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A ESTRUTURA EMPRESARIAL DA ÁREA METROPOLITANA DO PORTO

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A ESTRUTURA EMPRESARIAL DA ÁREA

METROPOLITANA DO PORTO

A ESTRUTURA EMPRESARIAL DA ÁREA

METROPOLITANA DO PORTO

CARLOS OLIVEIRA*

Constitui objectivo do presente texto reflectir sobre as dinâmicas recentes de transformação e recomposição do tecido produtivo da Área Metropolitana do Porto. É geralmente aceite que o peso demográfico de uma aglomeração urbana não constitui, por si só, um factor determinante da sua competitividade, na medida em que o potencial de mercado garantido pela presença de uma massa demográfica significativa é, por vezes, aproveitado por bases produtivas externas.

A presença de competências profissionais múltiplas, a manutenção de elevados padrões de qualificação profissional, a cooperação institucional (nomeadamente em domínios como a investigação, o desenvolvimento e a formação avançada), o grau de diversificação dos mercados de trabalho, a circulação formal e informal de informação e os efeitos de cooperação e emulação constituem hoje os factores preponderantes na avaliação do grau de inovação de um meio urbano.

O estudo da caracterização da estrutura empresarial constitui, neste sentido, um elemento valioso para a observação dos processos de transformação em curso no tecido produtivo da AMP.

Os dados estatísticos utilizados na elaboração deste texto, são obtidos a partir da Base Portuguesa de Estabelecimentos e Empresas (BELEM) do Instituto Nacional de Estatística, reportando-se ao ano de 1994.

Complementarmente, o estudo dos aspectos evolutivos do tecido industrial terá por base o ficheiro dos Quadros de Pessoal do Departamento de Estatística do Ministério do Emprego e Segurança Social, (MESS), relativo aos anos de 1985 e 1991.

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ESTRUTURA SECTORIAL DO TECIDO

PRODUTIVO METROPOLITANO

As dinâmicas de transformação do tecido produtivo das Áreas Metropolitanas têm sido marcadas, em anos recentes e em particular nos países mais desenvolvidos, por intensos processos de reestruturação que passam, em grande medida, por alterações quanto ao perfil de especialização sectorial, cada vez mais caracterizado por uma acentuada terciarização.

No caso específico da AMP, este processo é reconhecidamente tido como “tardio”, daí que, como é possível constatar no Quadro 1, o peso das empresas pertencentes ao ramo das indústrias transformadoras seja ainda significativo, sobretudo quando comparado com o

observado em outras áreas metropolitanas europeias de dimensão similar (cf. Planum, 1991).

De um total de 25 740 empresas avaliadas (o agrupamento de actividades CAE 1, que agrega a agricultura, silvicultura, caça e pesca, não foi considerado neste estudo, em virtude da sua reduzida representatividade na AMP e do insuficiente grau de cobertura da base de dados utilizada), as indústrias transformadoras e os serviços - sectores responsáveis por mais de 80% do número de empresas da AMP - constituem as áreas de actividade sobre as quais este texto incidirá as suas atenções de forma mais específica e sistematizada.

Quadro I - Distribuição Sectorial das Actividades na AMP

Fonte: INE

INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS

A estrutura sectorial da AMP apresenta, relativamente às indústrias transformadoras, um grau de diversificação relativamente reduzido, marcado pelo predomínio dos sectores ditos “tradicionais”. Com efeito, os têxteis, o vestuário e o calçado, as indústrias da madeira, a alimentação e as bebidas, representam em conjunto cerca de metade do número total de empresas industriais (cf. Quadro 2), situação que traduz o elevado grau de dependência da AMP face a sectores submetidos a uma intensa concorrência internacional - movida cada vez mais por países exteriores à União

Europeia - e cujo grau de “maturidade” constitui um factor inibidor do seu potencial de crescimento nos mercados europeus.

Desagregando os dados do INE por classes da CAE a três dígitos, verifica-se que entre as indústrias transformadoras predominam por ordem decrescente a fabricação de artigos do vestuário (CAE 322), os produtos metálicos (CAE 381), os têxteis (CAE 321), a alimentação (CAE 311/312), as máquinas não-eléctricas (CAE 382), as artes gráficas e edição de publicações (CAE 342), a fabricação de mobiliário em madeira

Perfil de Especialização Sectorial

Actividade Código Nº de % face

CAE Empresas ao total

Indústrias Extractivas 2 46 0.2

Indústrias Transformadoras 3 5 640 21.9

Electricidade, Gás e Água 4 16 0.1

Construção e Obras Públicas 5 2 243 8.7

Serviços 6 a 9 17 795 69.1

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(CAE 332), as indústrias da madeira, com excepção do mobiliário (CAE 331) e as máquinas eléctricas (CAE 383). Em conjunto, estas classes representam mais de 65% das empresas industriais da AMP.

A desagregação do número de empresas segundo o escalão de pessoal ao serviço, permite concluir que o predomínio das pequenas e médias empresas é visível, em maior ou menor escala, em todos os ramos de actividade.

Verifica-se, relativamente a estas classes, que é no vestuário e no sector têxtil que encontramos empresas apresentando uma dimensão média mais elevada, em termos de pessoal ao serviço.

A proporção de empresas com menos de dez trabalhadores ao serviço é, no que respeita a estas classes, igual ou inferior a 40%, contra valores superiores a 50% na generalidade das restantes actividades (nas indústrias gráficas, edições e publicações, esta taxa ultrapassa mesmo os 60%). Por outro lado, a percentagem de empresas com 100 ou mais trabalhadores é, para a maioria das actividades, apenas residual, com excepção das indústrias alimentar, têxtil e do vestuário, onde se observam valores oscilando entre os 7,2% e os 11,8%. Nestes três ramos de actividades concentram-se 174 empresas com pelo menos 100 trabalhadores, o que representa cerca de metade do total.

Quadro 2 - Distribuição do número de empresas por Escalões de Pessoal na AMP

Fonte: INE

Desagregando o número de empresas industriais em função dos escalões de vol-ume de vendas (cf. Quadro 3), uma vez mais encontramos uma estrutura empresarial fortemente pulverizada.

Entre as classes mais representativas, é visível a elevada fragmentação empresarial nos sectores do mobiliário (quase 90% das empresas têm um volume de vendas inferior a 100 000 contos, enquanto que em nenhum caso esse valor ultrapassa 1 000 000 de contos), dos produtos metálicos e das máquinas não-eléctricas. No outro extremo, os ramos da alimentação, bebidas e material eléctrico apresentam, relativamente a este indicador, uma maior diversidade de empresas.

Para além dos sectores referidos, outras actividades industriais com algum peso na estrutura empresarial da AMP incluem a fabricação de artigos de matérias plásticas (CAE 356), de produtos químicos não-industriais (CAE 352), o calçado (CAE 324) e diversos subsectores dos minerais não metálicos (CAE 36).

A par destes sectores, verifica-se uma menor preverifica-sença das indústrias metalúrgicas de base (CAE 37), da fabricação de produtos químicos industriais (CAE 351) de instrumentos profissionais e científicos e de aparelhos de medida (CAE 385).

Escalão de Pessoal TOTAL 0-9 10-99 100-499 >500 Alimentação 245 179 33 2 459 Bebidas 28 24 12 1 65 Têxteis 182 227 56 8 473 Vestuário 332 423 74 1 830 Calçado/Couro 85 97 12 4 198 Artigos em Madeira 141 87 5 1 234 Mobiliário 201 141 3 345 Papel 34 52 6 92 Artes Gráficas/Edição 228 137 10 1 376 Indústrias Químicas/Plásticos 191 176 19 386 Minerais não-metálicos 114 66 4 2 186 Metalurgia de Base 54 47 9 1 111 Produtos Metálicos 379 303 19 1 702 Máquinas não-eléctricas 234 151 12 397 Material eléctrico 107 81 11 3 202 Material de Transporte 51 49 7 1 108 Instrumentos Profissionais/científicos 40 19 1 60 Outras indústrias transformadoras 284 126 6 416 total 2 930 2 385 299 26 5 640

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Quadro 3 - Distribuição do número de empresas por Escalões de Volume de Vendas na AMP

Fonte: INE

Distribuição Espacial e Modelo de Desenvolvimento Industrial

A distribuição espacial das actividades industriais é relativamente diversificada, evidenciando a presença de sectores que se apresentam fortemente concentrados geograficamente (o caso das indústrias gráficas e de publicações, maioritariamente localizadadas no Porto, constitui um exemplo paradigmático), a par de sectores que se caracterizam por uma certa dispersão territorial, destacando-se entre estes o têxtil, que mantém uma presença significativa na generalidade dos municípios (cf. Quadro 4).

Entre estes dois extremos, encon-tramos actividades que se encontram localizadadas num número restrito de concelhos, sendo de destacar os casos dos produtos metálicos e do material eléctrico, sectores que se encontram distribuídos sobretudo pelos quatro concelhos mais representativos do ponto de vista industrial (V.N. de Gaia, Porto, Matosinhos e Maia). Entre as “outras indústrias transformadoras” (CAE 39), o peso de Gondomar fica a dever-se à indústria da ourivesaria, de grandes tradições naquele concelho.

Quadro 4 - Distribuição Espacial das Empresas Industriais na AMP - 1994

Fonte: INE

Escalões de Volumes de Vendas (milhares de contos) TOTAL <100 100/500 500/1000 1000/ 2500/ 5000/ >10000 2500 5000 10000 Alimentação 337 65 23 14 10 6 4 459 Bebidas 20 12 11 13 6 1 2 65 Têxteis 281 122 35 28 4 3 473 Vestuário 637 148 31 13 1 830 Calçado/Couro 135 41 10 8 1 2 1 198 Artigos em Madeira 183 40 6 1 1 3 234 Mobiliário 304 38 3 345 Papel 60 23 6 3 92 Artes Gráficas/Edição 311 49 7 4 3 2 376 Indústrias Químicas/Plásticos 242 96 22 20 4 2 386 Minerais não-metálicos 143 27 9 3 3 1 186 Metalurgia de Base 79 17 7 6 1 1 111 Produtos Metálicos 543 135 13 8 3 702 Máquinas não-Eléctricas 279 87 15 16 397 Material eléctrico 148 35 5 8 2 2 2 202 Material de Transporte 70 23 10 4 1 108 Instrumentos Profissionais/científicos 52 6 1 1 60 Outras indústrias transformadoras 342 64 7 3 416 total 4 166 1 028 221 153 38 24 10 5 640

Concelho Classificação de Actividades Económicas (CAE)

31 32 33 34 35 36 37 38 39 total Espinho 10 33 23 18 18 1 1 20 6 130 Gondomar 50 135 129 17 32 20 15 137 176 711 Maia 40 178 49 35 70 29 13 179 22 615 Matosinhos 93 182 41 35 44 15 18 226 20 674 Porto 125 406 77 245 95 39 25 378 103 1 493 Póvoa de Varzim 24 108 25 9 3 13 0 37 7 226 Valongo 35 81 48 12 19 14 5 91 18 323 Vila do Conde 37 102 24 21 19 4 3 69 4 283 V.N. de Gaia 110 276 163 76 86 51 31 332 60 1 185 AMP 524 1 501 579 468 386 186 111 1 469 416 5 640

Código CAE: 31 - Alimentação e bebidas, 32 - Têxteis, vestuário e calçado/couro; 33 - Madeira/mobiliário; 34 - Papel, artes gráficas e edição; 35 - Produtos químicos, plásticos e borracha; 36 - Minerais não-metálicos; 37 - Metalurgia de base; 38 - Produtos metálico, máquinas, equipamentos e material de transporte; 39 - Outras indústrias transformadoras

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A reduzida implantação de actividades produtoras de bens intermédios e de sectores onde a presença do capital externo é mais significativa, se por um lado reflecte as especificidades do modelo de desenvolvimento industrial prevalecente na AMP - que se distancia claramente do padrão de especialização em evidência na região de Lisboa-Setúbal, mais directamente relacionado com orientações de política industrial adoptadas a partir dos anos 50 - surge por outro lado como reflexo do seu posicionamento face ao território definido por Região Metropolitana do Porto.

Esta área relativamente vasta, que se estende para norte até Braga e para sul até Aveiro, definida como um espaço “das articulações agricultura/indústria” (cf. Reis, 1992), conheceu um processo de industrialização cuja natureza em tudo difere da observada nos principais pólos de desenvolvimento industrial, durante o período de intenso crescimento económico do pós-guerra.

À lógica da mobilidade das grandes empresas, o modelo de “industrialização difusa”, prevalecente nessa faixa noroeste de Portugal Continental, contrapõe um padrão territorial assente na proximidade entre o factor trabalho e a localização das unidades produtivas. Esta proximidade transforma-se frequentemente em sobreposição de uma

grande diversidade de funções, nomeadamente a habitação, o trabalho ao domicílio, a agricultura de subsistência, a produção artesanal ou mesmo uma unidade empresarial de pequenas dimensões.

A inexistência de rupturas significativas entre o modelo de industria-lização característico da “conurbação” centrada na cidade do Porto, e as formas de provisão habitacional e espacialização da estrutura produtiva prevalecentes em grande parte da AMP - em particular nos concelhos geograficamente mais excêntricos - reflecte-se no carácter tradicional do perfil reflecte-sectorial acima descrito.

Os elementos disponíveis relativos ao período compreendido entre 1985 e 1991, fornecidos pelo Ministério do Emprego e Segurança Social (Quadros de Pessoal) sugerem que este modelo, longe de ter conhecido um apagamento em anos recentes, terá mesmo reforçado a sua implantação, em particular nos concelhos da periferia, onde se observou um incremento bastante significativo do número de empresas pertencentes ao agrupamento de actividades CAE 32 (têxteis, vestuário, calçado e couros), facto que é significativo sobretudo se atendermos a que este sector revelou-se o mais dinâmico, durante o período em análise, entre as indústrias transformadoras (cf. Quadro 5).

Quadro 5 - Variação do Número de Empresas por Concelho - 1985/1991

Fonte: INE

Concelho Classificação de Actividades Económicas (CAE) Total Var.% 31 32 33 34 35 36 37 38 39 85/91 Espinho 4 - 2 11 - 1 4 - 3 8 - 3 18 15,9 Gondomar 5 103 14 9 - 3 6 7 37 136 314 47,6 Maia 9 56 3 10 8 8 4 47 - 1 144 38,7 Matosinhos 8 90 5 11 2 - 1 3 34 152 37,3 Porto 21 - 24 2 - 10 - 13 1 - 23 -1,7 Póvoa de Varzim 2 76 15 1 3 14 111 115,6 Valongo 6 51 12 2 5 - 3 5 42 9 129 48,7 Vila do Conde 12 56 13 10 7 - 2 24 4 124 86,3 V.N. de Gaia 5 80 34 2 18 17 11 60 20 247 26,4 AMP 51 531 83 46 31 12 31 266 165 1 216 28,0 Os dados do Departamento de Estatística do MESS permitem detectar a presença de uma oposição entre o rápido crescimento do número de empresas industriais nos concelhos mais periféricos localizados a Norte do Douro (Valongo, Gondomar, Póvoa de Varzim, Vila do Conde), e os valores comparativamente mais reduzidos observados nos municípios que apresentam uma estrutura industrial de formação mais antiga, sendo que na cidade do Porto essa variação é mesmo negativa.

É à sobrevivência de um regime de acumulação que pressupõe uma certa continuidade entre o “rural” e o “urbano”, viabilizada pelo recurso à construção de habitação própria unifamiliar e pela implantação de sectores industriais compatíveis com uma intensa divisão social do trabalho e com uma forte pulverização da estrutura empresarial, que devemos a manutenção na AMP de uma elevada dispersão territorial das indústrias transformadoras.

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Contrariamente ao observado nas áreas metropolitanas “tradicionais”, os processos de relocalização industrial decorrentes de uma intensa selectividade ao nível da competição pelo uso do solo têm,

SERVIÇOS

A nota mais saliente a evidenciar relativamente ao sector terciário, prende-se com a preponderância do concelho do Porto neste ramo de actividades (cf. Quadro 6). No entanto, a clivagem entre o núcleo central metropolitano e os concelhos mais periféricos é fundamentalmente de natureza qualitativa. Ainda que os elementos estatísticos disponíveis não apresentem, relativamente a alguns ramos do terciário, uma fiabilidade comparável à observada para as actividades industriais, é possível constatar a oposição entre, por um lado, a concentração no núcleo central metropolitano das classes que incluem os chamados “serviços avançados” e, por outro lado, a dispersão pela periferia de serviços mais rotineiros e banalizados, orientados tanto para as empresas como para o consumo final, sobrepondo-se duas lógicas distintas de localização terciária - uma de carácter centrípeto e outra de carácter centrífugo.

Esta terciarização em dois sentidos (cf. Domingues, 1992) é simultaneamente reflexo da concentração territorial dos factores que potenciam a inovação, e consequência do processo de evolução de uma malha urbana e industrial caracterizada por apresentar elevados níveis de dispersão.

Ainda que os processos de difusão das actividades terciárias decorram frequentemente de lógicas de expansão de serviços com sede no núcleo metropolitano, tal não significa, no entanto, que o modelo christalleriano constitua, na AMP, a única base teórica explicativa da distribuição de actividades.

A presença, no interior dos seus limites administrativos, de processos de desenvolvimento industrial do tipo endógeno é potencialmente geradora de uma procura de serviços prestados às empresas geralmente associada a localizações geograficamente mais próximas da actividade industrial,

Dinâmica Centrífuga de Distribuição de Actividades

na AMP, uma expressão relativamente limitada (cf. Breda Vazquez, 1993) e circunscrita fundamentalmente a zonas periféricas, mas contíguas à Cidade do Porto.

colidindo assim com as lógicas hierar-quizadas de estruturação territorial, predominantes em aglomerações urbanas mais tradicionais.

No entanto, e em consequência da fragilidade dos sistemas produtivos locais, a desadequação da teoria dos lugares centrais decorre, em parte, da implantação de instituições de carácter não-mercantil, nomeadamente centros tecnológicos ou de formação profissional, cujo potencial de atractividade de actividades inovadoras está ainda por explorar.

A ruptura em relação ao modelo reticular verticalizado é visível particular-mente no concelho de Matosinhos, onde uma forte especialização em actividades de transporte, armazenagem e comunicações (CAE 7), sectores cuja implantação decorre do posicionamento da AMP como “interface” de ligação internacional de um tecido produtivo regional claramente orientado para o comércio externo (Domingues, 1993), advém da concentração neste concelho das principais infraestruturas de transporte e de comércio internacional.

Nos dois concelhos que constituem estâncias de veraneio tradicionais do litoral Norte de Portugal Continental - Espinho e Póvoa de Varzim - a especialização relativa no agrupamento de actividades CAE 63 (restaurantes, hotéis, cafés e similares) constitui um exemplo igualmente signifi-cativo desta ruptura.

O surgimento recente de estruturas de grande dimensão (nomeadamente hipermer-cados e centros comerciais), orientadas para o consumo final e localizadas, por razões que se prendem com a disponibilidade de espaço, preferencialmente em zonas periféricas mas próximas da Cidade do Porto (designadamente nos concelhos de V.N. de Gaia e Matosinhos), contribuiu igualmente para a alteração dos padrões convencionais de localização das actividades, ainda que esta realidade não se reflita nas estatísticas apresentadas, em virtude de estas respeitarem ao universo das empresas e não dos estabelecimentos.

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Quadro 6 - Distribuição Espacial das Empresas de Serviços na AMP- 1994

Fonte: INE

Concelho Classificação de Actividades Económicas (CAE) Total 61 62 63 7 81 82 83 9 Espinho 96 168 74 16 2 2 18 59 435 Gondomar 321 303 121 78 2 2 75 112 1 014 Maia 383 268 110 98 8 5 110 125 1 107 Matosinhos 619 558 304 329 12 11 268 623 2 724 Porto 2 354 2 608 1 324 415 122 71 1 147 720 8 761 Póvoa de Varzim 126 250 104 27 5 3 40 40 595 Valongo 141 161 85 35 1 2 38 50 513 Vila do Conde 114 147 64 25 2 31 58 441 V.N. de Gaia 603 561 349 149 5 20 242 276 2 205 AMP 4 757 5 024 2 535 1 172 159 116 1 969 2 063 17 795 Dinâmica Centrípeta de Distribuição de Actividades

Estes exemplos não obstam, no entanto, a que seja na Cidade do Porto, e em particular nas zonas da Baixa e da Boavista, que se concentram os ramos mais direccionais do terciário, aqueles que exigem padrões mais elevados de qualificação profissional e uma maior inovação ao nível dos processos e das técnicas.

Embora a maioria dos serviços mais sofisticados se concentre na classe 8 da CAE, importa no entanto referir que, neste agrupamento, nem todas as actividades são

necessariamente “avançadas”, ou potencial-mente indutoras de inovação. É o caso das operações sobre imóveis (CAE 831) e de alguns serviços prestados às empresas mais rotineiros, agrupados na classe CAE 832 (ainda que não esgotando a ampla variedade de serviços nela incluídos). A este facto deve-se o elevado peso, nos concelhos periféricos, do agrupamento de actividades CAE 83, comparativamente ao observado para as classes CAE 81 (bancos e instituições financeiras) e CAE 82 (seguros).

Código CAE: 61 - Comércio por grosso; 62 - Comércio a retalho; 63 - Restaurantes e hotéis; 7 - Transportes, armazenagem e comunicações; 81 - Bancos/instituições financeiras; 82 - Seguros; 83 - Outros serviços prestados às empresas; 9 - Serviços prestados à colectividade, serviços sociais e pessoais

O facto de, entre os concelhos exteriores à cidade do Porto, apenas em Matosinhos e V.N. de Gaia estes serviços registarem alguma implantação, confirma que é no núcleo central metropolitano da AMP (incluindo aqui as áreas de urbanização mais consolidada destes dois concelhos), que se verifica a mais elevada concentração dos factores que induzem a inovação. Aqui se

localiza a maioria das instituições de formação média e superior da Região Norte, os estabelecimentos orientados para o turismo de negócios, os equipamentos destinados a acolher feiras e congressos, as sedes dos principais grupos empresariais nortenhos e das associações e fundações de maior relevância no âmbito económico, científico e cultural.

CONCLUSÕES

Os dados relativos a 1994 indiciam o facto de a estrutura empresarial da AMP não apresentar, aparentemente, alterações substanciais face ao diagnóstico efectuado em estudos anteriores (cf. Cardoso, 1986 e 1987; Figueiredo, 1991), que apontam designada-mente para a existência de uma elevada

capacidade de iniciativa (expressa no número significativo de novas empresas entretanto surgidas), para uma concentração em sectores ditos “tradicionais”, para a preponderância das unidades de pequena e média dimensão, para a observação, no interior da AMP, de processos de “industrialização difusa”,

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comuns aos verificados na região envolvente e ainda para a fragilidade da implantação de serviços de alto valor acrescentado.

Relativamente ao tecido industrial, o núcleo central constituído pelos concelhos do Porto, Maia, Matosinhos e V.N. de Gaia - os quatro municípios que em 1988 agregavam 84% do VAB industrial (cf. Planum et al., 1993) - mantém uma posição destacada, pese embora o maior crescimento do número de empresas registado nos concelhos mais periféricos, com especial incidência nos sectores que apresentam já uma forte especialização relativa a nível metropolitano. A exposição acrescida à concorrência internacional, as alterações radicais quanto às condições da procura, a afirmação de um novo paradigma tecnológico e as orientações da política macroeconómica, cada vez mais condicionadas pelo processo de convergência com as economias europeias desenvolvidas, representam um desafio acrescido para uma Área Metropolitana que constitui o centro de uma região marcadamente industrializada e que denota uma forte especialização relativa

em sectores que se caracterizam por possuir uma significativa componente exportadora.

Porque o processo de terciarização do tecido empresarial - comum à generalidade das aglomerações urbanas - não é revelador, no caso específico da AMP, de alterações substanciais quanto à presença de serviços intensivos em informação, os elementos disponíveis apontam para a conservação de debilidades estruturais, não apenas relativamente à sua capacidade direccional, como também no respeitante ao processo de recomposição do tecido industrial regional. À reduzida capacidade de solicitação, por parte deste tecido industrial, de serviços “de ponta” soma-se o débil posicionamento da AMP em relação aos factores indutores de uma maior diversificação e qualificação do perfil industrial e terciário.

Verifica-se, em particular, um significativo défice de liderança em termos financeiros, culturais, científicos e adminis-trativos, factor acentuado pelo crescente efeito de polarização exercido por Lisboa e pela sua Área Metropolitana.

Referências Bibliográficas:

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funcionalidade das àreas urbanas: um enquadramento global. Comunicação apresentada no seminário sobre “consolidação da rede urbana nacional”, Lisboa (fotocópia).

CARDOSO, Abílio (1986), Desenvolvimento urbano, uso do solo e inovação: algumas considerações

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CARDOSO, Abílio (1987), Área Metropoitana do Porto - Problemas e debilidades, Comissão de

Coordenação da Região Norte. Porto, fotocópia

DOMINGUES, Álvaro (1992), Serviços à produção e centralidade urbana - Da concentração metropolitana

à desconcentração periférica. in Sociedade e Território nº 17, Lisboa, pp. 115-120.

DOMINGUES, Álvaro (1993), Serviços às empresas - Concentração metropolitana e desconcentração

periférica (o contraponto entre a Área Metropolitana do Porto e as áreas periféricas de industrialização difusa do Noroeste Atlântico de Portugal Continental), dissetação de doutoramento, FLUP, Porto, 1993.

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PLANUM et. al. (1993), Estudo sócio-económico da Área Metropolitana do Porto, Porto.

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Referências

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