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Atos de bullying entre adolescentes em colégio público de Cascavel

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RESUMO

O bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação eviden-te, adotadas por estudantes, causando dor e angústia. Os estudantes submetidos à intimidação apresentam mais problemas de saúde do que outros escolares assim como uma tendência quatro vezes maior para o suicídio. Os agressores têm difi cul-dade de fazer amigos, envolvem-se em comportamentos de risco para a saúde, como usar drogas ilícitas, além de maior probabilidade de se envolver na delinquência e na violência. Nosso objetivo é determinar a frequência de bullying, os locais de maior ocorrência, os motivos, a aceitação, os pedidos de ajuda e o conhecimento sobre a punição.

PALAVRAS-CHAVE

Atos de bullying, violência escolar, adolescentes, punição, agressão.

ABSTRACT

Bullying includes all forms of aggressive attitudes, intentional and repeated that no evident reason, adopted by students, causing pain and anguish. Students subjected to bullying have more health problems than other students and have a four times greater risk for suicide. The attackers have diffi culty making friends, engage in risky behavior to health using other drugs, and were more likely to engage in delinquency and violence. Our goal is to determine the frequency of bullying, the places of highest incidence, reasons, acceptance, requests for help and knowledge about the punishment.

KEY WORDS

Bullying, school violence, adolescents, punishment, aggression.

Atos de bullying entre adolescentes

em colégio público de Cascavel

Acts of bullying among adolescents in a public school Cascavel

Marcos Antonio da

Silva Cristovam1 Nelson Ossamu

Osaku2 Gleice Fernanda Costa Pinto Gabriel3

Joice Ribas4 Danieli Alessi5

1Mestre em Ciência Animal pela Universidade Paranaense - Campus Umuarama - PR

Professor Assistente da Disciplina de Pediatria da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Cascavel - PR 2Mestre em Ciências pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Curitiba - PR

Professora Assistente da Disciplina de Pediatria da Universidade Estadual do Oeste do Paraná 3Doutoranda em Gastroenterologia pela Universidade Estadual Paulista Campus de Botucatu - SP Professora Assistente da Disciplina de Pediatria da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

4Médica Residente de Pediatria do Hospital Universitário do Oeste do Paraná da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Graduação em Medicina em 2007 pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná

5Médica Residente de Pediatria do Hospital Universitário do Oeste do Paraná da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Graduação em Medicina em 2007 pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Marcos Cristovam (ma.cristovam@uol.com.br) - Rua João de Matos, 1145, bloco B, apto 09, Coqueiral - CEP: 85807-530 - Cascavel-PR Recebido em 10/06/2010 - Aprovado em 13/08/2010

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INTRODUÇÃO

O bullying (termo inglês sem correspondên-cia em português) compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), cau-sando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder1.

A violência presenciada nas escolas tem in-fl uência direta do meio social e familiar, porém com consequências mais graves, pois a escola cria um ambiente de insegurança e medo, que acaba por comprometer não só o desenvolvi-mento intelectual dos estudantes, como tam-bém os pressupostos da educação, como o de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser2,3.

O bullying se apresenta de duas maneiras: direta e indireta. Na forma direta, existe agres-são física e intimidação, mais comum no gênero masculino, e a indireta, mais comum entre o gê-nero feminino e crianças pequenas, é caracte-rizada por forçar a vítima ao isolamento social. Ambas podem causar nas vítimas problemas como depressão e angústia, sendo os autores de

bullying direto os mais envolvidos com atos de

delinquência na vida adulta4.

É na desestruturação das famílias, com re-lações afetivas de baixa qualidade, e em que a violência doméstica é real ou em que a criança representa papel de “bode expiatório” para to-das as difi culdades e mazelas, que em geral está a origem do bullying5,1.

Sofrer bullying é um fator predisponente im-portante que pode desencadear sinais e sintomas clínicos e psíquicos. Deve-se observar o compor-tamento e queixas de crianças e adolescentes, pois podem signifi car que estão acontecendo maus-tratos por colegas, sendo necessária a aten-ção dos profi ssionais de saúde. O estresse causa-do pela vitimização poderia levar ao surgimento de doenças, e em contrapartida as crianças e adolescentes com problemas como depressão ou ansiedade podem se tornar alvos de bullying6,7.

As crianças vítimas de bullying são mais

de-primidas do que outros alunos, se queixam de

dores de cabeça e dores abdominais, têm me-nos amigos porque sofrem rejeição dos pares e acham as escolas desagradáveis8. Vale ressaltar

que crianças com necessidades especiais de saú-de frequentemente são vítimas saú-de perseguição por outros colegas1.

Sinais e sintomas possíveis de serem obser-vados em alunos alvos de bullying são: enurese noturna, alterações do sono, cefaleia, dor epi-gástrica, desmaios, vômitos, dores em extremi-dades, paralisias, hiperventilação, queixas visuais, síndrome do intestino irritável, anorexia, bulimia, isolamento, tentativa de suicídio, irritabilidade, agressividade, ansiedade, perda de memória, de-pressão, pânico, relatos de medo, resistência em ir à escola, demonstrações de tristeza, inseguran-ça por estar na escola, mau rendimento escolar e atos deliberados de autoagressão9,10,11.

As vítimas de bullying usam mais medicações e apresentam mais problemas de saúde do que outros escolares. Por isto, programas de interven-ção e preveninterven-ção destinados a reduzir os proble-mas de saúde mental na infância devem incluir o tema bullying como um importante fator de risco. A verdadeira prevenção da violência envolve uma resposta efetiva global, que põe todos os segmen-tos da sociedade em jogo, incluindo profi ssionais de saúde, religiosos, familiares e educadores2,12,13.

A intervenção precoce, tanto com relação aos alvos quanto aos autores, pode reduzir os riscos de danos emocionais tardios.

MÉTODO

Foram entrevistados 534 adolescentes, es-tudantes do ensino fundamental (5ª à 8ª séries), de ambos os gêneros, de 10 a 16 anos de idade, do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, do município de Cascavel, no Paraná.

Foi assinado pelos seus responsáveis o termo de consentimento livre e de esclarecimento sobre forma de anonimato, elaborado conforme as nor-mas e diretrizes traçadas pelo Conselho Nacional de Saúde, na Lei nº 196/96, e teve a aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual do Oeste do Paraná sob protocolo nº 182/2009.

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Os entrevistados responderam a um ques-tionário estruturado visando obter os seguintes dados: idade, gênero, envolvimento com atos de

bullying, locais de acontecimento, aceitação,

mo-tivação dos atos, solicitação de ajuda, conheci-mentos da possibilidade de punição (Apêndice).

RESULTADOS

Foram entrevistados 534 alunos entre 10 e 16 anos, sendo 259 do gênero masculino e 275 do feminino. Desse total, 421 (78,8%) estiveram envolvidos em atos de bullying, 112 como víti-mas, 68 como autores e 241 ora como autor, ora como vítima.

De acordo com o Gráfi co 1, nota-se que o número de meninos envolvidos com atos de

bullying foi de 217 e o de meninas, 204, o que

demonstrou uma maior taxa entre os meninos. Cabe salientar que o número total de meninas (275) é maior que o de meninos (259) com taxa de 5,79% a mais do que os meninos.

Quando avaliados por gênero, 74,45% das meninas apresentaram envolvimento em atos de bullying e em relação aos meninos, 83,34%.

Verifi ca-se que dos 421 entrevistados en-volvidos com bullying, 68 (16%) relatam ter sido autores sendo 56 entrevistados do gênero mas-culino, correspondendo a 82%. Entre os 241 en-trevistados (57,2%) que se declararam ora autor ora vítima, 128 (53%) eram do gênero feminino e 113 (47%) do gênero masculino. A maioria dos 112 adolescentes que se declararam vítimas era do gênero feminino, correspondendo a 57% das vítimas, num total de 68 pessoas (Gráfi co 1).

A maioria dos alunos envolvidos, indepen-dente do gênero, afi rma já ter sido tanto vítima como autor, isto em um total de 241 dos 421 en-volvidos, perfazendo 57,24% e sendo que o local de preferência para o ato de bullying é a sala de aula, onde ocorreram 104 casos (24,7%). Além disso, demonstra que 288 alunos já tiveram envol-vimento com bullying dentro do ambiente escolar (sala e pátio), equivalendo a 68,4% (Gráfi co 2).

Ao se analisar o Gráfi co 3, conclui-se que tanto os meninos como as meninas na maioria não concordam com atos de bullying.

Observa-se que 49,77%% das 213 vítimas que são alvo de bullying não obtiveram redução da agressão ao buscar ajuda. Quando solicitam auxílio, recorrem na maioria das vezes aos co-legas, representando 83 buscas em 213, perfa-zendo 38,97% dos casos. Em segundo lugar, o pedido de ajuda à família acusou 56 procuras em 213, o que equivale 26,29% (Gráfi co 4).

A maioria dos autores confessa ter pratica-do bullying por brincadeira, totalizanpratica-do 28 en-trevistados, correspondendo a 41% dos autores (Gráfi co 5).

Observa-se ainda que 28 (41%) dos auto-res foram orientados no sentido de que atos de

bullying são incorretos e que prejudicam outros,

pelos pais e em seguida pelos professores, num total de 18 alunos, o que corresponde a 26,4%. Somente 2 estudantes, ou seja, 2,9%, relataram terem sido orientados por médicos (Gráfi co 6).

Trezentos e vinte e seis (61%) dos alunos en-trevistados sabem da existência de punição para a prática de bullying, não havendo muita diferen-ça entre os tipos de envolvimento (Tabela 1).

Duzentos e cinquenta e seis (48%) alunos foram vítimas de bullying duas ou mais vezes (Tabela 2).

GRÁFICO 1. Número de envolvidos em atos de

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Tabela 1: DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS SEGUNDO O ENVOLVIMENTO (QUESTÃO 2 DO APÊNDICE) E

CONHECIMENTOS DA PUNIÇÃO POR BULLYING (QUESTÃO 11 DO APÊNDICE)

ENVOLVIMENTO Desconhece Conhece S/R* TOTAL

Autor 34 37 1 72

Ora autor, ora vítima 99 145 - 243

Vítima 44 72 - 116

S/R* 29 72 - 101

TOTAL 206 326 1 534

Fonte: Questionário sobre atos de bullying na escola * S/R: sem resposta

Nota: O número de sujeitos tanto em vítimas como em autor fi cou aumentado em função de respostas dadas independentes da resposta afi rmativa na primeira questão.

GRÁFICO 4. Distribuição dos alunos que foram alvo de bullying, segundo a solicitação de ajuda (Questão 6

do Apêndice) e redução ou não da agressão por parte dos colegas (Questão 7 do Apêndice).

GRÁFICO 2. Locais de preferência.

GRÁFICO 3. Distribuição dos alunos no envolvimento

de bullying, segundo idade e gênero e se concorda ou não com atos de bullying (Questão 4 do Apêndice).

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GRÁFICO 5. Razão da prática de bullying.

Tabela 2: DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS

CONFORME O NÚMERO DE VEZES QUE FORAM VÍTIMAS DE ATOS DE BULLYING

Nº DE VEZES TOTAL Nenhuma 161 Uma 116 Duas 67 Três ou mais 189 S/R* 1 TOTAL 534

Fonte: Questionário sobre atos de bullying na escola

* S/R: sem resposta

GRÁFICO 6. Índice de orientação fornecido quanto à

prática de bullying.

DISCUSSÃO

Este trabalho demonstra que 78,8% dos es-tudantes apresentam algum tipo de envolvimen-to com bullying, o que nos deixa em alerta, pois, em 2005, trabalho realizado pela Associação Brasileira de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA) demonstrou que apenas 40,5% admi-tiam estar envolvidos com atos de bullying10.

Observa-se também que a maioria dos autores é do gênero masculino (82%) e foram os que mais concordaram com atos de bullying (9,36%). Na literatura há vários trabalhos de-monstrando que rapazes estão mais envolvidos do que as moças tanto como vítimas quanto como provocadores. Uma pesquisa feita pela ABRAPIA também revelou um ligeiro predo-mínio de envolvimento do gênero masculino

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Idade: Sexo:

NÃO ESCREVER O NOME

Bullying: compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, sem motivação evidente, provocadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia numa relação desigual de poder. Exemplos: colocar apelidos, ofender, encarnar, humilhar, discriminar, excluir, ignorar, intimidar, perseguir, agredir, roubar, quebrar pertences.

1-Você já esteve envolvido em atos de bullying? ( ) sim

( ) não

2-Se você respondeu sim à pergunta anterior, você se coloca como:

( ) vítima ( ) autor

( ) ora vítima, ora autor

3-Quando envolvido em atos de bullying, ele aconteceu:

( ) na sala de aula ( ) no pátio da escola ( ) na rua

( ) em grupos de colegas

4-Você concorda com atos de bullying? ( ) sim

( ) não

5-Se você foi alvo de bullying, você solicitou ajuda? ( ) sim

( ) não

6-Se você respondeu sim à pergunta anterior, a quem você solicitou ajuda?

( ) aos colegas ( ) aos professores ( ) à família

( ) a outros (namorado/a, padre, pastor, médico)

7-Quando você solicitou ajuda, houve redução da agressão por parte dos colegas autores?

( ) sim ( ) não

8-Quando você foi autor de bullying, você o praticou por que razão?

( ) por brincadeira ( ) por não gostar do colega ( ) não sei

9-Quando você foi autor de bullying, alguém te orientou que este ato é incorreto e prejudica os outros?

( ) sim ( ) não

10- Se você respondeu sim à questão anterior, quem te orientou?

( ) professor ( ) pais ( ) colegas ( ) médico

( ) outros (padre, pastor, namorado/a)

11-O bullying é um ato de agressão e isto pode levar à punição.

Você sabia que pode ser punido por ser autor de bullying? ( ) sim

( ) não

12-Quantas vezes você já foi vítima de bullying? ( ) nenhuma

( ) uma ( ) duas

( ) três ou mais vezes

Apêndice: QUESTIONÁRIO SOBRE ATOS DE BULLYING NA ESCOLA

(50,5%)10. No trabalho realizado por Juvonen

(2003) foi observado que os meninos tinham duas vezes mais chances que as meninas de serem classifi cados como autores (10% versus 5%), três vezes mais chances de serem classifi -cados ora como vítimas ora como autores (10%

versus 3%) e quase duas vezes mais chance de

serem classifi cados como vítimas14. No colégio

estudado, verifi cou-se que os meninos têm

aproximadamente quatro vezes mais chances do que as meninas de serem classifi cados como autores (10,4% versus 2,2%), houve pequena diferença quando se tratava de ora vítima ora autor, e as meninas foram apontadas como a maioria das vítimas (57%).

No caso de concordância, os meninos têm maior aceitação do bullying que as meninas, lembrando ainda que esta situação fi ca mais

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evidente ao se lembrar que existem mais meni-nas que meninos entrevistados.

O fato de os meninos se envolverem em atos de bullying mais comumente do que as meninas não indica, necessariamente, que eles sejam mais agressivos, mas sim que, por uma questão cultural, têm maior possibilidade de adotar esse tipo de comportamento. Já a difi -culdade em se identifi car o bullying entre as meninas pode estar relacionada com o uso de formas mais sutis de agressão. Os meninos têm uma atitude facilitadora para a violência, isto ocorre porque eles acreditam que se deixarem de brigar fi carão humilhados diante dos cole-gas, acham que está certo agredir alguém que golpeou primeiro e que a única forma de deter um agressor é violentá-lo primeiro. Além disso, admitem a falta de controle sobre a agressivida-de em maior grau do que as meninas, conforme pesquisa realizada no Uruguai15.

Este trabalho demonstrou que 288 alunos (68,4%) tiveram envolvimento com bullying den-tro do ambiente escolar (sala e pátio), sendo a sala de aula o local mais relatado. Estes resultados alertam que o local de formação do indivíduo, de um povo, de uma nação e construção da cidada-nia é o ambiente onde ocorrem mais agressões1.

Diante da nova epidemia de doenças com-portamentais, necessita-se criar escolas promoto-ras de saúde proporcionando educação em saú-de saú-de forma abrangente, no sentido saú-de prevenir lesões não intencionais, violências e suicídios1.

Programas antibullying que atuam somen-te dentro da sala de aula pouco reduzem as agressões, ao contrário de intervenções que incluam várias disciplinas e componentes com-plementares direcionados aos diversos níveis de organização escolar, envolvendo professo-res, alunos, grupos, administração, família e profi ssionais de saúde16.

Verifi cou-se neste trabalho que menos de 34 alunos (16%), entre 213 vítimas de bullying, pe-diram ajuda aos professores. Dados de literatura mostram que os adultos aconselham as meninas a uma solução pacífi ca dos confl itos e lhes

reco-mendam não agredir, porém não conseguem in-tervir com tanta efi cácia com os meninos4.

Os professores desempenham papel fun-damental na prevenção e intervenção em casos de intimidação na escola, mas recebem pouca ou nenhuma ajuda ou mesmo formação sobre como lidar efi cazmente com a violência escolar. Eles carecem de informações e estão relutan-tes em intervir quando relutan-testemunham bullying. Embora tenham a vantagem de compreender o contexto social, não sabem a melhor forma de intervir. Em ambientes escolares, o bullying é visto como problema de juventude e não como problemas que requerem respostas coletivas14.

Notou-se nesta pesquisa que as vítimas pediram mais auxílios aos colegas e houve tam-bém redução maior por parte dos agressores quando esses auxiliaram, dado este compatível com a literatura16.

Quando testemunhas interferem e tentam cessar o bullying, essas ações são efetivas na maioria dos casos. Portanto, é importante in-centivar o uso desse poder advindo do grupo, fazendo com que os autores se sintam sem o apoio social16.

Quando as vítimas buscaram auxílio na família (segunda maior busca), notou-se que 60,71% (34 casos) afi rmaram não ter diminuído a taxa de agressão. Porém em relação aos auto-res foi observado que os pais foram os que mais orientaram os seus fi lhos no sentido de que esta é uma atitude incorreta.

Nota-se também neste trabalho que ape-nas 2 alunos dos 68 autores receberam orien-tação de médicos, e foi depois de terem sido orientados por pais, professores e colegas, o que equivale a menos de 3%.

Talvez a falta de relação entre médicos e alunos, por avaliarem os alunos fora da escola, é um problema que difi culta intervenções por parte daqueles. Um dos desafi os é tentar cons-truir e manter os laços entre os médicos e fun-cionários da escola. Como os adolescentes são relutantes em falar sobre assédio moral, profi s-sionais de saúde podem, por vezes, detectar os

(8)

sintomas de bullying16. No entanto, os sintomas

podem ser detectados mais facilmente para al-guns grupos do que para outros. As campanhas de conscientização pública não devem somente informar os profi ssionais e os pais sobre assédio moral, mas também incentivar os jovens a falar sobre os seus problemas17.

Observa-se neste trabalho que 326 alunos (61% dos entrevistados) têm o conhecimento a respeito da punição sobre bullying, não havendo muita diferença entre os tipos de envolvimento.

A maioria dos estudantes que se conside-raram autores de bullying confessou tê-lo feito por brincadeira, correspondendo a 41% dos autores. Na literatura há relatos de que 69,3% dos jovens admitiram não saber as razões que os levaram a praticar bullying ou acreditaram tratar-se apenas de uma forma de brincadeira10.

Devemos investir na formação de profes-sores, mas não podemos sobrecarregá-los com esta responsabilidade. Médicos e outros pro-fi ssionais de saúde, programas de juventude e outras partes do nosso sistema de atendimento humano precisam se envolver mais. A terapia fa-miliar é um método efi caz para reduzir a raiva, melhorar as relações interpessoais, de saúde e de qualidade de vida em jovens do gênero mas-culino com comportamento do tipo bullying18,19.

CONCLUSÃO

Notou-se alta prevalência de atos de

bullying na escola estudada, a maioria era ora

vítima ora autor, apesar de não concordar com este tipo de agressão.

O gênero masculino, apesar de ser mino-ria, demonstra maior aceitação do bullying e foi identifi cado como a maior parte dos autores.

A sala de aula foi o local onde ocorreu o maior índice de agressões, dado este preocupan-te, pois se espera que a escola contribua para a formação psicossocial do indivíduo. Porém, não podemos apenas sobrecarregar os professores com a responsabilidade de evitar este tipo de

violência. Devemos dar-lhes suporte fornecendo informações e criando núcleos onde pais, pro-fessores, alunos e profi ssionais de saúde criem estratégias para prevenir o bullying.

A maioria procurou ajuda dos colegas e fa-miliares, porém a redução dos atos de agressão foi observada quando o apoio foi dos colegas, o que reforça a ideia de que devem ser feitas cam-panhas para conscientizar testemunhas, pois essa interferência coíbe esse tipo de agressão.

Os autores praticavam agressão por brin-cadeira ou não tinham consciência do que os levava a agir assim. Na maior parte das vezes são os pais que orientam no sentido de que se trata de um ato incorreto e, em seguida são os professores. Poucos procuraram o médico, e este é um dado preocupante, uma vez que cabe ao pediatra buscar informações sobre o proces-so de evolução escolar de seus pacientes, não só avaliando sua capacidade de aprender, como também o desenvolvimento de habilidades rela-cionadas ao convívio social.

Médicos pediatras devem incluir na consul-ta de rotina investigação e orienconsul-tação sobre atos de bullying, e ter um vínculo maior com a escola para ajudar na orientação de professores e pais, uma vez que este trabalho mostrou uma baixa incidência de orientação pelos médicos. Além disso, será mais fácil para os profi ssionais de saú-de conseguir isaú-dentifi car problemas saú-de saúsaú-de que afetam tanto vítimas quanto agressores.

Os efeitos do bullying não são tão evidentes, e é pouco provável que a criança ou o adolescente procure um profi ssional que o possa ajudar, com compreensão, seja ele autor ou alvo de bullying. Contudo, é possível identifi car os pacientes de risco, aconselhar as famílias, rastrear possíveis al-terações psiquiátricas e incentivar a implantação de programas antibullying nas escolas.

Perceber e monitorar as habilidades ou possíveis difi culdades que os jovens possam ter em seu convívio social com os colegas passa a ser atitude obrigatória daqueles que assumiram a responsabilidade pela educação, saúde e segu-rança de seus alunos, pacientes e fi lhos.

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REFERÊNCIAS

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