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Prefácio [Da ciência da informação revisitada aos sistemas humanos de informação]

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Academic year: 2021

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(1)PREFÁCIO 1. Tive o enorme prazer de encontrar pessoalmente o Professor Jaime Robredo em Junho de 2002 quando decidi, de repente, assistir a uma prova académica que se realizou no Departamento de Ciência da Informação e Documentação (CID) da Universidade de Brasília (UnB), pouco tempo depois de iniciar minhas funções como professor convidado. Conhecia um texto seu intitulado Infometria e Ciência da Informação (Informação & Informática, 2000: 81-118) e desconhecia, então, o importante livro Documentação de hoje e de amanhã, publicado em colaboração com o Professor Murilo Bastos da Cunha (ROBREDO & CUNHA, 1986), livro esse que aguarda uma ansiada reedição revista e aumentada. Pude, assim, tomar contacto com mais um Autor injustamente desconhecido em Portugal, ao contrário do que se passa em Espanha (de onde é, aliás, natural) e, sobretudo, na América Latina. Mas mais importante do que isto, encetamos, de imediato, uma rica e duradoura troca e discussão de ideias assente na leitura e no comentário de textos mútuos. Daí o amável convite que me foi dirigido para prefaciar este seu novíssimo trabalho Da Ciência da Informação Revisitada aos Sistemas Humanos de Informação — honra que só a generosidade e a simpatia do Autor podem plenamente justificar. Um trabalho de maturidade e de relançamento da acção investigativa e profissional de uma vida – eis, em síntese, a impressão primeira que gostaria de sublinhar. Com efeito, o perfil biográfico do Professor Jaime Robredo não se reduz ao papel de académico e de teorizador. Desenvolveu, também, uma longa e enriquecedora actividade como analista e gestor de documentação técnica e científica, percorrendo uma trajectória que o conduziu das "técnicas documentárias" tradicionais à automatização e aos vertiginosos e imparáveis avanços da informática aplicada à criação, ao armazenamento, ao uso, à transformação e à disseminação.

(2) ARMANDO MALHEIRO DA SILVA _____________________________________________________________________________. iv. da informação. E por ter feito todo este percurso chegou um momento em que sentiu o imperativo incontornável de revisitar a Ciência a que está ligado como investigador e como consultor especializado. Um domínio impressionante da bibliografia acumulada nesta área e um olhar maduro e exigente sobre o(s) objecto(s) e o(s) método(s) redesenhados ou reconfigurados por sucessivas gerações de bibliotecários, de arquivistas, de documentalistas, de "gestores" de Sistemas Humanos de Informação e de cientistas da Informação, permitiram-lhe ousar, com sucesso, uma tarefa ambiciosa e difícil, que pôde fixar num esquema sugestivo, dividido em quatro grandes capítulos: 1 - Informação, Conhecimento e Ciência da Informação; 2 Da Ciência da Informação Revisitada aos Sistemas Humanos de Informação; 3 - A Pesquisa e o(s) Método(s) de Pesquisa na Ciência da Informação Revisitada; e 4 - À Guisa de Conclusão e... Reflexão sobre o Futuro. E, ainda, rematado por três anexos muito oportunos e utilitários. O simples elenco dos principais capítulos da obra introduz-nos no propósito propedêutico e sistematizante concretizado pelo Autor, valendo-se, para o efeito, de uma paciente e extensa urdidura de diferentes textos, de distintas concepções e de múltiplas abordagens teórico-metodológicas tendo em vista a reconstituição de um puzzle... – o puzzle da C.I. Este esforço de reconstituição retrospectiva e de preparação para uma prospectiva dos caminhos futuros deste campo científico e profissional, em efectiva expansão e em irreversível viragem, constitui, aliás, o principal mérito do livro em apreço e que o torna, desde já, dentro da literatura especializada escrita em português, uma base de referência obrigatória e imprescindível. Um esforço que traz em si um sinal grave e profundo perceptível através do sentido dicionarizado da palavra visitar (do latim visitare): ir ver por cortesia, dever, curiosidade ou caridade; percorrer examinando, inspeccionar... Revisitar a C.I. é percorrê-la de novo, desde suas origens até hoje, é um voltar a trás para tomar balanço a fim de se ir mais em frente, é, afinal, ganhar perspectiva e apreender, simultaneamente, as árvores e a floresta, porque só assim é possível vislumbrar caminhos para lá da linha do horizonte actual. Não hesito, pois, em afirmar que o estudo e a pesquisa em C.I. não poderá, doravante, dispensar a leitura do inteligente e sólido encadeamento que o Professor Jaime Robredo conseguiu erguer ao longo de mais de uma centena de páginas..

(3) PREFÁCIO v _____________________________________________________________________________. Mas o mérito da obra não se esgota no desiderato evidente de tão essencial esforço, derivando, também, dos temas e questões que suscita. 2. Não cabe, aqui, mapear com exaustividade esses temas e questões, embora se torne necessária uma referência, ainda que breve, à matéria de fundo deste livro, em excelente hora aparecido, com destaque para as bases epistemológicas. A revisitação da C.I., almejada pelo Autor, começou por ser, inevitavelmente, uma revisitação do(s) objecto(s) de uma área do saber que muito se assemelha a uma encruzilhada de práticas, de reflexões normativas e de formulações teóricas, ora mais ousadas, ora bem mais tímidas e fragmentárias. Por isso, pôde Yves Le Coadic afirmar, com desenvoltura, que a biblioteconomia, o documentalismo, a arquivística e a própria "museonomia" mais não são que meras práticas descritivas. E com tal advertência ou prevenção, esse conhecido professor de informação científica e tecnológica no Conservatoire National des Arts et Métiers (Paris) e autor de um livrinho Que sais-je? consagrador deste campo científico, quis sublinhar a impossibilidade dessas práticas reivindicarem o estatuto de cientificidade. Um estatuto reservado à C.I., definida pelo mesmo Le Coadic nestes termos: De prática de organização, a ciência social rigorosa que se apóia em uma tecnologia também rigorosa. Tem por objecto o estudo das propriedades gerais da informação (natureza, génese, efeitos), ou seja, mais precisamente: a análise dos processos de construção, comunicação e uso da informação; e a concepção dos produtos e sistemas que permitem sua construção, comunicação, armazenamento e uso (LE COADIC, 1996: 26). Partindo da ideia simplista, mas hoje assaz consensual, de que a ciência é uma actividade social determinada por condições históricas e socioeconómicas, Le Coadic não hesitou em assentar que a C.I., com a preocupação de esclarecer um problema social concreto, o da informação, e voltada para o ser social que procura informação, coloca-se no campo das ciências sociais (das ciências do homem e da sociedade), que são o meio principal de acesso a uma compreensão do social e do cultural (LE COADIC, 1996: 21). Parece-me acertadissima esta posição, como correcto me parece também o pressuposto estabelecido quanto ao objecto da C.I., do qual decorre a necessidade e a possibilidade de um core unitário, em suma, de um.

(4) ARMANDO MALHEIRO DA SILVA _____________________________________________________________________________. vi. corpus teórico-metodológico próprio e consistente. Mas, em contrapartida, tenho de franzir o sobrolho quando leio na mesma fonte: Os problemas de que trata cruzam as fronteiras históricas das disciplinas tradicionais, e o recurso a várias disciplinas parece ser evidente. Essa colaboração chama-se interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade traduz-se por uma colaboração em diversas disciplinas, que leva a interações, isto é, uma certa reciprocidade, de forma que haja, em suma, enriquecimento mútuo. A forma mais simples de ligação é o isomorfismo, a analogia. A ciência da informação é uma dessas novas interdisciplinas, um desses novos campos de conhecimentos onde colaboram entre si, principalmente, a psicologia, a linguística, a sociologia, a informática, a lógica, a estatística, a electrónica, a economia, o direito, a filosofia, a política e as telecomunicações (LE COADIC, 1996: 22). Le Coadic consegue, assim, uma espécie de quadratura do círculo: aposta numa C.I. com identidade mínima e própria, perfilhando, em simultâneo, a tese de que estamos perante uma interdisciplina, fruto das premissas epistemológicas da Pós-Modernidade!... Gosto muito de citar em meus textos o vade mecum de Le Coadic, imprescindível para os que, como eu e o Professor Jaime Robredo, consideram ainda possível estabelecer uma correspondência válida e certeira entre, por um lado, as profissões centradas na análise dos processos de produção, de armazenamento, de comunicação e de uso e transformação dinâmica da informação e, por outro, um espaço racional e experimental de investigação sistemática, de explicação rigorosa e revisível e de compreensão progressiva do fenómeno/processo subjacente a esse substrato profissional (traços do que entendo, resumidamente, por Ciência). Gosto de citar o referido vade mecum, porque nele encontro o dilema fundacional da C.I.: ser ou não ser ciência. O que pode ainda ser dito de outro modo: existir no singular compatibilizando-se com o plural (a Ciência da Informação com um eixo transdisciplinar ou unitário e com outro eixo inter e multidisciplinar) ou existir apenas no plural (as Ciências da Informação), sendo sua essência a pluralidade de convergências pontuais e até transitórias, podendo resvalar para a indisciplinaridade!... Não consigo conceber uma C.I. interdisciplina que não se consolide minimamente como disciplina, ou seja, com um mínimo crescente de core ou núcleo identitário, ao longo da inevitável.

(5) PREFÁCIO vii _____________________________________________________________________________. evolução paradigmática que as Ciências sofrem, a aceitarmos, grosso modo, a tão citada perspectiva de Thomas Khun. E essa minha dificuldade conduziu-me a uma aposta extrema e exigente de tudo ou nada: ou é possível construir e desenvolver uma C.I. integradora das práticas auxiliares do conhecimento científico e cultural (a biblioteconomia, o documentalismo, a arquivística e, recentemente, algumas aplicações da informática através do concepção e uso de bases dados, de bancos gigantescos de informação digitalizada, etc.), superadora de uma mera função descritiva ou mediadora tradicionalmente consagrada (o profissional da informação concebido como técnico que descreve, cataloga, classifica, indexa, comunica e guarda para novos e intermináveis acessos) e reduto de um saber abrangente e específico sobre a Informação, enquanto reconhecido objecto de acção de estudo; ou se isto não suceder a C.I. será somente uma constelação heterogénea de maneiras de fazer, de guardar, de patrimonalizar e de divulgar. E quando postulo como possível uma C.I. não me detenho sequer em miúdas distinções em que vários autores se têm enredado, como a de considerar em paralelo com a biblioteconomia, a documentação ou a arquivística, uma disciplina (a C.I.) interessada exclusivamente nas questões da informação técnica e científica (DIAS, 2002: 89), porque a Informação só poderá ser um objecto de estudo científico suficientemente rico e estimulante se agregar "parcelas" em vez de se perder e diluir nelas: o que une e distingue a informação científica e técnica da informação literária ou da informação litúrgica? terá de haver para cada tipo ou cada grupo tipológico de informação uma disciplina técnico-científica que o estuda e descreve e torna acessível? se não formos capazes de construir epistemologicamente o objecto Informação com a necessária espessura e abrangência que C.I. nos resta? Encadeadas nestas perguntas existem muitas outras que o livro do Professor Robredo assinala e desfia, resistindo à tentação de se fechar numa resposta-receita. E isso é bem visível no último capítulo preenchido com reflexões sobre o futuro. Que futuro para a C.I.? Sem responder, o Autor conclui A escolha é de cada um de nós. Que o mesmo será, talvez, dizer: faremos amanhã a C.I. que soubermos ir tecendo hoje dentro dos inúmeros e díspares segmentos de trabalho, de reflexão e de ensino espalhados pelo Mundo. Em plena Globalização poderemos crer num.

(6) ARMANDO MALHEIRO DA SILVA _____________________________________________________________________________. viii. esforço globalizante de repensar e de refazer uma C.I., ciência social assumida e madura, capaz de recriar os elos dinâmicos de fundamentação e de justificação das actividades profissionais (clássicas, como a do bibliotecário; e modernas como a de gestor de informação/conhecimento amarrado aos meandros e complexos efeitos das imparáveis e imprevisíveis Tecnologias da Informação e Comunicação) com um corpus teórico que permita compreender, explicar e orientar cada vez melhor as diferentes práticas informacionais num Mundo em aceleração crítica? Não sei. Alguém sabe? Os alunos da Licenciatura em Ciência da Informação, da Universidade do Porto, que estão prestes a entrar no terceiro ano de existência da mesma, já têm sido confrontados por mim com esta instigante pergunta. Não para que respondam, claro está, mas para que entendam apenas isto: a conjugação dos verbos repensar e refazer nos tempos e modos do futuro é já uma séria responsabilidade deles e de todos os seus colegas e companheiros de jornada por essa Terra fora... Porto-Braga, Portugal, Maio-2003 Armando Malheiro da Silva. Referências DIAS, Eduardo Wense, 2002 – O Específico da ciência da informação. In: O Campo da ciência da informação: gênese, conexões e especificidades. Organizadora Mirian de Albuquerque Aquino. João Pessoa: Editora Universitaria/UFPB. ROBREDO, Jaime, 2000 – Infometria e Ciência da Informação. In: Informação & Informática. Organizadoras Nidia M.L. Lubisco & Lidia M.B. Brandão. Salvador: Editora Universitaria/UFBA. p. 81-118. LE COADIC, Yves-François, 1996 – A Ciência da Informação. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 1996, p. 4. ISBN: 85-85637-08-0 (Tradução do original francês La science de l´information. Paris: PUF, 1994 – Collection Que sais-je?). ROBREDO, Jaime. & CUNHA, Murilo Bastos da, 1986 – Documentação de Hoje e de Amanhã: uma abordagem informatizada da biblioteconomia e dos sistemas de informação. Brasília: ed. de autor, 1986. p. 4.

(7) PREFÁCIO ix _____________________________________________________________________________.

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Referências

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