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Polémicas entre Alexander von Humboldt e o visconde de Santarém, 1837-1849

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Polémicas entre Alexander von Humboldt e o

visconde de Santarém, 1837-1849

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Daniel Estudante Protásio2

Resumo

O presente ano de 2019 é reconhecido internacionalmente como Ano Humboldt, marcado tanto pela morte (a 6 de Maio) quanto pelo nascimento (14 de Setembro) de Alexander von Humboldt (1769-1859). O barão Humboldt criou as bases da geografia física em relação com a natureza (ecologia). Foi o primeiro geógrafo a descrever o planeta de forma sistemática, no seu Cosmos. Essa obra, cujos dois primeiros volumes foram publicados em 1845-47, incorpora uma análise dos descobrimentos atlânticos em que o papel dos portugueses é praticamente ignorado, o que contraria o que o 2º

1 Uma versão prévia deste artigo foi objecto de uma comunicação na Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa a 23 de Setembro de 2019. 2 Doutorado em História pela UNL, com especialização (pós-doutoramento) pela UC, a propósito dos primeiros oitenta anos da Academia das Ciências de Lisboa. Investigador Integrado do Centro de História da UL, Investigador Colaborador do CEIS20 da UC, vogal da Sociedade de Geografia de Lisboa e membro do Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão (Santarém). Tem dois livros publicados sobre o 2º Visconde de Santarém e é organizador da edição, pelo Centro de História da UL, de uma obra colectiva sobre a historiografia, cultura e política na época daquela figura. Publicou, na Mátria XXI nº 8, de Maio de 2019, pp. 215-232, o texto “Alexander von Humboldt e a Ciência luso-brasileira do seu tempo (1792-1857)”.

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visconde de Santarém estudou e publicou durante toda a década de 1840. Esta e outra polémica, mal conhecidas, ajudam a definir melhor o pensamento e práticas científicas do barão Alexander von Humboldt nas áreas específicas da geografia e história dos descobrimentos.

Palavras-chave: descobertas historiográficas; descobertas históricas;

ciências geográficas; Alexander von Humboldt; 2º Visconde de Santarém

Abstract

The present year of 2019 is internationally recognized as Humboldt Year, due to the 250 years of the death (May, 6th) and birth (September, 14th) of Alexander von Humboldt (1769-1859). Baron Humboldt created the basis of physical geography in conexion with nature (ecology). He was the first geographer to describe the planet in a systematical way, in Cosmos. With two of its first volumes published in 1845-47, it includes an analysis of the atlantical discoveries which almost ignores the portuguese role in the process, in disregard of what the 2nd Viscount of Santarém studied and published in the 1840’s. This and other controversies, insufficiently known, help to better define the scientific thought and practices of Baron Alexander von Humboldt in the specific areas of geography and Discoveries history.

Keywords: discoveries historiography; discoveries history; geographical

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1. Estado da questão e advertência metodológica

Falar-se-á aqui de ciência geográfica e não de ciência náutica, estudada por Joaquim Bensaúde, a propósito do barão de Humboldt e do visconde de Santarém3. O foco principal desta reflexão é a utilização, por este, do método histórico numa época específica da história da geografia, dos descobrimentos e da cartografia. O visconde desenvolveu e aperfeiçou inovações metodológicas:

 de uso comparativo de fontes documentais inéditas e impressas;

 de confrontação exaustiva de bibliografia referente ao conhecimento geográfico da costa africana ocidental e do chamado Novo Mundo;

 de recurso à cartografia como disciplina auxiliar da História.

Tal nova utensilagem científica vem confrontar, sem afrontar, o contributo que o génio da humanidade que foi Alexander von Humboldt trouxe à historiografia dos descobrimentos, a partir de um conhecimento in loco do Novo Mundo, que explorou entre 1799 e 1804.

O barão de Humboldt não foi um historiador, nem possuiu preparação específica para a confrontação crítica de textos (base do exame que se propôs fazer da história das Américas). Não dominou a língua portuguesa, impedindo-o de conhecer em primeira mão os textos fundamentais dos descobrimentos do século XV (1420-1492)4.

3 Joaquim Bensaúde, Les legendes allemandes sur l’histoire des découvertes

maritimes portugaises…, Genebra, Imprimerie A. Kundig, 1917-1920, p. 219.

4 Joaquim Bensaúde, Ibidem, p. 223. Por exemplo, Ferdinand Denis, o conhecido lusitanista, estranha, a 27 de Abril de 1845, que Humboldt ignorasse até o título do Tratado dos descobrimentos antigos e modernos de António Galvão (Ferdinand

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Ainda assim, Humboldt fundou uma poderosa tradição analítica de constante revisitação de fontes isoladas e tidas por autênticas per se, como sucedeu com o infante D. Henrique e com Américo Vespúcio.

Joaqum Bensaúde fez notar que a época histórica a analisar – a das décadas de 1830 e 1840 – ainda permitia admirar Humboldt sem o considerar infalível e sem se sentir a necessidade de uma submissão cega ao poder mágico do seu nome e prestígio, como sucederá após a sua morte5.

2. construção moderna das teses normanda e menorquina, 1832-1839

É extraordinário o impacto produzido, na historiografia francesa e europeia dos descobrimentos, pela publicação, em 1832, do livro Recherches sur les voyages et découvertes des navigateurs

normands en Afrique, dans les Indes Orientales et en Amérique, suivies des observations sur la marine, le commerce et les établissements coloniaux des Français, par L. Estancelin, deputé du département de la Somme6.

Esta obra resulta do desejo do autor, Louis Estancelin, de relembrar os feitos da Normandia, província cujas “gloriosas recordações” a tornariam ímpar entre todas as de França. Sobretudo, quanto às explorações marítimas, descobertas geográficas e estabelecimentos comerciais anteriores ao século XVI. Segundo Estancelin, no século XIV os marinheiros franceses seriam os primeiros do mundo, tal como no século XVIII e XIX. Numa França

Denis, Journal (1829-1848). Publié avec une introduction et des notes par Pierre

Moreau…, 1932, p. 145).

5 Joaquim Bensaúde, Ibidem, p. 236. 6 A. Pinard, Imprimeur-Libraire.

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liberal, as expedições marítimas, o conhecimento das possessões ultramarinas e de um passado épico constituiriam um tónico decisivo para trazer progresso social e económico, agora que a industralização deixava sem meios de subsistência muitos dos filhos do reino. Também a Normandia se evidenciara e evidenciava pela inteligência dos seus marinheiros, cosmógrafos, hidrógrafos e geógrafos, entre eles Eyriès (1767-1846) e Dumont D’Urville (1790-18427).

Tal impacto é sobretudo significativo por Estancelin (1779-1858), militar, deputado entre 1830 e 1846, constituir um escritor liberal e romántico, evocador das tradições regionais da Normandia, homem público sem especial preparação científica para abordar a historia dos descobrimentos. Porém, Humboldt, “com a sua imensa autoridade”, apoiou e defendeu a causa da chamada prioridade normanda no Examen critique de l’histoire de la géographie et des

progrés de l’astronomie nautique au quinzième et seizième siècles (1ª

edição, 1 vol., publicado em fascículos, 1814-18348; 2ª edição, 1836-1839). De tal forma que, em várias passagens dos tomos I, II e IV da segunda edição do Examen Critique…, fala na prioridade dos normandos, dos habitantes de Dieppe e de Jaime Ferrer – mencionado

7 Estancelin, Recherches sur les voyages et découvertes des navigateurs

normands…, Paris, A. Pinard, Imprimeur-Libraire, 1832, pp. I-XI. Estancelin

baseia-se mais nas tradições orais do que na documentação preservada, pois esta teria sido destruída pelos incêndios ateados, aquando da Revolução, aos arquivos monásticos, dos almirantados, dos senhorios e das corporações medievais. Lamenta que apesar do bombardeamento de Dieppe en 1694, ainda em 1785 existia, na sua família, abundância de títulos senhoriais e notas de família que poderiam ajudar a elucidar o passado.

8 Bulletin de la Société de Geógraphie, quatrième série, tome dix-neuvième, Paris, Chez Arthus-Bertrand, Março de 1860, pp. 254-255.

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na carta catalã de 1375 da Biblioteca Real de Paris – face à dos portugueses9.

Segundo Joaquim Bensaúde, Humboldt silencia os feitos náuticos portugueses entre 1420 e 1492 e exalta Colombo, nos tomos III e V daquela obra (1837 e 39), como a grande figura do século XV. Como veremos, no volume II da edição francesa do Cosmos (1847) afirma que a ousadia (hardiesse) de Cristovão Colombo constituía o primeiro dos anéis na cadeia sem fim desses misteriosos acontecimentos que foram os descobrimentos europeus10.

A Notice statistique sur les colonies françaises, 3ªparte, na introdução histórica redigida por Avezac11, oficializa as teses de Estancelin e de Humboldt, sem os citar. Fala nas expedições de navegantes de Dieppe e comerciantes de Rouen já em 1365 – algo que a história do conhecimento geográfico e da sua representação cartográfica não reconhece, graças aos trabalhos do visconde de Santarém, de 1842 a 1849. Marie-Armand d’Avezac de Castera-Macaya (Avezac), membro fundador da Sociedade de Geografia de Paris e presidente da sua comissão central, bem como director da Repartição Central das Colónias do ministerio da Marinha12, desempenha, então, os múltiplos papéis de erudito, geógrafo e estudioso dos assuntos ultramarinos franceses da época.

9 Joaquim Bensaúde, Les legendes allemandes…, Op. Cit., pp. 222, ns. 1-7 e 233. 10 Idem, Ibidem, p. 223 e n. 3.

11 Imprimerie Royale, 1839, pp. 320, na secção dedicada ao Senegal e suas dependências, capítulo I, “Introdução histórica”, pp. 143-144 e Joaquim Bensaúde, Ibidem, p. 233.

12 Armando Cortesão, História da Cartografia Portuguesa, vol. I, Coimbra, Junta das Investigações do Ultramar, 1969, p. 33 e Daniel Protásio, Pensamento

histórico e acção política do 2º Visconde de Santarém (1809-1855), S.L., Edição de

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Avezac vai assinar também “Guinée” na Encyclopédie des gens

du monde13 (1839), na qual refere a imprecisão geográfica dessa designação. Menciona os normandos e a carta catalã de 1375, mas elenca os feitos dos navegadores portugueses na costa africana após a conquista de Ceuta, até ao final do século XV. E indica o artigo “Infant Henri”, o qual é assinado pelo visconde de Santarém. Nele, o autor luso remete para o manuscrito de Zurara, que apenas seria impresso em 1841. Esse mesmo artigo surge como nota a uma edição francesa da

Geschichte von Portugal do alemão Henrich Schaefer, publicada em

Paris, ainda em 1840 (14).

Curiosamente, Ferdinand Denis e Humboldt, bem como a comunidade intelectual de França e de Portugal, sabiam, desde 1839, que existia na Biblioteca Real de Paris o manuscrito de uma crónica de Gomes Eanes de Zurara, referente ao descobrimento e conquista da Guiné no tempo de D. Henrique. Denis localizara, em 1837, o dito manuscrito; e a 15 de Outubro de 1838, num encontro fortuito com Alexander von Humboldt, anuncia-lha, comentando: “Il comprend fort bien son importance”. O que não motivou o sábio prussiano a estudá-la, inédita (porventura, devido ao seu desconhecimento da língua portuguesa). Nas Chroniques chevaleresques…, de 1839, Denis indicava, claramente, “En realité, c’est une histoire complète des découvertes primitives de don Henrique, le célèbre infant de Portugal” e afirmava-o navegador predecessor de Colombo – um erro factual, mas um importante elo de ligação, quanto à ciência náutica15.

13 Encyclopédie des gens du monde…, Paris, t. 13º, Paris, Librairie de Treuttel et Würtz, 1839, pp. 293-296.

14 Daniel Protásio, Ibidem, p. 307, n. 618.

15 Ferdinand Denis, Chroniques chevaleresques…, vol. II, Ledoyen, Libraire-Éditeur, 1839, pp. 43 e 52 e Idem, Journal (1829-1848…), Op. Cit., pp. 75-76 e n. 1.

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Porém, a obra manuscrita permanecerá inédita até 1841, quando, depois de um rocambolesco processo de cópia pelo visconde da Carreira e de anotação pelo visconde de Santarém, será publicada em Paris, para escândalo de Denis e do ministerio da Instrução Pública de França, cuja autorização não fora pedida, como era devido, pelos dois portugueses. Ferdinand Denis não mais perdoará ao visconde de Santarém essa manobra pouco transparente, como a seguir se verá. Mas nem por isso deixará, em 1843, no seu diário, de considerar o papel fundamental da narração de Zurara da seguinte forma: “renferme l’histoire de l’infant don Henrique, dont l’activité pérséverante devaint faire évanouir à tous jamais les illusions de la cosmographie du Moyen Âge”16.

3. O testemunho de Ferdinand Denis sobre Humboldt e Santarém

Le petit vicomte garde soigneusement toute les lettres qui lui sont adressées et nottament celles de M. de Humboldt (qui ne garde pas les lettres de cet homme aussi remarquable!). Celle dont il est question ici est si curieuse, elle renferme tant d’éloges qu’un homme puisse adresser à un homme, m’a-t-on dit. Serait-ce le dernier mot du savant, je ne peux pas le croire d’après ce qu’il a dit à tant d’autres. Qui croirait que le travail si incomplet, du reste, de ce pauvre Santarem sur Vespuce a inquiété Humboldt au point d’engager ce dernièr à écrire au Vicomte qu’il obligerait en ne publiant à dissertation (184317).

Ferdinand Denis, o famoso lusitanista francês, manteve um diário durante quase vinte anos, de 1829 a 1848. Dele é extraída a passagem transcrita, pela qual podemos perceber os seguintes comentários e ideias subjacentes:

16 Idem, Journal (1829-1848…), Ibidem, pp. 76, n. 1 e 118, n. 5. 17 Idem, Ibidem, p. 133, (entrada de 28 de Julho de 1843).

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1) visconde de Santarém guarda cuidadosamente as cartas que lhe são endereçadas e, sobretudo, as do barão de Humboldt;

2) barão de Humboldt não demonstra a mesma preocupação de manter a correspondência recebida do autor português;

3) Ferdinand Denis refere-se a uma carta de Humboldt para Santarém muito encomiástica, o que seria contraditório com o que o barão escrevera sobre muitos outros sábios;

4) Denis admira-se, ainda, que o livro de Santarém sobre Vespúcio (editado em 1842, tão incompleto, na sua opinião), tenha motivado o sábio prussiano a escrever-lhe pedindo-lhe que o não publicasse.

Ora, estas quatro premisas abrem-nos amplas perspectivas sobre o diálogo e interacção, a nível intelectual, epistolar e bibliográfico, estabelecidas entre o visconde de Santarém e o barão de Humboldt.

a) 2º visconde de Santarém tinha, desde cedo na vida, o hábito de manter um copiador da correspondência que recebia e escrevia. Para o ano de 1818, um quarto de século antes do comentário de Denis, existiam pelo menos 6 tomos de copiador18. Tratava-se de uma prática arreigada da época, transversal à sociedade, como o prova a abundante epistolografia de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, responsável de arquivo

18 António Baião, O Visconde de Santarém como guarda-mor da Torre do Tombo

(Aditamento), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1910, p. 21, n. 2. Idem, Ibidem, pp. 22, nn. 1 e 4 e 23, n. 2, também se refere ao mesmo assunto; inclusive,

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no Brasil, relativa aos anos de 1811 a 1821. Em 1918 e 1919, o publicista Rocha Martins vai editar a correspondência activa do visconde, em oito volumes de considerável dimensão19.

b) Meros seis anos após a morte do célebre viajante, geógrafo, cientista e académico, o barão de Humboldt, parte da sua correspondência científica e literaria é publicada em França (em 186520). A recolha e edição desses documentos coube a Alexander Dezos de La Roquete, então decano e presidente honorário da Sociedade de Geografia de Paris (da qual Santarém e Humboldt foram membros21). Como Denis quase que previra no seu Journal, nenhuma missiva do visconde é aí incluída, porque Humboldt não tinha o hábito de as guardar22.

c) Das cartas que Humboldt lhe enviou, existem referências e raras transcrições. Sabemos que pelo menos 5 foram recepcionadas, datadas de 1835 a 1842. Era grande o orgulho e alegria do visconde de Santarém

19 Luís Joaquim dos Santos Marrocos, Cartas do Rio de Janeiro 1811-1821, Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 2008, p. 564 e Visconde de Santarém,

Correspondência do…, vols. 8, 1918-19.

20 Humboldt: correspondance scientifique et littéraire, recueillie, publiée et précédée d'une notice et d'une introduction par M. [Jean Bernard Marie Alexander Dezos] de La Roquete, Paris, E. Ducroq, 1865, pp. 466.

21 Dezos de La Roquete traduziu para francês os dois primeiros vols. da obra de Navarrete Coleccion de los viages y descubrimientos que hicieron por mar los Españoles… (Visconde de Santarém, Opúsculos e Esparsos. Coligidos e coordenados por Jordão de Freitas…, vol. I, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1910, p. 239, n. 3.) O terceiro vol. continha a carta escrita por Santarém a Navarrete sobre Vespúcio que, desenvolvida, dá lugar ao vol. criticado por Denis. 22 Destacam-se, pela continuidade e dimensão, a correspondência activa e passiva com La Roquete e Jomard (neste caso, de 1809 a 1838).

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quando as recebia. Ferdinand Denis estranha as palavras de incentivo e de elogio de Humboldt, a julgar pelo que escreve, referindo-se a uma, cuja data não indica: “Celle dont il est question ici est si curieuse, elle renferme tant d’éloges qu’un homme puisse adresser à un homme, m’a-t-on dit”. Era unânime a consideração internacional pela pessoa e obra de Alexander von Humboldt, sábio de projecção mundial. A vaidade de Santarém, perante a opinião do “homem ilustre do século”, como o descrevia o insuspeito Denis, parece, assim, ser justificada23.

d) A obra do visconde de Santarém, Recherches critiques

sur Améric Vespuce et ses prétendues découvertes en 1501 et 1503, impressa em 1840, mas apenas publicada

em 184224, constituiu, na opinião da Revue de

bibliographie analytique…, a contraparte da obra de

Humboldt Examen critique sur l’Histoire de la

Géographie du Nouveau Continent…, 5 vols., 1836-1839.

Esta afirmação, poderosíssima, é complementada por

23 Ferdinand Denis, Journal (1829-1848)…, Op. Cit., p. 145.

24 O que confirma, conforme escrevi (Daniel Protásio, Pensamento histórico e

acção política…, Ibidem, p. 315, n. 660), que a obra estava impressa em 1840, mas

a edição não pode ser datada desse ano nem de 1841. As indicações, de 1840 e 1841, que Armando Cortesão menciona em Cartografia e Cartógrafos

Portugueses dos séculos XV e XVI (contribuição para um estudo completo), vol. II,

Lisboa, Edição da “Seara Nova”, 1935, p. 367, n.2, devem ser entendidas como as de uma obra em progresso. Não é por acaso, por exemplo, que o visconde de Santarém refere, em 1840, a crónica manuscrita de Zurara, só impressa em 1841. O mesmo sucedeu com as Recherches critiques sur Améric Vespuce et ses

prétendues découvertes en 1501 et 1503, Paris, Chez Arthus-Bertrand:

disponíveis para consulta desde 1840, mas sucessivamente atrasadas na impressão até 1842.

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outra: a questão da anterioridade da descoberta moderna da América só podia ser entendida de forma justa e completa com a leitura e comparação dos dois escritos25. Deste modo, nem que seja nesta polémica vespuciana, Santarém e Humboldt são – momentaneamente – colocados em pé de igualdade.

4. Cronologia de uma dupla polémica (1837-1842)

O propósito principal do Examen critique de sur l’histoire de la

Géographie du Nouveau Continent… parece ter sido, segundo Armando

Cortesão, “a glorificação de Colombo, Vespúcio e Behaim [Martinho da Boémia]”. Cortesão qualifica a obra como aquela que “indubitável e extraordinariamente mais contribuiu para pôr em relevo a importância da história dos descobrimentos e suas ligações com a história da cartografia”26.

O visconde de Santarém data de 24 de Março de 1835 o “Avant-propos” das Recherches sur Améric Vespuce et sur ses prétendues

découvertes en 1501 et 1503, publicado no número de Outubro do Bulletin da Sociedade de Geografia de Paris. A 2 desse mês, é nomeado

membro da Sociedade (sendo admitido em sessão a 16). A 5 de Outubro mantém, na legação da Prússia na capital francesa, uma interessante conversa com o barão Humboldt, na qual o prussiano lhe fala da “minha carta a Navarrete sobre Vespúcio; disse-me que já tinha sido impressa no 3º volume das Viagens Espanholas” (1829).

25 Revue de bibliographie analytique: ou compte rendu des ouvrages scientifiques

et de haute littérature, publiées en France et au étranger; paraissant tous les mois, Paris, Imprimierie de Madame Veuve Dondey-Dupré, t. I, 1840, pp. 144-145.

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Humboldt recebera uma carta do visconde de Santarém e a “memória”, possivelmente o texto publicado no Bulletin. Questiona-o sobre documentação existente na Torre do Tombo e eventuais perdas sofridas aquando das Invasões Francesas e da emigração da corte para o Brasil. O autor prussiano escrever-lhe-á uma missiva a 24 desse mês27. Em Setembro de 1836 surge a continuação do texto do visconde sobre Vespúcio. Ainda esse ano, na Imprimerie de Maulde & Renou, Santarém edita um volume de 71 páginas, dando maior publicidade ao que o Bulletin publicara. Novas continuações surgiram no orgão da Sociedade de Geografia em Fevereiro e Setembro de 1837.

Podemos, então, perguntar-nos: porque razão o barão Humboldt fez uma nova edição do seu Examen critique… logo em1836-1839? Teria esse facto alguna relação com os escritos do autor português? Não.

O prefácio do volume I da nova edição está datado de Berlim, Novembro de 1833. Ou seja, embora a primeira edição, em fascículos, apenas termine, em França, em 1834 (ficando incompleta), já em finais do ano anterior Humboldt terminava de redigir aquele texto para a edição alemã28.

Certo é que os volumes IV e V (editados em francês em 1837 e 1839) referem extensivamente as adições que o visconde de Santarém

27 Visconde de Santarém, Inéditos (miscelânea), coligidos, coordenados e anotados

por Jordão de Freitas (bibliotecário da Biblioteca da Ajuda) e trazidos à publicidade pelo 3º Visconde de Santarém, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva,

1914, pp. 88-90.

28 Alexander von Humboldt, Examen critique de l’histoire de la géographie et des

progrés de l’astronomie nautique au quinzième et seizième siècles, t. I, Librairie de

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acrescentava, desde 1836-1837, à sua carta sobre Vespúcio. Sabemos isso por duas vias.

Uma, directa. No volume IV do Examen critique…, de 1837, o barão de Humboldt dedica algum tempo a informar, a partir das notas adicionais do visconde à sua carta a Navarrete (que recebeu pessoalmente em 1835), como considerava “fort étrange” que em 1826 o guarda-mor da Torre do Tombo (Santarém) não descobrisse qualquer referência a Vespúcio. Afirmando que

Ces objections sont sans doute d’un grand pois; mais des preuves négatives, le manque des documents dans des matières qui d’abord n’on pas paru d’une importance majeure, ne permettent pas de trancher définitivement la question de savoir si Vespuce a navigué dans des bâtiments portugais29.

Esta asserção de que provas negativas, isto é, a ausência de documentação ou referências cronísticas coevas a Vespúcio, não permitem, por si só, resolver a polémica, significa a abertura de uma perigosa caixa de Pandora: a de que contradições insanáveis entre a narrativa do florentino e o conhecimento histórico-documental não seriam conclusivas nem elucidativas.

Outra forma, indirecta, de se saber que o Examen critique… se referia aos escritos do autor português é pelo comentário que Santarém tece a esse propósito, a 8 de Fevereiro de 1839. O sábio prussiano faz-lhe oferta da segunda edição completa do Examen

critique… conforme relata a 2 de Setembro seguinte. Teria sido

acompanhada de uma carta “que, para mim, é um dos títulos mais agradáveis, pelo que este homem, por certo o mais enciclopédico dos nossos dias, nela diz-me”30. E na dita obra, as menções ao português seriam, supostamente, às dezenas31. Embora apareça referido uma vez

29 Idem, Ibidem, t. IV, 1837, pp. 59-63 (sobretudo p. 60, n. 1).

30 Visconde de Santarém, Correspondência do…, Op. Cit., vol. VI, p. 53. 31 Idem, Ibidem, pp. 46 e 53, mais de 30 e 40 vezes, respectivamente.

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no tomo IV (1837) e sete vezes no tomo V (1839), como mais adiante veremos.

Apesar de desvanecido com as palavras de Humboldt, o visconde de Santarém tem clara noção de que a obra em causa, o

Examen critique…, contém falhas, sobretudo a nivel da organização

expositiva dos argumentos. Comenta: “Entretanto, é para sentir que este trabalho colossal não seja metódico. M. Letronne32, que é um dos seus maiores amigos, perguntando-me a minha opinião, não esperou a resposta e disse n’est ce pas que l’ouvrage de notre ami est un puits

d’érudition et de confusion?” E o barão Walckenaer parece antecipar o

que no ano seguinte será escrito acerca da necessidade de colocar lado a lado os dois textos, o do prussiano e o do português: “Walckenaer, o homem mais sábio nestas matérias e amigo de Humboldt, escreveu-me últimaescreveu-mente dizendo-escreveu-me: «J’ai été charmée de voir dans votre dernière partie sur Vespuce autant d’érudition que de logique. Je me propose de vous relire lorsque Mr. de Humboldt terminera ses éternels

épisodes, a fin de pouvoir en parler de tous les deux dans le Journal des Savants et dans les Annales des Voyages»”33.

No quinto e último tomo do Examen critique…, de 1839, o barão de Humboldt nomeia por sete vezes o visconde. Na mais directa dessas menções, designa-o por “marquis de Santarém” e classifica-o como “Un savant profondément instruit de l’histoire

32 Armando Cortesão informa que Letronne é conservador da Biblioteca Real de Paris e professor no Collège de France (Armando Cortesão, Ibidem). Na edição sem data (mas de 1864) de Histoire de la Geographie du Nouveau Continente et

des progrès de l’astronomie nautique, Paris, Librarie des sciences naturelles, tome

première, “Avis”, p. I, surge a informação que Letronne procedeu à revisão de todas as provas da edição de 1836-1839.

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de son país”34. Nas passagens em que o cita, refere a tese do sábio português de que Vespúcio não pôde ter mantido uma posição de comando nas viagens portuguesas de Afonso de Albuquerque, Gonçalo Coelho e Cristóvão Jacques em 1503, mas não se pronuncia sobre tal interpretação. Afirma, sim, Vespúcio como falecendo sem as honras que Colombo teve ao longo da vida. Mas não deixa de escrever, no início desse tomo, que “Le roi Emmanuel devrait savoir par les Florentins que Vespuce était cosmographe ou astronome des expéditions de Hojeda et de Pinzon”35. Ou seja, embora reconheça valor nas investigações de Santarém, não se sente compelido a alterar o que pensa serem os relatos verídicos de Vespúcio.

Ainda em 1839, é editado um verbete do visconde sobre “Vespuce (Améric)”, inserido no Dictionnaire de la Conversation et de

la Lecture. Em nota de rodapé, remete o leitor para a sua obra Remarques et recherches historiques et bibliogbraphiques sur la découverte du Nouveau Monde et nommément sur les prétendus découvertes d’Améric Vespuce36. Seria o título provisório da obra que a

Revue de bibliographie analytique afirma impressa em 1840, mas

apenas publicada em 1842, como já vimos.

A 31 de Janeiro de 1840, comentava o visconde: “E que direi da última obra de Mr. de Humboldt [Examen critique…, tomo V]! Os episódios, as notas, as digressões, as discussões no texto, nas notas, nos apêndices, são por milhares. E como conceituam, os críticos cá por fora esta obra? Os jornais científicos e os relatórios académicos que o

34 Alexander von Humboldt, Examen critique…, Op. Cit., t. V, p. 140.

35 Idem, Ibidem, pp. 50-51 (e n. 2), 140-141 e 176. Outras referências surge a p. 144, n. 2.

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digam, apesar dos muitos reparos e observações que sobre este vasto

trabalho se têm feito”37.

Um ano depois, em texto datado de 30 de Março de 1841, na introdução à Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné de Zurara, Santarém parece regozijar-se pela proximidade intelectual com Humboldt, estabelecendo um paralelo entre as análises de ambos:

Azurara revela-nos nesta crónica, se a compararmos com o

Leal Conselheiro composto por El-Rei D. Duarte entre os anos de

1428-1438, o estado das ciências e da erudição entre nós nos fins da Idade Média. Pode dizer-se, sem temeridade, que este cronista tinha uma vasta instrução, como o leitor verá pelas suas citações. Ele nos dá nota dos livros que os nossos sábios estudavam no XVIº [XIVº] e princípio do XVº séculos. E para que o leitor tenha disto uma ideia mais exacta, faremos aqui [uma lista] dos principais autores citados por Azurara, do mesmo modo que o nosso ilustre amigo, o senhor barão de Humboldt, enumerou todos os citados por Colombo”38.

Seis meses depois, o nobre prussiano envia-lhe uma carta, datada de 22 de Setembro, a propósito da crónica de Zurara, de que o visconde extracta uma passagem a 9 de Novembro:

Je suis touché de l’aimable et bienvaillant souvenir de mon illustre confrère Mr. le Vicomte de Santarem, et je le supplie d’agréer l’hommage de ma respecteuse reconnaissance. Le volume est du plus-haut interêt, magnifique d‘éxecution comme une édition de Bodoni et, quanta au texte, c’est un des monuments les plus inattendus de l’histoire de la géographie. C’est un noble témoignage de la grandeur et de l’heroísme d’une nation. Je lis

37 Idem, Correspondência do…, Op. Cit., vol. VI, p. 77. Itálico meu. 38 Idem, introdução a Gomes Eanes de Azurara, Crónica do

Descobrimento e Conquista da Guiné. Nota introdutória, actualização de texto e notas de Reis Brasil, Mem Martins, Publicações

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et j’ai lu avec un vif interêt les notes que vous aves ajoutés et qui

renferment, comme toujours, des trésors d’instruction39.

Por estas palavras se constata como até o sábio prussiano, a quem, como vimos, Ferdinand Denis dera conhecimemento da descoberta do manuscrito em 1838, ficara surpreendido pela importância desta fonte, totalmente inesperada, sobre a chegada dos europeus à zona da Senegâmbia. Joaquim Bensaúde faz notar que a transcrição da carta não está completa, existindo uma passagem sobre a recusa de Humboldt em se pronunciar sobre os limites do Brasil e da Guiana Francesa, zona da América do Sul que conhecia bem do ano de 180040. Quais as razões para tal recusa? Eventualmente, o desejo de não voltar a apoiar as teses geográficas e diplomáticas de França, como sucede com as navegações normandas ao território africano de Casamansa, então em disputa.

Em Janeiro de 1842, o visconde de Santarém publica uma obra em francês, Recherches sur la priorité de la découverte des pays situés sur la côte occidentale de l’Afrique, au-delà du cap Bojador, et sur les progrès de la science geographique, après les navigations des portugais au XVe siècle – título que Bensaúde considera decalcado

do de Humboldt, com a diferença de um falar em astronomia náutica

e outro em ciência geográfica41. Em tal livro, o português refere apenas uma vez o barão de Humboldt, mas de forma significativa:

Le savant le plus encyclopédique de nous jours [Humboldt,

Examen critique de l’histoire du Nouveau continent…, t. I, 1836, p. 92

et 96], s’appuyant sur les documents qui nous restent touchant la

39 Idem, Correspondência do…, Op. Cit., p. 210. Sendo as notas em português, tal significa que o barão Humboldt conseguia apreender algumas informações na língua dos Lusíadas.

40 Idem, Ibidem, pp. 240, 289 e 291.

(19)

découverte du Nouveau continent, a pensé que ce fut dans le séjour de Christophe Colomb en Portugal, entre les années de 1470 et 1484, que ce grand homme se perfectionna dans ses études, s’entretenant avec les savants de ce pays. Ansi, donc, les Portugaises furent […] les premiers explorateurs des côtes occidentales de l’Afrique et les maîtres de toutes les autres nations de l’Europe en fait de navigation, comme l’a déjà dit, avant nous, un savant géographe français [M. le baron Walckenaer]42.

O próprio Walckenaer, a quem Santarém não poupava elogios como “um dos homens mais eminentes da Europa e profundamente sábio como geógrafo”, ter-se-ia admirado da publicação do seu consocio português, pela dificuldade em concretizar um trabalho no qual seriam indispensáveis o saber, a coragem e a erudição profunda”43.

Para além de Walckenaer, sabemos, por palavras do visconde de Julho de 1842, que a sua mais recente obra conseguira fazer retractar Avezac, “un des hommes le plus acharnés à la priorité des Normands” e “um dos mais perigosos, porque escutado tanto nos meios científicos como nos diplomáticos”44.

Pela segunda vez, Humboldt redige uma missiva em resposta à oferta de um exemplar e tece considerações sobre o respectivo conteúdo:

Monsieur le Vicomte

Je suis touché de la bienvaillance affecteuse avec laquelle vous daigné, cher et ilustre confrére, me faire participer de vos richesses.

Ce sont des magnifiques cadeaux que ne seront seulement pour moi des objets

42 Visconde de Santarém, Recherches sur la priorité de la découverte des pays

situés sur la côte occidentale de l’Afrique…, Paris, Librairie Orientale de Veuve

Dondey-Dupré, 1842, p. 189. 43 Joaquim Bensaúde, Ibidem, p. 235. 44 Idem, Ibidem, p. 235 e n. 3.

(20)

d’amiration, mais que serviront à rectifier,

dans le dernier volume de mon Examen critique…, des assertions sur les côtes d’Afrique qui, manquant des documents, je puis avoir

trop legérement, ou plutôt, trop positivement mise en avant. Vous avez placé bien haut votre

nom par les publications de vos Rercheches… C’est refaire l’histoire des découvertes africaines et jetter une lumière innatendue sur des points les plus importants de la Géographie. Je lirait bien souvent votre belle introduction: je me fais facilment arracher les Dieppois que je n’ai jamais tenu au côeur, j’ai plus de douleur de me séparer de Mr. Ferrer. Vous êtes un maître auquel on

soumet avec une philosophique résignation.

[…] (45). Agréez, mon illustre ami et confrére, l’hommage de ma respecteuse reconnaissance. Le 22 Octobre 1842

Signé (Alex. de Humboldt.)46

A carta de Humboldt vem reproduzida no interior de outra, datada de 31 do mesmo mês, na qual é afirmado como “o célebre Barão de Humboldt, o sábio mais enciclopédico dos nossos dias e ao mesmo tempo um dos homens políticos que goza hoje de maior influência em Prússia”47.

45 Outra passagem ilustra a consideração que Humboldt tinha sobre o percurso de vida pública que Santarém mantivera: “Le Tableau des relations politiques et

diplomatiques du Portugal [Quadro Elementar das relações políticas e diplomáticas de Portugal com as demais potências do mundo…, 2ª edição, ts. I e II, Paris, 1842] est une de ces vastes entreprises qui honorent notre siècle. Il est beau de quitter les affaires [publiques] et de se venger par des monuments élevés à la gloire de la Pátrie”.

46 Visconde de Santarém, Correspondência do…, Op. Cit., vol. VI, p. 291. Itálico meu. 47 Idem, Ibidem, p. 288. Ainda a 10 de Janeiro de 1844, na sua nova tiragem do

Atlas, o visconde refere-se, mais uma vez, a Humboldt de forma admirativa a

respeitosa (Atlas du vicomte de Santarem. Édition fac-similée des cartes

definitives, organisée… par Martim de Albuquerque, Lisboa, Administração do

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Ora esta missiva e a questão de uma provável, ou próxima, retractação de Humboldt acerca da prioridade portuguesa na chegada à Guiné, em hipotético volume VI do Examen critique…, leva-a a ser frequentemente mencionada, em obras de historiografia portuguesa dos descobrimentos do século XX, a partir da sua publicação, em 191948. Armando Cortesão qualifica as cartas de Humboldt de 1841 e 1842 como “documentos… tão honrosos para o grande Visconde de Santarém como para o grande Barão de Humboldt, que teve a delicadeza e a coragem de os escrever. Não há dúvida que Humboldt era tão cavalheiro como sábio”49.

5. Final da polémica americana e regresso da africana (1842-1845)

Um segundo livro do visconde de Santarém em francês prolonga a atenção sobre o Examen critique…: as Rercherches

historiques, critiques et bibliographiques sur Améric Vespuce, 1842.

Nele, o autor português menciona amiúde o primeiro tomo do Examen

critique…, de 1836 e sistematiza o que são as afirmações do autor

prussiano sobre as viagens de Colombo e Cabral e sobre as dúvidas acerca das pseudo-viagens de Vespúcio em 1501 e 1503, ao serviço de D. Manuel I. Ou seja, consegue captar o essencial das passagens do

Examen critique… que substanciam lacunas acerca da autenticidade

48 Aparece impressa, pela primeira vez, em 1919, quase oitenta anos depois de redigida (Visconde de Santarém, Correspondência do…, Ibidem, vol. VI, p. 291); por Joaquim Bensaúde, Les legendes allemandes…, Op. Cit., 1917-1920, pp. 238-239; por Armando Cortesão, Cartografia e Cartógrafos Portugueses…, Op. Cit., vol. II, 1935, pp. 372-373; e na década seguinte, em “Três cartas inéditas”, Novidades de 16/11/1941, p. 1. Cortesão refere-se-lhe novamente em 1969, em História da

Cartografia Portuguesa, Op. Cit., vol. I, p. 28, n. 41.

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dos relatos vespucianos. Seria tal estruturação, em contradição com o discurso geral de Humboldt sobre as navegações portuguesas e, em particular, as de Américo Vespúcio, o que assustava o barão Humboldt, segundo Ferdinand Denis, ao ponto de pedir ao visconde para não publicar este seu livro?50.

Certo é que de 1842 a 1845, impera o silêncio sobre a suposta prioridade normanda, aparentemente refutada. Alexander von Humboldt deixa de se ocupar com o Examen critique…, que Armando Cortesão afirma ter sido publicitado como uma edição em dez volumes51.

Avezac, por seu lado, retoma as reflexões e escritos sobre a Atlântida, as Antilhas de São Brandão e a Guiné descoberta pelos normandos. Chega a solicitar e a conseguir “a necessária licença” para falar sobre a mais recente memória na Academia das Inscrições e Belas-Letras, do Instituto de França, da qual não era membro – ao contrário, por exemplo, do visconde de Santarém. Este relata que, a 9 de Dezembro de 1845, “O nosso amigo Avezac foi muito mal sucedido, com a leitura da sua memória. O nosso Walckenaer [secretario perpétuo da Academia] saltou-lhe logo com tal rigor que ele esteve a ponto de não acabar a leitura; outros membros também o não pouparam. […] Apesar deste contratempo, ele imprimiu-a nos Novos Anais das Viagens”52. Ou seja, mesmo refutadas, tais teses eram propagadas pela imprensa científica.

50 Visconde de Santarém, Recherches historiques, critiques et bibliographiques sur

Améric Vespuce, Op. Cit., 1842, pp. 70, n. 1, 81-83, 95, 110-114, 129-130, 161-162,

171-172, 194-197 (t. IV, 1838), 209 e n. 2 (idem), 210-215 (ts. IV e V, 1838 e 1839), 235, 239-240, 243-244 e 248-249.

51 Armando Cortesão, Ibidem, p. 28, n. 42.

52 Joaquim Bensaúde, Ibidem, p. 241 e Visconde de Santarém, Correspondência

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6. Do Cosmos ao Essai (1845-1849)

Sem, provavelmente, perder de vista o que Avezac voltava a defender, o barão de Humboldt prepara a edição do Cosmos, saído em alemão em três volumes iniciais em 1845 (Abril), 47 e 50 e em francês em 1846 e 1848, com tradução do primeiro volume pelo astrónomo Hervé Faye e revisão de François Arago53.

Hervé confessa ter demorado perto de um ano com a tradução do volume inicial (1845-1846). Ao mesmo tempo, decorre a tradução do segundo volume por Charles Galuski, pois logo em Outubro de 1846 parte desse texto em francês é transcrito no Bulletin da Sociedade de Geografia, por comunicação de Guiginiaut54. Uma das passagens citadas reitera a suposta erudição descritiva de Vespúcio, face à de Colombo:

L’Amérique, quand elle fut découverte, exerça une invincible séduction sur les peuples de l’Occident. […] […] la fantasie excitée par un si grand spectacle, ajoutait encore dans des descriptions de Colomb et de Vespucci un nouvel attrait à tant de merveilles. Ce dernier, en effet, décrit les côtes du Brésil en veritable peintre, assez versé du reste dans la lecture des poètes anciens et modernes55.

Entretanto, entre 3 de Novembro de 1847 e 26 de Maio de 1848, por conselho de Letronne, o visconde de Santarém vai lendo

53 Armando Cortesão, Ibidem, p. 27 e Alexander von Humboldt, Cosmos: essai

d’une description phisique du monde, Paris, Gide et Compagnie,

Libraires-Éditeurs, t. I, 1846, pp. I-IV. Logo no ano seguinte surgia uma reimpressão, desta vez pela Imprimierie de Fain et Thunot, 1847, do primeiro vol.

54 Ferdinand Denis, Journal (1829-1848…), Op. Cit, pp. 145-146 e n. 2 (entrada de 27 de Abril de 1845). “La découverte du Nouveau-Monde donne un nouvel essor à la Littérature descriptive”, Boletim da Sociedade de Geografia de Outubro de 1846, pp. 209-225, reproduzindo o Cosmos, t. II (ed. alemã), pp. 53-63.

55 Bulletin de la Société de Géographie, troisième série, tome sezième, Paris, Chez Arthus-Bertrand, 1846, p. 212.

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partes da obra Essai sur l’histoire de la cosmographie et de la

cartographie pendant le moyen-âge, et sur les progrès de la géographie après les grandes découvertes du XVe siècle… na Academia das

Inscrições e Belas-Letras56. É provável que considerasse que na Sociedade de Geografia, o poder de Avezac fosse tal que as teses do ora presidente, ora vice-presidente da Comissão Central, não permitissem um diálogo elucidativo e a salvo de interpretações mitológicas da geografia medieval e renascentista. O visconde responderá, na introdução do primeiro tomo do Essai…, de 1849, que os relatos dos viajantes medievais eram tidos, à época, como romances e objectos fabulosos, sem influência directa sobre as bases da ciência geográfica, conhecimento geral do globo e dos países distantes. O verdadeiro estado da ciência e dos conhecimentos gerais encontrava-se todo, defendia, nas obras dos cosmógrafos, nos historiadores e nas representações cartográficas medievais57.

No segundo semestre de 1848 é publicada a tradução do segundo volume do Cosmos. O tradutor, Charles Galuski, agradece o auxílio prestado por Letronne e Guigniaut em tal espinhosa tarefa, num prefácio datado de Julho daquele ano58. No capítulo VI da segunda parte, intitulado “Desenvolvimento da ideia de Cosmos nos séculos XV e XVI”, pp. 279-362, iniciado com o que Armando Cortesão designa por

56 Visconde de Santarém, Essai sur l’histoire de la cosmographie et de la cartographie pendant le moyen-âge, et sur les progrès de la géographie après les grandes découvertes du XVe siècle…, t. I, Paris, Imprimerie Maulde et Renou, 1849, p. XXXVII e n. 1.

57 Idem, Ibidem, pp. XXXII e XXXIII.

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“confusa tirada”59, sente Humboldt a necessidade de distinguir a “primeira e incontestável descoberta” da América do Norte pelos normandos (vikings), à volta do ano 1000, das expedições que mais tarde conduziram ao conhecimento das regiões tropicais desse mesmo continente. Acaba por conceder que com as mitologias norte-europeias, nada ganhou a ciência da natureza. E fala na suposta viagem de Colombo à Islândia em 1477, deixando no ar a hipótese – que refuta – de uma transmissão de conhecimento sobre o Novo Mundo passada ao navegador genovês60. Imagina, de novo, como sucedera em 1836 no

Examen critique…, Martin Behaim embarcado com Diogo Cão e,

mesmo, presidente de uma junta portuguesa de matemáticos61. Vespúcio é, uma vez mais, um relator pitoresco, que viajou para o Novo Mundo pelo menos por três vezes62. O sábio prussiano não deixa de fazer regressar “Don Jayme Ferrer”, descobridor do Rio do Ouro em Agosto de 1346. O mesmo de quem confessava, em 1842, ao visconde de Santarém, sentir grande dor em se separar63. E conclui o dito capítulo, a propósito das transformações científicas e civilizacionais trazidas à Europa pela chegada de Colombo ao Novo Mundo, com a afirmação de que “la hardiesse du navigateur génois est comme le premier anneau dans la chaine sans fin des mystériaux êvénements des découvertes”. Isto é, antes de Cristovão Colombo, tudo é desconhecido, defende Alexander von Humboldt, como se meros sete

59 Armando Cortesão, História da Cartografia Portuguesa, Op. Cit., vol. I, p. 29, n. 43 (“O século XV pertence àquelas raras épocas na história do mundo em que todos os esforços do espírito humano se investem, com carácter comum mas determinado e manifesto, de uma direcção inalterável para um só objectivo”, tradução de Cortesão).

60 Alexander von Humboldt, Cosmos…, Ibidem, vol. II, 1848, pp. 282-291.

61 Idem, Examen critique…, Op. Cit., t. I, pp. 277 e 290, apud Armando Cortesão,

História da Cartografia Portuguesa, Ibidem, p. 29 e Alexander von Humboldt, Cosmos…, Ibidem, vol. II, pp. 292 e 355-356.

62 Idem, Cosmos…, Ibidem, vol. II, pp. 348 e 352. 63 Idem, Ibidem, p. 312.

(26)

anos antes não tivesse sido publicada a Crónica do Descobrimento e

Conquista da Guiné.

As duas únicas referências feitas aos descobrimentos portugueses no hemisfério ocidental, numa perspectiva tanto de navegação astronómica quanto de conhecimento geográfico positivo, consistem na menção da mitológica Escola de Sagres de D. Henrique (na qual teria ocorrido a nomeação, como director, de Jacques de Maiorca) e na valorização do papel do infante64. Se em 1836-39 Humboldt “não conhecia o problema [da prioridade na chegada à África ocidental] tão bem como julgava”, como afirmou Armando Cortesão, o mesmo não pode ser dito em 1847, quando publica em alemão o segundo volume do Cosmos65.

A partir de 1849, com a publicação de uma nova edição do Atlas e do primeiro dos três tomos do Essai…, o visconde de Santarém parece adoptar uma abordagem sistémica para responder ao que Estancelin, Avezac e Humboldt defendiam. Já lhes respondera directamente, em obras publicadas em 1841-1842. Mas, face ao recrudescer das suas teses, centra-se agora em provar que, segundo Hugh Murray, a geografia é a ciência que melhor faz ver quão longa e penível foi a estrada percorrida pelo espírito humano para sair das trevas da incertitude e alcançar conhecimentos fundamentados e positivos66. Para tal, havia que explicar as representações gráficas onde estão figuradas todas as teorias sistemáticas da cosmografia e da geografia da Idade Média antes das grandes descobertas do século

64 Idem, Ibidem, pp. 312, 320-321 (traduzido por Armando Cortesão, História da

Cartografia Portuguesa, Idem, pp. 28-29) e 362. Joaquim Bensaúde, Les legendes allemandes…, Op. Cit., pp. 223 e n. 3 e 227, transcreve e critica fortemente esta

afirmação de Humboldt.

65 Armando Cortesão, Ibidem, p. 28, n. 41.

66 Visconde de Santarém, Essai…, Op. Cit., t. I, p. XIII e n. 1 e XXII, citando Murray,

Histoire complète des Voyages et Découvertes en Afrique…, t. I., Paris, Chez Arthus

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XV67. Também as legendas de mais de quarenta peças cartográficas permiam-lhe provar a prioridade da descoberta do Novo Mundo por Colombo e a do Brasil por Cabral, em trabalhos de menor dimensão, mas complementares aos do Essai…68.

Conclusões

Alexander von Humboldt evidenciou-se, durante mais de sessenta anos (1799-1859), pela recolha, colecção e interpretação de informação científica, localmente, ou através da sua rede de correspondentes espalhados pelo mundo. Construiu, dessa forma, uma obra multidisciplinar, inovadora, original, sólida. Uma das excepções parece ter sido a da história dos descobrimentos europeus, na qual a reunião de materiais, bebidos em escritores e académicos como Estancelin e Avezac, foi feita com uma metodologia menos rigorosa e crítica. Lendo fontes em castelhano e traduções francesas da cronística portuguesa, elaborou visões histórico-geográficas que se tornaram teses apriorísticas e indocumentadas acerca dos descobrimentos portugueses, secundarizados face ao de outros povos europeus (normandos, maiorquinos, florentinos). A obra, reactiva, mas respeitosa, do visconde de Santarém impressionou o sábio universal que foi Humboldt, o que não impediu o autor prussiano de persistir em tais visões (por exemplo, acerca das pseudo-viagens de Américo Vespúcio). O mundo científico-cultural franco-germânico adoptou, naturalmente, as leituras do génio do seu tempo, muito mais do que as do português, morto sem reimpressão dos seus livros essenciais das décadas de 1840 e 1850. Assim se perpetuam mitologias auto-renovadoras, geração após geração, sem aparente possibilidade de refutação.

67 Idem, Ibidem, p. XXIV. 68 Idem, Ibidem, p. LVII.

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