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GLOBALIZAÇÃO - IMPACTO NA PRODUÇÃO DE FRANGOS NO BRASIL

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Academic year: 2021

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GLOBALIZAÇÃO - IMPACTO NA PRODUÇÃO DE

FRANGOS NO BRASIL

Antônio Mário Penz Junior

Eng. Agro, Professor Titular do

Departamento de Zootecnia, da Faculdade de Agronomia, UFRGS, Porto Alegre, RS

1

Introdução

Esta palestra tem por objetivo mostrar o que a globalização tem feito para a produção de frangos de corte no Brasil e quais as perspectivas dos países na produção de aves no futuro.

O que significa globalização? Trata-se de um assunto político, sociológico ou tecnológico? Na verdade, é difícil separar as diferentes nuances da globalização. Entretanto, em qualquer país ela veio para mudar as perspectivas de progresso e de futuro.

Dez anos atrás, quando os processos internacionais de comunicação tornaram-se mais efetivos e houve o final da guerra fria, a globalização chegou como um caminho adequado para fazer os países mais próximos e menos distantes entre si. As perspectivas foram desenvolvidas, sugerindo que a globalização promoveria indivíduos e países, unificando cultura, ciência, negócios e responsabilidades, onde todos poderiam colaborar em busca de um mundo melhor.

Todos os textos escritos sobre o assunto dizem que as vantagens da globalização são:

- Reduz diferenças culturais;

- Faz com que os padrões de consumo tornam-se mais parecidos: - Aumenta a escala de produção;

- Aumenta a competição;

- Reduz os custos de produção; - Aumenta a qualidade dos produtos; - Estimula o desenvolvimento tecnológico.

Entretanto, as desvantagens esperadas são: - As mega organizações tornam-se maiores; - Aumenta a concentração de capital;

- Setores econômicos importantes dependerão mais de mega companhias; - Reduz o controle da economia pelo governo;

- A mobilidade do capital faz os países mais vulneráveis; - Reduz as oportunidades para a mão-de-obra desqualificada.

Avaliando as vantagens e as desvantagens da globalização, é possível concluir que a parte privilegiada das relações internacionais está indo para os países melhor preparados e a parte menos privilegiada para os demais países. O mundo está

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observando que os países pobres estão perdendo, com a depreciação de seus produtos, uma vez que suas tecnologias não estão suficientemente atualizadas para serem competitivas. Os países ricos, com o poder econômico, estão subsidiando seus produtos e a área agrícola é a mais protegida. Além disto, os países ricos, para manter o padrão de vida de seus cidadãos, forçam relações comerciais internacionais, subsidiando seus produtos e sobre taxando os produtos importados. Nesta situação desequilibrada, países pobres, que não têm poder político e econômico, não têm como subsidiar suas produções e lutam por espaço no mercado internacional de forma desqualificada, ficando, como conseqüência, menos competitivos.

Assim, se o principal objetivo da globalização estava relacionado com a redução das diferenças sociais e econômicas entre os países, os primeiros anos desta nova estrutura global não mostrou isto. Os países pobres ficaram mais pobres. Entretanto, é importante lembrar que, sob o ponto de vista sociológico, a concentração de indivíduos pobres será, no futuro, um fantástico desafio para a humanidade. A população crescerá em alta velocidade e, em 2050, poderemos ser mais de nove bilhões de pessoas e, ao redor de 75% da população estará concentrada nos países em desenvolvimento. Então, se os indivíduos não tiverem um mínimo para sobreviver, eles migrarão para onde for possível. Na verdade, estas ondas de migração já estão ocorrendo e elas serão mais ativas e envolvendo mais pessoas daqui para frente.

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Negócios internacionais

Para disponibilizar uma maior oportunidade de negócios internacionais, os países estão se unindo em blocos econômicos. Certamente, até o presente momento, a organização mais eficiente entre países é o Mercado Comum Europeu. Mesmo com algumas dificuldades econômicas e culturais entre os países membros, a organização tem tido poder suficiente para manter ativas as relações entre eles. Entretanto, esta situação poderá tornar-se menos eficiente com a entrada de outros países europeus menos privilegiados. A economia dos outros países é menos consistente do que a economia dos doze principais países europeus. Certamente, o Mercado Comum Europeu encontrará dificuldades até agora não experimentadas. Nas Américas, a primeira organização de comércio entre os países foi a NAFTA (North American Free Trade Agreement), entre Canadá, EUA e México. Agora, os EUA estão propondo o FTAA (Free Trade Area of the Americas, em português chamado de ALCA - Área de Livre Comércio das Américas), para unir as Américas. Porém, ao mesmo tempo em que os EUA apresentam esta proposta de fazer as Américas mais eficientes, o congresso americano acaba de aprovar o Farm Bill 2002, que prevê subsídios aos agricultores americanos na ordem de 168 bilhões de dólares nos próximos 10 anos. Assim, como os países em desenvolvimento nas Américas competirão com os EUA, com todo este subsídio? Portanto, a FTAA (ALCA) tem seu início com problemas. Os norte americanos têm menos da metade da população das Américas mas têm aproximadamente 90% do seu produto interno bruto. Esta situação econômica é muito poderosa e só funcionará se os países mais desenvolvidos colaborarem com os demais países, não os transformando em clientes preferenciais de suas produções e de seus excedentes.

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Assim, na maioria das vezes estas poderosas organizações de comércio estão estruturadas para auto protegerem-se, livrando os países membros do mercado livre internacional. Na agricultura isto é extremamente aparente. Em qualquer momento em que um país torna-se mais eficiente na área agrícola e seu poder econômico não é efetivo, sua produção é sobre taxada para tornar a venda de seus produtos mais complicada. Esta é a situação em que o Brasil se encontra neste momento na área da avicultura e da suinocultura, entre outras áreas.

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Onde a produção animal ocorrerá no futuro?

Isto dependerá das regras internacionais. A competência natural será considerada ou a pressão econômica será mais eficiente? O mundo terá que desafiar este tema. Em qualquer momento em que a produção animal for desenvolvida onde o custo de produção for mais elevado, a população pagará mais pela alimentação e os proprietários rurais precisarão de mais recursos econômicos para subsidiar suas produções.

Na realidade, o que é importante para o Brasil é que, no futuro, está previsto o aumento do consumo das carnes de suíno, de aves e de bovinos. Assim, pouco importa onde a produção animal ocorrerá. O certo é que o consumo aumentará, forçando um aumento da produção animal. Se os assuntos pertinentes forem discutidos, a produção de proteína animal será implementada em países onde o custo de produção for o mais barato.

3.1

A produção animal ocorrerá em países com clima conveniente

Países com amplitudes térmicas menores terão vantagens sobre os demais. Seus custos de produção serão menores, pois não precisarão de estruturas e equipamentos sofisticados. O custo de energia, que aumenta a cada ano, será mais barato, necessitando os animais de menos energia externa para mantê-los em ambiente econômico para que suas atividades produtivas atinjam os patamares esperados. Esta é uma característica do Brasil que sempre o favorecerá nesta área de produção.

Disponibilidade de água será o aspecto mais importante para a sobrevivência das populações no futuro. Não será possível a produção econômica da agricultura e da pecuária onde a água for limitante. É possível minimizar o problema transportando a água dentro do país ou a trazendo de fora? Claro que é possível. Entretanto, o custo de produção nestas áreas tornar-se-á menos competitivo do que em países onde esta limitação não existe. Existem regiões áridas no planeta que são eficientes na produção, mesmo com a falta de água. Entretanto, o custo de produção é maior e menos competitivo. Neste aspecto, de novo o Brasil se destaca como o país com maior abundância de água potável no mundo.

3.2

A produção animal ocorrerá em países com áreas agrícolas

favoráveis

O aspecto mais importante neste caso é a disponibilidade de terra com baixo custo. A produção animal, em áreas caras, torna-se impossível. O custo da produção,

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afetado pelo custo da terra, tem um limite em que a população pode pagar por ele. Mais do que isto, nestes casos a única maneira de manter a produção é subsidiando os produtores, o que faz com que a alimentação fique ainda mais cara.

Com relação ao espaço físico, Rússia, EUA, China, Canadá e Brasil são os que têm a maior área. Entretanto os países que estão afastados do equador, como Canadá, Rússia e China, mesmo com grande área geográfica, sempre terão mais dificuldades para desenvolver suas atividades agrícolas e pecuárias, tendo em vista os climas agressivos de inverno. Isto sempre fará com que seus custos de produção sejam elevados. Neste aspecto, Brasil e Argentina são países que têm maior potencial, quando comparados com qualquer outro, uma vez que suas áreas são agricultáveis e seus climas são favoráveis para produção agrícola e animal durante todo o ano. Usando a Inglaterra como comparação, país que tem sido um cliente dos frangos produzidos pelo Brasil e que tem apresentado as maiores exigências de compra de nossos produtos, é possível ver como o seu espaço físico será cada vez mais complicado no futuro. Sua população, de 60 milhões de habitantes, e área geográfica, de 245 mil quilômetros quadrados, faz com que a população por quilometro quadrado seja de 245:1. Os demais países da Comunidade Européia e também o Japão, importantes clientes dos produtos agrícolas brasileiros, apresentam uma situação similar àquela da Inglaterra. Neste caso, usando o Brasil como comparação, nossa população por quilometro quadrado é de somente 20:1. Assim, no presente e, certamente no futuro, nosso país, sendo sub povoado, tendo área agricultável e para a produção animal em extensão e qualidade incomparáveis, tem a estrutura física e populacional indispensável para produzir alimento economicamente viável para o mundo. Na Tabela 1 é possível verificar que a Inglaterra não tem mais área para expandir a sua agricultura e a sua pecuária. A distribuição das áreas do país está estabilizada. No caso dos EUA, parte do perfil geográfico ainda pode mudar, mas não muito. Já no Brasil temos uma tremenda oportunidade para mudar. Somente estamos usando 5% de nossa área geográfica como área agrícola e 58%, de todo o nosso território, é considerado área de florestas. Claro que nesta área está incluído o serrado do Centro-Oeste, o que nos favorece pois a área é fértil e sua transformação em área agrícola não descaracterizará as florestas clássicas, como está classificada a floresta amazônica. Se compararmos com a Inglaterra, cada expansão agrícola de 3% no Brasil representará toda a área geográfica daquele país (www.countries.com, 2002).

Tabela 1 — Uso da terra em diferentes países (%) Ítens EUA Brasil Inglaterra

Área arável 19 5 25 Cultura permanente 0 1 0 Pastagem permanente 25 22 46 Floresta 30 58 10 Outros 26 14 19 Adaptado de www.countries.com, 2002.

Outro aspecto importante a ser considerado é a consciência do uso adequado da terra. A alteração indevida do perfil de uso da terra no mundo tem trazido problemas sérios e muitos deles irreparáveis. De acordo com Roppa (2002), 29% da América do

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Norte, 29% da Europa, 31% da América do Sul, 45% da Ásia, 65% da África e 75% da Oceania são áreas de deserto ou em processo de desertificação. Assim, no futuro, qualquer uso inadequado da terra fará com que esta situação fique pior do que está neste momento.

Países com áreas agrícolas férteis e com tecnologia poderão produzir grãos para a produção animal. No momento, os principais produtores de milho e soja são EUA, China, Brasil e Argentina. Os três primeiros usam aproximadamente a mesma área agrícola e os EUA é o que apresenta a maior produtividade (USDA, 2002). O Brasil vem trabalhando intensamente na produtividade de suas lavouras. Nos últimos 10 anos nossa fronteira agrícola não aumentou (38-39 milhões de hectares) mas a produtividade duplicou (CONAB, 2002). Este aumento de produtividade favoreceu significantemente a nossa produção animal, uma vez que na maioria dos anos fomos auto suficientes em milho e já por muitos anos somos auto suficientes em soja. Isto é um aspecto importante para o custo da produção animal em nosso país. Produção animal barata só ocorrerá onde os grãos estiverem disponíveis e com preços razoáveis.

3.3

A produção animal ocorrerá em países com favoráveis

recur-sos humanos

A Tabela 2 mostra alguns dados demográficos, importantes para o entendimento dos recursos humanos de um país. Os dados são suficientemente claros para demonstrar quando um país é desenvolvido ou não. Um país que tem uma mortalidade infantil de 37 crianças/1000 pessoas e uma expectativa de vida de 63,2 anos não pode ser considerado desenvolvido. Este é o caso do nosso Brasil. Entretanto, sob o ponto de vista da produção agrícola, é importante entender o perfil populacional de um país. EUA e Inglaterra têm aproximadamente 2% de sua população vivendo nas áreas rurais. Já, no Brasil ainda temos 23% da população como sendo rural. Assim, se a atividade agrícola e a de produção animal continuarem economicamente viáveis em nosso país, esta população não migrará para as cidades, evitando o aumento dos bolsões de miséria. Esta população permanecerá no campo, exercitando aquilo que tem o dom e a competência de fazer, que é usar devidamente a terra e produzir os animais com eficiência. Assim, sob o ponto de vista social, em países em desenvolvimento, qualquer procedimento que evite a migração da população rural para as cidades significa e significará melhor padrão de vida para todos os cidadãos, uma vez que os migrantes, na maioria das vezes, não estão tecnologicamente preparados para enfrentar os desafios das cidades.

3.4

A produção animal ocorrerá em países que produzirão

alimen-to com qualidade e segurança e com menor cusalimen-to

Este cenário faz países, como a Inglaterra e todos os demais países da Comunidade Européia, mais vulneráveis a diminuição da eficiência das áreas agrícola e pecuária. A disponibilidade de terra agricultável está ficando proporcionalmente menor, o custo da terra está ficando mais elevado e a força humana rural está reduzindo. Estes aspectos têm forçado um aumento nos custos de produção. Com

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um custo de produção mais elevado, a única maneira de compensá-lo é reduzindo a produção ou a subsidiando.

Tabela 2 — Dados populacionais de diferentes países

Itens EUA Brasil Inglaterra

População milhões 280 175 60

Taxa de crescimento % 0,90 0,91 0,23 Mortalidade infantil /1000 6,8 37,0 5,5 Imigração externa /1000 3,50 -0,03 1,07 Expectativa de vida anos 77,3 63,2 77,8

Adaptado de www.countries.com, 2002.

Outro tema que tem preocupado os produtores europeus é a avaliação feita pelos consumidores sobre a qualidade das carnes produzidas por eles. Os consumidores identificaram problemas como a Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), como a aftosa, e como a contaminação dos alimentos com dioxina. Isto tem contribuído para reduzir o poder do setor agropecuário naqueles países. A sociedade passou a ficar preocupada com o que os meios de comunicação começaram a divulgar e passaram a forçar os políticos para que implementassem leis de proteção à saúde pública, forçando a produção de “animais mais naturais”. Estes procedimentos não estão discutidos suficientemente mas a pressão está posta e a sociedade quer uma ação política para resolver o problema da qualidade dos alimentos, em especial, de origem animal. Estes acontecimentos têm forçado um aumento nos preços e tirado do mercado muitos produtores que não estão preparados para este novo desafio - produzir alimento seguro. Com exemplo, é possível citar o caso da redução da população de suínos na Inglaterra, onde o número de reprodutoras passou de 800 mil para menos de 600 mil, de 1981 para 2002 (www.defra.gov.uk, 2002). As mesmas discussões fizeram com que a população de suínos na Europa permanecesse a mesma nos últimos 10 anos, onde na China aumentou em 26%, na América Latina em 21% e nos EUA em 10%. O aumento da população mundial de suínos neste período foi de 8,5% (Roppa, 2002). Também, reforçando estes dados, a FAO (2002) mostrou que a população de suínos está crescendo em países em desenvolvimento. Em países desenvolvidos a produção tem permanecido estável. Isto faz sentido. Os países desenvolvidos estão lutando contra a poluição ambiental muito mais do que os países em desenvolvimento. Assim, se os países desenvolvidos produzirem menos e os cidadãos continuarem consumindo a mesma quantidade de suíno, a carne deverá vir do mercado internacional para atender as necessidades locais. O mesmo cenário pode ser descrito para a produção de carne bovinos de aves (www.defra.gov.uk, 2002). Todas estas características dos países (espaço para agricultura e pecuária, produção de grãos, recursos humanos e garantias de segurança na qualidade da produção de alimentos) estão forçando o aumento do custo de produção dos alimentos. Roppa (2002) mostrou que o menor custo de produção de suínos está no Brasil e representa 50 centavos de dólar por quilo de animal vivo. Na Europa o custo é maior do que um dólar. Na Inglaterra, o preço é bastante similar ao preço praticado em toda a Europa. Nos últimos seis anos variou entre um dólar e 1,70 dólares por quilo vivo (www.defra.gov.uk, 2002). Peter van Horne (2002) mostrou que na área avícola a

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situação é bastante parecida. O custo do quilo de frango vivo foi por ele estimado em 58 centavos de euro e na Inglaterra este custo foi de 1,05 euros. Nos EUA o custo de produção de suínos é de 70 centavos de euro e o custo de frangos de 62 centavos de euro (Tabela 3).

Tabela 3 — Custo de produção de frango em diferentes países (centavos de euro)

Países Centavos de euro/kg

Holanda 98 França 99 Inglaterra 105 Alemanha 98 EUA 62 Brasil 58

Adaptado de Peter van Home, 2002.

O mesmo autor (Peter van Horne, 2002) sugeriu que além dos elevados custos de produção agrícola, o custo da mão-de-obra é fundamental para o custo final do produto (Tabela 4).

Tabela 4 — Custo da mão-de-obra em diferentes países

Países Euros/mês

Mercado Comum Europeu 1.700

Leste Europeu 242

Argentina 900

Tailândia 120

EUA 1.500

Brasil 400

Adaptado de Peter van Home, 2002.

4

Como alguns países sobreviverão neste mundo

competitivo?

4.1

Curto prazo

A primeira reação internacional contra a importação de produtos de origem animal sempre é encontrar qualquer tipo de barreira possível. Entretanto, esta atitude passa a ser um grande erro para a viabilização do conceito que garante a globalização pois ela prevê que países competentes têm que ter os mercados internacionais abertos para colocar seus produtos. Normalmente, estas barreiras são sanitárias

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e/ou tarifárias. As barreiras sanitárias são muito complicadas pois a responsabilidade da prova deve vir do país exportador, que normalmente é acusado. O Brasil teve uma difícil experiência no ano de 2001, quando o governo canadense afirmou que tínhamos BSE na população bovina. O trabalho feito internamente para revogar esta posição do Canadá levou mais de três meses e, durante todo aquele tempo, as exportações de carne do Brasil para o Canadá praticamente não aconteceram. Após provar o “equívoco” canadense, o Brasil voltou a exportar para aquele país, porém, com tremendas e irremediáveis perdas para os produtores brasileiros.

O melhor exemplo de barreira tarifária é aquela que a União Européia está impondo para a importação de filé de peito de frangos. No final dos anos noventa, a maioria do filé importado era natural, com taxas de importação mais elevadas do que aquelas para filé de peito salgado. Os importadores identificaram esta oportunidade e passaram a importar filé de peito salgado, com taxas alfandegárias mais baixas. A diferença entre as tarifas chegou a ser de 3 para 1. Na metade do ano passado os governos europeus aumentaram as tarifas de importação de filé de peito salgado, para dificultar o processo de internalização, pelo custo do produto importado. Os valores de volume importado e das tarifas impostas estão apresentados nas Tabelas 5 e 6.

Tabela 5 — Quantidade de filé de peito de frango impor-tado (toneladas)

Ano 1998 1999 2000 2001

Filé salgado 12.000 34.000 108.000 235.000 Filé natural 85.000 81.000 74.000 85.000 Total 97.000 115.000 182.000 320.000

Adaptado de Peter van Horne, 2002.

Tabela 6 — Preços e diferenças de tarifas de exportação entre filé de peito de frango natural ou salgado

Preço (euro/kg) Tarifa no salgado Tarifa no natural Diferença por kg

3,10 0,48 1,02 0,54

2,43 0,37 1,20 0,83

2,10 0,32 1,30 0,98

Adaptado de Peter van Horne, 2002.

Além das barreiras descritas, outro mecanismo empregado, e muito caro para evitar a importação é o subsídio da produção. Como exemplo, na Tabela 7 está apresentado o quando o governo inglês vem subsidiando a produção agrícola naquele país e também fica claro que este subsídio vem aumentando a cada ano, mesmo que as discussões internacionais têm sugerido a redução dos subsídios. Na Tabela 7 pode ser visto que em 10 anos os subsídios aumentaram de 2 a 13 vezes, dependendo da área de produção.

Se os subsídios mantivessem os retornos econômicos dos agricultores ingleses, alguém poderia defender que o procedimento seria estratégico e serviria para defender uma parte a população, no caso a rural, que na Inglaterra é de 2%. Esta produção seria subsidiada para garantir uma produção de alimentos segura

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e saudável. Entretanto, como pode ser visto na Tabela 8, mesmo com todos os subsídios, os agricultores tiveram seus retornos econômicos tremendamente reduzidos nos últimos sete anos.

Tabela 7 — Subsídios pagos pelo governo inglês aos produtores rurais (milhões de libras)

Áreas 1990-1992 2000 2001

Total 607 2411 2457

Agricultura 63 943 830

Produção Animal 697 1251 1113

Programas de proteção ambiental 17 156 220

Adaptado de www.defra.gov.uk, 2002

Tabela 8 — Retorno econômico dos produtores rurais da Inglaterra

Áreas 1994-1997 2000-2001 2001-2002

Gado leiteiro 100 30 59

Gado de corte e ovinos 100 34 30

Suínos e aves 100 65 36

Todas as áreas (exceto horticultura) 100 22 29

Adaptado de www.defra.gov.uk, 2002.

Uma vez que a atividade agrícola não está pagando os produtores ingleses, a população animal naquele país, exceto de aves, vem reduzindo (Tabela 9).

Tabela 9 — População animal na Inglaterra (milhares) Espécies 1990-1992 2000 2001 Bovinos 12040 11135 10602 Ovinos 44392 42264 36716 Suínos 7650 6482 5845 Aves 126075 154504 163875 Adaptado de www.defra.gov.uk, 2002.

Mesmo com todos os avanços técnicos e com todas as ações políticas, os produtores ingleses estão perdendo. Entretanto, no final o que importa é saber se todas estas medidas estão fazendo com que os alimentos na Inglaterra tenham seus preços estabilizados ou reduzidos? Porém, não só os preços dos alimentos estão aumentando como a quantidade total de alimento importado está aumentando. Assim, todos os procedimentos empregados não foram e não estão sendo competentes para reduzir os preços dos alimentos e, conseqüentemente, não trouxeram vantagens aos produtores e aos consumidores. Na Inglaterra, como em todos os países desenvolvidos, qualquer aumento de preço dos alimentos não é tratado como um grande problema. A população gasta um percentual relativamente pequeno de seu

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salário em alimentos. Logo, um pouco mais de gasto em alimento, desde que seja de boa qualidade e saudável, pelo critério da população, não é difícil de acomodar. Também isto não significa que a população paga mais sem contestar. Ela aceita pagar mais valorizando a melhoria da qualidade organoléptica e da qualidade sanitária dos alimentos. Entretanto, em países em desenvolvimento, qualquer aumento de preço nos alimentos, vegetal ou animal, reduz a quantidade consumida pela população pois uma parte significativa dela tem seu salário quase que totalmente comprometido no pagamento dos alimentos. Logo, toda a situação que impõe um aumento de custo de um alimento tem como consequência uma redução de consumo daquele alimento. Como um exemplo, somente a restrição do uso de proteína de origem animal em dietas de frangos, imposta por alguns mercados importadores, foi suficiente para aumentar, no Brasil, o custo das dietas dos animais em aproximadamente 7%. As companhias que exportam para a Europa e outros países que fazem esta exigência e não possuem duas ou mais fábricas de rações, foram forçadas a produzir todas as suas dietas sem a presença de proteína de origem animal, mesmo aquelas que são usadas para alimentar os frangos que serão consumidos localmente. Este procedimento não só aumentou o custo do produto de exportação como também do produto oferecido ao mercado interno, tornando as vendas mais difíceis de serem realizadas. Assim, medidas adotadas fora de um país podem influenciar os custos dos produtos no mercado local, comprometendo a sua compra e o seu uso.

4.2

Longo prazo

A partir dos argumentos apresentados acima, fica claro que barreiras tarifárias e subsídios são procedimentos que deverão ser reconsiderados para a manutenção do mercado internacional, base da globalização. Estes artifícios reduzem as possibilidades dos países em desenvolvimento em qualquer atividade de negócio.

Para alterar esta situação, países com custos de produção mais altos precisarão sofisticar seus produtos, dando maior valor aos produtos processados. Estes países serão compradores de produtos não elaborados e desenvolverão produtos baseados nas necessidades dos consumidores locais e em suas referências culturais.

Para os produtores rurais daqueles países, a solução será a de trocar suas atividades de produção animal convencionais para uma produção animal mais sofisticada e própria, com as suas características regionais. Os produtos serão fortemente promovidos na mídia como produtos locais, desenvolvidos de acordo com especificações sugeridas pelos consumidores locais. Estes produtos terão valores agregados maiores do que os produtos similares, importados, e atenderão necessidades específicas da população.

5

Conclusões

A produção animal dependerá das diferentes características de cada país e as mais importantes são o clima, o espaço disponível para a agricultura, o custo da terra e a sua qualidade, os recursos humanos e a tecnologia.

Países com maior custo de produção precisarão explorar nichos específicos para garantir maior valor agregado aos produtos e preferências locais.

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Bibliografia

VAN HORNE. P. 2002. Europe to push for global standards for chicken production? Businnes Cobb Focus.

ROPPA, L. 2002. A suinocultura na América Latina. Proceedings of Congresso Latino Americano de Suinocultura. Foz do Iguaçu. Brazil. 158 pg.

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