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Sistemas de contenção associados ao maneio e instalações em bovinos de carne no concelho de Vila Pouca de Aguiar

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Academic year: 2021

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Vila Real, 2015

Sistemas de contenção associados ao maneio

e instalações em bovinos de carne no concelho

de Vila Pouca de Aguiar

Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária

Susana Margarida Machado dos Santos Lima

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Vila Real, 2015

Sistemas de contenção associados ao maneio

e instalações em bovinos de carne no concelho

de Vila Pouca de Aguiar

Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária

Susana Margarida Machado dos Santos Lima

Orientador: Professor Doutor Filipe Silva

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III

Agradecimentos

Gostaria de começar por agradecer ao Professor Doutor Filipe Silva, acima de tudo, por me ter entusiasmado pela área de grandes animais, por ter aceitado ser meu orientador, por me ter ajudado na escolha do tema deste trabalho e pela sua disponibilidade e ajuda na sua realização.

Ao Professor Doutor Miguel Quaresma, pelos conhecimentos transmitidos nas horas de estágio do curso de Medicina Veterinária, e pela ajuda na hora de escolher um local para realizar o estágio curricular.

Ao Doutor Luís Feio e à Doutora Isabel Pequeno, da ADS de Vila Pouca de Aguiar, pela partilha de informação teórica e prática de como funciona uma ADS, da sua importância na erradicação e vigilância de tuberculose e brucelose animal. À restante equipa da ADS, Marília, Tozé, Tó, Henriques e Zé Maria, por toda a ajuda prestada e pela amizade formada ao longo de três meses.

A toda a equipa da TrialVet Asesoría e Investigación Veterinaria S.L. que me permitiu conhecer uma atuação médico-veterinária mais abrangente, pró-ativa e preventiva, com uma maior proximidade com os produtores, o que me fascinou. Um agradecimento especial à Doutora Cristiana Justo, por todo o seu apoio do início ao fim, pelo à vontade e familiaridade que contribuiu para um melhor ajuste a um local desconhecido.

Aos meus pais, por todo o apoio e confiança que sempre tiveram em mim, e por me ajudarem a concretizar o sonho de ser veterinária.

Aos meus tios, Carlos Machado dos Santos e Paula Machado dos Santos, por estarem sempre presentes ao longo destes seis anos.

Aos meus tios Tó e Jessy e ao meu primo Tommy, por disponibilizarem o seu tempo e trabalho para me ajudarem nesta dissertação, que foram essenciais na sua realização.

Às minhas amigas, Catarina, Rita, Sara e Marta, por tornarem a minha vida académica muito mais especial, sabendo que estas serão amizades que nunca se irão perder.

Ao meu namorado, Ricardo Neto, por ser o meu melhor amigo, por estar presente sempre que preciso e por ter tornado a minha vida mais feliz. Obrigada.

Não podia deixar de mencionar duas pessoas muito importantes que infelizmente não vão poder ver esta dissertação concluída. Quero aqui dedica-la ao meu tio Francisco António Machado dos Santos (1951-2014) e ao meu tio-avô Manuel Franco (1924-2015).

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IV

“Nature is cruel but we don't have to be”

― Temple Grandin

“Animals make us Human.”

― Temple Grandin

“I think using animals for food is an ethical thing to do, but we've got to do it right. We've got to give those animals a decent life and we've got to give them a painless death. We owe the animal respect.”

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V

Resumo

Um bom maneio é essencial para garantir o bem-estar animal nas nossas explorações pecuárias. Com a necessidade de aumentar a produção de alimentos a nível mundial, verificou-se uma intensificação da produção animal e consequentemente um maior interesse por parte do consumidor relativamente aos produtos que adquire no que respeita a condições de bem-estar.

É igualmente importante, não só para os produtores, mas também para os restantes funcionários das explorações e até para os Médicos Veterinários, conhecer o comportamento natural dos bovinos quando inseridos na sua manada. Conceitos como a

flight zone e o ponto de balanço são fundamentais para um correto maneio de bovinos,

nomeadamente na sua movimentação nas mangas de maneio, de forma a decorrer calmamente e sem provocar stress desnecessário aos animais. Em raças de carne, a aplicação e domínio destes conceitos revela-se ainda mais importante de modo a assegurar melhores condições de segurança aos operadores e uma melhor eficiência das explorações com rentabilização do tempo.

O objetivo desta dissertação foi observar e avaliar os diferentes sistemas de contenção para a realização de saneamento em explorações de raças de carne no concelho de Vila Pouca de Aguiar, na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, destacando alguns exemplos positivos e negativos observados durante o estágio, com eventuais possíveis correções. Neste concelho, a maioria dos produtores com grandes efetivos possuem mangas de maneio próprias, sendo que apenas um produtor possui uma manga de maneio curva. A maioria das explorações familiares utiliza ainda métodos simples como prender os animais, geralmente calmos, a tratores ou postes com cordas. Algumas explorações com um efetivo relativamente pequeno, optam por usar troncos de contenção ou mangas de maneio comunitárias.

Palavras-chave: bem-estar animal; maneio; parques de maneio; mangas de maneio; flight

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VI

Abstract

Good handling and husbandry is essential to ensure the animal welfare in livestock farms. With the increased demand off livestock products worldwide, the farmers have intensified their production which led the consumers to take a better interest on the products they consume regarding animal welfare.

It’s important for the farmers as well as for other farm workers and even the veterinarians to understand the bovine’s natural behavior. Concepts such as the flight zone and point of balance are crucial for good handling of cattle, especially when moving them in the chute, in order to keep them calm and prevent any source of stress. In beef cattle, these concepts are extremely important in order to ensure better safety conditions for workers and an increased time efficiency of the farm.

This dissertation’s purpose was to evaluate the animal welfare conditions regarding handling and working facilities in beef herds in Vila Pouca de Aguiar, in the region of Trás-os-Montes e Alto Douro, highlighting a few good and bad examples observed during clinical practice. Most beef producers in this region with a large herd have installed crowd pens and single file chutes in their farms, but only one of them has a curved chute. It’s common for small farmers to use simple methods of restraint such as tying them with ropes to tractors or trees. Others choose to use simple squeeze chutes or community chutes installed in the villages.

Keywords: animal welfare; handling; crowd pens; single file chutes; flight zone; point of

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VII

Índice Geral

I – Introdução ... 1 II – Revisão Bibliográfica ... 3 1. Bem-estar Animal ... 3 2. Perceção animal ... 4 2.1. Visão ... 4 2.2. Audição ... 5 2.3. “Flight zone”... 5 2.4. Ponto de balanço ... 7 3. Temperamento ... 9 3.1. Melhorar o temperamento... 10 4. Instalações de maneio ... 11 4.1. Parques de maneio... 11

4.2. Mangas de maneio curvas ... 14

4.3. Paredes sólidas ... 15

4.4. Troncos de contenção e “headgates” ... 16

5. Movimentação dos animais ... 19

5.1. Como melhorar a movimentação dos animais ... 21

6. Contenção física ... 22

7. Prevenção de Lesões ... 23

8. Potencial de Agressão ... 23

III – Componente Prática ... 25

1. Exemplo 1 ... 26 2. Exemplo 2 ... 27 3. Exemplo 3 ... 28 4. Exemplo 4 ... 29 5. Exemplo 5 ... 30 6. Exemplo 6 ... 31 IV – Conclusão ... 35 V – Referências Bibliográficas ... 37

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VIII

Lista de Abreviaturas

ADS – Associação de Defesa Sanitária

DFD – Carnes escuras, firmes e secas (dark, firm and dry) FAWC – Farm Animal Welfare Council

Hz – Hertz

LH – Hormona luteinizante

OIE – World Organization for Animal Health % – Percentagem

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IX

Índice de Figuras

Figura 1 – Campo de visão Figura 2 – “Flight zone”

Figura 3 – Ponto de balanço do ombro

Figura 4 – Padrão de movimento para induzir o avanço dos animais

Figura 5 – Padrão de movimento para induzir o avanço dos animais numa manga curva Figura 6 – Parque de maneio redondo

Figura 7 – Alterações a aplicar na entrada do parque e da manga de maneio Figura 8 – Parque de maneio com placas de madeira nos cantos e sem placas Figura 9 – Parque de maneio reto

Figura 10 – “Bud Box

Figura 11 – “Catwalk” Figura 12 – “Catwalk”

Figura 13 – Tronco de contenção “scissors stanchion” Figura 14 – Tronco de contenção “self catching” Figura 15 – Tronco de contenção “positive control” Figura 16 – Tronco de contenção com formato em “V”

Figura 17 – Utilização de objetos para auxiliar a movimentação Figura 18 – Colocação das barras para impedir retrocesso

Figura 19 – Animais presos a atrelados de tratores para serem saneados Figura 20 – Animal a ser saneado que sobe um atrelado

Figura 21 – Animais presos em manjedouras para serem saneados Figura 22 – Vacas contidas num tronco de madeira

Figura 23 – Touro contido num tronco metálico Figura 24 – Manga de maneio comunitária

Figura 25 – Entrada para a manga de maneio comunitária

Figura 26 – Parque de maneio retangular com manga no interior de um edifício Figura 27 – Parque de maneio retangular com manga no interior de um edifício Figura 28 – Tronco com saída direta para o pasto

Figura 29 – Parque de maneio redondo e manga curva

Figura 30 – Portão do parque de maneio e de entrada na manga Figura 31 – Portão anti retrocesso de guilhotina manual

Figura 32 – “Catwalk” Figura 33 – Portão de fuga Figura 34 – Tronco de contenção

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X Figura 35 – Saída do tronco de contenção

Figura 36 – Animais no parque depois de saírem do tronco

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1

I – Introdução

Nos últimos tempos, temos vindo a assistir a um aumento do interesse sobre o bem-estar animal por parte do público, desde a sua produção ao abate. Este tema tem sido muito explorado em bovinos, especialmente sobre as condições de estabulação em vacarias de leite, como a aclimatização, tipo, número e tamanho das camas, bebedouros e comedouros, e também das condições em que se efetuam todos os procedimentos pré e pós abate sanitário. No entanto, o bem-estar associado à interação dos bovinos com o seu proprietário ou outros manipuladores não recebe o mesmo destaque.

Neste trabalho, o bem-estar vai ser estudado durante os procedimentos veterinários, que é uma variante menos abordada. Os objetos de estudo foram as várias explorações de bovinos de carne visitadas em Trás-os-Montes e Alto Douro com as equipas da ADS (Associação de Defesa Sanitária) de Vila Pouca de Aguiar, durante um estágio de três meses, na realização do saneamento dos animais conforme o plano nacional de controlo e erradicação de brucelose e tuberculose.

O objetivo foi observar as condições de trabalho disponíveis nas várias explorações, com destaque para as instalações onde se efetuava o saneamento, para avaliar a sua eficiência, segurança e se o bem-estar nos animais era assegurado nas intervenções.

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II – Revisão Bibliográfica

1.Bem-estar animal

O bem-estar animal é hoje definido como o equilíbrio fisiológico e etológico do animal (Decreto-Lei nº64/2000).

Com o aumento da população mundial e da consequente necessidade de aumentar a produção de alimentos, tem-se assistido a uma intensificação da produção animal. Este aumento despertou o interesse da população sobre a origem dos produtos que consome diariamente, e se a sua produção respeita o meio ambiente e o bem-estar dos animais.

É neste âmbito que há uma maior preocupação dos criadores de gado para atingir as normas de bem-estar, pois estas têm neste momento um grande peso económico, que engloba a qualidade do produto final e do seu valor no mercado, e também o aumento da procura por parte do consumidor de produtos ecologicamente sustentáveis, o que incluí todo o processo desde o nascimento do animal até ao seu abate.

A Farm Animal Welfare Council (FAWC,2009) estabeleceu as cinco liberdades, que definem o estado ideal de bem-estar dos animais de produção. Estas cinco liberdades permitem avaliar as condições de estabulação e de maneio praticadas nas explorações e identificar situações que precisem de ser melhoradas. São as seguintes:

1. Ausência de fome e de sede: acesso fácil a água fresca e a uma dieta para manter a saúde e vigor

2. Ausência de desconforto: garantindo um ambiente adequado que inclua abrigo e área de descanso confortável

3. Ausência de dor, lesão e doença: através da prevenção ou de um rápido diagnóstico e tratamento

4. Liberdade para expressar o comportamento natural: providenciando espaço suficiente, instalações adequadas e a companhia de animais da mesma espécie 5. Ausência de medo e desconforto: garantindo condições que evitem o sofrimento

Para apoiar estes princípios, a lei portuguesa estipula que os proprietários dos animais de produção devem assegurar o bem-estar dos seus animais, tomando as medidas necessárias para evitar que sofram lesões, dor ou sofrimentos desnecessários (Decreto-Lei nº64/2000).

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II- Revisão Bibliográfica

4

2.Perceção animal

Trabalhar com bovinos de carne acarreta vários riscos. É fundamental compreender o seu comportamento natural e saber como percecionam o ambiente que os rodeia, de forma a melhorar a interação entre bovinos e humanos, que vai traduzir-se num melhor bem-estar dos animais e numa maior segurança de trabalho. Este conhecimento associado a umas boas instalações e boas técnicas de maneio por parte dos trabalhadores garantem uma maior eficiência da exploração.

2.1. Visão

Todos os animais de pastagem têm um grande campo visual (Fig.1.) devido à posição dos seus olhos que se encontram de cada lado da cabeça. O seu ângulo de visão é de aproximadamente 300º, o que lhes permite analisar o terreno em busca de predadores (Prince, 1977). Existe no entanto um ponto cego na sua retaguarda, cujo tamanho depende da posição elevada ou baixada da cabeça. Quando se encontram a pastar com a cabeça baixada, possuem um angulo de visão de quase 360º (Stafford, 2005).

O seu sistema visual providencia uma excelente visão à distância. No entanto, possuem músculos oculares fracos que não permitem uma habilidade de focagem rápida em objetos mais próximos (Grandin, 1989). O formato das pupilas ovais traduz-se numa visão horizontal ampla mas limitada verticalmente, cerca de apenas 60º, enquanto nos humanos é de 140º (Ohio State University Extension, 2002). A sua visão binocular, que permite uma perceção de profundidade (visualização tridimensional), distância e velocidade é reduzida, com o seu ângulo horizontal variando de 25 a 50º. Contudo a sua visão lateral é monocular, o que apenas possibilita ver movimento. Movimentos súbitos neste ângulo podem sobressaltar os animais.

(Stafford, 2005)

Fig.1. Campo de visão (Stafford, 2005)

Associando o limite visual vertical com o ângulo reduzido de visão binocular, compreende-se que os animais conseguem ter perceção de profundidade ao nível do solo

Visão monocular

Visão monocular Visão

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5 quando se encontram parados e com a cabeça para baixo (Lemmon, Patterson, 1964), mas não quando estão em movimento e com a cabeça elevada. Tal pode explicar o fato de os animais pararem e baixarem a cabeça quando vêm uma sombra ou algo no chão (Grandin, 1997; Grandin, 1989).

Relativamente à perceção da cor, os ruminantes são dicromatas. A visão dicromática pode ser um motivo para o animal ser tão sensível a contrastes de cor, textura e de luz e escuridão, como por exemplo perante uma sombra. Por este motivo as instalações de maneio devem ser pintadas de uma só cor (Grandin, 1989).

2.2. Audição

A sensibilidade auditiva dos bovinos é superior a 8000Hz (Hertz), enquanto a dos humanos situa-se entre 1000-3000Hz (Ames, 1974, Heffner RS, Heffner HE, 1983). Os sons agudos são utilizados como avisos de perigo na natureza (Grandin, 1999) e os animais de temperamento mais instável têm uma maior probabilidade de se assustarem em resposta a sons agudos e intermitentes. Sons novos ou inesperados podem ser muito stressantes para os animais (Grandin, 1989).

De acordo com pesquisadores no Canadá, sons como gritos e assobios têm um efeito superior no batimento cardíaco dos bovinos do que sons produzidos por equipamentos como portões a bater (Waynert, et al., 1999). Quando as pessoas gritam os animais podem ficar assustados, podendo escoicear, arrancar a correr na direção de alguém ou tentar escapar (Grandin, 1999).

Um som metálico pode levar os animais a ficarem agitados, parando e recusando-se a avançar na manga (Grandin, 1987). Devem ser utilizados batentes de borracha em portões e troncos de contenção para ajudar a reduzir o ruído (Grandin, 1983b).

Animais calmos podem ser utilizados para encontrar distrações que possam existir na manga como correntes penduradas, ao orientar tanto os olhos como as orelhas na sua direção, permitindo a sua rápida remoção (Grandin, 1989).

2.3. Flight zone

A flight zone corresponde ao espaço pessoal do animal, e a sua área encontra-se relacionada com o seu grau de domesticação. Animais completamente domesticados praticamente não possuem uma flight zone e podem ser tocados com facilidade (Grandin, 2013). São no entanto difíceis de movimentar (Grandin, 1997). O gado criado extensivamente pode ter flight zones de 50m de diâmetro e o gado criado intensivamente pode ter apenas entre 2 a 8m (Grandin, 1989, Grandin, 2007).

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II- Revisão Bibliográfica

6 A flight zone aumenta quando os animais se encontram em movimento, quando se encontram confinados num espaço fechado ou quando um animal se encontra separado da manada, pois este sente-se menos seguro (Cote, 2004).

As experiências anteriores também têm influência. Se os animais tiverem sido abordados positivamente no passado terão uma flight zone menor que os que foram abordados negativamente (Grandin, 1997).

Quando uma pessoa se aproxima e os animais se viram para a observar, significa que ainda não entrou na flight zone. Assim que ultrapassa o seu limite os animais afastam-se (Grandin, 2013). Este limite é denominado de “pressure zone”, que corresponde ao limite da flight zone (Grandin et al., 2015). Este exercício permite ao proprietário fazer uma aproximação da dimensão da flight zone dos seus animais para posteriormente a utilizar para os movimentar.

Para manter os animais calmos e agrupá-los tranquilamente, o ideal é trabalhar na “pressure zone” (Grandin et al., 2015). Para fazer com que os animais avancem, o manipulador deve entrar na flight zone (Fig.2., posição B), e para que estes parem, basta retroceder para fora da flight zone (Fig.2., posição A). Deve-se evitar o espaço cego por detrás dos animais (Grandin, 2013).

Os animais ficam muito perturbados quando alguém entra em demasia na sua flight

zone e se veem incapazes de se afastar. Quando isto acontece, os animais podem-se virar

e correr em direção ao manipulador na tentativa de aumentarem a distância entre ambos (Grandin, 2013).

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7 Muitas vezes os animais ficam agitados enquanto esperam para entrar na manga. A causa mais comum é a presença de alguém a pendurar-se ou a espreitar por cima das paredes, entrando na flight zone. Quando essa presença se retira, os animais por norma acalmam-se (Grandin, 1989).

2.4. Ponto de balanço (point of balance)

Os bovinos têm dois pontos de balanço. Um encontra-se ao nível do ombro do animal e outro ao longo da sua coluna (Stafford, 2005). Num campo de pastagem ou parque de maiores dimensões o ponto de balanço do ombro pode alterar-se e localizar-se mesmo atrás do olho (Grandin, 2015b). Quando o manipulador se desloca para trás do ponto de balanço do ombro o animal movimenta-se para a frente, quando se desloca para frente do

ponto de balanço, o animal para, ou então movimenta-se para trás (Fig.3.) (Grandin, 2013). O ponto de balanço da coluna serve para alterar a direção do animal. Para o animal se virar para a sua esquerda, o manipulador desloca-se para a direita do animal e vice-versa (Stafford, 2005).

Um erro muito comum que os manipuladores cometem é encontrarem-se à frente do ponto de balanço enquanto tentam que o animal avance numa manga (Grandin, 2013).

Para fazer os animais avançar numa manga sem utilizar um aguilhão ou outro utensílio, basta simplesmente o manipulador entrar na fligh zone e ultrapassar o ponto de balanço no sentido contrário do movimento desejado dos animais, voltando a sair da flight

zone e repetindo o movimento (Fig.4.) (Grandin, 2013).

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II- Revisão Bibliográfica

8 Fig. 4. Padrão de movimento para induzir o avanço dos animais (Federation of Animal Science

Societies 2013)

Este método apenas funciona se os animais conseguirem ver o manipulador. Em mangas com paredes totalmente sólidas pode ser necessário fazer uma abertura ao nível dos olhos dos animais em todo o seu comprimento. Em sistemas curvos (Fig.5.) a parede exterior deve ser sólida mas a interior deve permitir a visualização do manipulador. Em sistemas com “catwalks” (ver abaixo), as paredes podem ser todas sólidas pois o manipulador encontra-se visível (Grandin, 2013).

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3.Temperamento

O temperamento é definido como o comportamento baseado no medo demonstrado pelos animais quando manipulados por humanos. À medida que se tornam mais temperamentais, a resposta ao contato humano ou ao maneio torna-se mais agitada (Cooke, 2009).

O temperamento está relacionado com o stress. Uma reação de stress é definida como uma resposta dos bovinos a fatores externos e internos que afetam o seu bem-estar. Os animais incapazes de lidar com estes fatores são designados como stressados. Exemplos de causadores de stress são as temperaturas extremas, doenças, manipulação humana e lesões. Pode-se então concluir que as reações agitadas e/ou agressivas dos animais com temperamento excitável em resposta à exposição da manipulação humana deve-se ao medo e à inabilidade de lidar com a situação a que estão expostos. Esta é uma resposta de stress (Cooke, 2009).

O cortisol é a principal hormona produzida durante respostas de stress (Cooke, 2009). Estudos revelam que os animais temperamentais possuem uma concentração sanguínea de cortisol mais elevada do que animais calmos (Hammond et al., 1996, Fell et

al., 1999, Echternkamp 1984). Existe também uma relação positiva entre técnicas de

mensuração de temperamento com a concentração sanguínea de cortisol em bovinos (Cooke et al., 2009). Estes resultados permitem classificar o temperamento excitado como um comportamento de resposta ao stress (Cooke, 2009).

O stress afeta vários fatores fisiológicos do animal, com repercussões económicas para o produtor. Um deles é o ganho médio de peso diário (Cooke, 2009). À medida que o temperamento do animal se torna mais agitado, o seu ganho médio de peso diário diminui (Fell et al., 1999, Cooke et al., 2009, Voisinet, 1997b). Tal acontece devido a principalmente três fatores (Cooke, 2009):

1. Os bovinos temperamentais despendem mais tempo a inspecionar o ambiente envolvente e a reagir contra possíveis ameaças ao invés de se alimentarem, diminuindo o consumo diário em comparação com animais calmos;

2. A energia da dieta é encaminhada para sustentar o comportamento alterado do animal, em vez de ser utilizada no ganho de peso diário;

3. O aumento da concentração de cortisol sanguíneo vai estimular o catabolismo de tecidos como o músculo e depósitos de gordura, de forma a libertarem energia para suportar um comportamento de resposta ao stress.

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II- Revisão Bibliográfica

10 Outro fator afetado é a qualidade da carcaça (Cooke, 2009). Há estudos que indicam que o temperamento excitado aumenta a incidência de carnes DFD (escuras, firmes e secas) e a percentagem de carcaças com lesões (Fordyce et al., 1988, Voisinet et al., 1997a). A reprodução sofre igualmente com o temperamento pois depende muito do estado nutricional do animal, e o cortisol produzido em situações de stress vai afetar a fisiologia reprodutiva como a ovulação, a conceção e o estabelecimento da gestação. As vacas calmas possuem concentrações sanguíneas de cortisol mais baixas e concentrações de hormona luteinizante (LH), importante para o início da puberdade e ovulação, mais elevadas do que vacas temperamentais (Cooke, 2009). Um estudo recente demonstra que novilhas de temperamento calmo atingem a puberdade mais cedo que novilhas de temperamento excitado (Cooke et al., 2009).

Elevadas concentrações de cortisol durante longos períodos de tempo conduzem a casos de imunossupressão, tornando os animais mais suscetíveis a infeções. Adicionalmente, o catabolismo muscular e lipídico provocado por esta hormona pode levar a reações inflamatórias no organismo do animal (Cooke, 2009).

3.1.

Melhorar o Temperamento

Para melhorar o temperamento dos animais, uma opção viável é a habituação ao contato e à manipulação humana. Estudos indicam que bovinos habituados à manipulação humana tinham um temperamento mais calmo e concentrações de cortisol mais baixos que bovinos não habituados à mesma manipulação (Cooke, 2009).

Em estudos mais recentes, verificou-se que novilhas expostas a contato humano durante as primeiras quatro semanas após desmame tinham um melhor temperamento, menor concentração de cortisol, atingiam a puberdade e ficavam gestantes mais cedo comparando com novilhas sem este contato (Cooke et al., 2009).

Assim, uma alternativa será uma interação precoce com humanos para um melhor temperamento dos animais, e consequentemente um melhor desenvolvimento e produtividade. Visto que o temperamento é uma caraterística hereditária, outra opção é a seleção de animais mais calmos, através do refugo de animais demasiado excitáveis (Cooke, 2009).

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4.Instalações de maneio

4.1. Parques de Maneio

Dos vários modelos de parques de maneio, os redondos trazem muitas vantagens. Uma delas é o fato de obrigarem os animais a realizarem uma curva de 180º (Fig.6.), levando-os a pensar que estão a voltar ao mesmo local de onde saíram. O raio recomendado para estes parques é de 3,5m (Grandin, 2015a). Os parques nunca devem ser construídos numa área inclinada, caso contrário os animais vão-se aglomerar na saída para a manga dificultando o fluxo de movimento (Grandin, 2013).

Na entrada do parque deve existir um portão sólido, para evitar que os animais tentem voltar para trás. Por segurança, deve-se construir também um portão para a entrada e saída de pessoas do parque, permitindo a sua fuga se necessário (Grandin, 1998a). Esta medida é extremamente importante visto que é uma área confinada em que o manipulador entra na flight zone dos animais, o que acarreta riscos (Grandin, 1999). O portão de fuga deve ter uma largura de 45cm, para que os animais não consigam passar. As dobradiças devem ser de metal, para uma maior resistência, e abrir para dentro do parque (Grandin, 1997).

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II- Revisão Bibliográfica

12 Um erro comum é construir um parque de maneio em que o desenho permite aos animais atravessarem diretamente em direção à manga, sem realizar a curva de 180º, perdendo assim a vantagem do seu comportamento natural já referido. Tal pode resolver-se alterando o ângulo de entrada dos animais no parque para 180º ou, se não for possível, para 90º (Fig.7.) (Grandin, 1998a).

Outro problema encontra-se na saída do parque para a curva da manga de maneio. Se a entrada para a curva for muito abrupta, para os animais será visualizada como um beco sem saída e estes recusar-se-ão a entrar, pois não veem para onde vão (Fig.7.). É muito importante que um animal que saia do parque seja capaz de ver uma distância equivalente ao comprimento de corpo de dois animais na manga antes de entrar na curva (Grandin, 1998a). O portão da entrada na manga não deve ser sólido, de forma a permitir que os animais vejam através dele identificando o local de saída (Grandin, 1997).

Em parques de maneio retangulares, os animais juntam-se nos cantos com as cabeças viradas no sentido oposto do manipulador, tornando mais difícil e perigosa a sua condução para a manga, pois este tem de penetrar mais na flight zone. Este comportamento é eliminado ao acrescentar nos cantos placas de madeira (Fig.8.) (Stafford, 2005).

Fig. 7. Alterações a aplicar na entrada do parque e da manga de maneio (Grandin, 1998a)

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Neste tipo de parques, a entrada para manga deve ter uma parede reta, e a outra num ângulo de 30º, de forma a facilitar a sua condução (Fig.9.) (Stafford, 2005)

Fig.9. Parque de maneio reto (Stafford, 2005)

A “Bud Box” (Fig.10.) é uma instalação que foi desenhada por Bud Williams (daí o nome) e tira vantagem da tendência dos animais de procurarem sair na mesma direção em que entraram (Stookey e Watts, 2014).

Para funcionar, a entrada da “Bud Box” tem de ser próxima da entrada na manga (A) e da rampa de carregamento (B). Tal deve-se ao fato de que assim que se fecha o portão (seta) os animais avançam atingindo um beco sem saída. Consequentemente vão tentar voltar para trás, para o local de onde vieram. Quando isto acontece, o operador posiciona-se estrategicamente de forma que os animais se movimentem rodeando-o em direção ao

Fig.8. Parque de maneio com placas de madeira nos cantos e sem placas (Stafford, 2005)

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II- Revisão Bibliográfica

14 portão para entrada na manga, que é o único que se encontra aberto, visto que o da entrada no parque e o da rampa de carregamento já se encontram fechados. Tem como desvantagem a falta de segurança do operador no caso de os animais serem bravios. Para aumentar a segurança, não se deve encher a “Bud Box” em mais do que metade da sua capacidade. As dimensões recomendadas são de 3.5-4.2m de largura e 6-7.5m de comprimento (Stookey e Watts, 2014).

Comparando com os sistemas curvos, este sistema tem como vantagem a sua fácil construção e o fato de ser pouco dispendiosa. No entanto tem como desvantagem a necessidade de o operador possuir experiência na condução dos animais, nomeadamente conhecimentos sobre a sua flight zone (Stookey e Watts, 2014).

Fig.10. “Bud Box” (Stookey e Watts, 2014).

4.2. Mangas de maneio curvas

As mangas de maneio curvas com parques de maneio redondos são mais vantajosos e eficientes em comparação com as mangas em linha reta. Tal deve-se ao fato de que uma manga de maneio curva não permitir ao animal visualizar as pessoas que se encontram próximas nem as atividades que se realizam no final da manga. Aproveita também a tendência de os animais circundarem em volta do proprietário quando este se desloca no raio menor (Grandin, 1980a).

A

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15 Quando os animais se encontram em linha na manga à espera de entrar no tronco de maneio, estas instalações são mais rápidas e permitem reduzir até 50% o tempo despendido a movimentar os animais (Vowles, Hollier, 1982).

Para gado em regime extensivo ou feedlot, o raio menor recomendado da curva da manga de maneio situa-se entre 3,5-5m (Grandin, 1980a). Quando não existe muito espaço, podem-se construir com um raio de 1,5m (Grandin, 1984a). Nestes casos, é necessário uma distância de pelo menos 3m entre o parque de maneio e a curva da manga de forma que não seja percecionada pelos animais como um beco sem saída (Grandin, 1989).

Uma única curva com um ângulo de 180º é o ideal. Um maior número de curvas não aumenta a eficiência da manga. Apenas quando o espaço disponível é diminuto é que se devem utilizar duas curvas de 180º (Grandin, 2015a).

A manga deve ser comprida o suficiente de forma que os animais sigam o seu comportamento natural de manada em seguirem o líder, sendo que o comprimento mínimo será de 9m (Grandin, 1983a). No entanto não se deve exceder no seu comprimento, pois se os animais se encontrarem na manga demasiado tempo, terão tendência para se deitar e poderão ser pisados (Grandin, 1997).

A largura recomendada da manga com paredes retas é de 66-71cm para vacas adultas e de 51cm para vitelos. Numa manga com paredes em “V”, estas devem ter uma largura de 41-45cm na zona inferior e uma largura de 81cm na zona superior, correspondendo geralmente a uma altura de 152cm a contar do solo. Estas dimensões variam de acordo com as dimensões dos animais. Deve-se evitar a construção de uma manga demasiado larga, sendo que o espaço livre recomendado entre o animal de maiores dimensões da exploração e a parede da manga é de 2cm de cada lado (Grandin, 1989).

Ao longo da manga, a presença de portões anti retrocesso é vantajosa para impedir que os animais voltem para trás. O movimento dos animais na manga é facilitado se os portões anti retrocesso seguintes se encontrarem abertos, pois se estiverem fechados os animais poderão recusar-se a avançar por não verem para além deles (Grandin, 1998).

4.3. Paredes sólidas

As paredes da manga e parque de maneio devem ser sólidas (Grandin, 1980a, Grandin, 1987). Estas evitam que os animais vejam pessoas, veículos ou outras fontes de distração, e previnem que o gado mais selvagem se torne muito agitado na manga. Os animais devem ver apenas o único caminho a seguir, que é em frente ao longo da manga. Observações realizadas numa manga com paredes sólidas e com uma parte com aberturas,

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II- Revisão Bibliográfica

16 demonstraram que os animais mais bravios se tornavam mais agitados quando conseguiam ver o exterior (Grandin, 1997).

Quando as paredes são sólidas, uma opção muito viável é a utilização de passadiços superiores conhecidos por “catwalks” ao longo da manga e do parque de maneio. Estas permitem um fácil acesso sobre a parede da manga, tornando mais fáceis e rápidos alguns procedimentos veterinários como a vacinação. As “catwalks” devem ter uma altura suficiente para se obter um fácil e seguro acesso aos animais, e devem ser bem suportadas (Fig.11. e Fig.12.) (Stafford, 2005).

Os portões anti retrocesso devem ser sólidos para prevenir que animais mais agitados invistam contra eles (Grandin, 1997).

4.4. Troncos de contenção e “headgates”

Um bom tronco e “headgate” melhoram o maneio e cuidados com o gado pois facilitam a sua contenção (Grandin, 1980b). A margem interior das portas de saída pode ser reta ou curva. As portas curvas são as mais populares. Providenciam um maior controlo da cabeça, pois não permitem que o animal a mova para cima e para baixo. No entanto, o animal pode asfixiar se conseguir deitar-se no tronco. Estas portas são mais indicadas para o maneio geral em explorações extensivas. As portas retas não evitam os movimentos da cabeça de cima para baixo, mas não provocam asfixia pois não exercem pressão na garganta do animal. São mais indicadas em vacas de leite dóceis e em clínicas veterinárias em que o animal deve permanecer no tronco por um longo período de tempo (Grandin, 1997).

Existem atualmente quatro formatos diferentes de “headgates” que são: “scissors

stanchion”, “full opening stanchion”, “positive control” e “self catching” (Grandin, 1997):

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17  “Scissors stanchion” (fig.13): as duas portas (podem ser retas ou curvas)

encontram-se aparafusadas no centro do chão do tronco e articulam-encontram-se para dentro e para fora para conter ou libertar o animal. Tem como vantagem a rapidez da operação e poucos problemas com a asfixia, e como desvantagem a possibilidade de apanhar as patas ou os membros anteriores e ser mais difícil de trabalhar com animais com cornos (Troxel, 2009).

“Self catching” (fig.14): a cabeça do animal passa as portas (podem ser retas ou

curvas) mas os ombros ao exercerem pressão nas portas, fazem com que elas fechem e aprisionem a cabeça (Troxel, 2009).

Fig.13. Tronco de contenção “scissors stanchion” (Stafford, 2005)

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II- Revisão Bibliográfica

18  “Positive control” (fig.15): neste sistema a cabeça do

animal entra numa abertura e uma alavanca de bloqueio desce sobre o pescoço do animal bloqueando o seu movimento, ao mesmo tempo que as portas se fecham. Para soltar o animal, a alavanca é elevada e o animal é deslocado para trás de forma a abrir a porta de forma convencional (através de dobradiças) (Troxel, 2009).

“Full opening”: consiste em duas portas (podem ser curvas ou retas) que abrem e

fecham como portas deslizantes. A vantagem encontra-se no fato de que os touros de grande porte atravessam-no com maior facilidade. A desvantagem é que o mecanismo de deslize das portas é mais complicado (Grandin, 1997).

A asfixia ocorre quando se exerce pressão excessiva nas artérias carótidas (White, 1961) ou na traqueia (Fowler, 2008). Devido à pressão exercida nas artérias, o animal pode falecer rapidamente se perder a consciência na porta de contenção. Assim que o animal manifestar sinais de asfixia, a porta de contenção deve ser aberta. A asfixia é mais provável de ocorrer quando se usa uma porta de contenção sem tronco. Um tronco de contenção bem ajustado pode prevenir a asfixia ao impedir que o animal se deite. Os melhores têm uma estrutura em “V” (fig.16), pois suportam o animal (Grandin, 1997).

Fig. 16: Tronco de contenção com formato em “V” (Stafford, 2005)

Fig.15: Tronco de contenção “Positive

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19 De acordo com Grandin (1980b), a principal causa de asfixia, fugas e aprisionamento de membros nas portas, são a falta de cuidado pela parte dos manipuladores e a tentativa de acelerar o processo de condução dos animais. Quando se permite que o animal entre rapidamente no tronco e que choque contra a porta, este pode provocar danos consideráveis (Grandin, 1980b). Um manipulador experiente é capaz de abrandar o movimento dos animais à chegada do tronco, ao fechar parcialmente a entrada do mesmo. As portas de contenção da cabeça podem ser revestidas com pneus (de motas é o ideal) para evitar lesões (Grandin, 1997).

Muitos produtores utilizam troncos hidráulicos ao invés de manuais. Os troncos hidráulicos com a pressão de contenção ajustada são por norma mais seguros para os animais e para as pessoas. Eliminam-se as alavancas salientes e há menores probabilidades de os manipuladores se cansarem e provocarem acidentes. No entanto, animais que sofram demasiada pressão na contenção podem demonstrar sintomas de pneumonia passados alguns dias (Grandin, 1997).

5.Movimentação dos Animais

A movimentação deve ser realizada com o objetivo de minimizar o stress e o medo infligido aos animais, mantendo a calma. Os manipuladores devem ter experiência de interação com os animais e conhecimentos do seu comportamento natural, de forma a serem capazes de reconhecer sinais de ansiedade ou stress que possam resultar em lesões (Federation of Animal Science Societies, 2010).

Os bovinos seguem um líder sempre que possível, e deve-se tirar partido deste comportamento (Grandin, 2013). Quando um animal avança, os outros seguem-no (Federation of Animal Science Societies, 2010).

Os animais deslocam-se mais facilmente do parque de maneio para a manga se esta se encontrar parcialmente vazia. Assim estes têm espaço suficiente para após a entrada no parque avançarem de imediato para a manga, reduzindo a frequência de animais que voltam para trás. O parque deve tornar-se apenas um ponto de passagem (Grandin, 2013).

Um erro muitas vezes cometido é encher na totalidade o parque de maneio com animais. Estes necessitam de espaço para se movimentarem, sendo que o ideal seria encher o parque de maneio até 50% da sua capacidade (Grandin, 2013). Quando se encontram muito apertados a sua condução torna-se mais difícil (Federation of Animal Science Societies, 2010). O portão do parque também não deve ser empurrado com muita força contra os animais para os obrigar a mover. O portão pode ser utilizado acompanhando o seu avanço. O manipulador deve-se concentrar em movimentar os líderes do grupo ao invés de empurrar os últimos (Grandin, 2013).

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II- Revisão Bibliográfica

20 O isolamento é uma forte fonte de stress. Durante o maneio, os animais isolados que se tornam agitados podem facilmente lesionar o manipulador. Para evitar essa situação, devem-se juntar outros animais, eliminando a fonte do stress (Grandin, 1989).

É necessário ter alguns cuidados quando o funcionamento do portão do parque não é manual mas sim mecanizado. Nestes sistemas, pode ocorrer uma sobrelotação do parque e o portão pode derrubar animais ou empurrar um animal caído. Todos os portões automatizados devem possuir controlos manuais para parar o seu movimento, se necessário (Grandin, 2011).

Por vezes pode ser necessário usar objetos como remos de plástico, bandeiras ou varas para movimentar os animais (Fig.17.). Estes utensílios permitem ao manipulador aumentar a área que controla e também tocar nos animais a uma certa distância. Funcionam assim como uma extensão de braços, e não devem ser usados para bater nos animais pois podem provocar lesões e não trazem qualquer beneficio na sua condução, podendo inclusive tornar o seu comportamento perigoso (Stafford, 2005).

Os aguilhões elétricos devem ser usados com moderação, não devendo ser o utensílio de

eleição. A necessidade de utilizar o aguilhão elétrico pode variar com a raça, regime de produção, aptidão leiteira ou cárnica, grupo de animais e sistema de maneio utilizado (Grandin, 2013). Quando necessário, a estimulação elétrica deve ser aplicada nos quartos traseiros, e nunca em zonas sensíveis como os olhos, orelhas, genitais, úbere e ânus ou em animais recém-nascidos, debilitados, emaciados ou não ambulatórios. Normalmente, um a três choques são necessários. Se o animal não responder, a sua utilização deve ser descontinuada (Stafford, 2005).

A sua utilização é recomendada após várias tentativas com objetos não elétricos, pois é preferível comparando com bater nos animais e efetuar torções de cauda com força excessiva. Se a utilização de aguilhões elétricos ou de força bruta se tornar rotineira, significa que as pessoas envolvidas se encontram demasiado ansiosas para movimentar os animais, não têm experiência suficiente ou que as instalações necessitam de alterações (Stafford, 2005).

Fig. 17. Utilização de objetos para auxiliar a movimentação (Stafford, 2005)

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21 Os aguilhões elétricos com potência suficiente para derrubar ou paralisar um animal não devem ser utilizados. Se os animais vocalizam em resposta direta ao toque do aguilhão, pode ser necessário diminuir a sua voltagem. Segundo a OIE (World Organization for Animal Health) a utilização de aguilhões elétricos deve ser limitada aos que funcionam a pilhas (Grandin, 2013) pois administram um choque localizado entre dois polos (Stafford, 2005).

Quando a torção da cauda é utilizada, o manipulador deve libertá-la assim que o animal se desloque, como recompensa. Na vez seguinte, assim que lhe tocarem na cauda o animal irá avançar (Grandin, 1994).

5.1.

Como melhorar a movimentação dos animais

Para movimentar animais é fundamental que estes se mantenham calmos. Movimentar animais agitados é muito complicado e estes demoram cerca de vinte a trinta minutos a acalmarem-se novamente (Grandin, 2013). Segundo Grandin (1998b) e Grandin (2013), de forma a manter os animais calmos, devem-se seguir os seguintes passos:

 Os manipuladores devem permanecer calmos e silenciosos: gritos e movimentos bruscos tornam os animais mais agitados;

 Ter cuidados com a iluminação: os animais tendem a deslocar-se de um local escuro para um mais iluminado, e podem-se recusar a entrar num recinto escuro. Assim, a manga deve ser bem iluminada, eliminando também sombras que podem levar o animal a parar. No entanto, a luz não deve incidir diretamente nos olhos dos animais. Nos casos em que o parque de maneio se encontra bem iluminado, mas a manga se situa num edifício mal iluminado, os animais sentir-se-ão relutantes em avançar;  Eliminar distrações visuais: os bovinos param ao verem poças de água, objetos no

chão, correntes, cordas ou peças de roupa penduradas, alterações de cores, portões fechados, pessoas e ralos de escoamento;

 Reduzir ruídos: os animais são muito sensíveis ao som. Deve-se evitar o som de metais a bater, e reduzir o som de motores e sistemas hidráulicos;

 Mover os animais em grupos pequenos

 Garantir que novas experiências sejam positivas: a primeira experiência de um animal num novo local de maneio, curral, manga de maneio e inclusive pessoas novas, deve ser o mais positiva possível. Os animais podem-se assustar perante situações novas, e estas podem ser facilmente consideradas como negativas se numa primeira vez ocorrerem procedimentos aversivos ou dolorosos. Se tal ocorrer, os animais mostrar-se-ão relutantes em repeti-lo. Uma boa prática será habituá-los ao novo local lentamente.

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II- Revisão Bibliográfica

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6.Contenção física

Quando alguém se aproxima de um animal, deve faze-lo calmamente e falar com ele para este o conseguir localizar. Assim evita-se que o animal se sobressalte com um toque inesperado. Também não se deve abordar um animal diretamente pela frente, mas sim pelos lados ao nível do ombro (Fowler, 2008).

Uma cabeçada de corda é uma ferramenta básica na contenção de gado. A sua colocação correta é muito importante. Por vezes é colocada ao contrário ou então mal colocada por trás dos cornos mas não das orelhas, ficando corda a passar por cima ou perto do olho, podendo provocar lesões. Colocar uma cabeçada num animal contido num tronco não é difícil, se este se encontrar solto num curral ou parque já se torna mais complicado. Com a cabeçada posta, o animal pode ser amarrado a um poste. Para procedimentos como recolha de sangue ou administrações, pode ser necessário um maior controlo da cabeça, puxando-a para o lado e prendendo com a corda (Fowler, 2008).

Outro método utilizado consiste em agarrar o septo nasal com os dedos. No entanto é difícil pois não se consegue manter a pressão necessária para conter o animal durante muito tempo. Para uma contenção mais segura e duradoura, existem utensílios próprios, os arganéis. Os bovinos têm um septo nasal muito sensível, por isso quando o arganel se encontra totalmente fechado este deve ter um espaço de intervalo de 3,5mm entre as pinças para evitar necrose da cartilagem nasal. A superfície de contacto deve ser lisa para evitar lacerações. A sua colocação nem sempre é fácil, principalmente se o animal já tiver tido contato com este objeto. Muitas vezes agitam a cabeça para evitá-lo (Fowler, 2008).

Quando o animal já se encontra no tronco ou, na ausência deste, na manga onde vai ser intervencionado, é regular o uso de uma barra atravessada entre as grades da manga imediatamente atrás do animal, de forma a restringir o seu movimento e impedi-lo de voltar para trás. O material ideal será o metal por ser mais resistente, comparando com a madeira. Esta barra deve colocar-se 70cm acima do nível do solo. A sua colocação é perigosa, devendo a pessoa responsável colocar-se na sua extremidade, para que se o animal se mover, não fique entalado entre a barra e a manga (Stafford, 2005). De igual forma deve-se manter à distância de um braço no caso de a barra ser projetada para cima, evitando ser atingido no rosto (Fig.18.) (New Zealand Government, 2014).

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7.Prevenção de lesões

Para evitar quedas e lesões, o chão deve ser antiderrapante. Se este for de cimento, pode-se torna-lo rugoso através da formação de sulcos com o auxílio de uma máquina. Em casos de chãos novos, estes devem ser construídos já com sulcos com padrão quadrangular ou de diamante com 2,5cm de profundidade (Grandin, 2013). No caso de chão de terra batida tal não é necessário.

Todas as superfícies e cantos de portões, cercas e mangas devem ser lisos. Os portões que deslizam verticalmente devem possuir um contrapeso para prevenir lesões no dorso dos animais, e devem ser revestidos na porção inferior por borracha (Grandin, 2013).

8.Potencial de Agressão

Os animais tentam resistir à sua contenção física de variadas maneiras. Um animal com cornos pode provocar lesões graves ao impulsionar rapidamente a cabeça para a frente e para os lados. Quando se trabalha com estes animais é preciso ter muita atenção aos movimentos da cabeça e ao alcance dos cornos (Fowler, 2008).

Quer tenham cornos ou não, os bovinos podem dar cabeçadas, avançando em direção à pessoa derrubando-a ou comprimindo-a contra uma parede, podendo para isto utilizar também o corpo (Fowler, 2008).

Por norma os membros dianteiros não são usados como armas, mas são utilizados para demostrações de irritação e de ameaça. No entanto não se pode descuidar a sua importância, pois podem provocar danos quando os apoiam nos pés dos manipuladores, podendo lesionar e inclusive partir dedos (Fowler, 2008).

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II- Revisão Bibliográfica

24 Os bovinos utilizam muito os coices com os membros posteriores. O coice geralmente é para trás e para o lado formando um arco. Não é muito provável que o coice seja dirigido totalmente para trás, apesar de o conseguirem fazer. Por norma, apenas um membro executa o coice. É necessário ter em consideração que os bovinos conseguem dar um coice para a frente com os membros traseiros (Fowler, 2008).

A cauda é geralmente utilizada para sacudir insetos e pode ser incómoda em intervenções veterinárias. Por vezes podem provocar lesões nos olhos se estiverem conspurcadas com corpos estranhos, como cardos ou praganas (Fowler, 2008).

Os touros ocasionalmente provocam a morte de operadores, umas vezes movidos pelo medo quando se encontram numa manga ou tronco de contenção, outras numa tentativa de estabelecer dominância (Grandin, 1999).

Os touros de raça de aptidão de leite são consideravelmente mais perigosos do que os de carne. Tal deve-se ao fato de os touros de leite serem desmamados e separados da mãe muito cedo, sendo isolados e criados por humanos, enquanto os de carne são criados com a mãe e outros bovinos. Assim, os touros de leite vêm os humanos como um membro da sua manada, e quando atingem a maturidade sexual podem tentar exercer dominância sobre eles (Grandin, 1999). Os manipuladores devem então reconhecer sinais de agressão que precedem um ataque tal como raspar no chão ou virar-se de lado para mostrar o seu tamanho (Federation of Animal Science Societies, 2010).

Uma forma de evitar este comportamento é a castração ou criá-los num grupo social a partir das seis semanas de idade. A castração reduz consideravelmente a agressão direcionada a pessoas (Grandin, 1999).

As mães com crias recém-nascidas também podem mostrar sinais de agressão (Grandin, 1999). Verifica-se que o instinto de proteção maternal é mais forte nas vacas de carne pois são selecionadas para este atributo, enquanto as vacas de leite são selecionadas para alta produção leiteira. Quando se remove um vitelo da mãe, este deve ser mantido entre o operador e a progenitora, como um escudo, e cerrando-lhe a boca para que não consiga vocalizar, na tentativa de evitar uma potencial agressão (Stafford, 2005).

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III – Componente Prática

No distrito de Trás-os-Montes e Alto Douro a produção de bovinos de carne é essencialmente de tipo extensivo, adaptada às condições geográficas e ambientais desta zona de montanha.

Atualmente a ADS de Vila Pouca de Aguiar possui uma extensa área de atuação que inclui os concelhos de Vila Pouca de Aguiar, Valpaços, Sabrosa, Murça e Alijó e conta com uma delegação em Vila Real. A produção de bovinos tem vindo a diminuir gradualmente nas últimas décadas, tendo-se registado no ano civil de 2014 um total de 1012 explorações e de 9498 bovinos associados a esta ADS.

As explorações dividem-se em explorações familiares ou de pequenas dimensões e explorações de média/grandes dimensões. Nesta região prevalecem as explorações de pequenas dimensões, incentivadas pelos subsídios provenientes do estado, sendo que na sua maioria os detentores destas explorações são já idosos. Neste cenário, é natural assumir que na sua maioria estes pequenos produtores não possuem as condições ideais para acomodar os seus animais, e menos ainda para assegurar um saneamento rápido e seguro. No entanto, já existe a preocupação de melhorar por parte de alguns produtores, que procuram a utilização de mangas de maneio comunitárias ou então instalam um pequeno tronco de contenção na sua exploração.

Durante a realização deste estágio, pretendeu-se observar e documentar as diferentes condições e instalações utilizadas pelos produtores para a realização do saneamento, desde métodos mais simples e rudimentares em explorações familiares e de reduzida dimensão, até à construção de mangas e parques de maneio usados essencialmente em grandes explorações, com algumas exceções. Em seguida serão apresentados vários casos e exemplos de diferentes condições de maneio e instalações de bovinos de carne na realização de atividades de saneamento, retirando os aspetos positivos e negativos através da sua comparação com a revisão bibliográfica.

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III- Componente Prática

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1. Exemplo 1

Neste exemplo podemos observar animais saneados em condições um pouco rudimentares. No caso da Fig. 19, os animais encontravam-se inicialmente presos por cordas a um trator. Antes de sanear um animal, procede-se a uma maior contenção da cabeça com acesso a cordas, mas o restante corpo não se encontra restringido, estando sujeito a movimentos imprevisíveis, levando a situações perigosas para os técnicos que realizam o saneamento, como ficarem encurralados entre o animal e o trator, ficando expostos a lesões por esmagamento ou através dos cornos do animal. No caso da Fig.20. o animal encontrava-se agitado e elevou-se para o atrelado. Estas situações são imprevisíveis e difíceis de controlar. As hipóteses de o animal se lesionar nos membros nestas condições são elevadas.

Fig.19. Animais presos a atrelados de tratores para serem saneados

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2. Exemplo 2

Em muitos casos os animais são saneados no estábulo, presos à manjedoura (Fig.21.). Nestas situações, os animais são abordados pela frente e não pelo lado. Quando os animais não se encontram habituados a ser manipulados, esta abordagem torna-os muito nervosos e consequentemente agressivos. É necessário diminuir-lhes a movimentação da cabeça com uma corda, mas nem sempre se consegue impedir o seu movimento por completo. Por vezes é necessário recorrer à utilização de um arganel, mas a sua colocação por cima da manjedoura num animal que ainda consegue mover a cabeça não é fácil nem bem aceite pelo animal.

Quando o animal já se encontra contido, procede-se à abordagem do pescoço, ou por cima da manjedoura, em que a pessoa pode escorregar e cair, ou o animal pode conseguir escapar à contenção com o arganel e agitar a cabeça e provocar uma lesão. Outras vezes é necessário entrar para junto do animal, o que acarreta outros riscos, visto que neste caso, como apenas a cabeça se encontra contida, a pessoa fica suscetível de ser esmagada contra as barras da manjedoura. Para além disto, o risco de o operador ser lesionado por um dos outros bovinos que se encontram ao lado está sempre presente, pois normalmente não há cordas suficientes para conter a cabeça de todos os animais ao mesmo tempo, fazendo-se um a um.

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III- Componente Prática

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3. Exemplo 3

Em casos excecionais existem pequenas explorações que apostaram na construção de troncos de contenção para facilitar o saneamento e outras intervenções médico-veterinárias. As fotografias apresentadas demonstram as várias possibilidades de materiais que podem ser utilizados, desde a madeira ao metal.

No caso da Fig.22. a exploração continha apenas dois animais, de forma que o proprietário construiu um tronco que permite a entrada em simultâneo de ambos, sendo possível deste modo saneá-los ao mesmo tempo.

Em baixo é possivel observar um touro num tronco de contenção (Fig.23.). Os touros são mais agressivos e possuem mais massa muscular na área do pescoço. A contenção num tronco garante uma maior segurança aos saneadores e um acesso mais facilitado que num estábulo, tornando o procedimento mais rápido e menos stressante para o animal.

Fig.23. Touro contido num tronco metálico Fig.22. Vacas contidas num tronco de madeira

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4. Exemplo 4

Existem mangas comunitárias em algumas aldeias, normalmente situadas junto à estrada, que são uma boa opção para os criadores sem possibilidades ou condições para construir uma na sua própria exploração (Fig.24.).

Estas mangas são mais funcionais quando o grupo de animais é pequeno, dependendo do tamanho do parque, que pode ser até oito indivíduos (Fig.25.). Se o número de animais for superior à capacidade do parque, os animais terão de esperar do lado de fora, correndo-se o risco de estes se assustarem com os carros e fugirem pela estrada, sendo necessário reagrupá-los o que pode levar algum tempo, atrasando o saneamento.

Fig.24. Manga de maneio comunitária

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III- Componente Prática

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5. Exemplo 5

Estas instalações de maneio consistem num parque de maneio retangular, junto a uma estrada nacional e sem paredes sólidas, aumentando assim o número de distrações e fontes de stress para os animais, permitindo-lhes a sua visualização para além da audição.

Para além da má localização, a sua construção também não é a ideal, pois a entrada para a manga efetua-se no interior do edifício (Fig.26 e 27.). Tal pode resultar numa eventual relutância por parte dos animais para entrarem na manga, pois para tal têm de entrar num edifício escuro, e num maior esforço por parte dos manipuladores para forçarem o seu movimento, aumentando a sua agitação.

O final da manga permite intervencionar vários animais em simultâneo, no entanto a sua saída para o pasto não possui qualquer separação física da zona de trabalho, colocando em risco a segurança dos manipuladores (Fig.28.).

Fig.26. e 27. Parque de maneio retangular com manga no interior de um edifício

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6. Exemplo 6

No concelho de Vila Pouca de Aguiar existe apenas um parque de maneio redondo com uma manga curva (Fig.29.). A sua construção realizou-se numa área já conhecida dos animais, o que facilitou a sua habituação à nova instalação de maneio. Todas as paredes da manga foram pintadas da mesma cor para evitar contrastes e reflexos, que também se enquadra com o ambiente. A arquitetura, baseada nos esquemas de Temple Grandin, foi pensada para que apenas uma pessoa oriente o movimento dos animais desde que entram na manga até ao tronco.

Neste caso, o portão do parque de maneio não é sólido, o que pode levar a que alguns animais tentem voltar para trás. Quando os animais entram no parque, o portão da entrada para a manga encontra-se já aberto, indicando o caminho a seguir (Fig.30.).

Fig.29. Parque de maneio redondo e manga curva

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III- Componente Prática

32 Na Fig.31. é possível observar um portão anti retrocesso de guilhotina manual de uma manga de maneio. A sua porção inferior não se encontra protegida com borracha nem tem um sistema de contrapeso no caso de uma perda de controlo do portão por parte do operador. Nesse instante, se um animal se encontra a passar por baixo do portão, seria atingido por ele e, como não tem qualquer tipo de revestimento para amortecer o contato, poderia estar sujeito a sofrer lesões. É no entanto uma situação que se consegue corrigir facilmente através do aproveitamento de borracha proveniente de pneus.

Ao longo de toda a manga, existe uma “catwalk” (Fig.32.) que permite que as paredes sejam sólidas, diminuindo as distrações visuais, e permitindo aos operadores conduzir os animais sem entrar na manga, o que garante uma maior segurança.

Fig.31. Portão anti retrocesso de guilhotina manual

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33 A condução até ao parque de maneio é realizada

por um dos proprietários que acompanha os animais desde o parque de espera. Por este motivo é essencial a existência de um portão de fuga ou de saída rápida (Fig.33.) que permite ao proprietário fugir se algum animal se tornar mais agressivo. Este portão abre para dentro e possui uma largura reduzida para evitar que os animais o consigam atravessar.

O tronco de contenção original (pintado de verde) foi aumentado após a construção inicial, permitindo sanear três animais em simultâneo. No entanto, falta ainda instalar outro portão em guilhotina (seta branca) para separar o primeiro do segundo animal no tronco, controlando melhor os seus movimentos. Este método de separação é mais seguro em relação à colocação de barras manualmente atrás de cada animal, para minimizar o movimento. A altura das paredes do tronco garantem uma maior segurança pessoal ao manipular as cabeças dos animais para a sua contenção com cordas (Fig.34.). Para minimizar o stress dos animais, as cordas são colocadas em volta dos cornos ainda na manga, onde os animais não veem os manipuladores, para quando entrarem no tronco ser apenas necessário prendê-las.

Fig.33.Portão de fuga

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III- Componente Prática

34 A saída dos animais do tronco de contenção (Fig.35.) dá-se em direção ao local de entrada, completando uma volta de 180º, para um parque de grandes dimensões, com manjedouras e bebedouros, permitindo o reencontro com os restantes membros da manada já saneados (Fig.36.), sem colocar em perigo os operadores.

Fig.35.Saída do tronco de contenção

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IV – Conclusão

Com este trabalho conclui-se que no concelho de Vila Pouca de Aguiar há uma grande variedade de condições para a realização do saneamento dos animais. De uma maneira geral, apenas os produtores com um grande efetivo possuem mangas de maneio próprias, enquanto as explorações familiares recorrem a métodos mais simplistas como prender os animais a postes ou tratores, existindo algumas exceções.

Nas ações de saneamento, é importante que o proprietário esteja familiarizado com o temperamento dos seus animais, de forma a proceder-se a uma contenção adequada de cada animal. Um animal bem domesticado não requer uma contenção física tão rigorosa comparando com um animal que não esteja habituado ao contato humano.

Devido à impossibilidade de vários criadores de construírem instalações de contenção, uma opção viável e benéfica seria a construção de mais mangas de maneio comunitárias nas aldeias, proporcionando a estes criadores e ao seu gado uma maior segurança e rapidez na realização do saneamento.

Nas mangas de maneio os manipuladores responsáveis pela movimentação dos animais devem ter conhecimentos sobre o seu comportamento natural, seja através de experiência ou de formação, para evitar situações que provoquem stress aos animais desnecessariamente. Assim garante-se uma condução pela manga calma que se traduz numa experiência mais positiva para os animais.

É do interesse do Médico Veterinário e dos proprietários trabalharem em conjunto para tentarem, da melhor forma possível e dentro das possibilidades de cada caso, melhorar as instalações onde se realiza o saneamento, aconselhando o local mais adequado e se necessário recomendar a construção de troncos de contenção ou mangas de maneio, de forma que este seja o mais seguro possível para os agentes saneadores e mais confortável e menos stressante para os animais, evitando ao máximo que estes se lesionem durante o processo.

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V – Referências Bibliográficas

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Imagem

Fig. 5. Padrão de movimento para induzir o avanço dos animais numa manga curva (Grandin, 1999)
Fig. 7. Alterações a aplicar na entrada do parque e da manga de  maneio (Grandin, 1998a)
Fig. 16: Tronco de contenção com formato  em “V” (Stafford, 2005)
Fig. 17. Utilização de objetos para auxiliar  a movimentação (Stafford, 2005)

Referências

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