeste onde, atualmente, concentra-se a maior parte do rebanho e do abate de bovinos nacional. Além da bovinocultura de corte, a região aumentou expressivamente a sua produção nas últimas décadas de tal modo que, mesmo com os graves problemas de

0 50 100 150 200 250 0 10 20 30 40 50 60 70 80 19 74 19 76 19 78 19 80 19 82 19 84 19 86 19 88 19 90 19 92 19 94 19 96 19 98 20 00 20 02 20 04 20 06 20 08 20 10 20 12 20 14 M ilh õ e s d e c ab e ça s - B ra si l M ilh õ e s d e c ab e ça s - Reg e s

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16

infraestrutura da região, entre 1970 e 2009, a participação da região no PIB agropecuário nacional aumentou de 7,4% para 19,5% (Castro, 2014).

Dados agregados pela FIESP (2014) indicam que, além da pecuária bovina, a região é a maior produtora de algodão, 66% do total, de milho, 44%, e de soja em grãos, com 49% da produção total. E, para a próxima década, a instituição aponta que mesmo nas cadeias onde O Centro-Oeste não é a maior produtora as variações da produção regional serão relevantes. Por exemplo, no caso da produção de frangos de corte a perspectiva é de alta de 72% na produção total.

O Centro-Oeste apresenta uma característica marcante, principalmente se comparado às regiões sul e sudeste, em relação às escalas de produção. Como apresentado na Figura 3, os estabelecimentos rurais com mais de 1000 hectares ocupam quase 80% da área rural total em MT e em MS, e quase 50% em GO. É também nesses estados onde, em número de estabelecimentos, os de maior área também tem maior participação (IBGE, 2006).

Figura 3: Estabelecimentos rurais com área maior que 1000 hectares ocupando a área

agrícola total (%) e em relação ao número total de propriedades (%), por UF, em 2006.

Fonte: IBGE, 2006.

Os valores absolutos e relativos do rebanho efetivo, assim como outras informações, para 2014 são apresentados na Tabela 1. É no Centro-Oeste onde ocorre a maior concentração de rebanho, 33,5% do total e de número de animais abatidos, 37,5% do total, o que também demonstra que a taxa de abate nessa região é superior às das regiões Norte, Nordeste e Sul.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF Participação na área agrícola total da UF Participação no número total de estabelecimentos rurais

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Tabela 1: Rebanho efetivo, abate total e abate sob inspeção federal, por mesorregião e estado

– número de cabeças e percentual - 2014

Mesorregião/UF Rebanho efetivo (cabeças) Rebanho efetivo (%) Abate Total (cabeças) Abate Total (%) Abate SIF (% do abate total) Norte 45.826.142 21,6% 6.520.316 19,2% 75,2% Rondônia 12.744.326 6,0% 2.004.591 5,9% 97,4% Acre 2.799.673 1,3% 441.728 1,3% 0,0% Amazonas 1.405.208 0,7% 242.746 0,7% 0,0% Roraima 735.962 0,3% 52.755 0,2% 0,0% Pará 19.911.217 9,4% 2.624.231 7,7% 71,9% Amapá 167.529 0,1% - 0,0% 0,0% Tocantins 8.062.227 3,8% 1.154.265 3,4% 92,1% Nordeste 29.350.651 13,8% 3.422.232 10,1% 25,3% Maranhão 7.758.352 3,7% 833.514 2,5% 42,9% Piauí 1.660.099 0,8% 152.644 0,5% 0,0% Ceará 2.597.139 1,2% 255.733 0,8% 0,0%

Rio Grande do Norte 972.816 0,5% 110.554 0,3% 0,0%

Paraíba 1.145.943 0,5% 78.098 0,2% 0,0% Pernambuco 1.920.075 0,9% 324.485 1,0% 0,0% Alagoas 1.253.121 0,6% 192.613 0,6% 0,0% Sergipe 1.218.972 0,6% 101.896 0,3% 0,0% Bahia 10.824.134 5,1% 1.372.695 4,0% 37,1% Sudeste 38.508.537 18,1% 7.330.782 21,6% 80,1% Minas Gerais 23.707.042 11,2% 3.240.379 9,6% 80,7% Espírito Santo 2.295.624 1,1% 378.432 1,1% 61,5% Rio de Janeiro 2.379.648 1,1% 187.997 0,6% 0,0% São Paulo 10.126.223 4,8% 3.523.974 10,4% 85,8% Sul 27.424.461 12,9% 3.768.879 11,1% 48,9% Paraná 9.181.577 4,3% 1.450.453 4,3% 69,8% Santa Catarina 4.285.931 2,0% 432.871 1,3% 23,8%

Rio Grande do Sul 13.956.953 6,6% 1.885.555 5,6% 38,6%

Centro-Oeste 71.234.141 33,5% 12.715.172 37,5% 92,1%

Mato Grosso do Sul 21.003.830 9,9% 3.931.653 11,6% 96,0% Mato Grosso 28.592.183 13,5% 5.352.226 15,8% 92,9%

Goiás 21.538.072 10,1% 3.409.851 10,1% 86,8%

Distrito Federal 100.056 0,0% 21.442 0,1% 0,0%

Brasil 212.343.932 100,0% 33.904.793 100,0% 75,8%

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Outro indicador presente na tabela é a distribuição do abate entre os sistemas de inspeção. Para realizar o abate de bovinos, os frigoríficos passam por um processo de inspeção, o qual pode ser realizado em três níveis: Serviço de Inspeção Municipal (SIM), Serviço de Inspeção Estadual (SIE) e Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Há muita discussão entre os agentes do setor sobre o SIM e o SIE, já que muitas vezes estabelecimentos sob esses níveis de inspeção são autuados e até mesmo fechados por não estarem de acordo com as normas sanitárias. O fato é que apenas frigoríficos sob SIF são autorizados a exportar carne bovina (Ministério da Agricultura, 2015).

No Brasil, 75,8% do abate é fiscalizado pelo SIF, porém esse percentual varia expressivamente de acordo com cada mesorregião e estado. Enquanto no Nordeste, apenas 25,3% dos animais são abatidos sob as normas do SIF, no Centro-Oeste essa fiscalização abrange 92,1% do total abatido, o maior percentual entre todas as mesorregiões. Destaca-se que, nessa região, é em Mato Grosso do Sul o maior abate sifado, 95,3% do total (IBGE, 2015c).

Uma das explicações para a concentração regional dos frigoríficos sob o SIF reside no histórico e especialização da produção. No Nordeste, com exceção de parte da produção da Bahia e do Maranhão, os bovinos são criados para abastecer a população local, sendo que aproximadamente 75% do abate é realizado sob inspeção municipal e estadual. Já no Centro-Oeste, onde a produção destina-se para exportação ou então para regiões como São Paulo, a inspeção ocorre, majoritariamente, sob o SIF (DE ZEN, et al., 2013)

De acordo com De Zen et al (2013), em estudo realizado para o ano de 2012, o abate não fiscalizado no Centro-Oeste foi estimado em 5,7% do total abatido no período. Para o Nordeste, os autores estimaram abate não fiscalizado de no mínimo 10,4%, valor que só não foi superior, pois muitos estados não possuíam informações sobre a cadeia que permitisse a estimação. Os autores ressaltam que abate não fiscalizado é aquele onde não há inspeção municipal, estadual ou federal, sendo que abates realizados em propriedades rurais que não têm objetivo comercial são considerados como autoconsumo.

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Os dados apresentados anteriormente são bons indicativos para, ainda que pontualmente, demonstrar a heterogeneidade da produção de carne bovina no Brasil e a importância da região Centro-Oeste em volume da produção, principalmente voltada para o mercado internacional.

Os três estados que fazem parte do Centro-Oeste, além do Distrito Federal, apresentam grandes diferenças entre si e qualquer generalização pode ser presunçosa. Porém, o Mato Grosso do Sul será o objeto de estudo desse trabalho, já que, primeiramente é o único estado onde o Cepea possui levantamento de dados em todas as microrregiões. Além disso, a bovinocultura de corte é a atividade com maior peso no PIB do agronegócio estadual, e as características produtivas são bem diferentes entre as regiões, resultado também das condições edafoclimáticas.

3.2.1. Mato Grosso do Sul

De acordo com o IBGE (1990), o Mato Grosso do Sul é dividido em quatro mesorregiões, das quais fazem parte onze microrregiões. Da mesorregião dos Pantanais de Mato Grosso do Sul fazem parte as microrregiões de Baixo Pantanal e Aquidauana, do Centro-Norte de Mato Grosso do Sul fazem parte as microrregiões de Alto Taquari e Campo Grande. Do Leste de Mato Grosso do Sul, as regiões de Cassilândia, Paranaíba, Três Lagoas e Nova Andradina. E, por fim, da mesorregião Sudoeste de Mato Grosso do Sul as microrregiões de Bodoquena, Dourados e Iguatemi. A Figura 4 ilustra essa divisão regional.

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Figura 4: O estado de Mato Grosso do Sul e as microrregiões Fonte: Base cartográfica – IBGE, 2015.

De acordo com o IBGE (2004), há seis grandes biomas no território brasileiro: Cerrado, Caatinga, Pantanal, Amazônia, Pampa e Mata Atlântica. Metade desses biomas, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, constituem o MS, como ilustrado na Figura 5. A presença de três biomas diferentes faz com que a biodiversidade seja muito rica e a produção rural apresente características heterogêneas.

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Figura 5: Biomas do Brasil Fonte: Ibama, 2015

Os dados edafológicos apresentam estrita relação com a distribuição dos biomas e da vegetação. Como apresentado na Figura 6, na divisa com São Paulo e Paraná os solos sul mato-grossenses têm aptidão regular para a agricultura, necessitando de controle para alumínio. Nessa região há algumas manchas onde o solo é classificado como o melhor para a produção rural, a “terra roxa”. É a região onde o bioma predominante é a Mata Atlântica e também onde, dado a localização geográfica, o preço do hectare é um dos mais elevados e onde, nos últimos anos, as pastagens têm cedido espaço para a agricultura (IBGE, 2006).

Já ao norte do estado, onde metade é bioma pantanal e metade cerrado, o solo possui o melhor potencial agrícola da classificação do IBGE. A agricultura avança nessa região, mas a pecuária de corte ainda é muito tradicional.

Na região do baixo pantanal, onde em parte do ano os solos ficam alagados, o potencial produtivo é restrito e até mesmo desfavorável devido ao alagamento. Com isso, com exceção da produção de arroz em determinados locais, a produção de bezerros é a atividade predominante no meio rural.

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Figura 6: Potencialidade Agrícola dos Solos Fonte: IBGE, 2015a

Além de ser um estado com expressiva diversidade edafoclimáticas, atualmente, o Mato Grosso do Sul é referência na produção de bovinos de corte. O estado detém 10% de todo o rebanho bovino brasileiro, isto é, 21 milhões de cabeças, sendo que destas, aproximadamente 25% são produzidas no bioma Pantanal. Destaca-se que o município de

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Corumbá possui o segundo maior rebanho de bovinos do Brasil, com efetivo de 1,7 milhões de reses, perfazendo 0,83% de todo o rebanho nacional (IBGE, 2015b).

Em 2014, 44,61% do PIB do agronegócio de MS foi gerado pela produção de bovinos, lembrando que no Brasil, esse montante é inferior, 12,8%. A segunda atividade de maior relevância para o PIB do agronegócio estadual foi a produção de milho, com 13,46% seguida pela de cana de açúcar com 12,3% (FAMASUL, 2014).

A produção de bovinos em MS é importante também para os estados vizinhos. As Guias de Trânsito Animal (GTA) indicam que em 2014, o MS enviou 412,2 mil animais para outros estados, 90% desse montante destinou-se à São Paulo. Sendo desde animais jovens, de até 12 meses para reposição, até mesmo animais de 24 a 36 meses para terminação e abate.

Além dos fatores apresentados, este estudo, entre outros objetivos, também busca verificar a relevância da valorização da terra na decisão de investimento do pecuarista. A região é de análise relevante, pois, ao contrário de Mato Grosso ou o Pará, por exemplo, a ocupação das áreas de fronteira do estado com a Bolívia e o Paraguai data de século atrás.

Os primeiros bovinos a passarem pela região pantaneira, foram tocados a pé em 1554, saindo de São Vicente e indo para Assunção no Paraguai, sendo que o primeiro registro oficial da atividade foi em 1737. A partir de 1880, o zebu começou a ser introduzido na região. Também neste período, em todo o estado, mas principalmente no Pantanal, as indústrias de charque e de couro começaram a florescer, atingindo seu auge no início do século XX. Foi com o desenvolvimento da atividade que a região passou a integrar-se à economia nacional (CORRÊA FILHO, 1926; BARBOSA RODRIGUES, 1985; ESSELIN, 2011).

Por fim, em MS as instituições envolvidas com a agropecuária têm desenvolvido um trabalho relevante, com destaque para a Famasul. Um dos resultados desse trabalho é que, o levantamento de dados realizado pelo Cepea em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com as federações é em MS o único estado onde todas as microrregiões têm levantamento de dados. Por esse e pelos motivos anteriormente apresentados, busca-se pelo estado de MS evidências sobre as transformações da bovinocultura de corte no Brasil.

3.3. Etapas da produção primária

Em todas as regiões, a produção de carne bovina é construída em diferentes etapas, com grande complexidade e flexibilidade na combinação dos fatores de produção (BARCELLOS et al, 2004). No desenvolvimento da atividade, o sistema de produção é

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entendido como o conjunto de tecnologias e práticas de manejo, como o tipo de animal, o propósito da criação, a raça e o bioma. Aspectos sociais, econômicos e culturais também influenciam decisivamente no processo produtivo (EUCLIDES FILHO, 2000). Considerando principalmente as tecnologias empregadas – manejo de pasto, seleção genética e nutrição, os sistemas podem ser classificados em três categorias (CEZAR et al, 2005):

- Sistema extensivo: quando o regime alimentar é exclusivamente pastagem;

- Sistema semi-extensivo: quando o regime alimentar é uma combinação de pastagem com suplementação a pasto;

- Sistema intensivo: quando além da pastagem e da suplementação, o regime alimentar inclui também terminação dos animais em confinamento.

Nos últimos anos, o aumento da eficiência produtiva tem alterado os sistemas produtivos. Por exemplo, a alimentação exclusivamente por pastagem forrageira tem adotado tecnologias como a adubação e rotação das pastagens, que permitem que a lotação animal por área produtiva e o ganho de peso sejam próximos à de um sistema semi-extensivo (BARCELLOS et al, 2004).

Dada a grande heterogeneidade das tecnologias empregadas, os sistemas produtivos podem ser classificados de acordo com a fase da produção predominante. Essas são definidas por Cezar et al (2005) como:

- Cria: é fase da produção onde os machos são vendidos imediatamente após a desmama, podendo ter entre 7 a 12 meses, dependendo dos preços do mercado da reposição e também do manejo utilizado em cada propriedade. Além dos machos, há a comercialização de outros animais, bezerras e novilhas5 jovens são vendidas para outras propriedades para tornarem-se animais de reposição, enquanto novilhas de dois a três anos, vacas e touros são destinados ao abate. Estas duas últimas categorias de animais podem ser chamadas também de animais de descarte.

- Cria-Recria: A diferença com a fase anterior é que os machos são retidos na propriedade por um período maior, chegando à idade de 15 a 18 meses.

- Cria-Recria-Engorda ou Ciclo Completo: Todas as etapas de crescimento do animal são realizadas na mesma propriedade. Isto é, os animais são vendidos quando atingem o peso para abate, em média 17 a 18 arrobas6 para os machos, o que equivale a um animal de 500 a

5 São consideradas novilhas as fêmeas sexualmente maduras, mas que ainda não tiveram o primeiro parto. 6 Arroba é uma medida de massa que equivale a, aproximadamente, 15 quilos.

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550 quilos de peso vivo7, aproximadamente. A idade pode variar dependendo do manejo de cada propriedade, sendo a média de 36 meses, valor que tem sido reduzido ano após ano. Fêmeas podem ser vendidas para reposição em outras propriedades ou para abate. Vacas de idade avançada e touros são vendidos para descarte.

- Recria-Engorda: tem início com o bezerro desmamado ou garrote e termina com o boi gordo. Embora essa atividade tenha predominância de machos, verifica-se também a utilização de fêmeas.

• Engorda (terminação): É a fase onde há a compra de boi magro, animais de 24 a 36 meses, que ficam na propriedade até atingir o peso de abate.

A Figura 7 apresenta os sistemas produtivos descritos anteriormente.

Figura 7: Etapas da produção da bovinocultura de corte Fonte: Elaboração própria

7

O peso em arrobas refere-se ao peso da carcaça do animal, isto é a quantidade de carne e osso. Já o peso vivo refere-se à quantidade de carne, osso, couro, sebo, sangue e outros miúdos. Assim, o rendimento da carcaça é a relação entre o peso da carcaça e do animal vivo. No Brasil, a média de rendimento da carcaça é de 51%, de acordo com as propriedades modais do banco de dados do Cepea.

CRIA

Parto

Desmama Prenhes

Acasalamento

RECRIA

ENGORDA

Descarte

Ganho de peso Ganho de peso

Não Prenhes Touros

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3.4. Pastagens e produtividade

Como apresentando anteriormente, as pastagens são um dos fatores produtivos mais importantes na bovinocultura de corte do Brasil. Considerando abates fiscalizados e não fiscalizados, 90% dos animais abatidos são criados e terminados a pasto (DE ZEN, et al., 2013). Além disso, é a abundância de pasto que faz do Brasil um dos países com menor custo de produção de carne bovina no mundo. Em 2012, o custo para se produzir 100 kg de carcaça na China foi quase três vezes superior ao do Brasil. Na Europa, duas vezes maior e, nos Estados Unidos, uma vez e meia (DE ZEN & SANTOS, 2013).

Porém, mesmo sendo extremamente importantes para a produção, entre 50% a 70% das pastagens brasileiras apresentam algum grau de degradação (DIAS-FILHO, 2011). Em 2006 o número de bovinos por hectare foi de 1,2, considerando animais de diferentes pesos e idades ou aproximadamente uma Unidade Animal (450 kg de peso vivo) por hectare (DIAS-FILHO, 2014). Dependendo do manejo adotado para as pastagens e do tipo de adubação é possível chegar em lotação de cinco a oito U.A. por hectare no período das águas. Ainda que esse valor reduza no período das secas, com um mínimo de manejo, pode ser facilmente superior a um (CORREA & SANTOS, 2003).

Ainda que baixos, esses resultados são melhores dos que os observados em décadas anteriores. Martha Jr. et al., (2012) demonstram que, com mais intensidade a partir de 1985, são os ganhos de produtividade, e não a expansão da área produtiva, que explicam o aumento da produção da bovinocultura de corte no Brasil, como ilustrado na Figura 8.

Figura 8: Fatores que explicaram o aumento da produção de bovinos de corte no Brasil –

1950 a 2006

Fonte: Martha Jr. Et al., (2012), com base nos dados do IBGE.

85,80% 33,90% 40,90% -1,30% -20,60% 14% 65,40% 58,80% 101,40% 122,00% -40% -20% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% 1950-1975 1975-1980 1980-1985 1985-1996 1996-2006

Referências

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