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Brasileiros nos Estados Unidos e Japão

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Academic year: 2021

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Brasileiros nos Estados Unidos e Japão

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Wilson Fusco UNICAMP/IFCH/NEPO

Fábio Yoiti Hirano UNICAMP/NEPO Roberta Guimarães Peres UNICAMP/IFCH/NEPO

Palavras chave: Migração Internacional, Redes Sociais, Estados Unidos, Japão.

Introdução

Na formação da sociedade brasileira a imigração estrangeira contribuiu para a consolidação e desenvolvimento do país, importando e utilizando-se da mão-de-obra européia e asiática. O Brasil desempenhou o papel de país receptor de imigrantes até por volta da década de 60 do século XX, para então exercer a função de exportador de trabalhadores para os EUA, Japão e alguns países da Europa, a partir da segunda metade da década de 80, em um novo contexto econômico, social, político e cultural (Patarra & Baeninger, 1996).

O movimento em direção ao Japão ficou conhecido pela imprensa e população brasileira como Dekassegui e constitui o terceiro maior grupo de brasileiros no exterior, uma migração recente que teve seu auge no começo da década de 90 e que vem mantendo uma certa continuidade. A migração com destino aos EUA constitui a principal corrente migratória dos trabalhadores brasileiros, como por exemplo o caso dos mineiros de Governador Valadares (Assis,1995; Sales,1999; Scudeler,1999:

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Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

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Este trabalho é baseado nos dados produzidos pelo projeto “As Redes Sociais nas Migrações Internacionais”, coordenado pela Profa. Dra. Teresa Sales.

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2 Fusco,2000). As duas correntes migratórias apresentam algumas similaridades, mas com particularidades importantes que permeiam cada processo.

No caso de Brasil – Japão, a migração é recente , tendo início na segunda metade da década de 80 do século passado. O auge desse fluxo foi atingindo por volta de 1991 após a Reforma da Lei de Imigração Japonesa, promulgada em junho de 1990, que concede um status de permanência levando em consideração o relacionamento sangüíneo com pessoas de nacionalidade japonesa (Sasaki,1999). Essa política migratória possui uma natureza seletiva, “pois parte do pressuposto de adotar o critério da ascendência japonesa para a entrada de trabalhadores no país, além, da valorização da consangüinidade como critério seletivo de parentesco” (Kawamura, 1999).

Esse movimento tem início num momento em que ambos os países estão passando por profundas transformações na área política, econômica e social. No Brasil, a década de 80 ficou conhecida como a “década perdida”, marcada pela instabilidade política, queda no desempenho econômico, elevação do custo de vida, crescente queda do poder aquisitivo, alta taxa inflacionária, aumento do desemprego e pela conseqüente deterioração das condições de vida de grande parte da população, em particular dos estratos médios. (Kawamura, 1999; Sales,1999).

Do outro lado do mundo, o Japão estava vivendo um momento de crescimento econômico acelerado, que implicava numa demanda de mão-de-obra para atingir a produtividade desejada. O problema é que havia uma escassez de mão-de-obra relacionada a fatores sociais e culturais: há um certo preconceito dos jovens em relação a trabalhos desqualificados; uma pequena participação de mulheres em idade produtiva no mercado de trabalho; ao envelhecimento da população; à baixa taxa de natalidade e casamento tardio da população japonesa. (Kawamura, 1999; Sasaki, 1999).

Devido a estes fatores sociais, culturais e políticos, trabalhadores brasileiros são recrutados através de agências especializadas para preencher os postos de trabalho conhecido como 5Ks: pesado (kitsui), perigoso (kiken), sujo (kitanai), exigente (kibishii) e indesejável (kirai) (Kawamura,1999). A dinamicidade do fluxo com uma duração de quase duas décadas, consolidou-se e estabilizou-se estreitando as relações sociais dos países envolvidos.

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3 O fluxo migratório Brasil – EUA, especificamente o caso da cidade de Criciúma, também tem seu início em meados de 1980 e ganha visibilidade e força a partir de 1990, como visto no caso de Governador Valadares (Fusco,2000; Assis,1999; Scudeler,1999). Ao contrário do movimento Dekassegui, não houve por parte do governo americano qualquer incentivo, como o Bracero, que na década de 1950 atingiu grande quantidade de mexicanos. (Fusco, 2000).

Entretanto, esta emigração tem características diferentes daquela que se dirige ao Japão, pois são em sua maioria emigrantes clandestinos e disputam com outros imigrantes brasileiros um lugar no mercado de trabalho secundário americano (Scudeler, 1999), havendo ainda um enorme silêncio sobre estes emigrantes que não desejam ser identificados como trabalhadores ilegais.

Foi principalmente ao longo dos anos 90 que o fluxo migratório que parte da cidade de Criciúma se intensificou e ganhou maior dimensão. Com a ida dos primeiros grupos de migrantes aos Estados Unidos, as redes sociais que ligam os dois países começaram a se fortalecer, desenvolver e sustentar uma corrente que tem força ainda nos dias atuais. De forma diferente da migração nipo-brasileira, são as redes de parentesco e amizade as principais mantenedoras do processo, no que se refere desde à programação da viagem, passando pela ajuda num primeiro momento no país de destino até o fornecimento de informações sobre hospedagem e emprego (Sales, 1999; Fusco, 2000)

Em virtude da natureza diversa dos dois fluxos, o objetivo desse trabalho consiste em analisar, a partir da condição de legalidade e da utilização de redes, os efeitos que estas variáveis exercem sobre os caminhos e estratégias que cada grupo migrante percorre em sua experiência migratória.

Desta maneira, Criciúma e Maringá vêm, ao longo do tempo, estabelecendo correntes migratórias com características próprias, que acabam por se inserir no contexto atual dos países exportadores de mão de obra.

Em seguida serão apresentados os principais resultados relacionados à população migrante das cidades de Criciúma e Maringá. As tabelas foram agrupadas em três itens: o primeiro referente à caracterização do fluxo, o segundo diz respeito à questão da legalidade do movimento e por fim, o último relacionado ao uso das redes sociais. É de

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4 acordo com esses fatores que será analisada a organização social específica para a migração internacional de cada um dos grupos.

Caracterização da População Migrante das Cidades de Criciúma e Maringá

A tabela 1 apresenta a condição de presença da população amostrada. A variável condição de presença está dividida em duas categorias: retornado (já residiu em outro país mas estava no Brasil na época do survey); e ausente (residia no exterior no momento do survey).

Tabela 1

População migrante segundo condição de presença. Criciúma e Maringá, 2001 Condição de Presença Criciúma Maringá N % N % Retornado 149 26.3 473 61,1 Ausente 417 73.7 301 38,9 Total 566 100.0 774 100.0

Fonte: pesquisa amostral; Casos Válidos: Criciúma: 566; Maringá: 774 Total de Criciúma: 566, Maringá: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

No caso de Criciúma, pode-se observar que 26,3% são retornados, enquanto que 73,7% correspondem a ausentes. Em Maringá encontra-se a situação inversa: a maior parte da população de migrantes é de retornados, com 61,1% e os ausentes aparecem com 38,9%. A maior proporção de retornados, quando comparados não apenas à população migrante, mas também ao fluxo originário de Governador Valadares (Fusco, 2000), reflete o contexto atual da migração de brasileiros para o Japão, devido à desaceleração de sua economia e seu impacto no mercado de trabalho (Sasaki, 2000).

A tabela 2, a seguir, mostra como foram declarados os migrantes que partiram de Criciúma e Maringá segundo condição de legalidade. A entrada e permanência do

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5 migrante de Criciúma no país de destino apresenta duas faces. Num primeiro momento ele entra, geralmente, de maneira legal, mas o período de seu visto expira em poucos meses tornando sua condição ilegal. Cerca de 87,1% dos migrantes criciumenses encontram-se neste caso, e apenas 12,9% têm sua permanência legalizada. Deve-se considerar ainda a resistência natural a se declarar a ilegalidade, o que nos leva a concluir que o índice de ilegais pode ser ainda maior.

Tabela 2

Migrante segundo condição de

entrada e permanência no país de destino Criciúma, 2001 Condição de entrada e permanência Criciúma Maringá N % N % Legal 70 12,9 690 94,9 Ilegal 472 87,1 37 5,1 Total 542 100,0 720 100,0

Fonte: pesquisa amostral; Casos válidos: Criciúma: 542; Maringá: 720 Total para Criciúma: 566; Maringá: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Os migrantes que partem de Maringá, em sua grande maioria, para o Japão, encontram uma realidade totalmente diferente da enfrentada pelo grupo que se desloca aos Estados Unidos, originários tanto de Criciúma como de Governador Valadares (Fusco, 2000). Uma série de facilidades para descendentes oferecidas pelo governo japonês mantém a grande maioria do grupo (94,9%) de forma legal no país.

Outro dado explorado por Fusco (2000) no seu estudo de caso de Governador Valadares é baseado em cruzamento do período da viagem segundo o sexo do migrante, que também é apresentado a seguir para Criciúma e Maringá, respectivamente.

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Tabela 3

Ano da primeira viagem segundo sexo Criciúma, 2001

Ano Migração Sexo (%) Total

M F Até 1989 6,2 4,0 5,4 1990 a 1993 12,1 10,0 11,2 1994 a 1997 21,4 21,5 21,4 1998 a 2001 60,3 64,5 62,0 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 341 200 541

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 541 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Analisando o caso de Criciúma, em números absolutos, os migrantes do sexo masculino são predominantes. Ao analisarmos a proporção de migrantes do mesmo sexo em função do período da primeira viagem, podemos abordar a dinâmica do processo por outra perspectiva. Pelos dados da tabela 3, observamos que aproximadamente 39,7% dos homens migrou até 1997, contra cerca de 35,5% das mulheres. Assim, proporcionalmente, os homens aparecem mais nos períodos iniciais, e as mulheres predominam no período mais recente. Esse dado remete à condição de legalidade do migrante: os homens, devido ao risco do projeto, se arriscam mais num primeiro momento; as mulheres migram num segundo momento, quando as redes sociais já estão mais consolidadas, pois a viagem se dá depois do estabelecimento dos homens no país de destino.

De acordo com o gráfico 1, podemos observar ainda a dimensão temporal do movimento de forma contínua da migração que parte de Criciúma: o fluxo toma força a partir da década de 90, com seu ápice entre 1998 e 2000.

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Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 541 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

No caso de Maringá, o período em que o fluxo foi mais intenso entre 1990 e 1992, tanto para homens como para mulheres, como apontam a tabela 4 e o gráfico 2. Novamente, não percebemos uma grande diferença para o período de primeira saída segundo o sexo do migrante, o que provavelmente está relacionado ao caráter legal da migração para o Japão, que diminui o risco da migração e favorece o equilíbrio entre os sexos. O gráfico 2 mostra ainda que o maior índice registrado foi entre 1990 e 1992, e encontra-se estabilizado, com diferenças bem menores entre os sexos, se compararmos ao caso de Criciúma.

Gráfico 1

Ano da primeira viagem ao exterior segundo o sexo Criciúma, 2001 0 10 20 30 40 50 60 70 80 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Ano N. de migrantes masculino feminino

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Tabela 4

Ano da primeira viagem segundo sexo Maringá, 2001

Ano Migração Sexo (%) Total

M F Até 1989 10,7 10,4 10,6 1990 a 1993 45,6 43,8 44,9 1994 a 1997 26,9 27,9 27,3 1998 a 2001 16,8 17,9 17,2 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 408 308 716

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 716 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 716 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Gráfico 2

Ano da primeira viagem ao exterior segundo o sexo Maringá, 2001 0 10 20 30 40 50 60 70 80 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Ano N. de migrantes masculino feminino

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9 Os motivos que levam alguém a migrar estão expostos nas tabelas 5 e 6. A tabela 5 indica que 83,7% dos migrantes de Criciúma alegaram que o principal motivo para migrar foi econômico, declarado por 88,9% dos homens e 73,9% das mulheres. Outro motivo que influenciou na decisão de migrar foi acompanhar os familiares ou juntar-se a eles, que corresponde a 16,3% da amostra. Neste caso, a proporção de migrantes do sexo feminino atinge 26,1% contra 11,1% do sexo masculino.

Tabela 5

Motivo da migração segundo o sexo Criciúma, 2001

Motivos para migrar Sexo (%) Total

M F

Econômicos – p/ trabalhar 88,9 73,9 83,7 Juntar-se/ acompanhar familiares 11,1 26,1 16,3

Total % 100,0 100,0 100,0

Total 342 184 526

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 526 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Tabela 6

Motivo da migração segundo o sexo Maringá, 2001

Motivos para migrar Sexo (%) Total

M F

Econômicos – p/ trabalhar 94,4 84,0 89,9 Juntar-se/ acompanhar familiares 5,6 16,0 10,1

Total % 100,0 100,0 100,0

Total 408 308 716

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 716 Total: 774

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10 A tabela 6 revela que 94,4% dos homens e 84,0% das mulheres que migraram de Maringá o fizeram para trabalhar, ou por motivos econômicos. A possibilidade de juntar-se à família, que já estaria no exterior tem índice maior entre as mulheres: 16,0%, enquanto que apenas 5,6% dos homens justificaram a migração através de saudades da família. Esses dados confirmam um processo já conhecido, no qual boa parte das mulheres migram para se encontrar com seus parceiros no destino.

A grande diferença aqui não se dá entre os dois fluxos, mas entre os sexos: tanto em Criciúma quanto em Maringá as mulheres, em maior proporção que os homens, migram para acompanhar familiares.

Seletividade do Processo Migratório e Status de Permanência dos Migrantes

Depois dessa primeira caracterização dos fluxos, passamos agora a analisar os fatores que selecionam o grupo migrante, a saber: idade, sexo, condição no domicílio, escolaridade e conhecimento prévio da língua do país de destino.

As tabelas 7 e 8 exibem os migrantes, segundo o sexo, classificados por faixas qüinqüenais de idade. Podemos observar para o caso de Criciúma que as primeiras faixas de idade, até 14 anos, apresentam uma distribuição equilibrada entre os sexos. De 15 a 29 anos, a população feminina é proporcionalmente maior, ocorrendo o inverso para as idades superiores a 30 anos. De forma geral, podemos dizer que o migrante homem tem a média de idade superior a da mulher, fato também verificado no fluxo de emigrantes de Governador Valadares (Fusco, 2000).

A idade é um fator de seletividade nos movimentos migratório, nos quais geralmente se inserem os mais jovens (Martes, 1999; Soares, 1999; Assis, 1999; Sales, 1999; Sasaki, 2000; Fusco, 2000). A partir da análise da tabela 7, observamos que o grupo tem idade concentrada na faixa entre os 20 e os 34 anos, o que caracteriza uma população jovem, no auge de sua idade produtiva. O fato da migração em Criciúma grande parte ser ilegal, seleciona mais jovens a se arriscarem no projeto.

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Tabela 7

População migrante por grupos de idade segundo sexo Criciúma, 2001 Grupos de idade Sexo (%) Total M F 0-4 2,5 2,8 2,7 5-9 2,8 2,4 2,7 10-14 2,5 4,2 3,2 15-19 2,3 4,7 3,2 20-24 16,1 19,8 17,5 25-29 19,2 19,3 19,3 30-34 17,0 17,0 17,0 35-39 13,6 12,3 13,1 40-44 13,0 6,1 10,4 45-49 3,7 2,8 3,4 50-54 4,0 3,8 3,9 55-59 0,8 1,9 1,2 60 ou mais 2,2 2,9 2,4 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 354 212 566

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 566 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional.

Na tabela 8 também observamos que a maior parte do grupo migrante possui entre 20 e 34 anos, com 40,7% dos migrantes. No caso de Maringá, no entanto, há pouca diferença entre os sexos, uma vez que a condição legal garante os mesmos direitos para ambos e acaba por não tornar o sexo um fator de seletividade.

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Tabela 8

População migrante por grupos de idade segundo sexo Maringá, 2001 Grupos de idade Sexo (%) Total M F 0-4 0,7 0,6 0,6 5-9 1,6 3,2 2,3 10-14 1,6 3,5 2,5 15-19 3,0 2,6 2,8 20-24 12,7 14,1 13,3 25-29 14,3 12,9 13,7 30-34 13,9 13,5 13,7 35-39 11,1 10,0 10,6 40-44 6,9 7,0 7,0 45-49 6,5 6,5 6,5 50-54 8,3 7,9 8,1 55-59 7,1 4,7 6,1 60 ou mais 12,3 13,5 12,8 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 433 341 774

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 774 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

As tabelas 9 e 10 apresentam a condição do migrante no domicílio. Ao observarmos a condição do migrante no domicílio na tabela 9, verificamos que, no caso de Criciúma, 22,7% são chefes de domicílio, sendo que 32,3% dos homens estão nesta condição e 6,6% de mulheres. Considerando somente os chefes, temos que aproximadamente 89% são homens e apenas 11% são mulheres. Isto demonstra que a mulher considerada chefe de domicílio tem pouca expressão no contingente de migrantes.

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Tabela 9

Condição no domicílio para a população migrante segundo sexo Criciúma, 2001 Condição no domicílio Sexo (%) Total M F Chefe 32,3 6,6 22,7 Cônjuge 7,9 23,2 13,7 Filho/a 43,2 59,2 49,2 Irmão/Irmã 3,1 3,9 3,4 Outros Parentes 13,5 7,1 11,0 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 353 211 564

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 564 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

A maior parte dos migrantes que compõem o fluxo originário de Criciúma é formada por filhos e filhas, com 49,2%. Além da maior parte da amostra ser composta de filhos e filhas, mais uma vez, o grupo é selecionado: o risco da migração ilegal impulsiona mais jovens à empreitada.

Como pode-se constatar na tabela 10, que indica a condição dos migrantes de Maringá no domicílio segundo o sexo, 40,5% dos homens que migraram são chefes de domicílio, enquanto que 7% das mulheres têm a mesma condição familiar.

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Tabela 10

Condição no domicílio para a população migrante segundo sexo Maringá, 2001

Condição no domicílio Sexo (%) Total

M F Chefe 40,5 7,0 25,7 Cônjuge 5,6 33,7 18,0 Filho/a 42,1 41,1 41,7 Irmão/Irmã 4,6 4,1 4,4 Outros Parentes 7,2 14,1 10,2 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 432 341 773

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 773 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Os maiores índices, no entanto, são registrados por migrantes que, em relação ao chefe de suas famílias, são caracterizados por filhos e filhas: 42,1% dos homens que migraram estão na condição de filho, contra 41,1% das mulheres que migraram na mesma condição. Comparando as duas cidades, podemos dizer que o número de filhos por domicílio entre migrantes em Criciúma é maior que em Maringá, provavelmente devido ao caráter de legalidade do movimento como apontado acima.

O nível de escolaridade dos migrantes, uma das “ferramentas” mais importantes na busca de emprego em outro país, é apresentado na tabela 11 abaixo. O nível de escolaridade do migrante de Criciúma concentra-se principalmente no colegial (incompleto/ completo) com 44,5% da amostra; 26,5% atingiram o ginasial (incompleto/ completo). O migrante com nível superior corresponde a 17,9%. Os migrantes que não chegaram ao segundo grau correspondem a 37,6%, sendo que não foram registrados casos de analfabetismo na cidade de Criciúma

De forma semelhante, Maringá também apresenta a maior parte de seus migrantes com o colegial completo ou incompleto (32,4%). O índice de migrantes com nível superior, completo ou não, é de 29,3%. Esses valores refletem o alto nível de escolaridade dos migrantes maringaenses, se compararmos os dois fluxos.

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Tabela 11

População migrante segundo condição de presença Criciúma e Maringá, 2001

Escolaridade Criciúma Maringá

N % N % Analfabeto - - 8 1,0 Primário incompleto 31 5,7 43 5,6 Primário completo 29 5,4 65 8,5 Ginásio incompleto 75 13,8 61 8,0 Ginásio completo 69 12,7 116 15,2 Colegial incompleto 60 11,1 49 6,4 Colegial completo 181 33,4 199 26,0 Universitário incompleto 54 10,0 97 12,8 Universitário completo 43 7,9 126 16,5 Total 542 100,0 764 100,0

Fonte: pesquisa amostral; Casos válidos: Criciúma: 542 ;Maringá: 764. Total de Criciúma: 566; Maringá: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional. População com 5 anos ou mais.

Os estudos que tratam da migração internacional de brasileiros, de forma geral, classificam a escolaridade do migrante como superior à média nacional (Sales, 1999; Fusco, 2000). Esse padrão se confirma em Criciúma e Maringá, tanto para a população migrante, quanto para os integrantes dos domicílios na origem, comparados à média local. Também foi constatado que o nível de escolaridade da amostra de Maringá é superior ao de Criciúma, o que pode estar relacionado com a escolha deliberada de um universo mais restrito da população, neste caso os nipo-brasileiros, na cidade paranaense.

O conhecimento do idioma do país de destino antes do migrante realizar sua primeira viagem, é exibido na tabela 12, abaixo. A tabela 12 mostra que 60,1% dos migrantes originários de Criciúma não tinham qualquer fluência na língua do país de destino. Somados aos 28,3% que tinham um conhecimento regular, provavelmente

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16 insatisfatório, tem-se que 88,4% dos migrantes não dominavam a língua do país de destino.

Tabela 12

População migrante segundo nível de domínio no idioma do país de destino Criciúma e Maringá, 2001

Nível de domínio no idioma do pais de destino Criciúma Maringá N % N % Excelente 26 4,9 78 10,8 Bom 36 6,7 144 19,9 Regular 151 28,3 254 35,0 Nenhum 321 60,1 249 34,3 Total 534 100,0 725 100,0

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos Criciúma: 534, Maringá: 725 Total Criciúma: 566, Maringá: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Já em Maringá, a grande maioria dos entrevistados classifica seu conhecimento prévio da língua do país de destino como regular (35,0%) e nenhum (34,3%). Juntos, esses dois grupos somam 69,0% de todo o grupo migrante. Há ainda os que classificaram os que classificaram seu conhecimento como excelente (10,8%) e bom (19,9%) somam 30,0%. O fato desse conjunto de migrantes ser, em grande parte, formado por descendentes de japoneses justifica o relativamente alto índice de conhecimento do idioma do país de destino, quando comparado aos migrantes de Criciúma. Ainda que superiores aos níveis apresentados para Criciúma e Governador Valadares (Fusco, 2000), boa parte dos migrantes de Maringá não apresenta um nível satisfatório da língua do país de destino.

Concentração de migrantes no destino, formando comunidades filhas, é uma característica do fluxo de brasileiro para os Estados Unidos, que é um movimento predominantemente de clandestinos. Essa formação permite que o migrante viaje sem um conhecimento satisfatório do idioma. Assim, os migrantes criciumenses associam-se a essas comunidades, onde, em geral, se fala o português. A migração nipo-brasileira, ao contrário, tem como marca a legalidade. A dispersão do grupo é muito maior no destino, em virtude das exigências do mercado de trabalho local, o que exige do migrante um

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17 maior conhecimento da língua do país de destino, já que este não vai encontrar com tanta facilidade locais com grande concentração de brasileiros.

A qualificação necessária para inserção no mercado de trabalho é um outro fator que envolve o conhecimento prévio do idioma no país de destino. A população migrante que parte de Criciúma exerce, nos Estados Unidos, qualificação mais baixa que no caso de Maringá, em que o domínio da língua inglesa não é exigido. Já os maringaenses que se deslocam para o Japão sofrem uma seleção mais rigorosa no que diz respeito a esse quesito.

Presença de Redes Sociais na Migração Internacional aos EUA e Japão

A partir desse momento passaremos à caracterização do uso das redes sociais nos dois fluxos migratórios. Os grupos que partem tanto de Criciúma quanto de Maringá se utilizam desse tipo de relações de forma muito particular e particular e o que muito auxilia na caracterização dos dois fluxos.

As tabelas 13 e 14, a seguir, referem-se ao acompanhante do migrante em sua primeira viagem ao exterior. No caso de Criciúma, de acordo com a tabela 13, o migrante do sexo masculino migrou sozinho em maior proporção, cerca de 42,7% contra 39,3% do sexo feminino. Os migrantes que viajaram na companhia de algum parente somam 33,6%. Se olharmos separadamente, podemos perceber que 41,8% das mulheres que migraram estavam na companhia de algum parente, contra 28,8% dos homens.

Por outro lado, 24,4% dos homens de Criciúma que migraram estavam em companhia de amigos contra 13,9% das mulheres nas mesmas condições. Homens e mulheres, portanto, utilizam as redes sociais de maneiras distintas no que diz respeito ao acompanhante na primeira viagem de migração.

(18)

18

Tabela 13

População migrante segundo acompanhante na primeira viagem por sexo Criciúma, 2001

Acompanhante Sexo (%) Total

M F Sozinho 42,7 39,3 41,4 Parentes 28,8 41,8 33,6 Amigo/a 24,4 13,9 20,6 Outros Parentes 4,1 5,0 4,4 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 344 201 545

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 545 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Tabela 14

População migrante segundo acompanhante na primeira viagem por sexo Maringá, 2001 Acompanhante M F Total Sozinho 42,4 21,2 33,2 Parentes 50,8 71,8 59,9 Amigo/a 6,3 5,4 5,9 Outros Parentes 0,5 1,6 1,0 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 413 312 725

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 725 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Analisando a tabela 14, notaremos que os homens de Maringá também viajam sozinhos em maior proporção: 42,4% contra 21,2% de mulheres. Essas, no entanto, apoiam-se mais na companhia de parentes: 71,8% das mulheres que migraram viajaram acompanhadas por alguém da família enquanto que 50,8% (uma proporção bem maior do que o notado em Criciúma) dos homens o fizeram nas mesmas condições. Diferente

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19 do que foi visto na tabela 13, não há uma grande diferença entre homens e mulheres que viajaram acompanhados por amigos: 6,3% dos homens contra 5,4% das mulheres.

Pode-se dizer ainda que os migrantes criciumenses viajam estrategicamente sozinhos em maior número quando comparados ao grupo maringaense, devido justamente ao alto risco da migração ilegal para os Estados Unidos.

O potencial migrante internacional tem várias possibilidades para executar seu projeto de migrar. Desde antes da viagem, até sua colocação em um emprego, no país de destino, o indivíduo pode recorrer em algum momento à ajuda de parentes e amigos ou a agências especializadas. As tabelas 15 e 16 mostram como procederam os migrantes de Criciúma e Maringá, respectivamente, neste quesito.

O uso das agências de recrutamento é predominante no fluxo Maringá – Japão, em que 70,8% da população migrante recorreram a esse tipo de estratégia. Por outro lado, os migrantes que partem de Criciúma apresentam a situação inversa: 93,8% declararam que não utilizaram as agências de recrutamento em sua primeira viagem.

Tabela 15

Utilização de agência de recrutamento na primeira viagem ao exterior segundo o sexo Criciúma, 2001

Utilização de ag. recrutamento Sexo (%) Total

M F

Sim 6,9 5,2 6,2

Não 93,1 94,8 93,8

Total % 100,0 100,0 100,0

Total 319 193 512

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 512 Total: 566

(20)

20

Tabela 16

Utilização de agência de recrutamento na primeira viagem ao exterior segundo o sexo Maringá, 2001

Utilização de ag. recrutamento Sexo (%) Total

M F

Sim 75,3 64,9 70,8

Não 24,7 35,1 29,2

Total % 100,0 100,0 100,0

Total 400 296 696

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 696 Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

As tabelas 17 e 18 a seguir caracterizam os dois fluxos migratórios de acordo com a condição de presença e sexo. As variáveis presentes nas tabelas definem a origem da ajuda recebida pelo migrante em sua primeira viagem ao exterior. Ao declarar quem forneceu os recursos financeiros necessários, hospedagem e primeiro emprego, o migrante acaba revelando a teia de relações que liga origem e destino e sustenta os fluxos migratórios: as redes sociais.

As categorias postas em função dessas variáveis indicam se o migrante não recebeu qualquer tipo de auxílio (ninguém), se o fez através de parentes, amigos, agências de recrutamento ou por outras vias.

Uma outra característica das redes sociais é a forma como se dá o auxílio. Não necessariamente a ajuda para a hospedagem é direta: se um parente fornece essa ajuda, ele pode hospedar o migrante em sua própria residência ou ainda fornecer informações ou indicações de possíveis locais. O mesmo ocorre para a ajuda na obtenção do primeiro emprego. Essa troca de preciosas informações é fundamental para aqueles que se encontram na situação de clandestino em outro país sem conhecimento prévio do idioma.

É justamente nesse momento que podemos perceber as diferentes estratégias dos migrantes de Criciúma e Maringá para realizar o projeto migratório. De acordo com a tabela 17, somados os migrantes que contaram com recursos financeiros de parentes e

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21 amigos teremos 41,5% dos retornados e 51,2% dos ausentes. Pode-se dizer, então, que cada vez mais os migrantes de Criciúma têm se utilizado dos recursos financeiros disponibilizados pelas redes sociais, o que também foi verificado no caso de Governador Valadares (Fusco, 2000).

No quesito hospedagem, a utilização das redes é ainda mais visível : 82,6% dos migrantes retornados e 91,8% dos ausentes hospedaram-se em casas de parentes ou amigos, enquanto que apenas 9,8% dos retornados e 8,4% dos ausentes não obtiveram qualquer tipo de auxílio. As agências de recrutamento estão presentes no projeto migratório de pouquíssimos migrantes criciumenses: 0,7% dos retornados e 1,2% dos ausentes recorreram a este tipo de serviço.

A obtenção do primeiro emprego no destino, no caso do fluxo que parte de Criciúma, é outro aspecto que chama a atenção quanto ao uso das redes: 80,6% dos retornados e 81,3% dos ausentes conseguiram o primeiro emprego através de parentes ou amigos.

Tabela 17

Fonte de recursos financeiros, hospedagem e emprego em sua primeira viagem ao exterior, segundo condição de presença

Criciúma, 2001

Fontes Recursos

financeiros

Hospedagem Emprego Retornado Ausente Retornad

o Ausent e Retornad o Ausente Próprios 54,2 44,0 9,8 8,4 14,5 13,9 Parentes 38,0 47,0 43,4 44,8 30,6 34,8 Amigo/a 3,5 4,2 39,2 41,4 50,0 46,5 Ag. Recrutamento - 1,2 0,6 1,2 - 0,6 Outros 4,3 3,6 7,0 4,2 4,9 4,2 Total % 100,0 100,0 100 100 100,0 100,0 Total % 142 406 143 406 124 353

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: recursos financeiros: 548, hospedagem: 549, emprego: 477

Total: 566

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22

Tabela 18

Fonte de recursos financeiros, hospedagem e emprego em sua primeira viagem ao exterior, segundo condição de presença Maringá, 2001 Fontes Recursos financeiros Hospedagem Emprego Retornado Ausente Retornado Ausente Retornado Ausente Próprios 25,9 18,1 4,8 7,3 3,8 6,2 Parentes 17,6 16,4 25,0 18,1 16,3 13,0 Amigo/a - - 1,1 2,1 3,1 3,3 Ag. Recrutamento 51,9 64,1 59,3 70,7 69,5 74,6 Outros 4,6 1,4 9,8 1,8 7,3 2,9 Total % 100,0 100,0 100 100 100,0 100,0 Total % 437 287 440 287 392 276

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: recursos financeiros: 724, hospedagem: 724, emprego: 668

Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

O quadro de Maringá se mostra totalmente diferente do analisado no caso de Criciúma. Nenhum migrante da amostra utilizou recursos financeiros disponibilizados por amigos. Apenas 17,6% dos retornados e 16,4% dos ausentes recorreram ao auxílio de parentes. Em compensação, 51,9% dos retornados e 61,4% dos ausentes obtiveram os recursos financeiros necessários para a primeira viagem através de agências de recrutamento. Esses números indicam a configuração oposto do movimento analisado em Criciúma, onde as redes sociais de parentesco e amizade predominam: a ajuda necessária aos migrantes de Maringá tem origem nas agências de recrutamento, que programam desde o financiamento da passagem aérea até o emprego, como veremos mais adiante.

O auxílio prestado pelas agências de recrutamento é o que predomina no projeto dos migrantes que partem de Maringá: 59,3% dos retornados e 70,7% dos ausentes tiveram a hospedagem no destino providenciada por agências. O índice é ainda maior quando se trata do auxílio para a obtenção do primeiro emprego no destino: 69,5% dos retornados e 74,6% dos ausentes utilizaram as agências de recrutamento.

(23)

23 As mesmas variáveis foram também dispostas em função do sexo dos migrantes. Como pudemos analisar na tabela 17, o uso das redes sociais é claro quando os quesitos analisados são as fontes de recursos financeiros, hospedagem e primeiro emprego no país de destino. Na tabela 19, observamos que, dentre os homens, 46,2% contaram com recursos financeiros disponibilizados por parentes ou amigos contra 60,2% das mulheres; 86,1% hospedaram-se em casas de familiares ou amigos contra 94,8% das mulheres; e 81,0% obtiveram seu primeiro emprego através de parentes ou amigos contra 80,8% das mulheres.

Tabela 19

Fonte de recursos financeiros, de hospedagem e emprego em sua primeira viagem ao exterior, segundo o sexo

Criciúma, 2001

Fonte Recursos financeiros Hospedagem Emprego

M F M F M F Próprios 50.6 33.8 10.2 6.5 14.8 12.7 Parentes 43.3 54.7 42.2 49.3 31.5 38.0 Amigo/a 2.9 5.5 43.9 35.3 49.5 42.8 Ag. Recrutamento 0.6 1.5 0.6 1.5 0.3 0.5 Outros 2.6 4.5 3.1 7.4 3.9 6.0 Total % 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 Total 344 201 344 201 311 166

Fonte: pesquisa amostral Casos Válidos: recursos financeiros: 545, hospedagem: 545, emprego: 477

Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

É visível, que num fluxo caracterizado acima de tudo pelo uso intenso das redes sociais, as mulheres recorrem mais a esse tipo de ajuda, principalmente de parentes. Os índices que registram que o migrante não recorreu a qualquer auxílio é sempre mais alto para homens que para mulheres.

A tabela 20 referente aos migrantes de Maringá acaba , de certa forma, confirmando que as mulheres realmente utilizam mais o auxílio prestado por familiares.

(24)

24 Prevalece, obviamente, o uso dos serviços prestados pelas agências de recrutamento, mas ele tem sempre maior índice para homens que para mulheres, enquanto que a ajuda de parentes tem sempre maior número registrado entre as mulheres que entre os homens.

No quesito recursos financeiros, por exemplo, 13,1% dos homens se beneficiaram da ajuda de familiares, enquanto que o fizeram 22,4% das mulheres. Quando se trata da hospedagem, esse diferença é ainda maior: 16,4% dos homens recorrem a parentes ou amigos contra 29,9% das mulheres na mesma condição. Mas o que mais marca o fluxo que parte de Maringá é mesmo a utilização das agências de recrutamento que, no quesito ajuda para o primeiro emprego no destino, atinge seus mais altos índices em ambos os sexos: 74,9% dos homens e 67,2% das mulheres obtiveram esse tipo de auxílio.

Tabela 20

Fonte de recursos financeiros, de hospedagem e emprego em sua primeira viagem ao exterior, segundo o sexo

Maringá, 2001

Fonte Recursos financeiros Hospedagem Emprego

M F M F M F Próprios 24.3 20.8 6.5 4.8 5.3 4.0 Parentes 13.1 22.4 16.4 29.9 11.9 20.1 Amigo/a - - 1.9 1.0 3.0 3.6 Ag. Recrutamento 59.7 52.9 69.3 57.6 74.9 67.2 Outros 2.9 3.9 5.9 6.5 4.9 5.1 Total % 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 Total 437 287 440 287 392 276

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: recursos financeiros: 724, hospedagem: 727, emprego: 668

Total: 774

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

A tabelas 21 e 22 indicam as remessas de dinheiro para o Brasil, segundo o sexo do migrante. Dentre os migrantes criciumenses do sexo masculino, 33,0% declararam não remeter recursos financeiros para a origem, contra 57,9% das mulheres na mesma

(25)

25 condição. O grupo que remete para manter a família corresponde a 35,2% da amostra, sendo que para compor esse grupo os migrantes homens contribuem com 42,9% do total de migrantes e as mulheres com 21,3%.

Tabela 21

Remessas financeiras ao país de origem segundo o sexo do migrante Criciúma, 2001

Remessas financeiras Sexo (%) Total

M F Não remete 33,0 57,9 41,9 Remete p/ manter a família 42,9 21,3 35,2 Remete p/ investimento 19,1 14,1 17,3 Outra finalidade 5,0 6,7 5,6 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 319 178 497

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 497 Total: 566

Nota: Domicílios onde pelo menos um integrante tem experiência migratória internacional

Tabela 22

Remessas financeiras ao país de origem segundo o sexo do migrante Maringá, 2001

Remessas financeiras Sexo (%) Total

M F Não remete 35,7 46,7 40,3 Remete p/ manter a família 44,0 34,4 39,9 Remete p/ investimento 19,3 18,6 19,0 Outra finalidade 1,0 0,3 0,8 Total % 100,0 100,0 100,0 Total 398 291 689

Fonte: pesquisa amostral Casos válidos: 689 Total: 774

(26)

26 Já no caso de Maringá, maioria dos homens (44,0%) remete dinheiro para manter a família no Brasil e a maior parte das mulheres (46,7%) não remete nenhum valor.

Esses números estão de acordo com a grande proporção de chefes na amostra, com grau de comprometimento familiar muito maior e cujo projeto está relacionado à manutenção da família na origem.

Considerações Finais

A partir dos dados apresentados e comentados, pode-se concluir a existência de diferentes processos na organização social dos fluxos originários de Criciúma e Maringá. A utilização das redes sociais, a condição de legalidade e os fatores de seletividade do migrante no país de destino são fundamentais para a compreensão e análise da natureza de cada fluxo.

A observação das variáveis fonte de recursos financeiros, auxílio para

hospedagem e para a obtenção do primeiro emprego, evidencia o meio principal que

cada grupo utilizou para a sua primeira viagem. No caso de Criciúma as relações sociais de parentesco e de amizade são as principais intermediadoras entre origem e destino, enquanto que em Maringá são as agências de recrutamento que exercem esse papel (Assis, 1999; Fusco, 2000; Sales, 1999; Sasaki, 1999; Kawamura, 1999).

A decisão de migrar envolve um planejamento econômico anterior à primeira viagem, para cobrir, no mínimo, as despesas com a documentação e passagem. Em Criciúma, praticamente metade da população migrante recorreu a algum tipo de “financiamento” antes de realizar a primeira viagem, e, para estes, a principal fonte de recursos foi a própria família. A situação é completamente diferente em Maringá, onde mais da metade dos migrantes conseguiu o dinheiro necessário para iniciar seu projeto através de agências de recrutamento.

Outra preocupação do migrante, antes mesmo de chegar ao destino, refere-se a seu novo local de moradia. A imensa maioria, tanto em Criciúma como em Maringá, teve alguma ajuda externa para conseguir hospedagem no país receptor, mas as fontes

(27)

27 de ajuda são diferentes entre as cidades: o auxílio prestado por parentes e amigos é predominantemente utilizado pelos migrantes criciumenses, enquanto que, em Maringá, esse tipo de auxílio vem também das agências de recrutamento.

Encontrar vagas em empregos no exterior não é uma tarefa simples, o que levou a quase totalidade dos migrantes da amostra a procurar auxílio. Para os migrantes de Criciúma, a inserção no mercado de trabalho do país de destino se deu, para os homens, com o apoio principalmente de amigos, e para as mulheres, amigos e parentes. Em Maringá, as agências de recrutamento foram responsáveis pela colocação de 2/3 dos migrantes no mercado de trabalho. Convém destacar, novamente, a maior proporção de mulheres entre os que obtiveram a ajuda de parentes.

É importante destacar que uma grande diferença entre as duas redes é o custo para o migrante. O indivíduo que usa os serviços de uma agência de recrutamento quita seus compromissos pagando em espécie, e suas obrigações acabam. Quem se apoia nos laços sociais, eventualmente também “compra” favores com dinheiro, mas, na maioria dos casos, fica com a obrigação de retribuir o favor, multiplicando as conexões da rede social (Fusco, 2000; Higuchi, 2001).

O caráter da legalidade do movimento tem enorme influência, tanto na configuração da população migrante, quanto no modo de organização social do processo migratório. O fluxo de trabalhadores pode ser classificado como legal ou ilegal. O termo ilegal é normalmente substituído por “clandestino” ou “ indocumentado”, mas o significado é que o indivíduo estrangeiro está residindo e/ou trabalhando sem o visto apropriado.

Aí esta a grande diferença entre os fluxos que partem das duas cidades: os migrantes de Criciúma, em sua maioria, se dirigem aos Estados Unidos, e lá se transformam em clandestinos. Os nipo-brasileiros de Maringá, ao contrário, migram para residir e trabalhar legalmente no Japão, na quase totalidade dos casos (Fusco, 2000; Sales, 1999; Sasaki, 1999; Kawamura, 1999).

A questão da legalidade está diretamente ligada a todo o processo migratório e particularmente às redes sociais. O risco que corre o migrante ilegal nos Estados Unidos acaba selecionando a população: mais homens que mulheres arriscam-se no processo num primeiro momento.

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28 Devido a sua condição clandestina, o migrante precisará de alguma forma, associar-se a pessoas de sua confiança, como parentes e amigos, o que desenvolve e fortalece os laços sociais entre os migrantes e entre países de origem e destino.

O fluxo de maringaenses para o Japão configura-se de forma totalmente diferente. A reforma da lei de Migração de 1990 concedeu status legal de permanência aos descendentes, o que abriu as portas para a consolidação da corrente migratória (Sasaki, 1999; Kawamura, 1999). Assim, o migrante precisa apenas de um intermediário entre os dois países, que não precisa ser, necessariamente, alguém de sua confiança, como vimos no caso de Criciúma: as agências de recrutamento põe em prática o projeto migratório da grande maioria do grupo.

Podemos concluir que os três eixos analisados , o uso das redes sociais, a condição de legalidade e os fatores de seletividade do migrante são extremamente importantes na definição, diferenciação e configuração dos fluxos que partem das cidades de Criciúma e Maringá, e as estratégias utilizadas por cada um dos migrantes.

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(31)

31 TILLY, C. – Transplanted Networks, in YANS-Mc LAUGHLIN (ed.), Virginia, Immigration Reconsidered, NY, Oxford, Oxford University Press, 1990, pg.79-9

ANEXOS

Tabela 23

Dados para o Gráfico 1

Ano da primeira viagem segundo o sexo

Criciúma, 2001

Ano da primeira viagem de migração sexo Total

M F 1985 4 6 10 1986 4 0 4 1987 4 2 6 1988 3 1 4 1989 8 2 10 1990 9 3 12 1991 6 4 10 1992 7 5 12 1993 19 8 27 1994 23 10 33 1995 16 14 30 1996 17 10 27 1997 17 9 26 1998 35 33 68 1999 54 39 93 2000 67 34 101 2001 50 23 73 Total 343 203 546

Fonte: pesquisa amostral Casos Válidos: 546 Total: 566

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