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A NECESSÁRIA REFORMA DO PROCESSO CIVIL EXECUTIVO

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Academic year: 2021

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A NECESSÁRIA REFORMA DO PROCESSO CIVIL EXECUTIVO

A reforma da acção executiva, através do DL nº 38/2003, de 8/3, visando enfrentar a notória ineficácia do sistema processual executivo, consagrou um novo paradigma de execução, inspirado no regime francês, corporizado na figura do hussier de justice.

Este novo paradigma assenta num esquema de execução desjudicializada, em que a direcção do processo passou para o agente de execução, sem quebra da reserva jurisdicional e do controle judicial, mas com a dispensa de inúmeras intervenções que cabiam ao juiz.

A posição do agente de execução na acção executiva implicou o redimensionar das competências antes afectas ao exequente, ao juiz e à secretaria judicial.

Além de outras razões (v. g., logísticas) que impediram que a reforma de 2003 vingasse, o grande problema esteve no recrutamento daqueles que assumiram as funções de solicitador de execução.

Havia uma questão de perfil e de estatuto, condição para o solicitador de execução assumir a direcção do processo executivo.

Havia ainda a questão da preparação técnica para o exercício de todas as competências conferidas ao agente de execução, seja na vertente procedimental, seja nos conhecimentos jurídicos (de direito substantivo e adjectivo) que os solicitadores não tinham.

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Face à reforma de 2003, as funções de agente de execução correspondem ao desempenho de uma nova e diferente profissão forense, que deveria ter sido criada antes de se pôr em vigor o novo regime.

Entretanto, veio nova alteração, pelo DL nº 226/2008, de 20/11, com o legislador a querer enfatizar a figura do agente de execução e dignificar a sua intervenção no processo executivo, mas criando ou mantendo soluções que têm um efeito inverso e paradoxal.

Se o agente de execução não está na dependência funcional do juiz e não pode ser destituído pelo juiz, é inaceitável que o exequente possa livremente substituir o agente de execução.

Se foram reforçadas e ampliadas as áreas de intervenção do agente de execução, não se percebe o carácter pessoal da quase todos os actos a praticar pelo agente execução, não sendo possível o agente de execução, por si só, praticar todas as diligências que constituam

acto de penhora, venda, pagamento ou outro de natureza executiva.

É que o agente de execução tem ainda a seu cargo todo o trabalho de gabinete que, antes, era incumbência do juiz.

Acresce o problema do recrutamento e da formação dos agentes de execução, pois não é aceitável que possam, em simultâneo, exercer advocacia ou solicitadoria, numa absoluta confusão de papéis e de estatutos profissionais.

Como se não bastasse, temos a gravíssima questão do controlo disciplinar dos agentes de execução.

Se o DL nº 226/2008, criando a Comissão para a Eficácia das Execuções, representa um avanço face ao DL nº 38/2003, a verdade é que esta Comissão não dispõe de meios ou condições que lhe permitam exercer capazmente as suas funções, até porque depende muito, até financeiramente, da Câmara dos Solicitadores, entidade que já mostrou não estar à altura das circunstâncias, sendo urgente afastá-la do sistema.

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Propostas de solução:

A) Formas do processo executivo comum

Forma sumária – penhora imediata com dispensa da intervenção liminar do juiz e da citação prévia do executado (decisão judicial ou arbitral; requerimento de injunção; título

extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro da alçada do tribunal de 1ª instância).

Forma ordinária – intervenção liminar do juiz e citação do executado previamente à penhora.

B) Títulos executivos

Mantendo o regime da exequibilidade dos títulos de crédito, restringir as condições de exequibilidade dos demais documentos particulares, que só adquirem força executiva quando documentam, de forma expressa e inequívoca, a própria obrigação exequenda.

C) Juiz de execução

Reforço do papel do juiz no processo executivo, com poder geral de controlo do processo, fazendo depender de decisão judicial actos conexionados com o princípio da reserva de juiz ou susceptíveis de afectar direitos fundamentais das partes ou de terceiros.

D) Garantias do agente de execução

Reforço da imparcialidade e autonomia do agente de execução perante o exequente, reservando ao juiz a competência para a sua destituição com fundamento em actuação dolosa ou violação reiterada dos deveres estatutários.

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Garantir o princípio constitucional do acesso ao direito aos cidadãos que pretendam obter a cobrança de créditos até € 10.000,00 – incluindo os laborais –, desde que não resultem de uma actividade profissional autónoma.

F) Oposição à execução

Evitar a suspensão automática das execuções, sobretudo das baseadas em decisões judiciais, por mero efeito do recebimento da oposição à execução. Por regra, o recebimento da oposição só suspenderá a execução mediante a prestação de caução.

Contudo, quando o bem penhorado for a casa de habitação efectiva do executado, o juiz pode determinar a suspensão da venda até decisão do incidente em primeira instância.

G) Protecção do senhorio exequente

Evitar que, no âmbito de um contrato de arrendamento (urbano, rural ou florestal), o senhorio tenha de intentar duas acções executivas distintas, permitindo a cumulação da execução para entrega do locado com a execução para pagamento de rendas.

H) Ordem da realização da penhora

Abandono da determinação legal de uma ordem de prioridade quanto aos bens penhoráveis, por se tratar de matéria que só pode ser decidida de forma casuística.

Consagração da regra de que o agente de execução deverá respeitar as indicações do exequente quanto aos bens a penhorar, salvo se elas violarem normas imperativas ou ofenderem o princípio da proporcionalidade da penhora.

I) Adjudicação de rendimentos periódicos

Simplificação do regime da penhora de rendimentos periódicos, permitindo-se a adjudicação ao exequente das quantias vincendas.

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J) Penhora de depósitos bancários

Dispensa de autorização do juiz para penhora de saldos bancários.

K) Cônjuge do executado

Assegurar a comunicabilidade da dívida exequenda ao cônjuge do executado, nos títulos extrajudiciais subscritos por um dos cônjuges, criando, dentro da execução, um incidente declarativo, para estender a eficácia do título ao cônjuge do executado.

L) Penhora de veículos automóveis

Evitar a ocultação e o uso do veículo a penhorar, permitindo que a penhora seja precedida de imobilização do veículo e consagrar como regra a sua remoção.

N) Comissão para a Eficácia das Execuções

- entidade dotada de autonomia administrativa, sob tutela do Ministro da Justiça, reguladora do exercício da profissão de agente de execução

- competência em matéria de estágio, avaliação, disciplina e regulamentação da actividade de agente de execução

- receitas próprias

- meios efectivos para exercer competências, não delegáveis, em sede disciplinar e de fiscalização

- gestão de todas as quantias penhoradas em execução

- integra o Conselho de Agentes de Execução, competente para instruir processos disciplinares e aplicar penas disciplinares, tendo serviços de inspecção próprios

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O) Agente de Execução

- requisitos: licenciatura em Direito ou Solicitadoria; exame de acesso; estágio de 10 meses; avaliação final;

- exigência de estrutura e meios informáticos mínimos - incompatibilidade com advocacia e solicitadoria

- escritório aberto ao público em horário correspondente ao das secretarias judiciais

CONCLUSÕES:

1) A reforma da acção executiva de 2003 ainda não foi capaz de alcançar os objectivos propostos.

2) Para além de tudo o que sejam questões logísticas, o cerne da reforma passa pelo controlo da carreira de agente de execução, que deve ser confiada a uma entidade externa, sem qualquer ligação à Câmara dos Solicitadores ou à Ordem dos Advogados.

3) Enquanto não houver um novo código, o sistema pode ser melhorado se forem adoptadas as soluções acima propostas.

Paulo Pimenta

Largo de São Domingos, 14 – 1º 1169-060 LISBOA-PORTUGAL Tel. +351 21 8823556 | + 351 236 209 650

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