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ASPECTOS DA GERAÇÃO DE VALOR COMPARTILHADO ATRAVÉS DA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EMPRESARIAL ESTRATÉGICA

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COMPARTILHADO ATRAVÉS DA

RESPONSABILIDADE

SOCIOAMBIENTAL EMPRESARIAL

ESTRATÉGICA

Adriana Motta Gonzaga (Universidade Federal Fluminense)

gonzaga.dri@gmail.com

Ana Maria Kirschner (Universidade Federal Fluminense)

ana.k@uol.com.br

O presente artigo desenvolve o tema responsabilidade socioambiental em sua perspectiva organizacional, enfatizando a oportunidade de geração de valor partir da implantação de ferramentas e boas práticas de gestão voltadas para a mitigação ddos impactos socioambientais provocados pelas atividades da empresa. Apresenta-se um rol de ferramentas capazes de transformarem a realidade da empresa e transformarem-se em vantagem competitiva no mercado global, possibilitando a aprendizagem e o estabelecimento de um diálogo mais ético com seus stakeholders compartilhando-se valores e experiências que fortalecem a ambos. A inserção das ferramentas de gestão comprometidas com a responsabilidade socioambiental tende a garantir a sustentabilidade empresarial, mostrando que a geração de valor para a empresa pode ser economicamente viável, com ações possíveis, socialmente justas e ambientalmente corretas.

Palavras-chaves: Responsabilidade Socioambiental, Valor compartilhado, Ferramentas de gestão.

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1. INTRODUÇÃO

Durante muitos anos as organizações privadas optaram por percorrer o caminho da indiferença em relação ao agravamento dos problemas sócio-ambientais. O modo de acumulação sustentado pela sociedade capitalista mostrou-se inábil para articular de forma harmoniosa com os recursos naturais e seus seres humanos, apesar de serem as partes vivas entre os fatores de produção do processo produtivo. As grandes corporações, num curto espaço de tempo, com o propósito de maximizarem seus lucros, degradaram o meio ambiente, abusaram do uso de tecnologias e ampliaram o fosso entre empregabilidade e exclusão social. As sequelas do capitalismo para a sociedade deste início de século vêm se tornando irreversíveis e carece de ações imediatas, profundas e globais, para que a situação se reverta. A preocupação com o destino da Humanidade tomou conta do debate contemporâneo e as elites abriram as discussões para participação de pessoas das diversas classes sociais. “Faça a sua parte, convidam-nos, como se a parte de cada um na injustiça ambiental que impera no mundo fosse semelhante à de todos; como se o todo fosse a soma das partes.”(PORTO-GONÇALVES, 2004, p.17).

O debate já vinha sendo fomentado há algumas décadas, o que permitiu o engajamento de algumas grandes corporações às novas diretrizes sugeridas. As „novas‟ organizações buscaram humanizar-se, fazendo disso seu diferencial. Era o novo estilo de competição estabelecido pelos mercados do início do século vinte e um. Sejam éticos e ganharão mercados. Sejam responsáveis e ganharão mais clientes. Dialoguem com a sociedade, sejam responsivos para aumentarem o valor das marcas. O lobo vestiu-se de „chapeuzinho vermelho‟ e passou a prestar mais atenção a seus stakeholders1

, assumindo a forma de

„organização responsável‟ do ponto de vista social e ambiental.

1 O termo denomina os grupos de interesse envolvidos na lógica empresarial, que engloba desde os funcionários

ao governo, concorrentes, fornecedores, passando certamente pelos clientes, acionistas e também pela comunidade ligada àquela unidade de produção (GARCIA, 2004, p. 29)

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3 Dessa forma, uma organização socialmente responsável assume um compromisso com seus grupos de interesses, agindo pró-ativamente por meio de uma série de ações e atitudes éticas e transparentes que afetam positivamente comunidades, seu público interno, o meio ambiente, seus fornecedores, os investidores, consumidores e até os governos. De acordo com Porto-Gonçalves, (2004, p.19) “(...) a extrema gravidade dos riscos que o planeta enfrenta contrasta com as pífias e tímidas propostas do gênero „plante uma árvore‟, promova a „coleta de lixo‟ ou „desenvolva o ecoturismo‟.” As organizações estão investindo cada vez mais em boas práticas de gestão que possibilitam o alinhamento estratégico com as questões socioambientais. Nesse sentido, o artigo discute a responsabilidade socioambiental como oportunidade de geração de valor para as empresas na visão de Porter; Kramer (2006), a partir da escolha de quais ferramentas de gestão socioambiental adotar, tendo em vista seu potencial impacto.

1.1 OBJETIVO

O objetivo geral do trabalho é desenvolver considerações acerca da introdução das ferramentas da responsabilidade socioambiental na gestão estratégica empresarial. Partindo desse ponto, relaciona-se a gestão estratégica com a sustentabilidade empresarial, mostrando que a geração de valor para a empresa pode ser economicamente viável, com ações socialmente possíveis e justas e ambientalmente corretas.

1.2 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

A estratégia de pesquisa, em relação a seus fins e aos meios, utiliza o método exploratório. Este, configura-se a partir de pesquisa bibliográfica que segundo Vergara (1997, p.46) “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas”, capaz de fornecer o instrumental analítico para o desenvolvimento do contexto que configura a totalidade na qual surge o fenômeno. Os temas em questão são responsabilidade social e ambiental, gestão empresarial e valor. A pesquisa bibliográfica envolve os aspectos teóricos necessários para ampliar e aprofundar o conhecimento sobre o que já existe em termos de estudos, permitindo uma maior clareza no desenvolvimento das etapas seguintes. Foram realizadas pesquisas às base de dados do Portal Periódicos Capes, ao

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Scientific Eletronic Library Online – Scielo, às Revistas Eletrônicas, Biblioteca Digital de

Teses e Dissertações da Capes, da USP e Unicamp, entre outros.dados.

2. AS MELHORES PRÁTICAS DE GESTÃO

A responsabilidade socioambiental é um meio, um guia através do qual as empresas buscam alcançar a sua sustentabilidade. De acordo com Lima (2002), responsabilidade social é o dever da empresa em devolver para a sociedade a parcela retirada na exploração dos recursos econômicos e humanos, uma espécie de prestação de contas sob a forma de contribuição para o desenvolvimento social. Por sua vez, Veloso (2005) considera que a responsabilidade social corporativa vai além das relações éticas entre os stakeholders, envolvendo, também, ações sociais que, empreendidas diretamente ou simplesmente sendo financiadas pelas empresas visam a “atenuar a pobreza, melhorar as condições de vida, e promover a cidadania de grupos ou populações carentes.” (VELOSO, 2005, p.18).

As demandas e expectativas da sociedade moderna são o ponto de partida para a maioria das empresas. Responder a essas demandas é motivo de sobrevivência para grande parte delas. Nesse sentido, é pertinente a abordagem da responsabilidade socioambiental corporativa sobre a questão da Corporate Responsiveness. A organização responsiva é aquela que se adapta e reage com prontidão às demandas de seus stakeholders. Incorporar a responsividade nas práticas de gestão é atender ao seu público externo de forma pró-ativa, responsiva e responsável, alinhando-se à dinâmica e à velocidade das mudanças do mercado consumidor. Diálogo é o método da vez. Através do diálogo com a sociedade as empresas estão agregando valor às suas marcas. Dialogar com seus colaboradores internos também tem surtido efeito positivo.

A organização moderna deseja tanto convertidos quanto deseja trabalhadores. Preocupa-se com o que pensam seus membros tanto quanto com suas ações e com o que pensa o público sobre o pensamento e ações de membros. Em conseqüência, preocupa-se com toda a vida de seus membros, com aquilo que pensam e fazem

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5 fora do trabalho, tanto quanto nele. (THOMPSON, 1966 apud RAMOS, 1989, p.149)

A chamada responsabilidade interna é um dos primeiros passos para se alcançar a cidadania empresarial. Segundo Kirschner (2009, p.140 ), a responsabilidade interna são “ações da empresa focalizadas no bem-estar de seus funcionários (...). É menos visível e não repercute tanto na imagem que a sociedade faz da empresa”. Com este objetivo, as empresas podem desenvolver ações que estimulem o voluntariado, que melhorem a qualidade de vida e o ambiente de trabalho de seus funcionários ou colaboradores.

A responsabilidade social interna tem como foco trabalhar o público interno da organização, desenvolver um modelo de gestão participativa e de reconhecimento de seus empregados, promovendo comunicações transparentes, motivando-os para um desempenho ótimo. Esse modelo de gestão interna compreende ações dirigidas aos empregados e dependentes, aos funcionários de empresas contratadas, terceirizadas, fornecedoras e parceiras. (QUELHAS; LIMA, 2006, p.7)

A responsabilidade social interna não é tão visível para a sociedade, ficando restrita ao ambiente do trabalho. Por esse motivo as empresas também buscam ações que possam repercutir de forma favorável na mídia, como por exemplo, a realização de investimentos socioambientais privados, que segundo o GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas - “é o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público”. Investir em seus próprios projetos sociais ou fazer arranjos e parcerias com o organizações do Terceiro Setor exigem profissionalismo, cautela, objetivos transparentes e uma metodologia apropriada.

As organizações estão cada vez mais usando artifícios que a promovam como benfeitora da sociedade, realçando seu relacionamento „harmonioso‟ com o meio ambiente e com os excluídos sociais. Pode ser um discurso passageiro e oportuno diante das demandas que se apresentam. Mas algumas organizações levam muito a sério suas ações socioambientais, e não entram em conflito direto com sua função social.

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6 Eis o caminho, mais difícil sem dúvida, que haveremos de percorrer se quisermos sair das armadilhas de noções fáceis que nos são oferecidas pelos meios de comunicação, como “qualidade de vida” ou “desenvolvimento sustentável”, que, pela sua superficialidade, prepara hoje, com toda a certeza, a frustração de amanha. (PORTO-GONÇALVES, 2004, p.18)

2.1 Gestão estratégica baseada em responsabilidade socioambiental

Uma das urgências empresariais que vêm determinando a vantagem competitiva das empresas no mercado global é a inserção da responsabilidade sócio-ambiental alinhada à estratégia organizacional. Não desmerecendo a inovação e as transformações tecnológicas que são a ponte para a sustentabilidade, as práticas responsáveis melhoram a imagem da empresa diante da sociedade cada vez mais consumista, fortalecem a marca, possibilitam a perenidade dos negócios e, consequentemente, podem elevar a cotação de suas ações nas bolsas de valores. A gestão baseada em responsabilidade sócio-ambiental cria um saudável diálogo com seus

stakeholders.

Líderes de empresas e da sociedade civil dão atenção demais ao atrito que os divide e atenção insuficiente aos pontos de inserção. A dependência mútua de empresas e sociedade significa que tanto decisões empresariais quanto políticas sociais devem seguir o princípio do valor compartilhado. Ou seja, devem trazer benefícios para os dois lados. (...) Para colocar em prática estes amplos princípios uma empresa deve integrar a perspectiva social aos principais modelos já usados para entender a concorrência e nortear a estratégia empresarial. (PORTER; KRAMER, 2006, p.58)

Através de ações voltadas para questões socioambientais são geradas oportunidades de valor compartilhado fortalecendo a competitividade da empresa. A cadeia de valor de uma empresa representa suas atividades relevantes, como contratação de pessoal, marketing e vendas, emissão e descarte de resíduos, e causa impactos sociais tanto positivos quanto negativos. Quando integradas à perspectiva social e ambiental torna-se importante aliada para proporcionar vantagem competitiva. Diversos autores discutiram a responsabilidade social das empresas sob o ponto de vista de oportunidade de geração de valor. Qualquer investimento incorre em riscos, e as ações sociais quando mal direcionadas podem impactar negativamente

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7 comunidades, meio ambiente e até mesmo a imagem da empresa. A questão é: os empresários não precisam resolver todos os problemas sociais, mas sim, concentrarem-se naqueles que tenham relevante interseção com suas atividades produtivas. Para ajudar nessa busca de oportunidades de geração de valores, Porter; Kramer (2006) definem três categorias de questões sociais, como mostra o quadro 1:

Questões Sociais Genéricas Impactos Sociais da Cadeia de Valor

Dimensões Sociais do Contexto Competitivo

Apesar de serem importantes para a sociedade, não são

significativamente afetadas

pelas operações da empresa

nem influenciam sua

competitividade no longo prazo

São aspectos sociais afetados de maneira relevante pelas atividades da empresa no curso normal de suas operações

São fatores do ambiente externo que afetam consideravelmente a

competitividade da empresa

onde quer que ela opere

Quadro 1 – Como Priorizar Questões Sociais (adaptado pela autora)

Fonte: (PORTER; KRAMER, 2006)

Segundo os autores, antes de tomar decisões a respeito de quais práticas de gestão adotar, as empresas deverão dividir as questões sociais nestas três categorias de modo a confrontá-las às divisões de negócios e principais locais de operação, para assim classificá-las pelo potencial impacto. Dessa forma, a questão social que deverá ser priorizada dependerá da divisão de negócios da empresa e da localidade. Isto faz reportar à premissa de que os atuais gestores devem pensar globalmente e agir localmente.

Outro aspecto importante a ser colocado, diz respeito à diversidade de impactos que uma mesma questão social pode causar em um mesmo setor, em empresas distintas devido a diferenças no posicionamento competitivo.

A pandemia de AIDS na África pode ser uma questão social genérica para um varejista americano como a Home Dupot, um impacto da cadeia de valor para uma farmacêutica como a GlaxoSmithKline e uma questão de contexto competitivo para uma mineradora como a Anglo American, que depende da mão de obra africana para operar. PORTER; KRAMER (2006: 59)

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8 Estes mesmos autores apresentaram um modelo capaz de identificar as conseqüências sociais das ações que as empresas empreendem quando práticas de valores éticos-morais tornam-se a meta no contexto competitivo em que elas atuam. Esse enfoque estratégico da responsabilidade social empresarial é eficaz, na medida em que minimiza ações descontinuadas, projetos fracassados e o descrédito das comunidades envolvidas. O modelo de geração de valor através da responsabilidade social empresarial estratégica proposto por eles encontra-se no quadro 2, a seguir:

MODELO DE GERAÇÃO DE VALOR COMPARTILHADO ATRAVÉS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL ESTRATÉGICA

IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS DE INTERSEÇÃO ENTRE A EMPRESA E A SOCIEDADE

DEFINIÇÃO DAS QUESTÕES SOCIAIS A ABORDAR

CRIAÇÃO DE UMA PAUTA SOCIAL EMPRESARIAL (CATEGORIZANDO E CLASSIFICANDO QUESTÕES SOCIAIS)

INTEGRAÇÃO DE PRÁTICAS DE DENTRO PARA FORA E DE FORA PARA DENTRO

INTRODUÇÃO DE INOVAÇÕES NA CADEIA DE VALOR DE FORMA INTEGRADA À ABORDAGEM DOS ENTRAVES SOCIAIS À

COMPETITIVIDADE A FIM DE GERAR VALOR ECONÔMICO E SOCIAL

INCLUSÃO DE UMA DIMENSÃO SOCIAL NA PROPOSTA DE VALOR

Quadro 2 - Modelo de Geração de Valor Compartilhado através da RSE Estratégica

(adaptado pela autora)

Fonte: (PORTER; KRAMER, 2006)

Além de gerar valor econômico e social através de práticas de responsabilidade social engajando construtivamente os diversos grupos de interesse em suas estratégias de negócios,

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9 as empresas devem incluir em sua gestão, estratégias que incrementem a sustentabilidade corporativa. Neste caso, as organizações podem gerar valor sendo mais transparentes e éticas, sem descuidar das boas práticas de governança corporativa, conquistando a confiança de seus

shareholders, isto é, aqueles que detém o capital – os sócios e acionistas. Uma empresa

sustentável pode contribuir para o desenvolvimento sustentável global ao gerar, simultaneamente, benefícios econômicos, sociais e ambientais – conhecidos como os três pilares do desenvolvimento sustentável. (ELKINGTON, 1994, apud HART; MILSTEIN, 2004, p. 66).

2.2.1 FERRAMENTAS DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Ações socioambientais transformadas em estratégia empresarial têm demonstrado gerar valor compartilhado entre empresas e sociedade, fortalecendo, assim sua vantagem competitividade nos mais diversos mercados. As empresas têm demonstrado um forte interesse por algumas normas e indicadores que facilitam o manejo mais sustentável de suas atividades econômicas. Entre as principais boas práticas de gestão utilizadas atualmente pelas organizações está a

ISO 14000, que se configura como um conjunto de normas que definem parâmetros e

diretrizes para a gestão ambiental em empresas privadas e públicas. Estas normas foram elaboradas pela ISO, que é uma organização internacional para padronização de normas. Através da conformidade de suas atividades com ISO 14001, as empresas adquirem a certificação de seu sistema de gerenciamento ambiental (SGA). Ela propõe como base do sistema de gestão o modelo PDCA (plan, do, check, act, ou planejar, fazer, verificar e agir), a fim de facilitar o sistema de integração com os sistemas já existentes. A certificação é baseada na ISO 14001, porque esta é a única da família ISO 14000 que permite ter um certificado. (VALLE, 2002)

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10 Fig 1. Modelo de Sistema de Gestão Ambiental para a Norma 14001

Fonte: Manual de Indicadores Ambientais – FIRJAN/ RJ: DIM/GTM, 2008

A ISO 26000 está prevista para ser publicada em 2010, e servirá como padrão internacional para a implementação de um sistema de gestão sócio-ambientalmente responsável, para todas as organizações que aderirem a ela voluntariamente. Segundo Ursini e Sekiguchi (2005), a norma não tem caráter de certificação e nem pretende entrar em conflito com os documentos, tratados e convenções internacionais já existentes. Nem tão pouco, pretende reduzir a autoridade governamental de cada país. Composta por diretrizes, a ISO 26000 não certificará as organizações que a buscarem. Também, não conterá caráter de sistema de gestão, ao contrário da ISO 14000 e ISO 9000 que, por sua vez, são compostas por requisitos. Entretanto, segundo sua minuta2 a ISO 26000 pretende ser uma norma de desempenho, sem apresentar a estrutura da metodologia PDCA, mas enfatiza a importância dos resultados, fornecendo orientação sobre:

a) conceitos, termos e definições relacionados com responsabilidade social;

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11 b) o contexto, as tendências e as características de responsabilidade social;

c) princípios e práticas relativas à responsabilidade social;

d) assuntos e questões essenciais relacionados à responsabilidade social

e) integração, implementação e promoção de comportamento socialmente responsável dêem toda a organização e sua esfera de influência;

f) identificação e engajamento com stakeholders;

g) comunicação de compromissos e desempenho relativos à responsabilidade social; e portanto a contribuição ao desenvolvimento sustentável.

A norma NBR 16001 foi elaborada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), representante oficial da ISO no Brasil. Ela estabelece requisitos mínimos para a implementação de um sistema de gestão baseado em responsabilidade social, permitindo que a organização formule e implemente “uma política e objetivos que levem em conta as exigências legais, seus compromissos éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável, além da transparência das suas atividades.” (URSINI,

SEKIGUCHI, 2005, p.12). Esta norma propõe a certificação das organizações, orientando-as a

promoverem a cidadania, o desenvolvimento sustentável e a tornarem transparentes suas atividades. Um dos seus fundamentos é o tríplice resultado da sustentabilidade – resultados em âmbito econômico, ambiental e social, que seria adquirido a partir da definição da política de responsabilidade social, do planejamento voltado para as boas práticas de governança, combate à fraude e corrupção, promoção da saúde e segurança e padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção, distribuição e consumo e proteção ao meio ambiente, entre outros requisitos. A implementação, operação, controle, medição, análise e melhoria, enfim, toda a sua metodologia segue o modelo PDCA da ISO 14001.

Outra norma muito difundida entre as organizações é a AA 1000. Criada no Reino Unido, a série de normas AA 1000, também permite a certificação das empresas. Foi publicada inicialmente em 1999 pela ONG ISEA (Institute of Social and Ethical Accountability), em Londres, e é reconhecida como o primeiro padrão internacional de gestão da responsabilidade

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12 social empresarial, por definir melhorias das práticas relativas à prestação de contas3. A partir de sua emissão, ela vem se repaginando, incorporando e estimulando o engajamento de

stakeholders, promovendo a sustentabilidade empresarial. Culmina, assim, por se transformar

numa ferramenta de diálogo que possibilita uma credibilidade maior no momento de prestar contas, pois assegura a qualidade da contabilidade, da auditoria e de relatórios de informações de caráter social ético, ambiental e financeiro de qualquer tipo de organização. Ela tem caráter certificador estabelecendo diretrizes para a confecção e construção de relatórios para prestação de contas, visando à qualidade da contabilidade, relato social ético e auditoria. (LIMA, 2007)

A Social Accountability Standard 8000 ou SA 8000 é uma norma voltada para a melhoria das condições de trabalho, seguindo o modelo da norma ISO 9001. Foi emitida em 1997 pela

Social Accountability International (SAI) e abrange os principais direitos trabalhistas. É uma

norma certificadora que visa principalmente garantir a sustentabilidade das organizações, visto que, diminui as chances de aumentar seus passivos trabalhistas. Segundo Oliveira (2003), ela reúne diversos códigos de conduta e define regras mais claras para os direitos dos empregados. Baseia-se nos preceitos da OIT - Organização Internacional do Trabalho:

1. proibição de trabalho infantil, 2. proibição de trabalho forçado, 3. proibição de práticas disciplinares, 4. não-discriminação,

5. salários e benefícios,

6. remuneração de horas trabalhadas, 7. saúde e segurança

8. liberdade para associações e negociações coletivas 9. e sistema de gestão

Através dessa norma, a empresa certifica ao mercado e à sociedade q os produtos estão sendo disponibilizados de forma humana e ética. A Legislação Trabalhista brasileira (CLT)

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13 consolida todos os direitos propostos nessa norma. Nessa mesma linha de foco no público interno, surgiu o OHSAS 18001, cuja sigla significa Occupational Health and Safety

Assessment Series. Ela entrou em vigor em 1999 e faz parte de uma série de normas certificadoras comprometidas com a qualidade de vida dos colaboradores da empresa. Aqui, a ênfase é no Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho, permitindo potencializar a eficácia das operações internas e melhorar a qualidade do ambiente de trabalho, determinando uma redução de acidentes, riscos e períodos de paragem. Entre os benefícios promovidos pela

introdução da norma na empresa está a minimização dos riscos de sanções e de ações judiciais, minimizando a ocorrência de passivos trabalhistas, bem como de passivos ambientais.

A GRI – Global Reporting Iniciative4, trabalha com o desenvolvimento e padronização de

relatórios sobre aspectos da sustentabilidade econômica, ambiental e social. Com o foco diferenciado em relação à AA 1000, a GRI é um dos modelos de prestação de contas em ações sócio-ambientais mais completos que existe reunindo em seu corpo uma série de indicadores com ênfase em quantificação. É amplamente difundido entre multinacionais, tendo apoio das Nações Unidas. Atualmente é o principal padrão mundial para a mensuração, monitoramento e divulgação dos programas de sustentabilidade das empresas pois pode-se realizar comparações e análises críticas entre empresas, , permitindo, assim, a comparação da atuação da mesma com o mercado.

Os Códigos de Conduta são definidos como princípios comportamentais que permitem às organizações definirem e seguirem padrões éticos de conduta. São, de modo geral voluntários e baseados em autodeclarações. Um dos exemplos mais notórios de código de conduta é o Global Compact5 ou Pacto Global, voltado para questões relativas aos direitos humanos, condições de trabalho e meio ambiente. O código teve origem no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 31 de janeiro 1999. Na ocasião, o Secretário Geral das Nações Unidas lançou de desafio aos líderes mundiais de negócios para a criação do código, o qual acabou sendo

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Disponível em http://www.globalreporting.org/Home

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14 lançado em junho de 2000, com o apoio de vários governos, inclusive do Brasil, e abrangendo 9 grandes princípios.

Além desses guias para inserção de requisitos de responsabilidade socioambiental, não se pode deixar de citar as ferramentas de gestão empresarial desenvolvidas pelo Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social – ETHOS6. Trata-se de ferramentas de autodiagnose cuja principal finalidade é auxiliar as empresas no gerenciamento de impactos sociais e ambientais decorrentes de suas atividades. As empresas preenchem um questionário cujos temas são organizados da seguinte forma:

 Valores, Transparência e Governança;  Público interno;  Meio ambiente;  Fornecedores;  Consumidores e clientes;  Comunidade, e  Governo e sociedade.

Cada tema pretende diagnosticar o desempenho da empresa, de forma que ela possa melhorar continuamente sua relação com cada um dos temas propostos.

2.2.2 PARCERIAS: IMPORTANTE FERRAMENTA DE GESTÃO PARA

O EMPRESARIADO

A gestão baseada na responsabilidade socioambiental corporativa incorpora outros ferramentais sob formas de ação integradas, como as parcerias com o terceiro setor e com o setor público.

A prática da parceria se dá prioritariamente com instituições de maior legitimidade, não só pelo aspecto técnico mas também pelo político. Se a associação convém a ambos, as razões da conveniência são distintas. Um empresta a legitimidade ou o suporte institucional; o outro, os recursos e, na maioria dos casos, uma certa racionalidade

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15 para “solucionar” as questões da intervenção. Essa troca de “competências” não é livre de tensões e ambigüidades, já que não se trata necessariamente de uma convergência de projetos ou visões sobre o social, ou seja, cada qual pode participar da parceria com interesses e visões próprios. (GARCIA, 2004, p.22)

As parcerias são boas opções para empresas que não querem tirar o foco dos seus negócios, mas querem se engajar no “novo” ambiente empresarial. As parcerias acontecem entre representantes do terceiro setor, empresas privadas e a Administração Pública. Quando estas últimas estão envolvidas, recebem o respaldo da Lei n.º 11.0797 de 2004 que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Tal lei, passou a regular as parcerias público privadas, conhecidas como PPPs, e a garantir a viabilização dos projetos e transparência no trato com a coisa pública.

Entende-se como parceria público-privada um contrato de prestação de serviços de médio e longo prazo (de 5 a 35 anos) firmado pela Administração Pública, cujo valor não seja inferior a vinte milhões de reais, sendo vedada a celebração de contratos que tenham por objeto único o fornecimento de mão-de-obra, equipamentos ou execução de obra pública. Na PPP, a implantação da infra-estrutura necessária para a prestação do serviço contratado pela Administração dependerá de iniciativas de financiamento do setor privado e a remuneração do particular será fixada com base em padrões de performance e será devida somente quando o serviço estiver à disposição do Estado ou dos usuários. (BRASIL, MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2009)

Além das PPPs, outras formas de parcerias são estabelecidas entre os setores da sociedade, formando uma grande rede de relacionamentos em prol da responsabilidade socioambiental, como voluntariado, contratos de concessão de marcas e franquias sociais

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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16 A revisão da literatura sobre o conhecimento acerca do tema responsabilidade socioambiental corporativa, referenciada através da perspectiva de geração de valor compartilhado entre mercado, governo e sociedade demonstra o surgimento de um novo tipo de relacionamento que busca a harmonia de interesses, entre os três pilares da sociedade moderna: governo empresas e sociedade. As organizações vêm introduzindo as melhores práticas de gestão como forma de alinhar seus interesses estratégicos às particularidades socioambientais locais. Ações voltadas para mitigar os impactos gerados por suas atividades possibilitam oportunidades de compartilhar valores, fortalecendo a competitividade da empresa. Desde as normas certificadoras às parcerias com organizações governamentais, ou não, existe um rol de práticas apropriadas para todo tipo de empresa. Uma empresa-cidadã, fortalece seus vínculos com a sociedade e com todos por ela impactados. A partir daí, compartilha-se e dissemina-se valor pela rede estabelecida.

Os interesses ainda divergem, mas o convite para que todos possam tomar suas posições diante da injustiça ambiental e social está sendo gradativamente aceito, mesmo que o todo não seja a soma das partes.

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Referências

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