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Análise do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Acquário Ceará e seus possíveis resultados.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA HIDRÁULICA E AMBIENTAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL

CAMILA NUNES MARQUES

ANÁLISE DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO EMPREENDIMENTO ACQUÁRIO CEARÁ E SEUS POSSÍVEIS

RESULTADOS.

FORTALEZA 2018

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ANÁLISE DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO EMPREENDIMENTO ACQUÁRIO CEARÁ E SEUS POSSÍVEIS RESULTADOS.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Ceará – UFC, como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Engenharia Ambiental

Orientadora: Prof. Geovana Cartaxo de Arruda Freire

FORTALEZA 2018

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Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

M316a Marques, Camila Nunes.

Análise do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Acquário Ceará e seus possíveis resultados. / Camila Nunes Marques. – 2018.

65 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Ambiental, Fortaleza, 2018.

Orientação: Profa. Dra. Geovana Cartaxo de Arruda Freire.

1. Licenciamento Ambiental. 2. Acquário Ceará. 3. Direito Ambiental. I. Título.

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ANÁLISE DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL DO EMPREENDIMENTO ACQUÁRIO CEARÁ E SEUS POSSÍVEIS RESULTADOS.

Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Ambiental do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Ambiental.

Aprovada em ___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profa. Dra. Geovana Cartaxo de Arruda Freire (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC)

____________________________________________

Profa. Dra. Ana Bárbara de Araújo Nunes Universidade Federal do Ceará (UFC)

____________________________________________

Bela. Karine Nunes Ribeiro Universidade Federal do Ceará (UFC)

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À minha mãe, por sempre ter acreditado no meu potencial, me incentivado e proporcionado o melhor ambiente de estudo e por tudo que já fez por mim até aqui.

Ao meu pai, que mesmo longe nunca se mostrou distante e sempre me proporcionou todas as condições para que eu chegasse até aqui.

A minha irmã, Rafa, que sempre se mostrou uma segunda mãe e sempre fez questão de me mostrar o quão capaz eu podia ser e o quão longe eu podia chegar.

Ao Felipe Viana por toda a paciência, apoio e dedicação dados a mim durante todo o tempo juntos e pelas dicas dadas para a realização deste trabalho.

À Professora Geovana Cartaxo de Arruda Freire por aceitar ser minha orientadora, por ter se mostrado sempre disposta a contribuir positivamente com o meu trabalho, com as sugestões preciosas e pelo tempo dedicado a mim nos últimos meses.

A todos os professores do curso de Engenharia Ambiental da UFC dos quais tive o privilégio de ser aluna, vocês são os formadores da minha jornada profissional e por isso serei eternamente grata.

A todos os amigos que fiz durante a graduação e a todos aqueles que de qualquer forma contribuíram para melhorar o meu dia a dia com sua amizade, torcida e pensamentos positivos.

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There are far far better things ahead than any we left behind (CS Lewin)

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O empreendimento Acquário Ceará, proposto em 2008 pela Secretaria de Turismo do Estado do Ceará, veio com o objetivo de ser a maior atração desse tipo na América Latina e de alavancar o turismo na cidade de Fortaleza, entretanto sofreu grandes críticas em relação a regularidade de seu processo de licenciamento, ao caráter evasivo de seu EIA/RIMA, entre outros aspectos sociais criticados pela sociedade civil. Este trabalho tem o objetivo de analisar os principais aspectos e críticas do processo de licenciamento do Acquário Ceará, com embasamento teórico advindo de revisão bibliográfica de legislação aplicável e análise de documentações elaboradas durante o processo de licenciamento ambiental além de expor os possíveis desdobramentos para o empreendimento. Em razão dos diversos aspectos e críticas levantadas durante o processo de licenciamento e construção do empreendimento, o mesmo teve suas obras paralisadas e ainda resta o questionamento sobre o que será feito do empreendimento.

Palavras-chave: Licenciamento Ambiental. Acquário Ceará. Direito Ambiental.

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ABSTRACT

The Acquário Ceará project, proposed in 2008 by the State of Ceará Tourism Secretariat, was aimed to be the largest attraction of this type in Latin America and to leverage tourism in the city of Fortaleza, however it has suffered great criticism regarding the regularity of its licensing process, the evasive character of its EIA (Environmental Impact Assessment) / EIAR (Environmental Impact Assessment Report), among other social aspects criticized by civil society. This work has the objective of analyzing the main aspects and critiques of the licensing process of Acquário Ceará, with a theoretical basis coming from a bibliographical revision of applicable legislation and analysis of documentation elaborated during the environmental licensing process, besides exposing the possible developments for the enterprise. Due to the different aspects and criticisms raised during the process of licensing and construction of the project, the Acquario Ceará had its works paralyzed and the question remains about what will be done of the enterprise

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Figura 1 – Zoneamento Urbano de Fortaleza...30

Figura 2- Fachada Localizada na Rua dos Tabajaras...31

Figura 3- Ponte dos Ingleses...32

Figura 4- Estoril...32

Figura 5- Arquitetura proposta para o Acquário Ceará...33

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Tabela 1- Porcentagem de Impactos pela Magnitude...46 Tabela 2- Porcentagem de Impactos pela Temporalidade...47

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ACP Ação Civil Pública

AID Área de Influência Direta

AIE Área de Influência de Entorno

AII Área de Influência Indireta

CDB Convenção sobre Diversidade Biológica

COEMA Conselho Estadual do Meio Ambiental

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiental

DNOCS Departamento de Obras Contra a Seca

EIA Estudo de Impacto Ambiental

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICP Inquérito Civil Público

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente

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LABOMAR Instituto de Ciências do Mar

LAD Licença por Autodeclaração

LI Licença de Instalação

LIO Licença de Instalação e Operação

LP Licença Prévia

LO Licença de Operação

LS Licença Simplificada

LSA Licença Simplificada por Autodeclaração

OUC Operação Urbana Consorciada

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

PPD Potencial Poluidor Degradador

QDSP Quem Dera Ser Um Peixe

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

SEMAN Secretaria Municipal de Meio Ambiente

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ZEPH Zona Especial de Preservação do Patrimônio Paisagístico Histórico Cultural e Arqueológico

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1 INTRODUÇÃO ... 14 2 OBJETIVO ... 16 2.1 Geral...16 2.2 Específicos ... 16 3 METODOLOGIA ... 17 4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ... 18

4.1 O Licenciamento Ambiental e seu Fundamento no Direiro Ambiental ... 18

4.2 Competência para Licenciar ... 21

4.3 Modalidades de Licença ... 23

4.4 O EIA/RIMA e sua importância no processo de licenciamento ambiental ... 26

5. PROCESSO DE LICENCIAMENTO DO ACQUÁRIO CEARÁ...28

5.1 Histórico do Processo e Descrição da Área: Incompatibilidades Paisagísticas com o Patrimônio ... 28

5.2 Aspectos e Contestações sobre o Processo de Licenciamento ... 32

5.2.1 Anuência Iphan ... 33

5.2.2 Ação Civil Pública do Ministério Público Federal ... 36

5.2.3 Análise EIA/RIMA ... 39

5.2.4 Participação Popular e os Princípios da Prevenção e Precaução...46

6. O PORVIR DO PROCESSO ... 49

6.1 Privatização ... 49

6.2 Súmula no 613 – A Não Aplicação da Teoria do Fato Consumado no Direito Ambiental ... 50

7. CONCLUSÃO ... 53

REFERÊNCIAS ... 55

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1. INTRODUÇÃO

Durante muitos séculos, os aspectos ambientais, incluindo preocupação com mudanças climáticas, seres vivos, recursos hídricos e índices de poluição, não foram pauta de discussão em conferências internacionais ou mesmo locais. A preocupação com o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial acelerado após a segunda guerra mundial provocou, em poucas décadas, grandes impactos ao meio ambiente, levantando então o questionamento sobre a futura escassez de recursos naturais e consequências para os seres humanos caso a situação se agravasse.

Em 1972 acontece a primeira Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente com o objetivo de alertar a sociedade sobre a degradação ambiental que estava ocorrendo e seus graves riscos para a humanidade. A Conferência, realizada em Estocolmo, reuniu mais de 100 países e gerou uma relação de princípios e responsabilidades ambientais. Após a realização da primeira conferência, o meio ambiente virou pauta nos objetivos e responsabilidades de diversos países, que passaram a buscar um alinhamento entre seu crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável. No Brasil foi elaborada a Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6938/1981, em que o licenciamento ambiental é um dos instrumentos mais importantes.

O processo de licenciamento ambiental permite que as atividades ou empreendimentos com potencial de degradação do meio ambiente sejam analisados por profissionais habilitados na área, que avaliarão se o projeto é viável ou não ambientalmente, além de indicar uma série de medidas de controle visando a mitigação dos potenciais impactos que possam ser gerados.

Um empreendimento que gerou grandes discussões do ponto de vista social e ambiental, por conta da magnitude de seus prováveis impactos foi o Acquário Ceará. Desde a sua concepção pela Secretária de Turismo do Estado do Ceará, em 2008, o projeto tem passado por diversas críticas e processos por

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parte da população, Ministério Público Federal e IPHAN e ainda não há uma definição concreta a respeito do que será feito do empreendimento.

O objetivo desse trabalho é analisar o processo de licenciamento ambiental do empreendimento Acquário Ceará, expondo os principais acontecimentos decorrentes do processo desde 2008 e apresentar alguns possíveis porvires para empreendimento, além de expor para a comunidade a importância do correto processo de licenciamento ambiental de atividades potencialmente poluidores a fim de se preservar os recursos naturais ainda existentes.

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2. OBJETIVOS 2.1. Geral:

Analisar o processo de licenciamento ambiental do Acquário Ceará

2.2. Específicos:

• Avaliar a conformidade do processo de licenciamento do Acquário Ceará do ponto de vista legal, social e ambiental

• Expor os prováveis impactos que a realização do empreendimento provocará para a população de Fortaleza e para o ecossistema no entorno do empreendimento

• Contribuir com a comunidade sobre a relevância de um correto procedimento de licenciamento ambiental, especialmente aqueles referentes a empreendimentos de elevado potencial degradador do meio ambiente.

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3. METODOLOGIA

A metodologia usada neste trabalho foi feita em caráter qualitativo. Para Godoy (1995, p.6) “Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural”, onde o pesquisador usa-se como próprio instrumento de observação, análise e interpretação dos dados coletados (GODOY 1995, p.6). Os conhecimentos adquiridos durante a formação em Bacharel em Engenharia Ambiental, além do período de estágio realizado na área de Licenciamento Ambiental também foram usados para proporcionar o mote para a realização deste trabalho.

A pesquisa realizada foi feita em grandes duas vertentes. Primeiramente, fez-se uma ampla revisão de literatura, expondo as legislações referentes à definição de Licenciamento Ambiental além de normas, leis, princípios, resoluções, entre outros instrumentos legais relacionados ao Direito Ambiental e que serviram de base para a realização do trabalho.

A segunda grande vertente foi a análise do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Acquário Ceará. Diversos aspectos como localização, tamanho e objetivos do empreendimento foram apreciados, além da análise do processo licenciatório em si, apresentando os principais aspectos do procedimento, principais críticas movidas por diversos segmentos da sociedade assim como órgãos do Poder Federal. Para tal, foram utilizados documentos gerados pelo interessado do empreendimento, órgão ambiental licenciador, matérias de jornais de grande circulação da cidade de Fortaleza assim como outros documentos produzidos relacionados a matéria em questão. Por fim, os possíveis desdobramentos do processo foram expostos, com a apreciação de instrumento legal recentemente criado, a súmula no 613/18 e que pode

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4. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

4.1. O Licenciamento Ambiental e seu Fundamento No Direito Ambiental

A importância da criação do licenciamento ambiental pode ser descrita com base em diversas leis, resoluções e outros mecanismos legais criados ao longo das últimas décadas, e uma delas é a Constituição Federal de 1988, que destinou um capítulo integralmente para discorrer sobre o meio ambiente, e, em seu artigo 225, discorre:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). A Constituição Federal, nesse artigo, descreve diversas maneiras pela qual se possa garantir o direito ao meio ambiente equilibrado, evidenciando que a preocupação com o meio ambiente é algo que atingiu proporções que necessitam atenção e legislação específica para tal.

Ainda na Constituição Federal, o artigo 23 descreve como competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Munícios: “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” e “preservar as florestas, a fauna e a flora”, explicitando que o dever de proteção não deve ser centralizado e sim difundido entre todos os níveis de organização do país (BRASIL, 1988).

Em 1981, mesmo antes do estabelecimento da Constituição Federal de 1988, é criada a Lei nº 6.938/1981 que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA e institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Esta lei estabelece princípios e diretrizes que têm como alguns dos objetivos o uso racional dos recursos naturais e a compatibilização do desenvolvimento, em suas mais diversas formas, com a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.

A PNMA possui diversos instrumentos que visam auxiliar no atingimento dos objetivos propostos pela Política e um desses instrumentos é o “o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”

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ficando assim, estabelecida em lei a necessidade de licenciamento ambiental para atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.

Como forma de coordenar, fiscalizar e auxiliar na implementação da PNMA, a Lei nº 6.938/1981 institui ainda o SISNAMA que é composto pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e fundações criadas pelo Poder Público (BRASIL, 1981) que ficarão responsáveis pela proteção e aprimoramento do meio ambiente. Os órgãos descritos ficam divididos da seguinte forma diante da lei:

I- Órgão superior, que será o Conselho do Governo e terá função assessora na formulação da política e diretrizes nacionais relacionadas ao meio ambiente.

II- Órgão consultivo e deliberativo, que será o Conselho Nacional do Meio Ambiente -CONAMA, que tem como uma de suas funções a proposta de diretrizes governamentais para o meio ambiente e a criação, no seu âmbito de competência, de normas e padrões que sejam conciliáveis com a manutenção da qualidade do meio ambiente.

III- Órgão central, que será o Ministério do Meio Ambiente- MMA, que tem como função, a nível federal, de planejar, coordenar, supervisionar e controlar as políticas e diretrizes criada para o meio ambiente

IV- Órgãos executores, que serão compostos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - IBAMA, e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- ICMbio, que terão a função de executar e fazer executar as políticas e diretrizes ambientais fixadas.

V- Órgãos Seccionais, que serão os órgãos a nível estadual responsáveis pela execução de programas ambientais e pela fiscalização de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente.

VI- Órgãos locais, órgãos a nível municipal, responsáveis também pelo controle e fiscalização de atividades potencialmente degradadoras no seu âmbito de competência,

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Como instrumento para “executar e fazer executar as políticas e diretrizes ambientais” o IBAMA fica responsável pelo licenciamento de atividades potencialmente poluidoras em âmbito federal, assim como os órgãos seccionais e locais ficam responsáveis em âmbito estadual e municipal, respectivamente, assunto que será discutido em detalhes em tópico específico (BRASIL, 1981).

Em 1997, o CONAMA cria a Resolução nº 237/97 que discorre sobre a “revisão dos procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental”, ratificando o que foi exposto na Lei nº 6.938/81, que estabelece o licenciamento como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente. A resolução discorre também sobre o exercício da competência no licenciamento e estabelece lista de atividades passíveis de licenciamento ambiental por conta de sua potencial capacidade de causar degradação ao meio ambiente, e traz a definição de licenciamento ambiental, que é descrito como:

Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente

poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

E de licença ambiental como:

Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.

É importante mencionar alguns dos princípios norteadores do Direito Ambiental e sua importância durante um processo de licenciamento ambiental. Um primeiro princípio que merece atenção é o princípio da prevenção. Esse princípio vem expresso na Constituição Federal em seu artigo 225, quando diz

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que é incumbido ao Poder Público e à sociedade o dever de proteger e preservar o meio ambiente para as futuras gerações (BRASIL, 1988). O princípio da prevenção parte da ideia de que se deve tomar atitudes para evitar um dano ambiental, tendo em vista que repará-lo é um processo muito mais complexo e muitas vezes impossível de ser realizado de forma eficaz. A prevenção parte do pressuposto de certeza científica, quando se sabe o dano que determinada ação ou atividade irá causar para o meio ambiente (CARVALHO, 2014).

Quando não há certeza científica do possível dano que determinada atividade ou empreendimento poderá causar para o meio ambiente, deve-se pôr em prática o princípio da precaução. O princípio da precaução foi consolidado como o Princípio no 15 da Conferência da Nações Unidas em 1992 e se mostra

uma importante ferramenta para o processo de licenciamento ambiental pois pode evitar a concessão de licenças de atividades em que não se sabe o potencial degradador que terá para o ecossistema afetado. O fato de não haver conhecimento científico que comprove um possível dano não pode ser usado como justificativa a fim de não o evitar (MENDES, 2015).

Pode-se perceber que a consolidação do licenciamento ambiental em legislação teve sua implementação apenas nas últimas décadas, muito posteriormente a criação de diversas atividades com alto potencial degradador, porém se mostra atualmente um importante instrumento de controle para a manutenção da qualidade ambiental.

4.2 Competência Para Licenciar

Todo processo de licenciamento ambiental necessita de um órgão ambiental componente do SISNAMA para executá-lo, e a competência para tal dependerá do tipo e da localização do empreendimento e será feito única e exclusivamente em apenas um nível de competência. Em muitos empreendimentos, geralmente de grande porte, há uma disputa entre os órgãos ambientais federais, estaduais e municipais para realizar o processo de licenciamento ambiental, tendo em vista que este é um processo com grandes expensas para o interessado e consequentemente gerador de receita para a entidade licenciadora.

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Com o objetivo de introduzir critérios para o exercício do direito de licenciar, a Resolução CONAMA no 237/97 estabelece as competências relativas

a cada órgão ambiental no que diz respeito ao tipo e localização de empreendimentos.Segundo a resolução, compete ao IBAMA o licenciamento de atividades com potencial impacto ambiental, a saber:

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.

Como pôde ser observado no disposto acima, o IBAMA fica responsável pelo licenciamento de empreendimentos de potencial impacto ou influência nacionais, como também de atividades relacionadas a materiais radioativos e energia nuclear que, em caso de acidentes, terá impactos de gigantescas proporções e gravidades.

Ainda de acordo com a Resolução CONAMA nº 237/97, o órgão ambiental estadual fica responsável pelo licenciamento de atividades que estejam localizadas ou tenham influência em mais de um município, em unidades de conservação de domínio estadual e vegetações de preservação permanente bem como aquelas designadas pela União. E por fim, o órgão ambiental municipal licenciará atividades que possuam impacto ambiental local ou outras que sejam delegadas pelo Estado. Vale salientar que, para que possa exercer a competência de licenciar, o município precisa possuir um sistema de gestão ambiental competente, com a presença de órgão ambiental capacitado, entre outras exigências previstas na legislação (BRASIL, 1997).

Os critérios para o exercício do poder de licenciar estão satisfatoriamente descritos na resolução, portanto é necessário que haja o conhecimento dessa legislação por parte dos órgãos ambientais e também por parte dos responsáveis por empreendimentos que necessitem de licenciamento ambiental, tendo em

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vista que este conhecimento trará mais agilidade ao processo e reduzirá o risco de exercício incorreto da competência, fato esse que, se observado, acarretará em atrasos no procedimento.

4.3 Modalidades De Licenças

Por conta da grande variedade de características e magnitudes de empreendimentos e dos diferentes aspectos que precisam ser analisados e fiscalizados durante cada etapa do processo de licenciamento ambiental, foi-se necessário criar diferentes modalidades de licenças de forma a maximizar os itens a serem analisados no procedimento de licenciamento como também para simplificar a emissão de licenças de atividades com menor potencial de impacto.

A nível federal, a legislação que discorre sobre as modalidades de licença expedidas pelo órgão ambiental é regida pela resolução CONAMA nº 237/97, já mencionada anteriormente. Segundo a mesma no seu art. 8o., serão expedidas as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo

determinante;

III - Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Como pode ser observado, a emissão da licença de instalação- LI só será permitida após a verificação de todas as condicionantes descritas na licença prévia- LP, sendo proibido o início da construção do empreendimento antes da emissão da LI, mesmo em posse da LP, assim como a licença de operação- LO só será expedida após verificado o cumprimento das condicionantes descritas na licença de instalação, sendo também proibido o início das atividades no local antes da expedição da LO, mesmo em posse da LI. Cada modalidade de licença possui seu objetivo de análise específico e obrigatório, portanto, é importante

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atentar-se ao que exatamente está sendo autorizado a fim de evitar multas e possíveis embargos.

É permitido aos estados legislar complementarmente em relação às modalidades de licenças e, no estado do Ceará, a legislação que discorre sobre o assunto é a resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente- COEMA no

10/15 que estabelece que as licenças ambientais a nível estadual serão expedidas pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente- SEMACE e que o tipo de licença a ser expedida para cada atividade dependerá do seu Potencial Poluidor Degradador – PPD e porte do empreendimento, que estão listados nos anexos I, II e III da resolução. As atividades são classificadas quanto ao PPD em baixo, médio e alto impacto e já em relação ao porte podem ser classificadas em menor que micro(<Mc), micro(Mc), pequeno(Pe), médio(Me), grande(Gr) e excepcional(Ex), critérios esses que também estão discriminados nos anexos da resolução.

Além das modalidades de licença dispostas em legislação federal (LP, LI e LO), que também serão adotadas no estado, serão expedidas as seguintes licenças a nível estadual, de acordo com a resolução COEMA no 10:

• Licença de Instalação e Operação- LIO: Será usada para atividades de assentamento de reforma agrária, para projetos agrícolas de irrigação, floricultura, cultivo de plantas, reflorestamento, piscicultura de produção em tanque-rede e carcinicultura de pequeno porte.

• Licença Simplificada- LS: será expedida para atividades de porte micro- Mc e pequeno-Pe e com potencial poluidor-degradador-PPD baixo, além de outras exigências contidas na legislação.

• Licenciamento Simplificado por Autodeclaração- LSA: Consiste numa fase única de emissão de licenças para atividades descritas na lei Estadual no 14.882 (CEARÁ, 2015)

O município de Fortaleza, no estado do Ceará, também criou legislação no que se refere ao disciplinamento do licenciamento ambiental do município, estabelecendo também diferentes modalidades de licenças assim como seus

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critérios de uso e peculiaridades. A legislação municipal que discorre sobre o assunto é a Lei Complementar nº 208 criada em 2015 e alterada em 2017 pela Lei Complementar nº 235, percebendo-se uma criação muito recente de leis que regulem o assunto em âmbito local.

Além das licenças ambientais descritas em legislação federal (LP, LI e LO), que são ditas como licenças participantes do processo de “licenciamento regular” pela legislação municipal, a Lei Complementar nº 208 institui as modalidades:

• Licença Simplificada para Construção Civil:

Ato administrativo mediante o qual o órgão ambiental, em uma única fase, atesta a viabilidade ambiental, aprova ambientalmente a localização e a implantação de obras ou empreendimentos, estabelecendo as condições e medidas de controle ambiental que deverão ser observadas.

• Licença Simplificada para Atividades:

Ato administrativo mediante o qual o órgão ambiental autoriza o funcionamento de atividades classificadas como Médio Potencial Poluidor Degradador, conforme Anexo I da presente lei, estabelecendo as condições e medidas de controle ambiental que deverão ser observadas.

• Licença por Autodeclaração- LAD:

É o ato administrativo através do qual o órgão ambiental aprova, sumariamente, a instalação de empreendimento de pequeno porte, após análise de ficha de caracterização, preenchida pelo interessado, estabelecendo as condições e medidas de controle ambiental que deverão ser observadas.

Observa-se que tanto na legislação estadual quando na municipal existem modalidades de licença do tipo “licença simplificada” e “licença por autodeclaração” porém as definições de ambas são diferentes nas duas legislações assim como o critério de enquadramento das atividades para obtê-las.

A legislação federal estabelece prazos mínimos e máximos de vigência para as licenças prévia, de instalação e de operação, entretanto esses prazos se diferem em relação ao que é exposto em legislação estadual e municipal para as mesmas modalidades de licença, devendo o interessado estar atento aos prazos de renovação. Os prazos para as outras modalidades de licenças também são descritos nas legislações que as instituíram.

4.4 O Eia/Rima E Sua Importância No Processo De Licenciamento Ambiental

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Durante o processo de licenciamento ambiental de atividades com potencial degradador do meio ambiente, o interessado tem o dever de realizar diversos estudos ambientais que mostrarão os possíveis impactos que a implantação e operação daquele empreendimento terá para a biota e para as pessoas na área de influência do projeto, devendo também apresentar medidas mitigadoras desses impactos, plano de recuperação de áreas degradadas, estudo de impacto de vizinhança entre outros pertinentes às características da atividade.

Dentre esses estudos, um que se destaca por sua grandiosidade e importância é o Estudo Prévio de Impacto Ambiental -EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA. Esse estudo é necessário para atividades ou empreendimentos descritos pela resolução CONAMA nº237/97 como “empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio”. Destaca-se o uso do termo “significativa degradação” pois apesar de diversos empreendimentos e atividades terem a necessidade de licenciamento ambiental, nem todos possuem um grau de impacto considerado significativo para a realização de EIA/RIMA, e sim de outros estudos ambientais pertinentes de menor complexidade.

A legislação que rege a lista de atividades que necessitarão de EIA/RIMA, assim como suas diretrizes e formas de elaboração é a resolução CONAMA nº 01/86. Os objetivos do EIA/RIMA são de identificar e mensurar os potenciais impactos positivos e negativos de atividades e empreendimentos e suas características, cujas análises devem ser elaboradas, considerando os aspectos físicos, biótico e socioeconômicos, com o objetivo de subsidiar a tomada de decisão no julgamento da viabilidade ambiental do empreendimento. Esse julgamento deve se basear em todos os impactos observados, positivos e negativos, no diagnóstico da área e sua capacidade suporte, medidas mitigadoras para a redução dos impactos negativos e compensatórias para aqueles impactos considerados impossíveis de mitigar, como também no programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos negativos caso o projeto se concretize (BRASIL, 1986).

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De acordo com a resolução CONAMA nº 01/86 e nº 237/97, qualquer estudo ambiental relacionado ao processo de licenciamento deverá ser feito por profissionais capacitados e tudo será feito às expensas do requisitante, incluindo a contratação dos profissionais para realizar o estudo, os quais responderão tecnicamente sobre o estudo e sua confiabilidade.

O EIA além de levar em consideração todos os prováveis impactos que serão ocasionados pela instalação e operação do empreendimento, deve considerar a compatibilidade da atividade ou do empreendimento com os planos governamentais para a área, toda a região que será afetada direta ou indiretamente pelo projeto e ainda deve se confrontar com todas as alternativas de localização e tecnológicas, inclusive com a de não realização do projeto por conta da magnitude de efeitos adversos que podem ser causados.

Após a análise do estudo, será emitido o Relatório de Impacto Ambiental que basicamente conterá um resumo das conclusões do EIA sob todos os aspectos analisados, e ainda dará ao final uma recomendação sobre a alternativa técnica mais viável. Uma diferença essencial do RIMA em relação ao EIA é que, além de vir de maneira resumida, deverá ter linguagem simples, clara e objetiva, além de conter ilustrações como figuras e mapas entre outras ferramentas visuais que facilitem o entendimento do projeto e de seus impactos para o público em geral.

É possível perceber a importância que o EIA/RIMA tem como ferramenta de proteção ambiental, tendo em vista que sem ele se tornaria muito mais complexa a avaliação de impactos de grandes empreendimentos ou atividades e provavelmente facilitaria a realização destes sem sequer a adoção de medidas mitigadoras e compensatórias para o meio ambiente.

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5.1 Histórico do Processo e Descrição da Área: Incompatibilidades Paisagísticas e com O Patrimônio

O projeto para construção do empreendimento Acquário Ceará foi solicitado pela Secretaria de Turismo do Estado do Ceará – SETUR, cujo processo de licenciamento se iniciou no ano de 2009. O empreendimento foi projetado para ser construído no bairro da Praia de Iracema, mais especificamente na rua dos Tabajarasno11, no município de Fortaleza. O local

proposto para a implantação do Acquário era ocupado por um prédio do Departamento Nacional de Obras contra a Seca – DNOCS que havia sido demolido, e cuja área encontrava-se desocupada. Vale salientar que a área em questão e o seu entorno encontravam-se em processo de ocupação crescente há dezenas de anos e já apresentava indícios de degradação ambiental, fazendo parte de planos governamentais para revitalização da orla da Praia de Iracema.

Segundo o memorial descritivo enviado à SEMACE em fevereiro de 2012, a área construída do Acquário seria de 21.500m² e o volume total de água requerido para os aquários, que seriam 25 tanques ou aquários, seria de 15 milhões de litros (TEOPHILO et. Al., 2012, pg. 1-1). A estrutura descrita no projeto contava com a construção de 4 pavimentos, sendo 2 exclusivamente para as atrações, que incluíam salas de cinema, aquário máster, túneis de observação, entre várias outras atrações. Além da edificação principal, o projeto descrevia a construção de uma Praça das Águas, que ficaria localizada entre a edificação principal e a Ponte dos Ingleses, e que incluiria equipamentos como fonte temática, esculturas e posto de informações (TEOPHILO et. Al., 2012, pg. 1-2).

Com respeito ao uso e ocupação do solo, segundo o Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza vigente na época, o local pretendido para o projeto se situava em Zona da Orla trecho 3 (Figura 1), segundo seu art. 315., se caracterizando como área contígua a faixa de praia (FORTALEZA, 2009). Essa zona possui limites de índices de aproveitamento, taxa de permeabilidade, taxas de ocupação e ocupação do subsolo e ainda altura máxima de edificação previstas no Plano Diretor, porém nenhum índice praticado pelo Acquário Ceará,

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com exceção da altura máxima de edificação que estava dentro do limite permitido, foi indicado nos estudos ambientais e memoriais feitos

.

Figura 1. Zoneamento Urbano de Fortaleza

Fonte: Prefeitura de Fortaleza (2008)

Ainda de acordo com o zoneamento feito no Plano Diretor de Fortaleza, a área onde seria construído o Acquário se localiza numa Zona Especial de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico – ZEPH (FORTALEZA, 2009). Essas áreas, segundo o Plano Diretor são formadas por “sítios, ruínas, conjuntos ou edifícios isolados de relevante expressão arquitetônica, artística, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística, considerados representativos e significativos da memória arquitetônica, paisagística e urbanística do Município” (FORTALEZA, 2009) e possuem como

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um de seus objetivos compatibilizar os usos do patrimônio com as edificações e paisagismos do entorno.

A arquitetura da área da Praia de Iracema é decorrente de sua história de ocupação, que decorreu no século XIX, quando a região era considerada área portuária do município (BARBOSA, 2006, pg.104). Após a transferência da área portuária para o Mucuripe, a região passou a ser habitada pelos velhos pescadores e população de classe média baixa, entretanto, a partir dos anos 1980, houve uma alta especulação imobiliária da região para transformá-la em polo turístico. Houve um apelo popular para que a região fosse preservada do avanço da verticalização, com pedidos de preservação da Ponte dos Ingleses, Estoril, entre outros equipamentos históricos (BARBOSA, 2006, pg.107).

Apesar dos avanços de exploração econômica na região, a arquitetura da Praia de Iracema, principalmente na área localizada próxima aonde o Acquário Ceará seria construído, preserva seu formato “tradicional”, com preservação de seus Patrimônios Históricos e Culturais e fachadas que ainda remetem à sua história, como pode ser visto nas Figuras 2, 3 e 4:

Figura 2: Fachada localizada na Rua dos Tabajaras

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Figura 3: Ponte dos Ingleses

Fonte: Barbosa (2006) Figura 4: Estoril

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A arquitetura prevista para o empreendimento Acquário Ceará, entretanto, é composta de um equipamento tecnológico (Figura 5), com formato que não se mostra compatível com o paisagismo local, desrespeitando o disposto no Plano Direto de Fortaleza.

Figura 5: Arquitetura proposta para o Acquário Ceará

Fonte: EIA/RIMA Acquário Ceará (2012)

Sobre a proteção do patrimônio ressalte-se que o Decreto-Lei no 25/37

que instituiu o tombamento, considera para fins de proteção não apenas o bem tombado mas o entorno, que caracteriza a visibilidade e ambiência do bem. Desta forma demonstra-se que o Acquario é totalmente incongruente com a zona que possui diversos bens tombados por não respeitar a visibilidade e ambiência daquela região.

5.2 Aspectos e Contestações sobre o Processo de Licenciamento

Como disposto na legislação da resolução CONAMA no237/97, o

processo de licenciamento ambiental de empreendimentos com elevado potencial degradador do meio ambiente precisa da emissão de 3 modalidades de licenças antes de iniciar suas atividades; licenças prévia, de instalação e de

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operação (BRASIL,1997). Em dezembro de 2011, a SEMACE emitiu a Licença Prévia do empreendimento, aprovando assim a viabilidade ambiental do projeto e sua localização, após a análise do EIA/RIMA feito pelo interessado. A licença apresentava uma série de condicionantes a serem cumpridas antes da emissão da próxima modalidade. Uma das condicionantes presente da LP era a apresentação de um Projeto Básico Ambiental, que consistiria de planos e programas de controle e monitoramento ambiental propostos no EIA/RIMA, além de memorial descritivo dos sistemas de captação, abastecimento, filtragem e descarte das águas dos aquários, alvará de construção emitido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, entre outros (SEMACE, 2011) No início de março de 2012 a SEMACE emitiu a Licença de Instalação para o Acquário e essa foi a última modalidade de licença expedida para o empreendimento (SEMACE, 2012)

Desde a sua concepção, o projeto do Acquário Ceará vem sofrendo fortes contestações populares e também do Ministério Público Federal e IPHAN por conta de diversos indícios de falhas no processo de licenciamento ambiental. O fato de uma obra de orçamento maior que R$ 250.000.000,00 e de grandes proporções físicas apresentar como intervalo de emissão de licença prévia e licença de instalação menos de 3 meses levantou questionamentos sobre a efetividade da análise técnica feita pelo órgão ambiental. Além disso, houve questionamentos sobre assuntos como o EIA/RIMA realizado, a falta de atenção à participação popular entre outros aspectos que serão tratados com mais detalhamento a seguir.

5.2.1 Anuência Iphan

A empreendimento Acquário Ceará, por conta da magnitude de seus impactos, teve o dever de realizar um EIA/RIMA anteriormente à emissão da licença prévia para que sua viabilidade ambiental fosse aprovada. A licença prévia para o empreendimento foi emitida pela SEMACE, após análise técnica do EIA/RIMA, em 30 de dezembro de 2011 e trazia como uma de suas condicionantes:

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A descoberta fortuita de quaisquer elementos de interesse arqueológico ou pré-histórico, histórico, artístico ou numismático acarretará a suspensão total das obras, devendo a mesma ser comunicada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN e a SEMACE, pelo autor do achado ou pelo proprietário do local (pessoa física ou jurídica) onde tiver ocorrido (…) (Licença Prévia Nº422/2011).

Pouco mais de 2 meses após a emissão da licença prévia, em 2 de março de 2012 a SEMACE emite a licença de instalação do empreendimento possuindo como condicionante:

Apresentar manifestação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN, quanto à solicitação de anuência requerida (Licença de Instalação nº61/2012).

O IPHAN questionou a licença emitida no dia 02 de março, alegando, primeiramente, que o EIA/RIMA elaborado pelo empreendedor estava irregular pois não continha conteúdo referente aos estudos arqueológicos que deveriam ser analisados e aprovados pelo instituto. O Secretário de Turismo alegou (G1, 2012) que todos os procedimentos legais referentes ao empreendimento foram divulgados em jornal de grande circulação, porém o IPHAN afirmou que não recebeu nenhum comunicado oficial sobre o projeto. Por conta da irregularidade na emissão da licença, o IPHAN entrou com um pedido de embargo da obra até que a situação se regularizasse.

O Ministério Público Federal- MPF se manifestou a respeito do ocorrido e em 21 de março de 2012 e emitiu recomendações à Secretaria de Turismo do Ceará, à SEMACE e ao IPHAN pedindo a suspensão das atividades de instalação do empreendimento antes de uma manifestação oficial do IPHAN sobre a possibilidade, ou não, de emissão de licenças. (MPF-RECOMENDAÇÃO Nº 13/12). O Ministério justificou que, segundo a Resolução CONAMA no01/86

em seu Art 6o define que o Estudo de Impacto Ambiental deverá desenvolver, no

mínimo, as seguintes atividades técnicas:

O meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre

(36)

a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.

O MPF afirma ainda em sua recomendação que a emissão de licenças ambientais sem aprovação do IPHAN “poderá constituir grave ilegalidade e violação do princípio constitucional da precaução, configurando, assim, ato de improbidade administrativa e, em tese, crime contra o meio ambiente” (MPF-RECOMENDAÇÃO Nº 13/12).

O IPHAN determinou o embargo da obra no dia 28 de março até que os estudos arqueológicos fossem feitos e no dia 13 de abril o instituto publica portaria no Diário Oficial da União autorizando o início da pesquisa arqueológica no local. Apesar da portaria autorizar apenas o início do estudo arqueológico o empreendimento reiniciou as atividades de instalação, sendo novamente embargado alguns dias depois pois, segundo depoimento dado ao jornal O POVO por Ramiro Teles, superintendente interino do IPHAN-CE na época, a obra só poderia ser retomada após a apresentação de um relatório inicial da pesquisa(JORNAL O POVO, 2012).

O empreendimento ficou paralisado por 2 meses até liminar deferida pela Justiça Federal, dada pela Juíza Débora Aguiar determinando a retomada da construção (JFCE- PROCESSO nº 0007553-52.2012.4.05.8100). A suspensão do embargo foi feita com base em afirmação de que houve impropriedade de fundamentação de embargo, tendo em vista que a portaria IPHAN no 230/02 só

proíbe intervenções em áreas definidas como de preservação de monumento arqueológico ou pré-histórico, enumerados na Lei 3.924/61, previamente registradas em cadastro nacional. Foi afirmado, contudo que a área em que se encontra o Acquário Ceará não está listada nesse cadastro e, portanto, não necessitaria de anuência do instituto. Além disso, a juíza que concedeu a liminar ainda afirmou que não foi descoberto nenhum elemento de interesse arqueológico no local das construções, contrariando o que foi afirmado pelo IPHAN, e que a continuidade do embargo acarretaria prejuízo aos cofres públicos estaduais, requisitando, portanto, sua imediata suspensão (JFCE-PROCESSO nº 0007553-52.2012.4.05.8100).

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Diversos opositores à construção do Acquário, participantes de movimento popular intitulado “Quem dera ser um peixe”, afirmam, entretanto, que houve má interpretação da Lei 3.924/61 como também da portaria no 230/02

do IPHAN (ACQUÁRIONÃO, 2012). Segundo os considerandos da portaria no230/02, afirma-se que “considerando a necessidade de compatibilizar as fases

de obtenção de licenças ambientais em urgência com os estudos preventivos de arqueologia, objetivando o licenciamento de empreendimentos potencialmente capazes de afetar o patrimônio arqueológico” ou seja, a portaria tem objetivo de compatibilizar o licenciamento de todos os empreendimentos com potencial de afetar o patrimônio arqueológico e não apenas aqueles listados como áreas de preservação arqueológica, pela lei 3.924/61, tendo em vista que, segundo a própria lei 3.924/61, podem haver “descobertas fortuitas” de elementos de interesse arqueológico que ainda não estejam listados (ACQUÁRIONÃO, 2012).

5.2.2 Ação Civil Pública do Ministério Público Federal

O Ministério Público Federal- MPF foi um dos maiores opositores do processo de licenciamento do Acquário Ceará e, em fevereiro de 2013, executou uma Ação Civil Pública- ACP em desfavor do IBAMA, da SEMACE, do Estado do Ceará, do Município de Fortaleza e também da União Federal expondo diversos aspectos que, segundo o mesmo, eram irregulares no processo do licenciamento do empreendimento.

Por meio de Inquérito Civil Público- ICP, o MPF requisitou uma série de documentos e informações técnicas referentes ao licenciamento ambiental do Acquário Ceará e observou o que seria uma série de irregularidades durante o trâmite do processo. Em primeiro lugar, sabe-se que o processo de licenciamento de um empreendimento deve ser feito exclusivamente em um único nível de competência, segundo a resolução CONAMA nº 237/97, porém ao requisitar a concessão de licença o Secretário Estadual de Turismo do Ceará protocolou requerimentos junto à SEMACE e Secretaria Municipal de Meio Ambiente- SEMAN (atual SEMA), iniciando assim em dois órgãos, municipal e estadual, o processo de licenciamento do empreendimento (MPF-ACP no3697/13, pg. 6).

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É descrita na ACP que logo após o recebimento de pedido de Licença Prévia na SEMACE, em fevereiro de 2009, a mesma emitiu um ofício ao Secretário de Turismo afirmando que não lhe caberia realizar o licenciamento do Acquário, pois reconhecia o município de Fortaleza como qualificado para o exercício da atividade e, portanto, o pedido deveria ser enviado à SEMAN, e que seria de sua competência realizar o processo de licenciamento (MPF-ACP no3697/13, pg.8). Foi ainda afirmado no ofício que a SEMACE, a título de

colaboração, enviou à SEMAN um termo de referência para auxiliar na confecção do EIA/RIMA pelo empreendedor. O processo de licenciamento foi arquivado no âmbito da SEMACE em junho de 2009, porém é afirmado na ACP que não há nenhuma comprovação de envio do processo a SEMAN como foi afirmado.

Ocorre que, de junho de 2009 até o fim de agosto de 2011, nenhuma movimentação foi feita referente ao processo de licenciamento do Acquário na SEMACE, porém, em 31 de agosto de 2011 a SETUR, formula novo pedido de Licença Prévia à SEMACE, dentro do mesmo procedimento realizado anteriormente e que em teoria teria sido arquivado na SEMACE e encaminhado a SEMAN. Em dezembro de 2011 a licença prévia é emitida e, menos de 3 meses depois, em março de 2012, a licença de instalação também é concedida (MPF- ACP no3697/13, pg.9).

É afirmado pelo MPF que nenhuma justificativa foi dada pela SEMACE para a reabertura do processo, não houve fundamentação de ato administrativo de anulação para que fosse sequer possível o reinício do processo no órgão sendo portanto uma reabertura de tramitação nula e ainda segundo o MPF, todos os atos praticados após essa reabertura também são considerados nulos, incluindo a emissão das licenças prévia e de instalação (MPF- ACP no3697/13,

pg.12).

Um outro aspecto do processo de licenciamento do Acquário Ceará criticado na ACP foi a análise técnica de seu conteúdo. Para a emissão de Licença Prévia, a SEMACE emitiu um parecer técnico que aprovava a viabilidade ambiental do projeto, por meio da avaliação do EIA/RIMA, que foi assinado por 10 técnicos da SEMACE (MPF-ACP nº 3697/13, pg. 13). É explicado na ACP que, usualmente, o procedimento adotado para a emissão de pareceres

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constitui-se da análise específica de cada técnico, dependendo de sua área de atuação, e então a reunião desses pareces para emissão do parecer final. Acontece que, no caso do Acquário Ceará, 6 dos 10 profissionais que participaram desse processo são terceirizados, contratados para desempenhar funções administrativas, contrariando normas vigentes pois, segundo o que consta na ACP “o licenciamento ambiental é uma atividade própria do poder público” (MPF-ACP nº 3697/13 pg. 14), sendo, portanto, requerida a participação apenas de servidores concursados do órgão.

Um terceiro aspecto fortemente questionado pelo MPF a respeito do processo de licenciamento ambiental do Acquário foi a competência do órgão ambiental para exercer o processo. Considerando que o processo de licenciamento do Acquário iniciou-se em 2009, com reabertura de processo em 2011, a norma que regerá o processo é a resolução CONAMA nº237, tendo em vista que a Lei Complementar no 140/11 foi criada após esse período. Segundo

a resolução é definida a competência do IBAMA como:

Art. 4° - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional.

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica

É afirmado na ACP que a resolução sofreu interpretação equivocada pois partiu do pressuposto que apenas caberia ao IBAMA licenciar as atividades dos incisos transcritos se os impactos fossem simultaneamente significativos e de âmbito nacional ou regional. A partir dessa premissa, um empreendimento localizado, por exemplo, no mar territorial, com é o caso do Acquário Ceará, só seria licenciado pelo IBAMA se os seus impactos fossem considerados, pelo próprio IBAMA, significativos e de âmbito nacional ou regional, porém esse tipo

(40)

de interpretação abre precedente para que situações semelhantes sejam tratadas de forma diferente pelo órgão. Segundo exposto na ACP, a resolução CONAMA nº237/97 fixou a competência para o IBAMA em todos os casos descritos nos incisos, já os considerando como “significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional” explicitando assim a sua convicção de que o empreendimento deveria ter sido licenciado pelo IBAMA e não pela SEMACE (MPF-ACP nº 3697/13 pg. 18-23).

5.2.3 Análise Eia/Rima

Um aspecto que gerou grandes críticas em relação ao processo de licenciamento do Acquário Ceará foi a elaboração de seu EIA/RIMA pelo empreendedor e a análise crítica feita pela SEMACE. Diversos aspectos do estudo foram apontados como inconsistentes por especialistas da área ambiental, opositores ao projeto como também pelo Ministério Público Federal, como consta na Ação Civil Pública nº 3697/13 expedida pelo órgão.

Devido a magnitude do projeto do Acquário Ceará, descrito em seu EIA/RIMA como o “maior aquário do Brasil” e “o terceiro maior aquário do mundo” (THEOPHILO et, Al., 2011, pg. 8) e também tendo em vista que consta como um de seus objetivos ser um equipamento “com atividades que contemplem a educação ambiental (...) promovendo a conscientização dos usuários sobre a necessidade de preservação do meio ambiente, em especial, dos oceanos” (THEOPHILO et. Al., 2011, pg.2), vale a discussão sobre a relevância de se obter um equipamento turístico dessa magnitude e sobre sua real importância do ponto de vista da preservação de ecossistemas marinhos.

Em 1992 foi realizada a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um tratado das Nações Unidas com vistas a proteção e uso sustentável da diversidade biológica, assim como a repartição justa de recursos obtidos pelo uso de recursos genéticos (MMA, 2018). A CDB desenvolveu estratégias para proteção da biodiversidade dos países signatários e descreve uma dessas estratégias a conservação in situ de espécies, descrita na CDB como:

Significa a conservação de ecossistemas e hábitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies em

(41)

seus meios naturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características (MMA, 2000, pg. 9).

Em seu artigo 8o a convenção descreve que os países signatários devem,

sempre que possível:

Promover a proteção de ecossistemas, hábitats naturais e manutenção de populações viáveis de espécies em seu meio natural;

Estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica;

Impedir que se introduzam, controlar ou erradicar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, hábitats ou espécies; (MMA, 2000, pg. 11-12)

Como um dos países com maior biodiversidade do planeta e signatário da Convenção, o Brasil desenvolveu áreas especialmente protegidas no território, com vistas justamente a conservação dessa biodiversidade, foram as chamadas Unidades de Conservação, estabelecidas pela Lei Federal no 9.985/00.

Observa-se, entretanto, que a realização do Acquário Ceará vai de encontro ao artigo da Convenção que descreve a necessidade de impedir a introdução de espécies exóticas que ameacem os ecossistemas. Como será descrito posteriormente, o EIA/RIMA do empreendimento não citou quantas espécies seriam exatamente introduzidas no local e, portanto, não se sabe qual a real relação que esses seres terão com a biodiversidade local, relação essa que pode vir a ser muito maléfica para os seres aquáticos naturais. Como não se sabe os efeitos que a introdução dessas espécies exóticas irá causar para o ambiente natural, tal prática fere um dos princípios que baseiam a Convenção, o princípio da Precaução, que se baseia no princípio de que a incerteza científica em relação a magnitude de impactos adversos advindos de uma atividade não será razão para o adiamento de medidas para minimizar ou evitar essa ameaça (MMA, 2000, pg. 7).

Por fim, em relação a CDB, a criação de um aquário visa a conservação ex situ de espécies, partindo do fato que grande parte dessas espécies que serão trazidas pelo empreendimento são exóticas, e serão criadas em cativeiro, sendo contrária ao que se afirma nos Preâmbulos da Convenção, a dizer:

(42)

Observando igualmente que a exigência fundamental para a conservação da diversidade biológica é a conservação in situ dos ecossistemas e dos hábitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies no seu meio natural.

Diante do exposto, há o questionamento de por que o Governo Estadual priorizou um equipamento turístico de grandes magnitudes, e consequentemente grandes impactos, em detrimento da criação, por exemplo, de uma Unidade de Conservação com animais marinhos que, também, cumpriria o objetivo de conservação da biodiversidade, educação ambiental e ainda poderia incentivar a pesquisa científica nesses locais, atendendo ao que diz a Convenção na preservação in situ de espécies.

Um segundo ponto a ser analisado é a falta de estudos arqueológicos na composição do EIA/RIMA, exigido na resolução CONAMA nº01/86, como já explicado anteriormente. O fato do estudo não conter item relacionado a essas análises arqueológicas poderia comprometer a preservação de algum resquício arqueológico no local, pois não seria possível analisar os impactos decorrentes da implantação do empreendimento do ponto de vista da preservação do patrimônio arqueológico.

Segundo análise feita pelo MPF, um outro tópico que levanta questionamentos sobre a elaboração do EIA/RIMA é a definição da área de abrangência dos impactos ambientais gerados pelo empreendimento (Figura 6), que é descrita no EIA/RIMA como:

Área de Influência Direta (AID) – Corresponde a área onde o empreendimento será construído, que corresponde a 12.316 m². Área de Influência de Entorno (AIE) – Compreende um raio de 1,5 Km a partir do centro geográfico do terreno proposto para implantação do empreendimento, abrangendo o bairro Praia de Iracema e partes dos bairros: Centro, Moura Brasil, Meireles e Aldeota, bem como o mar. Área de Influência Indireta (AII) – Engloba os demais bairros do município de Fortaleza, sua Região Metropolitana e o estado do Ceará como um todo, haja vista a importância do empreendimento para o desenvolvimento econômico do estado, atraindo visitantes que tenderão a visitar outros municípios cearenses (Theophilo, et. Al., 2011, pg.13).

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Figura 6: Área de Influência do Projeto Acquário Ceará

Fonte: EIA/RIMA Acquário Ceará (2012)

É possível perceber que o EIA/RIMA do empreendimento cria uma área de influência que não está prevista na legislação da resolução CONAMA nº01/86, a “Área de Influência de Entorno”, onde, inclusive, é inserida a área que abrange o mar territorial. Segundo a resolução CONAMA nº01/86 o estudo de impacto ambiental deverá:

Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza.

É também descrito no estudo que o empreendimento captará água do mar através de dutos ligados a estrutura principal para abastecer os aquários e, portanto, segundo afirmação do MPF, é evidente a produção de impactos diretos no mar territorial, estando essa região incluída de forma imprópria no estudo (MPF-ACP nº3697/13 pg. 28-29).

O biólogo Daniel Santos da Silva, pós-graduando em Ciências Marinhas Tropicais no Instituto de Ciências do Mar da UFC- Labomar, fez alguns questionamentos a respeito do EIA/RIMA do empreendimento, os quais foram publicados no site do movimento “Quem dera ser um peixe” em julho de 2012 (AQUARIONAO, 2012). A primeira crítica levantada a respeito do estudo é na

(44)

fase de diagnóstico ambiental e, segundo Silva (2012), “um diagnóstico ambiental mal elaborado pode – gerando este erro consequências ambientais desastrosas–associar uma imagem negativa ao empreendimento em questão” (SILVA, 2012).

O primeiro aspecto avaliado na etapa de diagnóstico do EIA/RIMA do Acquário é a geração de ruído durante a etapa de implementação do projeto. Conforme indicado em relatório técnico emitido pela SEMACE, os impactos decorrentes do ruído são avaliados no estudo apenas em relação a circunvizinhança e, em nível de ecossistema, os ruídos são associados apenas a animais silvestres e domesticados “que circulem ou habitem na área” (SEMACE, 2011, pg.16). De acordo com Silva (2012), “o estabelecimento em questão fica numa região de faixa de praia. Os impactos sobre a fauna marinha também deveriam ter sido relatados, pois são evidentes e preocupantes” (SILVA, 2012). A importância de estudo detalhado no impacto do empreendimento sobre a fauna marinha é inclusive explicitada no parecer técnico da SEMACE, que descreve como condições a serem atendidas “ESTUDO ESPECÍFICO SOBRE O IMPACTO QUE ESTA ATIVIDADE IRÁ CAUSAR NA BIOTA MARINHA” (SEMACE, 2011, pg.44).

É também descrito no EIA/RIMA, no tópico de Previsão de Riscos que, com a implementação do empreendimento, poderá haver o afugentamento de espécies de aves migratórias e animais marinhos por conta da poluição luminosa, a dizer:

“O excesso de luminosidade age desnorteando espécies de aves migratórias, alterando seus percursos tradicionais e ainda colabora para que os pássaros fujam assustados com os focos luminosos, além de causar mortalidade de aves que perdem a orientação ou chocam-se com obstáculos que possuem excesso de luz” (THEOPHILO, 2011, pg. 19).

Ainda na etapa de diagnóstico, há a descrição do meio biótico do ecossistema local. Segundo Theophilo et. Al. (2011) apud SILVA, 2012 É usada no estudo a expressão “metodologia de caminhamento aleatório” para descrever como foi feito o levantamento de espécies locais, entretanto o autor não cita

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nenhuma literatura relacionada a essa metodologia em sua descrição e, caso tenha sido feita por ele, não descreveu com detalhes no que consistia o método, o que deveria ter sido feito. Durante a descrição do tópico de “Ecossistemas Aquáticos” no estudo, é feita uma série de afirmações sem a devida fundamentação bibliográfica, ferindo os princípios de um trabalho técnico/científico. Como exemplo tem-se a afirmação:

Segundo estudiosos dos mares litorâneos abertos do Ceará, a fauna marinha é representada essencialmente por carnívoros, possuindo baixa

biodiversidade, que aumenta à medida que se atinge a plataforma externa, a uma profundidade média de 60 metros (THEOPHILO et. Al., 2011, pg. 41)

Uma outra passagem, ainda no mesmo tópico, é dita como:

Segundo pesquisas científicas, são relacionados para as costas cearenses 10 filos animais componentes do zooplancton: Protozoa, Cnidaria (larva), Ctenophora, Nemertinea (larva), Chaetognata, Echinoderma (larva), Mollusca (Heteropoda, Pteropoda e larvas de Bivalva), Polychaeta (larvas), Arthropoda (Crustacea: ovos, larvas e adultos), Chordata Larvacea (larvas e adultos) e peixes (ovos). O fato do autor responsável por essa parte do estudo não explicitar em sua narração de onde foram extraídas as referências de sua pesquisa compromete a credibilidade de seu trabalho científico (SILVA, 2012).

Um outro aspecto relevante em relação a análise do estudo é em relação ao meio biótico. É afirmado no Memorial Descritivo do projeto que serão incorporadas em média 500 espécies nos aquários, entre exóticas e nativas. Segundo o Parecer Técnico no5339 (2011, pg.26) emitido pela SEMACE para o

empreendimento “em relação à origem das espécies que farão parte do empreendimento, a maioria delas não foi identificada”, ou seja, em um estudo de prévio de impacto, não foi explicitado quais espécies habitariam o aquário e consequentemente, suas possíveis interações com o ecossistema local.

Uma crítica feita por SILVA (2012) em sua análise foi justamente o fato de o EIA/RIMA apresentar uma “Lista de Espécies” integrantes do projeto, porém não explicitar de fato quais eram os nomes científicos dessas espécies. Uma outra crítica foi em relação a uma afirmação presente no EIA/RIMA sobre a já existente criação de 5 espécies de peixe em laboratório para o Acquário, porém,

(46)

segundo SILVA (2012), “o cultivo só deveria ser iniciado depois de aprovação do EIA, afinal, caso não haja permissão do órgão competente, o que será feito com estes espécimes? ”.

A questão de descarte da água proveniente dos aquários é tópico a ser discutido em relação ao estudo. Segundo o Memorial Descritivo do projeto, “não há uma definição precisa sobre o sistema de descarte de resíduos do Acquário Ceará”. É importante salientar que o Memorial Descritivo foi elaborado após a aprovação do EIA/RIMA do projeto, como condicionante da Licença Prévia emitida e, portanto, não houve estudo no EIA/RIMA que avaliasse os impactos decorrentes dessa emissão de efluentes e de possível contaminação ou da invasão de espécies exóticas.

Em relação aos possíveis impactos do empreendimento, foram identificados no EIA/RIMA um total de 246 impactos negativos dentro de um grupo de 600 impactos totais (THEOPHILO et. Al., 2011, pg. 31). Na síntese dos impactos, o estudo destacou dois índices, ditos pelo autor como “considerados pela sua relevância e maior entendimento pelo público em geral”; o Índice de Magnitude (Tabela 1) e o Índice de Temporalidade (Tabela 2):

Tabela 1: Porcentagem de Impactos pela Magnitude

Referências

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