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A cultura na gestação, parto e nascimento: vozes das mulheres imigrantes sírias

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Academic year: 2021

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ACULTURANAGESTAÇÃO,PARTOENASCIMENTO:VOZESDASMULHERES IMIGRANTESSÍRIAS1 Samanta R. O. Silva2 Isabella F. Monteiro3 Cláudia M. de Castro4 INTRODUÇÃO

Os deslocamentos de grandes contingentes da população síria é um fenômeno que se soma aos movimentos migratórios na atualidade, que têm sido crescentes e se colocado como uma questão relevante para a agenda global, exigindo resposta de diversos governos e obtido importante destaque na mídia. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) informa que em quase 20 anos o fluxo de imigrantes internacionais cresceu 49% em relação ao período compreendido desde 2000, estimando-se a existência de 258 milhões de pessoas nesta condição (UNRIC, 2019). Em relação a este fenômeno, muitos são os estudos que buscam compreender os movimentos populacionais, a distribuição entre regiões e os impactos para os imigrantes e para os países que os acolhem (DIAS; ROCHA; HORTA, 2009).

Segundo dados do Departamento de Polícia Federal (DPF) (BRASIL, 2018), num período de dez anos o Brasil teve um acréscimo de 160% da população imigrante. Atualmente, o país abriga 9.552 refugiados de 82 nacionalidades, destes, 326 são da Síria, 189 da República Democrática do Congo, 98 do Paquistão, 57 da Palestina e 26 são de Angola. Dentre estes refugiados, 34% são mulheres (BRASIL, 2018). Há também o aumento do fluxo de refugiados sírios no Brasil, reflexo do que é considerada a pior crise humanitária em 70 anos, que provocou quase cinco

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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Mestre em Ciência pelo Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política, da Universidade de São Paulo, Professora temporária do curso de graduação em Obstetrícia, campos EACH-USP, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – USP leste. E-mail: sami.ribeiro@yahoo.com.br.

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Mestre em Ciência pelo Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política, da Universidade de São Paulo, Professora temporária do curso de graduação em Obstetrícia, campos EACH-USP, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – USP leste. E-mail: isabella.monteiro@usp.br.

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Psicóloga, professora do curso de Graduação em Obstetrícia da EACH-USP, Professora de Pós-Graduação do Programa em Mudança Social e Participação Política da EACH-USP. E-mail: claudia.medeiros@usp.br.

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milhões de saídas de nativos devido às dificuldades específicas vividas em zonas de conflito (BRASIL, 2018).

No Brasil, as mulheres imigrantes que buscam os serviços de saúde o fazem principalmente em busca de assistência obstétrica (AGUIAR; LIRA; NEVES, 2015). Ao acessar os serviços de saúde, se deparam com um cenário marcado por contradições, pois o Brasil tem passado por mudanças que dizem respeito à ampliação do acesso ao pré-natal e ao parto hospitalar, acompanhado do questionamento do modelo obstétrico vigente que adota práticas inadequadas de assistência obstétrica, marcado pelo uso irracional da tecnologia que resulta na manutenção de indicadores ruins, como alta taxa de mortalidade materna, aumento recente da taxa de mortalidade infantil após um período de quedas consecutivas, e alta taxa de cesárea (RASELLA et al., 2018).

Mulheres imigrantes que vivem a experiência da gestação e parto no Brasil, apresentam para os serviços de saúde um grande desafio, que é a atenção obstétrica considerar os aspectos culturais dos diferentes grupos de imigrantes (CASTRO; OLIVEIRA; CUSTODIO, 2015; DIAS; ROCHA; HORTA, 2009). Levando em consideração os movimentos migratórios no Brasil e consequentemente o aumento da demanda de mulheres imigrantes que utilizam principalmente o Sistema Único de Saúde (SUS), o presente estudo busca compreender os aspectos culturais da gestação, parto e nascimento na perspectiva das mulheres Sírias, não necessariamente refugiadas, a fim de apresentar elementos que possam contribuir para uma assistência culturalmente sensível, garantindo a equidade, integralidade no atendimento e a implementação de políticas públicas que melhorem a assistência obstétrica a essas mulheres.

DA GUERRA AO REFÚGIO NO BRASIL: ACOLHIMENTO E SAÚDE DAS MULHERES SÍRIAS

A República Árabe da Síria está localizada no oriente Médio, mais precisamente no sudoeste da Ásia. Sob o antigo domínio Francês, a Síria conquistou sua independência em 1945 sendo seu pós-independência marcado por golpes militares. Em 1970, Hafez Al-Assad tornou-se o presidente da Síria e assim se manteve até 2000, período em que implantou um sistema de governo considerado por muitos como amplamente autoritário. Seu sucessor foi seu filho Bashar Al-Assad, que se encontra no governo desde então (BRÖNING, 2011). Apesar da

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dificuldade de um consenso, inúmeros fatores foram considerados propulsores para a atual situação de guerra civil no país, que dura oito anos, levando a crer que um importante fator foi a repercussão da chamada “Primavera Árabe”, fenômeno que derrubou os longos regimes vigentes em países árabes como a Líbia, Turquia e Egito (HAJJAR, 2016).

Soma-se a um clima de tensão o surgimento de vários grupos e guerrilhas como “Exército Livre Sírio” e outros grupos que tentavam a deposição de Bashar e a resposta do exército sírio agressivamente aos protestos internos acionando um efeito rebote, resultando em ainda mais protestos e motins que se espalhavam por toda a nação (TONINI, 2018). Também, conta-se com motivações religiosas e políticas, com a potencialidade do grupo jihadistas no país, a guerra na Síria tomou dimensões que ultrapassam os muros do país, envolvendo países vizinhos e até mesmo as grandes potências ocidentais (LACERDA; SILVA; NUNES, 2015).

Diante de um cenário catastrófico, a vinda dos refugiados sírios ao Brasil foi

facilitada pela alteração nas concessões de refúgio e por uma política diferente dos

países europeus quanto aos refugiados. Essa diferença de tratamento tem origem em uma normativa lançada em 2013 pelo órgão responsável pelos refugiados no Brasil, o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), ligado ao Ministério da Justiça. A normativa facilitou a concessão de vistos especificamente para sírios, o que repercutiu nas embaixadas brasileiras em países próximos à Síria, elevando em

quatro vezes os pedidos de vistos (BRASIL, 2015). Dados do Boletim da

Coordenação de Epidemiologia e Informação da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (AGUIAR; LIRA; NEVES, 2015) afirmam que a região central do município de São Paulo é o local de fixação e escolha de imigrantes e refugiados devido à proximidade de lugares/referência, contatos de trabalho e pela possibilidade de relações de vizinhança e de acesso a segurança.

ATENÇÃO À SAÚDE DAS MULHERES IMIGRANTES

Um olhar biossocial sobre o estudo de uma cultura específica sobre o evento do nascimento e suas comparações, deve ser compreendido basicamente de duas formas: a primeira corresponde à biologia, e a outra forma deve ser entendida como um evento socialmente organizado e culturalmente produzido. Ambas as formas são informações valiosas para colocar o cuidado da gestação, parto e nascimento dentro do sistema de saúde de um país, para pensar em boas práticas e proporcionar

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alguns parâmetros para o sucesso desse cuidado de nascimento que geram reflexões sobre aspectos sociais e interacionais do cuidado (JORDAN, 1993).

Dados indicam que mais de 76% dos partos de mulheres imigrantes no município de São Paulo foram realizados no SUS. O Boletim da CEInfo não especifica os nascidos de mulheres sírias, que provavelmente estão contidos nos dados de “outras nacionalidades”. Vale destacar que, neste grupo, apenas 24,7% dos partos ocorreram em estabelecimentos da rede SUS e 73,9% em hospitais privados. Quando consideramos que as mulheres imigrantes procuram os serviços de saúde para a atenção obstétrica em busca de atenção pré-natal e para o parto, vemos que os serviços de saúde podem ser a porta de entrada para o acolhimento e integração da população imigrante como afirmado no Boletim da CEInfo (2015, p. 21).

Castro (2018) aponta que a ausência de diretrizes do MS para a atenção às mulheres imigrantes pode ser entendida como uma perspectiva de que todas as mulheres são nacionais, uma vez que, por exemplo, não se podia indicar a

nacionalidade da mãe na Declaração de Nascido Vivo (DNV) – responsável por

alimentar o Sistema sobre Nascidos Vivos (SINASC) no Brasil. A mudança, informa Castro (2018), se deu em 2011 com a nova DNV que passou a incluir no campo 20, a nacionalidade da mãe, o que permitiu dar visibilidade aos partos das mulheres imigrantes.

Dados do SINASC possibilitam o conhecimento do número de partos de nascidos vivos de mulheres imigrantes no município de São Paulo: de 2015 a 2017, ocorreram 15.247 partos de mulheres de diversas nacionalidades, sendo 357 de

origem Síria5. Além dos programas preconizarem o cuidado humanizado, um

número elevado de autores recomendam que as intervenções devam se adequar às necessidades específicas das populações, porém, o que tem acontecido na assistência é o predomínio da perspectiva do profissional de saúde, e o pouco conhecimento acerca da perspectiva dos imigrantes (HOPPE et al., 2004; ZWANE; MNGADI; NXUMALO, 2004).

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Dados do SINASC, processados por Coelho (2018), como parte da pesquisa de Iniciação Científica Atenção à Saúde de Mulheres Imigrantes, orientada por Cláudia Medeiros de Castro e apresentada no 26º Simpósio de Iniciação Científica da USP.

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OBJETIVOS DA PESQUISA Objetivo geral

 Conhecer os aspectos culturais relacionados à gestação, parto e

nascimento na perspectiva das mulheres imigrantes sírias. Objetivos específicos

 Identificar os serviços de saúde utilizados pelas imigrantes sírias no município de São Paulo e Grande São Paulo;

 Identificar similaridade e diferenças entre a assistência ao parto

oferecida no Brasil e na Síria, na perspectiva das imigrantes sírias.

ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

O estudo que apresentamos é uma pesquisa qualitativa. A condução de estudos qualitativos busca abordar o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que se referem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não poderiam ser reduzidos à operacionalização de variáveis quantitativas (MINAYO, 2007). Como referencial teórico, para este estudo foi adotada a perspectiva construcionista social, por acreditar que esta promove subsídios para alicerçar o objetivo proposto, segundo o qual o conhecimento é visto como algo que é construído pelas pessoas em seu cotidiano, quando por meio de práticas discursivas posicionam-se e buscam dar sentido ao mundo que as cercam (CABRUJA; INIGUEZ; VASQUEZ, 2000).

Foram entrevistadas nove mulheres imigrantes sírias. Os critérios de inclusão utilizados foram: mulheres sírias, maiores de 18 anos, que falem o português ou que tenham intérpretes com elas no momento da entrevista e que tenham filhos nascidos na Síria ou no Brasil. Foi utilizado para coleta de dados entrevistas semiestruturadas com um roteiro norteador e posteriormente a transcrição integral das entrevistas gravadas.

RESULTADOS PARCIAIS

Levantamento de locais que acolhem famílias sírias no município de São Paulo

Nosso percurso começou com o levantamento de Organizações Não Governamentais (ONG) e serviços ligados a saúde ou não que atendem refugiados no município de São Paulo. Após buscar pelas redes sociais e tentativas de contato

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telefônico foi possível optar pelo Lar Sírio Pró-Infância como local inicial para as entrevistas. Esta instituição está localizada no bairro do Tatuapé, região Leste da cidade de São Paulo. Outro local que foi utilizado para as entrevistas foi o Centro de Saúde Escola – Geraldo de Paula Souza (CSE) localizado no bairro Sumaré – SP.

Outros locais que atendem refugiados sírios são as Unidades de Saúde de todas as Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) do município de São Paulo. As imigrantes sírias, segundo dados do Boletim da CEInfo (2015), buscam mais as unidades da CRS Centro, localizadas na região central do município; as da subprefeitura Cidade Ademar, sendo a UBS Vila Constância a unidade que referiu maior atendimento de refugiados, possivelmente ligados à Mesquita da Vila Joaniza; as da subprefeitura Jaçanã/Tremembé, onde 7 unidades referiram atender refugiados sírios; e as da subprefeitura Mooca, onde o atendimento de refugiados sírios têm aumentado a cada dia.

As entrevistas com as mulheres sírias

Até a construção deste texto foram analisadas cinco entrevistas com mulheres sírias e com uma assistente social, que, embora não seja síria, foi importante para a aproximação e compreensão do campo. As entrevistas foram realizadas após a obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e autorização das duas últimas Instituições citadas anteriormente. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas e lidas, para que fosse possível realizar as primeiras aproximações do material transcrito.

Inicialmente construímos um quadro, com as informações de identificação obtidas no início das entrevistas. O nome das mulheres foi substituído para preservar o anonimato. Optou-se por utilizar nome de cidades sírias e de uma cidade brasileira (para a assistente social entrevistada).

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QUADRO 1 – Perfil das mulheres imigrantes sírias (março de 2019)

Nome Damasco Alepo Homs Hamah Latáquia

País de origem Síria Síria Síria Síria Síria

Cidade de origem Homs Homs Damasco Damasco Latáquia

Tempo em que

reside no Brasil 6 anos

1 ano e 7

meses 4 anos

2 anos e 8

meses 3 anos

Idade 40 anos 28 anos 31 anos 31 anos 64 anos

Estado Civil Casada Casada Casada Casada Viúva

Escolaridade Superior Superior Superior Superior Pouca

escolaridade

Profissão Pedagoga Turismo Administração Economia ----

Religião Cristã

ortodoxa

Cristã

ortodoxa Muçulmana

Cristã

ortodoxa Cristã ortodoxa

Paridade 1. Gestação 1 Parto Cesárea 1. Gestação 1 Parto Normal 1. Gestação I Parto 1. Gestação I Parto Cesárea 2. Gestações 1. Parto Normal Domiciliar 1. Parto Normal Hospitalar

País em que pariram Brasil Brasil Brasil Brasil Síria

Tempo de gestação ao chegar no Brasil 8 meses de gestação 9 meses de gestação 8 meses de gestação 5 meses de gestação ----

Local de nascimento Hospital Privado Hospital Público Hospital Público Hospital Público ---- Condições em que

entraram no Brasil Refugiada Refugiada Refugiada Refugiada Refugiada

Fonte: Elaboração Própria.

Apresentando Damasco

Para possibilitar a aproximação com as entrevistas, apresentamos o resumo da trajetória de uma das entrevistadas: Damasco. Ela nasceu na Síria, morava na cidade de Homs, tem 40 anos, é casada, possui o ensino superior completo – formada em pedagogia, é cristã ortodoxa, veio para o Brasil há 6 anos em função da guerra em seu país e é refugiada. Chegou ao Brasil grávida de 8 meses do seu primeiro filho que nasceu no Brasil em um hospital particular por cesariana agendada. Sobre a gestação, conta que as gestantes são bem cuidadas pela família, principalmente pelas mulheres. Sobre o parto, relata que é difícil as mulheres entrarem em trabalho de parto, pois a maioria prefere cesariana, por ser mais fácil e não sentir dor. Na Síria, toda a família vai para o hospital e ficam aguardando o

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término da cirurgia. Conta que dão água com açúcar para o bebê não ficar amarelo. Segundo ela, as mulheres sírias gostam de amamentar. Elogiou a assistência oferecida no Brasil em seu pós-parto porque os profissionais ensinam a cuidar do bebê, o que não acontece na Síria, sendo esse papel atribuído aos familiares. As mulheres sírias valorizam muito o período do resguardo, que tem a duração de mais ou menos 40 dias e, nesse período, não fazem muita coisa, se dedicam mais ao cuidado com o bebê.

Aproximações com a cultura das mulheres sírias

A maioria das mulheres possui curso universitário e profissão, o que pode estar relacionado ao encontrado na literatura sobre a Síria que afirma que houve um grande investimento na educação durante o governo de Bashar Al-Assad:

Homs: Sim, estudei administração, trabalhei com recursos humanos.

No que diz respeito aos conteúdos mais voltados para a gestação, o primeiro ponto que chamou a atenção foi que as mulheres são relativamente jovens e que para ter filho é preciso que sejam casadas:

Alepo: Sim, na Síria não pode ter filho se não casar.

Das cinco entrevistadas, quatro tiveram seus primeiros filhos aqui no Brasil e todas chegaram com a gestação avançada:

Damasco: Eu chegar no Brasil com 8 meses de gestação [...] minha prima chegar com 9 meses e depois passou 5 dias [...] depois ela tomar injeção na Síria para a filha não nascer no avião, porque não tem hospital, na guerra não sobrou quase nada, não tem fralda, não tem leite, não tem nada.

As entrevistadas relataram que quando as mulheres sírias engravidam são tratadas de maneira diferenciada, há uma valorização do cuidado com esta mulher tanto da comunidade quanto de seus companheiros e familiares.

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Alepo: Quando as mulheres ficam grávidas, todo mundo cuida delas, o que elas querem trazem para elas, se elas querem uma torta...

A Síria é dividida em duas religiões predominantes, o Cristianismo e Islamismo. Sobre o parto, através das entrevistas foi possível perceber que para as mulheres sírias cristãs a via de parto é a cirúrgica, pois o parto normal não tem os mesmos sentidos que estão sendo construídos no Brasil, com a valorização da fisiologia do parto e a capacidade da mulher para parir. De outro lado, as muçulmanas preferem parto normal:

Damasco: [...]desde a geração passada não usa parto normal, essa geração não é como antes.

Al-Hasakh: Minha amiga tudo quer parto normal porque é mais fácil para andar pra voltar pra sua vida, mas cesariana ter mais tempo, precisa mais pessoas pra ajudar você.

No pós-parto foi percebido que as mulheres sírias em geral gostam de amamentar, entendem a amamentação como algo muito bom para seus bebês e para seu corpo:

Kameshli: Sim, porque a gente sabe se dá leite pra filho a gente ganha saúde também, pra cuidar do corpo dela, sabe beleza dela.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cuidado obstétrico culturalmente adequado vem sendo desafiador para o Brasil, as mulheres sírias tem escolhido o Brasil como lugar estratégico para se refugiarem da guerra e terem seus filhos aqui, chegando estrategicamente no final da gestação. No contexto cultural, a Síria é dividida em duas religiões predominantes, o Islamismo e o Cristianismo, onde os muitos aspectos culturais podem ter significados diferentes. As mulheres podem escolher a via de parto, e esta escolha tem como característica influenciadora a religião. O casamento e a gestação são elementos potencialmente respeitados em sua cultura. No tocante aos resultados, concluímos que a compreensão cultural relacionada à gestação, parto e

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nascimento das mulheres sírias, poderá contribuir para uma adaptação dos cuidados e ao aumento na qualidade da assistência obstétrica a essas mulheres no Brasil.

REFERÊNCIAS

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