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Os preços resistem: um panorama atualizado da inflação em 2016.

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Texto Mensal da Revista dos Fundos de Investimento | Agosto/2016

Os preços resistem: um panorama atualizado da inflação em 2016.

Recentemente, ampliou-se na imprensa especializada o número artigos e colunas de analistas que acreditam termos alcançado o “fundo do poço” da crise econômica no Brasil. Entre os elementos que corroboram esta percepção, estes autores têm ressaltado a melhora relativa dos índices de confiança, o comportamento menos negativo de indicadores antecedentes e desaceleração do ritmo de crescimento do desemprego. De certa forma, concordamos com a ideia de que o País chegou ou está bem próximo do ponto máximo da crise atual, porém, optamos neste texto por manter a cautela e, ao invés de louvar alguns dados recentes mais otimistas, elegemos como tema para este mês uma análise mais detalhada da evolução do principal índice de preços brasileiro: o IPCA. Nossa preocupação – e a justificativa para a escolha do assunto – é que mesmo após uma severa e prolongada contração da atividade econômica ainda avaliamos a situação dos preços como desafiadora. Além disso, consideramos que, caso a hipótese de que estamos começando a experimentar um processo de retomada da atividade, existe um risco importante de que se sobressaiam pressões inflacionárias adicionais e que isso torne um tanto mais difícil a recuperação ora iniciada.

Para embasar o primeiro ponto (de que mesmo após uma longa recessão os preços no Brasil mostram-se resilientes), é importante ressaltar que o produto interno bruto (PIB) brasileiro vem apresentando contrações trimestrais desde o segundo trimestre de 2014, quando comparado com o mesmo período de um ano antes. Ademais, o nível de desemprego – medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad-C) – aumentou de 6,2%, no período de outubro a dezembro de 2013, para uma taxa de mais de 11% no período mais recente, de março a maio deste ano. Outro dado neste sentido é que a produção

industrial, segundo o IBGE, ainda guarda uma retração de 9,1% no dado acumulado em 12 meses até junho de 2016. Pois bem, mesmo diante de um período recessivo com tamanha intensidade, convivemos ainda com uma inflação oficial de 8,8% (no acumulado em 12 meses até junho). Ou seja, mesmo após oito trimestres consecutivos de queda no PIB trimestral, uma taxa de desemprego mais de 80% mais elevada que aquela registrada no final de 2013 e com a taxa de juros superior a 10% ao ano há mais de dois anos, a aceleração dos índices de preços têm resistido de maneira surpreendente.

Neste ponto é fundamental que se faça uma análise mais cuidadosa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para que fiquem mais claros os motivos para nossa apreensão sobre este tema. Em primeiro lugar, é bem verdade que houve uma importante desinflação de dezembro de 2015 até junho deste ano, o IPCA acumulado em 12 meses neste período caiu de 10,67% para 8,84%. Ao mesmo tempo, a cotação do dólar cedeu de R$ 3,90 para algo próximo de R$ 3,21, colaborando para uma percepção de que as coisas estão melhores e os preços caindo. Contudo, ao observarmos mais de perto os dados, veremos que a maior parte deste recuo no IPCA adveio da desaceleração dos preços no grupo chamado de ‘Administrados’ ou ‘Monitorados’, ou seja, aqueles mais diretamente influenciados por decisões do governo. Este grupo tinha uma variação acumulada em 12 meses de mais de 18% em dezembro do ano passado, pois havia ocorrido um realinhamento dos preços de energia elétrica e de combustíveis, em uma tentativa de se corrigir uma política equivocada de represamento de preços praticada nos anos anteriores. Já em junho de 2016, a inflação acumulada do grupo ‘Monitorados’ havia cedido para 9,9%, equivalente a uma desaceleração de 45% no período.

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Taxa de variação do IPCA acumulada em 12 meses entre janeiro de 2006 e junho de 2016. Fonte: IBGE. Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de Investimento do Banrisul.

Por outro lado, o grupo analítico conhecido como ‘Livres’, por estarem mais sujeitos às forças de demanda e oferta do mercado, variou de 8,50% em dezembro de 2015 para 8,51% em junho último, mantendo-se quase estável no

período comparativo. Cabe destacar que são estes preços “livres” que deveriam responder às mudanças na política monetária e, portanto, deveriam recuar por conta do juro elevado e da contração da atividade econômica.

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Taxa de variação do IPCA acumulada em 12 meses entre julho de 2015 e junho de 2016. Fonte: IBGE. Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de Investimento do Banrisul.

0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 20,00% ja n /0 6 ju l/ 0 6 ja n /0 7 ju l/ 0 7 ja n /0 8 ju l/ 0 8 ja n /0 9 ju l/ 0 9 ja n /1 0 ju l/ 1 0 ja n /1 1 ju l/ 1 1 ja n /1 2 ju l/ 1 2 ja n /1 3 ju l/ 1 3 ja n /1 4 ju l/ 1 4 ja n /1 5 ju l/ 1 5 ja n /1 6

Comportamento do IPCA (% em 12 meses)

IPCA Monitorados (4449) Livres (11428) 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 20,00% ju l/ 1 5 ag o /1 5 se t/ 1 5 o u t/ 1 5 n o v/ 1 5 d e z/ 1 5 ja n /1 6 fe v/ 1 6 m ar /1 6 ab r/ 1 6 m ai /1 6 ju n /1 6

IPCA (% em 12 meses) no curto prazo

IPCA

Monitorados (4449) Livres (11428)

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Desta forma, ao notar que o comportamento esperado não está ocorrendo, surgem duas possibilidades: (1) Existe uma defasagem de tempo entre causa (retração econômica e juro elevado) e consequência (queda da inflação) maior do que se estimava até então; ou (2) a inércia dos preços no Brasil se tornou mais persistente por conta do longo período de inflação em aceleração, das políticas de

indexação de salários à inflação passada e das expectativas adversas dos agentes econômicos. Seja qual for a opção correta, ou mesmo que ambas sejam parte da explicação, não parece haver dúvidas de que o Banco Central deva manter a taxa básica de juros (Selic) estável até que note-se uma mudança de trajetória no IPCA.

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Cotação do barril de petróleo (Brent) em dólares americanos. Fonte: Federal Reserve Economic Data (FRED). Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de Investimento do Banrisul.

Por fim, diante do atual cenário, existem dois riscos adicionais ao controle da inflação que merecem ao menos uma breve ponderação: de um lado o dólar pode voltar a ganhar força e, de outro, uma retomada da confiança dos agentes e um crescimento, mesmo que marginal, da atividade podem suscitar uma nova pressão para o aumento dos preços ao consumidor no curto prazo. Sobre o primeiro ponto, há que se dizer que a economia brasileira ainda é fortemente correlacionada com o comportamento dos preços das commodities no mercado global – especialmente do petróleo. Neste sentido, os preços dos ativos domésticos (ações, títulos de renda fixa e a moeda brasileira) foram beneficiados por uma forte recuperação dos preços de commodities desde fevereiro deste ano, bem representada pela evolução da cotação do barril de petróleo no mesmo período. Porém, desde julho, esta tendência parece ter se esgotado e, agora, passa por uma correção e sugere um novo período de maior aversão ao risco, o que pode ser um “gatilho” para uma nova rodada de alta da moeda americana em breve. Já em

relação ao segundo ponto, nossa inquietação se dá por notarmos que a indústria e o comércio já reduziram seus estoques (ou seja, menor oferta) e convivem há um longo tempo com margens de lucro bastante estreitas. Por causa disso, avaliamos que se houver uma reativação da atividade econômica no País (o que equivale a uma maior demanda), os empresários podem preferir aumentar os preços antes de decidirem por novos investimentos e recontratação de pessoal.

Por tudo isso, acreditamos que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não encontrará espaço para dar início ao próximo ciclo de corte da taxa Selic em 2016. Mais do que isso, preferimos mantermo-nos cautelosos sobre os próximos passos da equipe econômica, à espera de sinalizações inquestionáveis de que um ajuste fiscal coerente será mesmo implementado; preferencialmente por meio de uma redução do gasto público, e não pela elevação dos impostos.

20 40 60 80 100 120 140 ja n /1 0 m ai /1 0 se t/ 1 0 ja n /1 1 m ai /1 1 se t/ 1 1 ja n /1 2 m ai /1 2 se t/ 1 2 ja n /1 3 m ai /1 3 se t/ 1 3 ja n /1 4 m ai /1 4 se t/ 1 4 ja n /1 5 m ai /1 5 se t/ 1 5 ja n /1 6 m ai /1 6

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Resumo do Mercado Financeiro

A estrutura a termo da taxa de juros encerrou o mês de julho com um fechamento das taxas na maior parte de seus vértices. Os principais fatores que contribuíram para este movimento foram, aparentemente, o recuo das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, por conta de uma decepção com o crescimento da atividade por lá, e o tom mais conservador observado na ata do mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que

sinalizou que ainda não há espaço para o corte da taxa Selic no curto prazo. Estes movimentos levaram a uma alta nos preços dos ativos prefixados e indexados a índice de preços, o que se refletiu em um desempenho aderente aos seus respectivos benchmarks nos fundos atrelados a estas classes de ativos, mesmo em meio a um período tão conturbado no mercado financeiro.

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Cotações de fechamento dos contratos futuros de juros no último dia de negociação de junho de 2016, no dia 15 de julho e no último dia de negociação do mês de julho de 2016. Fonte: Economática. Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de Investimentos do Banrisul.

No mercado de ações, em julho, o Ibovespa manteve a trajetória iniciada em junho e valorizou-se 11,22%, superando os 57 mil pontos. As maiores altas foram as empresas da indústria siderúrgica, impulsionadas pela alta do minério de ferro no mercado internacional. Por outro

lado, poucas foram as ações do índice que tiveram desempenho negativo no período. Dentre estas, podemos destacar as empresas exportadoras, que foram afetadas pela queda do dólar em relação ao real.

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Cotações de fechamento diário do Ibovespa entre o dia 30/06/2016 e o dia 29/07/2016. Fonte: Economática. Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de Investimentos do Banrisul.

Este relatório foi elaborado em 03/08/2016 pela Unidade de Administração de Recursos de Terceiros e é de uso exclusivo de seu destinatário, não podendo ser reproduzido ou distribuído, no todo ou em parte, a qualquer terceiro sem autorização expressa do Banrisul. Este relatório é baseado em informações disponíveis ao público.

As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data de publicação. No entanto nem o Banrisul nem os analistas responsáveis respondem pela veracidade ou qualidade das informações. As opiniões aqui contidas são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudanças.

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