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HIDROGEOLOGIA DO SISTEMA AQUÍFERO QUERENÇA-SILVES NOTAS PARA UMA VISITA GUIADA

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13 e 14 de Outubro de 2006

Universidade do Algarve

GUIA DE CAMPO

HIDROGEOLOGIA DO SISTEMA AQUÍFERO QUERENÇA-SILVES

NOTAS PARA UMA VISITA GUIADA

José Paulo Monteiro

a,b,1

a - Associação DPGA; b - Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade do Algarve 1 - jpmontei@ualg.pt

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INTRODUÇÃO E PERCURSO

Existe um conjunto de nascentes no Algarve central cuja localização é condicionada, de forma mais ou menos directa, pela proximidade dos limites do sistema aquífero Querença-Silves. As mais conhecidas, em sentido contrário aos ponteiros do relógio, são:

- A Fonte Filipe - A Fonte Benémola - A Fonte de Salir

- As fontes grande e pequena de Alte - As Fontes de Estombar

- As Fontes de Paderne

A visita a algumas destas nascentes, cuja localização está representada na Figura 1, constitui o percurso escolhido para discutir no terreno a hidrogeologia do sistema aquífero de Querença Silves. Este ocupa uma área com cerca de 320 km2 e tem uma recarga anual média da ordem dos 90×106m3/ano. A paragem 1 é a única que não corresponde a uma nascente e foi escolhida por facultar uma excelente panorâmica, quer do sector oriental do sistema aquífero, quer sobre o alinhamento em que este se individualiza da região que se estende para a Sul, quer ainda dos sistemas aquíferos, mais explorados que se estendem, para Sul, junto à costa.

Fig. 1 – Paragens da visita: 1 – Cruz da Assumada; 2 – Fonte Benémola; 3 - Nascentes de Alte; 4 – Nascente de Paderne; 5 – Nascentes de Estômbar.

O facto destas nascentes serem conhecidas por um grande número de pessoas, não significa que, na sua maioria, os visitantes tenha consciência do facto destas emergências de água subterrânea serem as principais saídas naturais do maior sistema aquífero do Algarve. De facto, se representarmos a posição geográfica das nascentes, verificamos que estas definem, aproximadamente, a forma do sistema aquífero de Querença-Silves (Figura 2).

O sistema aquífero de Querença-Silves sustentou os sistemas de abastecimento público urbano de água dos concelhos de Lagoa, Silves, Albufeira e Loulé, juntamente com outros sistemas aquíferos mais a Sul, durante a segunda metade do Século XX. Nos últimos anos do Século XX, iniciou-se a substituição destes sistemas de abastecimento público urbano de água com escala municipal pelo grande sistema de abastecimento público regional baseado na exploração das barragens de Odeleite, Odelouca, Funcho, Arade e Bravura. Esta solução, baseada na substituição de um conjunto de sistemas de abastecimento de origem única (subterrânea), por um sistema regional, também de origem única (neste caso superficial), acabou por revelar-se inadequado, dadas as condições hidrológicas prevalecentes que, como se sabe, se caracteriza por uma acentada variabilidade temporal da precipitação. Esta situação, cuja previsibilidade foi diversas vezes acentada em diversos trabalhos sobre a hidrogeologia do Algarve, acabou por confirmar-se. Monteiro et al. 2002, identificou três períodos distintos na história recente do uso dos recursos hídricos do Algarve: (1) um período (passado) em que as águas subterrâneas constituíam o mais importante suporte de todos os tipos de uso; (2) um período (presente em 2002), no qual se verificava uma importante diminuição do volume de extracções associadas ao suprimento das necessidades relacionadas com o abastecimento urbano e (3) um período (futuro em 2002), em que as condições naturais prevalencentes no Algarve e a intensificaçãos dos conflitos de interesses decorrentes da intensificação do uso da da água obrigariam à adopção de esquemas de gestão integrada mais sofisticados e eficientes que os então preconizados, baseados no uso conjunto de águas superficiais e subterrâneas. Este futuro acabou por transformar-se em presente quando se iniciou, a partir de Outubro de 2004, a extracção de cerca de 500 l/s em furos implantados no sistema aquífero de querença-Silves, na área de Vale da Vila, para conduzir água à ETA de Alcantarilha. Esta situação verificou-se quando o nível de água nas barragens inviabilizou a continuação do seu uso para abastecimento público, durante a seca severa que afectou Portugal em 2004 e 2005. A partir de Janeiro de 2005,

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também no sistema aquífero de querença-Silves, foram reactivados furos em Albufeira, Silves e Lagos e construídas novas captações. Assim, durante o período de seca de 2004/2005, que esteve na origem desta retoma do uso de águas subterrâneas para abastecimento público, o uso de água a partir do sistema aquífero de Querença-Silves, acabou por ser mais intenso do que aquele que era praticado quando todo o abastecimento era feito em todo o Algarve por águas subterrâneas. Isto porque a partir da ETA de Alcantarilha, inicialmente planeada para processar exclusivamente água das barragens, se passou a distribuir água com origem no sistema aquífero Querença-Silves para outros municípios, fora da sua área. Estas circunstâncias são algo irónicas pois todos recordamos que o argumentário para justificar a decisão a favor da implementação da solução com origens únicas a partir das águas de superfície era fortemente dominado pela referência à insustentabilidade do uso do aquífero Querença-Silves (!).

Fig. 2 - Os limites do sistema aquífero de Querença-Silves, a rede hidrográfica regional e as nascentes referidas no texto. Registam-se alguns valores históricos de caudais.

Uma visita a estas nascentes e aos cursos de água que lhe estão associados (sobretudo as ribeiras do Algibre e de Alte e o Rio Arade), permitem uma visão de conjunto das relações entre águas subterrâneas e superficiais muitissimo interessante que é o objecto da nossa visita. Uma vez que grande parte do percurso é efectuado na área do sistema aquífero de Querença-Silves apresenta-se na Figura 3 a localização das principais povoações nos cerca de 320km2 que este ocupa. Querenç Benafim_Grande Alte Paderne Salir Estombar Algoz Silves S.B.Messines Aldeia_da_Tôr Tunes_Gare 0m 10000m 20000m

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ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO E ESTRUTURAL

Almeida et al. (2000), na sua síntese sobre os principais sistemas aquíferos de Portugal apresentam uma descrição detalhada das litologias que suportam o sistema aquífero querença-Silves, baseada no estado actual do comhecimento da geologia da região que aqui se reproduz. As formações aquíferas dominantes são: a Formação de Picavessa (Calcários de Alte) do Jurássico inferior, os Calcários e Dolomitos de Almádena (Jurássico médio), os Calcários de S. Romão, os Calcários com Nódulos de Sílex da Jordana, os Calcários Bioconstruídos do Cerro da Cabeça, os Dolomitos e Calcários Dolomíticos de Santa Bárbara de Nexe, os Calcários de Escarpão, os Calcários com Anchispirocyclina lusitanica (Jurássico superior).

A Formação de Picavessa inicia-se com uma brecha dolomítica a que se seguem dolomitos e calcários dolomíticos, geralmente maciços, de cristalinidade fina ou sacaróides. Apresentam dolomitização em geral secundária e precoce mas que, em zonas de fracturas, é tardia e origina importantes variações laterais que atingem os calcários da unidade superior. Também se observam fenómenos de desdolomitização, provavelmente ligados a fenómenos de meteorização (Manuppella, 1992). À Formação de Picavessa sobrepõe-se um conglomerado calcário (Conglomerado de Odeáxere), com pequenos afloramentos apenas a norte de Benaciate e a sul de Malhão, e os Calcários e Dolomitos de Almádena (Jurássico médio) que, à excepção do afloramento de Fanqueira-Pocinho, apenas bordejam a oeste as formações liásicas. Os Calcários e Dolomitos de Almádena são constituídos por 50 a 75 metros de dolomitos cristalinos branco-rosados aos quais se seguem cerca de 50 metros de calcários oolíticos, calcários bioérmicos, calcários pisolíticos, calcários calciclásticos e calcários dolomíticos, atribuídos ao Aaleniano-Bajociano inferior (Rocha, 1976).

Os Calcários de S. Romão são constituídos por um espesso conjunto carbonatado (400 metros) que inclui calcários micríticos compactos, calcários oolíticos, calcários corálicos e com crinóides e calcários oncolíticos, de idade Oxfordiano a Kimeridgiano (Manuppella, 1992).

Os Calcários com Nódulos de Sílex de Jordana, de idade Kimeridgiano, são compactos, um pouco argilosos, cinzentos-escuros, em bancos médios, com abundantes silicificações secundárias. A sua espessura é variável, podendo atingir cerca de 100 metros (Manuppella, 1992).

Os Calcários Bioconstruídos do Cerro da Cabeça, do Kimeridgiano, são constituídos por bancadas de calcários compactos, cinzentos a rosados, com algumas passagens de brechas intraformacionais e bioérmicas. A espessura das camadas pode atingir dois metros, enquanto que a espessura total da formação se mantém entre 30 e 70 metros (Manuppella, 1992).

Os Dolomitos e Calcários Dolomíticos de Santa Bárbara de Nexe são constituídos por bancadas espessas de dolomitos e calcários dolomíticos de cor creme rosada, que devem corresponder, essencialmente, à dolomitização secundária dos Calcários Bioconstruídos de Cerro da Cabeça e, localmente, da parte inferior dos calcários com Alveosepta jaccardi, sendo por isso considerados de idade kimeridgiana (Manuppella, 1992).

Os Calcários do Escarpão são constituídos pela alternância de calcários compactos, calcários argilosos nodulares e margas, de idade Kimeridgiano a Titoniano e com cerca de 500 metros de espessura máxima (Manuppella, 1992). Os Calcários com Anchispirocyclina lusitanica, do Titoniano, são constituídos por cerca de 120 metros de calcários em bancadas médias e espessa, frequentemente nodulares, intraclásticos e oolíticos, alternando com calcários argilosos e margas (Manuppella, 1992).

Os afloramentos das formações do Jurássico superior ocorrem de forma muito fragmentada no limite sul do sistema aquífero mas constituem no seu conjunto uma faixa com cerca de 2 km de largura e 20 km de comprimento, que acompanha as vertentes da margem esquerda da ribeira de Algibre, entre Clareanes e Paderne.

Sob o ponto de vista estrutural, O sistema aquífero Querença-Silves apresenta dois domínios com características distintas: a norte da flexura de Algibre aflora grande extensão de rochas do Jurássico inferior em monoclinal inclinado para sul; ao longo da flexura uma faixa de terrenos do Jurássico superior (na metade oriental) e médio (na metade ocidental) fortemente fracturados. Todavia, é possível definir várias dobras com eixos ENE-WSW a ESE-WNW (Terrinha, 1998).

São visíveis na cartografia geológica (Manuppella, 1992) um conjunto de falhas com orientações por vezes E-W mas em geral ENE-WSW, com grande expressão no bloco constituído pelo Jurássico inferior. A fracturação NW-SE é representada principalmente pela falha de S. Marcos da Serra – Quarteira, que atravessa o sistema aquífero diagonalmente de S.Bartolomeu de Messines a Paderne, e um conjunto de falhas com essa direcção que afecta o Jurássico superior a sudeste de Paderne. A fracturação submeridiana é, pelo contrário, menos evidente.

A falha do Algibre é considerada um cavalgamento em que o Jurássico inferior se sobrepõe ao Jurássico superior (Manuppella, 1992; Terrinha, 1998). Entre Salir e Ponte de Tor as falhas apresentam rejogo em extensão, enquanto as que se situam junto à flexura do Algibre são compressivas (Terrinha, 1998).

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ENQUADRAMENTO DA ÁREA VISITADA NA HIDROGEOLOGIA REGIONAL

Apesar de se dedicar predominantemente à discussão de aspectos relacionados com a hidrogeologia do aquífero Querença-Silves, o percurso planeado permitirá igualmente por em evidência diversos aspectos relacionados com a hidrogeologia de mais três dos 17 grandes sistemas aquíferos identificados à escala regional na Bacia Mesocenozóica Algarvia. A distibuição geográfica de todos estes sistemas aquíferos, de acordo com os limites propostos por Almeida et al. (2000) representa-se na figura 4.

Fig. 4 – Área ocupada pelos 17 sistemas aquíferos identificados à escala regional no Algarve por Almeida et al. (2000). Antes das paragens nas nascentes efectua-se uma paragem na Cruz da Assumada que permite uma visão priveligiada, quer sobre o Litoral, para Sul, quer sobre o sector Oriental do sistema aquífero Querença-Silves. Neste local encontramo-nos a curta distância do vale onde se instala a ribeira do Algibre e a Falha com o mesmo nome que limita o sistema aquífero a Sul. O corte apresentado na figura 5 diz respeito a uma área situada alguns quilómetros para Oeste desta área mas é representativo, de forma genérica, da situação hidrogeológica da área observada para Sul do relevo da Cruz da Assumada.

Fig. 5 – Corte geológico representativo dos contactos entre o Jurássico Superior, Cretácico e Miocénico no Algarve Central. Extraído de Manuppella et al. (1987); folha 53-A da carta geológica de Portugal (Faro) de escala 1: 50 000.

As relações geométricas entre as formações do jurássicas, cretácicas e miocénicas, observada nesta área, permitem a compreensão das condições hidrogeológicas prevalecentes no Algarve central para Sul do sistema aquífero de Querença - Silves, quer no sistemas aquíferos de Albufeira-Ribeira de Quarteira, quer no de Quarteira. No caso da Campina de Faro, ainda no Algarve central, a situação é diferente, pois o Miocénico encontra-se afundado num graben. Assim, a discussão deste corte permite uma análise de síntese de diversos aspectos de grande relevância para a hidrogeologia do Algarve. Nomeadamente os factores que definem a geometria dos aquíferos, a ocorrência de conexão hidráulica entre as rochas do Jurássico Superior e o Miocénico e ainda, a independência hidrogeológica entre as rochas do Jurássico Inferior e Médio e as formações mais recentes.

Relativamente ao sistema aquífero de Querença-Silves, para além da discussão dos factores que condicionam a sua geometria, serão ainda apresentados elementos referentes às suas condições de fronteira, balanço hidrológico, variáveis de estado e parâmetros hidráulicos. O tratamento científico destas questões tem de ser efectuado no quadro de uma abordagem quantitativa que sai do âmbito do presente guia. No entanto, para além das referências bibliográficas efectuadas neste texto, será ainda apresentada uma listagem dos trabalhos dedicados ao estudo do sistema aquífero Querença-Silves, desde que se iniciou o seu estudo hidrogeológico, no início dos anos 80.

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PRECIPITAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA RECARGA

Sob o ponto de vista dos dados de base utilizados para definir o balanço é interessante referir que, dependendo da espessura e natureza dos depósitos de cobertura, existem variações muito importantes das taxas de recarga na área do sistema aquífero. O cruzamento espacial dos dados de precipitação média, registados no quadro da Figura 6, com a distribuição das áreas com diferentes capacidades de infiltração (figura 7), permitiu estabelecer uma taxa de recarga anual média da ordem dos 43%. Assim, tendo em conta a área já referida (cerca de 324 km2), o valor de escoamento anual médio para este sistema aquífero é da ordem dos 93×106 m3/ano.

0 20 40 60 80 100 120

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

P

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Fig. 6 – Valores médios plurianuais mensais de precipitação (série 1959/60 – 1990/91), para a área do sistema aquífero de Querença-Silves.

Fig. 7 – Recarga definida em função da percentagem de precipitação infiltrada.

De salientar que os processos de estimativa da recarga são feitos por métodos diferentes nas áreas cobertas e nas áreas onde afloram as rochas carbonatadas.

Um dos aspectos interessantes relacionados com a ocorrência de áreas onde a infiltração tem valores extremos, ou seja muito altos ou muito baixos, é que ambas estas situações estão relacionadas com a morfologia cársica. Se por um lado as áreas onde afloram rochas carbonatadas, sobretudo onde há campos de “lapiás” bem desenvolvidos, apresentam valores muito altos de precipitação, a ocorrência de “poljes”, por outro, condiciona a ocorrência de áreas onde a infiltração é quase nula, devido às espessas coberturas de terra rossa. Estas depressões cársicas de grandes dimensões, localmente denominadas “naves” são vales cegos, ou seja vales em que não há continuidade geográfica e, por isso, terminam numa vertente abrupta. O polje mais extenso, com cerca de 4 km de comprimento e 500 a 1000m de largura, é a Nave do Barão que instalada no maciço dolomítico da Serra da Picavessa que, em determinados períodos, fica com partes inundadas devido aos baixos valores de infiltração. O Flanco Norte desta estrutura é limitado por uma importante falha inversa que originou uma brecha tectónica com 200m de espessura que põe em contacto os dolomitos com os calcários do Jurássico Inferior.

Prec. (mm) JAN 97 FEV 95 MAR 63 ABR 53 MAI 31 JUN 13 JUL 2 AGO 4 SET 17 OUT 78 NOV 100 DEZ 110 Soma 663

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MODELO CONCEPTUAL DE ESCOAMENTO

Os pontos de água (poços e furos) para os quais existem registos dos níveis de água no sistema aquífero de Querença-Silves (Figura 8), juntamente com a referenciação das áreas de descarga natural onde (pelo menos periodicamente) o potencial hidráulico é superior à cota topográfica, permitem que se defina um modelo conceptual de funcionamento hidráulico do aquífero.

Os dados existentes mostram que no Sector Oriental do sistema aquífero se verifica a existência de fluxo para Sul, a partir do seu limite Norte e, adicionalmente, de Este para Oeste, junto seu limite Sul. A existência de emergências (pouco importantes), como a Fonte Filipe no limite Este do Sector Oriental, mostra que se verifica também, localmente, fluxo no sentido de Oeste para Este na área Sul deste Sector Oriental do aquífero. No entanto, a análise dos dados existentes mostra, claramente, que o fluxo para Este, em direcção à Fonte Filipe e diversas outras emergências menos importantes, tem carácter local e é, decididamente, menos importante que o fluxo regional para Oeste que se verifica na parte Sul do Sector Oriental do sistema aquífero.

0Km 5000Km 10000Km 15000Km

Fig. 8 – Posição dos 59 pontos de água (poços e furos) para os quais existem registos de valores de piezometria no sistema aquífero de Querença-Silves e posição das nascentes mais importantes (base de dados da CCDRA).

Os dados indiciam um funcionamento hidráulico para o Sector Ocidental do sistema aquífero menos difícil de interpretar do que a apresentada para o sector referido no parágrafo anterior. A direcção predominante de escoamento é de Este para Oeste. A natureza da conexão hidráulica entre os sectores Oriental e Ocidental é complexa e dificulta a caracterização das transferências entre as áreas que podem ser diferenciadas pelo comportamento dos piezómetros. Parece verificar-se que, tanto a área Norte do Sector Oriental, como a sua área a Sul, apresentam continuidade com o escoamento geral verificado para Oeste no Sector Ocidental. No entanto, a piezometria observada é igualmente compatível com um modelo conceptual em que apenas a área Sul do Sector Oriental estabelece conexão hidráulica eficazmente com o Sector Ocidental.

Fig. 9 – Distribuição espacial e variabilidade temporal de valores de potencial hidráulico, registados em pontos de água implantados no sistema aquífero de Querença-Silves. Cada cilindro tem comprimento proporcional à máxima amplitude piezométrica registada em todo o período de recolha de dados. A mudança de cor corresponde à média dos valores observados em cada piezómetro.

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A visualização do mapa de isopiezas representado na Figura 10 facilita a visualização do modelo conceptual de escoamento referido. Nesta figura apresenta-se um mapa piezométrico construído a partir dos dados recolhidos nos pontos de amostragem ilustrados na Figura 8 e também um mapa piezométrico calculado com um modelo em elementos finitos que simula o escoamento no sistema aquífero de Querença Silves.

Alte_FteGrande Salir

Fonte_Benémola

Paderne

Fonte_Filipe

0m 5000m 10000m 15000m

Fig. 10 – Comparação das superfícies equipotenciais calculadas usando um modelo em elementos finitos, a partir dos 11663 nós que o constiuem (acima) e calculadas a partir dos 34 pontos de controlo da rede piezométrica, marcados a azul, utilizados para calibrar o modelo (em baixo).

REGIME DE EXPLORAÇÃO DO SISTEMA AQUÍFERO

A área regada no sistema aquífero de Querença Silves é da ordem dos 39.66 km2. Considerando uma dotação de rega de 600 mm, obtém-se um consumo para esta actividade de 23.79×106 m3/ano (Monteiro et al., 2006).

Tal como já foi referido, até aos últimos anos do Século XX existia um conjunto de captações (furos) neste sistema aquífero que sustentava o abastecimento público urbano dos Concelhos de Albufeira, Lagoa, Loulé e Silves. Na figura seguinte mostra-se a localização destas captações (registadas na base de dados da CCDR Algarve).

Fig. 11 – Captações camarárias que suportavam o abastecimento público no final do Século XX nos Concelhos de Lagoa, Silves, Albufeira e Loulé.

Nestas captações eram extraídos (por ano), de acordo com o inventário de saneamento básico de 1994 (in Almeida et. al. 2000): em Silves 7,3 milhões de metros cúbicos; Lagoa, 2,2 milhões de metros cúbicos; Albufeira, 2,5 milhões de metros cúbicos e Loulé, 0,25 milhões de metros cúbicos. Ou seja, as estimativas existentes antes do abandono da grande maioria destas captações (devido à entrada em funcionamento do abastecimento público a partir de barragens) apontavam para um volume anual médio de extracções da ordem dos 12 milhões de metros cúbicos por ano.

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0m 5000m 10000m C.M. Lagoa C.M. Silves C.M.Albufeira C.M. Loulé Vale da Vila Malhão - Aivados

A exploração para abastecimento público de água sustentada pelos furos representados na Figura 11 foi quase integralmente abandonada no final do Século XX. Assim, nos primeiros anos do presente século assistiu-se a uma redução importante da exploração dos recursos hídricos subterrâneos associados ao sistema aquífero de Querença Silves. Devido à seca que afectou o país, com especial incidência a Sul, o novo sistema de abastecimento de água que veio substituir estes furos entrou em ruptura, por falta de água nas barragens. Assim, foi necessário retomar o uso de água do sistema aquífero de Querença-Silves, a partir de Novembro de 1994. A retoma da exploração deste sistema aquífero para abastecimento público passou no entanto a efectuar-se em moldes diferentes dos ilustrados na Figura 11. Tal facto deveu-se a que os novos furos utilizados se situam na zona de Vale da Vila, por ser necessário que a água neles produzida pudesse conduzir-se à ETA de Alcantarilha, a partir da qual a água pode ser conduzida para os pontos de entrega e, posteriormente, distribuída através dos sistemas de abastecimento em baixa, da responsabilidade dos municípios. Na Figura 12 é mostrada a localização destas captações que, tal como já foi referido, se começaram a utilizar para abastecimento público a partir de Novembro de 1994. De referir que, também nas proximidades de Vale da Vila, existe outro grupo de captações, cuja construção se encontra em fase de finalização, igualmente nas proximidades da ETA de Alcantarilha para que, no futuro seja possível reforçar o sistema de abastecimento público actal de água a partir de águas subterrâneas (Captações de Malhão e Aivados, igualmente representadas na Figura 12).

Fig. 12 – Localização das captações de Vale da Vila (em funcionamento para abastecimento público) e de Malhão-Aivados (que ainda não iniciaram a sua actividade). Ambos os grupos de captações têm prevista a condução de água para a ETA de Alcantarilha. As restantes captações são camarárias e suportavam o abastecimento público no final do Século XX nos Concelhos de Lagoa, Silves, Albufeira e Loulé. Parte destas foi reactivada no período de seca de 2004/2005. Fonte – Base de dados da CCDR Algarve e levantamentos de campo.

RISCOS DE DEGRADAÇÃO ASSOCIADOS À EXPLORAÇÃO DA ÁGUA

Aos riscos associados a aquíferos continentais em áreas rurais, como o sebredimensionamento da rega e a utilização excessiva de fertilizantes e pesticidas, acresce-se, neste caso, o risco de degradação da qualidade da água por inversão do gradiente hidráulico na área das fontes de Estômbar. Estas nascentes constituem a área principal de descarga do aquífero, em direcção ao Rio Arade. Assim, no caso das outras nascentes, quando o potencial hidráulico é menor do que a cota topográfica, as nascentes limitam-se a deixar de funcionar. Esta situação não se verifica em todos os casos. Por exemplo, as Fontes Benémola e de Alte nunca chegaram a ficar inactivas, mesmo no final do segundo ano consecutivo de seca e com o intenso regime de exploração a que o sistema aquífero foi sujeito. No entanto, por exemplo, em 2005 a Fonte de Paderne acabou por secar. No entanto, no caso de Estômbar, se a cota piezométrica na área das nascentes for inferior à cota do Rio Arade, verificar-se-á uma inversão do fluxo que, em condições normais se dá do aquífero para o rio. Assim, como nesta área a água do Arade é salgada e se faz sentir o efeito das marés, a ocorrência destas condições poderá estar na origem da salinização deste sector do aquífero. Deste modo, em períodos de seca, quando há tendência para intensificação das extracções de água no aquífero, é essencial que exista uma cuidadosa monitorização neste sector do aquífero. Do mesmo modo, para além da monitorização, é igualmente essencial que se utilizem metodologias que permitam prever a evolução das variáveis de estado afectadas pelas variações climáticas e exploração do aquífero, de modo a que se possam planear de forma responsável os diferentes regimes e cenários de exploração.

Os modelos matemáticos de simulação do funcionamento hidráulico deste sistema aquífero implementados nos últimos anos, para além do seu interesse científico intrinseco, constituem igualmente metodologias que poderão contribuir para a melhoria dos esquemas de gestão da água, sobretudo se hamonizados com modelos de gestão de recursos hídricos superficiais.

Acrescenta-se para terminar que, nas condições hidrogeológicas que ocorrem na área de Estômbar, existem limitações à aplicação dos modelos convencionais de simulação do funcionamento hidráulico de aquíferos baseados, por exemplo, na utilização de parâmetros como a condutividade hidráulica utilizada na forma mais simples da lei de Darcy. Ou seja, considerando a presença de um fluido com densidade e viscosidade constantes. Os esquemas clássicos apresentados na Figura 13 recordam-nos, de forma muito simples, alguns dos conceitos que têm de ser tidos em conta para ter em consideração os fenómenos físicos que controlam o escoamento em meios porosos e fracturados neste tipo de condições.

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17 -S ep -01 1 8 -S ep -01 19 -S ep -0 1 20 -S ep -0 1 21-Sep-01 22-Sep-01 23 -S ep -01 2 4 -S ep -01 2 5 -S ep -01 26 -S ep -0 1 27-Sep-01 28-Sep-01 29-S ep-01 30 -S ep -01 1-O c t-01 2-O c t-01 3- Oct-01 4- Oct-01 5-O c t-01 6-O c t-01 10.2 10.3 10.4 10.5 10.6 10.7 10.8 10.9 11.0 11.1 11.2

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Fig. 13 – Esquemas ilustrativos da interface aquífero oceano em regiões costeiras e oscilação de níveis num piezómetro no sistema aquífero Albufeira-Ribeira de Quarteira, ilustrando o efeito da propagação da maré neste sistema aquífero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Manuppella, G. (1992) - Tectónica das Bacias Sedimentares Meso-Cenozóicas, in Oliveira, J. T. , 1992. Notícia Explicativa da Folha 8, Carta Geológica de Portugal, escala 1/200 000. Serviços Geológicos de Portugal, pp. 77-80. Monteiro, J. P.; Nunes, L.; Vieira, J.; Martins, R.R.; Stigter, T.; Santos, J.; Reis, E. (2003) - Síntese Bidimensional dos Modelos Conceptuais de Funcionamento Hidráulico de Seis Sistemas Aquíferos do Algarve (Baseada em Modelos

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BIBLIOGRAFIA SOBRE O SISTEMA AQUÍFERO QUERENÇA SILVES

Nota prévia: Para além das referências bibliográficas efectuadas no texto, atrás citadas, fornece-se igualmente uma lista de trabalhos que, de forma directa, se referem à hidrogeologia do sistema aquífero de Querença-Silves.

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Referências

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