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Bullying escolar: compreensão evolucionista e intervenção cognitivo-comportamental

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Academic year: 2021

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Centro de Biociências

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

Giovanna Wanderley Petrucci

Bullying escolar:

Compreensão evolucionista e intervenção cognitivo-comportamental

Maio 2019

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Giovanna Wanderley Petrucci

Bullying escolar:

Compreensão evolucionista e intervenção cognitivo-comportamental

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Psicobiologia.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Emília Yamamoto Coorientador: Prof. Dr. Wallisen Tadashi Hattori Área de Concentração: Estudos do Comportamento

Maio 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Petrucci, Giovanna Wanderley.

Bullying escolar: compreensão evolucionista e intervenção cognitivo-comportamental / Giovanna Wanderley Petrucci Toscano. - 2019.

231f.: il.

Tese (Doutorado)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Programa de Pós Graduação em

Psicobiologia, Natal, 2019.

Orientadora: Drª. Maria Emília Yamamoto. Coorientador: Dr. Wallisen Tadashi Hattori.

1. Bullying - Tese. 2. Escola - Tese. 3. Psicologia

Evolucionista - Tese. 4. Modelo Cognitivo-Comportamental - Tese. 5. Intervenção - Tese. I. Yamamoto, Maria Emília. II. Hattori, Wallisen Tadashi. III. Título.

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Título: Bullying escolar: Compreensão evolucionista e intervenção cognitivo-comportamental

Autora: Giovanna Wanderley Petrucci.

Data da defesa: 06 de maio de 2019.

Banca Examinadora:

Dra. Silvia Helena Koller

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS Membro externo à instituição

Dra. Melyssa Kellyane Cavalcanti Galdino Universidade Federal da Paraíba, PB

Membro externo à instituição

Dra. Izabel Augusta Hazin Pires

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN Membro externo ao programa

Dra. Fívia de Araújo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN Membro interno ao programa

Dra. Maria Emilia Yamamoto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN Presidente

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A Sofia, que me proporcionou a experiência de ser mãe e me fez acreditar que posso

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço aos meus primeiros mestres, meus pais. Vocês são os meus maiores incentivadores, aqueles que me fazem acreditar que posso ir atrás dos meus sonhos porque sou capaz de realizá-los. Lanço-me por inteiro em cada novo projeto porque sei que vocês estão sempre disponíveis para mim, vocês são o meu porto seguro.

Agradeço ao companheiro que escolhi para dividir os desafios e as alegrias da vida, Rosivaldo Júnior. É muito bom compartilhar meus sonhos e projetos com você. Obrigada pelo seu incentivo incansável. Agradeço a Sofia que, mesmo sem ter a mínima noção do que significa escrever uma tese, está presente em cada página deste texto, servindo-me de motivação para ir atrás dos meus sonhos e mostrar a ela que é possível alcançar o que quisermos, principalmente porque somos mulheres.

Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, George, Simone, Giovanni Neto, Mariah, Giannina, Gustavo, Lara, Rossana, Luiz, Vitor, Rosane, Fábio e Natália, muito obrigada. Vocês me fizeram recuperar as energias em muitos momentos em que o fôlego estava quase acabando.

Obrigada, Roberta Camboim. Ao longo desses quatro anos, a nossa parceria de trabalho no Camboim & Petrucci extrapolou os limites profissionais, transformando-se em uma amizade leal e cativante. Agradeço por você ter assumido as atividades do instituto com tanta dedicação. Isso me possibilitou dedicar-me ao doutorado inteiramente, tendo a certeza de que você coordenava as outras também tão valiosas atividades com muito compromisso, competência e ética. Essa tese foi possível também por causa do seu apoio contínuo.

Aos meus queridos bolsistas voluntários em pesquisa, Ana Paula, Andressa, Deborah, Eduardo, Erick, Herika, Kamila, Lara, Luciano, Nayara, Poliana, Sarah e Victor, muito obrigada. Vocês tornaram mais leve a trajetória de construção desta tese. Fiquei imensamente feliz por ter compartilhado com vocês momentos de reuniões de estudo, coleta de dados e apresentação de trabalhos em eventos científicos. Agradeço a Sarah, em especial, por ter participado junto comigo da etapa de intervenção na escola, ajudando-me a superar os desafios que apareceram. Obrigada a todos vocês por acreditarem neste trabalho e por dedicarem tantas horas do seu precioso tempo a essas atividades.

A minha querida orientadora Maria Emília, muito obrigada por ter acreditado em mim e nas minhas ideias antes mesmo de eu iniciar o doutorado. Não tenho dúvidas de que a confiança que você depositou em mim foi fundamental para eu chegar aqui. Sem ela, eu teria desistido antes mesmo de chegar ao meio do caminho. Serei eternamente grata por sua

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confiança e incentivo. Obrigada também a Wallisen Hattori pela co-orientação a este trabalho e a todos os integrantes do Laboratório de Evolução do Comportamento Humano por todas as contribuições ao longo desses quatro anos.

Às queridas professoras da minha banca, Silvia Koller, Melyssa Galdino, Fívia Lopes e Izabel Hazin. Obrigada pela leitura dedicada a esta tese e por todas as contribuições que vierem a fazer. Admiro todas vocês pela dedicação como professoras e pesquisadoras, contribuindo para a formação de tantos estudantes como eu. Agradeço, em particular, a Silvia Koller, minha orientadora de mestrado, que me fez ver que é possível levar a pesquisa científica para fora dos muros da academia, transformando um pouquinho do mundo ao nosso redor. Obrigada também por ter estado presente em momentos cruciais dessa trajetória, ajudando-me a recobrar as forças para seguir em frente. Agradeço também a Melyssa Galdino, minha primeira orientadora de estágio na graduação, que me mostrou como utilizar a terapia cognitivo-comportamental com ética e compromisso, possibilitando ao outro sair da sua superfície, tocar nas suas dificuldades e superá-las.

Agradeço às diretoras das escolas que abriram as suas portas para a realização deste trabalho. Os desafios que vocês enfrentam e as metas que lhes são colocadas diariamente são enormes, mas vocês confiaram nesta pesquisa e nos deixaram entrar no ambiente escolar, possibilitando a sua execução. Em especial, agradeço a cada adolescente que participou do estudo, respondendo questionários ou fazendo parte do experimento ou da intervenção antibullying. Obrigada também aos seus pais e cuidadores que autorizaram a sua participação. Espero que esta pesquisa tenha tornado melhor o ambiente de vocês.

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“Quando nos agarramos muito forte às nossas crenças, corremos o risco de ficar cegos para a realidade e enxergar apenas o que se encaixa nelas.” (Haemin Sunim, 2017, p. 182)

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RESUMO

O bullying vem sendo bastante investigado, porém os resultados dos programas antibullying ainda são insatisfatórios. Estudos na perspectiva evolucionista e diferentes programas de intervenção vêm sendo desenvolvidos com a finalidade de ampliar esses resultados. O presente trabalho se propôs a investigar possíveis contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar assim como desenvolver um programa de intervenção cognitivo-comportamental para o seu enfrentamento entre adolescentes. Foram realizados cinco estudos. O primeiro foi uma revisão sistemática da literatura sobre o bullying na Psicologia Evolucionista, em que foram identificados nove estudos empíricos revisados por pares nas bases de dados: PsycINFO, PUBMED, Google Scholar, Index Psi, SciELO, LILACS e PePSIC. O segundo estudo realizou procedimentos de adaptação e de validação do Bullying Participant Behaviors Questionnaire com uma amostra de 478 adolescentes brasileiros. O terceiro estudo

comparou indicadores de saúde mental e de percepção do clima escolar entre 240 adolescentes, categorizados em diferentes papéis no bullying. O quarto estudo avaliou a influência de terceiros em diferentes condições sobre a frequência de cooperação para com uma possível vítima de bullying, utilizando uma versão adaptada do dilema do prisioneiro com 274 estudantes. O quinto estudo apresentou o desenvolvimento, a aplicação e a avaliação de uma intervenção cognitivo-comportamental para redução do bullying escolar em 58 participantes, utilizando uma compreensão evolucionista do fenômeno. Os resultados mostraram que a Psicologia Evolucionista pode ampliar a compreensão do bullying escolar, fornecendo informações articuláveis com o modelo de intervenção cognitivo-comportamental, favorecendo o desenvolvimento de programas antibullying promissores.

Palavras-chave: bullying; escola; intervenção cognitivo-comportamental; Psicologia Evolucionista

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ABSTRACT

Bullying has been widely investigated, but the results of anti-bullying programs are still unsatisfactory. Studies in the evolutionist perspective and different intervention programs have been developed with the purpose of amplifying these results. The present work has proposed to investigate possible contributions of Evolutionary Psychology to the understanding of school bullying as well as to develop a program of cognitive-behavioral intervention for its confrontation among adolescents. Five studies were carried out. The first was a systematic review of the literature on bullying in Evolutionary Psychology, in which where found nine empirical studies reviewed by peers in the databases: PsycINFO, PUBMED, Google Scholar, Index Psi, SciELO, LILACS and PePSIC. The second study performed procedures for adaptation and validation of the Bullying Participant Behaviors Questionnaire with a sample of 478 Brazilian adolescents. The third study compared indicators of mental health and perception of school climate among 240 adolescents, categorized in different roles in bullying. The fourth study evaluated the influence of third parties under different conditions on the cooperation frequency with a possible bullying victim using an adapted version of the prisoner's dilemma with 274 students. The fifth study presented the development, application and evaluation of a cognitive-behavioral intervention to reduce school bullying in 58 participants, using an evolutionary understanding of the phenomenon. The results showed that Evolutionary Psychology can broaden the understanding of school bullying by providing information articulable with the cognitive-behavioral intervention model, favoring the development of promising anti-bullying programs.

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I: Estudo 1 -Contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar: uma revisão sistemática

Figura 1. Seleção dos estudos pelos critérios de inclusão/exclusão...27 CAPÍTULO IV: Estudo 4 -Recompensa e punição de terceiros aumenta a cooperação em adolescentes numa versão adaptada do dilema do prisioneiro

Figura 1. Resultados no dilema do prisioneiro...100 Figura 2. Objetivo geral do presente estudo...102 Figura 3. Simulação adaptada do jogo do dilema do prisioneiro (condição sem

monitoramento)...106 Figura 4. Possíveis resultados dos participantes no dilema do prisioneiro neste estudo...108 Figura 5. Simulação adaptada do jogo do dilema do prisioneiro (condições monitoramento) ...110 Figura 6. Porcentagem de cooperação e de expectativa de cooperação de todos os

participantes nas quatro condições...113 CAPÍTULO V: Estudo 5 - Efeito de um programa de intervenção cognitivo-comportamental para o bullying nas escolas: Um ensaio controlado aleatorizado

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I: Estudo 1 -Contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar: uma revisão sistemática

Tabela 1. Características gerais dos estudos incluídos na revisão...28 Tabela 2. Características metodológicas dos estudos incluídos na revisão...29 Tabela 3. Características dos desfechos dos estudos incluídos na revisão...30 CAPÍTULO II: Estudo 2 - Adaptação e propriedades psicométricas da versão brasileira do Bullying Participant Behaviors Questionnaire (BPBQ)

Tabela 1. Modelagem de Equações Estruturais Exploratórias da versão brasileira do Bullying Participant Behaviors Questionnaire...56 Tabela 2. Correlações entre fatores latentes (estrutura de quatro fatores resultante da

ESEM)...58 Tabela 3. Correlações entre fatores latentes (estrutura original de cinco fatores)...58 Tabela 4. Correlações entre as subescalas do Bullying Participant Behaviors Questionnaire e as subescalas do Questionário de Capacidades e Dificuldades e do Questionário de

Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares...59 CAPÍTULO III: Estudo 3 - Saúde mental e clima escolar em participantes de diferentes papéis no bullying

Tabela 1. Composição das categorias dos papéis dos participantes no bullying a partir das respostas no BPBQ...80 Tabela 2. Sexo, escola e série dos participantes nos diferentes papéis no bullying...80 Tabela 3. Médias e desvios-padrão nos dados de saúde mental dos participantes de diferentes papéis no bullying...82 Tabela 4. Médias e desvios-padrão na percepção do clima escolar dos participantes de

diferentes papéis no bullying...83 CAPÍTULO IV: Estudo 4 - Recompensa e punição de terceiros aumenta a cooperação em adolescentes numa versão adaptada do dilema do prisioneiro

Tabela 1. Composição das categorias dos papéis dos participantes no bullying a partir das respostas no BPBQ...103 Tabela 2. Frequência de cooperação dos participantes em diferentes condições...111 Tabela 3. Frequência de Expectativa de Cooperação dos Participantes em Diferentes Condições...112

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CAPÍTULO V: Estudo 5 - Efeito de um programa de intervenção cognitivo-comportamental para o bullying nas escolas: Um ensaio controlado aleatorizado

Tabela 1. Módulos do programa de enfrentamento ao bullying em escolas (PROBEM)...138 Tabela 2. Escores das variáveis dependentes no pré-teste e no pós-teste para os grupos

intervenção e controle...142 Tabela 3. Efeito independente e de interação do tempo e da condição sobre os

comportamentos dos participantes em diferentes papéis no bullying...144 Tabela 4. Efeito independente e de interação do tempo e da condição sobre comportamento agressivo entre pares e reações à agressão dos pares...144 Tabela 5. Efeito independente e de interação do tempo e da condição sobre indicadores de saúde mental e pró-socialidade...145

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ... 16

CAPÍTULO I: Estudo 1 ... 19

Contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar: uma revisão sistemática ... 19 Resumo ... 20 Método ... 25 Resultados ... 27 Discussão ... 32 Considerações Finais ... 39 Referências ... 40

CAPÍTULO II: Estudo 2 ... 46

Adaptação e propriedades psicométricas da versão brasileira do Bullying Participant Behaviors Questionnaire (BPBQ) ... 46 Resumo ... 47 Método ... 52 Resultados ... 56 Discussão ... 60 Considerações Finais ... 62 Referências ... 63

CAPÍTULO III: Estudo 3 ... 67

Saúde mental e clima escolar em participantes de diferentes papéis no bullying ... 67

Resumo ... 68 Método ... 75 Resultados ... 80 Discussão ... 84 Considerações Finais ... 88 Referências ... 90

CAPÍTULO IV: Estudo 4 ... 96

Recompensa e punição de terceiros aumenta a cooperação em adolescentes numa versão adaptada do dilema do prisioneiro ... 96

Resumo ... 97

Método ... 103

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Considerações Finais ... 117

Referências ... 119

CAPÍTULO V: Estudo 5 ... 124

Efeito de um programa de intervenção cognitivo-comportamental para o bullying nas escolas: Um ensaio controlado aleatorizado ... 124

Resumo ... 125 Método ... 135 Resultados ... 142 Discussão ... 145 Considerações Finais ... 149 Referências ... 151 CONCLUSÃO GERAL ... 159 REFERÊNCIAS ... 163 ANEXOS ... 167

ANEXO A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Pais) ... 168

ANEXO B: Termo de Assentimento Livre e Esclarecido ... 170

(Crianças e Adolescentes) ... 170

ANEXO C: Bullying Participant Behaviors Questionnaire (Versão Adaptada) ... 171

ANEXO D: Questionário de Comportamentos Agressivos e Reativos entre Pares (Q-CARP) ... 173

ANEXO E: Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ) ... 175

ANEXO F: Questionário de Clima Escolar – Revisado, Versão para Ensino Fundamental (QCE-EF) ... 176

ANEXO G: Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa ... 178

APÊNDICE ... 184 Cartilha PROBEM – Programa de Enfrentamento ao Bullying ... I

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INTRODUÇÃO GERAL

Atualmente, não nos deparamos com as mesmas dificuldades que os nossos ancestrais enfrentavam no ambiente de adaptação evolutiva, quando viviam como caçadores-coletores. Porém, reproduzimos suas características que eram adaptadas àquele momento, como a cooperação com os outros, a escolha de parceiros, a criação dos filhos e o comportamento agressivo.

Vários estudos vêm utilizando a abordagem evolucionista ao estudo do comportamento humano para compreender tais características. Mas ainda há muito a ser pesquisado acerca da nossa espécie, particularmente, sobre o bullying. Há relatos da sua existência em diversas culturas e em diferentes espécies, assim como dos custos e benefícios que podem resultar da sua prática. A Psicologia Evolucionista pode ampliar o olhar que se tem sobre o bullying, acrescentando informações quanto às suas funções evolutivas para a nossa espécie.

De um lado, os estudos evolucionistas acerca do bullying vêm fornecendo informações para serem utilizadas em propostas de intervenção antibullying (Book, Volk, & Hosker, 2012; Dane, Marini, Volk, & Vaillancourt, 2017; Ellis, Volk, Gonzalez, & Embry, 2016). Por outro lado, o modelo cognitivo-comportamental vem sendo recomendado para fundamentar programas de intervenção no contexto escolar voltados para diferentes problemas (Herzig-Anderson, Colognori, Fox, Stewart, & Warner, 2012; Rose, Hawes, & Hunt, 2014), dentre eles para os comportamentos agressivos (Daunic, Smith, Brank, & Penfield, 2006) e o bullying (ver Silva, Oliveira, Mello, Andrade, Bazon, & Silva, 2017).

O objetivo geral desta tese é investigar possíveis contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar assim como desenvolver, aplicar e avaliar um programa de intervenção cognitivo-comportamental para o seu enfrentamento nas escolas.

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Para responder a esses objetivos, esta tese é constituída por um estudo teórico e quatro estudos empíricos.

O primeiro estudo refere-se a uma revisão sistemática da literatura nacional e internacional acerca do bullying escolar na perspectiva evolucionista. Ele visa identificar o panorama atual das publicações revisadas por pares a fim de discutir os delineamentos utilizados, os resultados encontrados, as limitações dos estudos e as direções futuras.

O segundo estudo apresenta os procedimentos de adaptação para o contexto brasileiro do Bullying Participant Behaviors Questionnaire (BPBQ) e demonstra as primeiras evidências de validade do seu uso em uma amostra de estudantes do ensino fundamental de escolas da cidade de Natal/RN. O BPBQ é um questionário de autorrelato que avalia a frequência de comportamentos de diferentes participantes no bullying, particularmente de bully (praticante), vítima, defensor e não envolvido. Não foram encontrados instrumentos semelhantes para uso na população brasileira.

O terceiro estudo investiga indicadores de saúde mental e da percepção do clima escolar em estudantes classificados em diferentes papéis no bullying. Demonstra-se como esses indicadores variam entre bullies, vítimas, bullies-vítimas, defensores e não envolvidos. Para isso, foi utilizado um delineamento não-experimental, descritivo, transversal e com abordagem quantitativa.

O quarto estudo avalia o efeito da influência de terceiros (da mesma idade) sobre a cooperação para com uma possível vítima de bullying e a expectativa de cooperação por meio de uma versão adaptada do dilema do prisioneiro em quatro condições: sem monitoramento, monitoramento, recompensa, punição. Esse é um estudo que se fundamenta na teoria dos jogos, possui delineamento quase-experimental, medidas repetidas e tem abordagem quantitativa.

O quinto e último estudo tem como objetivo desenvolver, aplicar e avaliar um programa de enfrentamento ao bullying em escolas. Essa intervenção foi aplicada a uma turma

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do 6º ano (grupo intervenção) de uma escola pública da cidade de Natal/RN, e os seus resultados foram comparados com os dados de uma turma de 7º ano da mesma escola (grupo controle). O estudo tem delineamento quase-experimental, longitudinal e com abordagem quantitativa.

A Conclusão Geral apresenta uma discussão integrada dos dados de todos os estudos. Nas Referências, estão listadas as referências utilizadas nesta sessão e em Conclusão Geral. Na sessão Anexos, foram incluídos os instrumentos de avaliação utilizados nos estudos. Em Apêndice, apresenta-se uma cartilha contendo informações referentes ao programa de intervenção desenvolvido no quinto estudo. Espera-se que resultados aqui encontrados possam ampliar a compreensão do bullying escolar e contribuir para o desenvolvimento de programas de intervenção eficazes para o problema.

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CAPÍTULO I: Estudo 1

Contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar: uma revisão sistemática

Autores:

Giovanna Wanderley Petrucci1

Wallisen Tadashi Hattori2

Yahn Rezende de Abreu2

Maria Emília Yamamoto1

1 Laboratório de Evolução do Comportamento Humano, Universidade Federal do Rio Grande

do Norte.

2 Universidade Federal de Uberlândia.

Periódico: A ser definido em periódico internacional

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Resumo

O objetivo deste estudo foi apresentar as contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar por meio de uma revisão sistemática de artigos empíricos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais. As bases de dados consultadas foram PsycINFO, PUBMED, Google Scholar, Index Psi, SciELO, LILACS e PePSIC. Foram utilizados os seguintes termos de busca com operadores booleanos “bullying AND (psicologia evolucionista OR evolução)" ou suas respectivas traduções. Os critérios de inclusão adotados foram: ser um artigo científico revisado por pares; abordar o bullying pela perspectiva da Psicologia Evolucionista; e ser um estudo empírico. Foram recuperados 160 estudos, dos quais nove atenderam aos critérios de inclusão. Eles foram agrupados de acordo com as principais áreas de debate (reprodução, recursos, personalidade) e, em seguida, foram discutidos de acordo com os delineamentos utilizados, os resultados encontrados, as limitações e direções futuras dos estudos. Concluiu-se que a perspectiva evolucionista traz novos insights para a compreensão do bullying escolar. Porém, é necessário aumentar a quantidade de estudos, assim como o número e o tipo de populações investigadas para se obter informações mais consistentes.

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A Psicologia Evolucionista é uma abordagem ao estudo da natureza e do comportamento humano originada da união entre a psicologia cognitiva e a teoria da evolução. Ela também interage com outras áreas como a neurociência e a antropologia. De acordo com essa abordagem, todos os seres vivos, inclusive o homem, são produtos de um processo evolutivo, sendo as nossas características anatômicas, neurocognitivas e comportamentais selecionadas devido a pressões ambientais. Elas foram selecionadas por resolver problemas adaptativos enfrentados por nossos ancestrais, influenciando o sucesso reprodutivo individual (Hattori & Yamamoto, 2012; Yamamoto, 2009).

A agressão, em particular, é um comportamento selecionado em todos os animais porque fornece vantagens competitivas intra e entre espécies em termos de sobrevivência e de reprodução (Axelrod, 1984). Ela pode ser mais ou menos utilizada em diferentes contextos em função da relação entre os custos e os benefícios envolvidos em sua prática. Um subtipo de agressão comum é o bullying, que ocorre quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos ataca, humilha e/ou exclui intencional e repetidamente outra pessoa mais fraca física ou psicologicamente (Olweus, 1994).

O bullying é um fenômeno grupal, com pico de prevalência na adolescência e presente em diferentes sociedades (Volk, Craig, Boyce, & King, 2006). A sua prática envolve indivíduos em diferentes papéis, sendo os mais conhecidos os bullies (que praticam as agressões) e as vítimas. Existem também os bullies-vítimas, que são os indivíduos que ora praticam e ora sofrem o bullying, e os observadores, que podem estar na posição de defensores das vítimas, de assistentes dos bullies ou de não envolvidos. Esses últimos se referem às pessoas que veem a ocorrência do bullying, mas não se envolvem na situação (Salmivalli, Lagerspetz, Bjorkvist, Osterman, & Kaukiainen, 1996). Nenhum desses papéis deve ser considerado como rótulo, pois os indivíduos podem assumir posições diferentes a depender do contexto em que se encontrem.

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De acordo com a definição de Olweus (1994), existem três elementos básicos que caracterizam o bullying: a intenção de prejudicar o outro, a repetição e a desigualdade de poder entre quem pratica e quem sofre a agressão. Embora essa definição venha sendo amplamente utilizada, Volk, Dane e Marini (2014) propuseram uma alteração com base na perspectiva da Psicologia Evolucionista, conceituando o bullying como: um comportamento agressivo orientado por metas, que prejudica outro indivíduo e que ocorre num contexto de desequilíbrio de poder. Destacam-se, portanto, duas modificações que são a exclusão do critério de repetição e a inclusão da característica de ser um comportamento direcionado por metas.

Para Volk et al. (2014), há episódios únicos de bullying que causam graves prejuízos às vítimas. Por exemplo, com o avanço da tecnologia, o bullying vem sendo praticado também nas redes sociais por meios de recursos tecnológicos, denominado de cyberbullying. Uma única postagem de material impróprio pode gerar prejuízos à vítima que perduram por anos (Slonje & Smith, 2008). Desse modo, o critério repetição não é adequado para caracterizar o bullying, podendo ser substituído pelo critério do prejuízo causado por ele (Volk et al., 2014).

A outra modificação proposta por Volk et al. (2014) refere-se a caracterizar o bullying como um comportamento orientado por metas, particularmente para os bullies. As metas são um reflexo de motivações e desejos internos (conscientes ou não). Logo, avaliar as funções ou metas do bullying ultrapassa a necessidade de avaliar se o comportamento é conscientemente planejado ou intencional. Os autores sugerem ainda adotar uma abordagem evolutiva ao estudo das metas e funções do bullying, assim como foi feito com a agressão geral (por exemplo, Bjorklund & Hawley, 2014; Hawley, 1999; Pinker, 2011).

As principais metas ou funções da prática do bullying são obter ganhos em reputação, recursos e reprodução, os quais constituem benefícios para os bullies (Volk, Camilleri, Dane, & Marini, 2012). Essas metas são adaptativas desde o passado evolutivo e permanecem assim até hoje. O primeiro benefício do bullying é o ganho em reputação e em dominância social

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(Kolbert & Crothers, 2003). Os relacionamentos entre pares de indivíduos com maior dominância/status social provêm mais recursos sociais, que lhes dão poder para influenciar, persuadir e compelir os outros e para aumentar o acesso a recursos (Volk et al., 2012). Nesse sentido, a prática do bullying tem estado positivamente associado à popularidade na escola (Estell, Farmer, & Cairns, 2007; Rodkin & Berger, 2008), à dominância e à popularidade para namorar (Pellegrini & Long, 2003), ao poder (Vaillancourt, Hymel, & McDougall, 2003), à liderança entre pares (Estell et al., 2007) e a outras características relativas à dominância social.

O segundo benefício do bullying refere-se ao ganho em recursos materiais (não sociais) que são valiosos no contexto dos bullies, como alimentos, objetos desejados e bens (Volk et al., 2014). Nas sociedades contemporâneas, isso pode ser observado em competições por brinquedos e eletrônicos (Raffaelli, 1992), resultados acadêmicos (Frazier, 2011), desempenho em esportes (Volk & Lagzdins, 2009), notas escolares, futuros empregos e privilégios diversos que são independentes de aspectos como popularidade ou dominância social (Flanagan, 2008). Logo, o bullying pode ser praticado como meio para obtenção de recursos concretos, independentemente dos ganhos em popularidade (Volk et al., 2014).

O terceiro benefício do bullying refere-se aos ganhos em reprodução, meta biológica última da teoria de Darwin (Volk et al., 2014). Há evidências de que os bullies têm vantagens evolutivas associadas a melhores oportunidades para a reprodução. Eles se engajam mais em práticas sexuais, entram mais cedo na puberdade, começam a namorar com menos idade e são mais ativos com os membros do sexo oposto (Connolly, Pepler, Craig, & Taradash, 2000). Além disso, eles também têm a primeira relação sexual mais jovens, têm maior número de parceiros sexuais e maior interesse em atividades sexuais (Volk, Dane, Marini, & Vaillancourt, 2015).

A definição proposta por Volk et al. (2014) destaca os benefícios que impulsionam a prática do bullying, os quais aumentam a resistência dos bullies aos programas antibullying. É

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necessário, portanto, compreender melhor tais benefícios e incluir essas informações no delineamento das intervenções para que se tornem mais eficazes. Algumas delas já têm feito isso incluindo, por exemplo, o monitoramento de adultos a situações de bullying e o fornecimento de consequências apropriadas (Olweus, 1993), a redução do apoio de pares para o bullying (por exemplo, intervenção de KivA; Salmivalli, Kärnä, & Poskiparta, 2011), ou o fornecimento de caminhos pró-sociais alternativos para os bullies atingirem seus objetivos (Ellis et al., 2016). Contudo, muitos esforços contra o bullying não abordam explicitamente os seus benefícios, o que pode explicar parcialmente o sucesso limitado desses programas (Ttofi & Farrington, 2011).

A maioria dos estudos acerca do bullying utilizam outras perspectivas teóricas para compreendê-lo e para explicar suas possíveis causas e consequências (Gómez-Ortiz, Apolinario, Romera, & Ortega-Ruiz, 2019; Hong, Kim, Piquero, 2017; Oliveira, Silva, Sampaio, & Silva, 2017; Walden & Beran, 2010). É indiscutível que eles têm ampliado a compreensão acerca do bullying, fundamentando estratégias de intervenção que visam reduzi-lo. Contudo, há muitas limitações que precisam ser superadas para se obter resultados mais eficazes (Berger, 2007; Ttofi & Farrington, 2011). Uma delas consiste em considerar o bullying apenas como resultado de um desenvolvimento problemático e/ou mal adaptativo, não investigando os possíveis benefícios para os seus praticantes. A Psicologia Evolucionista amplia essa compreensão, esclarecendo justamente quais são funções do bullying, particularmente para os bullies, o que deve implicar no planejamento e nos resultados das intervenções futuras (Volk et al., 2012).

De acordo com a Psicologia Evolucionista, as estratégias comportamentais evolutivas como o bullying não são fixas ou pré-determinadas geneticamente. Elas são consideradas adaptações facultativas, ou seja, comportamentos expressos apenas em algumas circunstâncias ambientais a depender da relação entre custos e benefícios. Sob certas condições difíceis, por

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exemplo, pode ser mais sensato investir todos os recursos em estratégias como o bullying que facilitem a reprodução no momento presente, ainda que isso signifique reduzir as opções a longo prazo. Por outro lado, se os fatores ambientais não conduzirem ao sucesso, as características individuais como agressão geral, temperamento e personalidade não levarão à prática do bullying. Logo, a Psicologia Evolucionista conceitua o bullying como uma adaptação facultativa, a qual é influenciada por características individuais e moderada por características ambientais (Volk et al., 2012).

Até o momento, há poucos estudos que investigaram o bullying pela ótica da Psicologia Evolucionista (por exemplo, Book, Volk, & Hosker, 2012; Ellis, Giudice, Dishion et al., 2011; Koh & Wong, 2017; Pronk, Lee, Sandhu, Kaur, Kaur, Olthof, & Goossens, 2017; Volk, Dane, & Marini, 2014). A fim de compreender o panorama atual de publicações sobre bullying nessa perspectiva teórica, o objetivo deste estudo foi apresentar as contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar. Para isso, foi realizada uma revisão sistemática de artigos empíricos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais sobre o fenômeno do bullying na perspectiva da Psicologia Evolucionista.

Método

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, cujos critérios metodológicos basearam-se em Costa, Zoltowski, Koller e Teixeira (2015). Devido aos delineamentos heterogêneos dos estudos incluídos na presente revisão, realizou-se uma síntese narrativa dos resultados. As categorias lógicas utilizadas para a comparação dos resultados foram: 1) áreas principais de debate; 2) delineamentos utilizados; 3) resultados encontrados; e 4) limitações dos estudos e direções futuras.

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Para a presente revisão, foram consultadas as seguintes bases de dados: PsycINFO, PUBMED, Google Scholar, Index Psi, SciELO, LILACS e PePSIC. Foram utilizados os seguintes termos de busca com operadores booleanos para as bases Index Psi, SciELO, LILACS e PePSIC: “bullying AND (psicologia evolucionista OR evolução)". Esses últimos termos

foram traduzidos para o inglês para a seleção de estudos publicados nas bases PsycINFO, PUBMED e Google Scholar, tendo sido utilizados as seguintes palavras: “bullying AND

(evolutionary psychology OR evolution)".

Critérios de inclusão/exclusão dos artigos

Os critérios de inclusão utilizados na busca dos artigos abrangidos na revisão foram: ser um artigo científico revisado por pares; ser um artigo que abordasse o bullying pela perspectiva da Psicologia Evolucionista; e, por fim, ser um estudo empírico. Cada artigo incluído na revisão foi lido completa e detalhadamente para que se pudesse coletar e sintetizar suas características gerais, metodológicas e de desfecho.

Procedimentos da revisão

A busca dos estudos nas bases de dados ocorreu entre os dias 25 de janeiro e 10 de fevereiro de 2019, não tendo sido estipulados limites de datas para a publicação dos artigos. A busca foi realizada por dois pesquisadores de forma independente, baseando-se nos critérios de inclusão/exclusão estabelecidos. Primeiramente, foi realizada a leitura e a análise dos títulos e resumos de todos os artigos recuperados. Em seguida, foi feita a leitura na íntegra dos estudos selecionados, possibilitando a avaliação de manter ou não todos os artigos lidos na revisão. Por fim, as informações principais dos estudos foram sintetizadas em uma tabela para facilitar a realização das análises descritivas e críticas dos artigos selecionados.

(27)

Resultados

A busca inicial nas bases de dados retornou um total de 160 trabalhos (PsycINFO: 94; , PUBMED: 26; Google Scholar: 28; Index Psi: 0; LILACS: 5; PePSIC; 0; SciELO: 7). Após controle de duplicação nas referidas bases de dados, foram contabilizados 113 trabalhos. O primeiro critério de inclusão foi ser um artigo científico revisado por pares. Para isso, foram analisados os títulos e resumos dos estudos recuperados. Após excluir livros ou capítulos de livros, teses e outros, restaram 71 trabalhos. O segundo critério de inclusão foi ser um artigo que abordasse o bullying escolar pela perspectiva da Psicologia Evolucionista. Após sua avaliação, restaram 19 trabalhos. Por fim, foi avaliado o terceiro e último critério de inclusão que foi ser um estudo empírico. Restaram 10 artigos, os quais foram lidos na íntegra. Após a leitura de todos, optou-se por excluir um estudo que não utilizou a perspectiva evolucionista para embasar e discutir os seus dados, embora a citasse no seu resumo. Ao final, nove artigos foram incluídos na presente revisão (Figura 1).

(28)

A Tabela 1 resume algumas características gerais dos estudos como: fonte, revista de publicação, país e objetivos. Suas referências completas encontram-se destacadas com asterisco (*) na lista de referências. Observou-se que os estudos mais antigos foram publicados no ano de 2012 (n = 2), seguidos por um estudo publicado em 2015, cinco estudos publicados em 2017 e um estudo publicado em 2018. A maioria deles teve seus dados coletados entre estudantes do Canadá (n = 7). As revistas com maior quantidade de publicação foi a Personality and Individual Differences (n = 3) e a Evolutionary Psychology (n = 2). A partir das informações

acerca dos objetivos investigados em cada estudo, destacaram-se três áreas principais de debate que serão discutidas posteriormente: reprodução, recursos e personalidade.

Tabela 1. Características gerais dos estudos incluídos na revisão

Fonte Revista País Objetivos

Arnocky & Vaillancourt, 2012

Evolutionary Psychology

Canadá Testar o efeito da agressão física, agressão indireta, bullying e vitimização sobre o status de namoro futuro Book et al., 2012 Personality

and Individual Differences

Canada Investigar a relação entre personalidade e bullying na adolescência, controlando para a agressão geral

Dane et al., 2017 Aggressive Behavior

Canadá Investigar a associação de bullying e de vitimização física e relacional com dois desfechos: número de parceiros de namoro e de parceiros sexuais Farrell & Volk,

2017

Children and Youth Services Review

Canadá Determinar se fatores ambientais estão associados com formas diretas e indiretas de bullying através de traços da personalidade do HEXACO*

Farrell et al., 2017 Personality and Individual Differences

Canada Determinar se o conhecimento e o monitoramento materno moderam a associação entre personalidade e prática de bullying na adolescência

Koh & Wong, 2017 Journal of Interpersonal Violence

Canada Comparar a saúde psicossocial entre quatro grupos envolvidos no bullying (bullies, vítimas, bullies-vítimas, observadores)

Pronk et al., 2017 International Journal of Behavioral Development

Holanda e Índia

Investigar se a associação entre os papéis no bullying (bully, seguidor, defensor, não envolvido, vítima) e o status no grupo de pares (popularidade, preferência) é semelhante entre culturas e consistente com a perspectiva evolucionista

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Volk et al., 2015 Evolutionary Psychology

Canadá Examinar a relação dos comportamentos de bullying com comportamentos de namoro e sexuais entre adolescentes e jovens universitários

Volk et al., 2018 Personality and Individual Differences

Canada e China

Examinar quais fatores de personalidade do HEXACO são mais preditores do bullying em amostras de adolescentes chineses e canadenses

Nota: HEXACO é um modelo de avaliação da personalidade composto por seis fatores: Honestidade-Humildade (H); Emotividade (E); Extroversão (X); Agradabilidade (A); Conscienciosidade (C); Abertura à experiência (O).

Quanto aos aspectos metodológicos, verificou-se que todos os estudos foram do tipo descritivo e transversal, com exceção de um estudo que foi longitudinal. Com relação à amostragem, todas foram selecionadas por conveniência. Sete estudos tiveram seus dados coletados apenas entre adolescentes canadenses, enquanto que dois deles foram transculturais: um foi coletado na Holanda e na Índia, e o outro no Canadá e na China. O tamanho de amostra dos estudos variou de 133 a 790 participantes, com média de idade entre 12,5 e 18,5 anos. Por fim, as principais medidas avaliadas foram: bullying, vitimização, comportamentos de namoro, comportamentos sexuais, traços de personalidade e agressão geral.

Tabela 2. Características metodológicas dos estudos incluídos na revisão

Fonte Delineamento N M (DP) anos Medidas/Instrumentos Arnocky & Vaillancourt, 2012 Longitudinal, quantitativo, descritivo

350 12,5 (1,0) Revised Class Play Procedure; Bullying e vitimização; Status de namoro

Book et al., 2012 Transversal, quantitativo, descritivo

310 13,6 (3,2) Bullying; Inventário de Personalidade HEXACO; Agressão instrumental e reativa

Dane et al., 2017 Transversal, quantitativo, descritivo

334 13,6 (1,3) Bullying; Comportamento de namoro; Comportamento sexual

Farrell & Volk, 2017 Transversal, quantitativo, descritivo 396 14,64 (1,52)

Bullying; Inventário de Personalidade HEXACO; Conhecimento dos pais; Problemas de amizade; Influência interpessoal; Competição social na escola; Disciplina escolar; Normas de bully na escola; Status Socioeconômico; Violência na vizinhança

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Farrell et al., 2017 Transversal, quantitativo, descritivo

222 14,07

(1,54)

Bullying; Inventário de Personalidade HEXACO; Parentalidade

Koh & Wong, 2017 Transversal, quantitativo, descritivo 133 Entre 13 e 16 anos de idade

Bullying e vitimização; Depressão; Autoestima; Status Social; Ansiedade Social

Pronk et al., 2017 Transcultural, quantitativo, descritivo

699 13,8 anos (11 meses)

Papéis no Bullying; Status no grupo de pares

Volk et al., 2015 Transversal, quantitativo, descritivo Estudo 1: 334 Estudo 2: 143 Estudo 1: 13,6 (1,3) Estudo 2: 18,55 (1,21)

Bullying e vitimização; Comportamento de namoro; Comportamento sexual Preferência; Atratividade física

Volk et al., 2018 Transcultural, quantitativo, descritivo 790 China: 14,59 (1,53) Canadá: 14,65 (1,51)

Bullying; Inventário de Personalidade HEXACO

Com relação às características dos desfechos dos estudos, os resultados indicaram que as hipóteses evolucionistas foram confirmadas, pelo menos parcialmente (Tabela 3). Todos os estudos apresentaram suas limitações assim como direções futuras para serem investigadas em pesquisas futuras com base na perspectiva evolucionista.

Tabela 3. Características dos desfechos dos estudos incluídos na revisão

Fonte Resultados Limitações Estudos Futuros

Arnocky & Vaillancourt, 2012

A agressão indireta predisse positivamente o status de namoro para ambos os sexos. Em meninas, a agressão física não predisse status de namoro. Em meninos, a agressão física predisse negativamente o status de namoro. A vitimização no bullying predisse negativamente o status de namoro.

Não houve avaliação de medidas de reprodução e nem de agressão sexualmente coercitiva. Ausência de medida sobre desenvolvimento da puberdade.

Estudos longitudinais com variáveis sobre participação e grau de envolvimento em atividade sexual, número de parceiros sexuais, duração das relações sexuais e de namoro. Avaliação de agressão sexualmente coercitiva na adolescência. Usar medida mais específica de desenvolvimento da puberdade ao invés da idade.

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Book et al., 2012 O bullying relacionou-se com o traço Honestidade-Humildade e com agressão instrumental. Agradabilidade e agressão reativa não foram preditores significativos da prática do bullying.

Medidas de autorrelato e dados transversais

Métodos longitudinais para investigar a relação entre bullying e personalidade. Incluir medidas de personalidade como HEXACO em estudos futuros e/ou intervenções. Dane et al., 2017 Os meninos com maior número

de parceiros de namoro e sexuais tiveram maiores chances de praticar bullying físico.

As meninas com maior número de parceiros de namoro tiveram maiores chances de ser bullies-vítimas físico e relacionais e estavam em maior risco de sofrer bullying físico pelas colegas. Medidas de autorrelato e dados transversais. Não avaliou se a relação entre bullying/vitimização e comportamentos de namoro/sexo varia caso o alvo seja do mesmo sexo ou do sexo oposto.

Utilizar métodos longitudinais e múltiplas fontes para medidas de bullying e vitimização. Incluir medidas de

comportamento de namoro e sexual que diferenciem estratégias de curto e de longo prazo.

Avaliar medidas de fatores contextuais como

popularidade percebida e gênero da vítima. Farrell & Volk,

2017

Houve efeito indireto de variáveis ambientais dos pais, pares, escola e vizinhança através de baixa Honestidade-Humildade sobre bullying direto e indireto;

Houve efeito indireto dessas variáveis ambientais através de baixa Conscienciosidade sobre o bullying direto;

Traços de baixa Empatia e baixa Agradabilidade tiveram apenas efeito direto sobre o bullying.

Medidas de autorrelato e dados transversais. Tamanho pequeno de amostra diante do número de variáveis testadas. Algumas carcterísticas de personalidade e ambientais são específicas da amostra. Utilzar múltiplos informantes, incluindo medidas de autorrelato, nomeação dos pares e pais/professores Estudo longitudinal Amostras maiores e mais heterogêneas

Farrell et al., 2017 Prática do bullying se correlacionou negativamente com Honestidade-Humildade e Agradabilidade

Conhecimento materno (mas não monitoramento) moderou a associação entre prática do bullying e Honestidade-Humildade, mas não Emocionalidade e

Agradabilidade, embora tenha havido efeito principal da Agradabilidade.

Tamanho da amostra pequeno

Medidas de autorrelato Não foram utilizadas medidas fornecidas pelas mães

Métodos longitudinais com medidas respondidas pelos pais e estudantes

Incluir outras variáveis parentais (apego e abertura) como possíveis moderadoras da associação entre bullying e Honestidade-Humildade

Koh & Wong, 2017

Os bullies tiveram escores mais positivos em saúde mental e assumiram posição mais alta no ranking social da escola, com diferenças significativas quando

Tamanho de amostra pequeno; ausência de diversidade étnica; estudo transversal; viés de variáveis escolhidas; ausência de avaliação

Sugestões de estratégias para intervenções antibullying que utilizem a

conceitualização

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comparados apenas com os bullies-vítimas

de herdabilidade e prole

para compreender o porquê de sua ocorrência

Pronk et al., 2017 Os papéis no bullying

associaram-se com o status no grupo de pares de modo semelhante entre as duas culturas. A exceção foi quanto ao papel de defensor que se associou positivamente com preferência nas duas amostras, mas associou-se com

popularidade apenas na amostra Indiana.

Salas de aulas maiores nas escolas indianas; não houve avaliação dos instrumentos que foram apresentados no idioma dos participantes, ou seja, em idiomas diferentes; procedimento de nomeação de pares limitado ao máximo de 10 nomeações, e não ilimitados

Comparar amostras maiores e de diferentes culturas ocidentais e orientais; utilizar procedimento com ilimitadas nomeações de pares; incluir medidas relacionadas à orientação cultural dos participantes (individualista ou coletivista)

Volk et al., 2015 O comportamento de namoro relacionou-se significativamente ao bullying apenas entre os estudantes mais velhos (no estudo 2). O bullying aumentou as oportunidades sexuais controlando-se para idade, sexo, atratividade, preferência e vitimização entre pares

Medidas de autorrelato; não avaliação da qualidade das experiências de namoro e sexuais Delineamento longitudinal; coletar medidas de qualidade, duração e características de parceiros.

Volk et al., 2018 A baixa Honestidade-Humildade foi importante preditora da prática do bullying em ambas as amostras. A baixa Conscienciosidade também foi preditora do bullying em ambas as culturas. Além disso, na amostra chinesa, a baixa Agradabilidade e a alta

Extroversão foram preditores do bullying.

Estudo transversal; medidas de autorrelato; viés de sexo, embora o controle de sexo não tenha mostrado diferença nos resultados.

Estudos longitudinais; estudos que forneçam informações sobre mecanismos neurais e genéticos pelos quais o comportamento do bullying é propagado como

comportamento adaptativo.

Discussão

O objetivo do presente estudo foi apresentar as contribuições da Psicologia Evolucionista para a compreensão do bullying escolar. Foi realizada uma revisão sistemática de artigos empíricos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais sobre o fenômeno do bullying na perspectiva da Psicologia Evolucionista. Após avaliar todos os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados nove estudos, os quais foram agrupados de acordo com as principais áreas de debates, a saber: reprodução (Arnocky & Vaillancourt, 2012; Dane et al., 2017; Volk et al., 2015), recursos (Koh & Wong, 2017; Pronk et al., 2017) e

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personalidade (Book et al., 2012; Farrell & Volk, 2017; Farrell et al., 2017; Volk et al., 2018). Esses estudos foram discutidos pelos seguintes aspectos: 1) delineamentos utilizados; 2) resultados encontrados; e 3) limitações dos estudos e direções futuras.

Bullying como estratégia de ganhos em reprodução

Essa categoria agrupou três estudos que investigaram os benefícios da prática do bullying para as estratégias reprodutivas, as quais foram operacionalizadas como

comportamentos de namoro e comportamentos sexuais. Foram utilizados delineamentos transversal (n = 2) e longitudinal (n = 1), e os dados foram coletados entre estudantes canadenses com média de idade entre 12,5 e 18,5 anos.

Os resultados indicaram que a prática do bullying associou-se significativamente aos comportamentos de namoro e sexuais, porém houve diferenças entre meninos e meninas (Dane et al., 2015; Volk et al., 2015). Para os meninos, os comportamentos de namoro e sexuais associaram-se positivamente à prática do bullying físico. Para as meninas, esses mesmos comportamentos associaram-se positivamente ao papel de bully-vítima físico e relacional e ao maior risco de sofrer bullying físico pelas colegas (Dane et al., 2015).

Quanto à comparação entre diferentes grupos etários, a prática do bullying aumentou as oportunidades sexuais tanto para os adolescentes como para os universitários (Volk et al., 2015). Porém, a prática do bullying associou-se positivamente ao comportamento de namoro apenas para os universitários. Por outro lado, pelos dados obtidos longitudinalmente, a prática do bullying não foi preditora do status de namoro futuro, enquanto que a vitimização predisse negativamente o status de namoro de adolescentes de ambos os sexos (Arnocky & Vaillancourt, 2012).

As limitações apontadas nos três estudos referiram-se ao tipo de delineamento transversal (n = 2) e ao uso de medidas de autorrelato (n = 3). Também foi sugerida a

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investigação sobre a qualidade, a duração e as características dos parceiros assim como a avaliação de comportamentos de namoro e sexuais que diferenciem estratégias de teoria de vida de curto e de longo prazo (Dane et al., 2015; Volk et al., 2015). Por fim, foi destacada a necessidade de pesquisas longitudinais futuras que incluam variáveis sobre características das atividades sexuais dos participantes e o uso de medidas específicas acerca do desenvolvimento da puberdade, ao invés de idade (Arnocky & Vaillancourt, 2012).

Destacaram-se ainda três limitações desse grupo de estudos: 1) Dane et al. (2015) e Volk et al. (2015), apesar de apresentarem objetivos diferentes, utilizaram delineamentos similares, não deixando claro se ambos utilizaram dados dos mesmos participantes; 2) Dane et al. (2015) apresentaram resultados que não haviam sido apresentados nas suas hipóteses, tornando difícil a compreensão dos dados e da discussão; e 3) Arnocky e Vaillancourt (2012) discutiram os seus resultados pela ótica da perspectiva evolucionista, porém, consideraram o bullying como sinônimo de agressão geral, desconsiderando as particularidades do fenômeno.

Os dados dos três estudos indicaram haver associação entre a prática do bullying e o acesso a oportunidades sexuais, porém os resultados foram controversos. Os resultados de Dane et al. (2015) e Volk et al. (2015) corroboraram as explicações evolucionistas para o bullying e indicaram que a sua prática se associou positivamente às oportunidades reprodutivas. Porém, os dados obtidos longitudinalmente por Arnocky e Vaillancourt (2012) não confirmaram essa informação. São necessários estudos futuros com delineamentos longitudinais que possam ampliar esses resultados, investigando quais são os efeitos da prática do bullying sobre comportamentos que se refiram às estratégias reprodutivas. Além disso, estudos futuros podem contribuir para a compreensão das diferenças dessa associação entre os sexos assim como entre os diferentes grupos etários.

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Dois estudos foram agrupados nesta categoria por terem como objetivo avaliar a associação entre bullying e ganhos em saúde psicossocial (Koh & Wong, 2017) e status social (Koh & Wong, 2017; Pronk et al., 2017). O primeiro estudo foi realizado com adolescentes canadenses e comparou as duas variáveis entre diferentes participantes no bullying: bullies, vítimas, bullies-vítimas, observadores (Koh & Wong, 2017). O delineamento foi transversal e utilizou medidas de autorrelato para mensurar bullying, vitimização, depressão, ansiedade, autoestima e status social.

Os adolescentes no papel de bullies tiveram escores mais positivos em saúde psicossocial e assumiram posição mais alta no ranking social da escola quando comparados com os demais grupos (Koh & Wong, 2017). Contudo, as diferenças foram significativas apenas quando comparadas com o grupo de bullies-vítimas. Como limitações do estudo, os autores citaram o tamanho pequeno da amostra, a falta de diversidade ética entre os participantes, a natureza transversal dos dados e o viés das variáveis selecionadas para o estudo. Eles sugeriram que estudos futuros abordem as questões referentes às características da amostra e utilizem delineamento longitudinal para reunir evidências acerca dos benefícios evolutivos decorrentes da prática do bullying.

O segundo estudo utilizou delineamento transversal para comparar a associação entre os papéis no bullying (bully, seguidor, defensor, não envolvido, vítima) e o status no grupo de pares (preferência e popularidade) entre adolescentes holandeses e indianos (Pronk et al., 2017). Os diferentes papéis no bullying associaram-se com preferência entre os pares de modo semelhante nas duas culturas. A preferência associou-se positivamente com os papéis de defensor e de não envolvido, e associou-se negativamente com os papéis de bully, seguidor e vítima. Já a popularidade, associou-se positivamente com os papéis de bully e seguidor nas duas culturas, porém apresentou diferenças quanto aos outros papéis. A principal delas foi com relação ao papel de defensor, que se associou positivamente com popularidade apenas na

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amostra Indiana, mas não foi significativa na amostra holandesa. Os papéis de não envolvido e vítima associaram-se negativamente com popularidade nas duas amostras, mas foi significativa apenas na amostra holandesa.

Os ganhos decorrentes da prática do bullying são universais, pois estão associados positivamente à popularidade nas culturas investigadas (Pronk et al., 2017). Entretanto, os ganhos associados ao comportamento de defesa das vítimas são mais influenciados por caraterísticas culturais. Indivíduos de culturas mais coletivistas, como a indiana, associaram o alto status social não apenas ao papel de bully, mas também ao de defensor das vítimas, valorizando igualmente o bullying e os comportamentos pró-sociais.

Como limitações do segundo estudo, destacaram-se: 1) as diferenças no tamanho das salas de aulas, que eram maiores na Índia do que na Holanda; e 2) a possibilidade de ter havido viés decorrente do idioma dos questionários. Eles foram traduzidos para a língua nativa dos participantes, tendo sido garantida a consistência com relação à definição do bullying. Porém, não foram avaliados os efeitos das diferenças sutis com relação aos demais termos dos questionários.

Os estudos de Koh e Wong (2017) e de Pronk et al. (2017) corroboraram a hipótese de que o papel de bully, mas não os de vítima e de bully-vítima, associaram-se a ganhos em saúde psicossocial e em status social. Porém, houve diferença com relação à associação do papel de defensor com o ganho em popularidade entre estudantes holandeses e indianos. Recomenda-se a realização de estudos futuros longitudinais e transculturais com participantes de culturas diferentes para reunir novas evidências nesse sentido. Esses resultados podem auxiliar no desenvolvimento de estratégias que sejam mais eficazes para a redução do problema, tendo em vista as particularidades do efeito de cada cultura nos diferentes papéis do bullying em termos de saúde psicossocial e status social.

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Traços de personalidade associados ao bullying

Esta categoria reuniu quatro estudos que avaliaram a associação do bullying com características de personalidade por meio de delineamento transversal (n = 4). Os dados foram coletados com amostras apenas canadenses (n = 3) ou comparados entre uma amostra canadense e uma amostra chinesa (n = 1). Investigou-se a relação direta entre traços de personalidade e prática do bullying (n = 2), sendo que um dos estudos foi transcultural. Examinou-se também o efeito de mediação de traços da personalidade na associação entre fatores ambientais e bullying assim como avaliou-se o efeito de moderação da parentalidade na associação entre

personalidade e bullying.

Foi utilizado o modelo de personalidade HEXACO (n = 4) que se baseia na perspectiva evolucionista e é composto pelos seguintes fatores: Honestidade-Humildade (H; credibilidade, justiça, sinceridade, modéstia e falta de ganância); Emotividade (E; medo, ansiedade, dependência, sentimentalismo); Extroversão (X; autoestima social, sociabilidade, vigor); Agradabilidade (A; perdão, gentileza, flexibilidade, paciência); Conscienciosidade (C; organização, diligência, prudência e perfeccionismo); Abertura à experiência (O; apreciação estética, criatividade, não convencionalidade). O HEXACO amplia o modelo do Big Five, acrescentando o fator denominado Honestidade-Humildade e redefinindo os fatores Agradabilidade e Neuroticismo/Emotividade (Ashton & Lee, 2007). Os demais fatores do Big Five são semelhantes aos fatores do HEXACO: Extroversão, Conscienciosidade, Abertura à

Experiência.

A partir dos resultados, obteve-se que o traço Honestidade-Humildade se associou negativamente com a prática do bullying em adolescentes canadenses (Book et al, 2012; Farrell et al., 2017; Volk et al. 2018) e chineses (Volk et al. 2018). Além disso, ele atuou como mediador na associação entre variáveis ambientais (conhecimento parental, influência interpessoal, disciplina escolar, competição escolar) e a prática do bullying direto e indireto

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entre estudantes canadenses (Farrell & Volk, 2017). O traço Conscienciosidade também foi preditor negativo do bullying nas culturas canadenses e chinesas (Volk et al., 2018), tendo atuado como mediador na associação entre variáveis ambientais (disciplina escolar, competição escolar) e prática do bullying direto entre estudantes canadenses (Farrell & Volk, 2017). O traço Agradabilidade foi preditor negativo da prática do bullying também na amostra canadense (Farrell et al., 2017). Por outro lado, no estudo transcultural, os traços Agradabilidade e Extroversão foram preditores significativos da prática do bullying apenas na amostra chinesa do estudo de Volk et al. (2018).

Os resultados demonstraram haver associação direta entre bullying e fatores de personalidade do HEXACO, assim como relação de mediação e de moderação envolvendo variáveis ambientais. A associação negativa com o traço Honestidade-Humildade foi significativa em todos os estudos, indicando que características de exploração do outro são fatores de risco para a prática do bullying. Porém, os resultados são controversos, principalmente, com relação ao traço Agradabilidade, sendo necessários novos estudos que avaliem a relação do bullying com os diferentes traços de personalidade do modelo HEXACO.

Como limitações dos estudos, destacaram-se o delineamento transversal (n = 4) e o tamanho pequeno das amostras. Apontou-se a necessidade de pesquisas futuras com delineamento longitudinal, com amostras maiores e mais heterogêneas, além de múltiplos informantes. Volk et al. (2018) recomendaram ainda a realização de estudos que investiguem mecanismos neurais e genéticos que possam estar relacionados com a propagação do bullying como comportamento adaptativo.

Os estudos incluídos nessa categoria representaram um avanço na área, pois, além de terem utilizado delineamento transcultural, testaram modelos teóricos complexos com variáveis do indivíduo e do ambiente como possíveis preditoras do bullying. Eles exemplificaram a compreensão do bullying como uma adaptação facultativa, demonstrando que embora alguns

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traços de personalidade estejam associados à prática do bullying, existem variáveis contextuais que podem moderar a sua ocorrência. Estudos dessa natureza devem continuar sendo desenvolvidos com o objetivo de identificar como os diferentes traços de personalidade interagem com fatores ambientais a fim de orientar estratégias mais eficazes de intervenção ao bullying.

Considerações Finais

A presente revisão reuniu estudos empíricos acerca do bullying com base na Psicologia Evolucionista, sendo possível verificar que essa perspectiva traz novos insights para a compreensão dessa questão. Porém, a quantidade de estudos é ainda incipiente, sendo necessário aumentá-la, assim como ampliar o número e o tipo de populações investigadas.

Por este estudo ser uma revisão sistemática da literatura, os critérios de inclusão e de exclusão na busca dos artigos foram definidos previamente. É provável que existam outras publicações que investigaram hipóteses semelhantes referentes às áreas aqui definidas (reprodução, recursos, personalidade), mas que não tenham sido incluídos neste artigo por não terem utilizado os termos da busca no seu título ou resumo. Sugere-se que estudos de revisão sistemática futuros façam uma busca mais abrangente com palavras-chave que incluam a literatura da perspectiva evolucionista mais ampla, e não apenas da Psicologia Evolucionista.

É importante ainda destacar uma limitação metodológica dos artigos incluídos na presente revisão. Seis dos nove estudos foram realizados com estudantes canadenses e com procedimentos metodológicos semelhantes. É possível que os mesmos participantes tenham feito parte de alguns ou de todos os seis estudos, resultando na baixa heterogeneidade das amostras estudadas. Recomenda-se, portanto, a realização de estudos futuros acerca das temáticas aqui discutidas, incluindo participantes de diferentes regiões do Canadá e de outros países.

(40)

Por fim, neste estudo, o bullying é abordado como uma adaptação evolutiva, mas é preciso destacar que ele é adaptativo, principalmente, para os bullies. Para os demais participantes, o bullying não é adaptativo, principalmente, para as vítimas e os bullies-vítimas que sofrem diversos prejuízos. Portanto, apesar de o bullying ser uma adaptação evolutiva, isso não deve ser utilizado como uma justificativa para não se combater o bullying. Pelo contrário, a compreensão do porquê o bullying é uma adaptação evolutiva pode contribuir para definir estratégias interventivas mais eficientes. Por exemplo, ao afirmar que os bullies possuem maior reconhecimento social pelos seus pares e não apresentam maiores problemas em termos de saúde psicossocial, as intervenções deverão ser desenvolvidas para ajudá-los a manter esses benefícios, mas substituindo a estratégia do bullying por outras pró-sociais que não gerem prejuízos aos colegas.

A maior contribuição deste estudo é ressaltar a necessidade de uma melhor compreensão das funções evolutivas da prática do bullying, como os ganhos em reprodução e em recursos sociais e materiais. Além disso, destaca-se a existência de alguns traços de personalidade que são mais associados à prática do bullying, como a baixa Honestidade-Humildade. Porém, a personalidade não é um fator que pré-determina a sua ocorrência. Sabe-se que existem variáveis do ambiente familiar, escolar e da vizinhança que podem atuar como moderadoras do bullying, aumentando ou diminuindo a sua ocorrência.

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