• Nenhum resultado encontrado

É preciso dizer que o rei está nu

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "É preciso dizer que o rei está nu"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

É preciso dizer que o rei está nu

Discurso proferido em 23 de julho de 2015, por ocasião dos festejos comemorativos do Dia Nacional do Escritor, na Casa Rosada da Rua Santana, quando, ao tempo que destacava a importância da ação coletiva, a União Brasileira de Escritores (UBE) prestou homenagem aos escritores Ariano Suassuna, no primeiro ano da sua chegada à grande inflexão da vida, e Paulo Cavalcanti, pela passagem do centenário de seu nascimento. Alexandre Santos*

Minhas senhoras e meus senhores,

Declaro aberta oficialmente as comemorações da edição 2015 do Dia Nacional do Escritor

Hoje, como faz anualmente, a UBE comemora a passagem do Dia Nacional do Escritor - data criada pelo presidente Juscelino Kubstchek há 55 anos para marcar a importância dos artistas e cientistas da palavra - pessoas que, usando as letras como instrumento de linguagem, traduzem as coisas do mundo, os sentimentos, as impressões, informações, opiniões, idéias e sonhos em textos prontos para o deleite dos leitores, ampliando, assim, o universo ao alcance de todos.

Nunca é demais lembrar que, através da atividade literária, seja ela em que gênero for, além de constituir polos de divulgação da informação, os escritores são agentes importantes do processo de formação da opinião e da capacidade crítica das pessoas, elementos fundamentais para a escolha de modelos de convivência e de caminhos capazes de levar (ou não) ao bem estar coletivo.

(2)

Por isso, ao lado do 17 de janeiro, data-lembrança da fundação da entidade no longínquo 1958, o Dia Nacional do Escritor constitui data magna para a UBE, sendo comemorada festivamente pela Casa de Paulo Cavalcanti, a organização que abriga artistas e cientistas da palavra e representa todos os escritores do Brasil

Este ano não será diferente.

Hoje, em celebração do dia do artífice da palavra-arte, mesmo sem ter, ainda, conseguido restaurar como queria o imóvel que lhe serve de residência e plataforma, a União Brasileira dos Escritores abre as portas da sua sede e, como de outras vezes, converte a Casa Rosada da Rua Santana em palco de significativas cerimônias, incluindo a entrega de Diplomas a novos associados e homenagens aos ícones Ariano Suassuna, que há um ano alcançou a grande inflexão da vida deixando muitas saudades e um grande vazio entre nós, e Paulo Cavalcanti, que há cem anos chegou para permanecer 80 anos em nosso convívio, cumprindo o destino de liderar movimentos de grande importância e alcance social, como, por exemplo, criar a União Brasileira de Escritores.

Minhas senhoras e meus senhores,

Hoje, em solenidade no âmbito das comemorações do Dia Nacional do Escritor, desdenhando dificuldades e desafiando as forças que insistem

(3)

em negar apoio à cultura literária, a UBE vai, inicialmente, homenagear o inesquecível Ariano Suassuna, dando suporte para a entrega póstuma do Prêmio Nobl - honraria criada pela turma formada em 1966 pela Escola de Engenharia - em solenidade com a participação do escritor Luiz Carlos Nebl e da nossa queridíssima Zélia Suassuna.

No entender da UBE, todas as homenagens prestadas a Ariano Suassuna são insuficientes para corresponder aos seus merecimentos. Nunca é demais lembrar a estreita relação da UBE com Ariano Suassuna - escritor, dramaturgo e artista plástico que, entre muitas outras comendas, ostenta a Ordem do Mérito Literário Jorge de Albuquerque Coelho, a mais elevada condecoração concedida pela União Brasileira de Escritores a um artista da palavra.

Ano passado, todos lembram, em 27 de julho, ao saber da partida do mestre, ao invés de cancelar ou adiar a festa, mesmo triste e impactada pela despedida, a UBE manteve as comemorações do Dia Nacional do Escritor, transformando-as na primeira homenagem Post Mortem a Ariano Suassuna, então referido como uma "estrela presente na constelação dos maiores da literatura mundial".

(4)

Nesta noite, logo em seguida a homenagem à Ariano Suassuna, em cerimônia que se conecta ao iminente lançamento da segunda coletânea 'Quarta às Quatro', a UBE vai festejar a ampliação do seu quadro associativo, com a entrega de Diplomas a novos sócios da entidade.

A articulação destes dois episódios (o lançamento de um livro de autoria coletiva e a admissão de novos sócios) tem grande simbologia, pois, em convite aos artistas da palavra ainda desgarrados da entidade, a União Brasileira de Escritores faz uma clara associação entre um lançamento [de livro] - episódio especialíssimo da cadeia do livro e, em certa medida, ponto de maior realização do artista da palavra - e o ingresso do escritor na agremiação que os representa - gesto que, por si só, indica reconhecimento da importância do 'caminhar junto' e das ações coletivas.

É evidente que o abraçar de causa associativa não é panacéia, mas, seguramente, robustece a capacidade individual do escritor, pois não há força maior do que aquela proporcionada pela solidariedade social. Não é outra a explicação para o sucesso da UBE, uma entidade que mesmo sem receber qualquer apoio oficial, atravessa as décadas com vigor crescente, como bem demonstra o sucesso dos seus inúmeros programas culturais, cujo maior símbolo talvez seja o [programa] Quartas as Quatro (ambiência na qual surgiu o livro sobre o qual nos referimos agora), que, levado adiante sob a batuta do escritor Geraldo Ferraz, já cumpre a 12ª temporada

(5)

anual, sendo o programa de funcionamento continuo mais antigo nas Américas (e que, nessa condição, em certa medida, o torna excelente amostra da literatura nacional).

Finalmente, nesta noite de gala, dando sequência as homenagens iniciadas em 25 de maio próximo passado, quando passou a usar nas suas correspondências o selo comemorativo concebido pelo acadêmico Melchíades Montenegro Filho, a União Brasileira de Escritores, a exemplo do que já fizeram outras entidades igualmente importantes, como a Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco e a Câmara Municipal do Recife, vai festejar o centerário do escritor Paulo Cavalcanti.

Não é sem razão que a União Brasileira de Escritores também é conhecida como 'Casa de Paulo Cavalcanti'.

De fato, os escritores não passaram a chamar a entidade que os representa nacionalmente de 'Casa de Paulo Cavalcanti' apenas por ter sido ele o líder esforço que redundou na criação da UBE. Naturalmente, aquela iniciativa explica parte do sentimento de respeito e de gratidão, mas, na realidade, os merecimentos de Paulo Cavalcanti transcendem a estufa, nascedouro e berço da UBE alcançando a história da entidade, balizando e acompanhando sua trajetória pela história em caminho sempre marcado

(6)

pela democracia, pela participação, por valores republicanos, pela altivez, pela defesa Pátria contra aqueles que querem entregá-la aos perversos, contra a manipulação da palavra, enfim, em busca do bem estar, da paz e da solidariedade entre os povos.

Nascido em Olinda, por tudo o que fez como escritor, homem público e arauto da justiça, além de pernambucano, nordestino e brasileiro, Paulo Cavalcanti se fez cidadão do mundo, orgulhando não apenas Maria Ofélia, Moema, Magnólia e Carlos, mas, também, a todos os escritores brasileiros.

Minhas senhoras e meus senhores,

Neste momento, como vem fazendo em outras oportunidades, a UBE reitera a preocupação dos escritores brasileiros com a abusiva deturpação do vernáculo por manipuladores da palavra que, preocupados apenas em satisfazer seus próprios interesses, não titubeiam em levar o País por caminhos e para destinos que o afastam da justiça e do bem estar social.

Por entender o significado das palavras - mesmo que, episódica e momentaneamente, possam ser iludidos em sua boa fé -, da mesma forma como fazem e pensam os artistas por todo o mundo, os escritores brasileiros também rejeitam a condição de 'massa de manobra' de

(7)

campanhas uniformizantes, não querem ser cúmplices do mal e abominam convites para se aliar ao verdugo do povo e, também, da beleza de viver.

Por isso, mesmo que nem todos reajam prontamente em comportamento muitas vezes confundido com submissão às mentiras e achincalhes dos chacais e cupins da vida, os homens e mulheres das letras não permanecem calados indefinidamente diante de iniquidades só possíveis graças à campanhas capitaneadas pelos meios de comunicação de massa, em vis processos de lavagem cerebral cientificamente urdidos por organizações especializadas na manipulação das pessoas através da deturpação da verdade e do estelionato da palavra.

Neste ponto, compete aos escritores usarem seu conhecimento [da palavra] para identificar e denunciar as manipulações plantadas no imaginário coletivo, transformando o cotidiano da sociedade num mar de embustes e de invencionices.

Atenta ao dia a dia do País, a UBE se coloca na posição de guardiã da Língua-Pátria, na linha de frente da defesa do País e se insurge contra a farsa perpetrada por espertos que, movidos por vontades inconfessáveis, embaralham palavras para criar cenários convenientes a interesse pontuais, dizendo-os legítimos e verdadeiros.

(8)

Como muitos afirmam e repetem, ditas milhões de vezes, as mentiras passam a ser compreendidas como verdades, especialmente pelos distantes e desinformados. Nem por isso, no entanto, as mentiras deixam de ser mentiras e só perduram como 'verdades' enquanto os puros estiverem impedidos de ver e de denunciar a nudez daqueles que querem se fazer rei.

No mar de mentiras e de embustes, a verdade pouco aparece, mas, se olharmos por entre a névoa de desinformação e de deformação que turva a realidade circundante, conseguiremos ver muita coisa, inclusive a tentativa de nos fazer crer naquilo que não acontece e não acreditamos e [nos fazer] ver compostura naquilo que é indecente e permanece nu.

Viva a democracia.

Viva a verdade das coisas. Viva a pureza da palavra.

Viva o Dia Nacional do Escritor. Muito obrigado.

Referências

Documentos relacionados

Em seu trabalho, Marina Murta e Nathalia Gonçalves evocam o nome de um dos mais polêmicos artistas do século XX, que participou do despontar da Arte Moderna e de todas as

A compreensão da música como fato musical associado a contextos específicos nos permitiria então compreendê-la, não a partir de uma questão genérica do tipo o que é música, ou

Os balconistas devem saber que venda adicional também faz parte da atenção prestada ao cliente e deve ser praticada com bom senso, pelo oferecimento de produtos e serviços que

R: O Bobo acha que sonhar é um desperdício, porque se considera pouco importante para receber recados dos deuses, mas todos nós somos importantes.... Apresenta o ponto

E) CRIE NO SEU CADERNO UM TÍTULO PARA ESSA HISTÓRIA EM QUADRINHOS.. 3- QUE TAL JUNTAR AS SÍLABAS ABAIXO PARA FORMAR O NOME DE CINCO SUGESTÕES DE PRESENTE PARA O DIA

gerenciamento do valor criado pela plataforma, o que depende do balanceamento das curvas de oferta (fornecedores) e curvas de demanda (consumidores). Conjugação das economias

A liderança ao serviço inverte a pirâmide do poder; em vez das pessoas trabalharem para servir o líder, o líder existe para servir os outros. Exemplo:

FIGURA 02 – Características Pessoais de Líderes.... Há liderança nas famílias, escola, igrejas, comunidades, equipe esportiva e são neles que estão as pessoas capazes de comandar e