ECONOMIA E PODER EM ÁFRICA
Módulo 6. Estado e Poder
Estudo de Caso: ANGOLA
Claudia Generoso de Almeida claudiagalmeida@gmail.com
@ António Ole, 1978
Resumo da sessão de 6 de Novembro
» 1. Principais abordagens no estudo do Estado em África [1980-1995;1995-1989;1989-início da década de 2000]
Podemos afirmar que há um movimento: um esforço de sair da visão eurocêntrica de Estado, ao mesmo tempo procurando formular conceitos válidos para analisar a realidade da política africana.
» 2. Características atribuídas ao Estado pós-colonial em África
Poder limitado; Estado Falhado e ou colapsado, Estado rendeiro; Incidência de conflitos armados (guerras civis); Pobreza e fome; níveis elevados de corrupção; INFORMALIZAÇÃO DO PODER
» 3. Neopatrimonialismo e personalização do poder (big man rule) como características fundamentais do
O que faltou detalhar
Quiz: por que razão estão assinalados estes 3 países africanos? O que aconteceu recentemente?
Fonte: https://asp.icc-cpi.int/EN_Menus/asp/pages/asp_home.aspx
Resposta: Saída anunciada de vários Estados Africanos do Tribunal Pena Internacional, nomeadamente Burundi, África do Sul e Gâmbia. Que significado tem?
Veja-se: http://cei.iscte-iul.pt/blog/tensoes-entre-africa-e-o-tribunal-penal-internacional/
http://www.aljazeera.com/news/2016/10/gambia-withdraws-international-criminal-court-161026041436188.html
» 3. Neopatrimonialismo e personalização do poder (big man rule)
Patrick Chabal e Jean-Pascal Daloz (Africa Works, Disorder as Political
Instrument 1999): 3 enfoques sobre a natureza do Estado Africano
1) Atributos do Estado moderno (estrutura política centralizada + povo + território). Problema: o Estado não é simplesmente o resultado inevitável da evolução do sistema de regulação do poder dentro de uma dada ordem social. 2) Marxista e neomarxista: o Estado é um instrumento de acumulação e de violência ao serviço da classe dominante. Problema: a ideia da existência de classes sociais em África que promoveu e coordenou o crescimento económico para benefício de uma dada classe social.
3) Origens do Estado: a noção de que todos os estados pós-coloniais foram constituídos formalmente segundo o modelo de Estado moderno ocidental Problema: não é uma evidência do seu grau de institucionalização e não nos ajuda a compreender o exercício do poder.
Proposta destes dois autores: Informalização do poder e das instituições
o obstáculo para o desenvolvimento do Estado (tal como se entende no ocidente) em África é o resultado da dinâmica da instrumentalização da política da desordem (caos organizado).
Conceito que remonta para o conceito de Patrimonialismo do sociólogo alemão Max Weber (séc. XIX). 3 fontes de autoridade/legitimidade
(tradicional, carismática e legal-racional)
Emancipação do Estado (estabelecimento de uma burocracia verdadeiramente independente, ou seja, a formalização e a autonomia das instituições) assenta no estabelecimento e no funcionamento de um serviço público não constrangido pelas dinâmicas das pressões sociais – ou seja, o fim do patrimonialismo (Max Weber) O conceito de neopatrimonialismo surge com Shmuel N. Eisenstadt,
(Traditional Patrimonialism and Modern Neopatrimonialism,1993): forma moderna de patrimonialismo.
Na sequência, e sobretudo nos países da África ocidental, a noção foi explorada. Aparelho de Estado formal + Sistema informal. Ou seja, a esfera pública e privada estão misturadas. Consequências: o serviço público mantém-se personalizado por via do clientelismo e do nepotismo (favorecimento de pessoas próximas) + o acesso às instituições do Estado é o meio principal para enriquecimento pessoal.
Neopatrimonialismo: Forma moderna de patrimonialismo: sistema híbrido de
autoridade patrimonial (relações pessoais, esfera privada) e de autoridade legal-racional (esfera pública). A informalidade e a formalidade interrelacionam-se de várias formas e em vários níveis e institucionaliza-se. Distribuição de recursos que dão origem a uma rede clientelar (patrão-cliente) ao redor de um indivíduo ou partido poderoso.
Consequência: insegurança dos cidadãos relativamente às instituições do Estado
Como parte integrante do neopatrimonialismo, temos:
Clientelismo : oferta de serviços e recursos específicos a indíviduos em
troca de apoio político (por exemplo: voto).
Patronagem: distribuição de favores (por exemplo: estradas, escolas)
politicamente motivada a grupos.
(Gero Erdmann e Ulf Engel, Neopatrimonialism Reconsidered: Critical
Nicholas Van de Walle (Neopatrimonialism and Democracy in Africa, with
an Illustration from Cameroon,1994): o traço institucional distintivo dos
regimes africanos é o neopatrimonialismo, isto é, o chefe executivo mantem a autoridade a partir de patronagem pessoal.
Mas há quem se distancia do conceito:
Por exemplo, Crawford Young (The Third Wave of Democratization in
Africa: Ambiguities and Contradictions,1999) usa antes o conceito de
Estado patrimonial autocrático.
MwayilaTshiyembé (État multinational et démocratie Africaine: Sociologie
de la renaissance politique, 2001), por sua vez, afirma que existe uma
tendência no que respeita ao neopatrimonialismo, mas os Estados em África não podem ser analisados exclusivamente a partir dessa teoria.
Big man rule como instituição informal chave em África
Traduz as relações patrão-cliente num sistema patrimonial, com ênfase no poder do patrão e na distância entre o líder e o subordinado. A essência dessa relação é que o patrão providencia recursos, serviços e oportunidades – aos quais o big man tem acesso – aos seus seguidores em troca de lealdade. Os recursos de patronagem provêm do Estado.
(John F. McCauley, Africa's new big man rule? Pentecostalism and patronage
in Ghana, 2012)
Porém, o big man não consegue estar em contacto com todos, então estabelece relações clientelares. Problema: necessita de acumular muitos recursos para dar à sua rede clientelar e demonstrar a sua riqueza pessoal para ser credível aos seus clientes (Jean-Pascal Daloz Big men’ in
Sub-Saharan Africa: How elites accumulate positions and resources, 2002; Hydén
2012).
Ou seja, a acumulação pessoal de recursos é necessário para que o big
man consiga sustentar a suas relações clientelares e, por conseguinte,
O Problema de não sair do Poder
Os mandatos sem termo dos presidentes:
http://www.africanvault.com/longest-serving-african-presidents/
Term Limits and Democratic Consolidation in Sub-Saharan Africa: Lessons from Burundi
Na próxima sessão (dia 18 de Novembro), iremos analisar O Estado em Angola