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A relação empregador/trabalhador: redimensionar a comunicação

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Academic year: 2021

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Jorge Augusto da Fonte Moutinho

A Relação Empregador/Trabalhador:

Redimensionar a Comunicação

UTAD

Vila Real

2011

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Jorge Augusto da Fonte Moutinho

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A Relação Empregador/Trabalhador:

Redimensionar a Comunicação

Vila Real

2011

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Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação – Especialização em Comunicação Pública, Política e Intercultural, apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sob a orientação da Senhora Professora Doutora Maria Luísa de Castro Soares (Professora Auxiliar com Agregação na UTAD)

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Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Professora Doutora Luísa Soares pela paciência e dedicação demonstrada durante este processo, e por ter aceitado orientar a minha Dissertação de Mestrado.

Agradeço ao Coordenador de Mestrado, Professor Doutor Galvão Meirinhos, pela inspiração e pelos conhecimentos transmitidos, pois muitos dos seus ensinamentos transmitidos na cadeira de Comunicação Estratégica, foram essenciais na realização deste trabalho.

Uma palavra de agradecimento também ao restantes docentes da área de mestrado que tiveram um papel fundamental no meu crescimento intelectual, e que contribuíram com o seu capital de conhecimento por mim apreendido, para a elaboração desta Dissertação.

Agradeço à Professora Elvira Lameirão o apoio prestado. Aos meus amigos e colegas, agradeço o apoio material e moral, pois estiveram presentes nos momentos mais difíceis deste processo.

À minha família que sempre me apoiou.

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Índice

Resumo 7 Abstract 8 Nota Prévia 9 Introdução 11

I Parte - O trabalho e o trabalhador na revolução industrial 17

1.1.O trabalhador na revolução industrial: o contexto socioeconómico 18

1.2. A exploração dos trabalhadores, a defesa dos seus direitos e as primeiras revoltas laborais 21

II Parte - O mercado laboral e o desemprego 27

2.1. Um flagelo social 28

III Parte - A dura realidade do despedimento 32

3.1. O emprego e o desemprego na vertente económica 36

3.2. O mercado de trabalho enquadrado no regime jurídico português 41

3.2.1. Breve olhar histórico 41

3.2.2. Na actualidade 43

3.3. O despedimento no regime jurídico português actualmente 48

3.3.1. A protecção do trabalhador: A liberdade sindical 50

3.3.2. Um breve olhar sobre a liberdade sindical em Portugal 51

IV Parte - A difícil relação empregador/trabalhador 53

4.1. O processo comunicativo 57

4.2. O empregador e a comunicação na organização 60

4.3. Comunicação e estratégia: Uma relação indissociável na organização 76

4.4. A motivação: Um factor essencial 81

4.5. O conflito e a negociação: Aptidões fundamentais de um líder 84

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4.7. A organização e a equipa 89

4.8. A gestão de recursos humanos 92

4.9. A relação empregador/trabalhador na prática 95

V Parte - Que futuro? 103

Conclusão 108

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Resumo

A revolução industrial inglesa marcou uma viragem no mundo laboral. A forte industrialização da época chegou acompanhada de uma exploração excessiva dos operários que trabalhavam muito e viviam em condições de miséria.

Essa forte exploração dos operários levou a que surgissem os primeiros mecanismos para a sua protecção face aos abusos de que eram alvo. Leis e normas foram implementadas e associações criadas para esse efeito. Com o passar dos séculos, chegou-se aos dias de hoje com um mundo do trabalho marcado por grandes diferenças. Se é verdade que temos, actualmente, bastantes leis de regulação ao nível do mercado laboral, que abrangem todos os intervenientes da relação de trabalho, tais como o empregador, o trabalhador, os salários, ou aspectos como os despedimentos, a verdade é que continuam a verificar-se bastantes excessos para com os trabalhadores.

Os trabalhadores, hoje em dia, sofrem muito com a precariedade e é de extrema importância que as entidades patronais estejam atentas a isso: uma boa liderança, com base na comunicação e a motivação ou incentivo da excelência dos serviços são factores essenciais que tornam a condição dos trabalhadores melhor e o seu trabalho mais válido. Desta maneira o mercado laboral será melhor no futuro.

Palavras-chave:

Precariedade laboral, Relação empregador/trabalhador, mercado de trabalho, comunicação, mudança.

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Abstract

The British industrial revolution has changed the world in terms of work. The strong industrialisation of that time came along with a huge exploitation of the workers who worked long hours and lived in very poor conditions.

That severe workers’ exploitation led to the first defence mechanisms against the abuses they were subjected to. Laws and rules were implemented and associations were created in order to reach that purpose. The centuries went by, and nowadays the world of work is a completely different one.

. No doubt that we currently have a lot of laws to regulate the labour market that include all the interested parties of the work relation namely the employer, the employee, salaries, or the other aspects related to redundancies, nevertheless we continue to see a lot of excesses committed against the workers.

Workers presently suffer a lot with precariousness and it´s very important that employers pay attention to those situations. A good leadership, based on communication, motivation or incentive to reach Excellency in services, are essential elements to make the workers’ conditions better and their job worthier. Only then, will the future in the labour market be better.

Key-Words:

Precariousness, Labour market, Employer/employee relationship, communication, Change.

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Nota Prévia

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O tema desenvolvido neste trabalho tem a ver com a comunicação nas empresas, a precariedade laboral e o dinamizar da relação empregador/trabalhador. Na verdade, a conjuntura actual não oferece uma perspectiva agradável quer em termos sociais, quer em termos políticos e económicos e o mercado de trabalho actual é pautado por uma precariedade, fruto dessa mesma conjuntura mundial, que não oferece muita segurança a nenhum nível, designadamente, no que respeita o mercado de trabalho.

Por este motivo, o capital humano nas organizações deve ser preservado ao máximo, pois é do seu potencial transformador e criativo que vai depender o sucesso da empresa no mercado. Bons processos e mecanismos de comunicação, motivação, estratégia e gestão devem ser empregues na protecção do capital humano da empresa.

A precariedade laboral é uma área bastante sensível, que tem uma forte componente política, pois vários governos a nível mundial enfrentam o mesmo problema. A manutenção de elevados níveis de emprego nem sempre é possível, pois existem diversas variáveis económicas e outras, de outro teor, em jogo. Diversos governos encontram uma das causas das sua queda, ou ruptura, nas questões que se prendem com a área do emprego, pois esta é de facto uma área delicada e em que os responsáveis políticos não conseguem encontrar soluções satisfatórias de todo.

O problema do emprego é um problema público em que vários actores estão envolvidos, tais como governos, organizações mundiais, etc. De facto, a precariedade laboral é um dos grandes flagelos que abrange o mundo actualmente e um dos grandes desafios que urge enfrentar, que traz uma consequência bastante grave, que é o desemprego. O desemprego é um problema que acaba por abarcar todos os intervenientes da sociedade. Quer sejam políticos, quer empresários, todos devem estar concentrados em reduzir o número de desempregados de uma sociedade. Este é então um problema de carácter público que urge solucionar com a ajuda de todos.

A precariedade laboral é um tema que a interculturalidade abrange ou deveria abranger. Para um estudo da precariedade laboral existe uma multiplicidade de conceitos de cariz sociológico, económico-social, étnicos ou históricos que são quase indissociáveis desta temática. Em termos de comunicação, especialmente, deveria

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Nesta dissertação não foi assumido o novo acordo ortográfico, pois a mesma foi iniciada em período de transição.

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apostar-se numa cultura de integração, de interacção e de apaziguamento entre os diversos actores do vínculo laboral. Só assim se pode alcançar um mercado laboral harmonioso e tão desenvolvido quanto possível. É isto que almejamos no futuro…

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Introdução

A precariedade laboral é uma das grandes questões com que o mundo globalizado se depara hoje em dia. O mercado de trabalho mundial encontra-se bastante fragilizado, devido às sucessivas crises económicas e sociais que vêm abalando o globo nos últimos anos e, por isso mesmo, hoje em dia o mercado de trabalho é sinónimo de grande precariedade.

Por todo o mundo existem milhões de pessoas integradas no mercado de trabalho em situação de grande instabilidade, com contratos de trabalho a prazo e integrados em empresas ou fábricas em risco de falência. De resto, a actual conjuntura económica, não só em Portugal mas no resto da Europa e do mundo, leva as empresas a terem de se ajustar e adaptar à realidade mundial regularmente, ou seja, o risco de falência está sempre presente.

Se esse risco de falência está sempre presente na mente ou na realidade das milhares e milhares de empresas e outras entidades espalhadas pelo mundo, então nos milhões de trabalhadores a nível mundial o risco de despedimentos está ainda mais acentuado. Ao nível da mão-de-obra, dos trabalhadores, a precariedade atinge proporções ainda mais elevadas. O risco de despedimentos é mais acentuado, e o temor de esses mesmos trabalhadores perderem os empregos e caírem no mundo do desemprego é bastante elevado e pode levar a outro tipo de perturbações como elevados níveis de stress ou depressões.

Os trabalhadores são a base de qualquer empresa ou fábrica e, em última análise são a base de uma economia. Se essa economia falha por qualquer motivo, seja por factores externos ao controlo dos governos, seja por factores internos como a aplicação de políticas erradas, os trabalhadores vão começar a reflectir essa falha. Os seus níveis de autoconfiança, de motivação vão começar a decrescer, o seu optimismo num futuro melhor começa a diminuir. É portanto necessário criar as condições que permitam aos trabalhadores de um país, e de todo o mundo em geral trabalhar melhor, sentirem-se mais felizes, mais optimistas, mais confiantes, de modo a maximizar melhor as suas potencialidades em prol da economia nacional pois se isso acontecer nos vários países, é a economia global que acaba por beneficiar e crescer.

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A revolução industrial, que se deu em, Inglaterra no séc. XVIII alastrou para vários países nos séculos seguintes e deu o início a uma transformação na indústria em grande escala. As zonas fabris aumentaram exponencialmente bem como as quantidades de mão-de-obra. Milhares de operários vinham das zonas rurais em busca de melhores condições de vida, mas o que encontravam estava longe de ser o que ambicionavam.

Os empresários da época beneficiavam do facto de haver mão-de-obra em excesso, pois mesmo as fábricas com as suas novas ferramentas e meios de produção inovadores não conseguiam absorver toda a mão-de-obra existente. Portanto, muitos trabalhadores tinham de aceitar as condições de trabalho impostas pelos patrões, porque a concorrência era muita entre aqueles que iam em busca de trabalho.

Todavia, as condições oferecidas pelos patrões eram fracas, os operários eram brutalmente explorados, pois trabalhavam 12 ou 15 horas por dia, sem condições. Na verdade as condições de alojamento eram péssimas, com famílias inteiras a dormirem em pequenos armazéns sem ventilação, com fraca luminosidade e com uma grande taxa de humidade. A alimentação era fraca para a classe operária e todos esses factores contribuíam para o aumento de doenças relacionadas com a fraca higiene e fracas condições de trabalho.

Os acidentes de trabalho eram frequentes, o que resultava muitas vezes na morte de operários. Estas fracas condições de vida e de trabalho dos operários levam à revolta ao longo de décadas. A chamada Questão Social surgiu na altura como uma chamada de atenção para os problemas da classe operária e, devido a isso, surgiram vários movimentos de consciência que alertavam para esse problema. A nível político e religioso surgiram personalidades a alertar para as más condições dos operários e além disso, várias foram as revoltas operárias que por essa altura chamavam a atenção de várias personalidades. A preocupação com a condição dos operários começava assim a dar os primeiros passos.

As primeiras leis sociais de protecção dos operários datam dos inícios do séc. XIX, e diziam respeito à protecção do trabalho feminino e infantil que por aquela época era muito utilizado. As primeiras associações de protecção aos operários começam também a surgir, (as denominadas Trade Unions), são, pode dizer-se, os primeiros modelos de associações sindicais. Essas associações, surgidas por volta de 1825, lutavam pela melhoria de vida das condições dos operários.

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Pode, portanto, dizer-se que o período da revolução industrial marcou uma era no que diz respeito às leis de protecção dos operários/trabalhadores no que concerne a legislação e estruturas e associações de apoio.

Em Portugal, a revolução industrial iniciou-se mais tarde do que em países como a Inglaterra a França ou mesmo os Estados Unidos. Apenas em finais do séc. XIX, se podia falar numa indústria portuguesa relativamente implantada, logo, a protecção ao trabalhador foi uma área à qual se começou a dar a devida atenção, mais tarde também. A título de exemplo, pode referir-se que a primeira lei social portuguesa data de 1891.

No que respeita à realidade nacional, há a referir que Portugal sempre foi marcado por revoluções e períodos de grande agitação. Em finais do séc. XIX e já no séc. XX, Portugal experimentou vários regimes em que as classes operárias e trabalhadoras viveram sempre em diferentes realidades.

O liberalismo que se prolongou até 1910, o período desde 1910 até ao golpe de 1926, que resultou na imposição de uma ditadura prolongada que durou até 1974, foram períodos em que as preocupações com os trabalhadores, (sem as leis sociais e sem as associações de trabalhadores e de protecção e apoio a estes), foram quase sempre inexistentes. Devido a políticas de repressão, de censura e de elevado controle por parte das forças policiais, e também, devido a regimes jurídicos penalizadores, os trabalhadores portugueses viveram quase até ao último quarto de século em Portugal, num regime de indiferença e subjugação. A título de exemplo pode referir-se que o código penal de 1852 penalizava as associações quer de trabalhadores quer mesmo as associações patronais.

Em 1974, a ditadura em Portugal foi derrubada e assistiu-se a um grande período de agitação e tensão social. Com a implementação de uma nova constituição, em 1976, os direitos dos trabalhadores passavam a estar mais protegidos

No entanto, nos dias que correm não é só a constituição portuguesa que consigna a protecção dos trabalhadores. Desde o fim da segunda guerra mundial, em 1945, que uma série de instituições mundiais foram criadas para, entre outros aspectos, protegerem os trabalhadores do mundo e incentivarem a implementação de políticas geradoras de emprego.

A ONU foi fundada ainda em 1945 e consistia numa série de países que se instituíram numa organização mundial. Uma das muitas instituições que se encontram sob a égide da ONU é a OIT. Todavia, a criação desta data do fim da primeira guerra

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mundial, na conferência de paz que se lhe seguiu. A OIT tem a base da sua actividade nas preocupações relativas ao mundo do trabalho.

Ainda no decorrer da segunda guerra mundial, foi criada em 1951, na Europa a CECA. Foi uma organização criada por alguns países para promover uma união na Europa do pós-guerra que fortalecesse este continente a nível social e económico. A CECA foi ao longo das décadas alterando a sua formatação, através do alargamento a mais países, da mudança de designação e da alteração da sua constituição das suas normas, sendo que, hoje em dia, depois de muitos tratados assinados como Roma, Maastricht ou Nice, a original CECA ficou instituída como UE.

A União Europeia ou a OIT têm consignado nas suas constituições a protecção dos trabalhadores a melhoria das condições de trabalho em suma, todos os aspectos que possam proteger e defender os interesses dos trabalhadores.

A nível de Portugal, e do seu mercado de trabalho e seus trabalhadores, a sua protecção está assegurada não só a nível externo, mas a nível interno. Como já foi referido, a Constituição da Republica Portuguesa, mas também o código do trabalho, (no qual estão consignados a defesa dos direitos e garantias dos trabalhadores mas também os seus deveres, e os aspectos referentes a temas como a retribuição, férias, greves, associações e comissões de trabalhadores). Estão ainda consignados, de resto, não só os aspectos referentes aos deveres e direitos dos trabalhadores, mas também os direitos e deveres das entidades patronais.

Todavia a verdade incontornável é que a legislação quer nacional, quer internacional não é suficiente para assegurar a protecção do trabalhador no mercado de trabalho actual. Existem sempre empresários e entidade patronais que, com o intuito de lucrarem o máximo com os seus negócios, atropelam os direitos e deveres dos trabalhadores. Existem processos de despedimento em que esses direitos são completamente esquecidos e postos de lado, quando se chega ao cúmulo de despedir um funcionário de uma fábrica por telemóvel através de mensagem escrita.

A interacção das entidades patronais para com os seus trabalhadores deve assim ser revista, pois, no actual contexto mundial, torna-se necessária uma melhor relação entre trabalhadores e empregadores para uma melhor harmonização do ambiente de trabalho.

Só com uma melhor harmonização do ambiente de trabalho se pode esperar uma relação de trabalho mais frutuosa, em que lucram ambos os intervenientes. Lucram os

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trabalhadores, os empregadores, lucra a empresa ou fábrica. Assim sendo, lucraria a economia nacional, se as relações de trabalho fossem todas harmoniosas, pois assim haveria um maior desenvolvimento da entidade de trabalho e um maior crescimento.

A realidade, porém, é que não se aposta tanto quanto se deveria na comunicação e comunicação na empresa não é um conceito simples.

Numa empresa, a comunicação entre a entidade empregadora e seus funcionários deve ser melhor aproveitada, deve ser redimensionada, para bem de todos os intervenientes na relação de trabalho.

Existem vários factores que podem fazer com que o processo comunicacional seja mais desenvolvido e melhorado. A negociação, a gestão de conflitos entre empregador e trabalhador deve ser trabalhada ao máximo, para evitar o máximo de choques entre estes dois intervenientes.

Os empregadores devem saber motivar os seus funcionários, devem saber como mantê-los felizes dentro da empresa para assim tirarem deles o melhor rendimento possível. O grande motor, seja de uma fábrica de uma empresa ou de outra entidade, são os seus trabalhadores/funcionários. Estes constituem os recursos humanos que são a peça chave de uma economia. A área dos recursos humanos deveria ser portanto uma área onde as entidades empregadoras deveriam apostar, pois, se o fizerem poderão melhorar os processos comunicacionais entre si e os seus subordinados o que constituirá certamente um factor de desenvolvimento das suas empresas.

Este trabalho pretende pois dar um contributo ao desenvolvimento e melhora da comunicação entre empregadores e trabalhadores no que respeita à relação destes no local de trabalho, pois isso é fundamental para uma relação de trabalho que se pretende que seja harmoniosa.

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I Parte

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O trabalho e o trabalhador na revolução industrial

A revolução industrial foi um processo de grandes mudanças a todos os níveis, quer económico quer social. Alastrou a vários países do mundo e levou a uma transformação de vários sectores da actividade económica, processo esse que decorreu da inovação que foi o aparecimento de novos métodos e meios no que concerne à exploração e tratamento de várias matérias-primas.

Foi em Inglaterra, por volta do séc. XVIII, que se deu o início da revolução industrial e que iria alterar o curso da história e o rumo do desenvolvimento de vários países.

Londres cresceu e evoluiu bastante com a industrialização e outros centros surgiram como Manchester, Bristol, Leeds ou Birmingham.

De Inglaterra, a revolução industrial alastrou para as sociedades europeias como a França ou a Alemanha e numa fase posterior, na denominada segunda revolução industrial, que abrangeu o fim do séc. XVIII e inícios do séc. XIX, alguns países como os Estados Unidos, Rússia ou o Japão beneficiaram das inovações tecnológicas e industriais.

Essas inovações levaram à substituição de grande parte da força física dos trabalhadores, pela força mecânica das máquinas. Os artesãos deram lugar aos operários, as oficinas às fábricas. Áreas como os têxteis e outras sofreram inovações com o surgimento de novos métodos e máquinas como o tear mecânico ou a máquina a vapor.

Precisamente o vapor ou a electricidade foram duas das muitas inovações que permitiram a exploração e tratamento de variadas matérias-primas, tais como o aço, o ferro, o carvão ou o petróleo. Industrias como a siderurgia ou a química sofreram grandes avanços.

Todos estes grandes avanços tornaram o trabalho mais fácil pois a força física dos trabalhadores deixou de ser a principal força matriz da produção, tendo sido substituída na sua maior parte pela força mecânica das novas máquinas. A nível de rapidez de produção, a revolução industrial imprimiu um novo ritmo ao factor produtivo, pois as fábricas, com as suas máquinas, confeccionavam e produziam bens mais rapidamente do que aconteceria se a produção continuasse ainda na sua maior parte dependente da força de trabalho do homem.

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Apesar de a nível de trabalho, a revolução industrial ter trazido mais inovação, mais rapidez na produção e consequentemente mais quantidade de bens, pode dizer-se que no que respeita ao trabalhador ou operário, a realidade não era assim tão boa.

Estas inovações levaram à formação de uma verdadeira indústria nos países abrangidos pela revolução industrial. Cidades como Londres, Glasgow ou Paris, cresceram bastante e tornaram-se grandes metrópoles de desenvolvimento económico. Os habitantes do meio rural, começaram a chegar em grandes quantidades a estes centros urbanos com esperanças em conseguir um trabalho, todavia muitos deles deparavam-se sempre com o mesmo problema. Dado que a actividade e força de trabalho humanas já não eram tão necessárias a grande escala, muitas das pessoas não conseguiam trabalho pois este já tinha sido tomado pelas máquinas a vapor ou pelos novos teares mecânicos mais modernos. (Isaías, 2009: 6-9).

A Inglaterra foi portanto pioneira na revolução industrial, tendo-se rapidamente tornado na principal potência da época todavia em outros países o processo de industrialização foi mais lento como foi o caso de Portugal, onde por exemplo apenas em 1831, é que a máquina a vapor foi introduzida. (Leite, sd: 191).

Por volta de 1870 é que se começou a verificar um crescimento em termos de indústria. No entanto, factores como a instabilidade política, o analfabetismo da população ou o fraco mercado interno derivado das fracas condições de vida da população, fizeram com que esse crescimento industrial se fizesse lentamente. (Reis 1986: 903).

1.1. O trabalhador na revolução industrial: o contexto socioeconómico

A revolução industrial trouxe mudanças no aspecto social para os habitantes das grandes metrópoles, para os operários das fábricas, para os trabalhadores em geral. Essa mesma indústria levou a uma menor necessidade de mão-de-obra, sendo que esta era em grande quantidade pois tinha-se verificado um grande êxodo dos campos para as cidades. Posto isto, verificava-se uma grande taxa de desemprego e de criminalidade que iam aumentando constantemente posto que havia pessoas a tentarem sobreviver mas como não tinham trabalho, inclinavam-se para o mundo do crime. A mendicidade também atingiu grandes proporções, pois, não havendo trabalho, era mais difícil subsistir para milhares de pessoas. (Rioux, 1982: 205-206).

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A nível dos operários a situação era ligeiramente melhor, mas ainda assim era uma realidade degradante. Apesar de as máquinas tomarem grande parte do trabalho antes pertencente aos trabalhadores, estes também eram necessários para realizar certas tarefas como o manuseamento das máquinas ou a limpeza e manutenção destas além de muitas outras actividades que as máquinas não podiam substituir.

Os operários eram bastante explorados a nível físico pois tinham uma carga de trabalho diário excessiva, que normalmente excedia 12 horas. Aliado a isso, as condições oferecidas pelos patrões eram más, tanto em termos de salários como em termos de alojamentos. Muitas vezes os operários eram colocados a viver em grandes grupos num espaço reduzido sem condições de higiene ou de descanso, inclusive muitos operários viviam lado a lado com animais o que dificultava as condições de higiene ainda mais. Muitas famílias viviam nessas condições degradantes, agregados familiares numerosos em que as crianças eram também elas obrigadas a trabalhar para darem ao agregado mais algum dinheiro. O trabalho infantil era de facto bastante comum durante a revolução industrial, pois as crianças recebiam menos dinheiro do que os adultos e era expectável que durassem mais tempo do que os adultos, porque eram obviamente mais novas. (Isaías, 2009: 10).

A alimentação era também ela bastante má para os operários em geral. Bens como peixe, carne, leite ou certos vegetais eram um luxo a que muito poucos tinham acesso. O pão, as batatas e bolachas eram a base para o comum operário.

Com a revolução industrial as cidades tornaram-se, portanto, centros mais agitados e ao mesmo tempo degradados.

Com o aparecimento de novas máquinas e novas indústrias, a poluição aumentou exponencialmente, pois as matérias-primas como o carvão, petróleo ou ferro, eram sujeitas a novos tratamentos, por conseguinte os níveis de gases e poeiras emitidos para a atmosfera eram bastante elevados o que punha em causa não só o meio ambiente mas também a saúde dos operários.

Por essa razão havia na altura, entre a classe operária, uma grande taxa de infecções respiratórias e outras doenças. (Rioux, 1986: 189-199).

A nível de doutrinas económicas, os estados pautavam-se por um liberalismo que atendia á não intervenção do estado na economia, pois o mercado com todas as suas variáveis encontraria uma harmonia. Todavia esta auto regulação do mercado, não aconteceu. A oferta de mão-de-obra era muita e com isso a possibilidade de arranjar trabalho de milhares de homens e mulheres estava gravemente comprometida.

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Os operários necessitavam de emprego para sobreviver e por isso sujeitavam-se a más condições de subsistência oferecidas pelos empresários/patrões. Estes apenas pensavam em aumentar os seus lucros cada vez mais, nem que para isso tivessem que explorar os operários através de cargas excessivas de trabalho e precárias condições de existência. O aumento de capital, de lucro a qualquer preço era a doutrina dos grandes empresários que a revolução industrial criou em grande escala. A classe burguesa era a classe que tinha mais capital para investir em novas máquinas, fábricas e unidades de produção. Como essas máquinas aumentavam a rapidez de produção, o que se reflectia na quantidade de bens produzidos que era bastante elevada, torna-se fácil perceber porque é que se formaram grandes empresas e grandes monopólios. Os industriais aproveitavam então as fragilidades das classes mais baixas em busca de emprego. Contratavam funcionários a baixo custo, pois, como havia excesso de mão-de-obra, os trabalhadores tinham de aceitar uma baixa remuneração para sobreviver, porque tinham de ultrapassar uma grande concorrência. Para os patrões, a mão-de-obra preferida eram as mulheres e crianças pois recebiam salários mais baixos do que os homens. A dignidade dos operários era assim quase nula e a sua liberdade pessoal estava na mão dos industriais. Desta situação, nasceu a designação de proletariado, que era a classe oposta á classe burguesa capitalista e detentora de riqueza e monopólios industriais.

O poder politico não intervinha no mercado, pois o principio da não intervenção era apoiado por fortes grupos de interesses, sendo que os liberais defendiam que o mercado se auto regularia a si próprio.

Assim os estados liberais deixaram a classe operária cair nas mãos do capitalismo selvagem e desenfreado. (Leite, sd: 18-19).

Devido a este sistema capitalista desenvolvido na revolução industrial, a classe operária enfrentou sérias dificuldades durante décadas. A sobrecarga de trabalho, as más condições de alojamento e de alimentação, os problemas de saúde e as fracas remunerações por parte dos patrões foram factores que contribuíram e muito para as várias revoltas operárias que os trabalhadores dos mais variados sectores, operaram, na busca de melhores condições de trabalho e de vida, contra o sistema capitalista encabeçado pelos patrões que por tentarem sempre obter tanto lucro quanto possível, sacrificaram os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Estes problemas todos resultaram num fenómeno designado “Questão Social”, sendo que a grande questão era

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mesmo o atentado às condições de vida dos trabalhadores que eram péssimas. (Amado 2009: 16).

1.2. A exploração dos trabalhadores, a defesa dos seus direitos e as

primeiras revoltas laborais

Como já foi referido, a revolução industrial foi uma época de progresso a vários níveis. A nível tecnológico, trouxe bastantes inovações, pois substituiu a força física do homem pela força das máquinas o que facilitou bastante a realização de algumas tarefas. A nível económico também houve mudanças, pois com as máquinas as tarefas desempenhavam-se mais rapidamente, o que aumentava também a rapidez de produção de bens e outros produtos, bem como a sua quantidade e subsequentemente, as margens de lucro também subiam.

A nível social também houve grandes mudanças, pois registou-se um grande êxodo dos campos para a cidade. A revolução industrial levou a que fossem criadas muitas fábricas nas cidades, nas quais as pessoas iam trabalhar. Era a classe operária a dar os primeiros passos.

No entanto, e ao mesmo tempo que a revolução industrial ia trazendo inovação, também trazia degradação humana.

Em busca de grandes lucros, os empresários/patrões faziam com que os operários trabalhassem sempre muito e em más condições. O número de horas de trabalho diário de um operário podia chegar a 18 horas, sedo que podia prolongar-se até à noite com recurso a iluminação a gás ou a óleo e que nem sempre dava uma boa visibilidade.

Em muitos casos, não bastava a uma família que apenas um ou dois dos seus membros trabalhassem. Portanto era necessário que todo o agregado familiar estivesse empregado para garantir as condições mínimas de subsistência, nem que para isso os filhos tivessem de acompanhar os pais e avós na jornada de trabalho. As condições de alimentação como referimos eram más e as condições de alojamento eram muito precárias, sendo que, em muitas fábricas havia armazéns situados mesmo ao lado que se encontravam a abarrotar de operários.

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Famílias inteiras viviam, muitas vezes, em caves escuras e húmidas e até chegavam a habitar os alojamentos de animais. Os problemas de saúde eram uma constante, pois os operários privavam de muito perto com as máquinas, sendo que estavam encarregues da manutenção destas e portanto estavam sujeitos á acção do pó, humidade ou vapores tóxicos, sendo que as fracas condições de alojamento e de higiene não ajudavam pois as caves e armazéns onde os operários estavam amontoados eram húmidos e mal arejados, e os alojamentos que estes partilhavam com os animais eram sempre um bom sítio de propagação de vírus ou bactérias.

A dieta dos operários raramente continha todos os nutrientes e vitaminas necessários.

Posto isto, doenças como a asma ou a tuberculose são muito comuns. Por exemplo, em Derby, na Inglaterra, 30% dos operários morrem em 1844, vítimas de doenças no peito. Com todo este cenário, as grandes epidemias alastram-se um pouco por toda a Europa, exemplo disso são as epidemias de cólera entre 1830 e 1855.

Um aspecto importante da revolução industrial era o trabalho infantil. As crianças do agregado familiar eram também forçadas a trabalhar. As crianças eram bastante usadas na manutenção das máquinas, quer na limpeza ou quer para resolver alguma avaria ou substituir algum componente, pois, dado que eram de pequena estatura, podiam aceder mais facilmente a partes das máquinas menos acessíveis aos adultos.

Durante o período da revolução industrial, havia sempre grande quantidade de mão-de-obra e em função de tão grande quantidade, ela saia sempre barata aos patrões, todavia as crianças eram a mão-de-obra preferida e mais utilizada, pois havia sempre a garantia de por serem mais novos, aguentarem mais tempo (na óptica dos patrões), pois em média vinculavam-se aos patrões por um período de 7 anos, e além disso os salários que as crianças recebiam eram bastante inferiores aos dos homens e mulheres. Os menores eram vigiados por capatazes que por vezes eram crianças mais velhas, e se houvesse atrasos ou brincadeiras no local de trabalho, estes eram castigados.

Os acidentes de trabalho com crianças eram bastante frequentes, havendo casos de estabelecimentos e fábricas onde houve mortes ou mutilações graves.

De resto, os acidentes eram comuns também em homens e mulheres bem como os castigos, sendo punidas as conversas entre trabalhadores ou até o simples acto de assobiar. (Isaías, 2009: 10-15).

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A verdade é que esta situação levou a um problema contraditório, pois os patrões, com o intuito de terem mais lucros, sobrecarregavam os operários com elevadas cargas de trabalho, forneciam maus alojamentos o que originava péssimas condições de higiene, a alimentação raras vezes era a mais adequada, as doenças e epidemias eram uma constante, bem como os acidentes de trabalho, e os castigos. Com toda esta situação, a saúde dos trabalhadores ressentia-se e por consequência a capacidade de trabalho destes diminuía drasticamente. Posto isto, o que alguns patrões faziam era aumentar ligeiramente os salários dos operários para estes comprarem mais bens alimentares para não sucumbirem tão depressa, em termos físicos, ao trabalho extenuante. Eram providenciados também novos e melhores alojamentos, mas por exemplo em troca, o número de horas diárias de trabalho aumentava. Por isso mesmo, o problema de fundo da exploração da classe operária continuava.

Outros problemas vieram associados à miséria do proletariado, como o alcoolismo que proporcionava aos operários um certo recuperar de forças ou a criminalidade resultante, não só da miséria, mas também do desemprego que se fazia sentir durante o período da revolução industrial. Na verdade esta trouxe o aparecimento das máquinas e a inovação da produção e isso provocou um aumento de mão-de-obra que o mercado não conseguia absorver na totalidade, pois as ditas máquinas tornavam desnecessários muitos trabalhadores. Esta situação provocou um grande nível de desemprego e situações de revolta entre os trabalhadores de que é exemplo o “Luddismo” que foi um movimento revoltoso iniciado pelo inglês Nec Ludd em finais do séc. XVIII, que opunha os tecelões ingleses às máquinas que lhes tiravam o trabalho. (Rioux, 1986: 199-209).

A classe operária, devido às más condições de vida a todos os níveis, foi ficando saturada e as revoltas estalaram. Além do movimento do luddismo, acima citado, ocorreram mais revoltas como, por exemplo, a revolta dos tecelões de Manchester, em 1817, ou a revolta em Lyon, na França, em 1831 dos operários contra os empresários por não respeitarem os níveis salariais. Muitas destas revoltas eram violentamente reprimidas e causavam um grande número de mortos, feridos e detidos. Estes problemas todos que surgiram na classe operária levaram a uma situação conhecida como a

Questão Social. (Leite, sd: 21).

Surgiram além destes movimentos de operários revoltosos, movimentos políticos e cívicos ligados ao proletariado. Além disso diversos nomes importantes da época se

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associaram à defesa da classe operária, como Marx e Engels, que escreveram o

Manifesto Comunista entre 1847-48, no qual ficou celebre o lema:

“Proletários de todos os países, uni-vos!”. (Mores, sd: 3).

Portanto a questão social alertou vários quadrantes da sociedade para as condições difíceis da classe operária, desde a política até á religião. Por exemplo, no pontificado do papa Leão XIII um documento datado de 15 de Maio de 1891, denominado Rerum

Novarum, alertava sobre as condições dos operários, criticava o liberalismo e apelava

aos estados para intervirem na defesa dos operários.

As primeiras leis sociais são implementadas um pouco por todo o mundo (1819 em Inglaterra, 1839 na Rússia, 1841 em França ou 1891 em Portugal).

Em Inglaterra, em 1819, são aprovadas medidas que fixam a idade mínima para a entrada no mercado da manufactura de algodão para 9 anos e para a fixação do horário diário de trabalho em 12 horas. Em 1831, foi proibido o trabalho nocturno até aos 18 anos. Em 1833 o trabalho infantil foi reduzido para 48 horas por semana. A nível de formação de associações de defesa dos trabalhadores, verificam-se também mudanças. Em 1824, o governo inglês aprova um diploma (Combination Law Repeal Act), que revogava as leis que proibiam as associações profissionais e que datavam do período de 1799-1800. Em França, em 1864 e 1884, as primeiras leis que permitiam a liberdade de associação e direito à greve são aprovadas. (Leite, sd: 22-23).

Já antes, em 1724, os operários fabricantes de chapéus em Paris manifestavam-se e faziam greve contra a redução dos manifestavam-seus salários. Em 1804-1805, realizou-manifestavam-se em Glasgow uma greve de tecelões, que paralisou o sector por toda a Escócia. Estas manifestações eram violentamente reprimidas. Por exemplo, em 1812 e 1819, o exército inglês reprimiu manifestações de operários, das quais resultaram vários mortos e feridos. (Coggiola, 2007: 31).

Em 1824, porém, já surgiam as primeiras associações de apoio à classe operária, através de centros que prestavam auxílio em casos de acidentes de trabalho ou situações de desemprego. As Trade Unions, eram associações de trabalhadores que lutavam pela melhoria das condições de vida dos operários e eram comuns naquela época. Todavia, isso não implicava que abusos continuassem a ser cometidos, pois, em 1842, crianças de 5 anos continuavam a trabalhar em minas, desde as 4 horas da madrugada até às 5 horas da tarde do dia seguinte.

O percurso que envolveu a realização das primeiras greves, o aparecimento das primeiras leis sociais, das primeiras associações de apoio dos operários e associações

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sindicais foi lento, mas progressivo. A liberdade sindical e o direito à greve davam assim os primeiros passos rumo à tolerância e aceitação na era industrial. Este foi um percurso marcado inicialmente pela proibição e forte repressão e, finalmente, terminou com o reconhecimento destes como direitos importantes para o bem-estar dos operários. (Rioux, 1986: 212).

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II Parte

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O mercado laboral e o desemprego

O desemprego é hoje um dos maiores flagelos a nível mundial. No actual contexto de crise mundial em que vivemos, este é um problema que assume especial relevância e que deveria ser uma questão prioritária de todos os governos.

Desde a era das primeiras industrializações, o desemprego era já um grande problema, quando as indústrias das grandes metrópoles não conseguiam absorver a mão-de-obra em excesso. Esta era constituída sobretudo pelos habitantes do mundo rural que iam em busca de melhores condições de vida para as cidades. E o problema, hoje em dia, mantém-se com um mundo muito mais industrializado e populoso.

O desemprego ameaça hoje tornar-se no maior problema que as sociedades enfrentam, se não o é já. Há uma série de factores que contribuem para esta situação e que formam um ciclo, de certa maneira vicioso, do qual se torna difícil sair, e é por isso que o mercado de trabalho é um mundo em que é difícil entrar se não se estiver bem preparado pois é um lugar onde só os mais fortes sobrevivem.

A má conjuntura económica actual mundial, certos factores e certas políticas de interesses, demasiadamente poderosas, fazem com que o mercado de emprego hoje em dia esteja cada vez mais difícil de aceder, mês um alto grau de qualificação pode não ser suficiente para uma pessoa arranjar trabalho. As empresas ou os patrões invocam quase sempre e com razão na maior parte dos casos a má conjuntura económica para não contratar novos funcionários ou para despedir funcionários.

As más políticas económicas, as más práticas de gestão, os recursos mal aplicados ou grupos de interesses que constituam forças de bloqueio ao emprego, tudo isto são factores que fazem do desemprego um grave problema mundial.

Em suma, este problema do desemprego causa distúrbios graves no mercado de trabalho, quer seja no aceso a este, pois torna-se difícil com tanto excedente de mão-de-obra, quer seja na manutenção neste mesmo mercado, pois o trabalhador está sempre com receio de perder o emprego. Estes e outros factores de diversa ordem: social, psicológica ou económica, ampliam portanto a precariedade laboral.

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2.1. Um flagelo social

O desemprego é um fenómeno mundial que de facto é bastante negativo, e talvez hoje em dia seja mesmo o maior problema social que as sociedades enfrentam. Existem vários tipos de desemprego, como o voluntário, no qual as pessoas não querem trabalhar por factores como a procura de um emprego melhor ou o surgimento de conflitos com a entidade patronal anterior. Temos também o desemprego friccional, em que temos um período de tempo em que uma pessoa deixa o anterior emprego para procurar outro. Este tipo de desemprego está associado à mobilidade de mão-de-obra. O desemprego involuntário acontece, devido a factores externos ao trabalhador, como a má conjuntura económica dos mercados ou as políticas das entidades empregadoras.

No entanto, todo o desemprego, quer seja voluntário ou não, é causa do mau sistema global e traz graves distúrbios a uma sociedade. Como o mercado não consegue absorver a mão-de-obra em excesso, há milhões e milhões de desempregados em todo o mundo que constituem um risco a nível social.

A começar pela mendicidade, há milhões de mendigos em todo o mundo que são produto de um mercado de trabalho desregulado que os atirou para o desemprego. Eram pessoas que tinham um emprego e um bom nível de vida até e que, de um momento para o outro, se vêem sem nada, devido a uma má conjuntura económica. Estes factores, por vezes aliados a práticas de má gestão da riqueza pessoal podem conduzir as pessoas e o seu património à bancarrota, levando-as a ficar sem nada, quer seja sem as suas economias, quer seja sem as suas habitações.

Essa situação condu-las ao sempre difícil mundo das ruas, onde muitas vezes não recebem apoio de nada nem ninguém, tendo assim de se desenvencilhar sozinhas para arranjar comida ou um simples sítio para passar a noite. As instituições de solidariedade social acodem a muitas dessas pessoas, ajudando-as o máximo que podem, mas essas mesmas instituições não conseguem dar resposta às dezenas de casos que surgem todos os dias, sendo que ficam sempre de fora, dos programas de ajuda alimentar e outros, milhares de pessoas. (Bento, 2009: 3-5).

A criminalidade é um mundo que lucra bastante com o desemprego. Muitas das pessoas que são desempregadas de longa duração vêem no crime a única maneira de arranjarem dinheiro para sobreviver e o mundo do crime aproveita-se disso. Milhões de pessoas há, em todo o mundo, que são arrastadas para o crime não por livre vontade,

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mas por forças das circunstâncias neste caso em particular devido ao facto de terem ficado sem emprego e de terem de arranjar dinheiro para sobreviver e para sustentar as suas famílias. Muitos desses desempregados são até coagidos a entrar no mundo do crime por criminosos sem escrúpulos: barões da droga, traficantes de órgãos, armas ou outros produtos, redes de prostituição, etc. Todos esses criminosos percebem as fragilidades das pessoas que estão desempregadas e desesperadamente à procura de uma saída para a sua situação e exploram essas fragilidades ao máximo.

Desde as pessoas usadas como correios de droga, em ligações aéreas da América do sul e Latina para a Europa, ou desde o tráfico de diamantes de África para os Estados Unidos, passando pelas diversas redes de prostituição espalhadas pelo mundo, em todos esses meios, estão pessoas em que o desemprego bateu à porta e que escolheram, ou foram obrigadas a escolher, o caminho do crime para sobreviver. (Glenny, 2007: 7-365).

O álcool e as drogas sempre foram um grave flagelo social, todavia, o desemprego proporciona actualmente um ambiente propício para o aumento do consumo. Longe vão os tempos da revolução industrial em que os trabalhadores explorados violentamente ao nível de excessivas cargas de trabalho diário por patrões sem escrúpulos e esgotados física e mentalmente, devido às péssimas condições de subsistência, se entregavam ao alcoolismo com o intuito de esquecer as más condições e vida e de trabalho, mas o comportamento neste caso é o mesmo.

Especialmente ao nível do trabalho, os operários bebiam para se alienar, para entrarem num mundo paralelo bem diferente da exploração a que eram sujeitos. Hoje em dia, muitos desempregados bebem em excesso e fazem uso do consumo de drogas, para esquecerem os problemas em que se encontram: O facto de não terem emprego, de não terem perspectivas de futuro.

A título de exemplo, pode referir-se o caso grego. Na Grécia, o consumo de álcool e drogas está a aumentar, devido aos efeitos da crise. Essa é de facto uma realidade que se pode aplicar a muitos países. (Mendes, 2010: “Crise está a fazer disparar recaídas com álcool e drogas”, in Diário de Noticias: sp).

Fora do mundo do crime, a prostituição também é um fenómeno crescente, em especial, a prostituição feminina. Por exemplo, em vários países, não são raros os casos em que jovens estudantes universitárias se dedicam à prostituição para poderem pagar as suas propinas, de modo a continuarem a frequentar os estabelecimentos de ensino.

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Pode portanto concluir-se que, a nível social, o desemprego é realmente um aspecto muito nocivo. Milhões de famílias são afectadas pelo desemprego. Por vezes, agregados inteiros encontram-se nessa situação e ficam dependentes de subvenções como o subsídio de desemprego ou abonos de família.

Com o desemprego, a dignidade das pessoas é atingida. Ficam com os seus meios de subsistência gravemente reduzidos ou ficam sem eles de todo. Ficam dependentes de terceiros para pagar as suas contas e despesas. Numa situação de empregabilidade, também estão dependentes das entidades patronais, é certo, todavia numa situação de desemprego a sua autonomia económica mais básica fica gravemente comprometida.

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III Parte

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A dura realidade do despedimento

Esta é uma situação sempre de grande angústia para o trabalhador. Ser despedido, perder o emprego e ficar sem ocupação, perdendo assim o garante de autonomia e subsistência económica, ou pelo menos uma grande parte dessa autonomia. Eis uma posição que todos os trabalhadores temem e gostariam de evitar ao máximo. Todavia por vezes, não se podem evitar os despedimentos. Essa é uma realidade desconfortável e sempre o será, nas sociedades industrializadas. Quer seja numa fábrica, numa empresa ou num simples bar, a entidade patronal é sempre o centro de decisão. É sempre ela quem tem a última palavra nas admissões de novos empregados ou, neste caso, no desenrolar do processo de despedimento.

O processo de despedimento pode ter origem em vários aspectos. Uma das causas pode ser a conjuntura do mercado que faz com que, por exemplo, uma empresa tenha de despedir alguns funcionários para assegurar a viabilidade e a subsistência da empresa. Podem ainda ser motivos pessoais a ditar o desenrolar do processo de despedimento. Quer isto dizer que, no local de trabalho, o trabalhador pode não se sentir confortável por desacordos ou quezílias com os companheiros de trabalho ou mesmo com a entidade patronal, o que pode propiciar a que o patrão o despeça ou que o próprio trabalhador o faça.

Nos casos de conjuntura económica adversa, o processo de despedimento é sempre difícil de avaliar e julgar, pois podem existir motivos ocultos por detrás da justificação da crise económica. Quando se fala na difícil conjuntura, na crise económica, fala-se por exemplo na dificuldade de uma fábrica obter encomendas pois os clientes da fábrica alegam dificuldades financeiras. Com a falta de encomendas, não há motivos para produzir e, sem produção não se justifica haver tantos funcionários empregados na fábrica. As fábricas por seu turno, não conseguem pagar aos fornecedores os serviços facultados, sejam matérias-primas, água, luz ou outros bens. Por isso, a solução é despedir um certo número de funcionários para garantir a subsistência da fábrica. Essa situação acontece, de resto, em outros sectores além da indústria, como a restauração, o comércio etc., Além disso a realidade económica é válida não só para o despedimento de grupos de trabalhadores como para trabalhadores isoladamente, o que equivale a dizer que a ideia é a mesma, pois se um grupo de 100

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trabalhadores é despedido numa fábrica ou um grupo de 50 trabalhadores é despedido numa empresa, cada um desses trabalhadores corresponde a um só indivíduo.

Os motivos ocultos acima evocados para o despedimento englobam outros interesses por parte do empregador. É verdade que existem países com mão-de-obra mais barata do que outros. Isso faz com que ocorram as chamadas deslocalizações, que é o que acontece quando uma empresa se muda de um país para outro em que a mão-de-obra é mais barata. No entanto, muitas empresas e fábricas fecham portas sem haver realmente necessidade disso.

Não são raros os casos em Portugal em que os empregadores se reúnem com os trabalhadores, sindicatos ou comissões de trabalhadores, dizendo que está tudo bem e que a empresa tem viabilidade financeira para continuar com as portas abertas porém um ou dois dias depois, os trabalhadores encontram a fábrica fechada, sem o recheio, ou seja, sem máquinas e outros materiais e, o pior de tudo, não encontram ninguém da administração da empresa a quem pedir explicações pois os administradores já trataram de deslocar a empresa para outro sítio do mesmo país ou mesmo para o estrangeiro, sem darem conhecimento aos funcionários.

Serve este exemplo para dizer que os motivos ocultos são na verdade a defesa dos interesses económicos das entidades patronais. Mas esta é uma defesa obscena que raia a ganância e que sacrifica os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores. É, portanto, o sistema capitalista na sua forma mais selvagem, aquele em que empresários e patrões super capitalistas, com o intuito de aumentar os seus lucros e proteger os seus investimentos, deslocalizam as empresas, fábricas e unidades de produção para países com mão-de-obra mais barata, deixando para trás os trabalhadores de antigas fábricas sem reuniões de concertação, sem justificação e sem pagamento das devidas compensações.

Muitas entidades patronais optam pelo despedimento arbitrário, por vezes, massivo de trabalhadores, por vezes, sem se darem ao trabalho de repensar a situação e arranjar outras soluções. Essas soluções alternativas ao despedimento poderiam sem dúvida passar por uma melhor redistribuição da mão-de-obra. Ou seja, identificar-se-iam os sectores da fábrica ou empresa em que há excesso de mão-de-obra e redirecciona-se esse excesso para os sectores em que a quantidade da mão-de-obra é deficitária. Obviamente, isso levanta o problema da especialização, pois os trabalhadores de determinados sectores podem não se adequar ou adaptar a outros

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sectores da fábrica. Todavia isso é um problema que os patrões têm de resolver, fazendo uma análise aprofundada da questão,

Sendo que fazer essa análise implica saber ao pormenor quais as valências dos seus trabalhadores, para assim colocar os que podem ser aproveitados no sector certo da empresa, evitando assim despedimentos desnecessários.

Além disso os despedimentos são um processo que as entidades patronais deveriam evitar ao máximo, pois estes implicam o pagamento aos trabalhadores despedidos de indemnizações por vezes avultadas. Além do elevado custo monetário, que as entidades patronais têm que pagar através das indemnizações, existe ainda o custo da imagem.

Quer isto dizer que as empresas ou fábricas que despedem mão-de-obra em grande número ficam com a sua reputação afectada. E os trabalhadores que entram nessas empresas ficam sempre com receio que lhes aconteça o mesmo, ou seja, que sejam despedidos, o que pode afectar o seu rendimento.

No entanto, há a referir uma questão já acima enunciada. É uma problemática relacionada com os despedimentos, mas sem haver de facto um despedimento nos termos legais. Tomemos como exemplo um caso em que uma empresa termina o dia de trabalho numa sexta-feira. Na segunda-feira seguinte, quando os funcionários chegam à fábrica para iniciar a semana de trabalho, deparam-se com um cenário em que a fábrica está fechada a sete chaves e não há sinal nem do empregador nem da administração da empresa. Nos dias anteriores ao acontecimento, não houve indicadores nem sinais por parte da entidade patronal de que a fábrica poderia encerrar. As comissões de trabalhadores ou as estruturas sindicais de que os trabalhadores se poderiam servir para defender os seus interesses não podem actuar de pronto, pois não há como contactar o empregador. O que acontece é que, durante o fim-de-semana, o referido empregador levou toda a maquinaria da fábrica e transferiu a produção para outro local. Nesse caso, os trabalhadores não são formalmente despedidos, mas a cessação do contrato de trabalho é por demais evidente. Esses mesmos trabalhadores não têm portanto hipótese de ser indemnizados pela entidade patronal, pois desconhece-se o paradeiro desta. Exemplos como este são bastante comuns em Portugal, pois existem patrões que não respeitam de facto os direitos dos trabalhadores e colocam-nos numa situação desesperante, pois os trabalhadores são cidadãos com encargos e despesas e que

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deveriam contar com uma protecção no emprego que demasiadas vezes não lhes é concedida por parte das entidades patronais.

Um dos grandes flagelos a nível mundial, e Portugal não é excepção, são os despedimentos colectivos ou seja de grandes quantidades de trabalhadores ao mesmo tempo. As grandes multinacionais das mais variadas áreas (como a indústria automóvel, as companhias aéreas e mesmo o sector da banca), efectuam, de tempos a tempos, grandes reestruturações nas unidades de produção e em outras áreas ou departamentos da empresa, para assim manterem a viabilidade da marca e tentarem reduzir ao mínimo os seus prejuízos. Um dos aspectos dessas reestruturações são os despedimentos em massa que lançam milhares de pessoas para o desemprego.

Essa realidade, ou seja, a do despedimento colectivo aplica-se também a várias fábricas de menor nomeada ou mesmo a estabelecimentos de restauração. A necessidade de reduzir despesas, de cortar custos para assegurar a manutenção da empresa tem sido o argumento básico para os despedimentos colectivos e, no fundo, para qualquer despedimento em geral. Mas, hoje em dia, o mundo atravessa uma grave crise económica que faz com que seja necessário prestar mais atenção ao fenómeno do despedimento colectivo, pois a população desempregada no mundo cresce a um ritmo elevado de dia para dia.

Surge aqui um outro tema que é o de redimensionar a empresa. Com isto, quer dizer-se que a entidade patronal, com o objectivo de reestruturar a dita empresa, opta muitas vezes pelo despedimento colectivo. Na remodelação da empresa, podem pesar diversos factores de ordem externa como, por exemplo, a evolução tecnológica, pois a inclusão de novas máquinas na empresa pode levar à supressão de certas actividades efectuadas pelo homem. De igual modo os prejuízos que a empresa tenha vindo a acumular desde meses ou anos passados, a falta de encomendas proporcionada pela má conjuntura económica que leva os clientes a fazer menos pedidos; Eis outro dos factores externos que pode levar a reestruturações.

Como factores internos temos, por exemplo, a necessidade de colocar trabalhadores de áreas em excesso, em áreas onde haja um défice de pessoal. Trata-se aqui, pois, de uma questão estratégica, de usar bem os recursos humanos na empresa. Na verdade se puder evitar-se o despedimento durante o processo de reestruturação empresarial, deve-se fazê-lo, pois o empregador deve ter consciência dos graves danos

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morais e, especialmente, sociais que um despedimento provoca no trabalhador e, acima de tudo, no homem enquanto pessoa. (Xavier, 2000: 1-700).

3.1. O mercado de trabalho e emprego e o desemprego na vertente

económica

Não se pode explicar o emprego e o desemprego, sem enveredar pela vertente económica.

Desde há alguns séculos a esta parte, vários têm sido os economistas, as teorias e explicações relativas à relação entre economia e emprego.

Desde a revolução industrial no séc. XVIII, começou a poder falar-se em indústria, e num verdadeiro mercado mais globalizado com todas as suas vertentes como: sistema de produção, mão-de-obra, produção, salários, preços, inflação, consumo, etc. E da relação e interacção destes elementos uns com os outros.

Várias teorias podem aplicar-se tanto à revolução industrial como à actualidade.

Economistas como o francês Jean Baptiste Say, por exemplo, consideravam que o equilíbrio económico era possível se as forças de mercado pudessem agir livremente e que as perturbações deste seriam corrigidas pela relação entre a oferta e a procura, na medida em que a primeira criaria um fluxo ou mercado para a produção. Esta visão de Say é própria dos economistas clássicos que considera que a economia é constituída por um sistema de equilíbrio entre as várias variáveis desta. Para eles o, desemprego é voluntário pela parte dos trabalhadores por não aceitarem um dado salário como compensatório pelo seu sacrifício. Assim sendo, o desemprego teria de ser corrigido pelos mecanismos do mercado como a flexibilização dos salários e horários de trabalho. (Rossetti, 1987: 606).

Um particular enfoque também será dado por nós para a visão do economista Adam Smith e para a sua teoria da mão invisível do mercado.

Segundo esta teoria da mão invisível, o mercado seria auto regulável, mas através de uma maneira um pouco diferente da tradicional teoria clássica. De acordo com Smith, um indivíduo, por exemplo, o dono de uma fábrica ou um empresário,

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através do caminho que percorreria para alcançar o seu objectivo, o seu lucro, faria de forma involuntária com que também a sociedade beneficiasse dessa situação. Ou seja, a sociedade estaria a ser beneficiada com as acções de um individuo sem que fosse esse o seu objectivo. Este estaria portanto a ser guiado por uma mão invisível.

Dai a designação de mão invisível do mercado, pois tratava-se de uma harmonização do mercado, mesmo não sendo intencional ou consciente por parte do empregador.

(Sandroni, 1999: 565).

Todavia o mercado nunca é tão perfeito como se espera que seja, há sempre perturbações que são inevitáveis. No período das grandes recessões de finais da década de trinta, a doutrina clássica sofreu um forte abanão ideológico e começou a enveredar-se por outros caminhos. Um dos rostos mais marcantes desenveredar-se novo caminho foi o economista Keynes.

Keynes considerava que a harmonização do mercado através do pleno emprego seria possível através de uma renda nacional alta e estável. Pode dizer-se que a renda nacional é, em traços gerais, o valor dos rendimentos dos cidadãos de um determinado país, sejam salários, juros ou até valores de arrendamentos. Essa renda nacional inclui também os lucros de organismos do governo.

Pode portanto dizer-se que na renda nacional se incluem os montantes, tanto por parte de empresas e particulares, como do governo. Esse alto nível de emprego que seria desejado, poderia portanto ser mantido, segundo Keynes, por uma política de intervenção dos governos que permitisse corrigir as deficiências ao nível do investimento e do consumo, de maneira a aumentar o nível de emprego e o volume de renda nacional. Esta é em traços gerais a visão Keynesiana do emprego. (Rossetti, 1987: 613-614).

Contudo é muito raro, seja em que país for, existir um equilíbrio económico. O mundo mudou nas últimas décadas e continua a mudar a grande velocidade. A globalização alastrou por todo o planeta e, no contexto económico, o caso não é excepção. Uma crise na bolsa dos Estados Unidos afecta quase instantaneamente as bolsas quer da Alemanha ou até do Japão. Existem muitas variáveis a considerar nos dias de hoje que fazem com que o sistema económico actualmente seja tão volátil. Uma economia de pleno emprego é hoje em dia muito difícil de atingir, pois existem vários obstáculos que fazem com isso não aconteça. Já no período da revolução industrial, a tão clamada harmonia do mercado era uma utopia, pois a mão-de-obra em

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excesso que vinha para as grandes metrópoles não era completamente absorvida pelas indústrias, gerando já nessa altura uma massa considerável de desempregados. Essa realidade pode ser comparada com a actual, na medida em que a mão invisível do mercado nem sempre funciona da melhor maneira, tal como hoje.

Os séculos passaram e novas organizações foram sendo criadas, em especial no séc. XX. Instituições como a OIT (organização mundial do trabalho), a ONU ou a União Europeia, que sofreu várias alterações depois da sua génese em 1951, como a CECA (comunidade europeia do carvão e do aço), foram criadas para incrementar maior união entre vários os países e em vários domínios inclusive no âmbito económico.

O mercado de trabalho, de uma maneira geral e global, não possui hoje nem as valências nem os mecanismos necessários a uma economia equilibrada que fomente o emprego e encoraje o investimento. Existem demasiados contras para a chamada harmonia dos mercados. A rigidez dos mercados no que diz respeito aos salários e ao período de trabalho semanal é um desses aspectos negativos, pois tem de haver flexibilização através de, por exemplo, a negociação. Na verdade um trabalhador tenta encontrar sempre o melhor emprego decorrente da relação entre o salário e o tempo de trabalho.

As empresas tentam sempre encontrar as melhores condições e mais baratas para pouparem dinheiro. Por isso, países com mão-de-obra barata como a China ou países do bloco de leste europeu, como a Polónia ou a Republica Checa, são preferíveis a países com mão-de-obra mais cara como Portugal. Devido a isso, muitas empresas procedem à deslocalização, ou seja, transferem a produção para mercados mais baratos em termos de mão-de-obra. (Almeida 2004: “Globalização precisa de ser regulada” in Jornal de

Noticias: sp).

As matérias-primas como bens alimentares (trigo, açúcar) ou outros bens (ferro, petróleo) têm tendência a aumentar de preço nos mercados internacionais, quando existem em pouca quantidade, ou quando surge algo que faz com que isso aconteça, por exemplo, no Verão de 2010, os incêndios florestais na Rússia colocaram em perigo os campos de trigo nesse país. A Rússia, um dos maiores produtores de trigo do mundo, declarou que a sua produção iria diminuir drasticamente para proteger as reservas e assegurar a auto-sustentabilidade alimentar da população. Esse acontecimento levou a um aumento do preço do trigo no mercado internacional. (Rodrigues 2010: “Crise agrícola mundial: Cereais vão faltar este ano” in Expresso: sp).

Referências

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