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MINHA COR E A COR DO OUTRO: QUAL A COR DESSA MISTURA? - OLHARES SOBRE A DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

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Academic year: 2021

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Daniela Lemmertz Bischoff Leni Vieira Dornelles

RESUMO: A presente pesquisa procura investigar de que forma um trabalho com literatura infantil com

temáticas afro pode qualificar/problematizar as noções de diferenças raciais entre crianças de uma turma de Educação Infantil de uma escola pública municipal. Através da perspectiva foucaultiana e da metodologia de pesquisas com crianças busca investigar as concepções de raça entre crianças dessa turma e como essas concepções podem se evidenciar/reforçar/alterar de acordo com os materiais pedagógicos trazidos pela professora da turma. Busca-se, através da literatura infantil, proporcionar outras formas de ver-se enquanto branco, negro, mestiço, mulato, etc. As infâncias são múltiplas e assim também são as formas como as crianças se veem e veem seus colegas e as discussões sobre essas formas de se ver e ver o outro são fundamentais na constituição de suas identidades.

PALAVRAS-CHAVE: infâncias, pesquisa com crianças, literatura infantil, diferenças.

Começando a história

O trabalho a ser apresentado na IX ANPED/SUL intitulado “Minha cor e a cor do outro: qual a cor dessa mistura? – Olhares sobre a diversidade na Educação Infantil” vem se desenvolvendo enquanto pesquisa de Mestrado.

Investiga-se de que forma o trabalho com a literatura infantil afro-brasileira pode qualificar e problematizar as concepções acerca de “raça” presentes nas crianças que frequentam uma escola pública de Educação Infantil, propõe-se a repensar as práticas cotidianas que, muitas vezes, reforçam o estatuto de branquidade, de negritude, de igualdade e diferença.

Pensa-se a partir da obrigatoriedade dos estudos sobre a questão afro a partir da homologação da lei 10639/2003. Mas acredita-se que essas reflexões também possam fazer parte do trabalho realizado com os alunos menores, já que essas relações se estabelecem desde muito cedo, mas se dão de formas diversas em cada etapa da vida desses sujeitos. Assim,

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procura-se investigar de que forma essas relações se constituem na faixa etária de 4 e 5 anos de um determinado grupo de crianças, a partir das provocações feitas a partir da literatura infantil com temática afro.

Ao aprofundarmos os estudos acerca das questões de raça que compõe o universo infantil, torna-se importante investigar através dos livros de literatura infantil que versam sobre o tema, como é tratada esta lei nas escolas de educação infantil; como é possível contribuir para a produção teórico-metodológica frente à emergência dos discursos sobre raça, racismo e preconceito e como decorrem as discussões sobre a inclusão, identidades e as diferenças; colaborar com as investigações acerca da literatura e da produção de subjetividades infantis; investigar como as crianças se manifestam frente às questões de raça e preconceito; por fim e não encerrando, observar como as crianças de uma turma de educação infantil acolhem os diferentes de si, governam a si mesmas no que diz respeito às suas diferenças e identidades e tratam dos valores civilizatórios afro-brasileiros como modos de construir na educação infantil uma educação antirracista.

Através de pesquisas anteriores se pode perceber a importância de aprofundar o debate sobre os modos como a raça, a negritude vem sendo construídas, através de artefatos diversificados, aqui especialmente os livros de literatura infantil afro-brasileira. Buscamos, com isso, capacitá-los para uma ação pedagógica que mantenha a dimensão investigativa (pesquisa), mas que também se proponha a ser interventiva no sentido de transformação da realidade étnico-racial conflitiva, na qual as crianças, negras ou não, vêm sendo educadas.

Analisar-se-á, de modo conjunto com as crianças, como os personagens aparecem nas narrativas e também nas ilustrações, de que forma eles são representados, quais as marcas mais significativas que são apresentadas aos leitores. Essa análise, a partir do pensamento foucaultiano, pretende ver de outra forma o que parece estar posto, olhar e re-olhar para, então, olhar de novo para as práticas que parecem se naturalizar ao longo do tempo.

Nos interessa e, apoiando-nos no campo teórico dos estudos pós-estruturalistas, desnaturalizar as formas que possam aparecer na pesquisa com as crianças e de como estas vêem o negro na literatura e também nas turmas de Educação Infantil, buscando, através da mesma, entender os mecanismos como esse Outro é visto. Neste sentido, ampliar o repertório de narrativas circulantes nas escolas, com livros que veiculem representações mais positivas e posicionadas sobre a raça negra, possibilita-nos aferir como tais representações tensionam os discursos infantis e promovem, ou não, deslocamentos significativos nas práticas interraciais das crianças. Refletir sobre as concepções de diversidade racial que as crianças de uma turma de Educação Infantil manifestam ao longo do trabalho com recursos pedagógicos,

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especialmente a literatura infantil afro-braileira e como o trabalho com esse material pode qualificar/problematizar as concepções de raça entre essas crianças. Acredita-se que as problematizações que coexistem com esta pesquisa poderão contribuir para um trabalho voltado ao respeito às diferenças e às discussões da temática da diversidade no contexto escolar e social.

1.1 Os personagens principais: As crianças e suas múltiplas infâncias

Nesta pesquisa, elege-se a concepção de infâncias, pensando que estas se constituem de formas múltiplas, heterogêneas, fluidas, ou seja, não é possível pensar em uma só infância, um só tipo de infância.

É preciso pensar a infância, como nos ensina Larrosa (1998)

[...] como a presença de algo radical e irredutivelmente outro, ter-se-á de pensá-la na medida em que sempre nos escapa, na medida em que inquieta o que sabemos, na medida em que suspende o que podemos e na medida em que coloca em questão os lugares que construímos para ela. (LARROSA, 1998, p. 232)

Aposta-se que o trabalho com as crianças seja muito particular, pois elas evidenciam outras formas de pensar as relações, elas possuem um modo diferenciado de perceber o mundo que as cerca. Assim, cremos que também a maneira de perceber a diversidade e as múltiplas identidades entre os pequenos possa nos trazer outras formas de ver esse Outro, um olhar que o mundo adulto não consegue ter.

Apreender um pouco dessa forma de olhar, dessa forma de pensar é um dos objetivos deste trabalho. Para isso, recorre-se à pesquisa com crianças, deixando que elas nos auxiliem na estruturação da mesma, pois, conforme Sarmento (2007)

[...] o que aqui se viabiliza nesse processo é que as crianças são competentes e têm capacidade de formularem interpretações da sociedade, dos outros e de si próprios, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos, de o fazerem de modo distinto e de o usarem para lidarem com tudo o que as rodeia (SARMENTO, 2007, p. 26).

Em relação à inserção das crianças na pesquisa, Sarmento (idem.) nos instiga a incluí-las em seu processo, segundo ele, “a participação infantil constitui uma condição essencial de uma educação intercultural activa. A criança aprende a diferença, o respeito, a cidadania por estar implicado activamente na sua própria experiência de conhecimento e de vida” (p. 38). Nesse sentido, esta investigação pretende incluir as crianças no processo da pesquisa,

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deixando que elas assumam uma postura crítica frente aos rumos que a pesquisa irá tomando a partir dos materiais trazidos pela pesquisadora, enquanto mediadora das interações.

A metodologia também se caracteriza por um cunho pós-estruturalista. Neste caso particular, recorreremos mais especificamente a Michel Foucault, naquilo que diz respeito às relações poder/saber, governo e produção de subjetividades. Busca-se embasamento nos estudos sobre raça, racismo e preconceito das crianças no Brasil em autores nacionais e estrangeiros, tais como Nilma Gomes, Michel Banton, dentre outros a fim de melhor fundamentar como este processo se produz na Educação Infantil. Ao fazer uso do referencial foucaultiano tratamos de analisar as práticas discursivas e não discursivas que operam para a produção da subjetividade das crianças de 4 e 5 anos. Como e onde se identificam e em que verdades e saberes as crianças se apoiam e como essas ‘verdades’ produzem, regulam controlam e governam as subjetividades raciais infantis.

Por tratar de uma pesquisa que se preocupa em teorizar e investigar numa perspectiva da pesquisa com crianças, entende-se que é necessário continuar problematizando por que as crianças muitas vezes se negam a participar de atividades que envolvem pessoas com o corpo diferente do seu. Talvez tendo a possibilidade de interagir com a literatura afro-brasileira, ou da literatura que foge ao estilo imposto pelas normas e pelo poder vigente, se venha a construir modos artistas de viver. Talvez a produção de um novo estilo de narrativa literária para a infância possibilite a fabricação de sujeitos mais generosos e menos preconceituosos. Que a pesquisa com crianças nos possa mostrar dessa forma que as crianças, como nos ensina Sarmento (2011, p. 27), “têm sido silenciadas na afirmação da sua diferença ante os adultos, e na expressão autónoma dos seus modos de compreensão e interpretação do mundo”. E, para um tema ainda tão espinhoso para os brasileiros, elas têm a dizer, basta que a escutemos.

1.2 As narrativas e suas particularidades

A literatura infantil transformou-se em ferramenta pedagógica amplamente utilizada em nossas salas de aula. Contudo, como nos afirma Kaercher (2010)

[...] não podemos pensar as práticas de leitura deslocadas de seu contexto. Elas são construções culturais que se interligam a fatores tão diversos quanto a noção de infância [...]. Portanto, a validade de uma prática de leitura só pode ser pensada se atentarmos para as especificidades do aluno com o qual estamos trabalhando. (KAERCHER, 2010, p. 54).

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Entende-se que através do lúdico, da literatura infantil afro-brasileira, da brincadeira, do faz-de-conta, tão presentes no trabalho diário com a Educação Infantil, seja possível desvencilhar essa trama de preconceitos que se evidenciam em nosso cotidiano.

Nos estudos de Kaercher (2002) encontramos uma reflexão muito coerente com essa pesquisa, segundo ela

[...] indagar por que nós, professores, usamos – no tramar cotidiano da escola – os mesmos velhos fios com que subordinamos/amordaçamos sucessivas gerações de negros/as é buscar pistas que nos permitam tecer, de um modo culturalmente mais múltiplo e enriquecedor para todos os envolvidos, os fios étnicos que poderão compor o intricado bilro de que é feita a escola (e a vida). (p. 106)

A partir das considerações feitas pela autora, pensamos que são possíveis outras/novas formas de trabalhar com a diversidade em sala de aula e estas formas não podem reforçar velhos pressupostos, velhos e ultrapassados paradigmas.

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Referências:

KAERCHER, Gládis. As representações do/a professor/a negro/a na literatura infanto-juvenil ou sobre os fluxos das águas... In: SILVEIRA, Rosa Maria Hessel (org.) Professoras que as

histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, 2002

________. Brincando com as palavras e com os livros na escolarização inicial. In: DALLA ZEN, Maria Isabel e XAVIER, Maria Luisa M. (orgs). Alfabeletrar: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Mediação, 2010.

LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Porto Alegre: Contrabando, 1998.

SARMENTO, Manuel Jacinto. Culturas infantis e interculturalidade. In: DORNELLES, Leni Vieira (org.). Produzindo pedagogias interculturais na Infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. SARMENTO, Manuel. Conhecer a infância: os desenhos das crianças como produções simbólicas (2011). In. MARTINS FILHO, Altino e PRADO, Patrícia. Das pesquisas com

crianças: complexidades da infância. São Paulo: Autores Associados.

SODRÉ, Muniz. Claros e Escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. (199) Petrópolis: Vozes.

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