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Proposta de uma ferramenta de organização e gestão para o combate ao incêndio urbano

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Academic year: 2021

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Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de

MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL —ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CIVIS

Orientador: Professor Doutor Miguel Jorge Chichorro Gonçalves

Co-Orientador: Major Engenheiro Luís Pais Rodrigues

Co-Orientador: Tenente-Coronel Engenheiro Vítor Martins Primo

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Tel. +351-22-508 1901 Fax +351-22-508 1446

! miec@fe.up.pt

Editado por

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Rua Dr. Roberto Frias

4200-465 PORTO Portugal Tel. +351-22-508 1400 Fax +351-22-508 1440 ! feup@fe.up.pt ! http://www.fe.up.pt

Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -

2007/2008 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2010.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de versão electrónica fornecida pelo respectivo Autor.

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Ao meu querido Avô e Eng.º Joaquim Lousinha. Que a visão de um Engenheiro Civil seja sempre construir para os outros.

Alguns olham para o que existe e perguntam porquê? Eu sonho com o que não existe e pergunto porque não? George Bernard Shaw Dramaturgo e Critico Irlandês

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho reflecte mais do que o meu esforço e dedicação, embarca também o empenho de várias individualidades que tornaram as páginas que se seguem possíveis e inovadoras.

Em primeiro lugar expresso o meu sincero agradecimento ao meu orientador Professor Doutor Miguel Chichorro Gonçalves, por conseguir demonstrar vinte e quatro horas por dia a sua disponibilidade e o seu apoio a cada um dos estudantes que orientou.

Gostaria também de transmitir, de uma forma bastante sentida, o meu agradecimento ao Major Pais Rodrigues, 2ºComandante do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, por acreditar neste projecto e me permitir desenvolve-lo disponibilizando-me todos os meios e contactos necessários. Ao trabalhar no Gabinete de Protecção Civil consegui desenvolver um trabalho focado, realista mas também enriquecido pela vivência e gosto que fui ganhando a cada momento que passei no Batalhão. “Vida por Vida” foram três palavras que se repetiram inúmeras vezes no meu pensamento e que mesmo hoje me deixam horas a reflectir na sociedade que me rodeia e na relação de cada um de nós com o próximo.

A Câmara Municipal do Porto teve um papel fundamental através do seu interesse na criação da ferramenta que proponho. A criação era prevista como uma evolução posterior ao desenvolvimento deste trabalho, mas com o Engenheiro Pedro David Pereira consegui tornar esta plataforma um objectivo real, colocando a Engenharia Civil ao serviço da Segurança Contra Incêndios Urbanos. Agradeço também ao Tenente Coronel Vítor Primo por todo o apoio prestado desde o início, quando este projecto era apenas um pensamento, demonstrando sempre a sua disponibilidade e gosto em ajudar. Foi muito importante para mim perceber que a Autoridade Nacional de Protecção Civil está atenta e que aposta na sensibilização e formação dos mais jovens. A formação de cada um de nós nos temas abordados pela Protecção Civil é essencial que se consiga atingir a segurança de toda a sociedade.

Por mais que tente não consigo deixar de encarar este trabalho como o último ponto final daquela que foi a minha história nesta mui nobre Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Este pensamento leva-me a agradecer a todos aqueles que, embora não saibam, tiveram um papel determinante na construção do meu eu, fazendo com que fosse possível encarar este último desafio com força e determinação.

À minha Mãe por me transmitir esperança, ao meu Pai por me incutir trabalho e aos meus Irmãos, Eduardo e Filipa, por me ajudarem a crescer rodeada de alegria e sonhos. Ao Bruno Seixas pelo apoio incondicional, agradeço a sincera humildade e gosto em ajudar o próximo, valores que ultrapassam o mundo em que vivemos hoje, mas que são capazes de alimentar todas as pessoas com quem se cruza. Aos meus colegas Paulo Vasconcelos, João Araújo, Salete Assunção e Hugo Vilas Boas que tive todo o gosto em acompanhar durante três anos na Associação de Estudantes e que me ensinaram todos os valores intrínsecos ao pensamento Juntos Somos Únicos. Sinto que os seus percursos serão brilhantes. À Tuna Feminina de Engenharia, onde durante cinco anos tive a oportunidade de aprender inúmeras lições e neste último ano tive a felicidade de ser a sua representante, onde defrontei desafios que me incutiram o espírito de liderança necessário para enfrentar cada um deles. Aqui encontrei pessoas com personalidades opostas mas que juntas conseguiam enquadrar as suas opiniões e definir quais os melhores passos a seguir, entre elas menciono aquelas que mais me ensinaram a defender os meus valores: Isabel Pereira, Inês Lopes, Teresa Santos e Cátia Almeida.

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RESUMO

A Segurança Contra Incêndio nos edifícios deve exigir uma correcta exploração e gestão das suas instalações. Deve ainda considerar as medidas de natureza passiva e activa, a definir e implementar nas fases de concepção, implementação e exploração dos edifícios. Na maior parte dos casos, a preocupação face à ocorrência do incêndio termina após a vistoria e a atribuição da licença de utilização, não havendo atenção por parte das entidades competentes na manutenção. Os equipamentos ficam abandonados e perdem a sua capacidade de actuação. Para além disso, os utentes, sem formação adequada, não sabem como actuar quando confrontados com um sinistro, passando a não existir uma primeira intervenção e deixando toda a responsabilidade na segunda.

A Nova Regulamentação Portuguesa remete para o tema da Gestão da Segurança contra incêndio, e exige a tomada de medidas na exploração e manutenção. Embora de uma forma menos profunda, comparativamente às Legislações Internacionais respectivas, o novo Regulamento de Segurança Contra Incêndio em Edifícios promove a prevenção através da formação dos utentes, de forma a permitir, em caso de incêndio, uma correcta e eficaz utilização dos equipamentos.

A gestão da intervenção dos meios humanos e físicos no combate ao incêndio pode ter um efeito muito importante no resultado final decorrente desse incêndio.

Deste modo faz-se um estudo de qual o tipo de informação necessária para a optimização do combate ao incêndio pelas entidades responsáveis. A organização dessa informação num suporte físico de fácil manejo é estruturada e implementada neste trabalho. Utiliza-se um Tablet-PC e um aplicativo desenvolvido para o efeito associados a uma interface composta por uma base de dados correspondente ao repositório de informação de segurança contra incêndio para cada edifício inserido numa malha urbana. Será apresentada a estruturação da informação bem como a sua aplicação em dois casos concretos. A implementação dependerá naturalmente do enriquecimento da base de dados que se prevê venha a ocorrer num futuro próximo atendendo à recente entrada em vigor da Nova Legislação de Segurança Contra Incêndio urbano em Portugal.

Esta metodologia de gestão garante assim: uma intervenção equacionada e eficaz pelos bombeiros, uma melhoria da comunicação destes com o responsável de segurança do edifício e a utilização desta metodologia como instrumento activo na manutenção das melhores condições de segurança contra incêndio dos edifícios.

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ABSTRACT

Fire safety systems in buildings require proper use and management in facilities. They also require measures of passive and active nature, witch define and implement the design and buildings management. In most cases, the concern of an occurrence of fire ends after a survey and the award of a license, with no attention from the authorities to maintenance. The equipment is consequently abandoned and it loses its ability to act. In addition, users without proper training do not know how to act when confronted with a claim, leaving all responsibility in the second intervention.

The New Portuguese legislation refers to the theme of fire safety management, and it demands the taking of action in the field of maintenance. New Fire Safety Regulations promote prevention through the education of users, to allow, in case of fire, a correct and effective use of equipment, even though this is performed at a rather shallow level, when compared to the respective International Laws. Managing the intervention of human and physical resources on fire fighting can have crucial effect on the outcome of such fire.

For that reason, in order to know what kind of information would be necessary for the optimization of firefighting for the responsible entities a study was conducted. The organization of such information, which is implemented and structured in a physical and easy handling interface, is the purpose of this work. A Tablet-PC and a specially developed application in association with an interface that holds a database of all security information against fire for each building in an urban network were used. The way the information is structured and how it is implemented in a specific situation will also be presented. The establishment of the database will depend on its growth, which is expected to happen soon, given the recent Law against fire in Portugal.

This managing methodology guaranties: an effective and planned intervention by firefighters; an improvement in the communication between firefighters and the entities responsible for the building safety and assured by the use of this methodology itself an active instrument for management of fire safety in buildings.

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1

APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

《 Os professores abrem a porta, mas tens de entrar sozinho. 》

Provérbio Chinês.

1.1.INTRODUÇÃO

O aparecimento do fogo foi essencial para o desenvolvimento do ser humano e da civilização como é conhecida actualmente. Com o controlo sobre o fogo o Homem foi capaz de cozinhar os seus alimentos, de se aquecer, de ter iluminação depois do pôr-do-sol e de se proteger dos animais.

Ao longo do tempo, o Homem conseguiu fazer e controlar o fogo, a primeira fonte de energia da Humanidade, e assim conseguiu aquecer os alimentos, criar cerâmica endurecida e manipular metais como o bronze e o ferro.

No entanto, a história do fogo também se mostrou causa de grandes desastres desde o início dos tempos. A transição do fogo para o incêndio levou à destruição de cidades inteiras por acção acidental ou intencional.

Nas últimas décadas, ocorreram grandes desenvolvimentos na prevenção e combate, sendo que o avanço das tecnologias informáticas promoveu novas perspectivas e ambições. Actualmente, existem modelos matemáticos que, através de simulação por computador, permitem prever com bons resultados a evolução de um incêndio, a propagação das chamas e fumos e o comportamento dos materiais e das pessoas.

A modernização das técnicas de prevenção permitiram a diminuição do risco associado à probabilidade de incêndio. Paralelamente, a legislação tem vindo a desenvolver-se, impondo normas e regras mais rígidas que visam diminuir a probabilidade de ocorrência de incêndio.

A Segurança Contra Incêndio aparece como um novo tipo de investimento, onde só é atingido o sucesso quando nada ocorre. A necessidade da protecção contra incêndio só é entendida quando algo falha e ocorre um incêndio com proporções capazes de destruir de forma significativa o valor da área atingida.

A ténue linha do sucesso e insucesso não depende apenas dos materiais. Neste momento a separação é feita pelo comportamento humano face à segurança contra incêndio. A formação dos utilizadores e a adequada manutenção dos sistemas e equipamentos é fundamental, já que estas serão, nos próximos anos, as verdadeiras provas de evolução nacional no âmbito deste tema.

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A sociedade precisa de responder aos seguintes pontos:

• Legislação adequada e aplicável;

• Equipamentos de detecção e intervenção funcionais;

• Meios humanos preparados e treinados.

A Legislação Nacional tem sofrido alterações ao longo dos anos e apresenta-se actualmente com uma visão cada vez mais preventiva, apostando na gestão da Segurança Contra Incêndio em Edifícios (SCIE). A Nova Legislação eleva o patamar da SCIE e começa a reflectir aquilo que as Legislações Internacionais têm exigido nas ultimas décadas: a organização e a gestão da segurança.

Relativamente aos sistemas de detecção, protecção e combate a incêndio o seu desenvolvimento tem acompanhado os avanços nas áreas tecnológicas e científicas. A qualidade dos sistemas de detecção tem permitido accionar o alarme num período de tempo mais reduzido e aumentar a sua capacidade de indiferença face aos possíveis falsos alarmes. No entanto, este desenvolvimento não é útil nos casos onde a manutenção não existe. A funcionalidade dos equipamentos tem de ser verificada, caso contrário todos os mecanismos visíveis num determinado compartimento são um disfarce à segurança pública e induzam ao erro na consideração dos mesmos face ao combate. Em caso de emergência, os equipamentos disponíveis têm de representar uma certeza e não uma dúvida para quem os vai utilizar, sejam estes de primeira ou segunda intervenção.

Os meios humanos, entenda-se utentes, funcionários e responsáveis, necessitam de formação e de tomar consciência dos perigos que podem encontrar no caso da ocorrência de um sinistro. De outra forma, deixa de existir a primeira intervenção, o que leva a que os equipamentos que inicialmente lhe estão destinados estejam utilizados pela segunda intervenção.

Estes três pontos devem ser fortificados com o objectivo de tornar a SCIE uma realidade e não apenas uma exigência no licenciamento de edifícios. A Organização e Gestão da Segurança já foi prevista pela Legislação, agora procura-se a implementação da mesma.

1.2.APRESENTAÇÃO DO TEMA:FERRAMENTA DE GESTÃO

A Organização e Gestão da Segurança (OGS) tem marcado a Legislação relativa à SCIE a nível mundial. O seu papel é de facto determinante neste tema e tem de ser implementado o mais rapidamente possível em Portugal.

A partir da consulta de dicionários obtiveram-se as seguintes definições:

Organização – acto ou efeito de organizar; preparação; planeamento; disposição; ordenação; estrutura; constituição; composição; dar às partes de um corpo a disposição necessária para as funções a que se destina; maneira como as partes se compõem para executar certas funções a que se destina; antónimo: desorganização.

Gestão – acto de gerir (administrar, dirigir); conjunto de medidas de administração aplicadas durante um determinado período; utilização racional de recursos em função de um determinado projecto ou de determinados objectivos.

Segurança – afastamento de todo o perigo; confiança; tranquilidade resultante da ideia de que não há perigo a recear; antónimo: perigo, risco.

A Organização e Gestão da Segurança deve ser considerada uma prioridade pela gestão da instituição a proteger, seja ela um organismo público ou uma entidade privada.

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Os objectivos da OGS podem ser organizados em cinco categorias distintas:

• Protecção da Vida;

• Preservação do Património Histórico Cultural;

• Protecção do Ambiente;

o Protecção de Bens Materiais;

o Garantir a continuidade da actividade da organização em caso de ocorrência de uma emergência.

Os pontos definidos com a simbologia “

o

” pretendem representar objectivos que não estão

considerados na actual Legislação mas que foram incluídos na previsão da mesma e que devem ser considerados no âmbito do desenvolvimento deste trabalho.

A protecção da vida surge como um dos principais objectivos da segurança em geral. Numa abordagem mais particular, a SCIE pretende garantir que, no caso da ocorrência de um sinistro, os ocupantes serão alertados atempadamente, permitindo rapidamente a evacuação do edifício para o exterior ou local seguro, [1].

Nota-se que, para além da vida humana, poderá existir algum caso especial em que seja necessário salvaguardar a vida animal ou vegetal. Tome-se como exemplo clínicas veterinárias, lojas de animais, centros de investigação ligados à biologia ou zoologia e de uma forma geral qualquer local onde se encontram espécies animais ou vegetais raras ou de preservação imperativa, [1].

No caso do património histórico ou cultural, a preocupação abrange a protecção de monumentos, peças arquitectónicas de interesse histórico ou turístico, museus, castelos e igrejas. Nestes casos, para além do próprio edifício, torna-se ainda importante preservar o seu conteúdo, [1].

Ao analisar os variados produtos tóxicos que podem ser libertados na combustão presente num incêndio, verifica-se que podem causar significativos danos ambientais. Tal afirmação tem mais relevo quando o incêndio ocorre em fabricas e armazéns que possuem matérias perigosas quando libertadas para a atmosfera como petrolíferas, refinarias, industrias de produtos químicos, biológicos ou radioactivos, [1].

Relativamente à capacidade destrutiva de um incêndio urbano, a perda de bens materiais surge como uma consequência quase sempre inevitável e com uma atribuição financeira variável. Nesta categoria são considerados elementos como mobiliário, equipamento electrónico, obras de arte, matérias primas, produtos, livros e documentos. O valor patrimonial de todos os elementos contidos num compartimento não corresponde ao valor final de custos. No caso de um incêndio, a renovação desses elementos associada na maior parte das vezes à sua destruição (substituição ou reparação dos bens), aumenta os encargos por parte da entidade afectada, [1].

Existem ainda variados tipos de bens que devido às suas características, se tornam impossíveis de recuperar, como é o caso de obras de arte, peças raras ou únicas, e até mesmo objectos de carácter sentimental, [1].

Na ocorrência de um incêndio, a destruição pode impedir a continuidade do funcionamento da empresa afectada. Ao analisar a actual regulamentação de SCIE verifica-se que existe o cuidado de considerar locais de tipo F, de forma a definir uma maior preocupação com os compartimentos dos edifícios como: a torre de controlo de um aeroporto, o posto de segurança de um hospital, de uma estação de televisão ou rádio, de uma fábrica, ou de outro compartimento onde um incêndio ou emergência tenham consequências prejudiciais ao ataque da própria emergência ou à continuidade das actividades normalmente desenvolvidas, [1].

(14)

Relativamente aos edifícios com actividades fora do conjunto considerado pelos locais de tipo F, a continuidade das suas actividades também pode ser indirectamente afectada pela destruição, perda ou tempo de recuperação dos locais de tipo F. Desta forma, a preocupação em garantir a continuidade de actividades de uma entidade não abrange apenas os casos mais problemáticos pois toda a sociedade empresarial pode ser atingida, [1].

1.3.INCÊNDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

1.3.1.NÍVEL INTERNACIONAL

1.3.1.1. Torre Windsor, Madrid

Em 1975, começa-se a construir no centro financeiro da cidade de Madrid um dos seus primeiros arranha-céus com 106 metros de altura e 32 andares. O edifício viria a ser completado em 1979 com uma estrutura mista de betão e armadura envolvido por uma fachada de vidro e alumínio. A estrutura apresentava variações ao longo da altura, sendo o edifício constituído por betão até ao vigésimo primeiro piso e por aço até ao trigésimo segundo, [2]. Tais condições levaram a que o incêndio da noite de 12 para 13 de Fevereiro de 2002 fosse verdadeiramente arrasador, Figura 1.1.

O incêndio prolongou-se por 20 horas desde o início da ocorrência até ao controlo. O foco inicial localizou-se no vigésimo primeiro piso às 23 horas. Os bombeiros foram chamados às 23 horas e 21 minutos, chegaram ao local em quatro minutos, e demoraram apenas cinco minutos a organizar os homens e os recursos, começando o combate às 23 horas e 30 minutos. Pela meia noite já todos os pisos acima do vigésimo primeiro estavam a arder. Os bombeiros decidem criar uma estratégia preventiva de forma a impedir a propagação das chamas para os edifícios adjacentes. Às 2 horas, o incêndio chega ao décimo sétimo piso, demorando cerca de seis horas até atingir o quarto piso, [2]. Na altura da ocorrência o edifício estava a ser renovado. Entre todos os elementos previstos para alteração encontravam-se por realizar a colocação de protecção ao fogo nos elementos estruturais de aço e a finalização de uma nova escada de emergência a sul do edifício, [3].

Apenas se pode prever qual seria o percurso das chamas caso todas as medidas de prevenção estivessem a ser correspondidas. No final da destruição, ficou a tentativa dos investigadores de explicar e analisar o comportamento dos materiais, [3].

(15)

1.3.1.2. World Trade Center, Nova Iorque

World Trade Center1 (WTC), um complexo de sete edifícios localizado em Manhattan, Nova Iorque,

construído de 1966 a 1973 e destruído a 11 de Setembro de 2001, Figura 1.2. De todos os edifícios que compunham o WTC, existem dois que se salientam pela sua altura e representatividade financeira mundial, são eles a Torre Norte (WTC 1) e a Torre Sul (WTC 2) – as Torres Gémeas. Três por cento dos escritórios de Manhattan situavam-se nestas torres, mas nem este facto foi suficiente para que durante a construção do WTC as medidas de SCIE fossem aplicadas de uma forma mais conservativa, [4].

A construção do WTC termina em 1970, começando a ser ocupado em 1972 pelas grandes empresas americanas. A 4 de Abril de 1973 dá-se a inauguração da edificação, não demorando muito tempo a atingir os cinquenta mil trabalhadores e duzentos mil visitantes diários. Perante estes valores seria de esperar que a Segurança Contra Incêndios, que inicialmente fora desviada, tivesse presente de uma forma consistente na prevenção. No entanto a prevenção não foi considerada como deveria ter sido, como exemplo apresenta-se o facto de não existir nenhum sistema de aspersores (sprinklers) associado

aos compartimentos de nenhum dos edifícios do complexo WTC,[5].

A 13 de Fevereiro de 1975, a Torre Norte (WTC 1) foi alvo daquilo que inicialmente seria um pequeno incêndio, mas que acabou por se desenvolver ao longo de seis pisos. O foco estava localizado no 11º piso, no entanto o mau isolamento das linhas telefónicos e cabos de rede fez com que a propagação vertical das chamas fosse facilitada, chegando a atingir o 9º e o 14º piso. A maioria dos danos causados concentraram-se no 11º piso, onde as chamas foram alimentadas pelos armários, papeis, tinteiros e muitos outros equipamentos de escritório, [6].

A 11 de Setembro de 2001, dois Boeing 767 atingiram as Torres Norte e Sul com uma velocidade

média de 500 milhas por hora2 num intervalo de tempo de dezassete minutos. Várias colunas

pertencentes à estrutura principal das Torres foram destruídas, as explosões consecutivas e a propagação das chamas imediata. A natureza leve e oca da construção facilitou a expansão do combustível pelo o interior de cada edifício, gerando vários focos de incêndios em simultâneo e dificultando o combate às chamas por parte dos bombeiros. O peso da estrutura acima da área do choque era demasiado elevado para ser suportado pelas Torres. O desabamento de cada uma das Torres era uma consequência indiscutível numa análise estrutural, mas no instante do combate e do pedido de socorro, a queda de cada um dos edifícios foi inesperada e o fim da esperança para muitos, [6].

Figura 1.2 – O ataque às Torres Gémeas em 2001, Nova Iorque,[5].

1

Informalmente designadas por Trade Center ou Torres Gémeas. 2

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1.3.2.NÍVEL NACIONAL

1.3.2.1. Chiado, Lisboa

O Chiado, situa-se em Lisboa entre o Bairro Alto e a Baixa Pombalina e trata-se de uma das zonas mais emblemáticas de toda a cidade. Parte dos motivos que levam a que este bairro assuma importância deve-se ao incêndio de 25 de Agosto de 1988, onde mais de dezoito edifícios do século XIII ao XX foram completa ou parcialmente destruídos, Figura 1.3.

Figura 1.3 – A propagação do grande incêndio do Chiado em 1988, Lisboa,[7].

Às três horas da manha, deflagrou um incêndio no edifício Grandella localizado na Rua do Carmo onde apenas era permitida a circulação pedonal. O edifício Grandella era constituído por blocos de pedra, chão de madeira e suportado por vigas e colunas de aço. Quando o incêndio foi detectado já todo o edifício se apresentava em chamas. A falta de circulação de pessoas durante a noite, a ausência de detecção automática e a despreocupação na construção, levaram a que as chamas envolvessem todo o Chiado num período de tempo muito reduzido, [8].

A combustibilidade dos materiais e ausência de compartimentação horizontal e vertical fizeram com que o consumo por parte das chamas fosse imediato. O incêndio aproveitou-se das aberturas do edifício para emitir uma grande quantidade de radiação que, ao ser recebida pelos edifícios do lado oposto da rua, permitiu que as chamas se espalhassem por uma grande extensão horizontal, [7].

O desespero era grande, a equipa de bombeiros insuficiente e o incêndio incontrolável. Apenas o edifício Mariola foi capaz de interromper a propagação das chamas. A sua construção em betão armado foi a verdadeira arma de combate para os bombeiros, [7].

A reconstrução de todo o Chiado ficou a cargo do Arquitecto Siza Vieira e prolongou-se por toda a década de 90. No entanto, após todas as recuperações e alterações no bairro, o arquitecto não conseguiu apagar o momento da história de Lisboa. Embora este incêndio tenha sido preponderante para a sociedade prestar atenção ao tema da SCIE, o Chiado sempre será relembrado pelo ano de 1988, [7].

1.4.JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

Com este trabalho pretende-se que seja dado um novo passo no caminho da Organização e Gestão da Segurança contra incêndio urbano (OGS) através da proposta de uma Ferramenta capaz de alterar comportamentos e assegurar a informação relevante ao combate. Espera-se que, dependendo da forma como este instrumento for aproveitado e implementado, seja possível marcar a SCIE e alterar a forma como a sociedade a interpreta.

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De todos os objectivos da OGS existe um que pela sua dimensão humana deveria ser suficiente para criar uma reacção por parte dos utilizadores e uma vontade de prevenir a ocorrência de um incêndio – Protecção da Vida. Contudo, mesmo quando somado com todos os restantes objectivos, a sociedade sente-se protegida, quando não o está, revelando-se distante deste tema mesmo após as catástrofes Mundiais terem mostrado a face da destruição.

Segundo esse ponto de vista, a justificação do Tema presente nesta dissertação de Mestrado Integrado poderia ser representada por um só ponto: Responsabilidade Civil.

A origem de um incêndio num edifício é, na generalidade das vezes, causada directa ou indirectamente pelo homem. Cabe por isso a uma parte da sociedade agarrar nestes temas, que são esquecidos por muitos e relembrados de tempos em tempos a todos nós.

De todos os 4.698 incêndios registados na cidade do Porto, entre 1996 e 2006, 59% foram extintos pelos meios de segunda intervenção. O tema do combate ao incêndio é tratado neste trabalho tendo em conta que a segurança é um investimento e não um custo. O modo operativo seguido pela segunda intervenção deve ser fortificado e melhorado através da implementação de novas ferramentas de informação e organização, [9].

A ideia base subjacente à presente dissertação de Mestrado Integrado, enquadra a importância da Organização e Gestão da Segurança numa Ferramenta capaz de auxiliar as entidades competentes de segunda intervenção no combate ao incêndio urbano no município do Porto. Isto é, uma base de dados organizada que exige a gestão dos elementos relacionados com a segurança contra incêndio e que pode auxiliar os bombeiros no seu combate.

Este trabalho encontra-se disposto em seis capítulos, sendo que este primeiro tem como objectivo direccionar o leitor ao tema da Segurança Contra Incêndios em Edifícios e qual o seu enquadramento na sociedade.

No segundo capítulo, intitulado Enquadramento Histórico, descreve-se a história do combate ao incêndio e a sua evolução em vários pontos do mundo, dando especial atenção à origem do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto.

O terceiro capítulo, denominado Estado da Arte, pretende transmitir as várias frentes que envolvem o tema da segunda intervenção, isto é, a legislação que a define, as ferramentas informáticas disponíveis no mercado nesta área e como é que o Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto enfrentam a emergência.

O quarto capítulo, denominado Proposta de uma Ferramenta de Gestão e Organização, pretende descrever a concepção da plataforma informática aqui desenvolvida e o seu papel no modo operacional da central de comandos do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto.

No quinto capítulo, intitulado Aplicação da Ferramenta de Gestão e Organização, é desenvolvido o processo de utilização da plataforma na central de comandos na análise de dois casos de incêndio no Centro Histórico do Porto.

Por fim no sexto capítulo, denominado Conclusão e Desenvolvimentos Futuros, são expostos os aspectos positivos e negativos da ferramenta desenvolvida neste trabalho, indicando também quais os aperfeiçoamentos que podem ser realizados no Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto e no próprio programa de operação concebido neste trabalho.

(18)
(19)

2

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

Se houver um general forte,

nãohaverá soldados fracos

Provérbio Chinês

2.1.A EVOLUÇÃO DO HOMEM E A SUA ATITUDE FACE AO FOGO E AO INCÊNDIO

2.1.1. INTRODUÇÃO –ORIGEM E COMBATE AO INCÊNDIO

Segundo a mitologia grega o semideus Prometeus roubou o fogo do domínio dos Deuses e entregou-o aos homens. Ao assistir a tal adversidade, Zeus decide punir Prometeus condenando-o ao ataque diário de um abutre que lhe devoraria para toda a eternidade o fígado – único órgão do corpo humano que se

regenera continuamente, Figura 2.1. Como consequência para os mortais, o fogo escapa ao domínio

humano e quando transformado em incêndio, ceifa vidas e dele nasce a destruição.

a) b)

Figura 2.1 – a) Zeus, [10]; b) Castigo de Prometeus, [11].

A organização foi desde cedo uma necessidade para a continuidade da Humanidade, seja através da ordenação de meios, equipamentos ou pessoas. À medida que o fogo, utilizado para a evolução do homem, se tornou em cada vez mais situações de incêndio, o caos despertou a necessidade de defesas e espírito de sobrevivência. O incêndio só por si começou a promover o seu combate e, embora sendo realizado com meios arcaicos e homens sem formação, o medo e a destruição formaram um espírito de solidariedade não só entre vizinhos mas também entre populações.

(20)

Segundo uma perspectiva histórica, o início do combate ao incêndio não é perfeitamente definido. Existe a possibilidade de se considerar Alexandria o berço da história do combate ao incêndio urbano através da aplicação de bombas manuais. No entanto, uma das primeiras medidas que se registou na

história neste âmbito teve origem em Roma com Marco Licínio Crasso3 durante o século I aC.

Marco Crasso, com base nos seus conhecimentos militares, criou um serviço privado constituído por

um grupo de homens, na sua maioria escravos, organizados pelos Triumviri Nocturni4. No ano 6 dC,

Augusto5, Imperador de Roma, cansado de assistir às sucessivas derrotas por parte dos Triumvire

Nocturni, decide encerrar o serviço privado e criar os Vigiles Urbani 6. Este novo grupo tinha como

objectivo patrulhar as ruas e vigiar a população tentando diminuir a ocorrência de incêndio, passando assim a atenção para a prevenção e não só para o combate. Esta alteração de pensamento foi realmente necessária pois nesta altura os meios de combate eram escassos e a extinção das chamas difícil, fazendo com que o sucesso do combate fosse determinado pela prevenção, [12].

Com o passar dos anos, os Vigiles foram melhorando a sua capacidade organizativa criando grupos cada vez mais numerosos e competentes, mas nenhum deles foi suficiente para combater as chamas que atacaram Roma. De todos os grandes incêndios que afectaram a cidade, existe um que pela sua carga histórica e destrutiva deve ser salientado: o incêndio da noite de 19 de Julho de 64 dC. O foco

iniciou-se a sudeste do Circo Máximo7 e durou cerca de cinco dias atingindo onze dos catorze distritos

da cidade. Não é clara a origem do incêndio, mas alguns historiadores defendem que Nero8, Imperador

de Roma na altura, pretendia reconstruir a cidade e que para isso precisava de destruir parte dela, enquanto que outros pensam que Nero precisava de se inspirar, o que justifica o mito de que Nero

cantava enquanto Roma ardia, Figura 2.2,[12].

a) b)

Figura 2.2 – a) Nero, [13]; b) Uma das possíveis reacções de Nero face ao incêndio, [12].

3

Marco Licínio Crasso (115 aC – 53 aC) – General romano e politico influente, um dos homens mais ricos da época e actualmente classificado na lista das dez figuras históricas mais ricas de todo o Mundo - http://penelope.uchicago.edu/ Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Crassus*.html, 20 de Abril de 2010.

4

Triumviri – nome dado ao conjunto de três Triumvir, homens responsáveis por algo de grande valor na cidade de Roma. No caso referido a palavra Nocturni remete para todo os assuntos relacionados com a segurança nocturna.

5

Gaius Julius Caesar Augustus (63aC – 14 dC) – Primeiro governador do Império Romano. Nascido com o nome de Gaius Octavius Thurinus, foi educado pelo seu tio-avô Júlio César a 44 aC, sendo oficialmente nomeado como Gaius Julius Caeser a 31 aC. Mais tarde, a 27 aC, o Senado concedeu-lhe o nome honorífico Augusto (“O Reverenciado”), tornando-se consequentemente o Gaius Julius Caeser Aufustus. Dada a variedade de nomes que lhe foi atribuído, é comum designa-lo por Otávio quando se refere a eventos entre 63 e 44 aC e por Augustus quando se trata de períodos após o ano de 27 aC - http://www.csun.edu/~hcfll004/nicolaus.html, 20 Abril 2010.

6

Também conhecidos por Spartoli ou simplesmente Vigiles.

7

Circo Máximo (em latim Circus Maximus, italiano Circo Massimo) - antiga arena e local de entretenimento na antiga Roma. Actualmente localizado entre a Colina Palatina e a Colina Aventina.

8

Nero Claudio César Augusto Germânico (em latim Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus) – Nasceu com o nome de Lúcio Domício Enobarbo a 15 de Dezembro de 37 dC, foi imperador romano de 13 de Outubro de 54 até à sua morte, a 9 de Junho de 68 - http://www.roman-emperors.org/nero.htm, 20 Abril 2010.

(21)

2.1.2. INGLATERRA

Para além da organização do combate ao incêndio, o homem sentiu a necessidade de criar normas que estabelecessem medidas de protecção. Uma das normas mais antigas relativas à protecção contra incêndio data do ano de 872 e foi promulgada em Oxford, Inglaterra. Esta norma estabelecia a emissão de um toque de alerta cuja função residia na união de esforços para apagar qualquer incêndio que estivesse a ocorrer naquele momento. Mais tarde, o alarme foi implementado por toda a Inglaterra quer para o combate a incêndio quer para organização de revoltas, [14].

A cidade de Londres sofreu grandes incêndios em 798, 982, 989 e 1666. Este último, que ficou conhecido pelo Grande Incêndio de Londres, iniciou-se numa padaria em Pudding Lane e consumiu cerca de cinco quilómetros da cidade, deixando dezenas de milhares de desalojados. A catástrofe levou o governo a tomar a decisão de investir mais no sistema de protecção contra incêndio. As companhias de seguros começaram a inserir nos seus contratos pontos referentes à segurança contra incêndio, nos quais se responsabilizavam (dependendo do tipo de contrato) por danos de natureza incendiária. Para isso, as seguradoras formaram indivíduos responsáveis por vigiar as propriedades que estavam associadas aos contratos que envolviam o tema da Segurança Contra Incêndio. Assim, todos os

edifícios que tinham de ser verificados eram identificados através de fire insurance marks9, Figura 2.3.

Existiam diferentes tipos de marcas cada uma delas associada ao tipo de contrato. Estas marcas também podem ser encontradas nos Estados Unidos e na Austrália, [15].

Figura 2.3 – Uma das marcas que assinalavam as propriedades vinculadas ao contrato de Segurança Contra Incêndio, [15].

2.1.3. FRANÇA

Em França, o rei Saint Louis10 emitiu um Decreto de Lei, no ano de 1254, onde criou os guet

bourgeois11. Este grupo permitia aos moradores de Paris terem os seus próprios elementos de

segurança nocturna contra a criminalidade e incêndio, completamente distintos da segurança real. Os

guet bourgeois terminaram as suas funções por ordem do rei Charles12, após a Guerra dos Cem Anos13,

deixando a segurança publica a cargo da segurança real, [16].

9

Traduzido para português como: marcas de seguro contra incêndio.

10

Rei Luís IX (1214-1270) –Nascido a 25 de Abril de 1214, coroado rei de França de 1226 até à sua morte a 25 de Agosto de 1270 - Joinville, Jean de, La vie de saint Louis, ed. Noel L. Corbett. Sherbrooke: Naaman, 1977 Online-Book

11

Traduzido para português como os guardiões da burguesia.

12

Rei Carlos IX (1550-1574) – Nascido a 27 de Julho de 1550, coroado rei de França a 1560, faleceu no dia 30 de Maio de 1574 – F. Guizot, The History of France, Vol. III, London (1887) Online Book.

13

Guerra dos Cem Anos (em francês: Guerre de Cent Ans) – série de guerras no trono Francês que se prolongaram entre o período de 1337-1453 – Dunnigan, James F., and Albert A. Nofi. Medieval Life & The Hundred Years War, Online Book.

(22)

2.1.4. PORTUGAL

Em Portugal, a origem dos bombeiros remonta a 23 de Agosto de 1395 com a apresentação da carta

régia na qual D. João I14 promulga a organização do primeiro serviço de incêndio em Lisboa, citando:

“E que em caso algum o fogo se levantasse – que Deus não queira, que todos os carpinteiros e calafates venham aquele lugar, onde cada um, com o seu machado, para haverem de atalhar o fogo; e que todas as mulheres que ao dito fogo acudirem, tragam um cântaro ou pote para carrear água para apagar o fogo”, Figura 2.4, [17].

a) b)

Figura 2.4. – a) D.João I, [18]; b) Carta Régia, [19].

No século XV, a Câmara de Lisboa promulga normas com o objectivo de prevenir incêndios com origem em lumes domésticos, fogueiras e manuseamento de pólvoras. A preocupação com a organização e prevenção começa a espalhar-se por todo o país, levando a Câmara do Porto a tomar algumas medidas, tais como:

14 de Julho de 1513 - “Eleger diversos cidadãos para fiscalizar se os restantes moradores da

cidade apagavam o lume das cozinhas à hora indicada pelo sino da noite”.

9 de Setembro de 1612 – “ordenou que fossem notificados os carpinteiros da cidade de que

iriam receber machados e outras pessoas de que entrariam na posse de bicheiros, para que, havendo incêndios, acudissem a ele com toda a diligência”.

2.1.5. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Por esta altura, nos Estados Unidos da América, as autoridades também começavam a dar passos na

prevenção e normalização. No ano de 1631, John Winthrop15, governador da cidade de Boston, torna

ilegal o uso de chaminés de madeira e telhado de palha.

14

“O de Boa Memória” (1358-1433) – Nasceu em Lisboa a 11 de Abril de 1358, filho ilegítimo do rei D. Pedro I e Grão Mestre da Ordem de Avis, casou com D. Filipa de Lencastre e dela teve oito filhos, morre a 14 de Agosto de 1433 - Reis e Rainhas de Portugal, Texto Editora, 1997. Cd-Rom.

15

John Winthrop (1588-1649) – Nasceu a 12 de Janeiro de 1588, foi eleito governador da Baía de Massachusetts a 1629 e reeleito doze vezes após uma pausa entre 1639 e 1648. Faleceu a 26 de Março de 1649 - http://www.hup.harvard.edu/results-list.php?author=9184, 19 de Abril de 2010.

(23)

Dez anos mais tarde, em New Amsterdam16, o governador Peter Stuyvesant17 nomeia quatro elementos,

os fire wardens18

,

responsáveis por inspeccionar todas as chaminés e aplicar uma multa em caso de

desrespeito das regras. Para que a sinalização do incêndio fosse imediata, a cidade passou também a

ter um grupo designado por Rattle Watch19, cuja função era alertar os cidadãos mais próximos em caso

de incêndio para que o combate fosse fortalecido. Em 1736 nasce em Filadélfia a Union Fire

Company20, uma companhia voluntária, fundada por Benjamin Franklin, [20].

Como o serviço público de combate a incêndio surge apenas após a Guerra Civil Americana e as seguradoras pagavam bem a quem chegasse ao local de emergência, todos os elementos de combate privados competiam entre si de forma a responderem ao sinistro da melhor forma. Tal era a competição entre forças de segurança que era comum existirem marcos guardados para cada serviço de bombeiros, deixando este de ser utilizado em prol da segurança pública mas sim para uma determinada entidade privada “responsável” pelo combate, [21].

2.1.6. CONCLUSÃO

O combate ao incêndio urbano foi evoluindo ao longo de vários anos em todos os cantos do mundo. O medo da destruição gerou a união de esforços de toda a população e as incontáveis perdas que os incêndios foram somando traduziram-se numa necessidade ao seu combate. A sociedade teve de agir, tomando como principal medida a prevenção da propagação do incêndio.

Actualmente, o tema do combate ao incêndio urbano não assume tanta atenção por parte da sociedade. O medo da destruição que noutra hora tinha sido capaz de originar o combate ao incêndio, deixou de gerar em cada indivíduo o espírito de luta e precaução, fazendo com que a prevenção fosse desvalorizada e a manutenção dos equipamentos de combate desnecessária. A evolução do homem e dos equipamentos de combate foi-se comercializando e com ela a segurança do cidadão comum. Cabe agora a cada elemento dos bombeiros e a cada indivíduo que trabalha para que a prevenção e o combate sejam reais, mostrar-nos os valores que deveriam estar em cada um de nós, através da sua persistência, competência e coragem.

2.2.BOMBEIROS SAPADORES DO PORTO

A história do actual Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto reflecte a construção e adaptação às necessidades da sociedade portuense. Ao longo do tempo a destruição provocada pelos incêndios levou ao desenvolvimento dos meios de combate e ao apetrechamento desses meios humanos e materiais.

Na cidade do Porto, no início do século XV, existia um serviço de combate ao incêndio que, quer em equipamentos de combate quer em quantidade de homens, era manifestamente insuficiente para responder a toda a cidade. Em caso de incêndio, oito serventes conduziam uma bomba braçal, baldes e bacias. Os restantes homens tentavam circunscrever o incêndio com a ajuda de equipamentos como archotes, cabos, machados e gadanhos, Figura 2.5, [17].

16

Actualmente a cidade de Nova Iorque.

17 Peter Studyvesant (1612-1672) – originalmente designado por Pieter ou Petrus, figura bastante importante no início da história de

Nova Iorque com o papel de director geral de serviço, morre em Agosto de 1672 - http://www.njcu.edu/programs/jchistory/Pages/S_Pages/Stuyvesant_Peter.htm, 19 de Abril de 2010.

18

Traduzido para Português como: os guardas do fogo.

19

O nome deve-se ao facto dos elementos pertencentes à equipa possuírem chocalhos (rattle), que eram um meio de sinalização quando observado (watch) o incêndio.

20

(24)

a) b)

Figura 2.5 – a) Bomba Braçal, [22]; b) Archotes ou lampiões de iluminação [23].

Todos os elementos humanos associados ao combate de incêndios tinham como mutualidade dos seus serviços a isenção de impostos e dispensa do serviço militar. No entanto, o provedor das armas do

partido do Porto, o Tenente-Coronel Bento Félix da Veiga 21não era a favor de tais benefícios o que

levou o monarca desse período, o rei D. João V22 a promulgar uma provisão, Figura 2.6.a, [24].

No decreto de privilégios23 de D. João V datado de 29 de Janeiro de 1728, encontra-se a confirmação

do serviço de incêndios e da respectiva companhia, «desde data não indicada havia uma bomba,

servida por um certo número de homens, eleitos pela respectiva Câmara». Nesta ordenança real, o

monarca contraria o provedor de armas do Porto ao sublinhar os privilégios em uso, escolha que gerou alguma polémica que se revelou necessária para incentivar as pessoas a juntarem-se à tarefa do combate ao incêndio. D. João V decreta ainda o nascimento da Companhia do Fogo e do seu comandante, o cabo José Azevedo «...cumprindo com as obrigações de tão arriscado emprego, tendo

escolhido para elle a José de Azevedo, por ser o mais perito, e prompto com a sua pessoa e instrumentos seus, nos rebates do fogo...», Figura 2.6.b, [25].

a) b)

Figura 2.6 – a) D. João V, [26]; b) Decreto de Privilégios [23].

21

Governador de armas no ano 1728, não é certa a data de início de funções nesse cargo, ocupou até ao ano 1735 - REIS, Henrique Duarte Sousa – Apontamentos para a história do Governo Militar do Porto até ao século XIX. Porto: Publicações da Câmara Municipal do Porto.

22

“O Magnânimo” (1689 – 1750), filho de D. Pedro II e D Maria Sofia de Neuburgo, casou em 1708 com D Maria Ana de Áustria. À data da sua subida ao trono, Portugal encontrava-se envolvido na guerra da sucessão de Espanha. O seu reinado pautou-se por uma política geral de neutralidade face a conflitos internacionais. Executou reformas importantes nas quais se destaca a remodelação do exército, a reestruturação do ensino e ao incentivo do desenvolvimento de manufacturas na área da vidreira dos têxteis e do papel - Reis e Rainhas de Portugal, Texto Editora, 1997.

23

(25)

Ao longo dos anos, muitos foram os homens que se voluntariaram para fazer parte da companhia, aumentando os reforços humanos que esta possuía. Tal como os membros efectivos do combate, os voluntários podiam também usufruir dos privilégios referidos. Esta condição foi suficiente para gerar um descontrolo disciplinar, onde indivíduos estavam inscritos na companhia beneficiando das regalias que lhes ficavam associadas mas não participavam no combate. Ao tomar conhecimento desta situação, a Câmara resolve contratar equipas de operários responsáveis pela manobra e transporte das bombas ao local de incêndio.

Para que a comunicação e localização da ocorrência de sinistro fosse mais rápida e eficaz, foram colocados no exterior das Igrejas e Capelas da Cidade uma caixa de ferro fundido, designada por Caixa de Sinais, Figura 2.7.a. No interior desta caixa encontrava-se um manípulo com um cabo ligado

ao badalo do campanário que permitia a emissão de toques. Para cada freguesia da cidade 24 existia um

número de toques correspondente, gravado na tampa da caixa, Figura 2.7.b. No final do combate ao sinistro eram exercidas três badaladas, [17].

a) b)

Figura 2.7 – a) Caixa de Sinais, [23]; b) Inscrição correspondente ao número de toques correspondente a cada freguesia do município do Porto [23].

Para que o socorro ao sinistro fosse imediato, o primeiro elemento que chegasse ao local da ocorrência recebia uma recompensa em dinheiro de 4.000 réis. Assim, o maior obstáculo para extinguir o incêndio deixava de ser a rapidez do conhecimento do sinistro e passava a ser a falta de meios humanos para o abastecimento das bombas braçais, [17].

Neste período a cidade do Porto não possuía um sistema de canalização de água. A população era abastecida pelos aguadeiros, homens que ganhavam dinheiro a transportar água para as populações. Como a água é um bem necessário durante o combate, os aguadeiros tornaram-se responsáveis pelo transporte de barris ao local da ocorrência e pelo abastecimento das bombas, Figura 2.8. Como existia um pagamento face à prestação deste serviço e a comercialização da água era bastante rentável, a água acabou por se tornar um monopólio controlado pelos aguadeiros, [17].

24

Sé, Santo Ildefonso, Órfãs, Campanha, Bonfim, Santa Catarina, Aguardente, Paranhos, Lapa, Cedofeita, Palácio de Cristal, Carmo, Trindade, Praça D.Pedro, Misericórdia, S. Nicolau, Vila Nova de Gaia, Miragaia, Massarelos, Lordelo e Foz

(26)

Figura 2.8 – Barris para o transporte de água pelos aguadeiros25.

Perante a falta de regulamentação disciplinar adequada, da formação técnica necessária, de comandantes conhecedores e de um manual de manobras, a eficácia do combate aos incêndios começou a ser posta em causa pela população. Tais acontecimentos levaram Guilherme Gomes

Fernandes26 a fundar a Real Associação dos Bombeiros Voluntários do Porto, no ano de 1875, Figura

2.9.a. O seu currículo académico proporcionou-lhe um conhecimento global das metodologias e materiais usados na Europa, fazendo com que o respeito da cidade pelo Corpo de Bombeiros fosse imediato e os equipamentos facilmente conseguidos como por exemplo, a primeira caixa de primeiros socorros específica para os danos causados durante o combate ao incêndio, Figura 2.9.b. Uma vez que maior parte dos equipamentos foram adquiridos em França, Inglaterra e Alemanha, o Serviço de Incêndio Municipal ficou em desvantagem face a este Corpo de formação particular, [17].

a) b)

Figura 2.9 – a) Guilherme Gomes Fernandes, [26]; b) Caixa de primeiros socorros, [23].

25

Fotografia da autora: Museu do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto.

26

Guilherme Gomes Fernandes (1850-1902) - nasceu na Bahia a 6 de Novembro de 1850 e morreu em Lisboa a 31 de Outubro de 1902. Estudou em Inglaterra, França, Alemanha, Áustria e Bélgica, as melhores organizações para combate aos incêndios, com o intuito de aplicar nas corporações que chefiava. Em 1875 fundou a Real Associação dos bombeiros Voluntários do Porto cuja chefia começou em 1885 para a Companhia de Incêndios do Porto. Homem de extraordinária educação, dedicado a esta actividade, chegando a custear as despesas da deslocação dos nove participantes ao Congresso de Londres. As suas raras qualidades humanas, a competência e o desempenho demonstrado na sua vida de bombeiro justificaram que lhe tivesse sido conferida a mais alta das condecorações portuguesas, a Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

(27)

O Presidente da Câmara do Porto, ao ver que o Serviço de Incêndio Municipal estava a ser ultrapassado, tenta melhorar o seu desempenho através da aquisição de novas máquinas e criando um regulamento interno. A cidade sentia-se protegida na área dos incêndios urbanos. A rigorosa disciplina militar e a respectiva instrução traduziram-se numa eficiência admirada por toda a população, [17]. No entanto, o Corpo de Bombeiros Voluntários continuava a alcançar os maiores feitos, levando a Câmara do Porto a convidar Guilherme Gomes Fernandes para comandar e reestruturar o Serviço de Incêndios da cidade, [17].

Em 1890 o respectivo serviço passa a designar-se por Corpo de Salvação Publica que, de acordo com a proposta de Guilherme Gomes Fernandes, apresentava os seguintes efectivos:

• 1 Comandante, Inspector do Serviço de Incêndios;

• 2 Comandantes de Brigada;

• 1 Médico;

• 1 Capelão;

• 1 Chefe de Secretaria;

• 2 Adjuntos do Chefe de Secretaria;

• 1 Porteiro; • 2 Instrutores; • 4 Comandantes de Companhia; • 20 Chefes de Turno; • 20 Bombeiros de 1º classe; • 20 Bombeiros de 2ª classe; • 20 Bombeiros de 3ª classe; • 100 Bombeiros de 4ª classe; • 16 Quarteleiros; • 10 Cocheiros efectivos;

• 1 Banda de Música com Maestro;

• 28 Componentes.

O quartel principal encontrava-se na Praça de D. Pedro, na própria Câmara Municipal, organizado de forma a conjugar a sala de comando, a secretaria, a central telefónica, a escola de instrução, o ginásio e o depósito do material, Figura 2.10. A incorporação do pessoal também sofreu alterações: o recrutamento passou a ter instrução durante quatro meses onde era ensinada a nomenclatura e uso de todo o equipamento, no caso de acesso a cargos superiores os interessados eram submetidos a um concurso baseado nos temas referentes à instrução mas de uma forma mais pormenorizada e análise das competências organizativas, [23].

(28)

Figura 2.10 – Material utilizado pelos bombeiros em 1890, [23].

Nesta época a carreira de Bombeiro não era profissional havendo apenas uma atribuição financeira e compensações face a esforços notáveis. Guilherme Gomes Fernandes elevou a instituição e tudo

aquilo que um bombeiro representa, pelas suas palavras «a força de auctoridade que tenho tido e o

pessoal não tivesse a certeza de que são irrevogáveis as minhas resoluções, não seria tão cega e passivamente obedecido e não poderia prestar o socorro com tanta presteza, pontualidade e acerto. São as únicas armas de que disponho para sustentar o meu prestígio», [17].

Durante a sua carreira, o Comandante Guilherme Gomes Fernandes viu a sua dedicação e esforços recompensados quando, graças à preparação atlética e a disciplina que foram impostas no Corpo de Salvação Pública do Porto, demonstrou ser capaz de atingir os primeiros lugares nos jogos internacionais de bombeiros, entre 1893 e 1900, sendo de salientar os de Londres, Lyon e Paris, [17]. O Comandante Guilherme Gomes Fernandes morre a 31 de Outubro de 1902, não chegando a assistir ao nascimento da tracção automóvel no combate contra incêndio. [23]

Em 1937, em consequência da Reforma Administrativa, o Corpo de Salvação Publica passou a intitular-se Batalhão de Sapadores Bombeiros, mas só a 27 de Setembro de 1946 o Decreto de Lei nº 35 857 atribui o nome que ainda hoje o identifica: Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, [17]. Após a publicação do Decreto-Lei nº293/92, o Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto deixa de ser uma força baseada nos conceitos militares passando a reger-se segundo a legislação geral em vigor

para o pessoal da administração local,[17].

A história dos Bombeiros Sapadores do Porto foi marcada, passo a passo, com firmeza e dedicação, passando por várias designações e funções, vários reis e líderes, mas sempre com o espírito de dever e compromisso. Tais características conseguiram transformar um grupo de pessoas numa equipa de homens, onde cada um deles se dispõe a ser Vida por Vida.

(29)

3

ESTADO DA ARTE

De machados erguidos ao alto, Arma branca da paz renascida, O Bombeiro é o guerreiro da esperança, Que luta e que avança,

Como Anjo da Vida. Hino da Liga dos Bombeiros Portugueses.

3.1.BOMBEIROS NACIONAIS E A SUA REGULAMENTAÇÃO

O enquadramento da função dos bombeiros através da legislação é essencial para perceber qual o seu papel na segurança pública. A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) publicou no site

oficial27 uma compilação legislativa sobre Bombeiros, sendo esta edição revista e aumentada em 2009,

Figura 3.1. De toda a compilação distinguem-se, no âmbito neste trabalho, os seguintes elementos legislativos:

• Lei nº 27/2006, de 3 de Julho – Lei de Bases da Protecção Civil;

• Decreto-Lei nº 134/2006, de 25 de Julho – Sistema Integrado de Operações de Protecção Civil;

• Decreto-Lei nº 75/2007, de 29 de Março – Lei Orgânica da Autoridade Nacional de Protecção

Civil;

• Decreto-Lei nº 247/2007, de 27 de Junho – Regime Jurídico dos Corpos de Bombeiros;

• Decreto-Lei nº 48/2009, de 4 de Agosto – Regime Jurídico dos Bombeiros Portugueses;

• Portaria nº 247/2004, de 15 de Outubro – Equipas de Intervenção Permanente;

• Despacho do Secretário de Estado da Protecção Civil nº 15619/2008, de 5 de Junho – Equipas

de Intervenção Permanente;

• Despacho do Secretário de Estado da Protecção Civil nº 14399/2009, de 26 de Junho – Terceira

fase da constituição das Equipas de Intervenção Permanente;

• Despacho do Presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil nº 21638/2009, de 28 de

Setembro – Especificações Técnicas de veículos e equipamentos operacionais dos Corpos de Bombeiros.

27

(30)

Figura 3.1 – Logótipo da Autoridade Nacional de Protecção Civil, [28].

3.1.1.PROTECÇÃO CIVIL

A Protecção Civil tem como função prevenir riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave28

ou catástrofe29, atenuando os seus efeitos, protegendo e socorrendo as pessoas e bens em perigo no

caso da ocorrência dessas situações. Para isso a Protecção Civil definiu os seus principais objectivos que, de acordo com o Artigo 4.º da Lei nº27/2006, são os seguintes, [29]:

• Prevenir os riscos colectivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe deles resultante;

• Atenuar os riscos colectivos e limitar os seus efeitos no caso das ocorrências descritas na alínea

anterior;

• Socorrer e assistir as pessoas e outros seres vivos em perigo, proteger bens e valores culturais,

ambientais e de elevado interesse público;

• Apoiar a reposição da normalidade da vida das pessoas em áreas afectadas por acidente grave

ou catástrofe.

A Protecção Civil é representada pela ANPC, uma entidade instituída em diploma próprio onde são definidas as suas funções e orgânica. A estrutura da protecção civil é desenvolvida ao nível nacional, regional e municipal de acordo com as necessidades e meios existentes em cada um dos níveis. De acordo com o Artigo 46.º da Lei nº27/2006 os agentes que representam a protecção civil são, [29]:

• Os Corpos de Bombeiros;

• As forças de segurança;

• As Forças Armadas;

• A autoridade marítima e aeronáutica;

• O INEM e demais serviços de saúde;

• Os sapadores florestais.

28

Acontecimento inusitado com efeitos relativamente limitados no tempo e no espaço, susceptível de atingir as pessoas e outros seres vivos, os bens ou o ambiente. – Lei nº 27/2006, de 3 de Julho – Lei de Bases da Protecção Civil, Artigo 3.º do nº1.

29

Acidente grave ou a série de acidentes graves susceptíveis de provocarem elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afectando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional. – Lei nº 27/2006, de 3 de Julho – Lei de Bases da Protecção Civil, Artigo 3.º do nº2.

(31)

Existem outras entidades mencionadas no mesmo Artigo com função de protecção e segurança mas

que não são definidas como agentes30. No entanto, caso sejam contactadas pelos agentes de protecção

civil, essas entidades devem prestar todo o auxílio para que existam todos os meios necessários à protecção civil. A articulação operacional entre os agentes e as entidades referidas é dada pelo Sistema

Integrado de Operações de Protecção e Socorro (SIOPS)31, [30].

A ANPC tem como missão o planeamento, a coordenação e a execução da política de protecção civil, nomeadamente na prevenção e reacção a acidentes graves e catástrofes, na protecção e socorro das populações e na superintendência da actividade dos bombeiros. No âmbito da actividade dos Corpos de Bombeiros, a ANPC tem as seguintes atribuições, [31]:

• Orientar, coordenar e fiscalizar a actividade dos Corpos de Bombeiros;

• Promover e incentivar a participação das populações no voluntariado e todas as formas de

auxílio na missão das associações humanitárias de bombeiros e dos Corpos de Bombeiros;

• Assegurar a realização de formação pessoal e profissional dos bombeiros portugueses e

promover o aperfeiçoamento operacional do pessoal dos Corpos de Bombeiros;

• Assegurar a prevenção sanitária, a higiene e a segurança do pessoal dos Corpos de Bombeiros

bem como a investigação de acidentes em acções de socorro.

Deve ainda ser referido que, em matéria de previsão e gestão de riscos, a ANPC tem como função proceder à regulamentação, licenciamento e fiscalização no âmbito da Segurança Contra Incêndio. O papel da ANPC na Segurança Contra Incêndio (SCI) passa também pela prevenção e formação da população, [31].

A ANPC é dirigida por um presidente, actualmente o Major-General Arnaldo Cruz, coadjuvado por três directores nacionais e pelo Conselho Nacional de Bombeiros, um dos órgãos consultivos da ANPC, [28].

Os serviços da ANPC dividem-se internamente em três direcções nacionais: planeamento de emergência; bombeiros; recursos de protecção civil. Para que seja assegurado o comando das diversas operações de socorro realizadas pela ANPC, foram constituídos dois níveis distintos de actuação, o

nível nacional e o distrital32. O sistema organizativo da ANPC pode ser definido através da seguinte

figura33, [28]:

30

Como por exemplo: Associações humanitárias de bombeiros voluntários; Serviços de segurança; Instituto Nacional de Medicina Legal; Instituições de segurança social; Instituições com fins de socorro e de solidariedade; Organismos responsáveis pelas florestas, conservação da natureza, indústria e energia, transportem, comunicações, recursos hídricos e ambiente; Serviços de segurança e socorro privativos das empresas públicas e privadas dos portos e aeroportos. – Lei nº 27/2006, de 3 de Julho – Lei de Bases da Protecção Civil, Artigo 46.º do nº3.

31

O SIOPS define-se pelo conjunto de estruturas, normas e procedimentos de natureza permanente com o objectivo de articular todos os agentes de protecção civil e o seu plano de operações. Neste sistema é ainda enquadrado o papel de todas as instituições necessárias para fazer face a acidentes graves e catástrofes, tendo em conta a sua coordenação com os agentes de protecção civil. - Decreto-Lei nº 134/2006, de 25 de Julho – Sistema Integrado de Operações de Protecção Civil;

32

Abreviadamente designados por CNOS (Comando Nacional de Operações de Socorro) e CDOS (Comando Distrital de Operações de Socorro).

33

(32)

Figura 3.2 – Sistema organizativo actual da ANPC.

Recentemente a Protecção Civil tem vindo a investir na formação da população mais jovem, criando

plataformas informáticas34 onde se aprende de uma forma interactiva como agir em caso de

inundações, sismos, ocorrência de incêndio em florestas, em casa ou na escola. Os folhetos referentes a algumas das campanhas desenvolvidas para crianças pela ANPC encontram-se no Anexo B, [28].

3.1.2.CORPO DE BOMBEIROS

O Corpo de Bombeiros é, de acordo com a definição apresentada no Decreto-Lei nº247/2007 de 27 de Junho, a unidade operacional, oficialmente homologada e tecnicamente organizada, preparada e equipada para o cabal exercício das missões previstas na Lei. Segundo o Regime Jurídico dos Corpos de Bombeiros, a missão relativa ao seu funcionamento consiste nos seguintes pontos, [32]:

• A prevenção e combate a incêndios;

• O socorro às populações, em caso de incêndios, inundações, desabamentos e, de um modo geral,

em todos os acidentes;

• O socorro a náufragos e buscas subaquáticas;

• O socorro e transporte de acidentados e doentes, incluindo a urgência pré-hospitalar, no âmbito

do sistema integrado de emergência médica;

• A emissão, nos termos da Lei, de pareceres técnicos em matéria de prevenção e segurança

contra riscos de incêndio e outros sinistros;

• A participação em outras actividades de protecção civil, no âmbito do exercício das funções

específicas que lhes forem cometidas;

• O exercício de actividades de formação e sensibilização, com especial incidência para a

prevenção do risco de incêndio e acidentes junto das populações;

• A participação em outras acções e o exercício de outras actividades, para as quais estejam

tecnicamente preparados e se enquadrem nos seus fins específicos e nos fins das respectivas

entidades detentoras35;

• A prestação de outros serviços previstos nos regulamentos internos e demais legislação

aplicável.

34

http://www.prociv.pt/clube/index.html.

35

Entidade pública ou privada, designadamente o município ou a associação humanitária de bombeiros que cria, detém ou mantém um corpo de bombeiros – Decreto-Lei nº247/2007, de 27 de Junho, Artigo 2º.

(33)

A criação de um Corpo de Bombeiros pode ser promovida pelos Municípios, pelas associações humanitárias de bombeiros ou outras pessoas colectivas privadas que pretendem criar um corpo privativo de bombeiros. A extinção apenas pode ser promovida pelas entidades detentoras ou pela ANPC, sendo precedida de parecer da Câmara Municipal da área de actuação, das Juntas de Freguesia da área a proteger e da Liga Bombeiros Portugueses. Caso a Câmara Municipal tenha um parecer negativo relativamente à extinção o processo é arquivado e a missão do Corpo de Bombeiros é activada, [32].

A área de actuação é a área geográfica predefinida na qual um Corpo de Bombeiros opera regularmente e/ou é responsável pela primeira intervenção. Cada Corpo de Bombeiros tem a sua área de intervenção definida pela ANPC de acordo com o número e tipo de Corpos de Bombeiros num determinado município, [32].

O Artigo 7.º do Decreto-Lei em estudo define as espécies de Corpos de Bombeiros admitidos: profissionais, mistos, voluntários e privativos. Ao logo desse mesmo Artigo são descritas as características associadas a cada tipo de corporação e que podem ser ilustradas pela seguinte figura, [32]:

Figura 3.3 – Características de cada tipo de Corpo de Bombeiros.

Os bombeiros que trabalham num Corpo de Bombeiros Voluntário ou Misto são distribuídos por quatro tipos de quadros de pessoal distintos, [32]:

• Quadro de comando;

• Quadro activo;

• Quadro de reserva;

Referências

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