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CULTURA ESCOLAR E FEMINALIDADE NO SÉCULO XX: O GÊNERO IMPRESSO NOS MANUAIS DIDÁTICOS

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CULTURA ESCOLAR E FEMINALIDADE NO SÉCULO XX:

O GÊNERO IMPRESSO NOS MANUAIS DIDÁTICOS

Wilson Camerino dos Santos Junior

Instituto Federal do Espírito Santo/ caducamerino@yahoo.com.br

RESUMO

A pesquisa apresenta indícios históricos da feminilidade impressa nos manuais didáticos do magistério capixaba durante o século XX. A metodologia desenvolvida foi o estudo exploratório, utilizando técnicas qualitativas. A categoria cultura escolar foi tomada como possibilidade de interpretação da prática do interior da escola, a partir dos registros impressos. Como resultado, os acervos pesquisados nos apresentam as normas, os saberes, a relação de ensino, as condutas, as práticas de comportamentos de gênero que estão materializados nos manuais didáticos. Logo se tem a ênfase de um movimento diacrônico da figura feminina. Representada como mãe, profissional, das relações políticas e religiosas, todas impressas no acervo tomado em pesquisa. Os impressos didáticos traduzem as relações de poder e gênero feminino na historiografia da educação capixaba, principalmente no que tange a valorização da pátria e da feminalidade nos processos educativos.

PALAVRAS CHAVE: Feminalidade. Cultura Escolar. Magistério.

1 APRESENTAÇÃO

O objetivo deste trabalho é apontar indícios históricos, por meio de um estudo exploratório, da feminalidade do magistério capixaba, impressa nos manuais didáticos, durante o século XX, tendo como suporte teórico metodológico a categoria cultura escolar. Para isto nos apropriamos da cultura escolar como possibilidades de interpretação dos indícios históricos da prática do interior da escola, a partir de tempos e espaços que estão registrados na memória do material didático da década de 1960, que por nós foi analisado.

Especificamente este artigo se constitui de levantamento, organização e exploração analítica dos dados levantados no acervo bibliográfico da instituição de ensino pesquisada e defendemos a cultura escolar como instrumento e investigação de um conjunto de práticas, de normas, dos processos de subjetividades que desdobram na ação do indivíduo e na sociedade em um dado tempo histórico.

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O nosso artigo apresenta um estudo exploratório sobre as possibilidades de estudarmos a reconstrução de representação das práticas escolares a partir da história das práticas culturais do magistério impregnadas nas atividades didáticas que estão na biblioteca da escola municipal Terfina Rocha Ferreira- localizada no Município de Cariacica, Estado do Espírito Santo. Encontramos o diálogo com a categoria cultura escolar nas atividades elaboradas pela turma 3C do magistério, que nos possibilitou interpretar normas e finalidades que regiam a escola, sendo o ensino profissional do magistério sendo aquele modelo de feminalidade, na constituição de exercícios bem coloridos, de cunho religioso, literário e preocupados com a escrita e a forma como é apresentada ao leitor. 2 CULTURA ESCOLAR E OS MANAUS DIDÁTICOS

A categoria cultura escolar é definida no âmbito da historiografia da educação como uma marco analítico de investigação da história da educação brasileira. Permitindo interpretação dos aspectos internos das instituições de ensino a partir das pesquisas de práticas que estão em curso ou registradas na memória do espaço escolar. Este registro pode ser por meio de manuais didáticos, pautas, cadernos, bloco de anotações, registros de planejamentos de professores, cadernos de alunos, entre todos os documentos oficiais ou não que permitem a interpretação de tempos e espaços compartilhados por ações sociais de diversos atores. Em nosso caso, essa interpretação se dá por meio dos manuais didáticos datados na década de 1960, mais precisamente o ano de 1968. De acordo com Filho, entre outros autores, (2004, p.158) a cultura escolar deve ser concebida a partir da:

[...] multiplicidade dos projetos, das projeções e dos sentidos instituídos ou apropriados pelos sujeitos escolares em torno dos tempos e espaços escolares e, sobretudo, ao colocarem estas dimensões em íntima relação com as representações e práticas sociais a respeito destas mesmas dimensões estruturantes da vida social e cultural têm contribuído para uma desnaturalização da própria instituição escolar no Brasil.

Tomar a categoria cultura escolar como possibilidade de interpretação de um dado tempo histórico da educação capixaba, é adotar a compreensão dos processos de escolarização e as formas que a escola se constituiu enquanto instituição social reguladora em determinado contexto e época da sociedade. A cultura escolar é uma categoria de análise, pois permite que tomemos a prática do

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interior da escola a partir da interpretação de que tempos e espaços são socialmente construídos, por membros da comunidade escolar em geral.

Para Forquin (2000, p.58) a cultura escolar,

[...] é uma cultura geral, não no sentido de que seja uma amostra ou um amontoado de tudo (não é uma cultura dispersa, eclética), nem no sentido de que pretenda desenvolver ‘idéias gerais’ que não favoreçam conhecimentos precisos ou competências específicas (não é uma cultura de verbalismo abstrato), mas sim no sentido de ser responsável pelo acesso a conhecimentos e a competências estruturalmente fundamentados, isto é, capazes de servir de base ou de fundamento a todos os tipos de aquisições cognitivas ‘cumulativas’.

Ainda de acordo Forquin (2000) os conteúdos cognitivos e simbólicos selecionados organizados sob o efeito de didatização, constituem habitualmente o objeto de uma transmissão no contexto das escolas, logo para nós constituem a cultura escolar como categoria analítica. A partir Julia (1995) a cultura escolar é concebida como um conjunto de práticas atreladas às normas de ensinar os saberes e comportamentos que se dão no espaço escolar.

A cultura escolar é tomada como objeto histórico de investigação de acordo com Julia (1995) por corroborar na compreensão de cada período da história, com o conjunto das culturas que lhe são contemporâneas, por exemplo, a cultura religiosa, a cultura política a e cultura popular. Bem como as diretrizes das políticas educacionais de uma dada época.

O nosso estudo da feminalidade do magistério capixaba no século XX, ao se apropriar da categoria cultura escolar, define que ao analisar as normas, conhecimentos, as condutas, as práticas, entre outros, estamos compreendendo como a feminalidade ganha espaço na história da educação capixaba, a partir dos dispositivos pedagógicos que se estabeleceram no contexto político da década de 60, regime militar.

Baseados em Faria Filho (2010), a cultura escolar aponta em nosso estudo, o papel da escola, impregnado em nosso objeto de investigação, que são os materiais didáticos elaborados pelas alunas do magistério e o papel inerente do pesquisador em interpretar e analisar as fontes ali pesquisadas como práticas culturais, em nossa pesquisa a sociedade e práticas pedagógicas do ano de 68.

A feminalidade do magistério de acordo com Almeida (2006) dava mostras incipientes a partir dos finais do século XIX, a situação da mulher passa ser alterada principalmente pelos movimentos

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feministas que debatiam a desigualdade entre o homem e a mulher. De acordo com Schafrrath (1999),

A discussão em torno da feminização do magistério é sem dúvida bastante complexa. A título de observação, no entanto, vale ressaltar que no final do século passado, algumas correntes de pensamento que certamente exerceram influência nas medidas educacionais adotadas pelo governo brasileiro propunham que havia diferenças "naturais" entre homens e mulheres. E que às mulheres, por sua constituição natural, cabia socializar as crianças, como parte se suas funções maternas. Como o ensino primário era entendido como extensão da formação moral e intelectual recebida em casa, foi fácil admitir que a educação das crianças estivesse mais bem cuidada nas mãos de uma mulher, a professora.

Observamos a partir de Schafrrath (1999), que no século XX a escola estava reconfigurada ao ideal de sociedade do progresso e esclarecida. Baseados em Almeida (2006), temos uma escola que domestica, cuida, ampara, ama e educa. Nas mãos femininas a responsabilidade de guiar a infância e moralizar os costumes.

Na história da educação no Espírito Santo temos a produção de peculiaridades em relação ao contexto dos demais Estados da região sudeste, porém as conjunturas políticas, econômicas e culturais que se davam em meio à organização das estruturas políticas brasileiras se fizeram presentes também no espaço escolar capixaba, logo o Espírito Santo, mesmo de forma incipiente teve suas conjunturas educacionais demarcas pelo percurso da historiografia da educação brasileira, liames com o posicionamento sociais, políticos e educacionais dos agentes envolvidos, e tendo, conforme já foi dito, como diretriz a educação feminina, que fazem parte da historiografia da educação capixaba através do material didático analisado.

Nas paginas das atividades didáticas analisadas se encontram um movimento diacrônico da figura feminina, mãe e profissional, das relações políticas e da religião. A figura da mulher atuante na escola-mãe que redime e encaminha para uma vida de utilidade e sucesso é esculpida em prosa e verso, conforme Almeida (2006), e o contexto histórico da política brasileira da década de 60 se encontra impresso no manual didático.

Observamos que as reflexões de Almeida (2006) se fazem subjacentes ao material didático analisado uma vez que é explorada nas atividades a valorização da figura mãe que guia a infância e moraliza os costumes. Outro aspecto que a cultura escolar permite da interpretação do magistério capixaba no século XX, são os aspectos religiosos que difundem em meios aos desenhos analisados

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os valores misóginos ainda presentes na década de 60, com a finalidade de por meio da educação feminina, normatizar corpos e mentes

Nas atividades interpretamos o modelo normativo da mulher destacados em meio analises literárias, apontado a feminalidade impressa como aquela que possuía a sagrada missão de educar. Os desenhos elaborados pelas alunas são atividades que lembram os contornos domésticos, pelo tocar piano e a educadora de futuros cidadãos da república brasileira, Almeida (2000). Observamos nos materiais didáticos uma hipervalorização das funções maternas de instruir e educar como atribuição da mulher na função docente, o que externa uma feminalidade impressa nos manuais didáticos, logo a cultura escolar de um dado tempo histórico.

CONSIDERAÇÕES

O nosso estudo exploratório aponta que analisar o feminalidade do magistério capixaba no século XX, a partir da categoria cultura escolar, nos remete a pesquisar normas, saberes, relação de ensino, condutas, práticas e comportamentos que estão contextualizados com situações políticas, econômicas e culturais do período do regime militar. De toda forma apontando o comportamento do gênero feminino, a feminalidade, como práticas sedimentadas no espaço escolar em favor de um dado contexto histórico que defendia um modelo de estado e de posição de gênero.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Jane Soares. Mulher e Educação: a paixão pelo Possível. São Paulo: Editora, UNESP, 1998.

ALMEIDA, Jane Soares. As lutas femininas por educação, igualdade e cidadania. Revista brasileira de estudos pedagógicos, Brasília, v. 81, n. 197, p. 5-13, jan. /abr.2000.

FARIA FILHO, L.; VIDAL, D. G. História da educação no Brasil: a constituição histórica do campo e sua configuração atual. Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 7, n. 2, 2003.

FARIA FILHO, Luciano Mendes de; GONÇALVES, Irlen Antônio; VIDAL, Diana Gonçalves; PAULILO, André Luiz. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, vol. 30, n. 1, jan-abr. 2004.

FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre/RS: Artes Médicas, 1993.

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______. O currículo entre o relativismo e o universalismo. In: Revista Educação & Sociedade, n.73. Campinas, dezembro/2000. p. 47-70.

JULIA, Dominique. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista Brasileira de História da Educação. São Paulo, n. 01. Disponível em < www.sbhe.org.br/novo/rbhe/RBHE1.pdf. Acesso em: 14 jul. 2013.

SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do “Breve Século XIX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do Século XIX. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. ______. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval et al. O legado educacional do Século XX. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.

VIDAL, D. G.; FARIA FILHO, L. História da educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 37-70, 2003.

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