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Paisagens de Produção: A atividade agrícola como instrumento de valorização da Paisagem

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RESUMO

A atual crise económica global acarreta severas consequências no bem estar da nossa sociedade, suscitando fome, pobreza, desemprego e abandono das zonas rurais, contribuindo assim para a progressiva degradação dos recursos naturais.

O desenho, o planeamento e a gestão do território de uma forma equilibrada, podem funcionar como uma importante ferramenta de inversão desta tendência, na medida em que envolvem diretamente um recurso extremamente valioso, flexível e diverso que reúne fenómenos de índole económica, ecológica e social – a Paisagem.

No mesmo âmbito, a agricultura, pelo seu caráter multifuncional revela diversas potencialidades para a mitigação destes problemas, desempenhando um serviço e uma função da paisagem que simultaneamente cria riqueza e melhora a qualidade de vida da população.

Pelas razões anteriormente referidas, torna-se imperativo que o Arquiteto Paisagista no desenrolar da sua atividade considere a importância de estabelecer uma relação harmoniosa entre a natureza e os ecossitemas produtivos, nos quais a agricultura pode assumir um papel preponderante. Esta ação irá promover a criação de paisagens sustentáveis que, para além de valores estéticos e recreativos, contemplem uma dimensão ecológica e económica.

O conceito de paisagem agrícola pode assumir uma influência na projeção socioeconómica de cidades ou regiões. Desta forma pretende-se determinar os seus impactos, benefícios e insuficiências, perspetivando-se a reflexão sobre a sua aplicabilidade e utilização em matéria de Arquitetura Paisagista.

“A mãe Terra – o nosso lar – está sobre pressão…Sem uma base ambiental sustentável, temos pouca esperança em atingir os nossos objetivos de redução da pobreza e fome e de melhoramento da saúde e da qualidade de vida humana”

(4)

ABSTRACT

The actual global economic crisis exerts severe consequences on our society, evoking hunger, poverty, unemployment, rural exodus or even the progressive destruction of the natural resources.

The design planning and management of the territory in a sustainable manner can work as an important tool to revert these outcomes, as they directly involve an extremely cherished, flexible and diverse resource, that reunites economic, ecological and social phenomena – the Landscape.

On the same wavelength because of its multifunctional character, agriculture can effectively act as an agent to solve these problems by promoting both landscape services and functions that provide the creation of wealth wellness and people wellness.

For the above mentioned reasons, it is of the utmost importance that the Landscape Architect, in his professional activity, considers the importance of the achievement of a balance among nature and productive ecosystems, in which agriculture can assume a core role. This action, will promote the creation of sustainable landscapes that besides aesthetics and recreational values, can also contemplate a true concern about the ecological and economic dimension.

The concept of agricultural landscape might influence the socio-economic growth of cities and regions. Therefore it is intended to determine its impacts, benefits and insufficiencies, in order to reflect about its applicability and relevance in Landscape Architecture matters.

“Mother earth-our home-is under pressure…Without a sustainable environmental base, we will have little hope of attaining our objectives for reducing poverty and hunger and improving health and human well-being”

(5)

Índice

Capítulo 1 - Introdução ... 9

1.1- Apresentação do tema ... 9

1.2 - Objetivos do trabalho ... 10

Capítulo 2 – Metodologia de trabalho ... 11

Capítulo 3 – A atividade agrícola como instrumento de valorização da Paisagem ... 12

3.1- O vínculo entre o Homem, a Paisagem e a Agricultura ... 12

3.2- A produção agrícola e o processo de design da paisagem ... 15

3.3- Os modos de produção em paisagens agrícolas sustentáveis ... 18

3.4- Os incentivos para a gestão das paisagens agrícolas ... 20

Capítulo 4– Projetos de referência ... 22

4.1- Parque de Aranzadi: Enquadramento e situação de referência ... 22

4.1.1- Parque de Aranzadi: Situação Proposta ... 24

4.2- Parque Urbano de Ferrara: Enquadramento e situação de referência ... 28

4.2.1- Parque Urbano de Ferrara: Situação Proposta ... 30

4.3- Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas: Enquadramento e situação de referência ... 34

4.3.1- Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas: Situação Proposta ... 36

Capítulo 5– Conclusão ... 41

Capítulo 6– Bibliografia e Webgrafia ... 44

(6)

Lista de anexos

Anexo 1

: O atelier de Arquitetura Paisagista – PROAP

Anexo 2:

Compêndio de notas biográficas sobre os autores

Anexo 3:

Parque de Aranzadi

Anexo 4:

Parque Urbano de Ferrara

Anexo 5:

Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas

(7)

Lista de figuras

Fig.1 – Diagrama explicativo dos objetivos a atingir com o desenvolvimento do trabalho

Fig.2 – Quadro metodológico do trabalho desenvolvido

Fig.3 – Diagrama explicativo do conceito de multifuncionalidade na paisagem agrícola

Fig.4 – Localização do meandro de Aranzadi (fonte: PROAP)

Fig.5 – Visualização da atividade agrícola exercida no Parque de Aranzadi (fonte: PROAP)

Fig.6 – Identificação da área correspondente ao Parque Urbano de Ferrara (fonte: PROAP)

Fig.7 – Diagrama explicativo das principais caraterísticas do Parque Urbano de Ferrara

Fig.8 – Localização do Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (fonte: PROAP)

Fig.9 – Visualização 1 do sistema agroflorestal proposto para o Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (fonte: PROAP)

Fig.10 – Visualização 2, do sistema agroflorestal proposto para o Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (fonte: PROAP)

(8)

Acrónimos

CGA: Centro de Gestão e Acolhimento  CQ: Controlo de Qualidade

CPUL: Continuous Productive Landscape DOC: Denominação de Origem Controlada  DOP: Denominação de Origem Protegida  EEA2020: Estratégia Europa 2020

FAO: Food and Agriculture Organization

FEADER: Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural  GAP: Good Agricultural Practices

GHT: Green Harvest Technology

IATP: Institute for Agriculture and Trade Policy IES: Incentives for Ecosystem Services in Agriculture MA: Millennium Ecosystem Assessment

MPB: Modo de Produção Biológico

OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico  PES: Payments for Ecosystem Services and Food Security

PG: Plano Geral  PI: Proteção Integrada

PRODER: Programa de Desenvolvimento Rural  PRODI: Produção Integrada

UE: União Europeia

UP: Unidades de Programa

VQPRD: Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada  WLC: Working Landscapes Certificate

(9)

1. Introdução

O presente relatório foi realizado no âmbito da unidade curricular de Estágio, que integra, parte do processo final de formatura no Ciclo de Estudos de Mestrado em Arquitetura Paisagista, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

Representa na sua essência, um documento, constituído por peças escritas e desenhadas que representam a capacidade individual de investigação e reflexão em matérias relevantes relacionadas com a prática de Arquitetura Paisagista em contexto profissional, explorando e pormenorizando mais especificamente o tema : “Paisagens de Produção – A atividade agrícola como instrumento de valorização da Paisagem”.

Em simultâneo, foi desenvolvido, o processo de aprendizagem de prática profissional no atelier de Estudos e Projetos de Arquitetura Paisagista – PROAP (consultar anexo 1), liderado pelos Arquitetos Paisagistas João Nunes e Carlos Ribas, circunstância que contribuiu para o fomento das minhas competências académicas e profissionais.

1.1 - Apresentação do tema

Considerando o contexto europeu em que vivemos é fundamental reconhecer e incorporar no desenho, na organização e no planeamento da paisagem, os princípios subjacentes ao “crescimento inteligente, sustentável e inclusivo”1 definidos na Estratégia

Europa 2020 (EEA2020).

Estas recomendações expressam um conjunto de adaptações económicas e sociais, necessárias para a mitigação das atuais fragilidades dos diversos setores produtivos, o que, de forma direta ou indireta se pode traduzir, num principio que prevê a inclusão do conceito de produção (agrícola ou florestal), na estrutura de um determinado espaço.

A incorporação da atividade agrícola e florestal na matriz de uma paisagem, pode contribuir para a criação de ecossistemas diversos e multifuncionais que, para além de promoverem a preservação ambiental e despertarem o interesse dos utilizadores, através da pedagogia, da cultura ou do recreio, se revelem como ferramentas para a obtenção de lucro por parte dos empresários agrícolas.

1

(10)

Este tema tem vindo a ser debatido por ecólogos, botânicos, agricultores, engenheiros florestais e arquitetos paisagistas, sendo vasto o contributo literário de diversos autores, desta forma, depreende-se a importância e a amplitude do mesmo.

O principal desafio deste trabalho consiste em avaliar a relevância desta forma de interpretar a paisagem, refletindo sobre a sua aplicabilidade e sustentabilidade.

1.2 - Objetivos do trabalho

O intuito deste relatório é explorar a relação entre o tema da produção agrícola e o processo de desenho da paisagem e nesse sentido, pretende-se desenvolver um exercício de investigação sobre o tema “Paisagens Produtivas – A atividade agrícola como instrumento de valorização da Paisagem”, recorrendo para isso a diferentes fontes de informação. A etapa de pesquisa, recolha e interpretação bibliográfica de matérias relacionadas com o tema, assume-se como o elemento chave que fundamenta a componente teórica do exercício.

Seguidamente objetiva-se diagnosticar projetos de referência alusivos ao tema e desenvolvidos em contexto profissional no atelier da PROAP, no sentido de compreender a aplicabilidade prática dos assuntos investigados. Finalmente pretende-se proceder à reflexão e interpretação dos benefícios que o setor agrícola pode desempenhar na qualificação paisagística de diferentes espaços.

(11)

2. Metodologia de trabalho

No que concerne a elaboração de uma metodologia de trabalho (Fig.2), foi transmitida ao longo da minha formação académica a importância de organizar, estruturar e apresentar uma abordagem projetual para um determinado espaço sobre a forma de três etapas fundamentais: análise - conhecimento e inventariação da paisagem que vamos intervencionar; síntese - resumo das oportunidades e constrangimentos previamente identificadas e proposta - desenho consciente do espaço, considerando para isso, os aspetos abordados nas duas anteriores fases.

Seguindo este princípio e considerando que o presente trabalho representa uma reflexão sobre questões de investigação em Arquitetura Paisagista e não a resolução de um problema específico nesta matéria, surgiu a necessidade de reformular a terminologia até então utilizada, por forma a permitir a sua correta adaptação ao exercício. Para o efeito substituíram-se, respetivamente, os conceitos de análise, síntese e proposta, por investigação, diagnóstico e reflexão.

(12)

3. A atividade agrícola como instrumento de

valorização da Paisagem

3.1 – O vínculo entre o Homem, a Paisagem e a Agricultura

O termo Paisagem é habitualmente conotado com uma certa ambiguidade principalmente pelo facto da sua definição, depender da subjetividade intrínseca à avaliação de cada observador. Ainda assim, Caldeira Cabral (consultar anexo 2) propõe a sua classificação em Paisagem Natural e em Paisagem Humanizada. O primeiro conceito surge como o “resultado da interacção exclusiva dos factores físicos e bióticos, anteriores à acção do Homem” e o segundo como consequência da “acção multissecular, contínua ou intermitente, do Homem sobre a Paisagem Natural, apropriando-se e modificando-a a fim de a adaptar pouco a pouco às suas necessidades”2

.

Na mesma linha de pensamento, Gonçalo Ribeiro Telles (consultar anexo 2)

esclarece que “a paisagem não é natural. É construída com elementos naturais. É do Homem, como uma casa. É uma construção artificial, baseada nas leis da Natureza"3, o que vincula a forte ligação existente entre o Homem e a Paisagem.

A Agricultura é uma técnica ancestral de cultivo do solo, como sugere a obra de Gaetano Ferro (consultar anexo 2), “sem dúvida que um escritor da Antiguidade Clássica (…) que vivesse de novo hoje, reconheceria nalgumas práticas agrícolas e nos usos comunitários que ainda sobrevivem em certas áreas do Mediterrâneo (…) os mesmos modos de utilização do solo da sua época”4 e pode ser interpretada como “o esforço

deliberado para modificar uma parte da superfície da Terra através do cultivo de plantas e da criação de gado para alimentação ou para valorização económica”5

. Representa uma atividade de produção vegetal e animal indispensável à sobrevivência humana e um motor de transformação da paisagem, na medida em que lhe incute um determinado caráter e uma identidade específica.

2Abreu, A.C. d’, Correia, T.P., Oliveira, R. (2002), “Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal”, pág. 218

3

Cavaco, C. - Pessoas e Lugares [Jornal de Animação da Rede Portuguesa LEADER+]. II Série,nº16 (2004), pág. 4 [consultada a 24-06-2014]. Disponível em www.minhaterra.pt/IMG/pdf/jornalpl16.pdf

4 Ferro, G. (1986), “Sociedade humana e ambiente no tempo. Temas e problemas de Geografia Histórica”, pág. 74-75 5 Rubenstein, J.M. (2003), “The Cultural Landscape: An Introduction to Human Geography”, pág. 496

(13)

A tentativa de interligar estas ideias tende a aproximar os termos de Paisagem (Landscape) e Terra (Land), no entanto, Marc Antrop (consultar anexo 2) considera que a sua distinção deve ser clara e objetiva, afirmando que Terra diz respeito a um “território bem delimitado, na maioria dos casos, organizado e mantido pelo seu proprietário”, ao passo que Paisagem, “é um valor cultural comum, sem fronteiras e, sugere conceitos como cenário, sistema e estrutura”6. Assim sendo, é possível admitir que a atividade

agrícola se desenvolve na Terra, em parcelas destinadas ao cultivo, e que estas por sua vez, se inserem na Paisagem, complementando-a.

Este envolvimento é benéfico para o Homem e remete-nos desde logo para a definição de paisagem agrícola, identificada por Cary como “um conjunto no qual os elementos naturais ou directamente derivados do meio natural (relevo, clima, solo, água, vegetais e animais) se combinam dialecticamente com os elementos humanos”7, filosofia

à qual se acrescenta, a representação de um mosaico de paisagem essencialmente formado por parcelas destinadas à produção de diferentes culturas e à criação de gado. São exemplos destas paisagens os pomares, as hortas, os soutos, os montados e as pastagens.

As paisagens agrícolas, apesar de frequentemente serem associadas a zonas remotas e campestres, não representam um sinónimo de ruralidade. De facto, elas podem ser contempladas na periferia dos grandes centros urbanos e até no próprio tecido intersticial de muitas cidades, sobre a forma de dois distintos sistemas: a agricultura peri-urbana e a agricultura urbana.

O primeiro sistema é referente às “unidades agrícolas perto da cidade que desenvolvem explorações comerciais em regime semi-intensivo ou intensivo, para cultivo de legumes e outros hortícolas, criação de galinhas e outros animais”. O segundo, identifica-se através das “pequenas áreas verdes (terrenos baldios, jardins) existentes dentro da cidade, cuja finalidade é o cultivo e a criação de gado de pequeno porte, para consumo próprio ou venda em mercados de bairro”8.

A função de produção de alimentos é um atributo que a paisagem agrícola

proporciona ao Homem e corresponde à “capacidade dos ecossistemas em

providenciarem bens e serviços que satisfaçam as necessidades humanas, direta e indiretamente”. Os produtos que dela advêm, (frutas, legumes, cereais, carne), devem ser

6

Antrop, M. (2000), “Background concepts for integrated landscape analysis”, pág. 17-18 7

Cary, F.C. (1994), “Paisagem e Agricultura”. In Alves et al (1994), Paisagem, pág. 47-66 8

(14)

interpretados como esses “bens e serviços”9, com os quais se pode gerar riqueza e desenvolvimento e através dos quais se pode acrescentar valor à paisagem.

Tendo como base os estudos desenvolvidos pela Millennium Ecosystem Assessment (MA), é possível entender que o valor de uma paisagem, pode ser apresentado em três domínios: ecológico, sociocultural e económico. O primeiro domínio considera parâmetros como diversidade e integridade. O segundo mede a autenticidade e a ligação cultural que a paisagem estabelece com a população. O terceiro avalia a capacidade produtiva de uma paisagem e contempla a produção de bens comercializáveis (commodities) e de bens não comercializáveis (amenities)10.

De acordo com os dados da FAOSTAT (1999)11, a Agricultura assume-se como o maior ecossistema que a humanidade alguma

vez produziu. A relação simbiótica que celebra com a paisagem, é explicada através dos múltiplos benefícios ecológicos, económicos e socioculturais (comercializáveis ou não) que pode fomentar tais como retenção dos solos,

produção de alimentos, mitigação das

alterações climáticas, interesse paisagístico, fornecimento de água e suporte para a vida animal e vegetal12. Considera-se a paisagem agrícola como diversa e multifacetada (Fig.3), uma vez que envolve atividades como o cultivo

de plantas, a criação animal e a produção florestal. Esta realidade originou, a nível internacional, o reconhecimento do caráter multifuncional da mesma, como é explícito no relatório “Multifunctionality – Towards an analytical Framework”, redigido pela OCDE em 2001, no qual se destaca que “a multifuncionalidade é referente ao fato de uma atividade económica poder ter múltiplas externalidades e como tal, poder contribuir para diversos fins sociais em simultâneo. Multifuncionalidade, é ainda um conceito orientado para uma atividade que se refere a caraterísticas específicas do processo produtivo”.13

10

MA, (2003), “Ecosystems and Human Well-being: A Framework for Assessment” 11

Fonte: http://faostat.fao.org/, consultada a 02-04-2014.

12 Dale, V.H., Polasky, S. (2007), “Measures of the effects of agricultural practices on ecosystem services”, pág. 286-296 13 OCDE, (2001), “Multifunctionality – Towards an analytical Framework”, pág. 11

Valor económico

Valor sociocultural

Fig. 3 - Diagrama explicativo do conceito de multifuncionalidade na paisagem agrícola

Valor ecológico

(15)

3.2 – A produção agrícola e o processo de design da paisagem

O design de uma paisagem é uma matéria da Arquitetura Paisagista e implica atribuir uma estrutura e uma forma física a um dado fenómeno (por exemplo a uma atividade ou uso agrícola), permitindo o seu controle e a sua manipulação. A gestão, o planeamento e o design de uma paisagem são conceitos interligados, desenvolvem-se em conjunto e representam uma abordagem projetual que deve ser articulada com o conhecimento científico e com a capacidade criativa de um dado autor.

Eugene Odum (consultar anexo 2) explica que a paisagem pode ser

compartimentada em diferentes unidades, de acordo com a sua função ecológica, havendo a necessidade de coexistência de ecossistemas jovens devido à sua elevada produtividade, e de ecossistemas maduros pelo seu caráter de proteção, apresentando as seguintes categorias de paisagem:

1. Áreas produtivas (clareiras) – aonde a sucessão ecológica é continuamente interrompida pelo controlo humano, no sentido de se obterem de elevados níveis de produtividade;

2. Áreas de proteção (matas) – nas quais a sucessão ecológica é permitida no sentido de se atingir um estágio maduro, estável e altamente produtivo;

3. Áreas de compromisso (orlas) – onde existe uma combinação ou uma complementaridade entra as áreas produtivas e as áreas de proteção;

4. Áreas urbanas e industriais14

A interpretação da análise desenvolvida por Odum, sugere que se admita que o mosaico paisagístico das paisagens agrícolas, é essencialmente esboçado através de áreas de compromisso. Todavia, John Lyle (consultar anexo 2), considera o termo inadequado, referindo-se às mesmas como “ecossistemas humanos”15 - lugares onde seres humanos e natureza convivem harmoniosamente.

A paisagem agrícola é um produto da criação do Homem, e como tal associa-se a sua conceção a uma intencionalidade e a um conjunto de princípios, técnicas e elementos que contrariam a acidentalidade de todo o processo, permitindo a génese de paisagens sustentáveis, prósperas e diversas do ponto de vista económico, social e

14 Odum, E. (1969), “The Strategy of Ecosystem Development”, pág. 262-270 15

(16)

ambiental, tal como sugere Lyle “pelo processo de design, os seres humanos criaram paisagens ricas e estáveis, ocasionalmente tão bonitas como aquelas que a natureza formou (…) como os terraços nos Andes, aonde os Incas mantiveram a agricultura estável durante centenas de anos”16

.

Os principais desafios inerentes a um projeto arquitetónico desta natureza passam pela integração de pré-existências com valor cultural, social ou económico, pelo equilíbrio entre a componente estética e funcional e pela incorporação de atividades que suscitem o envolvimento dos utilizadores, no sentido de se gerar um espaço exterior sustentável, diversificado e flexível a transformações.17

Cabe ao Arquiteto Paisagista estruturar, dimensionar e quantificar os espaços exteriores de acordo com um determinado conceito ou intenção. Dependendo do objetivo da intervenção, estes espaços podem ser organizados e classificados de diferentes formas. Neste horizonte, João Ferreira Nunes (consultar anexo 1) apresenta as seguintes tipologias:

i. Parque: palavra derivada do latim -Parricus-, correspondente a uma área exterior de uso público, reservado a atividades “não-produtivas e informais, recreativas, lúdicas e sociais”. É formado por sistemas de percursos pedonais, materiais diversos, áreas de revestimento vegetal e equipamentos de estadia;

ii. Parque agrícola: área exterior destinada ao cultivo, geralmente localizada em meios rurais ou periurbanos, de uso público e/ou privado, “cuja estrutura é constituída por um território agrícola nos quais estão presentes elementos agrícolas (redes de percursos, sistemas de irrigação, elementos vegetativos e estruturas arquitectónicas)”.

iii. Parque urbano: área exterior constituinte de uma malha urbana, para recreio e usufruto diário da população. É uma “área verde qualificadora do ambiente que funciona como uma peça urbana” que sugere “uma ligação entre diferentes zonas da cidade”. Da sua configuração fazem parte “equipamentos de uso público (bibliotecas, museus, restaurantes, centros culturais)"18.

16

Lyle, J. (1999), “Design for Human Ecosystems: Landscape, Land Use, and Natural Resources”, pág. 1-3

17 Barreto, A.V., Valle, M., Barreto, F.S. (2009) “Manual de Projecto: Arquitectura Paisagista”, pág. 4-9 18

(17)

A interligação dos princípios subjacentes a cada uma destas tipologias instiga a aproximação entre a paisagem agrícola e o meio urbano, e desta forma, é determinante para a definição do Parque Urbano Produtivo. Este género de parque, contempla fenómenos produtivos, ambientais e sociais e está relacionado com muitas das ideias expostas na obra “Continuous Productive Urban Landscape (CPUL)”, redigida por Katrin Bohn e André Viljoen19, onde é apresentada uma estratégia de planeamento paisagístico de espaços urbanos que incorpora a produção agrícola de bens alimentares (frutas, legumes, cereais entre outros), o fomento da biodiversidade, as áreas exteriores de recreio, a pedagogia e a contemplação da paisagem, as zonas para a preservação ambiental e redes de percursos pedonais e cicláveis.

No Parque Urbano Produtivo pretende-se reunir o maior número possível de sinergias no intuito de se estabelecer um espaço que absorva os aspetos anteriormente referidos e, assim sendo, é importante considerar no seu planeamento, a associação entre as atividades agrícolas e florestais. Esta associação representa por si só, um instrumento de desenho, configuração e organização da paisagem, pelo é importante referir as diferentes classificações que a caracterizam:

i. Sistemas agrosilvoculturais - constituído por elementos arbóreos com função ornamental e/ou produtiva e culturas agrícolas;

ii. Sistemas silvopastoris – destinados à criação de animais e aos espaços florestais arborizados;

iii. Sistemas agrossilvopastoris – incluem elementos arbóreos com função ornamental e/ou produtiva, criação de animais e culturas agrícolas.20

Lyle afirma que as paisagens forjadas pelo homem, tomando como exemplo o Parque Urbano Produtivo, serão sempre, na sua estrutura e função diferentes daqueles que a natureza criou, no entanto, o seu planeamento pode suscitar a reflexão sobre a importância de complementar a conservação ambiental de um lugar, com as necessidades produtivas (económicas) e recreativas (sociais) da população, o que nos leva a concluir que para além de sustentáveis, estas paisagens podem revelar-se como um veículo para o desenvolvimento21.

19

Viljoen, A.,Bohn, K. (2005), “Continuous Productive Urban Landscapes: urban agriculture as an essential infrastructure”,

pág. 34-36

20 Nair, P.K.R. (1993), “An Introduction to Agroforestry”, pág. 21-23 21

(18)

3.3 – Os modos de produção em paisagens agrícolas

sustentáveis

O elevado crescimento populacional verificado ao longo do século XX originou uma revolução no sector de produção agrícola e uma profunda transformação de diversas paisagens, essencialmente marcada pela necessidade de maximização da produção de alimentos e de outros bens indispensáveis à vida e ao bem estar da sociedade. Este facto conduziu à utilização de diferentes técnicas de cultivo do solo que, atualmente, acarretam diversos riscos para o ambiente e para a saúde pública como por exemplo o elevado consumo de água e o uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes.22

É fundamental incorporar na paisagem agrícola, os princípios e os métodos, que permitam garantir uma produção em quantidade e qualidade, no intuito de suprimir as carências alimentares da sociedade e de preservar a vitalidade e a integridade dos recursos naturais. Desta forma salientam-se os seguintes modos para uma produção agrícola sustentável:

Produção Integrada (PRODI)

A produção integrada (PRODI) é um sistema agrícola de conceção de produtos alimentares de qualidade superior que concilia dois ou mais tipos de produção num determinado espaço, facto que remete diretamente para o conceito de consociação de culturas vegetais, no qual se destacam as relações de simbiose estabelecidas entre as diferentes espécies. Ao mesmo tempo, é compatível com a criação de gado, prevendo a salvaguarda do bem-estar animal, gerindo os efluentes produzidos e atendendo à sua alimentação e saúde. É exemplo deste modo de produção a associação entre a olivicultura e o cultivo de leguminosas.

Este tipo de produção representa uma alternativa eficiente e rentável ao sistema de monocultura (cultivo de uma espécie predominante no mesmo espaço), sendo importante para o fomento da biodiversidade, para a estabilização dos ecossistemas agrários, para o combate aos ataques de agentes bióticos e para a promoção da qualidade cénica dos lugares23.

22

Dias, S. (1997), “Código de Boas Práticas Agrícolas – Para a Protecção da Água contra a Poluição com Nitratos de

Origem Agrícola”, pág. 3-4 23

(19)

Proteção Integrada (PI)

A proteção integrada (PI) consiste na “avaliação ponderada de todos os métodos de proteção das culturas disponíveis e na integração de medidas adequadas para diminuir o desenvolvimento de populações de organismos nocivos”24 e exige o conhecimento

exaustivo dos fatores bióticos e abióticos que possam contribuir de forma nociva ou prejudicial no crescimento dos animais e no desenvolvimento das culturas vegetais. As mais-valias ecológicas e ambientais que abarca refletem-se principalmente, na redução do número de intervenções fitossanitárias que se realizam nas explorações agrícolas, no aumento das defesas naturais das espécies cultivadas e na minimização dos riscos para a saúde pública resultantes do uso abusivo de compostos químicos.

Modo de Produção Biológico (MPB)

O Modo de Produção Biológico (MPB) contribui para o fomento da fertilidade dos solos, para o equilíbrio dos ecossistemas e para a redução da poluição, impedindo o recurso a pesticidas sintéticos, herbicidas, hormonas de crescimento e organismos geneticamente modificados. Ao mesmo tempo, promove a seleção das plantas melhor adaptadas às condições edafo-climáticas de cada local e a utilização das práticas de produção animal mais apropriadas a cada uma das diferentes espécies.

A rotação de culturas é uma prática agronómica muito frequente neste tipo de produção e diz respeito à sucessão cíclica de duas ou mais culturas vegetais, numa dada parcela de terreno, de acordo com uma determinada ordem e período. Permite o controlo da propagação de espécies infestantes (como o Lolium rigidum ou Erva-febra), a diminuição da ocorrência de doenças nas culturas (como os nemátodos da batata), a fixação e a incorporação de importantes nutrientes (como o azoto e o fósforo), o controle da erosão e a melhoria da qualidade dos solos25.

O pousio agrícola corresponde a outra prática utilizada em MPB e consiste na interrupção temporária da produção agrícola em terras destinadas ao cultivo ou ao pastoreio de gado, objetivando a recuperação e o melhoramento da fertilidade do solo, o reabastecimento dos recursos hídricos e o controle de pragas e doenças26.

24 Decreto Lei no 256/2009 de 24 de Setembro do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, 2009 25 Barros, J.C., Calado, J.G. (2011), “Rotações de Culturas – Texto de apoio para as Unidades Curriculares de Sistemas e Tecnologias Agro-Pecuários, Tecnologia do Solo e das Culturas e Noções Básicas de Agricultura”, pág. 5-20

26

(20)

3.4 – Os incentivos para a gestão das paisagens agrícolas

O processo de gestão de uma paisagem diz respeito às “acções tomadas, a partir de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, procurando garantir a manutenção regular de uma paisagem, de modo a orientar e harmonizar as mudanças provocadas por processos sociais, económicos e ambientais”27 e neste sentido é crucial identificar os

incentivos que potenciam o retorno económico das atividades desenvolvidas nas paisagens agrícolas, tendo em vista a sua preservação e sustentabilidade.

Neste prisma, surge no ano de 2006, nos Estados Unidos da América, um programa designado por Working Landscapes Certificate (WLC), cujo objetivo central passa por definir um conjunto de práticas sustentáveis de produção de biomassa que beneficiem os produtores, privilegiem a oferta de produtos certificados aos consumidores e atenuem os impactos ambientais provocados pela agricultura.

O conceito foi desenvolvido pelo Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) juntamente com a participação do Green Harvest Technology (GHT) e pode ser interpretado como um incentivo para que os agricultores cultivem as suas terras de forma mais ecológica e rentável28.

O Comité da FAO (Food and Agriculture Organization) desempenha mundialmente, por intermédio do desenvolvimento do sector agrícola, um papel crucial na idealização e execução de estratégias para a erradicação da fome e da pobreza rural, manifestando diversos estímulos para a gestão de paisagens agrícolas sustentáveis, como por exemplo:

O movimento GAP (Good Agriculture Practices) apresentado no ano de 2003, pelo Comité da FAO, abrange atividades relacionadas com as boas práticas agrícolas. Ocupa-se da segurança alimentar, da qualidade dos alimentos, dos impactos ambientais da agricultura, da promoção da biodiversidade e dos direitos dos trabalhadores agrícolas. Inclui incentivos económicos, legais e sociais, para os agricultores que se dedicarem à aplicação prática do conceito29.

27 Decreto no 4/2005 de 14 de Fevereiro do Conselho de Ministros, 2004

28

Fonte:http://www.sustainablebiomaterials.org/criteria.landscape.php, consultada a 03-08-2014.

29

Hobbs, J. (2003), “Incentives for the adoption of Good Agricultural Practises – Background paper for the FAO Expert Consultation on a Good Agricultural Practise approach”, pág. 1-17

(21)

O programa PES (Payments for Ecosystem Services and Food Security) é uma “ferramenta utilizada por diversos setores, incluindo o setor agrícola e florestal, no objetivo de reconciliar as atividades económicas com a conservação ambiental (…) oferecendo uma transição para uma economia verde e para o desenvolvimento sustentável”30.

O projeto IES (Incentives for Ecosystem Services in Agriculture) ambiciona prestar-se como uma plataforma de conhecimento, informando as entidades do setor público e privado, dos incentivos e pagamentos que poderão ser aplicados nas suas explorações agrícolas31.

Em Portugal, o programa PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural), é cofinanciado pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e contribui com cerca de 4,4 mil milhões de euros, para o aumento da competitividade e revitalização económica do sector agrícola e florestal, aliciando o envolvimento e o interesse da população em matérias de paisagismo, economia e ecologia32.

O reconhecimento da qualidade excecional e singular dos bens alimentares produzidos nas paisagens agrícolas pode ser interpretado como um instrumento de dinamização e preservação do equilíbrio destes ecossistemas, uma vez que garante o escoamento dos produtos e a valorização do trabalho desempenhado pelos agricultores.

São exemplos deste processo de certificação, as designações DOP (Denominação de Origem Protegida), VQPRD (Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada) e DOC (Denominação de Origem Controlada), que funcionam como mecanismos de proteção e enaltecimento de produtos como o azeite da Beira Interior, o vinho do Porto, a amêndoa do Douro, o queijo da Serra da Estrela e a carne Arouquesa33.

As políticas de desenvolvimento territorial estabelecidas pela União Europeia (EU), identificam as paisagens multifuncionais de uso agrícola, como um instrumento essencial para a sustentabilidade dos Estados-membros. Como forma de apoiar e incentivar a atividade agrícola são despendidos anualmente cerca de 55 biliões de euros.

30 Ottaviani, D., Scialabba, N. E.H., (2011), “Payments for Ecosystem Services and Food Security”, pág. 284 31

Sonnevelt, M., Neves, B., Faurès, J.M., (s.d), “Incentives for Ecosystem Services in Agriculture (IES)”, pág. 2-15

32 Fonte: http://www.proder.pt/conteudo.aspx?menuid=329&eid=263, consultada a 03-08-2014 33

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4. Projetos de referência

4.1 - Parque de Aranzadi:

Enquadramento e situação de referência

O meandro de Aranzadi (Fig.4) é uma ampla área não residencial de vinte e três hectares, localizada a Norte de Pamplona (Espanha) entre os bairros de Rochapea e Chantrea e a zona histórica da cidade.

Encontra-se limitado em uma extensão de 2km, pelo rio Arga, que se afirma como o elemento natural mais marcante na paisagem, estabelecendo a ligação entre as principais formações montanhosas existentes na sua bacia hidrográfica, na qual se destaca a Serra da Andía, com 1265 metros de altitude.

Esta área assume uma interessante relação com o tecido urbano da cidade, desempenhando funções estruturantes e fundamentais no equilíbrio ecológico, social e económico da mesma (consultar anexo 3).

Desde sempre, foi interpretado como um segundo plano não construído, aberto e liberto da densificada malha urbana que o envolve, funcionando como uma zona de descompressão, passível de ser intervencionada pela própria ausência de desenho que a define.

Aranzadi assume um papel determinante na coesão da estrutura verde e no crescimento harmonioso da cidade, não exclusivamente pela vegetação ripícola que constituí as margens do rio mas, de igual forma, pelas áreas verdes existentes na sua proximidade, como o Parque de la Tejeria e o Parque del Runa. Estes fatores funcionam efetivamente como um corredor contínuo de ativação biológica e como um mecanismo de continuidade ecológica entre o interior e o exterior de Pamplona (consultar anexo 3).

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A paisagem que aqui se revela é constituída por solos de extrema fertilidade, correspondentes na sua maioria a depósitos aluvionares, o que juntamente com condições climatéricas propícias, possibilitam o desenvolvimento da atividade agrícola. A conjugação das características biofísicas com a experiência e com o saber cultivar o solo, justificam o caráter genuíno e excecional dos produtos agrícolas que aqui são produzidos e que de aqui são exclusivos.

O principal valor paisagístico aqui presente é traduzido pela ligação entre circunstâncias muito particulares, como a existência de solo agrícola fértil, renovado e preparado para a prática da horticultura a uma escala particular e empresarial e, a tradição no cultivo e na arte de trabalhar a terra, protagonizada pela população ao longo de anos.

É importante realçar que o envolvimento nos processos agrícolas em Aranzadi representa uma relevante fonte de rendimento para a população. Esta realidade retrata um outro argumento que permite compreender a íntima relação estabelecida entre as pessoas e a terra, o constante processo de construção de paisagem que aqui se manifesta e a tipologia de produção exclusiva que aqui se pratica e que reúne valores gastronómicos, económicos e culturais.

Em contexto urbano, a predominância de parcelas de terreno destinadas à agricultura ao invés da proliferação de espaços reservados à edificação, demonstra a sensibilidade e a importância que a população de Pamplona em tempos atribuiu a esta atividade. Este facto contribuiu para a manutenção de um espaço paisagístico pouco vulgar, dotado de uma tranquilidade que convida à contemplação.

A não edificação em massa de complexos habitacionais nesta área constitui uma oportunidade para a intervenção, realçando a transmissão sucessiva de um legado que nos remete para a preservação de uma identidade rural em toda a sua plenitude, sem obstáculos que interrompam a sua sustentabilidade. Estes valores foram localmente reconhecidos e estão presentes no atual planeamento municipal.

O território assume todavia um carácter incoerente e pouco uniforme, expresso através de uma sucessão de usos distintos e de parcelas ocupadas por entidades públicas e privadas que gerem o recurso solo de forma pouco organizada, sem considerar a sua relação e o seu impacto na envolvente (consultar anexo 3).

As atividades e os espaços existentes, reservados na sua maioria à horticultura e à produção de alimentos, são interpretados como um vazio residual de alguma marginalidade, desprovidos de qualquer conexão e relação com a cidade, ainda que se

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refira a sua proximidade. Este é um território desconhecido, pouco acessível e convidativo, o que lhe confere uma conotação depreciativa.

Apresenta-se desta forma uma paisagem que reúne múltiplas potencialidades, expressas por uma dimensão económica subjacente à produção agrícola, e por uma função ecológica e cultural de um espaço verde de proximidade e de utilização diária e que se encontra subaproveitada (consultar anexo 3).

4.1.1 - Parque de Aranzadi:

Situação proposta

A abordagem anteriormente realizada permite sintetizar os aspetos mais significativos que caracterizam o contexto no qual este espaço se insere, relevando-se crucial a compreensão dos mesmos, para o desenvolvimento de uma proposta devidamente fundamentada.

Esta paisagem reúne pela sua complexidade, diversas oportunidades de intervenção, como a potencialização de alguns dos sistemas já estabelecidos ou a criação de alternativas aos mesmos. É contudo prioritário estabelecer um mecanismo de ação que vá de encontro à mitigação dos seus constrangimentos e à resolução das suas insuficiências.

A constatação de que o estado atual de Aranzadi revela uma degradação progressiva de qualidade de espaço, função e organização, suscitou a conceção de uma tipologia interventiva que induz a um conjunto de soluções que visam fomentar a melhoria da qualidade da sua matriz.

Conceito A proposta apresentada em concurso permite estabelecer a conexão entre duas realidades distintas mas complementares que, pelas suas caraterísticas particulares definem a identidade de Aranzadi – as áreas reservadas à prática de horticultura e os verdes urbanos.

Assim sendo, surge por um lado, a idealização de um parque agrícola no sentido de dotar os espaços de produção que ocupam a área mais próxima do rio, de uma diversidade de elementos atrativos que procuram estimular a cultura, a pedagogia e o

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lazer e simultaneamente promover o envolvimento e a participação da comunidade na exploração da atividade agrícola.

A produção será realizada a céu aberto ou em estufas e organiza-se segundo três princípios (consultar anexo 3) :

1. Talhões de grande dimensão destinados a uma produção em quantidade que responda às necessidades de mercado;

2. Talhões de média dimensão dedicados à investigação científica e ao experimentalismo;

3. Talhões de pequena dimensão com caráter ornamental e pedagógico.

A necessidade de estruturação, organização e unificação de um complexo território que integra trilhos pedestres, residências privadas, estufas, espaços de utilização pública e terrenos incultos determinou, a criação de um parque urbano que, incorpora e relaciona as pré-existências de valor arquitetónico, arbóreo, histórico e escultórico, com os elementos propostos.

Este será um espaço informal com grande capacidade de carga, dotado de uma panóplia de equipamentos que o tornam exponencialmente mais atrativo.

A prioridade do presente raciocínio prende-se, no entanto, com a procura de uma complementaridade funcional e visual entre os dois níveis de conceção paisagística apresentados. A concretização deste objetivo é formalizada sobre a forma de cinco princípios fundamentais de transformação:

Definição de tipologias de espaços A proposta de intervenção, procura na sua fase inicial, o esclarecimento e a afirmação da relação entre as áreas hortícolas e as zonas verdes urbanas, ou seja, entre os espaços a incluir no parque agrícola e no parque urbano.

A proximidade de Aranzadi ao rio Arga e a sua baixa altitude determinam um fator decisivo de distinção entre estas duas tipologias, expresso através de um critério que avalia as possibilidades de inundação a que o espaço está sujeito, sendo que no caso das zonas reservadas à horticultura, pode originar o fomento da fertilidade dos solos.

Idealizou-se a construção de um dique de proteção tendo em vista a preservação do solo agrícola, a necessidade de resguardar os espaços verdes destinados ao lazer para a eventualidade da ocorrência de uma cheia.

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Este mecanismo permite a regularização e o controle da quantidade de água disponível no espaço, garantindo ao mesmo tempo a distinção entre as superfícies que podem ser ou não inundadas. Desta forma revela-se como um elemento fundamental para o pleno desenvolvimento das atividades que aqui se pretendem fomentar.

Organização funcional e percetiva A barreira física estabelecida e representada sobre a forma de um dique de proteção de cheias funciona como um componente essencial para a organização e estruturação de Aranzadi, na medida em que propicia, a nítida distribuição espacial de funções e fluxos entre o território agrícola e o espaço urbano e o estabelecimento de um percurso de ligação com a sua envolvente, incentivando e facilitando a leitura, a utilização e a fruição de todo o espaço.

Pretende-se também uma redução da circulação motorizada no interior do território, confinando o acesso automóvel até ao parque de estacionamento, estabelecido numa das entradas, no limite da área edificada. No entanto a movimentação de veículos prioritários é realizada sem qualquer restrição.

Complementaridade da dimensão urbana e rural Perspetivando uma lógica de gestão singular para a paisagem de Aranzadi que, evidencie uma partilha de conteúdos programáticos e que possa estimular a sua utilização, revelou-se importante a criação de uma interligação sinérgica entre o espaço hortícola e o espaço urbano.

As hortas, para além da sua função produtiva e geradora de riqueza representam, através de programas didáticos que fomentam a interação social, um convite à admiração do espaço.

Por sua vez, os equipamentos, a vegetação e as estruturas propostas para os espaços urbanos, sugerem uma capacidade de atração para atividades culturais e pedagógicas, acolhendo os visitantes em diferentes períodos ao longo do dia.

A relação entre a dimensão urbana e o contexto rural origina um complexo e dinâmico contexto paisagístico, com vantagens no ponto de vista da produção e do lazer.

Valorização dos produtos agrícolas – a marca Aranzadi DOC A qualidade sui generis dos produtos alimentícios produzidos em Aranzadi, como por exemplo os espargos, os tomates e as lentilhas, apresenta-se como um aspeto relevante a considerar e a enaltecer com a proposta de intervenção.

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Sugere-se a criação de exposições no sentido de liberar a comercialização direta dos produtos de origem controlada, sensibilizando ao mesmo tempo o público para o método, a técnica e a arte do seu cultivo.

Outro objetivo de intervenção passa por integrar as variedades produzidas em redes internacionais de promoção de produtos regionais, assegurando da mesma forma a sua proteção institucional e científica (consultar anexo 3).

Da associação entre produção agrícola, ciência, cultura e lazer, resulta um sistema economicamente viável, com benefícios em específico para este território mas também para a cidade de Pamplona.

Idealização dos métodos construtivos – técnicas, materiais e vegetação É de importância extrema para o coroamento da presente proposta, definir um conjunto de soluções construtivas que se enquadrem devidamente com os princípios de ecologia e produtividade pretendidos para Aranzadi.

Desta forma, considerou-se a permeabilidade do solo como um fator relevante a ponderar, na definição dos métodos construtivos deste projeto, pelo que foi incentivada a utilização de materiais com grande permeabilidade, que não interferem com o equilíbrio dinâmico da paisagem.

Prevendo a intensa carga de utilização a que o território estará sujeito, é fundamental considerar um critério de resistência e durabilidade dos materiais, no sentido de prevenir a sua degradação a curto prazo.

O coberto vegetal é expresso através de pequenos bosques formados por vegetação arbórea, arbustiva e herbácea (Fig.5) e desempenha uma função fundamental na regulação microclimática e no controlo da erodibilidade do solo, contribuindo também para o aumento do conforto e para uma maior qualidade de utilização. A estratégia de arborização é crucial para a leitura, interpretação e apropriação da paisagem.

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4.2 – Parque Urbano de Ferrara:

Enquadramento e situação de referência

A cidade de Ferrara, capital da província de Ferrara, encontra-se situada a Norte de Itália, mais especificamente na região de Emília-Romagna. Conta com cerca de 130 000 habitantes e ocupa uma zona húmida e pantanosa que em tempos funcionou como reserva de caça.

O relevo é predominantemente suave e os solos são bastante férteis, uma vez que correspondem aos leitos do principal curso de água que atravessa parte do país, designado por rio Pó.

A norte do centro histórico da cidade, no limite confinante às muralhas e ao rio e numa área de 1200ha, está localizado o sítio sobre o qual esta proposta será esboçada.

A presente área (Fig 6) está incluída em todos os

planos de ordenamento do território que

abrangem a cidade e é formalmente designada por Parque Norte de Ferrara ou Parque Urbano de Ferrara. O seu perímetro baliza as zonas urbanas

de Barco, Malborghetto, Francolino e

Pontelagoscuro.

O local é fundamentalmente marcado pela existência de uma relação sinérgica entre a ruralidade e a urbanidade, pois representa uma zona de aptidão agrícola de caráter peri-urbano, muito próxima da cidade e com possibilidade de edificação limitada (consultar anexo 4). Destaca-se a sua potencialidade de ocupação por diferentes usos, funções e produtividades, sendo este um dos motivos que impulsionou a intervenção.

Atendendo à atual morfologia da área de estudo, é de salientar o forte impacto ecológico e ambiental gerado pela humanização, no qual se destaca o parcelamento do solo agrícola, a instalação de circuitos de rega e drenagem, a implantação de núcleos residenciais/agrícolas e a construção de acessos de ligação ao exterior, percursos locais de serviço e itinerários de passeio.

Fig.6 – Identificação da área correspondente ao Parque Urbano de Ferrara (fonte: PROAP)

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Estas circunstâncias, pelo seu grau de artificialismo, afetaram a qualidade, a integridade e a autenticidade da paisagem, agora distinguida pela elevada fragmentação e homogeneidade.

Ao longo do Parque, é possível verificar a presença pontual de algumas instalações industriais, como uma refinaria de açúcar (Zuccherificio), uma unidade incineradora de resíduos sólidos (Incineratore), um centro de tratamento de águas residuais (Depuratore) e um aterro sanitário desativado (Ex-Discarica) que, pela natureza das suas atividades, têm contribuído na degradação ecológica e ambiental do local (ver anexo 4).

Apesar de todas as virtuosidades que a paisagem sugere, é de referir que os fenómenos de especulação e expansão urbana a que se encontra sujeita, são os que mais têm contribuído para a descaracterização da sua matriz, ao mesmo tempo que se encarregam de negligenciar, o testemunho histórico e a vocação agrícola que a qualificam e que remontam à época Renascentista.

No que concerne à análise da componente agrícola na região da Emília-Romagna, identifica-se a produção de frutos como a principal atividade desenvolvida pelos agricultores, da mesma forma que se verifica a uma menor escala, a produção extensiva de hortícolas e de cereais, a cultura da vinha, a criação de gado e a produção florestal. É considerada uma área geográfica limitada e definida, na qual são concebidos produtos exclusivos, pelo que muitos se rotulam com Denominação de Origem Protegida.

Desta forma, promovem-se em diversas explorações agrícolas, práticas segundo um sistema de produção integrada que, concilia o intensivo uso das terras, com o reduzido recurso à utilização de substâncias químicas, nocivas ao Homem e ao meio ambiente. Este método foi inicialmente testado em culturas vegetais e só se procedeu à sua aplicação no setor pecuário, depois de confirmadas as suas mais-valias económicas e ambientais em comparação com os processos tradicionais.

No mesmo campo de ação, desenvolveu-se uma marca de controlo de qualidade (CQ), cujo principal intuito é o de garantir ao consumidor, o cumprimento por parte dos produtores, das regras e dos padrões estabelecidos para a produção de produtos específicos de excelência.

No local de intervenção, desenvolve-se uma tipologia agrícola de índole familiar de média dimensão, que ocupa intensivamente as terras, com culturas cerealíferas. A esta exploração, sucedem as culturas industriais, a fruticultura, o cultivo de plantas forrageiras e a prática de horticultura. A criação de gado é praticamente inexistente e as áreas florestais têm sido sistematicamente reduzidas, ao longo dos anos.

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As atuais diretivas comunitárias têm conduzido aqui um processo de reestruturação do sistema agrícola intensivo, propondo alterações que permitam diminuir o desgaste do solo, contrariando a ocorrência de fenómenos prejudiciais ao ambiente e favorecendo o envolvimento da comunidade local no setor.

Em termos evolutivos e tendo como referência os últimos vinte anos, conclui-se que a fruticultura sofreu uma redução nos índices de produtividade, justificada em parte, pelo aparecimento de doenças que prejudicaram as culturas e pela reduzida disponibilidade de mão-de-obra nas épocas de recolha da fruta.

Este retrocesso deve-se sobretudo à inércia e à inadaptação de muitos empresários agrícolas, face às especificidades seletivas dos diferentes mercados que devido a fenómenos de globalização, se viram obrigados a satisfazer consumidores cada vez exigentes.

4.2.1 – Parque Urbano de Ferrara:

Situação proposta

Há já algum tempo que a intenção da população de Ferrara é a de criar uma área próxima da cidade que pudesse desempenhar um importante papel de valorização paisagística, ambiental e socioeconómica não só do espaço em si, mas também do território que o circunda.

Todavia, foi em Janeiro do ano de 2004 que o atelier de Estudos e Projetos de Arquitetura Paisagista – PROAP –, por intermédio dos Arquitetos Paisagistas João Nunes e Carlos Ribas, avançou com a proposta do Parque Urbano de Ferrara.

A ideologia interventiva subjacente a esta proposta assentou na interpretação das dinâmicas evolutivas desta paisagem, considerando-se para o efeito, os fenómenos agrícolas e naturais.

A finalidade produtiva subjacente a esta proposta, devidamente contextualizada por uma dimensão social e ambiental, permitirá dotar o território de uma identidade específica e exclusiva.

A ação no Parque procura reunir as condições necessárias para uma produção agrícola competitiva e de excelência, através da consolidação dos solos com melhores apetências para a instalação das culturas e do estabelecimento de uma seleção rigorosa dos produtos que se vão cultivar, capaz de responder às diferentes solicitações dos

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mercados. Paralelamente, objetiva-se reconhecer os valores paisagísticos que possibilitem a transformação de toda a área, num célebre espaço de lazer, investigação e educação ambiental (consultar anexo 4).

Desta forma, propõe-se a preservação da ruralidade agrícola existente, através do aproveitamento das infra-estruturas com valor histórico-cultural relevante – canais de rega, drenagem e acessos – e a reorganização dos principais percursos, áreas lúdicas e espaços de contemplação, otimizando por esta via, ambas as funções de parque agrícola e de parque urbano que se pretendem projetar. Esta dualidade define a base da intervenção e pode ser sinteticamente metodizada, em três conceitos fundamentais:

i. Criação de um espaço informal destinado ao recreio, cultura e pedagogia da população;

ii. Estabelecimento de uma complementaridade sinérgica entre o espaço urbano, agrícola, industrial e natural protegido;

iii. Revitalização do sistema agrícola segundo os métodos tradicionais e a otimização da sua capacidade produtiva;

A viabilidade da implementação e do desenvolvimento da estratégia da PROAP para este parque, dependerá, obviamente, da participação dos habitantes, da colaboração dos trabalhadores e do envolvimento de iniciativas promovidas pelo município ou por entidades privadas, pelo que o sucesso da sua manutenção e o vigor do seu desempenho, estão intrinsecamente dependentes desta circunstância.

Ainda assim, procurou articular-se a organização de uma série de elementos que liberam a coordenação do processo de transformação do território e que assentam, sobretudo, na sobreposição de determinados princípios de desenho da paisagem, à neutralidade do tecido agrícola existente (consultar anexo 4). Salientam-se para o efeito:

i. Os elementos do sistema agrícola reconvertido, dizem respeito às parcelas de terreno que pela sua aptidão agrícola, dimensão ou localização, interessam conservar. Após avaliar as necessidades dos mercados e atendendo a um critério de produção agrícola tradicional de excelência, serão identificados os produtos que aqui devem ser introduzidos;

ii. Os elementos lineares de conexão agrícola e urbana, dos quais são parte integrante as estruturas que garantam a acessibilidade, a interligação e a delimitação das áreas agrícolas - estradas rurais de serviço, caminhos,

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canais de rega e drenagem e sebes de compartimentação - e os sistemas urbanos de circulação – percursos pedonais e cicláveis, vias automóveis; iii. As áreas de caráter urbano, como praças, zonas de contemplação,

restaurantes, museus, estacionamentos e pontos de venda de produtos do parque, devidamente apetrechados de equipamentos e estruturas, no sentido de enriquecer a paisagem com uma componente lúdica e pedagógica que mais facilmente desperte o interesse da população;

iv. As zonas verdes urbanas, formadas pela conversão de talhões agrícolas em prados com elevada capacidade de carga, destinados a atividades recreativas, desportivas, didáticas e expositivas;

A criação deste sistema linear articulado, permite a interligação entre as diferentes áreas e infra-estruturas presentes no território, proporcionando ao mesmo tempo, a sua conexão e ligação com a cidade de Ferrara e com o rio Pó. Por esta razão, representa categoricamente, um importante veículo para o estabelecimento de uma relação harmoniosa entre a ruralidade e a urbanidade.

As instalações industriais existentes, pelos impactos negativos que levantam no ambiente, ecologia e qualidade paisagística do local, foram alvos da seguinte remodelação:

Zuccherificio – a refinaria de açúcar será convertida em uma área de lazer e reserva ambiental, ambicionando-se também a requalificação e a naturalização dos elementos de água aqui existentes;

Depuratore e Incineratore – as áreas envolventes à estação de tratamento de águas residuais e à incineradora de resíduos sólidos serão transformados em espaços ecologicamente ricos e diversos, ao serviço da agricultura e das atividades culturais e pedagógicas de promoção das artes, práticas e técnicas desenvolvidas no parque;

Ex-Discarica – a área inativa de descarga de resíduos sólidos será configurada num parque de desportos radicais, atribuindo-se ao espaço uma função através da valorização de uma componente recreativa, o que certamente incentivará a sua utilização;

Outro objetivo previsto neste plano de ação passa pela reintrodução nos mercados, de um produto agrícola de exceção, tradicional e característico da região que se encontra

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extinto no atual modelo de produção do parque (Frutti Dimenticati), havendo nesse sentido, a convicção de que o seu valor histórico, cultural e económico, se possa revelar como um mecanismo gerador de uma transformação positiva da paisagem.

A identificação deste produto é inspirada na obra de Carlo Pagani, (viveirista de Ferrara com um trabalho notável e reconhecido no colecionismo de exemplares antigos de fruta) que se encarregou de separar criteriosamente, uma panóplia de variedades de maçãs e de peras, cultivadas localmente ao longo de séculos e substituídas, progressivamente, por espécies de maior rentabilidade, compatíveis com a ocorrência da industrialização do sector frutícola.

Os testemunhos prestados pelos diretores do mercado abastecedor de Bolonha e da rede de supermercados Coop, evidenciam o interesse e a vontade em se fidelizarem com os agricultores que se dediquem à produção das referidas variedades, em modo de produção biológica. Assegurado o escoamento da produção frutícola, através de uma lógica de mercados protegidos, estima-se que este conceito de desenho da paisagem com recurso a pomares, se revele como um mecanismo economicamente viável.

A proposta para o Parque Urbano de Ferrara confina diversas características (Fig.7)

que a tornam exequível, uma vez que desencadeiam a valorização paisagística, económica, social, cultural e ambiental de todo o território. Sumariamente, apresentam-se da seguinte forma: Tecido agrícola produtivo de excelência Espaço catalisador da relação entre o rural e o urbano Meio de valorização do património cultural de Ferrara Área de gestão e preservação dos

recursos naturais

Zona lúdica com elevada qualidade cénica

Fig.7 – Diagrama explicativo das principais caraterísticas do Parque Urbano de Ferrara

Veículo de conhecimento e inovação

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4.3 - Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas:

Enquadramento e situação de referência

O Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (Fig.8) localiza-se no interior da cratera de abatimento do vulcão das Furnas e está situado a nordeste do Oceano atlântico, no arquipélago dos Açores, mais especificamente no concelho de Povoação, a sudoeste da ilha de São Miguel. O contexto paisagístico em que se insere é de extrema beleza e expressividade (consultar anexo 5), caracterizando-se por um relevo montanhoso, acidentado e de origem

vulcânica, que, configura a

distribuição da vegetação natural e das atividades humanas que aqui se desenvolvem.

A bacia hidrográfica da lagoa estende-se por aproximadamente 1244ha e contempla 533ha de matos e florestas mistas e 711ha de áreas agrícolas, nas quais se destacam as pastagens permanentes.

É formada por 8 ribeiras de carácter torrencial que nascem nos locais de maior altitude a Oeste e que

atravessam áreas agrícolas e

florestais, alagando os terrenos envolventes em certos períodos do ano.

Os constantes fenómenos de erosão hídrica que induzem são, responsáveis, pelo movimento de grandes massas de solo contaminado com fertilizantes, provenientes de áreas destinadas ao uso pecuário intensivo. Os diversos resíduos que este incorpora, fragilizam o sistema agrícola, no sentido em que promovem a poluição das águas e a degradação do material vegetal.

Os terrenos que aqui existem são constituídos por 3 tipos de solos: andossolos, aluviossolos e materiais piroclásticos finos. Os primeiros apresentam maior

Fig. 8 – Localização do Parque Integrado na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (fonte: PROAP)

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