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ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho

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ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 037.2011.000.844-0/001 RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho.

AGRAVANTE: Ministério Público do Estado da Paraíba

AGRAVADO: Estado da Paraíba, representado por seu Procurador, Sebastião Fiorentino de Lucena

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO —

Agravo de Instrumento — Ação Civil Pública — Tutela de interesses de natureza indisponível — Direito à saúde e à vida — Solicitação de medicamento — Silêncio do Estado — Paciente hipossuficiente — Patologia demonstrada — Doença não mencionada em ato ministerial — Irrelevância — Entendimento consolidado dos Tribunais Superiores — Provimento monocrático do Agravo, art. 557, § -IQ-A do CPC.

4 0' - "(...)Assim sendo, unta simples restrição contida em

norma de inferior hierarquia (Portaria/MS n.° 863/02) não pode fazer tábula rasa do direito constitucional à saúde e à vida, especialmente, .diante da prova concreta trazida aos autos pela impetrante-e à mingua de qualquer comprovação por parte do recorrido que venha a ilidir os fUndamentos lançados no único laudo médico anexado aos autos. (STJ - RMS 17903/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIR4, SEGUNDA TURMA, julgado em 10.08.2004. DJ 20.09.2004 p. 215).

Vistos etc.

O Ministério Público da Paraíba ajuizou Ação Civil Pública em face do Estado da Paraíba, feito que tramita na 5-4 Vara da Comarca de Souza, em substituição processual a NEUSA COURA DE MORAIS, aduzindo que esta precisa fazer uso da medicação "NEXIUM de 20mg", cujo princípio ativo é o ESOMEPRAZOL MAGNÉSIO, 02 caixas por mês, por padecer de refluxo. Diz ainda o membro do Parquet que a paciente hipossuficiente, pois sua aposentadoria é apenas R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), enquanto a referida medicação custa cerca de R$ 184,00 (cento e quarenta e oito reais).

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antecipação de tutela formulado pelo órgão ministerial por entender que não há comprovação da negativa do estado em fornecer a medicação, tampouco o programa do governo em que o medicamento esteja inserido. Arremata ainda a magistrada de primeiro grau que não há nos autos informação de que a paciente corra risco de morte, assim, diante do princípio do livre convencimento motivado, indeferiu o pleito autoral.

Requer a concessão da tutela antecipada requerida, bem como o provimento do presente Agravo, a fim de condenar o agravado a fornecer à paciente, NEUSA COURA DE MORAIS, de forma adequada e contínua o medicamento "NEXIUM de 20mg" (principio ativo: ESOMEPRAZOL MAGNÉSIO), sendo 02 caixas por mês, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), a ser recolhida em favor do Fundo Especial de Direitos Difusos, sem prejuízo das contas da Receita Estadual.

É o relatório. Decido.

A dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil que é (artigo 1 2, III, da Constituição Federal), encontra sua expressão máxima no direito à vida, consagrado no "caput" do art. 5 2 da Lei Maior, que se irradia, conseqüentemente, a vários outros dispositivos constitucionais, dentre eles o artigo 196, que preceitua:

"A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".

Sendo assim, se o médico particular, profissional • responsável pela saúde dos indivíduo, prescreve determinado remédio na receita, não há de se questionar se o medicamento poderia ser substituído por outro, ainda que genérico, pois em primeiro plano vem a saúde do cidadão, sendo o médico o profissional qualificado para especificar se essa ou aquela medicação é adequada ao caso.

Vislumbra-se, pois, no caso em tela, que o "núcleo essencial" do direito da autora será nitidamente comprometido se for negado o fornecimento do medicamento ora pretendido. Ademais, não é preciso que o paciente esteja "à beira da morte" para ter direito, ao amparo do Estado, pois a Constituição não só garante o direito à vida, como também à vida digna.

Entende ainda a MM Juíza a quo que, por não existir nos autos negativa expressa do Estado quanto ao fornecimento da medicação pleiteada, não poderia o Ministério Público ter ajuizado a presente Ação Civil Pública. Ora, o direito à vida e a - saúde:de que tratam os arts. 5 2, caput e 196 da Constituição Federal, tem natureza de interesse indisponível, cabendo assim a tutela do Ministério Público na defesa destes, ainda que se trate do direito de um único ?\)

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indivíduo, como é o caso dos autos. Sendo assim, o Ministério Público tem a obrigação de atuar em casos como o dos autos, em que se defende um direito/interesse indisponível da pessoa.

Outrossim, como se vê dos documentos de fls. 36/37, a paciente, em 08/02/2011, ao solicitar providências da Promotoria de Justiça da cidade de Sousa, deu início à Reclamação n 2 34/2011 e, através desta, foram enviados Ofícios n 2 23 e 24/2011 ao Secretário de Saúde, via Gerência de Saúde daquele Município, para o fornecimento do medicamento no prazo de 48 horas.

Observe-se, ainda, que tais ofícios continham a advertência de que o não cumprimento da requisição implicaria no ajuizamento da Ação Civil Pública. Diante do silêncio do Estado, outra saída não houve senão a ajuizamento da ação competente.

Possuindo o Ente Público o dever constitucional de proporcionar assistência médica ao cidadão que a necessite, não pode se esquivar de sua obrigação, argumentando não estar o medicamento pretendido pelo autor entre aqueles disponíveis junto à Secretaria de Saúde, ou pelo seu elevado preço. Assim, o atestado médico consiste em documento hábil, com presunção de veracidade para relatar situação de saúde, de modo que, para contestá-lo, não cabe a parte apenas impugná-lo verbalmente, mas trazer provas que demonstrem a não veracidade do seu conteúdo.

O Superior Tribunal de Justiça já se deparou com a questão aqui tratada, acabando por proferir as seguintes decisões:

"CONSTITUCIONAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA E À SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAÇÃO. HEPATITE C. RESTRIÇÃO. PORTARIA/MS N." 863/02."

I. A ordem constitucional vigente, em seu art. 196, consagra o direito à saúde como dever do Estado, que deverei, por meio de políticas sociais e econômicas. propiciar aos necessitados não "qualquer tratamento", mas o tratamento mais adequado eeficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e menor sofrimento.

2. O medicamento reclamado pela impetrante nesta sede recursed não objetiva permitir-lhe, apenas, uma maior comodidade em seu tratamento. O laudo médico, colacionado aos autos, sinaliza para uma resposta curativa e terapêutica "comprovadaniente mais eficaz", além de propiciar ao paciente uma redução dos efeitos colaterais. A substituição do medicamento anteriormente utilizado não representa mero capricho da impetrante. mas se apresenta como condição de sobrevivência diante da ineficácia da terapêutica tradicional.

3. Assim sendo, uma simples restrição contida em norma de inferior hierarquia (Portaria/MS il. 863/02) não pode

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especialmente, diante da prova concreta trazido aos autos pela impetrante e à mingua de _qualquer comprovação por parte do recorrido que venha a ilidir os fundamentos

lançados no único laudo médico anexado aos autos. 4. As normas burocráticas não podem ser erguidas como óbice à obtenção de tratamento adequado e digno por parte do cidadão carente, em especial, quando comprovado que a medicação anteriormente aplicada não surte o efeito desejado, apresentando o paciente agravamento em seu quadro clínico. 5. Recurso provido". (RMS 17903/MG. Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA. julgado em

10.08.2004, DJ 20.09.2004 p. 215).

Desta forma, queda-se claro o dever jurídico do Poder Público, consubstanciado na Carta Magna. Portanto, não se pode chegar à

di

outra conclusão senão a de que o medicamento pleiteado pelo agravante para a paciente, NEUSA COURA DE MORAIS insere-se no núcleo básico do direito à saúde, dado que seu fim precípuo é preservar o direito à vida.

Ante o exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, na forma que me faculta o art. 557, § 1 2-A do Código de Processo Civil,

por estar a decisão recorrida em manifesto confronto com a jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores.

P. I.

João Pessoa, 25 de maio de 2011.

P

L- AL

Des. Gené o Gomes Peiir4 Filho

Relator

('

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Coordemadofia Judiciária

Relittrade

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