DISTÚRBIOS
MÚSCULO-ESQUELÉTICOS
EM
FISIOTERAPEUTAS
INCIDÊNCIA,
CAUSAS
E
ALTERAÇÕES NA
ROTINA
DE TRABALHO
COS
À_
“__
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e PEPS esí
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oCee scuo CETD UFSC man Ju úrb`0s mu .E
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E
N.Cham. Autor: Ro u o: D'stEE
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ó-› ~.-‹CETD UFSC PEPS
T
1884 6035 Ac. 8 972455632UNNERSIDADE FEDERAL DE SANTA
CATAR|NA
DEPARTAMENTO
DE ENGENHARIA
DE
PRQDUÇAO
E
s|sTEMAs
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
ENGENHAR|A DE
PRODUÇAO
UFSC BC CETD l:x BC ..- Ex
MESTRADO
Julio
Celestino
Pedron
Romani
Florianópolis -
SC
- BrasiluN|vERS|DADE
FEDERAL DE SANTA
CATARINA
DEPARTAMENTO
DE
ENGENHAR|A DE
PRODUÇÃO
E
SISTEMAS
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
ENGENHARTA DE
PRODUÇÃO
MESTRADO
D|STÚRB|OS
MÚSCULO-ESQUELÉTICOS
EM
F|S|OTERAPEuTASz
|Nc|DENc|A,
CAUSAS
E
ALTERAÇÕES NA
ROTTNA
DE
TRABALHO
Autor: Julio Celestino
Pedron
Romani.
Orientador: Prof.
Roberto
Moraes
Cruz, Dr.Área
de
Concentração:Ergonomia
Florianópolis -
SC
- BrasiliNciDÊNciA,
CAUSAS
E
ALTERAÇÕES NA
RoTiNA
DE
TRABALHO
BANCA
EXAMINADORA:
Autor: Juiio C. P.
Romani
Esta dissertação foi julgada
adequada
àobtenção do
Títulode
Mestreem
Engenharia
de
Produção,e aprovada
em
sua forma
final peloPrograma de
Pós-Graduação
em
Engenharia
de Produção
(PPEGP)
da
Universidade Federalde
Santa
Catarina,em
O6 de dezembro de
2001.
Prof. Ri
do Miranda
rcia, Ph.D.C
orden
ordo
PPGEP
~
t
Prof.
Rob
rtoMoraes
Cruz, Dr.Orientav
PGEP
-
UFSC
.zfèr
‹>\@¿
\
Prof.Eugenio P»
o, Dr.PPGEP
UFSC
C§QA›(`/bmw
Profa.
Carmem
Coiomé
Beck, Dra.A
minha esposa
Maria Stella eminha
filha Sofia,que fazem
partedo mais
A
Cristiane e Aluísio, pelaamizade e
apoio técnico.A
Cláudia e Beto, pelo carinho e apoio logístico.Aos
amigos
Larissa e Mark,que
apesar do
tempo
escasso,encontraram
espaço
para colaborarcom
este trabalho.A
Elcimar Reis, por dividir experiências e dificuldadesem
nossa
caminhada.
A
Aos
colegasde
trabalho, professoresdo
cursode
fisioterapiada
UNESC,
pelacompreensão
e
paciênciacom
minhas
ausências.Ao
“Seu” Luiz Carlos aquem
devo
milhõesde
"obrigados”.À
D. Nusia, obrigado pela ajuda e incentivo.A
Maria Stella, pela inestimável ajuda.Ao
Dr RobertoMoraes
Cruz,que
desempenha
a funçãode amigo
tãobem
quanto
ade
Orientador.A
todosque
contribuíramde
alguma forma
paraa
realização desteLISTA
DE
QUADROS
... ..viL|sTA
DE
TABELAS
... ..¡× |_|sTADE F|GuRAs
... ..× |_|sTADE
ANEXOS
... ..×| |_isTADE
REDUÇÕES
... ..×uRESUMO
... ..XiABSTRACT
... ..xiv1INTRODUÇÃO
... ..15 1.1O
Problema de Pesquisa
... ..15 1.2 Justificativa ... ._ 17 1.3 Limitaçõesdo
Estudo
... ..18 1.4 Objetivos ... ..18 1.4.1 Objetivo geral ... ..18 1.4.2 Objetivos específicos ... ..19 1.5 Perguntasde
Pesquisa
... ..19 2REv|sÃo
DA
UTERATURA
... ..21 2.1O
Sistema Neuro-músculo-esquelético ... ..212.2 Distúrbios
do
Sistema
Músculo-esqueléticos ... ..262.3 Classificação
dos
Distúrbios Músculo-esqueléticos ... ..292.4
Os
DistúrbiosOsteomusculares Relacionados
ao
Trabalho-DORTs
... ..3O 2.4.1 Classificaçãodas
DORTs
... ..392.5 Caracterização
da
Atividadede
Fisioterapia ... ..412.6 Fatores
de
Risco,Carga de
Trabalho e Distúrbios Músculo-esqueléticosem
Fisioterapeutas ... ..443
MÉToDo
... ..5ô 3.1Desenho do
Estudo
... ..584.RESULTADOS
... ..604.1 Análise
dos
Resultados ... ..604.1.1
Dados
demográficos ... ..605
coNc|_usÃo
84
REFERÊNciAs
B|BL|oGRÁF|cAs...
Quadro
1-
FatoresAssociados
aos
DORTs
Segundo
aNorma
Técnica
Para Avaliaçãoda
Incapacidade-
INSS/1997
... ..36Quadro
2-
Tiposde
Tecido e LocalizaçãoComumente
Incluídos
como
DORTS
... ..41Quadro
3 -Movimentos
e Posturas Descritosna
Literatura EspecializadaRelacionados à
Gênese
de
Distúrbiosou Sintomas
Tabe
a
1 Síntesedos Estudos Indexados
em
Base de dados
Internacionais sobre Distúrbios Músculo-esqueiéticosem
Fisioterapeutas ... ..54Tabe
a 2
Distribuiçãoda
VariáveisDemográficas
... ..60Tabe
a 3
Distribuiçãoda
População
porTempo
de Atuação
... ..61Tabe
a
4
Distribuiçãode
FreqüênciaConforme
Número
de
Locaisde
atuação
... ..62Tabe
a
5 Distribuiçãode
Carga
HoráriaTrabaihada
Diariamente ... ..62Tab
e ia 6 Distribuiçãodo
Número
de
Pacientes Atendidos Diariamente ... ._63
Tabeiia
7
Distribuiçãode
Distúrbios Músculo-esqueiéticosConforme a
FaixaEtária ... ..65
Tabela
8 Distribuiçãode
Distúrbios Músculo-esqueléticosConforme
oTempo
de
Trabalho ... ..66Tabela 9
Distribuiçãode
Distúrbios Músculo-esqueléticosConforme
Horas
de
Figura 1 Distribuição
da
Freqüêncianos
Principais Locaisde
Trabalho ... ..61
Figura 2 Distribuição
da
Freqüênciade
Movimentos
e Posturasna
Rotinade
Trabalho ... ..64
Figura
3
Distribuiçãoda
Freqüênciasdos
Principais DistúrbioMúsculo-
esqulêticos ... ..65
Figura
4
Regiões Anatômicas
Afetadas por DistúrbiosMúsculo-
Esqueléticos ... ..67
Figura
5
Distribuiçãodos
Movimentos
e Posturasque
influenciam
os Sintomas
... ..67Figura
6
Distribuiçãode
Ocorrênciasde
Alterações PsicológicasLeves
Durante
Fase do
Sintoma
... ..68Figura 7 Distribuição
da
Freqüênciade
Alteraçõesde
Hábitosde
TrabaIho..68 Figura8
Distribuiçãoda
Freqüênciade
Distúrbio Músculo-esqueléticoConforme
o
Localde
Trabalho ... ..69Figura 9
Relação
entreo
Tipode
Distúrbioe
Recorrênciado
Sintoma
... ..7OFigura
10 Relação
entreSexo
e
Distúrbio ... ..7OFigura 11
Relação
entre o Localde
Trabalhoe
Tipode
Distúrbio ... ..71Figura
12 Relação
Entre a Distribuiçãodos
PrincipaisMovimentos e
Posturas/Comprometimento
de
Disco lntevertebral ... ..71Figura
13 Relação
Entre a Distribuiçãodos
PrincipaisMovimentos
e Posturas/ EstiramentoMuscular
... .j. ... ..72Figura
14 Relação
Entrea
Distribuiçãodos
PrincipaisMovimentos e
Posturas/ DistensãoMuscular
... ..72Figura
15 Relação
Entre a Distribuiçãodos
PrincipaisMovimentos e
Posturas/ Tendinite ... ..73Figura
16 Relação
Entrea
Distribuiçãodos
PrincipaisMovimentos
eAnexo
1 Classificação Internacionalde
Doenças
-
CID
10
-
TranstornosOsteomusculares
... ..93Anexo
2
Classificação Internacionaide Doenças
-
CID
10-
Doenças do
Sistema
Nervoso
... ..97Anexo
3 Occupational /njuries in PhysicalTherapy Sun/ey
Questionna¡re....101Anexo
4
Questionário sobre Distúrbios Músculo-EsqueléticosCOFlTO
-
Conselho
Federalde
Fisioterapiae
Terapia Ocupacional.CREFITO;
-
Conselho
Regionalde
Fisioterapiae
TerapiaOcupacional
CDI
-
Comprometimento
de
disco intervertebral.CID
-
Classificação Internacionalde
Doenças.
DORT
-
Distúrbio osteomuscular relacionadoao
trabalho.EMD
- Espasmo
muscular
doloroso.INSS
-
Instituto Nacionalde
Seguridade
Social.LER
-
Lesão
por esforços repetitivos.L.A. S. E. R.
-
Light Amplificationby
Stimulated Emission Radiation.NIOSH-
National Institute for Occupational Safetyand
Health.RSI
-
Repetitive strain injuries.A ~
FISIOTERAPEUTAS:
INCIDENCIA,
CAUSA
E
ALTERAÇOES NA
ROTINA
DE
TRABALHO
Autor: Julio Celestino
Pedron
Romani
Orientador: Prof° Dr. Roberto
Moraes
Cruz
O
objetivo deste estudo foi identificar a incidênciade
distúrbiosmúsculo-
esqueléticos
em
fisioterapeutas,sua
relaçãocom
osmovimentos e
posturasda
prática
da
fisioterapiae
as alteraçõesna
rotinade
trabalhodo
profissional.A
população
(n=
128) foicomposta
por fisioterapeutasgraduados
e selecionadade
forma
intencional.Os
dados
foram coletados atravésde
instrumentobaseado
no
Occupational /njuries in PhysicalTherapy Sun/ey
Questionnaire, proposto por Holder, Clark, DiBlasio et al. Foi utilizadoo
pacote estatísticoSPSS
paraa
organizaçãoe
tratamentodas
informações coletadas.A
taxade
incidência foi
de
65,5%
de
distúrbios músculo-esqueléticosna população
estudada,
sendo
a coluna lombar, coluna cervicale
membros
superiores, as áreasanatômicas mais
afetadas.Os
movimentos e
posturasda
rotinados
profissionaise
relacionadascom
agênese
dos
distúrbiose
recorrênciade
sintomas foram o
uso
de
técnicas manuais,movimentos
repetitivoscom
membros
superiores, rotaçãoe
flexãodo
troncoem
pé,manutenção da
postura estática por longos períodos e transferênciade
pacientes.Os
resultadoscorroboram
estudos anteriores estabelecendo fortes indícios entre a cargade
trabalho inerente a prática
da
fisioterapia e o desenvolvimentode
DORTs
porprofissionais.
Palavras-chaves: distúrbios músculo-esqueléticos,
doenças osteomusculares
ABSTRACT
The
purpose
of this studywas
to identify the incidence of musculoskeletaldisorders in physical therapists, its relation with the
movements
and
posturesand
the alterations in thework
routine of these professionals.The
population (n=
128)was
composed
an
intentional form.The
datawere
collected throughan
instrument
based on
“Occupational lnjuries in PhysicalTherapy Survey
Questionnaire”, by Holder, Clark, DiBlasio et al (1999).
The
statisticalpackage
SPSS
was
used
for the organizationand
treatment of the collected data.The
results pointed toan
incidence rate of musculoskeletal disorders of62,5%
in thestudied population,
and
low back, neck, shoulder, wristand
hands.The
movements and
postures identified in the routine of the professionalsand
related with the genesis of the disorders
and
returns ofsymptoms
were
performing
manual
therapy, repetitivemovements
with arms,bending
ortwisting, maintaining a position for a long period of time
and
transferring patients.The
results corroborate previous studies establishing strongindications
among
the workload inherent to the practice of the physical therapyand
thedevelopment
ofWRMD
for professionals.1
1NTRoouÇÃo
O
processo
civilizatório-produtivo configurou,ao
longodo
desenvolvimento
das
diferentes formasde
organizaçãodo
trabalho,um
conjunto
de
atribuições funcionais diretamente ligado às condiçõesde
desempenho
do organismo humano.
Desde
apena
de
escrever,que
porseu
uso
repetitivocausava
distúrbiosmúsculo
esqueléticosem
escreventes, até as atuaisformas
de automação, observamos
uma
mudança
na
relaçãodo
homem
com
o
trabalho, postoque
as atividades antes artesanais sofreramuma
segmentação
e despersonalização, talcomo
citado porRanney
(2000).,exigindo
do
trabalhador maior destreza para aexecução das novas
tarefas.O
impactodessa
mudança
exacerbou
os adoecimentos
físicose
psíquicos decorrentes
do
trabalho, especialmenteem
meados
do
séculoXX,
quando
o sistema produtivo incorporou definitivamente amecanização
.e aautomação.
Nesse
contexto inclui-se osDORTS
-
DistúrbiosOsteomusculares
Relacionados
ao
Trabalho-
descritos,ao
longoda
história recente,como
de
ocorrência especificaem
determinadas profissõese
reconhecida,no
finaldesse
último século,como
uma
afecção epidemiologicamente impactantee
que pode
atingiruma
ampla
gama
de
trabalhadores,em
diferentes tiposde
atividades.Além
do
custo social representado pelas incapacidadespermanentes
associados
ao
trabalho,empresas
eEstado
acumulam
perdas financeiras ede
força
de
trabalho.Os
DORTs, de
incidência principalmenteem
membros
superiorese
coluna cervical,alcançam
taxasde
até70%
de
prevalência entre trabalhadores,mesmo
em
paísesem
que
as
condiçõese ambientes
de
trabalho
são
considerados excelentes (Assunção,1999;Santos
Filho e Barreto,1998).
1.1
Problema de
Pesquisa
Dentre os profissionais
de
saúde,tem
sido detectado altonúmero
de
prevalência
de
57%
de
sintomasde síndrome
do
túneldo
carpoem
ecocardiografistas americanos; estudoscom
enfermeiras e fisioterapeutasapresentam
taxasde
até60%
de
distúrbiososteomusculares
relacionadosao
trabalho,
acometendo
principalmente coluna lombar (Bork, Cook,Rosecrance
et al 1996).Os
fisioterapeutas estäo incluídos entre os gruposde
risco para osDORTs, como
mostram
os estudos epidemiológicosde
Holder, Clark, DiBiasioet al (1999)
com
prevalênciade
33%
de
DORTs em
fisioterapeutas norte-americanos, e
de
Cromie, Robertson e Best (2000),que
detectaram, entreprofissionais australianos,
91%
de
DORTs em
algum
momento
de
sua
vida profissional. Bork, Cook,Rosecrance
et al (1996) identificaram 17 fatoresassociados
ao
trabalho para o desenvolvimentode
DORTs em
fisioterapeutase, Cromie,
Robertson
e
Best (2000), afirmamque somente
16%
dos
profissionais
de
fisioterapia australianosfazem algum
tipode
prevenção
paraDORTs.
A
ocorrênciaacentuada desses
distúrbios parece estar relacionada às cargas físicas e psíquicas às quais estes profissionais estão expostosno
ambiente
de
trabalho.A
fisioterapia éuma
profissão cujo exercício implicaem
exigênciasdo
sistema músculo-esquelético,
como
a força física dinâmica e estática,movimentos
repetitivosde
membros
superiores,manutenção
de
posturasestáticas e
movimentos
antifisiológicosde
coluna vertebrale membros.
Estesmovimentos
e posturassão
descritosna
literatura correntecomo
fatoresde
risco para
o
desenvolvimentode
DORTs
(INSS, 1997; Rio,_ 1999).A
relaçãode
movimentos e
posturas duranteo
trabalhodos
fisioterapeutascom
agênese
e
a recorrència
de
sintomas, principalmenteem
membros
superiores e coluna,é
afirmada por Bork, Cook,
Rosecrance
et al (1996), Mierzejewskie
Kumar
(1997), Holder, Clark, Di Biasio et al (1999) e Cromie, Robertson e Best (2000).
Agentes
físicos utilizados pelo fisioterapeutacomo
técnicasde
tratamento
também
podem
contribuir parao
desenvolvimentode
doenças
relacionadas
ao
trabalho,como
as radiações eletromagnéticas porondas
Stimulated Radiation).
Nos
ambientes
hospitalares, principalmente, ofisioterapeuta está exposto
aos
riscos biológicos.De
ocorrênciacomum,
ochamado
trabalho densificado, traduzido peloalto
número
de
pacientes atendidos durante a jornada, principalmenteem
hospitais e clínicas
de
atendimento público gratuito, parece contribuir para agrande
ocorrênciade
distúrbios músculo-esqueléticos nestes profissionais.A
ocorrência mundialde
DORTs
suscita importantesdebates
entre acomunidade
científicaque
busca
a elucidaçãodo
problema.Quem
estádoente?
O
trabalhadorou
o trabalho?A
empresa
ou
asociedade?
Embora
de
forma
aindanão
consensual, estudiosos, trabalhadores, empresários egoverno
percebem
a urgênciade ações
paracompreender os
aspectos multidimensionaisdos
DORTs
e osmodos
de
evitá-la.Neste
estudo,pretendemos
avaliar a incidênciade
distúrbiosmúsculo-
esqueléticos
em
fisioterapeutas ede
que
modo
estes estão relacionadoscom
a atividade deste profissional, tantosob
o aspecto etiológico quantoda
alteraçãode
comportamentos na
rotinade
trabalho.A
incidência reflete os grausou
níveisde
intensidadecom
que
um
evento ocorreem
uma
população
em um
determinado espaço
de
tempo, apresentando-secomo
uma
especificidadeda
ocorrênciade
um
evento.1.2
Justificativa
O
interesse sobre estetema
surgiu inicialmente pelo fatode
desenvolver-mos nossas
atividades profissionaiscomo
fisioterapeutae
termosobservado
queixas freqüentesde
profissionais sobre distúrbiosmúsculo-
esqueléticos.
Um
aspectoobservado
é
a inexistência,na
maioriados
ambientes
de
trabalhodo
fisioterapeuta,de
instalaçõescom
infra-estruturadentro
de padrões ergonômicos adequados.
Finalmente, aescassez
de dados
sobre os riscos
ergonômicos
que
a atividadepode
proporcionarao
profissionalaguçou
nossa
curiosidade.Um
rastreamentorecentemente
realizadonas bases
de dados
nacionaismúsculo-esqueléticos
em
fisioterapeutas,mesmo
sendo
esteum
problema de
reconhecida
magnitude
e importânciano meio
profissional.Também
não
constam, até
o
presentemomento,
dados
sobre a epidemiologiade
distúrbiosmúsculo-esqueléticos
em
fisioterapeutas brasileiros.Este estudo
busca
uma
melhor
compreensão
das
caracteristicasdo
processo
saúde/doença do
trabalhodo
fisioterapeuta,de
forma a ampliaro
conhecimento
sobresua
atividade profissional.Avaliamos
que
os resultadoscontribuirão para ampliar o
conhecimento
sobre o trabalhodos
fisioterapeutas e sobre a fisioterapiano
Brasil.1.3
Limitações
do Estudo
Por este ser
um
estudosem
financiamento institucional,não
foi possivelatingir diretamente
uma
população mais
numerosa
de
profissionais, pois o custocom
mala-direta edespesas de
resposta via correio tornou inviávelessa
expectativa.
Em
referênciaaos
aspectos metodológicosdo
estudo,há
a limitaçãoquanto
ao
tratamento estatísticodos
dados, pelo universode
participantesescolhido ter sido criado
de forma
intencional,segundo
o
critérioda
acessibilidade fornecido pelos procedimentos metodológicos.
A
escassez
de dados
sobre distúrbios músculo-esqueléticosem
fisioterapeutas
em
nosso
país constituiuum
fator limitante pela dificuldadede
comparação
de
resultadoscom
nossa
pesquisa, oque
nos
impele a realizarcomparações
literaiscom
pesquisas internacionais.1.4
objetivos
1.4.1 Objetivo Geral
Analisar a incidência e as
causas de
distúrbios músculo-esqueléticos relacionadosao
trabalhodos
fisioterapeutas eseus
impactos sobre asua
rotina1
4 2
Objetivos Específicosó Verificar quais
são
as regiõesanatômicas acometidas
com
maior freqüência por distúrbios músculo-esqueléticosem
fisioterapeutas. z Analisar a relação entretempo
de atuação
profissional, localde
atuação, jornada
de
trabalho,número
de
pacientes atendidos diariamente e a áreade
atuação .coma
ocorrênciade
distúrbiosmúsculo-esqueléticos
em
fisioterapeutas.o Analisar a relação entre
movimentos
e posturas característicosda
atividade
dos
fisioterapeutas, a ocorrência e recorrènciade
sintomasno
sistema músculo-esquelético.o Verificar quais as alterações
de
hábitosadotadas
pelosfisioterapeutas
em
sua
rotinade
trabalhocomo
conseqüência
de
distúrbio músculo-esquelético.
1
5 Perguntas
de
Pesquisa
Para
que
os
objetivos propostossejam
atingidos,responderemos
asseguintes perguntas
de
pesquisa:0
Qual
a incidênciade
distúrbios músculo-esqueléticosem
fisioterapeutas?
z
Qual
a distribuiçãodas
variáveis:tempo
de
profissão, jornadade
trabalho,
número
de
pacientes atendidos por dia, localde
trabalho,especialidade,
movimentos
e posturas durante o trabalho, localizaçãoanatômica do
distúrbio e qual a relação entre estas e apresença de
distúrbios músculo-esqueléticos
em
fisioterapeutas?0
Que
mudanças
o fisioterapeuta realizana
rotinade
trabalhoem
função
da
ocorrênciade
distúrbios músculo-esqueléticos?0
Que
atividadesde
trabalhosão
relacionadas pelo fisioterapeutacomo
agravantesou causa
de
recorrènciados
sintomas?0
Quais os
movimentos
e posturas presentes durante a atividadeprofissional
que
se relacionamcom
agênese de
distúrbiosmúsculo-
2
REVISAO
DA
LITERATURA
2.1
O
Sistema Neuro-músculo-esquelético
Não
é intenção deste trabalho oaprofundamento
sobrea
anatomia, morfologia,biomecãnica e
fisiopatologia relacionada às estruturasdo
sistema neuro-musculo-esquelético, anão
ser aqueleselementos
essenciais àcompreensão
dos seus
aspectos funcionais.A
nomenclatura correntemente utilizada para designar o sistemado
movimento ou
sistema Iocomotor é "sistema músculo-esque|ético". Preferimos, para efeitode
descrição morfológica, utilizar .o termo "sistema neuro-músculo-esquelético" devido a indissociabilidade funcional
das
estruturasanatômicas
que
ocompõe.
No
restantedo
trabalho,quando
fizermos referência aesse
sistema,
adotaremos
adenominação
músculo-esquelético, vistoque
é aforma
de
denominação
utilizadacom
maior freqüênciana
literatura especializada.Segundo
Watkins
(2001:49),“O
sistema músculo-esquelético gera e transmite forças internas para contraporou
superar forças externas e, porconseguinte, produzir
movimento
controladono
corpo”.As
funçõesdo
sistema neuro-músculo-esqueléticosão
amanutenção da
postura ereta,a locomoção
e
a
manipulação
de
objetos.A
postura corporal envolve a transmissãode peso de
um
ou mais
segmentos
ao
soloou
a outra superfíciede
sustentação,como,
por exemplo,ficar
em
pé, sentar-see
deitar-se. Duranteo
trabalho,os
indivíduosassumem
posturas corporais específicas para omelhor
desenvolvimentode
sua
atividade. Freqüentemente, posturas antifisiológicas
são adotadas
pelos trabalhadores devido à imposiçãode
cargas físicas intensasou
anão
observância
de
padrões ergonõmicos nos
postosde
trabalho.A
locomoção
tantopode
se
darem
solo,_ característicado
serhumano,
como
no
meio
aquáticoe
constituiuma
ação
rotineira, sónão
realizadaquando
o ser
humano
estáem
repouso
corporal.A
manipulação de
matériaou
objetos envolvemovimentos
que
requerem
geralmente estática,
ou
seja,uma
base de
suporte estável. Esta funçãodo
sistema neuro-músculo-esquelético
pode
serdesempenhada
com
asmãos
ou
pés, e é desta
maneira
que
ohomem
realizasuas
atividades laborais.Em
resumo, omovimento do
corpohumano
é
uma
complexa
combinação de
comando
eações
que
resultaem
gestos essenciais para a sobrevivência,sendo
produto finalda ação
integradadas
estruturas óssea, muscular, articular e neural.Apresentaremos, a seguir, as características principais
de cada
estruturaenvolvida.
Os
ossos têm
como
principais funções relacionadasao movimento
asustentação
do
corpo e a constituiçãode
um
sistemade
alavancasque
facilitaa
ação dos músculos
para aprodução do
movimento.Proporcionam
também
aforma
básicado
corpohumano
sendo
um
tecido idealde
suporte, pois,além de
forte, é relativamente leve (Watkins, 2001; Klippel
&
Dieppe, 1997). Outras funçõesdos ossos são
oarmazenamento
de algumas
substânciascomo
ocálcio, fósforo
e
saisde
magnésio; aprodução de
célulassanguíneas
atravésda
medula óssea
ea
proteçãode
órgãos vitais (Gould, 1993; Watkins,2001
).O
serhumano
adulto possui206
ossos,podendo
estenúmero
sofrerpequenas
variações, divididosem
quatro tipossegundo
sua forma
-
longos,curtos, chatos e irregulares.
Ossos
longos,como
o fèmur,são
tubulares,mais
longos
que
largos,apresentando
uma
cavidade centralcontendo
amedula
óssea e fazendo
partede poderosos
sistemasde
alavancas.Ossos
curtos,como
os
do
carpo- e tarso,são
pequenos
e cubóides etem
funçãode
absorção
de
impactos.Duas
placasde osso compacto
caracterizam osossos
chatos epodem
terfunção
de
proteção,como
o crânio,ou
servirde
áreade
origem einserção
de
músculos,como
a escápula.A
inexistênciade
uniformidadena
forma e o
desempenho de
funções especializadas caracterizam osossos
irregulares
como,
por exemplo, as vértebras,que protegem
amedula
nervosa, e a mandíbula, envolvidano
processode mastigação
e fala.O
osso
é classificadocomo
tecido conjuntivo,como
as cartilagens,tendões, ligamentos
e
fásciasmusculares e é
constituídode
40%
de
matéria orgânica-
basicamente
colágeno,que
resiste as forçasde
tensão aque
oosso
é submetido, e
uma
parte inorgãnica, principalmente hidroxiapatita (Gould, 1993).A
formação Óssea
é funçãodos
osteoblastos e adecomposição do
tecido é realizada pelos osteoclastos.
Os
ossos são submetidos a
cargasmecânicas
durante osmovimentos
corporais,excetuando-se
.o .meio aquáticoou
outroscom
ausênciade
gravidade, e está sujeito adeformações
não
recuperáveis
e
recuperáveis dentrode
seu
limite.No
primeiro caso,ao
colágeno
e,no
segundo, relacionadasàs
fibrasde
elastina (Gould, 1993).Os
músculos
esqueléticossão os
órgãos efetoresdo movimento,
sendo
sua
propriedademais
importante à contratilidade, definidacomo
“acapacidade
de
geraruma
forçade
tração e, se necessário,uma
mudança
no comprimento
(aumento ou
diminuição)enquanto
a tração é mantida” (Watkins, 2001154).Representam
40%
a50%
do peso
corporale possuem,
segundo Powers
eHowley
(2000), très funções: produzir força para alocomoção e
respiração, força para a sustentação posturale
calor durante a exposiçãoao
frio.Foss
eKeteuian (2000)
afirmam
que
a
principal funçãodo músculo
esqueléticoé
a contração,que
resultaem
movimento. Especificando as funçõesdos
músculos.,podemos
dizerque é
pelacapacidade de
se contraírem,gerando movimento
acompanhado
de
forçaem
maiorou
menor
grau,que
o
homem
pode
realizarsuas
atividadesde
vida diária, entre elas o trabalho.O
músculo
es.quelético é constituído por célulasou
fibras musculares,tecidos nervoso,
sangue
e
tecido conjuntivo,separados
entre si e mantidosno
lugar pela fáscia,
um
tipode
tecido conjuntivo(Powers
&
Howley, 2000).Cada
fibra
muscular
é individual e possui ocomprimento
do
músculo, tendoa forma
de
um
cilindro fino ealongado
eagrupando-se
em
feixesdenominados
fascículos.O
homem
possui dois tiposde
fibras musculares:as
do
tipo lou de
contração lenta e as
do
tipo llou
de
contração rápida,essas
últimas sub-classificadas
como
do
tipo lla, llbe
llc (Foss&
Keteuian, 2000;Powers
&
Howley, 2000).
As
fibrasdo
tipo llproduzem
10%
a20%
a mais de
forçaque
as
do
tipo l, porém,são mais
suscetíveis à fadiga.A
distribuiçãodas
fibrasmusculares
esqueléticasé
influenciada pelacada músculo
deve
desempenhar,
sepredominantemente de
forçaou
resistência (Watkins, 2001.;
Foss
&
Keteuian, 2000).O
serhumano
possuiaproximadamente
640
músculos, diferentesanatomicamente e
especializados quanto asua
função,como
por exemplo, obíceps braquial, insubstituível para o ato
de
alimentaçãodo
serhumano
eo
diafragma, principal
músculo
respiratório e considerado o únicomúsculo
esqueléti.co vital.
Os
músculos são conectados aos ossos
-
por isto, adenominação
“músculo
esquelético” - pormeio dos tendões ou
aponeuroses,estruturas
de
tecido conjuntivo colágenosemelhantes aos
ligamentos. Estes, porém, originam-se e insere.m-senos
ossos, conectando-os e estabilizando as articulações (Gould,1993).As
articulações,também
designadas de
juntasou
junturas,são o
localonde
doisou mais ossos
estão conectados,sendo
320
no
corpohumano
(Watkins, 2001).A
funçãodas
articulações éde
facilitar omovimento
entre osossos
e a transmissãode
forças entre elescom
o
mínimo de
esforço,propiciando
ampla
mobilidade funcionalao
serhumano
(Watkins, 2001; Gould,1993)
Para
Enoka
(2000), as articulaçõespodem
ser classificadasem
trêstipos: a)fibrosas,
que
são
relativamente imóveis,como
as suturasdo
crânio e a articulação tibio-fibular; b).cartilaginosas,levemente móveis
como
a sinfisepúbica e a articulação esternocostal; c)sinoviais,_
que
são
livrementemóveis
como
oombro
e
o quadril, estas as articulaçõesde
maior amplitudede
movimento do
corpohumano.
Enoka
(2000)define
como
funçõesda
articulação sinovial a provisãode
mobilidade para
o
esqueletoe
a transmissãode
forçasde
um
segmento
paraoutro.
Segundo
Gould
(1993:88), “a articulação sinovialé
construída parapossibilitar
movimentos
em
uma
ou mais
direções entre doisou mais
segmentos
principaisdo
esqueletohumano
sob descarga de peso ou
não,ou
ambas
condições”. Este tipode
articulaçãosempre
possui quatro estruturas:cartilagem articular, funcionando
como
superfíciede
suportee
deslizamento; cápsula articular,que
é
um
espaço
revestido pelamembrana
sinovial,contendo
o líquido sinovial; ligamentos,
que
se constituemde
ligações passivas,ou
seja,não
contráteis entre osossos
e amembrana
sinovial,que
produz
o líquidode
mesmo
nome
que
nutree
Iubrifica a articulação (Watkins, 2000; Gould, 1993).O
sistemanervoso
possuiconexão
diretacom
cada
fibra muscular, atravésde
fibras nervosasmotoras
(eferentes) e sensitivas (aferentes).Os
nervos
motores
constituem60%
dos
nervos associados aum
músculo e
quando
estimulados resultamem
contraçãodas
fibras musculares; jáos
nervossensitivos
perfazem
os40%
restantes econduzem
informação sobre a tensão eda
contraçãomuscular
dos
receptoresmusculares
e tendinososao
sistema nervoso central (Foss, 2000).O
nervo motor e as fibrasmusculares
inervadas por eleformam
uma
unidade motora
e o localde
encontrodas
fibras nervosase musculares denomina-se
junção neuromuscular.Continuamente, o sistema nervoso central recebe informações
dos
receptores sensoriais
do
corpo sobre omeio
externo e interno.Os
receptores sensoriais importantes para omovimento são
os proprioceptores eos
quimiorreceptores musculares.
Os
proprioceptoressão
receptoresde
posição localizadosnas
cápsulas articulares, ligamentose
músculos, relacionadoscom
a
cinestesiaou
sentido cinestésico - orientação espacialde cada
segmento
corporal e quanto» à amplitude
de movimento
articular -sendo
as terminaçõesnervosas
livres, os receptoresde
Golgi e os corpúsculosde
Pacinios mais
numerosos
(Foss&
Keteuian, 2000;Powers
&
Howley, 2000).A
cinestesia permite o serhumano
realizarmovimentos
uniformes e coordenados,manter a
postura corporal
e
o tônusmuscular
normal (Foss&
Keteuian, 2000).Os
quimiorreceptoressão
sensíveis as alterações químicas relacionadasao
metabolismo muscular (Powers
&
Howley, 2000).A
regulaçãodo movimento
pelo sistema nervoso centralé função das
seguintes estruturas:
o sistema vestibular, responsável pela
manutenção
do
equilíbrio,localizado
no
ouvido internoe
sensível a qualquermudança
na
posiçãoda
cabeça ou
da
direçãodo
movimento;›
formação
reticular, localizadano
tronco cerebral, relacionadacom
oz córtex cerebral, responsável pela organização
dos
movimentos
complexos;
o
cerebelo, pormeio
de
conexões
com
o córtex motor, responsável pelacoordenação
e monitorizaçãodos
movimentos
complexos
e pelaaprendizagem
motora;ø
medula
espinhal, influenciando osmovimentos
voluntários pormeio dos
reflexos medulares, refinando os movimentos, devido
à
interaçãodos
neurônios
medulares
com
os centros cerebrais superiores(Powers
&
Hóider, 2000).
Podemos
resumircomo
funçõesdo
sistema nen/oso relacionadasao
movimento
o controle voluntárioe
involuntário e a assimilaçãode
experiências necessárias àmemória
eao
aprendizado motor, regulando e integrando aação
músculo-articular.
Mesmo
para o desenvolvimentode
tarefas simples, ocorreum
recrutamentoe
interaçãode
inúmeras
estruturas, resultandoem
desempenho.
O
sistema neuro-múscuIo-esquelético,como
exposto, é vital paraa
sobrevivência, tanto
em
relaçãoàs
atividadesde
vida diária inerentesao
homem
quanto
àsações
especializadasdo
trabalho.Ranney
(2000) afirmaque
todasas
estruturapossuem
um
pontode
ruptura, inclusive
os
tecidos biológicos.As
cargas físicasexperimentadas
pelohomem
em
seu
trabalho,como
afirmado porGrandjean
(1998),podem
contribuir significativamente para a ocorrênciade
afecçõesdo
sistemado
movimento, inclusive os
DORTs,
que tem acometido grande
parteda
forçade
trabalhodo
mundo.
2.2
Distúrbios
do
Sistema Músculo-esquelético
O
termo distúrbio é amplo,abrangendo
qualquer tipode
patologiaque
acomete
o serhumano,
significando “perturbação orgânica”.Doença
é a faltaou
perturbaçãode
saúde,ou
seja,um
distúrbio.É
um
estadode
faltade
mal (sintomas)
e
apresenta alterações orgânicas evidenciáveis (sinais), talcomo
descrito por Brasileiro Filho (2000).As
doenças
que
acometem
o serhumano
podem
ser classificadassegundo
sua
progressão,como
propõe
Pereira (1999):
o
Doenças
de
evolução aguda, rapidamente fatal (Ex: exposiçãoa
altasdoses de
radiaçãoe
raiva);o
Doenças
de
evolução aguda, clinicamente evidentee
com
rápidarecuperação
na
maioriados casos
(Ex: infecções respiratórias);~
Doenças
de
evoluçãosem
alcançaro
limiar clínico (Ex: infecçõessub-clínicas);
o
Doenças de
evolução crônica,com
exteriorizaçãoe
progressão parao
óbitoapós
longo período (Ex: afecções cardiovascularesdegenerativas);
o
Doenças de
evolução crônica,apresentando
períodos assintomáticos intercaladosde exacerbações
clínicas (Ex: afecções psiquiátricas e dermatológicas).As
doenças,sob
a óticada
saúde ou
medicinado
trabalho,são
classificadas levando-se
em
conta o agente causalao
qualo
indivíduoé
exposto, fazendo-se necessária àabordagem
de
alguns conceitos, principalmente pela faltade consenso quanto
àdenominação
das doenças
músculo-esqueléticas relacionadas
ao
trabalho.O
termo lesão refere-seao
“danocausado
portrauma
físico, sofridopelos tecidos
do
corpo.” (Whiting&
Zerr1ick,.2001:16). Esta definição relaciona-se
diretamenteao
trauma, representando graveproblema
de saúde
públicaem
decorrênciados
acidentes automobilísticos eda
violência urbana.O
conceitode
lesãosob
a Óticada
patologia émais
amplo,sendo
consideradoum
conjuntode
alterações morfológicas, moleculares e funcionaisque surgem
nos
tecidos corporais
após
uma
agressão
(Brasileiro Filho, 2000).Com
freqüência o termo lesão é utilizadoerroneamente
para designarquadros
onde
sintomas dolorosossão
referidos,mas
não
há
evidênciade
L.E.R
(Lesões
por Esforços Repetitivos),que
condicionaa
vigênciade
lesãoao
agente
causal esforço repetitivo, eventosnem
sempre
presentes.Ranney
(2000) diferencia“doença
ocupacional”,“doença
relacionadaao
trabalho” e “distúrbio":
o
Doença
ocupacional é utilizado apropriadamentequando
há
relaçãodireta entre
um
fatorde
risco eum
dano
à saúde.o
Doença
relacionadaao
trabalhodescreve
a situaçãoem
que,no
trabalho, múltiplos fatores estäo associados à
doença
e,concomitantemente, exposições
não
ocupacionaispodem
produzi-Ia. o Distúrbio difere-sede
doença
por esta representarum
claroprocesso
ou
agente patológico secundárioa
exposiçãoao
fatorde
riscoocupacional e aquele se apresentar
como
"...resultadosde
patogènese
incerta,podendo
constituirde
sintomassem
sinaisóbvios...” (Ranney,
2001
:69).Mendes
(1999) diferencia asdoenças
profissionaisdas
doenças
relacionadas
ao
trabalho por aquelasnão
serem
consideradas “específicas”do
trabalho,
ou
seja,são doenças
cuja incidênciaou
prevalência ocorreem
determinadas
categoriasde
trabalhadores. Já asdoenças
relacionadasao
trabalho
são
definidas a partirde
estudos epidemiológicos e geralmentesão
aquelas
onde
as condiçõesde
trabalho constituemum
fatorde
risco adicional. Oliveira (1998:23) exemplifica que:“Nas doenças
profissionais, oagente
provoca lesões, quaisquer
que
sejam
as atividadesdo
hospedeiro,desde
que, obviamente,as
condiçõesde
trabalhopossam
ensejaruma
agressão”.Ranney
(2000) corroboracom ambos
os autores, afirmandoque
otermo
doença
ocupacional é utilizado apropriadamentequando
há
relaçäo direta entreum
fatorde
risco eum
dano
à saúde.A
doença
relacionadaao
trabalhodescreve
um
sistema integradode
fatoresde
risco dentro e forado
trabalho.Para
osfins
deste estudo,podemos
afirmar,de forma
sintética,que
osdistúrbios músculo-esqueléticos relacionados
ao
trabalhopodem
ser classificados,em
relaçãoaos seus padrões de
progressão,como
de: a)evolução aguda; b) evolução
sem
alcançar o limiar clínico; c) evolução crônicacitamos a situação
de
fadiga muscular associada à sintomatologia dolorosaexperimentada
após
uma
cargade
trabalhonão
habitual.O
trabalhador,mesmo
sem
história anteriorde
DDRT,
apresentaum
distúrbio,_que
teráremissão
se
os fatores causaisnão
se repetirem.Como
a utilizaçãodo
termo distúrbionão é
reducionista,poderíamos
classificar este eventocomo
um
distúrbio transitório, respeitando
obviamente
onexo
causal. Finalizando,a
.evoluçãodos
DORT,
ao
nosso
ver, possuium
período sub-clínico,com
ausência
de
sintomatologia dolorosa.2.3
Classificação
dos
Distúrbios
Músculo-esqueléticos
A
classificação clínicadas doenças músculo
esqueléticasnão
apresenta consenso. Verifica-seque
muitos distúrbios, inclusive asformas
clínicasdos
DORTs
são
classificadas tantocomo
ortopédicas, reumatológicasou
neurológicas,
seguindo
a lógicade cada
especialidade.Os
critériosde
classificação
são
quantoao
localanatômico acometido ou
a fisiopatologiada
doença. Devido
à complexidade
em
se definir oque
éDORT,
e este serum
grupo
de doenças
enão
apenas
uma
ou, freqüentemente, apresentar-secomo
um
conjuntode
sintomas dolorosossem
sinais detectáveis,é
naturalque
estasindefinições ainda ocorram. Preferimos utilizar a Classificação Internacional
de
Doenças
-
CID
10,mundialmente
aceitae
utilizada pelosórgãos
oficiais brasileiros,que
no
capitulo XIIIagrupa as doenças do
sistemaosteomuscular
.edo
tecido conjuntivo (anexo 1).O
profissionalde
saúde
depara-secom
patologiasde
difícil classificaçãoclínica, constituindo-se
um
desafio às ciênciasque
sededicam
àsaúde
do
trabalhador a elucidação
dos
distúrbiosdo
sistema neuro-músculo-esquelético relacionadosao
trabalho.Assunção
(2001), discorrendo sobre a dornos
DORTs,
afirmaque há
casos
onde
oachado
de
doraparentemente
não
se explica pela lesãodetectável
ou
quando
a dor é associada auma
lesãoque
teoricamente seria insuficiente para explicar a intensidade daquele sintoma.Cruz
(2001:33) sintetiza, assim, aquestão
do
diagnósticodos
distúrbiosmúsculo-esqueléticosz
se
apresentam
atravésde
um
quadro
doloroso inespecífico,com
dificuldade
de
diagnóstico devidoà
subjetividadedo sintoma-da
dor.Faz
parte
de sua
etiopatologiaza
sobrecarga músculo-esquelética (dinâmicae estática)
e
a sobrecarga mental.”O
INSS
-
Instituto Nacionalde Seguridade
Social (1997)reconhece
como
de
possível associaçãocom
o trabalhoalgumas formas de
tendinites,_ incluindo adoença
De
Quervain,dedo
em
gatilho, epicondilites, tendinitebicipital
e
do
supra-espinhoso, tenossinovitesde
membro
superior;as
neuropatias
compressivas
e outras patologias,como
cistose
fibromialgias.Observamos que não
são
mencionadas
patologiasque
acometem
outras localizaçõesanatômicas
que
não os
membros
superiores.As
patologias relacionadas abrigadas pela Classificação Internacionalde Doenças, nos
capítulos
que
tratamdas doenças
osteomusculares edo
sistemanervoso
apresentadas
nos
anexos
1e
2.2.4
Os
Distúrbios
Osteomusculares
Relacionados
ao
Trabalho
(DORTs)
A
inter-relação entre o trabalho e adoença
foiobservada ao
longoda
história. Papiros egípcios
fazem
referências à. relaçãosaúde
e trabalho(Mendes,
1999). Hipócratesdescreveu o
saturnismo' e os distúrbios crônicosnas
mãos
devido amovimentos
repetitivos(Mendes,
1999; Ramazzini, 2000).Ramazzini
(2000)descreveu mais
de
cinqüentadoenças dos
trabalhadores, dentre elas
as doenças dos
escreventes,que
atualmente seria classificadacomo DORT.
Ramazzini
é referenciadocomo
o paida
medicinado
trabalho
e
introduziuna
consultamédica
a pergunta:Qual
sua
ocupação?
(Lemos, 2001; Cruz, 2001).
Em
1891, FritzDe
Quervaindescreveu
a tenossinovitedo
polegarcomo
a “entorseda
lavadeira”, até hoje conhecidacomo
tenossinovite estenosante1
ou
síndrome
De
Quervain e
em
1920, Bridgedenominou
“cãibra ocupacional”ao acometimento
de
tecelõesde
fios
de algodão
(Oliveira, 1998).A
pena usada
pelos escreventes foi substituída pelo trabalhomecânico e
os casos
de
DORT
acentuaram-se no
século XX, tornando-seum
problema
de
saúde
pública mundial,em
nações
desenvolvidas e industrializadasem
maiorou
menor
grau,e
serecentemente
levou muitosa
acreditarque
se
tratavade
uma
nova
doença,nada mais
éque
aexacerbação de
um
adoecimento
que
sempre
acompanhou
ohomem.
Ribeiro (1997) relataque
os casos de
LER
tornaram-se
mais
freqüentessomente
após o
segundo
cicloda
revoluçãoindustrial,
quando
o trabalhomecânico
passou a
serusado
poralgumas
categorias,
como
os telegrafistas, exigindo maior destrezadas mãos.
Conclui Ribeiro (1997: 88)“Após
ametade do
presente séculoesse
carátere
exigênciado
trabalhose fizeram universais, invadindo literalmente todas as atividades
econômicas
e sujeitando todasas
categorias.Em
nivelde
tecnologia, oque marca
essa
inflexãoé
a aceleradaautomação
dos
processosde
produção,
não mais
mecânica,mas
eletroeletrônica, simbolizada pelos robôs e computadores.No
mesmo
passo,as
LER
deixaram
de
serum
modo
de adoecimento de
umas
poucas
categoriasde
trabalhadores, para serde
todas e a ocorrer tão freqüentemente»que
se
tornaramum
graveproblema
do
trabalho, social ede
saúde
pública.”Os
distúrbios músculo-esqueléticos,quando
conseqüências da
atividadelaboral, foram
designados
ao
longodas
últimasdécadas
por várias terminologias.No
século XX,na
década
de
50, a força produtivajaponesa
foiacometida
poruma
epidemia de
distúrbiososteomusculares
relacionadosao
trabalho,
os
quaisforam
denominados
inicialmentecomo
“tenossinovitesí Posteriormente,em
1965,o termo
foimudado
para “síndrome cervicobraquial”e
em
1973 passou a denominar-se “desordem
ocupacional cervicobraquial”(Rio, 1999).
Na
década
de
70, ocorreua
chamada
“epidemia australianade
LER”,despertando
aatenção do
mundo
para o problema.Os
benefíciospagos
principalmente a digitadores e trabalhadores
de
linhade
montagem
profissionais
de saúde
de
vários países. Browne,Nolan e
Faithfull (1 9841330)denominou
os
sintomas dolorososna
região cervicobraquialde
“Repetitive Straín injury”-
RSI
-
termo
traduzidocomo
LER
(Lesões por EsforçosRepetitivos), definindo o
adoecimento como:
“Doenças
músculo-tendinosasdos
membros
superiores,ombro
e
pescoço,
causadas
pela sobrecargade
um
grupo muscular
particular,devido
ao
uso
repetitivoou
pelamanutenção
de
posturas contraídas,que
resultamem
dor, fadigae
declíniodo
desempenho
profissional.”Nos EUA,
na
década
de
80, consolidou-se adenominação
“Cumu/ativeTrauma
Disorders - CTD”, incluindo distúrbiosde
todo o sistemamúsculo-
esquelético
de
ocorrênciaem
trabalhadores expostos atraumas
cumulativos(Rio, 1999;
Santos
Filho&
Barreto, 1998). Armstrong,apud Assunção
(1999: 176) definecomo
CTD:
“...as lesões
do
tecidomole
devido amovimentos
e esforços repetitivosdo
corpo.Embora
possam
ocorrerem
todos os tecidos, os nervos, tendões, bainhas tendinosas emúsculos das
extremidades superioressão
os locaismais
freqüentesnos
relatos.”As
primeiras descriçõesno
país acercade
distúrbiosmúsculo-
esqueléticos
em
trabalhadores foram relatadasno
XIICongresso
Brasileirode
Prevenção de
Acidentesno
Trabalhoem
1973,quando
foramapresentados
casos
denominados
"tenossinovite ocupacional”em
lavadeiras, Iimpadorase
engomadeiras
(INSS, 1 997).Entre os
anos
de
1984/1985, os distúrbios músculo-esqueléticoscomeçaram
a ser relatados entre bancáriosque
trabalhavamcomo
digitadorese foram
denominados
de Lesão
por Esforços Repetitivos.Em
pouco
tempo,as
afecções
passaram
a ser diagnosticadasem
escriturãrios e caixasde
banco,nas
indústrias metalúrgica, química e, principalmente,em
trabalhadoresde
linha
de
montagem
eletroeletrônica (Ribeiro, 1997).Segundo
Couto
(1998), otermo
LER
éuma
traduçãodo termo
australiano “Repetítíve Straín injury'sendo
oficializado pela portaria4062 do INSS
-
Instituto Nacionaldo
Seguro
SocialNa
década
de
90, otermo Work-Re/ated
MuscuIo-Ske/eta/ Disorders(WMSDS)
consolida-se mundialmente, inclusiveno
Brasil,sendo
traduzidocomo
DistúrbiosOsteomusculares
Relacionadosao
Trabalho.O
termo
DORT
tem
sido preferido por evitar o diagnóstico “prévio”e
sermais
abrangente, exigindoa
relaçãocom
o trabalho enão
omecanismo de
acometimento,
sendo
adotada no
Brasil peloINSS desde
1997
em
substituiçãoa
LER.
Muitas disfunções
do
sistema músculo-esqueléticonão
possuem
características claras para
sua
uma
classificação definitiva,podendo
um
indivíduo apresentar
um
quadro
doloroso severosem
apresentar lesão, tantodo
pontode
vistada
fisiopatologia quantoda
traumatologia.Tem-se
utilizado,para a
designação desses
quadros, o termo distúrbio (Ranney, 2000; Rio,1999).
A
norma
técnicado
INSS
(1997:2) conceituaDORT
como
“uma
síndrome
caracterizada por dor crônica,acompanhada
ou não
por alteraçõesobjetivas
e
que
se
manifesta principalmenteno
pescoço, cintura escapular eloumembros
superioresem
decorrênciado
trabalho.”Couto
(1998)define
DORT
como
sendo
os transtornos funcionais,mecânicos
e lesõesde músculos
eloutendões
eloude
fáscias eloude
nervoselou
de
bolsas articulares e pontosósseos nos
membros
superioresocasionados
pela utilizaçãomecanicamente
incorretados
membros
superiores,que
resultamem
incapacidade temporária e,conforme o
caso,podem
evoluirpara
uma
síndrome
dolorosa crônica, nesta faseagravada
por todos os fatores psíquicos (inerentesao
trabalhoou
não)capazes de
reduzir o limiarde
sensibilidade dolorosa
do
individuo.Przysiezny (2000)
em
artigode
revisão sobreDORTs,
utiliza o termocomo
DistúrbiosOcupacionais
Relacionadosao
Trabalho (grifo nosso). Estadenominação
se porum
lado amplia a classificaçãode doenças do
trabalhador,não
podendo
ser utilizada especificamente para designar distúrbiosmúsculo-
esqueléticos,