DISTRIBUIÇÃO DE SEMENTES DE MILHO (Zea Mays) EM FUNÇÃO DA VELOCIDADE DE SEMEADURA
Renan Miranda Viero(1), Eduardo Freitas Rodrigues(1), Leonardo da Silva Ramos(1), Paulo
Henrique Nascimento(1), Jorge Wilson Cortez(2)
Introdução
A velocidade pode influenciar a população de plantas com espigas, assim como ob-servou Garcia et. al. (2006), em que a produtividade foi afetada quando a população de plantas com espigas foi reduzida pelo incremento de velocidade. Mello et. al. (2007),
de-monstram, com seus dados que a velocidade de 5,4 km h-1 proporcionou a maior população
do milho DKB 435, comparada com a velocidade de 9,8 km h-1. Garcia et. al. (2006) e
Ku-rachi et al. (1989), afirmam que a elevação da velocidade de semeadura reduz a qualidade de distribuição das sementes. Garcia et al. (2011), explicam que com o aumento da veloci-dade de deslocamento, houve aumento da patinagem dos rodados da semeadora, capacida-de capacida-de campo efetiva, profundidacapacida-de capacida-de plantio, velocidacapacida-de periférica do disco dosador capacida-de sementes e ocorrência de duplos, e decréscimo de sementes distribuídas por metro e se-mentes expostas. Já com o aumento da velocidade de deslocamento do trator, observou-se decréscimo da patinagem dos rodados do trator.
Mello et al. (2007), observaram, na semeadura do milho, que ao aumentar a
veloci-dade de semeadura de 6,8 para 9,8 km h-1 a porcentagem de espaçamentos normais reduziu
cerca de 25 %, o que demonstra um desempenho inferior da semeadora nessa velocidade. Dias et al. (2009), estudando a cultura do milho, observaram redução do percentual de
es-paçamentos aceitáveis com a elevação da velocidade de 3,5 para 7,0 km h-1. Mahl et. al.
(2004), observaram que, a velocidade de 8,1 km h-1 proporcionou menor porcentual de
es-paçamentos normais e aumento no porcentual de eses-paçamentos múltiplos e falhos do que
as velocidades de 4,4 e 6,1 km h-1.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento inicial e a distribuição lon-gitudinal de plântulas de milho em função da velocidade de semeadura.
1Graduando em Engenharia Agronômica da UFGD, Rodovia Dourados/Itahum, km 12 - Dourados, MS.
renanmiranda34@gmail.com
² Engenheiro Agrônomo Dr. Professor da Faculdade de Ciências Agrárias, UFGD, Bolsista de Produtividade do CNPq. jorgecortez@ufgd.edu.br
Material e Métodos
O trabalho foi conduzido na FAECA – Fazenda Experimental de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD no município de Dourados, MS no ano de 2013. O local situa-se em latitude de 22 º 14 ’ S, longitude de 54 º 59 ’ W e altitude de 434 m. O clima é do tipo Cwa, segundo a classificação de Köppen. O solo da área é um Latossolo Vermelho distroférrico sob uma área de sistema de plantio direto (SPD).
O milho foi semeado utilizando uma semeadora-adubadora pneumática equipada com quatro unidades de semeadura, espaçadas entre si a 0,90 m com disco de 30 furos e 0,5 mm de diâmetro, com as engrenagens 19/28, regulada para distribuir 5,3 sementes por
metro, e as engrenagens 17/24 regulada para depositar 88 kg ha-1 de adubo 8-20-20
(Ca-S-Zn). A semeadora-adubadora foi regulada para que a semente fosse distribuída a 0,08 m de profundidade. O trator utilizado na semeadura foi um 4x2 TDA com sistema de marchas 1, 2 e 3, com A e B, mais simples e reduzida, com pneus dianteiros 14,9-21 e traseiros 18,4-34.
O delineamento utilizado foi em faixas e as velocidades avaliadas foram de 6,5;
7,6; 9,8 e 11 km h-1 com 5 repetições, obtendo-se 20 faixas. As parcelas possuíam 30 m
com quatro fileiras de milho.
Para as avaliações realizou-se a coleta de dados na área semeada, sendo 12 pontos de coleta, e em cada ponto coletaram-se os dados nas quatro fileiras de semeadura, sendo dois metros em cada fileira. A coleta constou do uso de uma trena graduada com a precisão de 0,05 m e pela contagem direta da quantidade de plântulas.
O número de dias para emergência (NDE) foi determinado contando-se o número de plantas emergidas até a estabilização em dois metros consecutivos da fileira, e calculado conforme Edmond & Drapala (1958).
O Índice de Velocidade de Emergência (IVE) foi avaliado por meio de contagens diárias de estande até a estabilização do mesmo. Os valores do IVE foram determinados pela equação (1).
Em que, N1 .... Nn = número de dias decorridos da semeadura até a respectiva
contagem; e E1... En = número de plântulas emergidas em cada dia considerado.
O estande de plantas foi calculado considerando a população em dois metros da fileira. A eficiência de semeadura, chamado de índice de emergência, foi definida como a relação entre a quantidade de sementes semeada no campo e a que foi proposta na regulagem.
A porcentagem de espaçamentos normais, falhos e duplos foi obtida de acordo com as normas da Abnt (1984) e Kurachi et al. (1989), considerando-se porcentagens de espaçamentos: "duplos" (D): <0,5 vez o Xref., normais" (A): 0,5< Xref.< 1,5, e "falhos" (F): > 1,5 o Xref, em que Xref é o valor do espaçamento de referência.
Os dados de NDE, IVE, IE e estande foram submetidos a análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
As cartas de controle foram feitas para a distribuição longitudinal de plantas a partir dos limites inferior (LIC) e superior de controle (LSC). Para estimar as linhas médias e os limites dos gráficos de controle foram usadas as equações propostas por Trindade et al. (2000).
Resultados e Discussão
O número de dias para emergência (NDE) não foi significativo (Tabela 1). Provavelmente as condições de umidade e temperatura favoreceram a emergência uniforme. O mesmo resultado se observa para o estande, o IVE e o IE. Pode-se verificar que o estande esteve abaixo do regulado, o que causou os baixos valores de IE. O fato do baixo estande está associado a problemas na semeadora, que não distribuiu a quantidade de sementes regulada, e provavelmente devido a patinagem da roda motriz da semeadora, resultado semelhante é observado por Garcia et al. (2011), que estudando as velocidades de
2,5 e 4,4 km h-1 observou um aumento da patinagem dos rodados da semeadora com o
Tabela 1. Teste de média para número de dias para emergência (NDE), estande de
plantas, índice de velocidade de emergência (IVE) e a eficiência de semeadura (IE)
Velocidades
(km h-1) (dias)NDE Estande (PL m-1) (PL diaIVE -1) (%)IE
6,5 8,88 a 3,20 a 3,70 a 32,00 a
7,6 9,36 a 3,00 a 3,45 a 30,00 a
9,8 9,10 a 3,40 a 4,04 a 34,00 a
11,0 9,00 a 3,10 a 3,80 a 31,00 a
CV (%) 5,4 41,3 48,6 41,3
Medias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de tukey a 5% de probabilidade.; C.V.: Coeficiente de Variação; PL: plantas.
O controle estatístico do processo é aplicado para verificar se um processo está sob
controle. Para a velocidade de 6,5 km h-1 (Figura 1), para os espaçamentos normais e
falhos, o processo estava sob controle, no entanto para o espaçamento duplo apresentou um ponto fora dos limites de controle, o que garante que há causas especiais de variação que precisam ser identificadas, para que o processo se mantenha sob controle. É provável que o disco utilizado não fosse o melhor indicado para esse tamanho de semente e velocidade, pois o mesmo pode ter permitido a passagem de mais de uma semente pelo mesmo orifício de uma só vez, o que veio a indicar que o processo não estava sob controle.
A falta de utilização de grafite pode ter provocado maior atrito entre as sementes o que dificultou a retirada da segunda semente pelo mecanismo raspador, possibilitando a deposição de mais de uma semente no mesmo local. Esse atrito gerado pela falta de utilização de grafite pode também ter causando um menor percentual de germinação das sementes de milho. O mesmo resultado é observado nas cartas de controle das velocidades
de 7,6 (Figura 2) e 9,8 km h-1(Figura 3). Na Velocidade de 11 km h-1 (Figura 4) o processo
se mostrou sob controle em todos os espaçamentos.
Obse rvaçõe s E sp aç am en to n or m al ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 125 100 75 50 25 0 -25 -50 _ X=45,2 UCL=121,9 LCL=-31,5 Observações E sp aç am en to fa lh o (% ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 150 100 50 0 -50 _ X=49.7 UCL=134.6 LCL=-35.1 Observações E Sp aç am en to d up lo ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 30 20 10 0 -10 _ X=5,05 UCL=22,32 LCL=-12,23 1
Figura 1. Cartas de controle para os espaçamentos normais, falhos e duplos na velocidade
Obse rvações E sp aç m en to n or m al ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 150 100 50 0 -50 _ X=45,5 UCL=151,7 LCL=-60,7 Obs e rvaçõe s E sp aç am en to fa lh o (% ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 150 100 50 0 -50 _ X=44,9 UCL=140,0 LCL=-50,3 Obse rvações E sp aç am en to d up lo ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 50 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 _ X=9,64 UCL=43,08 LCL=-23,80 1
Figura 2. Cartas de controle para os espaçamentos normais, falhos e duplos na velocidade
de 7,6 km h-1. Obse rvações E sp aç am en to n or m al ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 100 75 50 25 0 _ X=42,9 UCL=101,3 LCL=-15,6 Obse rvaçõe s E sp aç am en to fa lh o (% ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 120 100 80 60 40 20 0 _ X=51,6 UCL=111,5 LCL=-8,3 Obse rvaçõe s E sp aç am en to d up lo ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 30 20 10 0 -10 _ X=5,54 UCL=24,74 LCL=-13,66 1
Figura 3. Cartas de controle para os espaçamentos normais, falhos e duplos na velocidade
de 9,8 km h-1. Obse rvaçõe s E sp aç am en to n or m al ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 120 90 60 30 0 _ X=50,5 UCL=121,5 LCL=-20,6 Obse rvaçõe s E sp aç am en to fa lh o (% ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 120 90 60 30 0 _ X=42,4 UCL=103,7 LCL=-18,9 Obs ervaçõe s E sp aç am e nt o d up lo ( % ) 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 _ X=7,15 UCL=38,49 LCL=-24,20
Figura 4. Cartas de controle para os espaçamentos normais, falhos e duplos na velocidade
de 11 km h-1.
Conclusões
Não houve diferença na eficiência de semeadura, no número de dias para emergência, no estande de plantas e no índice de velocidade de emergência com o aumento da velocidade de deslocamento da semeadora-adubadora.
Os espaçamentos aceitáveis estiveram sob controle mesmo com o aumento da velocidade, e somente os espaçamentos duplos apresentaram fora de controle, com um ponto fora dos limites de especificação.
Referências
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