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Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

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Academic year: 2021

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O EGO E A PSICOSE: ALGUMAS RELAÇÕES

Lisandra de Brito Gaioto* Hélio Honda Introdução

A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão [...] Freud (1926)

A transformação da ‘loucura’ em ‘doença mental’ é historicamente correlata ao nascimento da psiquiatria e do asilo, como espaço de tratamento da alienação mental. O marco desse nascimento está associado ao Alienismo, com o tratamento moral de Pinel1

que, ao libertar os loucos das correntes e delimitar um espaço onde a loucura pôde tornar-se objeto de uma terapêutica, ao mesmo tempo aprisiona-a, como doença mental, ao saber médico, caracterizado pela Psiquiatria (Amarante, 1992).

A ordem psiquiátrica opera, ainda hoje, como relata o autor, pela suposição de que o saber está no médico e a ignorância no doente. É o lugar onde o louco procura sinais de sua identidade perdida nos critérios de objetivação diagnóstica, onde não será mais do que um objeto do saber científico. É este saber que o qualifica como doente mental e traça o seu destino de isolamento, respondendo a uma demanda da sociedade que procura afastar de si aquilo que a questiona no mais íntimo de si mesma, isto é, nas suas relações com a morte, com a sexualidade e com a liberdade.

Em contrapartida a essa concepção, Freud mostra ao longo de sua obra que não faz-se necessário colocar em oposição a loucura à normalidade. Uma vez que, ele entende que a loucura está de certa maneira já no inconsciente de cada um e os loucos simplesmente sucumbiram numa luta que é a mesma para todos e que todos temos de conduzir sem interrupção, todavia alguns sucumbem e outros não.

A Psicanálise tem se dedicado ao estudo das psicoses desde Freud. Para ele, a psicose é conseqüência do aniquilamento do Ego (Freud, 1911). Ao descobrir o inconsciente e, assim, fundar a psicanálise, o autor faz desmoronar a idéia de um homem determinado pela primazia

1 Dr. Philippe Pinel foi um eminente médico francês. Foi ele quem separou os loucos dos demais marginalizados sociais, dando-lhes o lugar de doentes. Para isso foi necessário a elaboração de uma nosologia medico-psiquiátrica. Os loucos passaram então a ser tratados como doentes, e como os demais doentes, passaram a ser colocados em hospitais.

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da razão. No Capítulo VII da A interpretação dos sonhos, Freud (1900) deixa claro que, em relação ao homem, o determinismo tem a supremacia do inconsciente, o que ele denomina de determinismo psíquico, pressuposto fundamental de sua teoria psicológica..

Ressaltando que foi a partir do encontro com as histéricas de Charcot, quando começou a escutá-las, que Freud chegou a sua formulação do inconsciente. Formulação que poucos anos depois apresenta em A interpretação dos sonhos, através da elaboração de um constructo que chamou de aparelho psíquico.

A partir deste constructo, Freud inaugura uma nova concepção sob as patologias da vida psíquica, compreendendo-as como conflitos entre instâncias psíquicas que se configuram ao longo do desenvolvimento do sujeito. Conflitos estes que provém da formação de compromisso entre o desejo e os mecanismos de defesa do Ego.

Como bem descreve Tripicchio (2006), a psicose é formada por elementos os mais diversos da biografia, das experiências, das circunstâncias. É realmente um nome para aquele mais velho fenômeno de todos, a loucura. A loucura descrita pelos trágicos gregos, a loucura descrita na Bíblia é a mesma loucura de hoje, do homem que mora em apartamento em qualquer cidade do mundo. Dessa forma, como afirma o autor, temos : Psicose igual a Loucura.

Tendo em vista que a loucura, entendida especialmente pela psicanálise, como Psicose, foi considerada por Freud como um aniquilamento do Ego, buscarei com este trabalho compreender como se estrutura e qual o papel do Ego no aparelho psíquico e na manutenção da vida humana, e sua correlação com a Psicose.

Para isso iniciaremos o trabalho com uma breve revisão do conceito de Ego na obra freudiana, tendo como principal referência o artigo O Ego e Id de 1923. Em seguida tentaremos revisar também o conceito de Psicose, tendo como principais referências os artigos Neurose e Psicose de 1924, A perda da realidade na neurose e na Psicose de 1924 e Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) de 1911.

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Afim de melhor compreender a relação entre o Ego e a Psicose, tentaremos aqui revisar o conceito de Ego e de Psicose em alguns artigos freudianos. Sendo eles: o Ego e o Id (1932), Neurose e Psicose (1924), A perda da realidade na Neurose e na Psicose (1924) e Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) (1911).

Método

Para o alcance do objetivo proposto, foi realizada uma revisão de literatura, mediante pesquisa nos artigos Freudianos o Ego e o Id (1932), Neurose e Psicose (1924), A perda da realidade na Neurose e na Psicose (1924) e Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) (1911) e alguns outros textos complementares.

A partir dos materiais acima citados, realizou-se a leitura exaustiva de cada um dos materiais, categorizando os dados obtidos em duas categorias: O Ego: Alguns Papéis e A Psicose: Uma Breve Revisão. No final do texto foram elaboradas algumas considerações sobre os dados discutidos.

Resultados e Discussão O Ego: Alguns Papéis

O Ego, segundo Freud (1932), é a estrutura mental ligada à consciência que tem como função elaborar de forma coerente os processos mentais. Lembrando que para o autor, existem fundamentalmente três instâncias que compõem o aparelho psíquico: O Ego, o Superego e o Id.

Todavia, para Freud (1923), o Ego seria a única estrutura mental que funciona a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, uma vez que se constitui em parte do Id que foi modificada pela influência do mundo externo. A referida estrutura tem seu núcleo no sistema perceptivo e tem como responsabilidade principal a organização dos processos mentais.

Em O Ego e o Id (1923) Freud elucida que o aparelho psíquico é composto pelo consciente (Cs) e inconsciente. O inconsciente, por sua vez é subdividido entre o latente (Pcs)

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e o reprimido (Ics). A organização dos processos mentais e a dinâmica deste aparelho, em todo indivíduo, é regido pelo que ele chamou de Ego. Segundo o autor, o Ego é a instância mental responsável pela motilidade, isto é, pelo controle de descargas de excitações ao mundo externo. Além disso, o Ego supervisiona todos os seus próprios processos constituintes, mas retira sua influência durante o sono e sonhos.

Freud (1923) acrescenta que há outras duas partes da mente que interferem no dinamismo do funcionamento mental, o Id e o Superego.

O Id é uma instância psíquica regida pelo princípio de prazer, carregado de desejos e paixões, e totalmente inconsciente, já o Ego por ser ligado à consciência obedece ao princípio de realidade. Todavia, o Ego não é totalmente consciente, Freud (1923) afirma que uma parte dele é fusionada ao Id, portanto, inconsciente.

Como afirmado anteriormente, o Ego se origina a partir do Id, quando, por meio do sistema perceptivo, entramos em contato com o mundo externo. Neste contexto, parte do Id transforma-se em Ego. Para o autor supracitado, é devido a esse contato por percepções com o mundo externo que se formam representações mentais. Dessa forma o mesmo entende que o Ego é, sobretudo, um ego corporal.

Tendo em vista que o Ego originou-se do Id, e sendo o Id uma estrutura totalmente inconsciente e com relação estrita com o mundo interno, o Ego acaba por herdar essa relação, essa percepção com o mundo interno.

Todas as percepções, tanto exógenas, quanto endógenas, são desde o inicio inconscientes. Entretanto, os conteúdos inconscientes podem, se vinculados com representações verbais que lhes são correspondentes, tornarem-se conteúdos do sistema pré-consciente. As representações verbais são importantes, pois é através de sua mediação que os processos internos de pensamento são transformados em percepções conscientes, podendo assim ser representados no Ego.

Sendo assim, Freud (1932) postulou que, possivelmente, em cada indivíduo existe uma organização coerente de processos mentais, a qual denominou de Ego, esta organização estaria no controle das abordagens às descargas de excitações para o mundo externo (motilidade). Ela, então é a instância mental que supervisiona todos os seus próprios processos constituintes.

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Desse Ego, conforme descreve o autor, procedem à censura sobre os sonhos e também os mecanismos de defesas, por meio dos quais procura-se excluir certas tendências da mente, não apenas da consciência, mas também de outras formas de capacidade e atividade. O Ego tem também o papel de conceder aos processos mentais uma ordem temporal, submetendo-os ao ‘teste da realidade’. Sendo assim, o Ego representa o que pode ser chamado de razão, em contraste com o Id, que contem as paixões.

Segundo Freud (1923), o Ego comporta-se como uma instância mediadora entre as pulsões prementes do Id, que requerem sempre satisfação ilimitada, e as condições da realidade externa que impedem as exigências instintivas.

Todas as experiências da vida que se originam do exterior enriquecem o Ego; o Id, contudo, é o seu segundo mundo externo, de onde retira libido por meio da identificação e transforma as catexias objetais deste em estruturas do ego instituindo-se em objeto amoroso único. Por este motivo é função do Ego preservar a integridade física e mental, nesse sentido, ele lança mão de ações corporais e mentais para preservar a vida. Este processo é altamente complexo, no qual através da identificação o Ego satisfaz as pressões do Id, recebe energia libidinal, e como conseqüência torna-se o grande objeto de amor e o grande responsável pela vida.

Como já abordado, o Ego se forma a partir de experiências que o Id tem com o mundo interno e externo, e justamente por entrar em contato com a realidade externa é governado pelo princípio de realidade e processos secundários. Se o Ego apresenta registros, ora lembrados, ora não, é então ditado pelo consciente, pré-consciente e inconsciente.

Frente a este contexto, Freud (1932), constata que este mesmo Ego é ameaçado por três perigos: o mundo externo, a libido do Id e a severidade do Superego. A presença de todos estes processos no Ego é resultado da sua função como mediador que se esforça para levar em conta exigências contraditórias entre o mundo interno e externo, tornar o Id dócil ao mundo e, por meio de sua atividade muscular, fazer o mundo coincidir com os desejos do Id.

Desta forma, concluímos que, para com ambas as pulsões, a atitude do Ego não é imparcial. Mediante seu trabalho de identificação e sublimação, ele ajuda a pulsão de morte do Id a obter controle sobre a libido, mas, assim procedendo, corre o risco de tornar-se objeto da pulsão de morte e de ele próprio perecer. A fim de poder ajudar desta maneira, ele teve que

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acumular libido dentro de si; tornando-se assim o representante de Eros e, doravante, quer viver e ser amado.

A Psicose: Uma Breve Revisão

Embora o termo psicose tenha surgido apenas em meados do século XIX no bojo da constituição do saber psiquiátrico, a loucura é um fenômeno humano interpretado e estudado desde os tempos bíblicos. Portanto, o tema é antigo e bastante amplo. É um transtorno psiquiátrico, e uma das principais características evidente num sujeito com esse distúrbio é a desconexão com a realidade, que se revela em alucinações, delírios, e comportamento inadequado.

Em seu texto, intitulado Neurose e Psicose de (1924), Freud alerta que a mais importante distinção entre uma neurose e uma psicose, estaria no conflito no qual o Ego esta envolvido, uma vez que, a neurose resulta de um conflito entre o Ego e o Id, enquanto a psicose corresponde a um distúrbio semelhante nas relações entre o Ego e a realidade externa.

Entendendo então, a Psicose como um distúrbio no relacionamento entre o Ego e a realidade externa, Freud (1924) afirma que, neste quadro psicopatológico, ou o mundo externo não é percebido de modo algum ou a percepção dele não possui qualquer efeito.

De acordo com o autor, o mundo externo governa o Ego por meio de duas formas distintas, uma delas é através de percepções atuais presentes e renováveis e também mediante armazenamento de lembranças de percepções anteriores, que por sua vez, apresentam-se na forma de um “mundo interno” e são tanto uma possessão do Ego como uma parte constituinte do mesmo.

Na amência, existe uma recusa das novas percepções e o mundo interno acaba por perder sua significação. Neste momento, o Ego cria, autocraticamente, um novo mundo externo e interno. E é válido esclarecer, que esse novo mundo é construído de acordo com os impulsos desejosos do Id e que o motivo dessa dissociação do mundo externo é alguma frustração muito séria de um desejo, por parte da realidade, frustração esta, que parece incontrolável (Freud, 1924).

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O artífice faz ainda, uma correlação entre a psicose e os chamados sonhos normais, uma vez que, como ele já havia constatado em obras anteriores, uma precondição do sonhar, é o estado de sono, onde acontece um afastamento da percepção e do mundo externo.

Assim como nas psiconeuroses, nas psicoses, a etiologia da patologia consiste em uma frustração, uma não-realização, de algum desejo infantil, todavia o que configura o caráter patogênico é o movimento do Ego diante deste tipo de tensão conflitual. Ele pode tanto permanecer fiel a sua dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, como ocorre nas psiconeuroses, ou ele se deixa derrotar pelo id, portanto, sendo arrancado da realidade, e então configura-se a psicose.

Dessa forma, Freud (1924) vai compreender que tanto as neuroses como as psicoses se originam nos conflitos do Ego com as suas diversas instâncias governantes, ou seja, elas refletem um fracasso ao funcionamento do Ego, que se vê em dificuldades para reconciliar todas as várias exigências feitas a ele.

No processo neurótico, o Ego, em sua dependência do mundo externo, busca suprimir um fragmento do Id. Já na psicose, o Ego, estando a serviço do Id, se afasta de um fragmento da realidade. Pode-se compreender então, que enquanto na neurose predomina a influência da realidade, para uma psicose predomina o Id. Na psicose a perda da realidade estaria necessariamente presente, ao passo que na neurose, ela pode ser evitada.

Todas essas distinções destacadas pelo autor entre as Psiconeuroses e as Psicoses, e talvez muitas outras também, configuram-se como resultante da diferença topográfica na situação inicial do conflito patogênico, ou seja, se nele o Ego rendeu-se á sua lealdade perante o mundo real ou á sua dependência do Id.

Segundo Freud (1924) é possível observar nas psicoses a existência duas etapas, na primeira o Ego é afastado da realidade, colocado fora dela, na segunda ele tenta reparar o dano causado e restabelecer as relações do indivíduo com a realidade ás expensas do Id. Em outras palavras, o autor afirma que a segunda fase tem como finalidade reparar a perda da realidade, por meio da criação de uma nova realidade.

O autor esclarece que, neste quadro, a transformação da realidade é executada sobre os precipitados psíquicos de antigas relações com ela, ou seja, sobre os traços de memória, as idéias e os julgamentos anteriormente derivados da realidade e através dos quais, a realidade

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foi representada na mente. Neste processo, o psicótico deve haver-se com a necessidade de estabelecer relações perceptivas que correspondam à nova realidade, e é dessa demanda que vai desencadear a alucinação.

Possivelmente, afirma Freud (1924), “o que ocorre na psicose é que o fragmento de realidade rejeitado constantemente se impõe á mente”, e é por isso que os mecanismos projetados para afastar o indivíduo da realidade e para reconstruir essa ultima constitui uma tarefa de demasiada importância.

É no mundo da fantasia que a neurose haure material para suas novas construções de desejo e geralmente encontra esse material pelo caminho da regressão a um passado real satisfatório. Dificilmente se pode duvidar que o mundo da fantasia desempenhe o mesmo papel na psicose, e de que aí também ele seja o depósito do qual derivam os materiais ou o padrão para construir a nova realidade. Ao passo que o novo e imaginário mundo externo de uma psicose tenta colocar-se no lugar da realidade, e emprestar a esse fragmento uma importância especial e um significado secreto que a Psicanálise chamou de simbólico. Vemos assim, que não existe apenas uma perda da realidade, como também a criação de um substituto para a realidade.

Um exemplo deste movimento do paciente psicótico é descrito por Freud no Caso Schreber2 em 1911, onde ele observa que a realidade de Schreber é reconstruída por meio do

delírio. Este paciente recria o mundo, depois da catástrofe interna, e assim, tudo aquilo que era inconciliável ao seu Ego, é então posto para fora de si, e tudo vem de acordo com a sua “Ordem do Mundo”. Dessa forma, ele se isenta da culpa, visto que, nesse novo mundo, ele repudia e projeta qualquer relação ao desejo a ser mulher, e coloca-se como vítima.

A formação delirante, neste caso, acaba sendo não o que imediatamente se apresenta, um sinal evidente do caráter do patológico, mas sim uma expressão da tentativa de reconstrução do mundo interno destruído que o Ego estaria empreendendo. Em outras palavras, Freud (1911) aponta que esse mecanismo seria uma maneira de buscar a cura, de 2 Schreber era um renomado profissional do Direito que, ao assumir o mais alto cargo na Corte judicial alemã,

começa a ter o que ele chama – em suas Memórias – de crises nervosas. Passa o restante de sua vida intercalando internações e altas em casas psiquiátricas e vem a falecer antes de completar os setenta anos de idade. Todavia, deixou registradas em suas Memórias teorias envolvendo itens sobrenaturais, tais como Deus e seus respectivos nervos, o poder de modificação dele, Schreber, em relação ao estado de coisas no Universo, a transformação de seu corpo em corpo feminino – a eviração, a cópula dele mesmo com Deus, que daria início a uma nova humanidade schreberiana, entre outros. Tais teorias seriam, portanto, algo que apareceria como formação delirante no caso em questão.

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reintegrar os fragmentos da realidade em um todo coerente, porque o que interiormente foi abolido retorna desde fora. Nesse sentido, a formação delirante seria uma tentativa de restabelecimento de Schreber e um processo de reconstrução desse mundo do sujeito. Ela desfaria o trabalho de recalcamento e traria de volta a libido para as pessoas e coisas que Schreber havia abandonado.

Em o Ego e o Id (1932), Freud descreve os numerosos relacionamentos dependentes do Ego, caracterizados pela sua posição intermediária entre o mundo externo e o Id, assim como os esforços dele para comprazer a todos os seus senhores ao mesmo tempo, no caso citado fica evidente esta característica, mesmo vencido pelo Id, o Ego busca construir um novo mundo externo, que lhe sirva de senhor. Todavia, este novo mundo, provém do mesmo senhor que o venceu: o Id.

Considerações Finais

O futuro criará, previsivelmente, uma psiquiatria científica à que a psicanálise terá servido de introdução. (Freud, 1923)

Explorar um pouco mais, mesmo que em uma breve revisão os conceitos de Freud, possibilitam construir um novo olhar para a chamada doença mental, que ele denominou psicose. É possível compreender que a Psicose caracteriza-se pela derrota do Ego frente a as exigências pulsionais, e que este, fica sem saída, frente ao estado mediador em que se encontra no aparelho psíquico

Como bem esclarece Freud (1923), o Ego é uma criatura fronteiriça, que ao mesmo tempo em que deve serviço a três senhores, é ameaçado por três perigos, a realidade externa, a libido do id e a severidade do superego. O Ego funciona como um mediador que ora atende uma instância psíquica, ora obedece outra.

É uma tarefa extremamente árdua querer descrever e tratar a psicose, se levarmos em conta que a particularidade primeira da vivência psicótica concerne ao desaparecimento relativo do quadro mental de referência, aquele que todo mundo reconhece como seu, como conteúdo de suas experiências, aquele, mediante o qual se percebe o fundo, aquele que, por conseguinte, reage a colocação em forma mais habitual de nossos conteúdos, e que serve também, por isso, de quadro de referência implícito para as descrições clínicas a considerar.

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Todavia, a Psicanálise e a Psicologia, devem comprometer-se com os sujeitos que sofrem pela ruptura com a realidade, tanto pensando em política públicas e intervenções práticas, sejam elas clínicas ou não, como também em estudos avançados sobre esse tipo de patologia, que compromete a relação do sujeito com seu entorno, com a realidade, com o outro, com o afeto.

Pensar psicanaliticamente de forma comprometida, ética e epistemológica a Psicose, pode significar um grande salto na Saúde Mental Brasileira, contribuindo para um cuidado mais integral e efetivo ao sujeito em sofrimento psíquico. Os conceitos de Ego e de Psicose podem ser cruciais neste intricado caminho.

Referências

Amarante, Paulo. (1992) Psiquiatria sem hospício: contribuições ao estudo da reforma psiquiátrica, Rio de Janeiro, Relume-Dumará,

Freud, Sigmund. (1900) A Interpretação dos Sonhos. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. IX/X) (2006) Rio de Janeiro: Imago

Freud, Sigmund. (1910) Cinco Conferências sobre Psicanálise. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XI) (2006) Rio de Janeiro: Imago

Freud, Sigmund. (1911) Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides). Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XII) (2006) Rio de Janeiro: Imago.

Freud, Sigmund. (1923) O Ego e o Id. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XIX) (2006) Rio de Janeiro: Imago

Freud, Sigmund. (1924) Neurose e Psicose. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XIX) (2006) Rio de Janeiro: Imago

Freud, Sigmund. (1924). A perda da realidade na Neurose e na Psicose. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XIX) (2006) Rio de Janeiro: Imago

Freud, Sigmund. (1940). Algumas lições elementares sobre Psicanálise. Em Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. (v. XXIII) (2006) Rio de Janeiro: Imago.

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Souza, Paulo César. (1988) O Valor da Vida. Ide. Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – IDE – 1988 – nº15

Tripicchio, Adalberto. (2006) A psiquiatria contemporânea a Freud. Disponível em: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/print.php?articleID=191. Publicado em 16 Jul 2006, acessado em 12 de Maio de 2011.

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