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Política pública de segurança ou insegurança? uma reflexão sobre as UPPs do estado do Rio de Janeiro

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Academic year: 2021

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

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Política Pública de segurança ou insegurança?

Uma reflexão sobre as UPPs do estado do Rio de Janeiro

Genciara Maria Dias Marinho – genciara@yahoo.com.br Katia Maninho Nosrala – katianosrala@hotmail.com Marcilene de Medeiros – md.medeiros2010@gmail.com

1 Introdução

O presente trabalho visa discutir o processo de implementação dos programas de políticas públicas Brasileiras a exemplo da atual política de segurança pública através das Unidades de Polícia Pacificadora – UPP. Elaborada a partir da premissa da necessidade de diminuição dos índices de violência em comunidades dominadas pelo tráfico.

A História do Brasil nos mostra que a construção de um país cidadão é um processo longo. Fomos Colônia e Império à custa da exploração de mão-de-obra escrava, e mesmo os trabalhadores livres e pobres não possuíam cidadania plena, uma vez que o voto era censitário e para poder exercê-lo era obrigatório provar a posse de uma determinada quantidade de bens ( FAUSTO,2012).

Mesmo com o advento dos ares republicanos, essa realidade pouco se modificou, e muitos direitos adquiridos foram sonegados ao longo do século XX. Com tal herança, a lógica dominante, apregoada pelos meios de comunicação, e aceita com facilidade, é a de levar vantagem em tudo. Assim, temos uma cultura individualista, corporativa e corrupta, o que dificulta a construção de um Estado democrático.

Resumo

Partindo de ações governamentais que interferem na vida das populações marginalizadas, este artigo trata sobre políticas públicas de segurança, em particular o caso das UPPs no estado do Rio de Janeiro e que sensação tal ação desperta na sociedade. Assim tem como objetivo refletir sobre o processo de implementação dos programas de políticas públicas Brasileiras, a exemplo as Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs e trazer uma reflexão sobre sua atuação. Para isso, o trabalho valeu-se de uma discussão sobre o Estado liberal e seus efeitos e as relações de poder e como estas são exercidas pela polícia. Como resultado de pesquisas bibliográficas, documentais e notícias, observa-se que a construção de Políticas Públicas, deve ser democrática, ou seja, não deve ser para a Sociedade, mas com a Sociedade Civil Organizada.

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2 Um Estado precisa estabelecer seus objetivos, desenvolver procedimentos, e normatizar determinados assuntos, ou seja, precisa construir políticas. Se esse mesmo Estado é democrático, além de construir políticas em conjunto com os movimentos sociais vivos do país, dará prioridade às políticas públicas, até mesmo por uma questão de coerência.

Aspectos como educação, saúde, moradia e segurança, por exemplo, devem ser preocupações constantes do poder público e tais compromissos deveriam estar voltados prioritariamente para os grupos que se encontram mais expostos a situações de degradação pessoal. São as situações de risco social.

No Brasil, dentre a população que se encontra mais distante dos ideais de vida cidadã, vislumbra-se grupos diversos, dentre os quais destacamos os jovens, os idosos, os afrodescendentes, os camponeses, os homossexuais, as crianças, os desempregados, os sem-terra, os sem-teto e as mulheres.

Partindo da preocupação com a efetividade das políticas públicas de inclusão implementadas pelo poder público, este artigo busca fazer uma reflexão acerca das iniciativas diversas da administração pública brasileira. Para tal, procura-se resgatar um referencial que traga a reflexão sobre como o cidadão está posicionado perante a ideia de Estado Liberal e aos críticos do mesmo, trazendo uma análise e questionando: as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) trazem segurança ou inseguranças? Para responder tal pergunta serão analisados Locke e Hobbes; e as que críticas eles receberam de Marx, Foucault e Gramsci, lembrando que, como bem diz o último, muitas vezes o Poder se mantêm através da disputa de hegemonia e da construção do consenso (GRAMSCI, 1977).

O trabalho iniciará com um referencial que abordará como a sociedade está posicionada entre o liberalismo e seus críticos, e a forma que se configurou as UPPs no estado do Rio de janeiro, em seguida será feita uma análise entre esses conceitos e o que se tem de referencias desses anos sobre a política, assim como notícias colocadas na mídia sobre as leituras que os cidadãos alvo de tais políticas, no que diz respeito a sensação das pessoas, retirando assim as conclusões do grupo.

2 Referencial Teórico

2.1 ABORDAGENS SOBRE O PAPEL DO ESTADO

Dentre os Pensadores Liberais que refletiram acerca do Papel do Estado destacamos aqui Locke e Hobbes.

Chauí (2000), em sua obra Convite à Filosofia, nos remete à lógica do Estado da Natureza, que segundo Hobbes, representa um período em que os indivíduos viviam isolados e em luta permanente, vigorando a lógica que diz que “Homo Hominio Lupus, ou seja, homem é o lobo do homem” (HOBBES APUD CHAUÍ, 2000, p. 517). Nessa realidade, o mais forte sempre dominará o mais fraco, não existindo lei, direito à propriedade, nem justiça. De modo distinto, Locke (1689 APUD CHAUÍ, 2000) afirma que no Estado da Natureza não existe governo exercendo poder sobre os indivíduos, visto que não há lei escrita conhecida por todos que sirva como referencial para o que pode ou não ser justo.

Ocorre que, assim como Hobbes, Locke acaba por evidenciar as dificuldades para exercer a justiça, que são inerentes a esse Estado, e, assim, ambos acabam por propor a

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3 superação do Estado da Natureza para o Estado de Sociedade, ou Estado Civil, com a instituição de um governo e de leis. Destaca-se que, enquanto para Hobbes os indivíduos deveriam abrir mão de sua liberdade natural e da posse de bens (que poderia ser garantida no contrato social), em Locke isso não ocorre, ao contrário, ele afirma que o direito à propriedade e à liberdade, assim como o direito à vida, são inerentes ao ser humano, visto que, segundo ele, têm origem divina. De qualquer forma, tanto Hobbes quanto Locke procuravam defender o direito à propriedade, que seria resultado do trabalho, além de ambos transferirem para o aparelho do Estado o direito do uso da força e da coerção para prevenir os crimes, em especial, aqueles praticados contra a vida e contra a propriedade privada.

Ora, diante de tal quadro Chauí (2000) conclui que esse arcabouço teórico contempla os interesses da burguesia, visto que a coloca em situação de superioridade em relação à nobreza, que não conquistou riqueza às custas do próprio trabalho; e em relação aos pobres, que, são considerados perdulários, pois gastariam os salários; ou preguiçosos, não trabalhando o suficiente para conseguir uma propriedade.

Em contraponto a esse ideário liberal, temos proposições diversas, dentre as quais destacamos o pensamento de Marx e Gramsci.

O alemão Marx, em seu livro “O Manifesto Comunista” (2015), procura justamente desconstruir a lógica contratualista presente nos Pensadores Liberais. Para ele, seria preciso fazer a reconstrução histórica do Estado, visto que tal concepção não seria inerente ao ser humano, mas construída historicamente.

Nesse sentido, Marx (2015) nos lembra de que o Estado Burguês fundamenta-se nas relações de produção e na defesa intransigente do Capital em detrimento do Trabalho, vai além da crítica ao Estado Burguês ao afirmar que as classes dominantes sempre fizeram uso das estruturas de governo para proteger seus interesses, e garantir a sua perpetuação enquanto grupo opressor. Nesse sentido, Marx propõe a superação do Estado Burguês através da organização do proletariado e do fim da propriedade privada dos meios de produção, que levaria à abundância, ao fim da divisão do trabalho em material e intelectual, e à superação das dicotomias existentes entre cidade e campo.

Pode-se então perceber que a teoria marxista não encara o Estado sob a ótica de natureza e sociedade, mas sob a lógica de Sociedade Civil e Estado, afirmando, inclusive, que a luta que se trava não é a do homem contra o homem, mas de classe dominante e classe dominada, opressores e oprimidos.

Já Gramsci (1977) nos apresenta outra representação do Estado e da questão da luta de classes. Para ele, o espaço da sociedade civil é o local das relações econômicas, ideológicas, políticas e culturais. Assim, o que ocorre não é apenas a luta de classes, mas a disputa por hegemonia, e o Estado acaba por exercer o seu papel coercitivo através da criação do que chamamos de consenso, muitas vezes estabelecido através da coerção. Assim, a força do Estado é diretamente influenciada pela ação dos meios de comunicação social e por uma certa ditadura da maioria.

2.1.1 Políticas Públicas

Para se entender a ideia de políticas públicas faz-se necessário conceituarmos Política, Sociedade, Estado e Governo. A política está intimamente ligada ao poder nas relações

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4 sociais, que muitas vezes é legitimado pela coerção, constituindo-se na autoridade do poder político. A Sociedade constitui-se de indivíduos, grupos ou agregados sociais, que interferem de formas, cooperativa, competitiva ou conflitiva na disputa por interesses ou valores (Santos, 2012). O Estado é uma estrutura de poder com o objetivo de dar plena garantia da vida em sociedade. O Governo é a forma que é conduzido o Estado por aqueles grupos que são capacitados e legitimados a exercer o poder político. A origem das instituições sociais remete a disputas pelo controle de recursos sociais, importantes para a coesão e reprodução de uma dada sociedade (NORTH, 1991).

As políticas públicas são o resultado de uma caminhada histórica, da análise da necessidade de uma sociedade, resposta a carência de uma sociedade específica. As políticas públicas devem ser feitas com a sociedade civil, essa população deve ter possibilidade de auxiliar no processo decisório, para que as estratégias estejam de acordo com as necessidades da população, ou seja, democratizar as políticas públicas (SANTOS, 2012).

O ciclo das políticas públicas é uma ferramenta que possibilita a análise da produção das políticas e suas etapas, num consenso entre os autores, podemos classifica-las em: Formação da agenda de Políticas Públicas, Formulação das políticas públicas, Implementação e Controle (ou Avaliação) (SANTOS, 2012).

“A Formação da Agenda é quando os problemas são identificados, buscamos as soluções, negociamos com os atores políticos e grupos sociais, discutimos as várias interpretações. Schattschneider (1960, p. 80)”, argumenta-se que, mesmo nas democracias liberais “[...] os mais necessitados não são os que mais participam do jogo político, porque quem decide quem participará no jogo é exatamente quem decide o que é o próprio jogo.” (Dye, 1992 APUD SANTOS 2012), o poder reside tanto na capacidade de comandar uma ação, quanto de comandar a inação.

Segundo Souza (2006 p.26), “A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real”. Constitui a fase da tomada de decisão, ou seja, a escolha dentre as alternativas que devem ser avaliadas de forma objetiva, é colocadas para analise as variáveis políticas, legais e financeiras assim como os riscos.

A Implementação pode ser definida como “O que acontece entre as expectativas da política e seus resultados percebidos” (Hill e Hupe, 200 p.2). Fase em que os planos são colocados em ação. É a fase em que o poder público é acionado assim como os grupos sociais envolvidos, são comprados equipamentos, contratados serviços. Momento de muito trabalho e onde a população começa a ver um resultado.

A avaliação, no entender de Weiss (1998 p.4) é a análise dos resultados, comparados aos padrões, objetivando a melhoria dos programas e políticas, tendo como finalidade o aprimoramento das políticas e programas. Thedoulou (1995) e Menicucci (2007) ressaltam que a avaliação não precisa ser feita após à implementação, ela pode ocorrer, e ocorre, durante todo o ciclo das políticas públicas.

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5 Quando se pensa em exemplo de políticas que levaram à exclusão de algum grupo social e de suas raízes históricas na sociedade brasileira, precisa-se remeter a um passado distante, que remonta à chegada dos portugueses no Brasil. Naquele momento, o consenso estabelecido dizia que era preciso estabelecer nessas terras tupiniquins uma realidade diferente da que foi encontrada. Para tanto, era preciso educar e catequizar os indígenas, pouco importando se esses possuíam sua cultura e crenças religiosas próprias, como se não bastasse ocupar as suas terras e, essa lógica dominante, como é cediço, ocasionou um verdadeiro genocídio no País. (FAUSTO, 2012)

Ao estudar a ocupação das terras e a colonização propriamente dita, o mesmo consenso afirmava que era natural escravizar negros e seus descendentes.

Em todos esses casos percebe-se a necessidade de transformar a lógica da exclusão em senso comum. Assim, a maioria dos cidadãos, ou mesmo os que assim eram considerados, acreditavam que aquele estado de coisas era natural, justo e necessário e, o mais grave é que, nem mesmo com a chegada do século XX, essa postura se alterou e o que verificamos é que a mobilidade social continuou sendo uma raridade.

Um exemplo da continuidade da política de exclusão foi a Reforma Urbana promovida por Pereira Passos no Rio de Janeiro na primeira década do século XX. A Zona Portuária foi modernizada e o Centro da Cidade foi reformado radicalmente. A partir dessa intervenção, na chamada política do Bota Abaixo do Governador Pereira Passos, os cortiços que se espalhavam pela região central do Rio de Janeiro foram derrubados para a construção da atual Avenida Rio Branco, alargamento de outras vias e construção de novos prédios (SCARABELLO, 2016).

Se por um lado não há como negar que a reforma urbana de Pereira Passos foi exitosa, em outro giro, deve-se reconhecer que esse êxito foi construído à custa do sofrimento dos habitantes mais humildes da cidade que, realmente, foram prejudicados e colocados em segundo plano, nesse processo.

Sem moradia, não restou a essa camada da população nenhuma alternativa, senão ocupar os morros do entorno da Cidade. Também nesse período era evidente o processo discriminatório em relação às populações empobrecidas do país, formada, majoritariamente, por escravos libertados e seus descendentes. Não é por acaso que algumas manifestações culturais eram criminalizadas, como é o caso da capoeira, dos primeiros sambistas e dos adeptos dos cultos e religiões de origem africana (SCARABELLO, 2016)

Em todo esse processo, a resistência - política e cultural - dos grupos marginalizados se fez presente de diversas formas, como nos quilombos, nas favelas, nos sindicatos, nos grupos de mulheres, nas escolas de samba e entre boêmios, malandros e capoeiras. Esses estereótipos e essas organizações representam a vontade daqueles que historicamente se encontravam à margem do processo social de reconhecimento e valorização próprios.

É nessa época que pela primeira vez foi possível a segmentos das classes subalternas viver sem trabalho, diante da oportunidade de ingresso no sistema previdenciário. Tudo isso resultou de uma longa jornada de luta, como, por exemplo, a previdência social que teve início em 1923, apenas para o segmento ferroviário paulista, passando pelo avanço da incorporação de categorias profissionais urbanas desde a década de 1930, até o acesso limitado do homem do campo, com o estatuto do trabalhador rural, em 1963, e o FUN-RURAL, quase cinco anos depois. (POCHMANN, 2016).

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6 A homogeneização dos benefícios do setor privado entre trabalhador urbano e rural só é definitiva e plenamente implantada com o advento da Constituição Federal / 1988, ou seja, quase sete décadas após a primeira experiência de previdência social.

O dinamismo da vida social requer dos sujeitos uma constante tomada de posição frente ao cotidiano, é o preço que se paga por estar inserido em um grupo social. Trata-se de construir, consolidar e transmitir visões de mundo, e, para dar cabo dessa tarefa, sujeitos e grupos sociais utilizam-se das representações. (SANTANA, 2015, P.37)

2.2.1 O poder de polícia e a constituição das UPPs

Um dos conceitos que devemos analisar, quando falamos de políticas públicas, é a visão do Poder. O poder constituído de ações e relações humanas. Segundo Foucault:

Em si mesmo o poder não é violência nem consentimento [...] Ele é uma estrutura de ações; Ele induz, incita, seduz, facilita ou dificulta; ao extremo, ele constrange ou, entretanto, é sempre capaz de ações. Um conjunto de ações sobre outras ações. (Foucault, 1982, p 202).

Foucault (1982) nega a noção de propriedade em relação ao poder, estendendo-o além dos limites do Estado, atravessando as instituições, distribuindo-se de forma desigual pela sociedade.

O poder seria, então, resultante das relações sociais estabelecidas, e construído historicamente, e associado a práticas de dominação presentes nas relações humanas. O poder, como algo absoluto e natural simplesmente não existe. Estudar o poder, em Foucault é analisar que atitudes e práticas são utilizadas para alcança-lo, e que estruturas a própria sociedade constrói a fim de legitimá-lo, seja através de um permanente processo de vigilância, seja através do estabelecimento de punições.

Tratando de forma mais objetiva, uma das atribuições da Administração Pública é o poder de polícia, que decorre da competência do Estado em limitar ou disciplinar o exercício do direito individual em prol do coletivo, tendo como base o princípio da predominância do interesse público. (ALEXANDRINO, 2009).

Visando preparar a Cidade para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, as UPPs começaram a ser instaladas em 2008, com o objetivo de garantir a segurança e combater o crime organizado. As UPPs são um programa de segurança pública, implantado pela Secretaria do Estado de Segurança do Rio de Janeiro, planejado pelo Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional, são 38 UPPs, com um efetivo de 9.543 policiais, abrangendo aproximadamente 264 territórios (PORTAL UPP, 2016). Segundo Cunha e Mello (2011) orienta-se pelos princípios de polícia comunitária, que se utiliza da estratégia de instituir parcerias entre a população e a área de segurança. A primeira experiência das UPPs foi no morro Santa Marta em Botafogo com implementação do que chamamos polícia de

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7 proximidade, que visa integrar a polícia e o cidadão, com o objetivo de diminuir os índices de criminalidade. (PORTAL UPP, 2016). De acordo com o Secretário de Estado de segurança, José Mariano Beltrame (PUFF, 2016). o policial precisa ter o preparo de buscar diálogo com a população e demonstrar que a presença da polícia, além de permanente, é a garantia de paz e de dias melhores nas comunidades.

Polícia de proximidade é uma parceria com a população, no seu dia a dia, nas proximidades das escolas, nos entornos da favela, no comércio, dando apoio a toda comunidade, com um papel fundamental no desenvolvimento social, garantido a chegada ao morro de serviços públicos e muitas outras oportunidades, para que esse objetivo seja alcançado há uma grande necessidade de mudança da polícia.( CANO, 2012). O histórico de muita violência, confrontos e conflitos trouxeram para essas populações muitos traumas, com o crescimento do tráfico, essas comunidades eram disputadas por facções diferentes, que lutam entre si, surpreendendo a polícia nas apreensões de armamentos pesados como granadas e fuzis, esse problema se torna o foco da polícia, ou seja, o combate ao crime organizado, guerra às drogas e se distancia da sua essência que é o cidadão, hoje a polícia é uma polícia de repressão. Por isso a necessidade de um modelo de diálogo como os conselhos comunitários. Já Burgos (2011) destaca o fato de, no próprio sítio da Secretaria de Segurança Pública, estar divulgado que o conceito que norteia a UPP é o de “constituir uma ‘polícia da paz’, como uma importante ‘arma’ do Governo do Estado e da Secretaria de Segurança para recuperar territórios perdidos para o tráfico e levar inclusão social à parcela mais carente da população”. Ora, está clara, segundo o autor a contradição presente (mais uma vez) na fala do Estado. Afinal, é possível construir uma polícia da paz, quando falamos em guerras e armas? O próprio Autor nos lembra que a UPP não é a primeira alternativa utilizada pelo Estado para ‘pacificar’ comunidades carentes, em que pese os aspectos positivos que tais iniciativas possam apresentar.

E, para melhor exemplificar como se dá esse processo, Papastawridis (2015) nos dá conta que onde não há presença do Estado, “a ação de grupos à margem da lei prevalece”, visto que, se alguém não atua onde e como deve atuar, abre espaço para outro, e que nas favelas cariocas há a evidente ausência de serviços públicos de saúde, lazer, transporte e saneamento, abrindo espaço para que grupos criminosos ocupem o espaço e criem leis próprias, e espaços próprios de julgamento e condenação.

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3- Metodologia

A pesquisa é abordada de forma qualitativa, visando maior familiaridade com o problema, usando procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica e documental. Para Beuren (2004, p.80), a pesquisa exploratória tem algumas finalidades específicas, como: “[...] proporcionar maiores informações sobre o assunto que se vai investigar; facilitar a delimitação do tema de pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses; ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto”. O estudo tem objetivos descritivos e explicativos, aprofundando o conhecimento da realidade a partir das características da população e dos fatores causadores de um determinado fenômeno.

O critério usado para coleta de dados foi o processo de comparação entre os dados provenientes de fontes diversas, ou seja, olhar o objeto sob diferentes formas, comparando

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8 literaturas similares e conflitantes, também foi usado a análise dos conteúdos, organização e avaliação de dados através da captura das ideias principais dos autores, com a ajuda de citações e conceitos assim como leituras midiáticas para colher os relatos da população sobre suas sensações sobre a política.

4 – Resultados e Discussões

È notório que entre o período de 1960 a 2000 percebem-se combinações contraditórias na Administração Pública Brasileira, visto que, por um lado o rápido crescimento econômico num período de grande autoritarismo (1964/80); por outro, o baixo dinamismo da economia com regime político democrático (1985/2000). Já no que condiz o avanço econômico, com taxas médias de variação do Produto Interno Bruto ao ano de quase 7,5% (POCHMANN, 2016), percebe-se que durante o período de 1960/1980 o progresso material não foi democratizado, uma vez que, a população empobrecida não teve acesso satisfatório nos resultados do progresso material do capitalismo brasileiro.

Vale ressaltar que o avanço da urbanização da pobreza transcorreu acompanhado de um forte êxodo rural, capaz de gerar um enorme excedente de mão de obra pouco qualificada e de baixa escolaridade nas cidades mais industrializadas. Não obstante, o importante aumento médio anual no emprego assalariado formal, que permitiu o acesso imediato aos direitos sociais e trabalhistas, verificou-se que a grande repressão sindical, bem como o autoritarismo político, terminou por resultar no arrocho salarial. Assim, a maior taxa de assalariamento, que passou de 19,6%, em 1960, para 45,4% da População Economicamente Ativa em 1980, mostrou ser apenas suficiente para compensar a queda no poder de compra do salário mínimo, que, segundo cálculo do DIEE-SE, foi de 38,4% acumulado no período. Por conta disso, observou-se que o trabalhador, mesmo estando empregado com contrato formal em uma grande firma, não tinha condições necessárias para residir dignamente, tendo que recorrer à favela numa grande cidade ( POCHMANN, 2016).

Porquanto o período de 1980 a 2000 foi permeado por contradições, ao qual, predominou a combinação de baixa expansão das atividades econômicas com avanço no regime político democrático. Ainda convém lembrar que após o fim da ditadura, houve a redemocratização com a reorganização da vida partidária e eleitoral contrapondo a essa redemocratização, houve uma crise econômica, por conseguinte com fortalecimento do sindicalismo e das organizações sociais, terminou sendo fortemente constrangida pela ausência do crescimento econômico sustentado. Bem como, a renda per capita nacional, por exemplo, cresceu tão somente 0,36% durante o período de 1980/2000, como média anual, bem abaixo do que se verificou no período anterior (1960/80), quando a renda per capita aumentava em média 4,58% anualmente. Além de certa estagnação na evolução da renda per capita nacional, assistiu-se ao predomínio de uma forte oscilação nas atividades econômicas, acompanhada da manifestação de um longo regime hiper-inflacionário (1979/1994). (POCHMANN, 2016).

Nesse contexto econômico desfavorável, o fenômeno da mobilidade social foi enfraquecido, mesmo com o avanço da escolaridade da população e a maior cobertura social de cursos de capacitação profissional (POCHMANN, 2016). Da mesma forma, a obstrução do crédito e do financiamento da casa própria em consequência da alta taxa de juros. De certo,

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9 por conta disso, o processo de exclusão apresentou transformações significativas, uma vez que, o país demonstrou incapacidade de superar a chamada velha exclusão. Vale ressaltar o fato de o Brasil ter passado por situações tão distintas sem que terminasse realizando as reconhecidas reformas clássicas do capitalismo contemporâneo. Outro fator a ser considerado é a ausência de uma verdadeira reforma social, capaz de possibilitar a distribuição justa da renda nacional, o que acarreta, não apenas a maior desigualdade de distribuição de renda, como uma pressão adicional no interior do mercado de trabalho.

Esta, aliás, tornou-se cada vez mais efetiva nas grandes metrópoles brasileiras. Ou seja, o movimento de metropolização da pobreza fez com que as grandes cidades, que até o final dos anos 70 eram fonte de imigração por conta das oportunidades de emprego e vida melhor, assumissem o papel mais recente de centros de desemprego, poluição, enchentes e violência. Em certo sentido, a explosão da violência urbana revelou, de maneira combinada com a desigualdade, o desemprego e a escassez de perspectiva mobilidade social ascensional, as condições de produção e reprodução da nova exclusão social. Mesmo sem ter vencido plenamente a velha exclusão (pobreza, analfabetismo e baixa escolaridade), o Brasil passou a se destacar pelo avanço mais recente da nova exclusão social (desemprego, desigualdade de renda e violência).(POCHMANN, 2006,p.01).

O processo de exclusão, por conta disso, apresentou transformações significativas, uma vez que o país demonstrou incapacidade de superar a chamada velha exclusão, quanto mais combater o avanço da nova exclusão.

Essas diferenças e contradições muitas vezes acarretam situações de violência sistêmica, cabendo então ao Poder Público, como detentor do monopólio do poder de polícia, tomar providências para minimizar o status quo, e cumprir o papel tão criticado por intelectuais de esquerda: garantir a manutenção da ‘ordem estabelecida’.

Essa ditadura da maioria, aliás, vem servindo de ensejo para a implementação de mais um Programa que, ao menos aparentemente, visa ordenar o funcionamento da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a implantação das UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora.

Após várias tentativas de modelos de policiamento alternativos como da Cidade de Deus nas décadas de 80 e 90, os PPCs (Postos de Policiamento Comunitários) que também não deram certo, e o GPAE (Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais), que foi a que mais se aproximou do modelo que temos hoje das UPPs, nenhum desses tiveram sucesso. As UPPs vieram como Programa que busca integrar o policial e a população da favela, implantando o policiamento de comunidade.

Observações sobre vários relatórios e estudos sobre o programa das UPPs:

“A avaliação exploratória do impacto das UPPs no Rio de Janeiro” relatório do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sob a orientação do Prof. Ignácio Cano (2012), conclui que na primeira fase de

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10 implantação, numa análise de impacto, as UPPs foram exitosas, pois pode-se observar a diminuição da violência letal, as taxas de homicídios caíram em 55% dentro das áreas das UPPs e mortes por intervenção policial caíram ainda mais, caíram também os roubos. Em contrapartida, aumentaram todos os crimes não letais e não armados, como estrupo, furtos e lesões dolosas, entende-se como diminuição dos sub-registros, ou seja, as pessoas não denunciavam, porque não queriam ou não podiam devido a ameaças, e agora os policiais encaminham às delegacias para registro. A avaliação registra a impressão dos moradores sobre as UPPs: - Diminuição dos tiroteios - Liberdade de locomoção dos moradores. - Diminuição do estigma - Aumento da insegurança devido a pequenos crimes - Impacto econômico, houve em alguns locais, como Cidade de Deus - Impacto social, não houve investimento por parte do poder público em praticamente nenhum local (CANO, 2012).

Em uma pesquisa da CESeC (Centro de Estudo de Segurança e Cidadania) (2011), em um questionário, de uma amostra representativa de policiais, revelou que o comando da UPP está alinhada com o projeto, mas, a tropa não, as pesquisas mostram que a grande maioria dos policiais não querem trabalhar nas UPPs, o que resulta de uma grande falta de legitimidade interna.

Alguns capitães e tenentes possuem uma visão ainda mais avançada no sentido de compreenderem a oportunidade que as UPPs representam para desconstruir a lógica da guerra dentro da própria instituição e assim reformar a própria polícia. A ideia é transformar a Polícia, até hoje a gente tem UPP e a UPP vai transformar a polícia, o modelo que a gente faz de proximidade, vai ser o modelo que a Polícia vai fazer. (Subcomandante, Comunidade 4). Eu acho que o objetivo principal é resgatar a cidadania, trazer umas perspectivas diferentes para essas crianças, esse que é o combustível da gente de ver a criançada daí que fica ociosa e até reclusa em casa, uma veio me perguntar qual é a palavra chave da UPP, para eu resumir com um palavra, eu fiquei pensando e falei liberdade, as pessoas tem liberdade para ir e vir, até pra se expressar, pra brigar, antigamente não tinha isso. Então, desconstruir aquela lógica de guerra, aquilo que eu sempre atribuo quando eu falo, que eu faço as minhas apresentações também para ponte, mas é aquilo, desconstruir lógica de guerra, resgatar território, é muito abrangente. (Comandante, Comunidade 3),(CANO, 2012, p.136).

Muitos praças manifestam uma posição crítica no sentido negativo, reclamações e queixas são constantes, até mesmo em relação ao uniforme, como inadequado ao trabalho.

[Entrevistador: Teve uma pesquisa há um tempo atrás... O resultado foi que 70% dos policiais da UPP na verdade preferiam trabalhar no batalhão, com é que é a situação aqui?] — Acho que é uns 99%.. (Soldado, Comunidade 7).

Devido a isso, devido a todas essas circunstancias aí os moradores aí tanto eles como a gente ninguém está satisfeito, eles não queriam que a gente estivesse aqui e a gente não queria estar aqui. (Soldado, Comunidade 3).

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11 O uniforme é totalmente inviável pra trabalhar num morro, porque a gente sobe, desce escada, pula, vai numa laje. (soldado 1)(CANO, 2012,p.138).

O conceito de policiamento de proximidade avançou muito pouco, a UPP continua sendo um projeto de fora para dento e de cima para baixo, onde a comunidade não é consultada sobre segurança pública, nas reuniões entre policiais e a comunidade fala-se de tudo, lixo, light, mas, muito pouco se discute sobre segurança. A ideia do policial como mediador ainda é muito incipiente. O projeto avançou enquanto diminuiu a violência armada, mas avançou pouco nas áreas estratégicas que são a melhora na relação com a comunidade e o avanço de um outro modelo de policiamento. Estamos presos a um projeto que até agora não avançou além da 1° fase.( CANO, 2012).

Prof. Silva Ramos do CESeC da Universidade Candido Mendes fala sobre as UPPs ( 2016), segundo Ramos (2016) o importante é mudar a polícia para diminuir os índices de criminalidade onde aponta três conjunto de questões para a continuidade das UPPs: - diálogo entre moradores e polícia, o único modelo que existe atualmente é o conselho comunitário da Mangueira - maior entrosamento entre as polícias militar, civil e federal com a convergência de funções - Projeto para os jovens antes envolvidos com o tráfico, quando voltam à favela não há nenhum projeto para que esse jovem não volte ao tráfico, a exemplo da Colômbia. Os índices de violência caem quando a Polícia e a Segurança Pública são melhores.

Rumba Gabriel, do Quilombo Urbano Jacaré, fundador do Movimento Popular de Favelas, Jornalista, para Rumba muita coisa tem que mudar na polícia, como a corrupção policial, na favela do Jacaré, onde mora, não tem um único projeto social. “Só as siglas mudam, mas, o sistema continua o mesmo”. (GABRIEL, 2012, APUD CANO, 2012).

Major Leonardo Nogueira, Comandante da UPP da Rocinha, para Nogueira a polícia acaba esquecendo que o seu foco é o cidadão e não a repressão. As UPPs não são um experimento homogêneo, há vários tipos de UPPs, como UPPs em situação de calma já a bastante tempo, UPPs em situações de tensões e UPPs , como no Alemão, onde se vê a mesma situação que se via antes. Lugares onde há o confronto armado o policial está preocupado em se defender e não tem condição de fazer policiamento de proximidade. (NOGUEIRA, 2012, APUD CANO, 2012).

Gustavo Clayton Alves Santana, Mestre em Psicologia Social da UERJ, constata a existência de uma compatibilidade entre a expectativa de futuro dos moradores em relação a UPP e a preocupação desta ação do governo estar sendo constituída apenas para manutenção da cidade para os grandes eventos de 2014 e 2016. (SANTANA, 2014).

Algumas observações de moradores, entrevistas do relatório do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ):

Alguns moradores parecem compreender o sentido do programa das UPPs:

Entrevistador: O que você identifica como mudança em Cidade de Deus? A paz, né? É a maior mudança. Porque antigamente você não tinha liberdade dentro da comunidade. Você não tinha (...) o direito de ir e vir. Porque era violência constante, e o perigo. E agora não, agora que teve a ocupação da UPP ficou mais tranqüilo, você pode sair, voltar, transitar pela comunidade sem ter medo. (I, 22 anos, estudante do

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12 ensino superior e participante de projetos sociais, morador de Cidade de Deus)(CANO, 2012 p.114).

Fica evidenciado que o medo ainda permanece na fala e na vida dos moradores, oprimidos e coagidos ao longo da história. Para entendermos esse medo podemos falar do conceito de poder estudado por Foucault (1982), como sendo uma estrutura de ações que vai além dos limites do Estado e distribui-se de forma desigual pela sociedade.

Olha, se eu falar pra você que o tráfico acabou é mentira. Tem tráfico em todos os lugares. (…) No entanto, assim, a violência, sabe? A maneira como... A violência também visual, porque crianças vendo, sabe, a galera andar armada. Porque... Tráfico sempre teve aqui. Só que no finalzinho, antes de entrar a UPP, eles tavam escrachando demais, eles tavam perdendo a linha, eles tavam começando a perturbar. Tá gravando isso gente? Pelo amor de Deus, vocês não vão falar isso! Eu não vou ser identificada, né? [sons de concordância] Eles estavam começando a incomodar moradores, entendeu? Então assim, a entrada da UPP mudou bastante. Mudou bastante! Nossa! (A, 26 anos, estudante, trabalha em ONG, moradora de Cidade de Deus)(CANO, 2012 p.114).

A necessidade na quebra do estigma da favela em oposição ao asfalto, estabelecendo dois mundos distintos, o estigma do lugar perigoso e violento, território dominado pelo medo, perpetuado pela omissão do Estado, tem diminuído com a presença das UPPs, assim como a sensação de insegurança. Essa política de segurança vem sendo vista como um 1° passo para a eliminação das fronteiras que separam esses dois mundos.

Tem tráfico, tem bandido, mas não tem arma. O pior de tudo é ter tráfico, bandido, e armas, armas de fogo. Agora pode ter tráfico, tem o bandido, mas não tem arma, então acho que diminui em setenta por cento o medo das pessoas de estar entrando na comunidade, né?(I, 22 anos, estudante do ensino superior e participante de projetos sociais, morador de Cidade de Deus).(CANO, 2012 p.114).

As ameaças agora são os crimes contra a pessoa e contra a propriedade, crimes esses não letais e sem uso de armas, devido à ausência das sanções do “dono do morro”.

Todo dia eu desço e eu olho aqui pra ver se está tudo no lugar. Eu durmo, e de manhã cedo ―ai, meu Deus, será que alguém invadiu {a loja que tem dentro da favela}?‖ [Entrevistador: Você tem medo?] Sério, tenho. Essa semana já entraram no bar do senhor ali da frente, já levaram as coisas dele. Ele deixa sempre um trocado para o sobrinho dele abrir de manhã. E depois que vieram pra cá, a Unidade de Polícia Pacificadora, o que mais acontece é isso, assalto nas casas, nos comércios. O que mais tá tendo é isso. (F, 30 anos, dona de loja dentro da

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13 favela, moradora do Morro dos Macacos). (CANO, 2012, p.115).

Muitos ainda têm várias críticas ao proceder da polícia, reclamam de abusos, das abordagens agressivas.

É isso que eu te falei, na UPP tem bom e ruim. O bom é que tem a paz, o ruim é que são policiais despreparados que vem com um pensamento completamente errado sobre quem mora em comunidade e continua agindo como os policiais de antigamente que entravam. Eles são novos, são novinhos. (…) [Entrevistador: Mas existe todo um discurso de que esses policiais são novos policiais, com outra formação.] Mas com as velhas safadezas. (I., 22 anos, estudante do ensino superior, morador de Cidade de Deus) (CANO, 2012 p.120).

Podemos observar na fala dos moradores a necessidade de um melhor preparo da polícia, com uma tropa bem treinada, principalmente capacitada para o policiamento de proximidade, onde os direitos humanos sejam respeitados. Fica o questionamento, a polícia é para garantir a ordem pública e a paz ou somente está a serviço de um grupo dominante, como na teoria de Gramsci (1977), na ditadura da maioria para se manter o “status quo”? (Papastawridis, 2014).

Porque eles chegam pra revistar as pessoas, já chegam batendo. Já presenciei isso perto da minha casa, já chegam batendo. Já falam, falam direito... ―Encosta aí,acabou.‖ E, ficam aí catucando, eles pegam a identidade e ficam... Olham e reolham até achar. Eles querem é achar alguma coisa, não conseguem... (I., 22 anos, desempregada, moradora do Morro dos Macacos).(CANO, 2012 p.120). Continua o temor ao controle autoritário e arbitrário, que só troca de mãos. A lógica da exclusão vira senso comum.

A impressão que eu tenho é que a gente muda de dono. Acho que muda a mão que segura o chicote. (R, liderança e morador de Manguinhos) (CANO, 2012 p.115). Fica evidenciado que as UPPs fizeram mudanças positivas, como podemos observar nas falas dos moradores, como a própria liberdade de expressão, que antes tinham medo de falar e sofrer com represarias, fim dos confrontos armados, dos tiroteios, liberdade de locomoção, fim das mortes violentas, uma percepção de segurança. As grandes críticas são o controle social autoritário e arbitrário, outros crimes que se propagaram como o crime contra a propriedade e crime contra a pessoa, que eram brutalmente reprimidos pelo tráfico, a grande dificuldade de mudanças, como a ideia de lugar aberto para todos demora a ser assimilada e o medo da represaria por parte do tráfico caso as UPPs acabem, consequência da grande dúvida quanto ao futuro do projeto das UPPs.

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14 Nesse sentido, críticos da política de segurança implementada pelos últimos governos do Estado do Rio de Janeiro apontam contradições e problemas diversos na lógica de implementação das Unidades de Polícia Pacificadora.

Mesmo em países desenvolvidos há iniciativas de policiamento comunitário, objetivando a aproximação das comunidades com o trabalho da polícia, mas há que se destacar que tais iniciativas somente podem ser consideradas exitosas onde a relação das comunidades com a polícia é de confiança. Ora, como construir relação de confiança e parceria com o outro se a relação historicamente estabelecida é de medo? Fica evidente que tal resultado somente pode ser alcançado em sociedades onde princípios relativos aos Direito Humanos são, de fato, respeitados. Quando se trata de uma sociedade hierarquizada, preconceituosa e conservadora como a brasileira, acredita-se que o processo seja muito mais complicado. Principalmente se levar em conta a estrutura autoritária da Polícia Militar.

A política de segurança implantada, UPP, tem como objetivo principal a retirada das armas e a repressão ao tráfico de drogas, mas o processo de ocupação trouxe em sua estratégia o controle dos espaços e relações sociais, onde a polícia influencia de forma decisiva a vida social da favela, atribuindo qualidades morais a comportamentos, eventos, músicas, festas, usando esse controle como moeda de troca, podendo tudo ser proibido, dependendo da aplicação da lei, caracterizando estados de emergência ou de exceção.

“Este modelo tem sido criticado pela estratégia explícita violenta, assim como por uma estratégia implícita de controle social, priorizando a construção de um modelo de “cidade-commodity”, onde a comercialização adequada para o público internacional requer a embalagem da pacificação, potencializando o controle da vida local. Neste sentido, para alguns setores, como o turismo e o setor imobiliário, as UPPs estão dando certo, pois servem para apresentar uma mensagem positiva ao mundo em uma época de turismo em ascensão devido aos grandes eventos, visando reduzir a insegurança no cinto nobre da cidade e nas áreas olímpicas.” (BAYARRI, 2015, p.01).

Segundo Da Silva (2003), há mais questionamentos sobre o tema do policiamento comunitário no Brasil do que consensos, visto que, segundo ele, há a dificuldade real de estabelecimento de qual deve ser o foco da ação da Polícia Comunitária. Para o autor, a ação policial centrada na atuação do indivíduo para a promoção da segurança pode, nesse caso, representar um sério empecilho para que se alcance êxito nas ações de segurança comunitária, que, como diz o próprio nome, deveria adotar um modelo diferenciado, cujo objetivo seria propiciar tranquilidade para as comunidades atendidas, a partir de bases realmente democráticas. Assim, o Autor segue afirmando que é mais fácil explicar o que não é policiamento comunitário, a lembrando que: “não é panaceia; não é tática, técnica ou programa; não é relações públicas; não é espalhafato; não é elitismo; não é algo concebido para favorecer aos que têm poder; não é instrumento de captação de recursos da comunidade; não é concentração de efetivo policial numa determinada área; não é proteção e áreas turísticas; e não é massificação de efetivos em áreas comerciais. (DA SILVA, 2003, APUD SANTANA,2015).

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15 “Sob a égide cultural do modelo brasileiro de sociedade hierárquica e relacional, a dinâmica das políticas públicas de natureza assistencial e clientelista ajudou a reproduzir constantes práticas governamentais eleitoreiras, casuisticamente elaboradas, calcadas em uma série de conjuntos de omissões e permissividades por parte do próprio Poder Público. Eis o cenário da cidade partida retratada pelo escritor Zuenir Ventura: O “asfalto” e a favela, dois espaços geográficos distintos, porém inseridos num mesmo contexto geopolítico.” (Revista da Escola Superior da Polícia Militar, 2010, p.5).

5- Conclusão

Ao buscar uma temática para a construção do presente Artigo, ficou evidente a tendência de abordar temas voltados às políticas públicas, que apesar de, ao menos em tese, objetivar benefícios para a população, acabam por desmascarar a lógica excludente ainda presente em nossa sociedade.

Assim, soa como rotina o relato de práticas abusivas, levadas adiante pelo poder público sobre as populações que foram marginalizadas e excluídas ao longo da nossa História, que acaba por fazer com que a população dê apoio ao combate violento, às diferenças representadas por negros, gays, jovens, migrantes, e outros grupos sociais, em especial os moradores de comunidades carentes, muitas vezes dominadas pelo tráfico e/ou pelas milícias.

De qualquer forma, percebe-se, mais uma vez, que o modelo apresentado pelo Estado, sem discussão prévia com os organismos vivos da sociedade, passa a ser questionado pela opinião pública. Vale ressaltar que os movimentos sociais organizados, ao longo do tempo, garantiram conquistas que representaram melhorias nas condições de vida da população em geral, e que, portanto, o diálogo e a negociação com eles podem representar a solução das questões apresentadas, ou no mínimo, a partilha de responsabilidades.

Embora a politica de segurança implementada pelo Estado através das UPPs possa ser considerada positiva sob vários aspectos, inclusive na diminuição da sensação de insegurança em relação à violência, parte da população ainda se sente vulnerável pela falta de policiais nas ruas, pois o efetivo de policiais, nas UPPs deixaram as ruas sem policiamento ostensivo. Além disso, moradores das favelas por um lado temem a descontinuidade do programa, e parte considera os policiais agentes hostis, sendo constantes as denúncias de abusos por parte dos policiais ( CANO, 2012).

Apesar do sucesso na implementação, as UPPs passam por grandes dificuldades, com crises em diversos setores, como falta de recursos e de efetivo. As UPPs entraram em estado de estagnação devido a falta de monitoramento dos problemas, o projeto não passou por melhorias e se expandiu além das expectativas, faltou políticas de Estado (PUFF, 2016).

Comparando-se situações vivenciadas pelas comunidades atendidas pelas UPPs com as premissas da Silva (2003), conclui-se que há fortes indícios de que o principal Programa da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro não é, como se apregoa, inovadora no sentido de garantir melhor relação entre as forças policiais e a população diretamente atingida, através de policiamento comunitário. Ao contrário, a sensação das Comunidades de que a brutalidade de criminosos foi simplesmente trocada pela brutalidade de agentes públicos demonstra que essa é apenas mais uma forma de manter os mais pobres restritos ao seu

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16 território, cabendo-lhes o acesso aos demais bens que a Cidade oferece apenas quando é de interesse daqueles que detêm a hegemonia. Afinal, casos como o do Ajudante de Pedreiro Amarildo, assassinado por policiais que atuavam justamente em uma UPP demonstram que a atuação da polícia na favela continua tendo como base a lógica da repressão.

Surgem então alguns questionamentos. Como combater a violência com policiais mal remunerados, com salários atrasados, e treinados na lógica da guerra e do extermínio? Como garantir inclusão de populações historicamente marginalizadas, sem políticas públicas construídas em conjunto com essa população? Como falar em democracia se o jovem viciado da favela é tratado como bandido, enquanto o jovem viciado da classe média é tratado como doente?

Vê-se então, que há espaço para acreditar nos críticos às políticas de segurança implementadas, quando eles afirmam que o objetivo central das UPPs é simplesmente reduzir a sensação de insegurança nas áreas nobres e acabando por criar dentro de nossa analise a mesma ou maior percepção de insegurança, criando novos guetos, numa cidade onde pobres e ricos acabam por usufruir de ao menos uma área de lazer comum: a praia.

6 – Referências Bibliográficas

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Referências

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